A Estrela dos Três Reis Magos

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A ESTRELA DOS TRÊS REIS MAGOS
Três Reis Magos seguindo a Estrela. St. Albans Psalter. 1140. Artista desconhecido.
A Estrela de Belém que guiou os três reis Magos até o local do nascimento de
Cristo pode não passar de mais uma história mitológica, em que a aparição de uma
nova estrela representava o nascimento de um novo Avatar. A mesma história se
repete com o nascimento de Buda, Confúcio, Sócrates, Esculápio, Baco, Rômulo,
dentre várias outras divindades. Convém relembrar alguns acontecimentos, que são
citados abaixo.
Segundo os historiadores o Rei Herodes ou Herodes, o Grande, era um
governante considerado muito cruel, pois destruía qualquer um que ele achava que
tomaria seu poder. Ele tirou a vida de vários membros da sua própria família porque
pensava que estavam conspirando contra ele.
Três Reis Magos (1915) por Henry Siddons Mowbray (1858-1928).
Quando um grupo de sábios, os chamados três reis Magos, vieram a Jerusalém,
pouco tempo depois de Jesus ter nascido, perguntaram onde poderiam encontrar o
recém-nascido rei dos Judeus. Disseram que haviam visto sua grande estrela no
oriente e vieram adorá-lo (Mateus 2:1-2). Herodes ficou ciente disso e mandou
chamá-los, pedindo para acharem o menino, para que assim ele também poderia
adorá-lo. Vale dizer que o rei estava mentindo, sendo que seu verdadeiro objetivo
era matar o menino, temendo que Jesus um dia tomasse seu poder. Através de um
sonho, Deus avisou os sábios da trama de Herodes. Os magos, portanto, escaparam e
Herodes ordenou a morte de todos os meninos em Belém que tivessem menos de dois
anos.
Como observa teólogo alemão, Holger Kersten, em seu livro Jesus Viveu Na
Índia, lançado em 1986:
"No segundo capítulo do evangelho de Mateus está escrito: “Tendo Jesus
nascido em Belém da Judéia, no tempo, do rei Herodes, eis que vieram Magos do
Oriente a Jerusalém, perguntando: „Onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com
efeito vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo‟”. (Mateus 2:1-2)."
Adoração dos Magos por Giotto di Bondone (1267–1337). A Estrela de Belém é
mostrada como um cometa acima da criança. Giotto testemunhou a aparição do
Cometa Helley em 1301
De acordo com o Evangelho de Mateus, o nascimento de Jesus foi anunciado
após a aparição da Estrela de Belém, que guiou os Três Reis Magos até o local onde
Cristo se encontrava. Convém ressaltar que registros demonstram que era uma
prática entre astrólogos da antiguidade interpretar fenômenos astronômicos como
anúncio do nascimento de reis. Como aponta Kersten:
"Se naquela noite tivesse acontecido de fato algum fenômeno astrológico
extraordinário, estaria devidamente registrado nos documentos da época. Além
disso, se tivesse realmente surgido alguma constelação especial naquela ocasião,
seria
hoje
detectada
com
facilidade
por
computadores.
Johannes
Kepler,
pesquisando sobre isso, levantou a hipótese de que a estrela de Belém poderia ser,
talvez, uma nova (estrela nova), resultante da conjunção de Júpiter e Saturno no ano
7 a.C. Mais tarde essa teoria foi refutada pelos astrônomos. Essa nova de Kepler foi
batizada por muitos com o nome de estrela de Belém. No decurso do ano 7 a.C, por
três vezes ocorreu uma conjunção de Júpiter e Saturno na constelação de Peixes (o
peixe tornou o símbolo de Cristo e um sinal de identificação entre os membros das
comunidades cristãs primitivas). Esse fenômeno astronômico acontece a cada 794
anos, e todos os que o assistiram ficaram impressionados pelo espetáculo oferecido
pela proximidade desses planetas, que, resplandecendo no céu noturno, parecem
uma dupla estrela de grande brilho. Em 1925 o orientalista Paul Schnabel conseguiu
decifrar uma pedra com inscrições cuneiformes encontrada no observatório de
Sippar, no Eufrates, de 2000 anos atrás, e que descrevia, com exatidão, o fenômeno
astronômico ocorrido no ano 7 a.C., isto é, a grande conjunção de Júpiter e Saturno,
na constelação de Peixes."
Estrela de Belém: conjunção planetária entre Júpiter e Saturno. Créditos: Wikipédia.
Vale lembrar que a primeira explicação astronômica dada a Estrela de Belém
foi que teria sido um cometa. Quem primeiro lançou a hipótese de um cometa foi
Orígenes, no século III. Astrônomos do século XVI propuseram que a Estrela de Belém
era o cometa Halley. A Estrela de Belém é muito representada com uma cauda por
causa disto. Nos dias atuais sabe-se que o Cometa Halley apareceu no ano 12 a.C.
Já os astrônomos chineses registraram um "nova estrela" na Constelação de
Capricórnio no ano 5 a.C. Essa "nova estrela" poderia ser um cometa ou uma estrela
explodindo (supernovas), já que os registros não nos dizem se essa nova estrela se
movimentava em relação às estrelas de fundo.
Entretanto, a explicação mais próxima ao que realmente aconteceu é a citada
acima por Kersten, em que houve uma tripla conjunção planetária entre Júpiter e
Saturno no ano 7 a.C. O autor supramencionado continua:
"Em fins do ano 8 a.C., Júpiter e Saturno tornaram-se visíveis do lado do
ocidente, após o crepúsculo. Nesse momento Júpiter localizara-se na constelação de
Aquário e Saturno, na de Peixes, a uma distância de 16 graus um do outro. Em
fevereiro do ano 7 a.C., ambos desapareceram e, por diversas semanas,
permaneceram ofuscados pelos raios do sol. Os astrólogos orientais julgaram que
deveria ter algum significado aquela primeira aparição de Júpiter, acontecida na
aurora do décimo terceiro Adaru do ano 304 do império Selêucida, que pelos nossos
cálculos, deveria tratar-se do dia 16 de março do ano 7 a.C. Eles observaram que
Júpiter aproximou-se pouco a pouco de Saturno e que no final do mês Airu (19 de
maio do ano 7 a.C.) os planetas se encontraram. A conjunção, em que Júpiter e
Saturno se mantiveram a 21 graus de Peixes, separados por apenas um grau de
inclinação e exatamente com o mesmo azimute, iria se repetir ainda duas vezes no
mesmo ano, em 3 de outubro e em 5 de dezembro.
Ambos eram visíveis do entardecer ao amanhecer e alcançavam a maior
intensidade de brilho ao atingir o meridiano, por volta de meia noite. Quando o sol se
punha no ocidente, os planetas surgiram no oriente, e quando eles desapareciam no
ocidente, surgia a aurora no oriente. No começo do ano esses planetas surgiam com o
sol e, no final do ano, desapareciam com ele. Durante todo o ano eles ficavam
visíveis, nunca se afastando um do outro mais de três graus. Esse espetáculo na
constelação de Peixes só se repetiria daí a 800 anos.
A Estrela de Belém por Edward Burne Jones. 1890.
No evangelho de Mateus a estrela é mencionada apenas três vezes. Os magos
dizem "... pois vimos sua estrela no oriente...". No texto grego original encontramos
uma referência ao anatole. Os lingüistas descobriram que a palavra anatole, no
singular, tinha um significado astrológico muito especial. Designava o nascimento
helíaco de uma estrela, isto é, seu surgimento a leste, a um certo ponto do
horizonte, um pouco antes do sol. Empregada no plural, a mesma palavra tem
conotação geográfica, e indica o Oriente. De fato, os três reis magos seguiram a
aparição celestial na direção leste-oeste.
Júpiter e Saturno. Créditos: SpaceNepal.
A segunda referência do evangelho de Mateus a esse fenômeno também
apresenta, no grego, um significado especial: "Então Herodes mandou chamar
secretamente os magos e procurou certificar-se com eles a respeito do tempo em
que a estrela tinha aparecido" (Mateus 2:7). Em astronomia, o verbo aparecer era
empregado para designar a primeira aparição de uma estrela nascente. De acordo
com a crença popular da época, no momento em que nascia uma pessoa, nascia
também uma estrela sua no céu. A pergunta de Herodes indicava que o nascimento
de Jesus deveria ter ocorrido algum tempo antes do aparecimento da estrela.
Segundo o calendário babilônico, Júpiter apareceu no crescente do último mês do
ano 304 do império selêucida. O ano de 305 (6 a.C.) começou no mês primaveril de
Nisan, que marcava o início do Ano-novo judeu. Quando os magos chegaram a
Jerusalém, Júpiter já deveria estar no segundo ano de sua conjunção com Saturno, e
assim Jesus teria nascido aproximadamente no ano 7 a.C., e tinha na ocasião quase
dois anos de idade. De acordo com a lenda, teria sido, talvez, esse o motivo que
levou Herodes a matar todas as crianças de até dois anos de idade.
O
que
atraiu
esses
misteriosos
sábios
do
leste
(neste
caso
a
palavra anatole estaria no plural), levando-os a enfrentar os percalços de uma longa
e penosa viagem que poderia ter durado meses, ou até anos? Na realidade, de onde
vinham e por que perseveraram com tanto afinco na busca de um menino? Sozinha, a
teologia não consegue dar nenhuma resposta a essas questões e à identidade dos três
magos."
4th century Sarcophagus. Vaticano.
Diante deste contexto, vale questionar se teria sido mesma essa conjunção
planetária entre Júpiter e Saturno que guiou os três reis magos. Convém lembrar que
era uma crença comum entre os magos, os astrólogos, os caldeus e os místicos dos
países orientais da antiguidade, o cometa ao ser visto no céu ser a representação do
nascimento de um Avatar ou de um líder, que se tornaria um redentor da
humanidade. Esta crença tem origem com o nascimento de Krishna, que de acordo
com as antigas crônicas essênias e rozacruzes, foi uma grande estrela que anunciou
seu nascimento e os magos foram adorá-lo, levando presentes como sândalo e
perfumes. A mesma coisa aconteceu com o nascimento de Buda, com o de Confúcio
(551 a.C.), Mitra (o Salvador persa), Sócrates, Esculápio, Baco, Rômulo, dentre
outros.
Journey of the Magi por James Tissot. 1902.
Interessante dizer que a Bíblia não menciona que os Magos eram astrólogos
nem filósofos, sendo que podiam ser pessoas comuns. Entretanto, convém ressaltar
que os Magos eram sábios instrutores e altos representantes das grandes academias e
escolas místicas do Oriente. Pode-se dizer que a estrela já estava sendo observada
durante meses, sendo que com seu movimento peculiar foram realizadas tabulações
e concluída a ocasião provável de seu significado final. Escolheram alguns eruditos
das escolas místicas para viajar até o local do nascimento.
Três Reis Magos. Basílica de Sant'Apollinare Nuovo in Ravenna, Itália: The Three Wise Men (Balthasar,
Melchior e Gaspar). Detalhe de: "Mary and Child, surrounded by angels". 526 AD. "Master of
Sant'Apollinare".
Pode-se concluir que a história da Estrela de Belém não passa de uma cópia
mitológica que se tornou uma verdade, chegando a confundir até os cientistas. Foi
uma coincidência incrível ter ocorrido uma conjunção planetária pouco antes do
nascimento de Cristo. Pois assim, pode-se elaborar toda essa história de que a grande
Estrela de Belém guiou os Magos até o local que Jesus nasceu. Virou de fato uma
história mitológica com provas.
Vários seres importantes supramencionados, como Buda, Mitra, Krishna, etc.,
têm sua versão mitológica com a estrela de guia dos Magos, e a maioria dos cristãos
não acredita nessas histórias nem mesmo nesses grandes mestres em si, e ainda
conseguem acreditar fielmente na história de que uma estrela anormal guiou os três
reis Magos.
Mariana Lorenzo
Janeiro de 2011
Referência Bibliográfica:
KERSTEN, Holger. Jesus Viveu Na Índia. Editora Best Seller. Rio de Janeiro. 2007.
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