ESTÁGIO SUPERVISIONADO: DA TEORIA À REALIDADE Paulo Marcos Flores1, Elizangela Weber2 Federal de Educação Ciência e Tecnologia Farroupilha – Câmpus Santa Rosa / [email protected] 2InstitutoFederal de Educação Ciência e Tecnologia Farroupilha – Câmpus Santa Rosa / [email protected] 1Instituto RESUMO: Este trabalho apresenta um relato das atividades realizadas com uma turma de 8ª série de uma Escola da rede estadual de ensino do município de Santa Rosa/RS, no período de 25 de setembro à 30 de outubro de 2014. Atividades estas desenvolvidas para o componente curricular de “Estágio Curricular Supervisionado II” do Curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal Farroupilha - Campus Santa Rosa. No primeiro momento, reporta-se à Educação Matemática e ao campo de intervenção do Estágio a partir dos referenciais teóricos estudados no decorrer do referido curso. Seguido dos procedimentos didático-metodológicos utilizados como suporte ao estágio, enfatizando as etapas da regência de classe. Por fim, estabelecendo a relação teoria e prática na formação docente. Palavras-chave: estágio, regência de classe, formação docente. 1 INTRODUÇÃO Na reflexão acerca da relação entre teoria e prática, percebe-se que esta vai ao encontro da concepção de que para ser um profissional atuante na Educação especificamente na área de Matemática, habilitado em postar-se diante daqueles que se destinam a buscar o saber, não basta apenas absorver um amontoado de teorias e números, nem mesmo ser um expert em resoluções de cálculos complexos. Para ser um professor de Matemática, é necessário mesclar estes saberes juntamente com uma habilidade didática. Esta habilidade deve ser construída no interior de cada docente, buscando a construção de uma identidade profissional própria. Neste contexto, acredita-se durante a prática de estágio fica evidente que a vinculação entre conhecimentos teórico-metodológicos, construídos na participação dos componentes específicos, básicos e pedagógicos cursados durante a Licenciatura, oportunizam análises e reflexões sobre as diferentes etapas do processo. Buscando refexões sobre a atividade de estágio, pode-se afirmar que este é o momento de estabelecer uma relação entre teoria e prática, adaptando à realidade escolar os estudos metodológicos. Pimenta e Lima (2012, p. 45), consideram que “a finalidade do estágio é propiciar ao aluno uma aproximação à realidade na qual atuará”. As autoras defendem “uma nova postura, uma redefinição do estágio, que deve caminhar para a reflexão, a partir da realidade”. Ao encontro desta concepção, vale destacar as observações de Kulcsar (1991, p. 58), que se refere ao estágio supervisionado como “uma parte importante da relação trabalho-escola, teoria-prática, e eles podem representar, URI, 10-12 de junho de 2015 Santo Ângelo – RS – Brasil. Santo Ângelo – RS – Brasil IIICIECITEC em certa medida, o elo de articulação orgânica com a própria realidade”. Isto implica que o estágio supervisionado deve ser encarado como parte essencial do processo de formação da identidade profissional docente, e não uma mera tarefa burocrática a ser cumprida, sem um real significado para a escola e para os alunos que ali se encontram. Enfatizar que o estágio supervisionado é o contato direto com o campo de trabalho do profissional docente é fundamental, pois será o espaço onde a teoria e prática irão se confrontar na resolução de desafios propostos pelo cotidiano escolar. Teoria e prática são aliadas fiéis, que estão sempre atreladas uma na outra mesmo que indiretamente. Para Pimenta e Lima (2012, p.45) O estágio não é uma atividade prática, mas teórica, instrumentalizadora da práxis docente, entendida esta como atividade de transformação da realidade. O estágio como uma atividade teórica de conhecimento, fundamentação, diálogo e intervenção na realidade, esta sim, objeto de práxis. Para o aluno do curso de Licenciatura em Matemática, o estágio de regência de classe é um dos momentos em que é possível refletir acerca do cotidiano docente, buscando conhecer e identificar as teorias imbricadas neste processo, buscando entender as caracteristicas da turma em questão, e as particularidades de cada indivíduo. Para o estagiário é o momento de se reconhecer enquanto professor, e que para o exercício de sua profissão, este deverá estar aberto para o permanente desenvolvimento. Para tanto, o aluno-estagiário deve vencer seus anseios e passar a ter um olhar voltado para a própria formação da identidade profissional. Contudo, segundo Fiorentini e Castro (2003, p. 132), “essa mudança de papéis não é tranquila, pois geralmente promove tensão entre o que se sabe, deseja e acredita e aquilo que efetivamente pode ser realizado na prática”. Transpor estas tensões oriundas da inversão de papéis de alunoprofessor é complicado em qualquer disciplina, podemos salientar que a Matemática é um agravante causador de conflitos, e que é um desafio que o estagiário deve contornar. Neste pensar, seguem relatos das atividades desenvolvidas enquanto estagiário, onde durante o período de regência de classe foi possível estabelecer uma relação concreta entre teoria e prática. 2 METOLOGIA Refletir sobre as questões que envolvem a Educação Matemática no Ensino Fundamental atrelado a uma regência de classe ditada pelas regras de um Estágio Supervisionado Obrigatório do curso de Licenciatura aponta para a importância de estabelecer conexões entre as teorias metodológicas estudadas até então pelo estagiário, como um suporte para traçar os caminhos norteadores das práticas das aulas de Matemática. A atividade de estágio possibilita ao aluno do curso de licenciatura uma singular experiência entre o campo de trabalho docente e as questões que regem o dia a dia desta profissão. Nesta direção, o estágio se mostra como um celeiro de oportunidades para o desenvolvimento da identidade docente, já que este possibilita ao futuro professor vivenciar o cotidiano de uma Instituição de Ensino. De acordo com Pimenta e Lima (2012, p. 156) “a sala de aula é o lugar URI, 10-12 de junho de 2015. Santo Ângelo – RS – Brasil IIICIECITEC de encontro entre professores e alunos com suas histórias de vida, das possibilidades de ensino e aprendizagem, da construção do conhecimento compartilhado”. Deste pensar, é relevante destacar a importância de o aluno desenvolver à própria capacidade de construir conhecimentos matemáticos, de cultivar a autoestima, de respeitar o trabalho dos colegas e de perseverar na busca de soluções para problemas propostos. Assim, compete ao estagiário voltar o planejamento de suas ações práticas visando contribuir para o desenvolvimento intelectual do aluno, adotando critérios para seleção dos conteúdos que possam contribuir para o desenvolvimento social e intelectual dos indivíduos alvos da ação. Durante as aulas do curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal Farroupilha somos orientados a ser professores que possuam um diferencial entre os demais, utilizando metodologias educacionais que visem o despertar da curiosidade nos alunos. Sabemos que a construção do conhecimento não é algo engessado, e que não há um modelo matemático que possa expressar a maneira correta para alguém aprender. Com esta visão e visando atender o que dita o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, onde explicita no eixo norteador para a oitava série do Ensino Fundamental, que o estudo da Matemática deve manter relação com o cotidiano em que o aluno encontra-se inserido, planejou-se as atividades da regência de classe buscando desmestificar o temor por esta disciplina, promovendo situações que oportunizem relações entre modelos teóricos estudados e à experiência que cada aluno tem do “fazer” Matemática, promovendo assim a autonomia na formulação de conceitos e conjecturas quanto a resoluções de problemas matemáticos, não só em sala de aula, mas durante toda sua vida. Desta forma, pensando em descentralizar a aprendizagem puramente técnica e mecanizada da Matemática, como momento inicial foi realizada uma atividade voltada ao que nos dizem Ponte, Brocardo e Oliveira (2003, p. 23): O conceito de investigação matemática, como atividade de ensinoaprendizagem, [...] onde o aluno é chamado a agir como um matemático, não só na formulação de questões e conjecturas e na realização de provas e refutações, mas também na apresentação de resultados e na discussão e argumentação com os seus colegas e professor. Assim, foram formados grupos contendo 5 participantes e entregue um texto para que os alunos tentassem responder as questões posteriores, por meio da Investigação Matemática. Anexado ao texto estavam contidas questões simples solicitando que localizassem alguns lugares. Porém muitos dos alunos sequer leram o texto e as questões. Ponte, Brocardo e Oliveira (2003, p. 36), citam que: O professor precisa estar atento a todo esse processo de formulação e teste de conjecturas, para garantir que os alunos vão evoluindo na realização de investigação. Desse modo, cabe-lhe colocar questões aos alunos que os estimulem a olhar em outras direções e os façam refletir sobre aquilo que vão fazer. Buscando olhar em outra direção, na sequência foi entregue aos grupos URI, 10-12 de junho de 2015. IIICIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil um esboço de um mapa contendo os locais que deveriam ser indicados, afim de estabelecer uma relação entre a localização de pontos e a Matemática. Desta forma, foram obtidas algumas respostas condizentes com o que se pretendia alcançar como resultado. A partir daí, enquanto professor-estagiário, busquei dialogar com os grupos sobre as ideias encontradas, explanando no quadro os conceitos daquilo que se pretendia alcançar como objetivo, que no caso referia-se a localização de pontos com o auxilio de pares ordenados. Na aula seguinte, os alunos foram questionados sobre o que entendem por plano para, em conjunto, formular o conceito de plano cartesiano. Questionou-se ainda, sobre a reta numérica e como ela é representada. Como forma concreta capaz de lucidar e facilitar o aprendizado, representou-se uma reta numérica no chão da sala de aula, com o auxilio de uma fita crepe. Esta fita foi colocada rente à primeira fileira de classes da sala de aula, para posteriormente ser utilizada como representação do eixo x. Na sequência do diálogo, foi apresentado aos alunos o eixo que intercepta perpendicularmente o eixo x na posição zero. Da mesma forma que o eixo x, foi representado no chão da sala de aula o eixo y, constituindo o plano cartesiano. Neste momento, foi retomada questão contida no texto abordado durante a primeira atividade, onde um turista que necessitava de ajuda, relacionando a questão aos conceitos abordados. Como exemplo facilitador do entendimento, o professor solicitou aos alunos a localização de algumas classes posicionadas dentro da sala de aula, já que existia uma representação das retas x e y no chão da sala de aula. Com a metodologia de Resolução de Problemas, a qual Polya (1981, p.117) definiu a solução de um problema como “o ato de buscar conscientemente alguma ação apropriada para alcançar um objetivo claramente imaginado, mas não imediatamente atingível”, trabalhou-se a análise da conta de água afim de introduzir o conteúdo de Função do 1ºgrau. Para tanto, formaram-se duplas de alunos e a eles foi entregue uma cópia de uma conta de água, juntamente com um questionário a ser respondido baseando-se em dados contidos na referida conta. No quarto encontro, os alunos foram questionados sobre conversas do cotidiano onde é comum dizer que uma coisa varia em função de outra. Após surgirem algumas ideias, o professor explanou que um dos conceitos mais utilizados em Matemática é o de função. Ele se aplica a várias áreas, como à Física, à Química, à Economia, entre outras. Além disso, está muito presente em nosso dia a dia, auxiliando na compreensão do mundo que nos cerca. Na sequência, com auxilio da metodologia de Aula Expositiva Dialogada, o professor traballhou os conceitos relacionados as funções, como: representação da função, gráfico, estudo do sinal (...), sempre reforçando os conceitos, resolvendo alguns exemplos, propondo exercícios de fixação do conteúdo e discutindo seus resultados. Com o objetivo de facilitar o entendimento referente ao estudo de domínio e imagem de uma função, o professor pendurou no quadro um espelho, selecionando alguns alunos para que se posicionassem diante deste espelho para responder as questões: “O que estão vendo?”, “Quantas vezes estão vendo a imagem?”. A partir das respostas dos alunos, o professor relacionou o espelho com URI, 10-12 de junho de 2015. IIICIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil a ideia de função, mostrando que será uma função quando os elementos do “domínio” tiverem uma única “imagem” correspondente, e que todos os elementos do “domínio” tem que possuir uma imagem no “contradomínio”. Na sexta aula, foi o momento de representar funções por meio de gráficos. Desta forma, o professor relembrou juntamente com os alunos o conceito de função e suas formas de representações, aproveitando o problema anterior para introduzir a representação por meio de gráficos. No momento seguinte, o professor transcreveu no quadro alguns exemplos de funções, questionando os alunos sobre a resolução. Em seguida, construiu junto com os alunos os gráficos dos referidos exemplos, utilizando valores para x de -2 à 2. Em continuidade ao estudo de funções do 1º grau, foi explanado aos alunos como identificar o zero ou raiz da função do 1º grau. No quadro, o professor explicou, por meio de exposição dialogada, que quando necessitamos encontrar a raiz de uma função, basta igualar esta função a zero. Ainda nesta aula foi abordado o conteúdo do estudo dos sinais de uma função. Foi explanado que estudar o sinal da função de 1º grau y = ax + b significa determinar para quais valores de x a função é positiva, nula ou negativa. Neste conteúdo, também foram explanados oralmente exemplos, onde o professor comentou sobre as resoluções, posteriormente seguidos de exercícios de fixação. A oitava aula foi diferente das demais, pois foi desenvolvida no Laboratório de Informática, ressaltando o uso de Novas Tecnologias como forma de auxiliar o processo de ensino. Para esta aula o professor propôs aos alunos que criassem no software Excel uma planilha em que fosse possível visualizar a representação gráfica de uma função do 1º grau, através de um roteiro da atividade. Foi solicitado que ao final todos os alunos entregassem uma cópia de sua atividade concluída para avaliação posterior. Ao final da aula também foi entregue aos alunos um questionário de exercícios de revisão do conteúdo, com a finalidade de os alunos resolverem aos exercícios como atividade extraclasse e trazerem as dúvidas para a aula seguinte. No nono encontro foi realizado um teste avaliativo com a finalidade de conhecer o nível de desenvolvimento dos alunos acerca do assunto estudado até o momento. Contudo, como a aula era composta por três períodos, destinamos o primeiro período para correção dos exercícios que os alunos levaram para resolver em casa na aula anterior, buscando minimizar as dúvidas existentes. No questionário a ser resolvido no período extraclasse, haviam questões iguais aos exercícios desenvolvidos em sala de aula, porém a cada sequência de questões foi colocado um exercício resolvido para servir de modelo aos alunos. No último encontro com a turma, estes organizaram uma confraternização para brindar o término do estágio, e no entanto, apenas corrigimos a avaliação, argumentando sobre os pequenos erros cometidos. 3 RESULTADOS E ANÁLISE URI, 10-12 de junho de 2015. Santo Ângelo – RS – Brasil IIICIECITEC Na realização de qualquer tipo de atividade, é de grande valia apontar dados que possam indicar os resultados obtidos, para que assim possamos reavaliar a atividade, enfatizando os pontos positivos e buscando alternativas para realizar o que não foi possível atingir o objetivo esperado. Em termos de educação, as avaliações não devem servir como classificador entre bons e maus alunos. O objetivo maior da avaliação é conhecer a progressão do aluno na busca pelo conhecimento e se os métodos utilizados pelo professor foram úteis e satisfatórios. Bozzeto (2007), cita que: A avaliação é a realização de um conjunto de ações encaminhadas para recolher uma série de dados em torno de uma pessoa, fato, situação ou fenômeno, com o fim de, a partir de critérios prévios, emitir um juízo sobre o mesmo e orientar decisões posteriores. (p.33). Em se tratando de avaliações dos alunos regidos durante o estágio, o PPP da escola aponta que deve ser seguido um processo contínuo e sistemático, visando verificar os avanços e as dificuldades apresentadas pelo aluno durante todo o ano letivo. O regimento explicita que para aprovação ou reprovação serão considerados os parâmetros mínimos estabelecidos nos eixos centrais dos componentes curriculares em cada série nos planos de estudo. Quanto a avaliação para teste de conhecimento construído durante o estágio, era composta por dez questões semelhantes aos exercícios de revisão, apenas havia algumas modificações. Desta avaliação, o aluno precisava resolver apenas nove das dez questões, pois uma questão podia ser anulada a livre escolha pelos alunos em virtude de um acordo gerado entre professor e a turma na realização da atividade de Laboratório de Informática do dia anterior. Dos erros cometidos pelos alunos, posso destacar que a maioria foram erros de multiplicação ou jogo de sinais. Quanto às notas obtidas pelos alunos na avaliação, apenas três alunos ficaram abaixo da média (<5), com um ótimo percentual de notas acima de sete. Também apliquei um questionário avaliativo das atividades desenvolvidas durante as aulas de estágio, a fim de realizar uma avaliação sobre as ações docentes do estagiário e sobre as metodologias utilizadas. Como resultado, observou-se que embora alguns criticaram o professor quanto sua imposição em sala de aula, de modo geral os alunos criaram conceitos quanto ao assunto matemático estudado, mas também perceberam a necessidade de ter este conhecimento, tanto na vida acadêmica quanto profissional. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Quando buscamos refletir sobre a formação docente e a constituição de sua identidade profissional, logo nos vem em mente à complexidade da educação no atual contexto social. Tais reflexões fazem emergir a precariedade do cenário educacional de nosso país, onde fica evidente a fragilidade e a sensação de impotência do professor frente à banalização com que as politicas norteadoras tratam a educação pública. Ter em mente que, quando um indivíduo recebe uma educação de URI, 10-12 de junho de 2015. IIICIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil qualidade, este adquire algo muito maior que o conhecimento mediado a ele, adquire como bagagem conceitos de ética, de moral, senso de criticidade e autonomia. Esta bagagem pode ser o diferencial para que este possa encontrar seu espaço de sucesso frente ao atual cenário competitivo. Porém, na realidade educacional de nosso país, o termo qualidade parece não ser relevante, pois o quadro político educacional que vemos possui interesse apenas em gerar indicadores de aprovação, sem a preocupação com a real construção do conhecimento. Contudo, frente a este descaso educacional, estão profissionais mal remunerados, que a cada novo dia enfrentam verdadeiras batalhas para mediar o conhecimento, onde o próprio indivíduo para qual o professor dedica horas de sua vida, os trata como inimigos e não um facilitador do processo de construção do conhecimento. Foi este o universo que vivenciei enquanto estagiário, um cenário em que professores que amam ser docentes, vivem insatisfeitos com os ditos “maus alunos” e com o descaso imposto a eles. Sim, “maus alunos” é o que encontramos nas escolas de nosso país, mas que nem sempre estes maus alunos são alunos maus, simplesmente não possuem interesse por aquilo que o professor procura mediar em sala de aula, mas que são amparados legalmente por políticas que visam índices de aprovação. Cito que enquanto me limitei a observar as aulas regidas pela professora titular da turma, não percebi a magnitude do desinteresse por parte dos alunos. Porém, na primeira aula que tive o prazer de reger, minhas expectativas e desejos educacionais ruíram abalados por esta falta de interesse por parte dos alunos sobre o assunto introduzido e nas atividades sugeridas. Durante o planejamento das aulas de estágio, e enquanto alunos da Licenciatura pensamos os planos de aula seguindo as orientações das disciplinas metodológicas estudadas, compete a um professor gerar formas capaz de mediar o conhecimento a quem desejar buscá-lo. Neste pensar, elaborei a referida aula baseando-me na metodologia de Investigação Matemática, onde o professor procura despertar nos alunos a autonomia na resolução de problemas, para que estes possam formular conjecturas que conduzam a construção do conhecimento. O que vivenciei na prática não condiz com o “mundo mágico” e utópico ditado por pensadores ideológicos dos cursos de formação de professores. O que vivenciei foram trinta e cinco alunos da oitava série do Ensino Fundamental preocupados apenas com o relógio, esperando que a aula acabe para rumar em busca de algo distante daquilo que ele está vendo, sem sequer ler um simples texto com três parágrafos, em que estava incrustado um problema simples do cotidiano. Relato que naquele instante senti brotar em mim uma enorme frustração quanto a docência, pois percebi que o verdadeiro problema da educação está no desinteresse do aluno, e que eles estão em sala de aula porque são obrigados a estar ali, seja pelos pais ou algum outro responsável legal. Frustreime tanto que no mesmo dia busquei conselhos junto a orientadora e aos mestres metodológicos do curso de Licenciatura em Matemática e, com suas experiências, me orientaram a buscar ações para reverter este quadro. Desta forma, reorganizei meu pensamento e, na manhã seguinte, lá estava eu postado diante daqueles indivíduos para o segundo encontro. O que fiz foi “driblar” a falta de experiência docente, traçando um acordo com os URI, 10-12 de junho de 2015. IIICIECITEC Santo Ângelo – RS – Brasil alunos para o bom andamento das atividades. Comentei com a turma que, enquanto estagiário, eu poderia ter escolhido qualquer turma, de qualquer escola para realizar minha regência. Porém, optei por aquela turma, pois acreditei no potencial deles e vi que ali seria um ótimo espaço para este fim. Assim, contornei as questões de indisciplina, embora, muitas vezes, a infantilidade dos alunos trazia à tona novos conflitos. Considero que minha breve passagem pela vida daqueles alunos foi significativa, pois em uma sondagem realizada após o estágio, fui taxado de chato e desconfiado, mas com vários relatos citados pelos alunos em que apontavam minha preocupação com o desenvolvimento da capacidade dos alunos em resolução de problemas matemáticos, sempre ressaltando que isto é de grande valia para o futuro acadêmico dos mesmos, bem como para o bom desempenho frente as exigências do mercado de trabalho. Saliento que no Estágio convivi com alunos de quilate imensurável, dotados de uma inteligência apurada quanto a resoluções de situaçõesproblemas, responsáveis, amigos, um verdadeiro diferencial. Como consideração final, cito que o estágio foi uma singular experiência para minha formação docente, pois a constituição de um docente não se faz apenas com teorias, mas principalmente com a prática, refletindo sobre suas ações na busca constante de um saber teórico e saber prático. Como também, o saber docente não é só formado pela prática, mas alimentado pelas teorias metodológicas. 5 REFERÊNCIAS BOZZETO, Ingride Mundstock, Programa de incentivo à produção docente. Ijuí:Ed. Unijuí, 2007. (Caderno Unijuí). FIORENTINI, Dario; CASTRO, Franciana Carneiro de. Tornando-se professor de Matemática: o caso de Allan em prática de ensino e estágio supervisionado. In: FIORENTINI, Dario (org.) Formação de professores de Matemática: explorando novos caminhos com outros olhares. Campinas/SP: Mercado das Letras, 2003. KULCSAR, Rosa. O estágio supervisionado como atividade integradora. IN: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes [etall]; PICONEZ, Stela C. Bertholo (Coord.). A prática de ensino e o estágio supervisionado. Campinas-SP: Papirus, 1991. PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e Docência. São Paulo: Cortez, 2012. POLYA, George. A arte de resolver problemas. Tradução: Heitor Lisboa de Araújo. Rio de Janeiro: Interciência, 1981. PONTE, João Pedro; BROCARDO, Joana; OLIVEIRA, Hélia. Investigações Matemáticas na Sala de Aula . Belo Horizonte: Autêntica, 2003. Coleção Tendências em Matemática. URI, 10-12 de junho de 2015.