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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL
Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS
MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA
DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE BOVINOS
Eliane Resende Costa Cavalcanti
Orientador: Prof.Dr. Albenones José de Mesquita
GOIÂNIA 2013
2
ELIANE RESENDE COSTA CAVALCANTI
MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA
DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE BOVINOS
Seminário apresentado junto à disciplina
Seminários Aplicados do Programa de
Pós - Graduação em Ciência Animal da
Escola de Veterinária e Zootecnia da
Universidade Federal de Goiás.
Nível: Doutorado
Área de Concentração:
Sanidade Animal,
Higiene e Tecnologia de Alimentos.
Linha de Pesquisa:
Higiene, Ciência, Tecnologia
e Inspeção de Alimentos
Orientador:
Prof. Dr. Albenones José de Mesquita
Comitê de orientação:
Prof.Dr. Antonio Nonato de Oliveira - UFG
Dr. Eurione A. da Veiga e Jardim - UFG
GOIÂNIA
3
SUMÁRIO
1. Introdução .................................................................................................................. 6
2. Revisão de literatura .................................................................................................. 7
2.1. Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina ............................................ 7
2.1.1. Mecanismos de resistência anatômicos ou físicos da glândula mamária ......... 7
2.1.2. Pele dos tetos ................................................................................................... 7
2.1.3. Canal do teto ..................................................................................................... 8
2.2. Defesas imunológicas da glândula mamária: fatores solúveis não específicos
e celulares ...................................................................................................................... 9
2.2.1. Fatores solúveis não celulares .......................................................................... 9
2.2.2. Fatores celulares ou defesas celulares .............................................................. 13
2.3. Imunidade adquirida ou específica........................................................................ 14
2.3.1 Resposta imune adquirida mediada por anticorpos ou humoral ....................... 14
2.3.2 Resposta imune adquirida mediada por células.............................................. 16
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 17
4. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18
4
LISTA DE FIGURAS
Figura 1- Reação de oxidação ....................................................................... 10
Figura 2- Identificação do anticorpo pela
bactéria ............................................................................................................ 15
5
LISTA DE ABREVIATURAS
Lf
Lactoferrina
SC
Sistema Complemento
IL
Interleucina
Lp
Lactoperoxidase
LPL
Lipase lipoproteica
CCST
Contagem de Células Somáticas de Tanque
CEM
Células Epiteliais Mamária
SCN
Íons de tiocianato
HOSCN
Ácido hipotiociânico
OSCN
Íons de hipotiocianato
TNF-α
Fator de necrose tumoral alfa
Ig
imunoglobulina
6
1. INTRODUÇÃO
Os programas de controle de mastite estão direcionados para as medidas
preventivas, com a implantação de praticas de manejo. Pesquisas têm sido
desenvolvidas dando ênfase ao aumento dos mecanismos de defesa da
glândula mamária no período de maior susceptibilidade (RAINARD e RIOLLET,
et al.,2006).
A inflamação da glândula mamária é denominada de mamite ou mastite,
causada por microrganismos como algas, fungos, leveduras e bactérias. A
mastite está entre as principais doenças responsáveis pelas perdas
econômicas na produção leiteira bovina (CHAGUNDA et al., 2006).
Os gastos relacionados à mastite incluem: tratamento, descarte precoce
de animais, aumento da mão de obra, redução da quantidade e qualidade do
leite e consequentemente, redução no pagamento por qualidade
(SANTOS e FONSECA, 2007).
O animal acometido por mastite apresenta redução na produção e
mudança na composição do leite, devido às alterações do tecido secretor e dos
capilares sanguíneos da glândula mamária, (WATTIAUX, 2000).
Segundo, Santos e Fonseca (2007), ocorrem uma perda de até 15% na
produção de leite, o que significa uma redução de 4,6 bilhões de litros ao ano
em relação aos 30,7 bilhões de litros produzidos no país em 2010 (IBGE,
2011).
O estado de Goiás em 2010 deixou de produzir 101 milhões de litros de
leite em decorrência da mastite (LQL, 2011).
É fundamental o conhecimento dos mecanismos de defesa da glândula
mamária para tomada de decisões sobre o controle de mastite, com o objetivo
de prevenir novas infecções, adoção de medidas profiláticas e terapêuticas
mais adequadas no que diz respeito à sanidade da glândula mamária
(PHILPOT & NICKERSON, 2002).
O presente seminário tem por objetivo abordar uma revisão sobre os
mecanismos de defesa específica e inespecífica da glândula mamária bovina.
7
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina
A primeira defesa do organismo a um dano tecidual é a resposta
inflamatória, que tem como função remover o estímulo lesivo e iniciar a
recuperação tecidual local. Os mecanismos de defesa da glândula mamária
bovina podem ser classificados em: imunidade inata e imunidade específica
(TIZARD, 2008).
A imunidade inata, também chamada de inespecífica, ocorre no inicio da
infecção sendo mediada por mecanismos de defesa anatômicos ou físicos,
substâncias solúveis não específicas e celulares (SORDILLO, 2005; TIZARD,
2008).
Assim que o patógeno adentra a glândula mamária pode ser eliminado
pelo sistema imuno inato, mas se isso não ocorre, o sistema imune específico
ou adquirido é acionado. Há um reconhecimento de fatores antigênicos do
patógeno que é mediado por anticorpos, macrófagos e por linfócitos
(SORDILLO et al.1997). Devido à memória imunológica após a primeira
exposição, a resposta vai se tornando cada vez mais rápida, longa e mais
efetiva (SORDILO e STREICHER, 2002).
2.1.1 Mecanismos de resistência anatômicos ou físicos da glândula
mamária
A principal barreira física encontrada pelos patógenos ao invadir a
glândula mamária é o canal do teto e está relacionada com a manutenção da
integridade da pele do canal e do esfíncter da teta (RAINAR e RIOLLET, 2006).
Segundo Souza e colaboradores (2009), o canal do teto consiste na
primeira barreira do úbere e a principal defesa anatômica.
2.1.2. Pele do teto
A pele do teto é constituída por epitélio estratificado e a contínua
descamação da superfície das células leva à formação de queratina que
bloqueia fisicamente a entrada do orifício do canal do teto, sendo capaz de
8
ligar, imobilizar e remover a maioria das cepas de bactérias não capsuladas
(PRESTES
et al, 2002; BIGGS, 2009).
A queratina é formada por ácidos graxos, esterificados e não esterificados
como mirístico, palmitoléico e linoléico, que possuem efeito bacteriostático e
proteínas catiônicas que têm a capacidade de se ligar eletrostaticamente aos
agentes patogênicos, alterando a parede celular tornando-a mais susceptível à
pressão osmótica (SORDILLO e STREICHER, 2002).
Fatores que interferem na integridade da camada de queratina podem
aumentar a susceptibilidade do canal do teto e do quarto mamário à entrada de
bactérias, levando às infecções intramamárias (PRESTES et al, 2002).
2.1.3. Canal do teto
A musculatura que circunda o canal do teto é denominada esfíncter, que
se mantém fechado entre as ordenhas, evitando assim, a penetração de
bactérias (PHILPOT e NICKERSON, 2002). No período entre ordenhas, esse
anel constitui-se em uma barreira física (RAINARD e RIOLLET, 2006). No
entanto a ordenha é um período determinante para a manutenção da
integridade do úbere, na ordenha o fluxo de leite e abertura do canal do teto
promovem a lavagem do tampão de queratina e o relaxamento do esfíncter do
teto que permanece aberto até duas horas após a ordenha, deixando o canal
do teto vulnerável a entrada de microrganismos (PHILPOT e NICKERSON,
2002).
Para manter os tetos saudáveis devem ser observados cuidados no
manejo das vacas em ordenha: alimentar os animais após a ordenha, pois,
assim os animais ao ficarem em pé, evitam a penetração de microrganismos
pelo canal do teto que se encontra aberta (FONSECA e SANTOS, 2000).
Medidas higiênicas devem ser observadas na aplicação de drogas
intramamárias, lembrando que as bactérias alojadas na queratina podem
penetrar no canal do teto pela introdução da cânula do medicamento (PHILPOT
e NICKERSON, 2002).
O
epitélio
da
glândula
mamária
raramente
é
estimulado
por
componentes bacterianos e assim qualquer bactéria que penetrar pelo canal do
teto pode ser reconhecida como invasora (RAINARD &RIOLLET,2006).
9
O canal do teto é um meio asséptico, quando não sofre invasão de
patógenos causadores de mastite (PHILPOT e NICKERSON, 2002).
2.2. Defesas imunológicas da glândula mamária: fatores solúveis não
específicos e celulares
Uma vez que o agente patogênico atravessou o canal do teto e alcançou a
cisterna da glândula mamária, passam a atuar especialmente os fatores
solúveis não específicos e celulares, que são, respectivamente, sistema
lactoperoxidase, sistema complemento, lisozima e lactoferrina, neutrófilos,
macrófagos,
linfócitos
e
células
epiteliais
mamárias
(SORDILLO
e
STREICHER, 2002).
2.2.1
Fatores solúveis não específicos
Os fatores solúveis não específicos presentes no leite também contribuem
para os mecanismos de defesa da glândula mamária.
A lactoperoxidase (Lp), enzima do grupo oxidase,é sintetizada na
glândula mamária principalmente por leucócitos polimorfonucleares e está
associada à sua proteção contra microrganismos patogênicos (ATASEVER et
al.,2013).
Esta enzima em associação com peróxido de hidrogênio, que é derivado
do metabolismo celular e pelo íon tiocianato (SCN-) proveniente do
metabolismo hepático, produzem reações químicas, que têm como produtos o
ácido hipotiociânico (HOSCN) e o íon hipotiocianato (OSCN-), elementos que
possuem características antimicrobianas, (ARAÚJO e GHELLER, 2005).
A Lp na presença de tiocianato e do peróxido de hidrogênio possui efeito
bacteriostático para bactérias gram-positivas, como Stapylococcus aureus e
estreptococos, bem como bactericida para gram-negativo, como por exemplo,
os coliformes (SMITH e SCHANBACHER, 1977).
10
Figura 1: Reação de oxidação
Fonte: De WIT J.N& VAN HOOYDONK, (1996).
As concentrações de tiocianato no leite dependem de seus níveis séricos,
os quais por sua vez dependem diretamente da dieta (SORDILLO et al., 1997).
As concentrações de tiocianato e de peróxido de hidrogênio condicionam a
ação da lactoperoxidase, razão pela qual se julga que sua ação no úbere não é
muito importante, no período de lactação, uma vez que a baixa pressão de
oxigênio no úbere inibe a produção de peróxido de hidrogênio (SORDILLO et
al., 1997; RAINARD e RIOLLET,2006; BIGGS, 2009).
O Sistema Complemento (SC) é constituído por um conjunto de proteínas,
que são encontrados em maior concentração no plasma e presentes também
no leite (KORHONEN et al., 2000). Fatores do sistema complemento são
produzidos principalmente por hepatócitos, mas em menor quantidade por
macrófagos, monócitos e no leite de glândulas saudáveis. Quando há resposta
inflamatória, estes fatores são mobilizados da corrente circulatória juntamente
com a exsudação plasmática (BARRIO et. al. 2003).
Para que o SC exerça as suas funções, ele deve ser ativado, originando
assim uma série de fragmentos com diferentes características e funções
específicas. Esta ativação ocorre por duas vias: a clássica e a alternativa. Cada
uma delas é desencadeada por fatores diferentes, mas que convergem em
uma via comum a partir da formação de C3b (BARRIO et al 2003).
Os mesmos autores, a via clássica de ativação do complemento não é
claramente funcional na glândula mamária e a via alternativa se faz com duas
conseqüências: deposição de componentes opsonizantes na bactéria e
geração de fragmentos pró-inflámatorios, sendo assim, com a ativação desse
sistema obtém-se a produção dos mediadores pró-inflamátorios C4a, C3a e
C5a.
11
No leite mastítico o elemento do complemento C5a pode ser um dos
principais mediadores inflamatórios, porque ele induz a migração de neutrófilos
e células fagocíticas na direção do local onde ocorre a resposta inflamatória
(ZECCONI e SMITH, 2000). Entretanto, baixas concentrações de complemento
observado em glândulas mamária saudáveis durante a lactação, comprovam
que as atividades bactericidas do sistema de complemento só estão
aumentadas em tecidos inflamados e a intensidade esta relacionada a uma
resposta inflamatória (RAINARD et al.; 2000).
As enzimas lisozimas produzidas pelas células epiteliais e leucócitos que
clivam as pontes existentes entre o ácido N-acetil murâmico e a Nacetilglicosamina presentes no peptidoglicano da parede celular das bactérias
resultando em lise celular (RAINARD e RIOLLET,2000). As bactérias gram
positivas são mais susceptíveis devido à parede celular possuir 90% de
peptideoglicano (RAINARD e RIOLLET, 2006).
Os fragmentos dos peptídeosglicanos da parede celular resultantes da ação
da lisozima, também são ativadores da resposta inflamatória. A sua importância
está no fato dela intensificar a ação dos anticorpos e do complemento
(PHILPOT e NICKERSON, 2002).
Outra substância inespecífica que está presente na defesa da glândula
mamária é a lactoferrina (Lf). É uma glicoprotéina produzida pelas células
epiteliais, macrófagos e neutrófilos com ação antimicrobiana (CHANETON et
al., 2008).
Sua concentração aumenta durante o início do período seco e durante as
infecções e se torna a proteína mais importante das glândulas não lactantes.
Ela apresenta capacidade bacteriostática através da ação inibitória ao
crescimento bacteriano por se ligar aos íons de ferro, tornando indisponíveis
para o crescimento bacteriano (OVIEDO-BOYSO et al; 2007; TIZARD, 2008;
CHANETON et al , 2008).
Nas secreções de vacas secas, a lactoferrina está presente em grandes
concentrações. As concentrações normais de lactoferrina no leite são de
aproximadamente 0,1mg/mL, mas durante o período seco,estas concentrações
podem chegar a 20 mg/mL ou mais, este fato sugere que a lactoferrina é uma
das maiores defesas da glândula mamária bovina durante o período seco.
Neste período ocorre uma redução na concentração de citrato e um aumento
12
de bicarbonato, essa condição, é mais favorável a atuação quelante do ferro da
lactoferrina (RAINARD & RIOLLET, 2006).
A sensível diminuição da Lf na colostrogênese, associada ao aumento de
citrato, devido à retomada da síntese do leite, é um dos fatores que explicam a
maior suscetibilidade da glândula às infecções nesse período (CHENG et al.,
2008).
As funções da Lf estão no fator de modulação de aderência e emigração
de neutrófilos, indução da produção de citocina, que dependem da
concentração de Fe disponível, ainda possui atuação sinérgica com os
neutrófilos na ação contra os patógenos (WARD et al.,2005).
Mastite
causada
por
Staphylococcus
aureus
e
Escherichia
coli
demonstraram ser mais sensíveis à ação bactericida da Lf e Staphylococcus
uberis demonstraram resistência (CHANETON et al.,2008).
Esta enzima pode ser utilizada como parâmetro de saúde da glândula
mamária (LINDMARK - MANSSON et al 2006).
As citocinas são proteínas produzidas por vários tipos de celulares como,
linfócitos e macrófagos ativados, na glândula mamária são produzidas pelas
células epiteliais e pelos neutrófilos. Alterando a permeabilidade vascular e o
recrutamento de leucócitos (SORDILLO et al,1997).
Entre os moduladores imunes secretados pela glândula mamária as
citocinas na patofisiologia têm sido estudadas, principalmente as citocinas do
tipo Interleucina (IL-1, IL-6, IL-8, IL-12) e o Fator de Necrose tumoral –α (TNFα). Sendo considerados como marcadores das defesas da glândula mamária.
Devido às alterações no repertório das citocinas, no úbere normal ou mastítico
tem sido pesquisado seu uso no diagnóstico e prognóstico de mastites
(SORDILLO et al.,1997; ALLUWAIMI e CULLOR,2002; ALLUWAIMI,2004)
O fator de necrose tumoral (TNF-α) é uma citocina envolvida nas reações
de fase aguda nos processos de inflamação. É ativada em resposta a
patógenos, especialmente ao lipopolisacarrídeo (LPL) de bactéria Gramnegativo. Sendo produzida especialmente pelos macrófagos, neutrófilos e
células epiteliais. Ela media o recrutamento dos neutrófilos e macrófagos para
os locais da infecção. Participa da atividade quimiotática dos neutrófilos,
porque induz a expressão de moléculas de adesão para células epiteliais. O
choque endotóxico é outra atividade atribuída a citocina em caso de mastite
13
aguda causada por E.coli (PERSSON et al.,1993).
2.2.2. Fatores celulares ou defesas celulares
No leite proveniente de uma glândula mamária sadia, observa-se um
conjunto de células representadas, principalmente, por leucócitos e células
epiteliais.
Os leucócitos provêm do sangue através de diapedese para o tecido
mamário, enquanto que as células epiteliais resultam da descamação dos
alvéolos e ductos da glândula mamária. O conjunto dessas células é
denominado de células somáticas (ARAUJO, 2005).
As células que compõem o sistema de defesa celular inespecífico da
glândula mamária são constituídas pelos macrófagos, neutrófilos e pelas
células epiteliais mamárias que são ativados após os patógenos terem
ultrapassado as barreiras anatômicas e solúveis (SORDILLO et. al., 1997).
Os macrófagos são as células que normalmente, estão presentes no
processo de uma reação inflamatória, tendo a função de fagocitose, mas esta é
prejudicada, porque no leite as células esgotam sua capacidade fagocítica ao
englobarem micelas de caseína e glóbulos de gordura.
Sendo assim, sua
maior importância reside na capacidade de secretar substâncias que facilitam a
migração dos neutrófilos que desempenharão suas atividades bactericidas
(KEHRLY et al.,2001).
As células somáticas, em especial os neutrófilos são atraídas para o leite
em resposta à inflamação através da liberação de substâncias quimioatrativas,
como produtos de degradação bacteriana, citocinas pró-inflamátorias, como
fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleuciana-1(IL-1b), o complemento
(fragmento C5a), complexo antígeno-anticorpo, entre outros, são liberadas,
provocando o recrutamento dos neutrófilos polimorfonucleares (PMN) da
corrente sanguínea para o local da inflamação (PRESTES et al., 2002).
O rápido influxo de neutrófilos para o sitio de infecção, a capacidade de
fagocitar e eliminar a bactéria pode ser o meio para uma rápida recuperação da
infecção (RABOT et al,2007).
Quando há inflamação da glândula mamária, os neutrófilos constituindo
até 95% das células somáticas (BIGGS, 2009).
As Células Epiteliais Mamárias (CEM) estão presentes no leite devido ao
14
processo de descamação. Segundo YANG et. al. (2008), as células epiteliais
mamárias, apresentam grande capacidade de expressar citocinas após a
estimulação com bactérias patogênicas.
2.3 Imunidade adquirida ou específica
A imunidade específica na glândula mamária ocorre quando o animal é
exposto a um agente infeccioso e a imunidade inata não foi capaz de debelar o
processo infeccioso. Essa forma de imunidade tem como característica a
especificidade e memória das células de defesa do organismo em relação ao
agente infeccioso (ABBAS & LICHTMAN, 2005).
As respostas imunes específicas reconhecem determinados antígenos
específicos de um patógeno. Isto é devido à memória imune, em função de
repetida exposição na glândula mamária de um mesmo patógeno. Quando
ocorre uma nova exposição ao mesmo patógeno se obtém uma resposta
efetiva mais rápida e eficaz na eliminação do agente invasor (PARK et
al.,2004).
A imunidade específica da glândula mamária nos ruminantes apresenta
algumas particularidades. A imunidade celular é prejudicada pela saturação das
células fagocíticas com micelas de caseína e glóbulos de gordura. A produção
de células produtoras de anticorpos na glândula mamária é reduzida. Sendo
assim, a maior parte de células imunes da glândula mamária tem origem
sistêmica e são constituídas por neutrófilos. Nos ruminantes estas células
apresentam receptores para IgG2 e não para IgG1,dificultando a opsonização
dos antígenos bacterianos (KERLI e HARP,2001).
Existem dois tipos de resposta imune adquirida ou específica: a humoral
(mediada pelos anticorpos, produzidos por linfócitos B) e a celular (mediada por
linfócito T (TIZARD, 2008).
2.3.1 Resposta imune adquirida humoral
A resposta imune adquirida humoral é mediada por anticorpos, que são
proteínas formadas por plamócitos (linfócitosB). Plasmócitos são linfócitos B
diferenciados sendo capazes de secretar anticorpos ativamente. A função dos
anticorpos é de neutralizar e eliminar o antígeno que estimulou sua produção.
Os anticorpos também podem ser chamados de imunoglobulinas (Ig) (TIZARD,
2008).
15
A resposta imune é mediada por um complexo antígeno-específico
composta por células de memória do sistema imune, conforme figura 6
(RAINARD & RIOLLET, 2006).
Figura. 1 identificação de bactéria
Fonte: PHILPOT & NICKERSON (2002)
Na glândula mamária bovina são quatro os isotipos de anticorpos
envolvidos na sua defesa: IgM, IgG1, IgG2 e IgA . Estas imunoglobulinas têm
diferentes funções e a sua concentração no leite varia com o estado de saúde
do úbere e a fase de lactação (BIGGS, 2009).
A IgG1 é o isotipo primário encontrado em secreções mamárias de
animais saudáveis. IgG2 aumenta durante o processo inflamatório da glândula
mamária e a IgA não auxilia na opsonização de bactérias, mas promove a
aglutinação de bactérias evitando a sua propagação (MALLARD et al.,1998).
A IgM sérica é bastante efetiva em neutralizar alguns tipos de toxinas e
opsonizar patógenos no sangue e no leite. Sendo mais eficaz na proteção
contra choques tóxicos do que na diminuição de sinais de inflamação local. As
IgA, mesmo tendo sua concentração relativamente baixa no leite e não tendo
atividade opsonizante
atuam auxiliando na prevenção à colonização de
patógenos e dano tecidual via aglutinação e neutralização de toxinas (KHERLI
e HARP, 2001).
A IgG1 e IgG2 são encontradas no soro e no leite, devido ao transporte
imuno-mediado que age através das células
epiteliais mamárias. Ambas,
efetivamente bloqueiam a interação de patógenos com as células do
hospedeiro e neutralizam as toxinas do sangue e tecidos e impedem a adesão
e a colonização da glândula mamária pelos microrganismos (SORDILLO et al.,
1997).
16
A IgG1 tem capacidade de estimular macrófagos e neutrófilos, mas, no
entanto, são as IgG2 que possuem a atividade opsonizadora principal para
neutrófilos bovinos, promovendo o recrutamento de neutrófilos para a glândula
mamária, eliminando a infecção (BURTON et al., 2002).
2.3.2 Resposta imune adquirida mediada por células
A imunidade mediada por células está representada basicamente pelos
linfócitos T são divididos em dois grupos principais: linfócito T e B. Os linfócitos
T podem ser classificados em: T helper (CD4+) e T supressor (CD8)+ (PARK et
al.,2004).
Os linfócitos T CD8+ são os tipos predominantes na glândula mamária
sadia, porém durante a mastite, os linfócitos T CD4+ passam a prevalecer
(PARK et al.,2004).
Durante a infecção bacteriana na glândula mamária os linfócitos CD8+
podem eliminar a células do hospedeiro, devido à resposta imune. Devido a
isso, esses linfócitos têm sido considerados como “catadores”, pois eliminam
as células danificadas ou velhas da glândula mamária (BURCHILL et al.,2003).
Os linfócitos B têm como principal função a produção de anticorpos contra
patógeno invasores. Os linfócitos B utilizam seus receptores de membrana
para o reconhecimento dos patógeno específicos, e funcionam também como
células apresentadoras de antígenos (BURCHILL, et al.,2003).
17
3
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A mastite na pecuária leiteira é a doença que mais onera o custo de produção,
e a melhor maneira de evitar esta doença é a prevenção. A pesar de todo o
conhecimento disponível para o seu controle, ela mantém com alta prevalência.
A estimulação do sistema de defesa da glândula mamária com o uso de
imunomoduladores pode ser vislumbrada como novas estratégias para o
controle de mastite.
Estudos direcionados à patofisiologia celular e molecular dos mecanismos
imunes da mastite têm sido desenvolvidos para melhor compreensão e assim
obter resultados mais concretos em relação à mastite.
18
4. REFERÊNCIAS
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