MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL Disciplina: SEMINÁRIOS APLICADOS MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE BOVINOS Eliane Resende Costa Cavalcanti Orientador: Prof.Dr. Albenones José de Mesquita GOIÂNIA 2013 2 ELIANE RESENDE COSTA CAVALCANTI MECANISMOS DE DEFESA ESPECÍFICA E INESPECÍFICA DA GLÂNDULA MAMÁRIA DE BOVINOS Seminário apresentado junto à disciplina Seminários Aplicados do Programa de Pós - Graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás. Nível: Doutorado Área de Concentração: Sanidade Animal, Higiene e Tecnologia de Alimentos. Linha de Pesquisa: Higiene, Ciência, Tecnologia e Inspeção de Alimentos Orientador: Prof. Dr. Albenones José de Mesquita Comitê de orientação: Prof.Dr. Antonio Nonato de Oliveira - UFG Dr. Eurione A. da Veiga e Jardim - UFG GOIÂNIA 3 SUMÁRIO 1. Introdução .................................................................................................................. 6 2. Revisão de literatura .................................................................................................. 7 2.1. Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina ............................................ 7 2.1.1. Mecanismos de resistência anatômicos ou físicos da glândula mamária ......... 7 2.1.2. Pele dos tetos ................................................................................................... 7 2.1.3. Canal do teto ..................................................................................................... 8 2.2. Defesas imunológicas da glândula mamária: fatores solúveis não específicos e celulares ...................................................................................................................... 9 2.2.1. Fatores solúveis não celulares .......................................................................... 9 2.2.2. Fatores celulares ou defesas celulares .............................................................. 13 2.3. Imunidade adquirida ou específica........................................................................ 14 2.3.1 Resposta imune adquirida mediada por anticorpos ou humoral ....................... 14 2.3.2 Resposta imune adquirida mediada por células.............................................. 16 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 17 4. REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 18 4 LISTA DE FIGURAS Figura 1- Reação de oxidação ....................................................................... 10 Figura 2- Identificação do anticorpo pela bactéria ............................................................................................................ 15 5 LISTA DE ABREVIATURAS Lf Lactoferrina SC Sistema Complemento IL Interleucina Lp Lactoperoxidase LPL Lipase lipoproteica CCST Contagem de Células Somáticas de Tanque CEM Células Epiteliais Mamária SCN Íons de tiocianato HOSCN Ácido hipotiociânico OSCN Íons de hipotiocianato TNF-α Fator de necrose tumoral alfa Ig imunoglobulina 6 1. INTRODUÇÃO Os programas de controle de mastite estão direcionados para as medidas preventivas, com a implantação de praticas de manejo. Pesquisas têm sido desenvolvidas dando ênfase ao aumento dos mecanismos de defesa da glândula mamária no período de maior susceptibilidade (RAINARD e RIOLLET, et al.,2006). A inflamação da glândula mamária é denominada de mamite ou mastite, causada por microrganismos como algas, fungos, leveduras e bactérias. A mastite está entre as principais doenças responsáveis pelas perdas econômicas na produção leiteira bovina (CHAGUNDA et al., 2006). Os gastos relacionados à mastite incluem: tratamento, descarte precoce de animais, aumento da mão de obra, redução da quantidade e qualidade do leite e consequentemente, redução no pagamento por qualidade (SANTOS e FONSECA, 2007). O animal acometido por mastite apresenta redução na produção e mudança na composição do leite, devido às alterações do tecido secretor e dos capilares sanguíneos da glândula mamária, (WATTIAUX, 2000). Segundo, Santos e Fonseca (2007), ocorrem uma perda de até 15% na produção de leite, o que significa uma redução de 4,6 bilhões de litros ao ano em relação aos 30,7 bilhões de litros produzidos no país em 2010 (IBGE, 2011). O estado de Goiás em 2010 deixou de produzir 101 milhões de litros de leite em decorrência da mastite (LQL, 2011). É fundamental o conhecimento dos mecanismos de defesa da glândula mamária para tomada de decisões sobre o controle de mastite, com o objetivo de prevenir novas infecções, adoção de medidas profiláticas e terapêuticas mais adequadas no que diz respeito à sanidade da glândula mamária (PHILPOT & NICKERSON, 2002). O presente seminário tem por objetivo abordar uma revisão sobre os mecanismos de defesa específica e inespecífica da glândula mamária bovina. 7 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Mecanismos de defesa da glândula mamária bovina A primeira defesa do organismo a um dano tecidual é a resposta inflamatória, que tem como função remover o estímulo lesivo e iniciar a recuperação tecidual local. Os mecanismos de defesa da glândula mamária bovina podem ser classificados em: imunidade inata e imunidade específica (TIZARD, 2008). A imunidade inata, também chamada de inespecífica, ocorre no inicio da infecção sendo mediada por mecanismos de defesa anatômicos ou físicos, substâncias solúveis não específicas e celulares (SORDILLO, 2005; TIZARD, 2008). Assim que o patógeno adentra a glândula mamária pode ser eliminado pelo sistema imuno inato, mas se isso não ocorre, o sistema imune específico ou adquirido é acionado. Há um reconhecimento de fatores antigênicos do patógeno que é mediado por anticorpos, macrófagos e por linfócitos (SORDILLO et al.1997). Devido à memória imunológica após a primeira exposição, a resposta vai se tornando cada vez mais rápida, longa e mais efetiva (SORDILO e STREICHER, 2002). 2.1.1 Mecanismos de resistência anatômicos ou físicos da glândula mamária A principal barreira física encontrada pelos patógenos ao invadir a glândula mamária é o canal do teto e está relacionada com a manutenção da integridade da pele do canal e do esfíncter da teta (RAINAR e RIOLLET, 2006). Segundo Souza e colaboradores (2009), o canal do teto consiste na primeira barreira do úbere e a principal defesa anatômica. 2.1.2. Pele do teto A pele do teto é constituída por epitélio estratificado e a contínua descamação da superfície das células leva à formação de queratina que bloqueia fisicamente a entrada do orifício do canal do teto, sendo capaz de 8 ligar, imobilizar e remover a maioria das cepas de bactérias não capsuladas (PRESTES et al, 2002; BIGGS, 2009). A queratina é formada por ácidos graxos, esterificados e não esterificados como mirístico, palmitoléico e linoléico, que possuem efeito bacteriostático e proteínas catiônicas que têm a capacidade de se ligar eletrostaticamente aos agentes patogênicos, alterando a parede celular tornando-a mais susceptível à pressão osmótica (SORDILLO e STREICHER, 2002). Fatores que interferem na integridade da camada de queratina podem aumentar a susceptibilidade do canal do teto e do quarto mamário à entrada de bactérias, levando às infecções intramamárias (PRESTES et al, 2002). 2.1.3. Canal do teto A musculatura que circunda o canal do teto é denominada esfíncter, que se mantém fechado entre as ordenhas, evitando assim, a penetração de bactérias (PHILPOT e NICKERSON, 2002). No período entre ordenhas, esse anel constitui-se em uma barreira física (RAINARD e RIOLLET, 2006). No entanto a ordenha é um período determinante para a manutenção da integridade do úbere, na ordenha o fluxo de leite e abertura do canal do teto promovem a lavagem do tampão de queratina e o relaxamento do esfíncter do teto que permanece aberto até duas horas após a ordenha, deixando o canal do teto vulnerável a entrada de microrganismos (PHILPOT e NICKERSON, 2002). Para manter os tetos saudáveis devem ser observados cuidados no manejo das vacas em ordenha: alimentar os animais após a ordenha, pois, assim os animais ao ficarem em pé, evitam a penetração de microrganismos pelo canal do teto que se encontra aberta (FONSECA e SANTOS, 2000). Medidas higiênicas devem ser observadas na aplicação de drogas intramamárias, lembrando que as bactérias alojadas na queratina podem penetrar no canal do teto pela introdução da cânula do medicamento (PHILPOT e NICKERSON, 2002). O epitélio da glândula mamária raramente é estimulado por componentes bacterianos e assim qualquer bactéria que penetrar pelo canal do teto pode ser reconhecida como invasora (RAINARD &RIOLLET,2006). 9 O canal do teto é um meio asséptico, quando não sofre invasão de patógenos causadores de mastite (PHILPOT e NICKERSON, 2002). 2.2. Defesas imunológicas da glândula mamária: fatores solúveis não específicos e celulares Uma vez que o agente patogênico atravessou o canal do teto e alcançou a cisterna da glândula mamária, passam a atuar especialmente os fatores solúveis não específicos e celulares, que são, respectivamente, sistema lactoperoxidase, sistema complemento, lisozima e lactoferrina, neutrófilos, macrófagos, linfócitos e células epiteliais mamárias (SORDILLO e STREICHER, 2002). 2.2.1 Fatores solúveis não específicos Os fatores solúveis não específicos presentes no leite também contribuem para os mecanismos de defesa da glândula mamária. A lactoperoxidase (Lp), enzima do grupo oxidase,é sintetizada na glândula mamária principalmente por leucócitos polimorfonucleares e está associada à sua proteção contra microrganismos patogênicos (ATASEVER et al.,2013). Esta enzima em associação com peróxido de hidrogênio, que é derivado do metabolismo celular e pelo íon tiocianato (SCN-) proveniente do metabolismo hepático, produzem reações químicas, que têm como produtos o ácido hipotiociânico (HOSCN) e o íon hipotiocianato (OSCN-), elementos que possuem características antimicrobianas, (ARAÚJO e GHELLER, 2005). A Lp na presença de tiocianato e do peróxido de hidrogênio possui efeito bacteriostático para bactérias gram-positivas, como Stapylococcus aureus e estreptococos, bem como bactericida para gram-negativo, como por exemplo, os coliformes (SMITH e SCHANBACHER, 1977). 10 Figura 1: Reação de oxidação Fonte: De WIT J.N& VAN HOOYDONK, (1996). As concentrações de tiocianato no leite dependem de seus níveis séricos, os quais por sua vez dependem diretamente da dieta (SORDILLO et al., 1997). As concentrações de tiocianato e de peróxido de hidrogênio condicionam a ação da lactoperoxidase, razão pela qual se julga que sua ação no úbere não é muito importante, no período de lactação, uma vez que a baixa pressão de oxigênio no úbere inibe a produção de peróxido de hidrogênio (SORDILLO et al., 1997; RAINARD e RIOLLET,2006; BIGGS, 2009). O Sistema Complemento (SC) é constituído por um conjunto de proteínas, que são encontrados em maior concentração no plasma e presentes também no leite (KORHONEN et al., 2000). Fatores do sistema complemento são produzidos principalmente por hepatócitos, mas em menor quantidade por macrófagos, monócitos e no leite de glândulas saudáveis. Quando há resposta inflamatória, estes fatores são mobilizados da corrente circulatória juntamente com a exsudação plasmática (BARRIO et. al. 2003). Para que o SC exerça as suas funções, ele deve ser ativado, originando assim uma série de fragmentos com diferentes características e funções específicas. Esta ativação ocorre por duas vias: a clássica e a alternativa. Cada uma delas é desencadeada por fatores diferentes, mas que convergem em uma via comum a partir da formação de C3b (BARRIO et al 2003). Os mesmos autores, a via clássica de ativação do complemento não é claramente funcional na glândula mamária e a via alternativa se faz com duas conseqüências: deposição de componentes opsonizantes na bactéria e geração de fragmentos pró-inflámatorios, sendo assim, com a ativação desse sistema obtém-se a produção dos mediadores pró-inflamátorios C4a, C3a e C5a. 11 No leite mastítico o elemento do complemento C5a pode ser um dos principais mediadores inflamatórios, porque ele induz a migração de neutrófilos e células fagocíticas na direção do local onde ocorre a resposta inflamatória (ZECCONI e SMITH, 2000). Entretanto, baixas concentrações de complemento observado em glândulas mamária saudáveis durante a lactação, comprovam que as atividades bactericidas do sistema de complemento só estão aumentadas em tecidos inflamados e a intensidade esta relacionada a uma resposta inflamatória (RAINARD et al.; 2000). As enzimas lisozimas produzidas pelas células epiteliais e leucócitos que clivam as pontes existentes entre o ácido N-acetil murâmico e a Nacetilglicosamina presentes no peptidoglicano da parede celular das bactérias resultando em lise celular (RAINARD e RIOLLET,2000). As bactérias gram positivas são mais susceptíveis devido à parede celular possuir 90% de peptideoglicano (RAINARD e RIOLLET, 2006). Os fragmentos dos peptídeosglicanos da parede celular resultantes da ação da lisozima, também são ativadores da resposta inflamatória. A sua importância está no fato dela intensificar a ação dos anticorpos e do complemento (PHILPOT e NICKERSON, 2002). Outra substância inespecífica que está presente na defesa da glândula mamária é a lactoferrina (Lf). É uma glicoprotéina produzida pelas células epiteliais, macrófagos e neutrófilos com ação antimicrobiana (CHANETON et al., 2008). Sua concentração aumenta durante o início do período seco e durante as infecções e se torna a proteína mais importante das glândulas não lactantes. Ela apresenta capacidade bacteriostática através da ação inibitória ao crescimento bacteriano por se ligar aos íons de ferro, tornando indisponíveis para o crescimento bacteriano (OVIEDO-BOYSO et al; 2007; TIZARD, 2008; CHANETON et al , 2008). Nas secreções de vacas secas, a lactoferrina está presente em grandes concentrações. As concentrações normais de lactoferrina no leite são de aproximadamente 0,1mg/mL, mas durante o período seco,estas concentrações podem chegar a 20 mg/mL ou mais, este fato sugere que a lactoferrina é uma das maiores defesas da glândula mamária bovina durante o período seco. Neste período ocorre uma redução na concentração de citrato e um aumento 12 de bicarbonato, essa condição, é mais favorável a atuação quelante do ferro da lactoferrina (RAINARD & RIOLLET, 2006). A sensível diminuição da Lf na colostrogênese, associada ao aumento de citrato, devido à retomada da síntese do leite, é um dos fatores que explicam a maior suscetibilidade da glândula às infecções nesse período (CHENG et al., 2008). As funções da Lf estão no fator de modulação de aderência e emigração de neutrófilos, indução da produção de citocina, que dependem da concentração de Fe disponível, ainda possui atuação sinérgica com os neutrófilos na ação contra os patógenos (WARD et al.,2005). Mastite causada por Staphylococcus aureus e Escherichia coli demonstraram ser mais sensíveis à ação bactericida da Lf e Staphylococcus uberis demonstraram resistência (CHANETON et al.,2008). Esta enzima pode ser utilizada como parâmetro de saúde da glândula mamária (LINDMARK - MANSSON et al 2006). As citocinas são proteínas produzidas por vários tipos de celulares como, linfócitos e macrófagos ativados, na glândula mamária são produzidas pelas células epiteliais e pelos neutrófilos. Alterando a permeabilidade vascular e o recrutamento de leucócitos (SORDILLO et al,1997). Entre os moduladores imunes secretados pela glândula mamária as citocinas na patofisiologia têm sido estudadas, principalmente as citocinas do tipo Interleucina (IL-1, IL-6, IL-8, IL-12) e o Fator de Necrose tumoral –α (TNFα). Sendo considerados como marcadores das defesas da glândula mamária. Devido às alterações no repertório das citocinas, no úbere normal ou mastítico tem sido pesquisado seu uso no diagnóstico e prognóstico de mastites (SORDILLO et al.,1997; ALLUWAIMI e CULLOR,2002; ALLUWAIMI,2004) O fator de necrose tumoral (TNF-α) é uma citocina envolvida nas reações de fase aguda nos processos de inflamação. É ativada em resposta a patógenos, especialmente ao lipopolisacarrídeo (LPL) de bactéria Gramnegativo. Sendo produzida especialmente pelos macrófagos, neutrófilos e células epiteliais. Ela media o recrutamento dos neutrófilos e macrófagos para os locais da infecção. Participa da atividade quimiotática dos neutrófilos, porque induz a expressão de moléculas de adesão para células epiteliais. O choque endotóxico é outra atividade atribuída a citocina em caso de mastite 13 aguda causada por E.coli (PERSSON et al.,1993). 2.2.2. Fatores celulares ou defesas celulares No leite proveniente de uma glândula mamária sadia, observa-se um conjunto de células representadas, principalmente, por leucócitos e células epiteliais. Os leucócitos provêm do sangue através de diapedese para o tecido mamário, enquanto que as células epiteliais resultam da descamação dos alvéolos e ductos da glândula mamária. O conjunto dessas células é denominado de células somáticas (ARAUJO, 2005). As células que compõem o sistema de defesa celular inespecífico da glândula mamária são constituídas pelos macrófagos, neutrófilos e pelas células epiteliais mamárias que são ativados após os patógenos terem ultrapassado as barreiras anatômicas e solúveis (SORDILLO et. al., 1997). Os macrófagos são as células que normalmente, estão presentes no processo de uma reação inflamatória, tendo a função de fagocitose, mas esta é prejudicada, porque no leite as células esgotam sua capacidade fagocítica ao englobarem micelas de caseína e glóbulos de gordura. Sendo assim, sua maior importância reside na capacidade de secretar substâncias que facilitam a migração dos neutrófilos que desempenharão suas atividades bactericidas (KEHRLY et al.,2001). As células somáticas, em especial os neutrófilos são atraídas para o leite em resposta à inflamação através da liberação de substâncias quimioatrativas, como produtos de degradação bacteriana, citocinas pró-inflamátorias, como fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleuciana-1(IL-1b), o complemento (fragmento C5a), complexo antígeno-anticorpo, entre outros, são liberadas, provocando o recrutamento dos neutrófilos polimorfonucleares (PMN) da corrente sanguínea para o local da inflamação (PRESTES et al., 2002). O rápido influxo de neutrófilos para o sitio de infecção, a capacidade de fagocitar e eliminar a bactéria pode ser o meio para uma rápida recuperação da infecção (RABOT et al,2007). Quando há inflamação da glândula mamária, os neutrófilos constituindo até 95% das células somáticas (BIGGS, 2009). As Células Epiteliais Mamárias (CEM) estão presentes no leite devido ao 14 processo de descamação. Segundo YANG et. al. (2008), as células epiteliais mamárias, apresentam grande capacidade de expressar citocinas após a estimulação com bactérias patogênicas. 2.3 Imunidade adquirida ou específica A imunidade específica na glândula mamária ocorre quando o animal é exposto a um agente infeccioso e a imunidade inata não foi capaz de debelar o processo infeccioso. Essa forma de imunidade tem como característica a especificidade e memória das células de defesa do organismo em relação ao agente infeccioso (ABBAS & LICHTMAN, 2005). As respostas imunes específicas reconhecem determinados antígenos específicos de um patógeno. Isto é devido à memória imune, em função de repetida exposição na glândula mamária de um mesmo patógeno. Quando ocorre uma nova exposição ao mesmo patógeno se obtém uma resposta efetiva mais rápida e eficaz na eliminação do agente invasor (PARK et al.,2004). A imunidade específica da glândula mamária nos ruminantes apresenta algumas particularidades. A imunidade celular é prejudicada pela saturação das células fagocíticas com micelas de caseína e glóbulos de gordura. A produção de células produtoras de anticorpos na glândula mamária é reduzida. Sendo assim, a maior parte de células imunes da glândula mamária tem origem sistêmica e são constituídas por neutrófilos. Nos ruminantes estas células apresentam receptores para IgG2 e não para IgG1,dificultando a opsonização dos antígenos bacterianos (KERLI e HARP,2001). Existem dois tipos de resposta imune adquirida ou específica: a humoral (mediada pelos anticorpos, produzidos por linfócitos B) e a celular (mediada por linfócito T (TIZARD, 2008). 2.3.1 Resposta imune adquirida humoral A resposta imune adquirida humoral é mediada por anticorpos, que são proteínas formadas por plamócitos (linfócitosB). Plasmócitos são linfócitos B diferenciados sendo capazes de secretar anticorpos ativamente. A função dos anticorpos é de neutralizar e eliminar o antígeno que estimulou sua produção. Os anticorpos também podem ser chamados de imunoglobulinas (Ig) (TIZARD, 2008). 15 A resposta imune é mediada por um complexo antígeno-específico composta por células de memória do sistema imune, conforme figura 6 (RAINARD & RIOLLET, 2006). Figura. 1 identificação de bactéria Fonte: PHILPOT & NICKERSON (2002) Na glândula mamária bovina são quatro os isotipos de anticorpos envolvidos na sua defesa: IgM, IgG1, IgG2 e IgA . Estas imunoglobulinas têm diferentes funções e a sua concentração no leite varia com o estado de saúde do úbere e a fase de lactação (BIGGS, 2009). A IgG1 é o isotipo primário encontrado em secreções mamárias de animais saudáveis. IgG2 aumenta durante o processo inflamatório da glândula mamária e a IgA não auxilia na opsonização de bactérias, mas promove a aglutinação de bactérias evitando a sua propagação (MALLARD et al.,1998). A IgM sérica é bastante efetiva em neutralizar alguns tipos de toxinas e opsonizar patógenos no sangue e no leite. Sendo mais eficaz na proteção contra choques tóxicos do que na diminuição de sinais de inflamação local. As IgA, mesmo tendo sua concentração relativamente baixa no leite e não tendo atividade opsonizante atuam auxiliando na prevenção à colonização de patógenos e dano tecidual via aglutinação e neutralização de toxinas (KHERLI e HARP, 2001). A IgG1 e IgG2 são encontradas no soro e no leite, devido ao transporte imuno-mediado que age através das células epiteliais mamárias. Ambas, efetivamente bloqueiam a interação de patógenos com as células do hospedeiro e neutralizam as toxinas do sangue e tecidos e impedem a adesão e a colonização da glândula mamária pelos microrganismos (SORDILLO et al., 1997). 16 A IgG1 tem capacidade de estimular macrófagos e neutrófilos, mas, no entanto, são as IgG2 que possuem a atividade opsonizadora principal para neutrófilos bovinos, promovendo o recrutamento de neutrófilos para a glândula mamária, eliminando a infecção (BURTON et al., 2002). 2.3.2 Resposta imune adquirida mediada por células A imunidade mediada por células está representada basicamente pelos linfócitos T são divididos em dois grupos principais: linfócito T e B. Os linfócitos T podem ser classificados em: T helper (CD4+) e T supressor (CD8)+ (PARK et al.,2004). Os linfócitos T CD8+ são os tipos predominantes na glândula mamária sadia, porém durante a mastite, os linfócitos T CD4+ passam a prevalecer (PARK et al.,2004). Durante a infecção bacteriana na glândula mamária os linfócitos CD8+ podem eliminar a células do hospedeiro, devido à resposta imune. Devido a isso, esses linfócitos têm sido considerados como “catadores”, pois eliminam as células danificadas ou velhas da glândula mamária (BURCHILL et al.,2003). Os linfócitos B têm como principal função a produção de anticorpos contra patógeno invasores. Os linfócitos B utilizam seus receptores de membrana para o reconhecimento dos patógeno específicos, e funcionam também como células apresentadoras de antígenos (BURCHILL, et al.,2003). 17 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A mastite na pecuária leiteira é a doença que mais onera o custo de produção, e a melhor maneira de evitar esta doença é a prevenção. A pesar de todo o conhecimento disponível para o seu controle, ela mantém com alta prevalência. A estimulação do sistema de defesa da glândula mamária com o uso de imunomoduladores pode ser vislumbrada como novas estratégias para o controle de mastite. Estudos direcionados à patofisiologia celular e molecular dos mecanismos imunes da mastite têm sido desenvolvidos para melhor compreensão e assim obter resultados mais concretos em relação à mastite. 18 4. REFERÊNCIAS 1. ABBAS, A. K.; LICHTMAN, A. H.; PILLAL, S. Imunnologia celular e molecular.6.ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 580p 2. ALLUWAIMI, A.M.; CULLOR, J. J. Cytokines gene expression patterns of bovine milk during middle and late stage of lactation. Journal of Veterinary Medicine, v. 49, n. 2, p.105-110. 2002. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1046/j.1439 - 0450.2002.00515.x Acesso em: 2 set 2013 3. ALLUWAIMI, A.M. The cytokine of bovine mammary gland: prospects for diagnosis and therapy. Research in Veterinary Science, v.77, p. 211-222, 2004. Disponível em :http://dx.doi.org/10.1016/j.rvsc.2004.04.006Acesso em:2 set 2013 4. ARAUJO D. K. G.; GHELLER V. A. Aspectos morfológicos celulares e moleculares da glândula mamária de búfalas (Bubalus bubalis): Revisão de literatura. 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