Secretaria da Mulher repudia cartaz machista de estudantes da UnB

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Secretaria da Mulher repudia cartaz machista de
estudantes da UnB
O Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe) divulgou ontem 25, o
resultado do vestibular de 2013 da UnB. As (os) candidatas (os) aprovadas (os)
reuniram-se no campus da Asa Norte, ainda na tarde de ontem, para
comemorar a aprovação e passar pelo famoso trote.
Desde então, circula pelas redes sociais a imagem de alunos da UnB,
supostamente dois estudantes do curso de Engenharia de Redes da instituição,
segurando cartazes que fazem apologia ao estupro (“Caiu na redes é... Estupro”).
O cartaz tratou as mulheres como objetos, depreciando sua integridade e
desmerencendo-as enquanto sujeitos. Este tipo de trote advém do período
militar, quando a calourada tinha uma função social de contestação e crítica dos
estudantes. Atualmente, perdeu-se essa função e se estabeleceu como um ritual
com uma ideia de dominação de “quem sabe mais” sobre aquele que “sabe
menos”.
E não é a primeira vez que isso acontece. Em 2011, durante um trote da turma
de Agronomia, as mulheres eram obrigadas a lamberem uma linguiça coberta
com leite condensado, simulando o sexo oral. Quem incitou a prática foi o
presidente do Centro Acadêmico, que ainda estava vestido de mulher e
sustentando uma faixa presidencial. À época, a universidade formou uma
comissão para investigar os trotes violentos, machistas e racistas.
Os trotes deveriam ser momentos de integração entre ingressantes e estudantes
em curso, mas deixam de cumprir esse papel e transformam-se em momentos
de humilhação, violência, opressão. O papel da denúncia é o de explicitar que
essas situações, desde as imagens que mercantilizam as mulheres, como por
exemplo, os cartazes de propaganda de cervejas e automóveis nos quais as
mulheres aparecem semi-nuas e como se fossem os produtos à venda, até a
violência, inclusive sexual, mediante algumas ações as quais as mulheres são
expostas.
A Secretaria de Estado da Mulher questiona, fortemente, a tolerância e até da
incitação do estupro na sociedade, que coloca a vítima como culpada pelo
assédio. Há uma simbologia dentro da sociedade que justifica o estupro e ainda
o incita. A cultura não envolve só o estupro, mas o assédio sexual e o homem
achar que pode mexer com a mulher na rua ou passar a mão nela. É pensar que
a mulher está disponível e que todos tem livre acesso a ela.
É importante lembrar que o crime de estupro está previsto no artigo 213 do
Código Penal, com a seguinte redação: “Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se
pratique outro ato libidinoso”. A pena é de seis a dez anos de reclusão.
A entrada da mulher no mercado de trabalho, conquista que muitos defendem
como a tese de que o machismo acabou, não significa que ela deixou de ser
minorizada e explorada. A dificuldade da mulher de se fazer ouvir sem ser
desmerecida, em espaços tradicionalmente compostos por homens – como os
cursos de engenharia -, acaba levando-a à necessidade de se “masculinizar” e,
quem sabe assim, ser aceita em um determinado grupo social.
Torno público o meu repúdio, e de toda a equipe da Secretaria de Estado da
Mulher, quanto a esses atos de machismo e violência contra as mulheres
durante as calouradas. Situações assim colocam em debate a objetificação da
mulher, a opressão que elas sofrem – algumas, sem ao menos se darem conta - e
o constrangimento que muitas delas passam para poder se encaixar em um
ambiente universitário. Esse tipo de “brincadeira” é inteiramente ofensiva ao
considerarmos que mulher ainda é oprimida todos os dias na sociedade.
A Secretaria da Mulher respeita a autonomia da Universidade de Brasília e
sugere que atividades educativas acerca da violência de gênero e de todas as
formas de violência e discriminação perpetradas nos trotes sejam trabalhadas
periodicamente no âmbito da UnB. Estas situações são totalmente
incompatíveis com a democracia. Considerando o papel da universidade na
construção de uma sociedade democrática, as iniciativas tornam-se
emergenciais.
A luta contra a sociedade patriarcal, que denota a mulher uma condição de
subserviência e subjugação, deve ser superada, estabelecendo, assim, uma
humanidade baseada na equidade de gênero. E este é um compromisso a ser
assumido por todas e todos.
Olgamir Amancia
Secretária de Estado da Mulher
Assessoria de Comunicação Social - Secretaria de Estado da Mulher do Distrito
Federal
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