INFECÇÕES DO TRATO RESPIRATÓRIO INFERIOR Síndromes que podem ser identificadas nas infecções agudas do TRI: Bronquite Bronquiolite Pneumonia Bronquite Condição inflamatória gerada pelo acúmulo de muco nos brônquios: Bronquite aguda: após infecção (curta duração) Bronquite crônica: síndrome DPOC*, comum em fumantes (longa duração) Principais sintomas: tosse e expectoração Tratamento: sintomático (hidratação, vaporizadores, descongestionantes, parar de fumar) *doença pulmonar obstrutiva crônica Bronquiolite A bronquiolite é uma doença que se restringe a infância e em geral a crianças com menos de 2 anos de idade. 75% das infecções bronquiolares são causadas pelo Vírus Respiratório Sincicial (RSV) Família Paramyxoviridae Assim como o vírus da cachumba, vírus do sarampo, vírus parainfluenza e metapneumovírus* Vírus genoma RNA, fita simples, polaridade negativa, capsídeo helicoidal, envelopado (100-300 nm) *outro agente viral de bronquiolite Vírus Respiratório Sincicial (RSV) Distribuição mundial Causa mais importante de bronqueolite e pneumonia em lactentes Surtos no inverno (ambientes hospitalares e comunidade) Registros trimestrais da infecção pelo RSV na Inglaterra e País de Gales (CDSC) Infecção universal até o dois anos de idade Infecção em crianças e adultos: restrita ao TRS (resfriado) Infecção por RSV não provoca imunidade duradoura / variabilidade antigênica - reinfecção é muito comum Infecção pelo RSV em lactentes: base imunopatológica A infecção pelo RSV leva a necrose das células epiteliais que revestem os bronquíolos, gerando um processo inflamatório e a formação de uma edema na parede broquiolar. Os bronquíolos de um lactente apresentam baixo calibre e se suas células de revestimento ficam edemaciadas pela inflamação, a passagem de ar para dentro e para fora do alvéolo pode ficar gravemente restrita. A infiltração peribrônquica pode se espalhar pelos campos pulmonares, dando origem também a uma pneumonia intersticial. Evidência clínica: tosse, febre, taquipneia, chiado no peito, hipoxemia, cianose (hospitalização: oxigênio e inalação) RSV: Prevenção Lavar as mãos frequentemente ... e corretamente! Limpeza de superfícies Uso de EPIs RSV: onde ele pode estar? RSV Diagnóstico laboratorial Lavado/swab nasofaríngeo: RT-PCR, IF/ELISA Tratamento: Não tem vacina contra RSV - Primariamente de suporte (oxigênio saturação <90%) - Ribavirina (aerossol) - Profilaxia: anticorpo monoclonal (Synagis) Pneumonia Penetração de um agente infeccioso (bactéria, vírus ou fungos) ou irritante no espaço alveolar A presença de um agente agressor provoca uma reação inflamatória intensa – a pneumonia – que tem por objetivo expulsar o invasor. A pneumonia pode acometer a região dos alvéolos pulmonares e, às vezes, os interstícios. Pneumonia A grande dificuldade da pneumonia é determinar o agente causador Pneumonia bacteriana X Viral: Distinção clínica por vezes difícil Pneumonia viral: Pneumonia intersticial característica na radiografia Indivíduos saudáveis são suscetíveis Infecção viral pode abrir caminho pra infecção secundária O impacto da pneumonia: marcadamente mais elevado em crianças (<5 anos) e adultos mais velhos (>50 anos) Infecção restrita aos tecidos intersticiais do pulmão Muitos vírus podem causar pneumonia Proporções de patógenos detectados em crianças de 0-17 anos, Estudo de etiologia de pneumonia de comunidade, EUA. . N Engl J Med 2015;373:420 Pneumonia Pneumonia A partir do relato dos sinais e sintomas descritos, quais os procedimentos que devem ser adotados para fechar o diagnóstico de pneumonia: Caracterizar se a infecção está localizada nos pulmões: Exame clínico: ausculta dos pulmões para verificação de presença de secreção nos alvéolos (estertor crepitante) Radiografia: confirmar a inflamação nos alvéolos (infiltração pulmonar) Metade dos diagnósticos de pneumonia feitos nos prontos-socorros não são confirmados Vírus Influenza 1918/1920: Gripe Espanhola: O maior holocausto médico já visto” Matou cerca de 50 milhões pessoas cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/m ateria/.../3096 - c Bonde circula por cidade brasileira carregado de caixões em 1918 A História da Gripe Papiro médico grego com receitas, tratamentos e encantamentos mágicos e religiosos Por volta do ano 2500 a.C., no Egito, o Faraó voltou de uma viagem com febre, corpo mole e dores por toda a parte. O padre-médico-tesoureiro aconselhou-o a passar o dia em repouso, tomando chá de flores de camomila ou uma garrafada misteriosa que continha extrato de plantas e outros ingredientes." cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/.../3096 - A História da Gripe 412 a.C. na Grécia: Hipócrates: 1º relato científico de influenza: doença respiratória que durou alguma semanas, matou muitas pessoas e então, desapareceu Chá de artemísia, vitamina C e alface eram recomendados pelos gregos para quem apresentasse os sintomas da gripe. Família: Orthomyxoviridae Gênero: Influenzavirus A Espécie: vírus Influenza A Influenzavirus B Espécie: vírus influenza B Classificado em subtipos baseado nas propriedades antigênicas das duas proteínas de superfície, hemaglutinina (H) e neuraminidase (N) humanos suínos equinos aves focas 2 linhagens antigenicamente distintas cocirculam no homem— Victoria e Yamagata humanos Influenzavirus C Espécie: vírus influenza C humanos Estrutura do vírus influenza Microscopia eletrônica: partículas envelopadas, capsídeo icosaédrico diâmetro: 80-120nm Neuraminidase 8 segmentos de RNA fita simples (-) Hemaglutinina Ribonucleoproteína do virus Influenza Portela & Digard, 2002 Ribonucleoproteína: RNA + NP + complexo RNA polimerase viral : PB1 + PB2 + transcrição e replicação do RNA viral PA Vírus influenza Glicoproteínas do Vírus Influenza Hemaglutinina: Adsorção do vírus ao receptor celular (ácido siálico) Penetração: fusão do envelope viral com a membrana do endosoma Neuraminidase: Liberação do vírus da célula hospedeira (figura) Disseminação do vírus no hospedeiro Representação esquemática da estrutura do trímero da HA inserido no envelope viral. Observe a posição do sítio de ligação ao receptor e sítios antigênicos em HA1 e o peptídeo de fusão em HA2. www.academic.brooklyn.cuny.edu/ Clivagem de HA0 essencial para a infectividade do vírus www.nature.com Ciclo de replicação vírus influenza www.influenzareport.com Transmissão do vírus influenza AEROSSOL: até 1.000.000 PV/gotícula Mãos contaminadas Influenza: Patogenia Transmissão: aerossóis/fômites Trato respiratório superior (cels epiteliais) Elementos de defesa: -Muco - Epitélio ciliado Sintomas (início súbito): Febre alta, dor-degarganta, tosse, calafrios, mialgia, dor-de-cabeça e prostação - IgA secretora Invasão do TRI Complicações Infecção autolimitada: 3-7 dias + convalescência Mucosa normal da traqueia 3 dias após a infecção Influenza: complicações – – – – Recém-natos idosos imunodeprimidos Doenças cardíacas ou pulmonares (asma) Pneumonia viral Pneumonia bacteriana secundária Bronquiolite, crupe Exacerbação de doenças pulmonares crônicas Complicações cardíacas Manifestações neurológicas Duas formas epidemiológicas de influenza ocorrem globalmente Influenza epidêmica (sazonal/interpandêmica): causada pelos vírus influenza A and B Influenza pandêmica: causada pelo vírus influenza A Resultam de mecanismos distintos de variação antigênica nas glicoproteínas de superfície do vírus Drift antigênico Shift antigênico Variação menor: drift antigênico Genoma do vírus Influenza Resulta do acúmulo de mutações pontuais nos genes HA e NA Permite o escape do vírus da imunidade induzida pela exposição prévia ou vacinação. Surtos de influenza NÃO OCORRE MUDANÇA DO SUBTIPO VIRAL Representação esquemática da estrutura do trímero da HA inserido no envelope viral. Observe a posição dos sítios de ligação ao receptor e sítios antigênicos em HA1 e o peptídeo de fusão em HA2. www.academic.brooklyn.cuny.edu/ Variação maior: shift antigênico RNA segmentado Resulta da infecção simultânea de uma célula com 2 vírus influenza A com subtipos diferentes Rearranjo genético pode gerar novas proteínas HA e/ou NA: novos subtipos virais Pandemias de influenza GERAÇÃO DE NOVOS SUBTIPOS VIRAIS Shift antigênico do Vírus Influenza A Rearranjo entre 2 amostras de Vírus Influenza A Evento esporádico, restrito ao Virus Influenza A, que resulta na introdução de uma nova amostra do virus na espécie humana para a qual uma grande parte da população não tem imunidade Influenza: diagnóstico laboratorial 24-72h O diagnóstico laboratorial da gripe deve ser feito no início da doença, quando a eliminação viral está no seu título máximo Sistema Nacional de Vigilância de Influenza (MS) Rede Nacional de Laboratórios • Centros de Referência: Credenciados pela OMS dentro de uma rede global de vigilância em influenza Nacional: Instituto Oswaldo Cruz (RJ) Regional: Instituto Evandro Chagas (Belém), Instituto Adolfo Lutz (SP) • Rede de laboratórios em nível estadual associados aos CR: (LACENs) Influenza: diagnóstico laboratorial Amostra clínica: Secreção de nasofaringe (até o 5º dia início sintomas) LACENs IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA Uso de um painel de soros de referência que detecta, além da influenza, outros vírus respiratórios de interesse (vírus respiratório sincicial, parainfluenza e adenovírus). www.abcam.co.jp Laboratórios de Referência Detecção direta do genoma viral: RT-PCR Isolamento em Cultura de Células Isolamento em ovos embrionados www.nih.go.jp A História da Gripe Século XX: 3 grandes Pandemias Século XXI: 2009: Gripe suína 1918: Gripe Espanhola 1957: Gripe Asiática 1968: Gripe Hong Kong Pandemias de Influenza 1918: Gripe Espanhola (H1N1) commons.wikimedia.org Trecho de uma carta datada de 29/09/1918 escrita por um médico na época da gripe espanhola “O campo Devens fica perto de Boston e tem cerca de 50.000 homens, ou melhor, tinha antes desta epidemia começar ... Cerca de 4 semanas atrás... Desenvolvendo-se tão rapidamente que o campo está totalmente paralisado ... Estes homens começam com o que parece ser um simples ataque de LaGrippe ou Influenza e quando trazidos para o hospital, eles desenvolvem rapidamente o tipo mais viscoso de pneumonia que eu já tinha visto. Duas horas após serem internados, eles têm as manchas Mahogany sobre todo o peito e algumas horas mais tarde, você pode começar a observar a cianose se estendendo a partir de seus ouvidos e se espalhando por toda a face, até que fica difícil distinguir os negros dos brancos. Em questão de somente poucas horas a morte chega, quando os pacientes terminam sua vida numa luta por ar até que ficam sufocados. É horrível ! A gente pode suportar presenciar a morte de um, dois ou 20 homens, mas ver estes pobres homens caindo como moscas arrasa com os nossos nervos. Nós temos tido uma média de 100 mortes por dia, o que vem se mantendo ...Por muitos dias não existem caixões e os corpos são empilhados em longas filas, uma visão chocante muito pior do que qualquer uma vista na França após a batalha ...” 1918/19: Gripe Espanhola ~50 milhões de mortos 1968: Gripe Hong Kong 700 mil mortos 1977: Gripe Russa 10 mil mortos 1957:Gripe Asiática 1/2 milhões mortos H1N1 H2N2 H3N2 H1N1 2009 Pandemias de influenza 2009: Gripe suína 18 mil mortos H1N1 Pandemia da Gripe A H1N1: Cronologia 10/04/2009 : casos de gripe suína no México 25/04/2009: WHO eleva alerta de pandemia para nível 4 (potencial pandêmico) 11/06/2009: WHO eleva o risco de pandemia para fase 6 (pandemia: + 6 países) Em 9 semanas: todas as regiões no mundo notificaram casos da nova gripe para a OMS (2 meses para disseminar) Disseminação da pandemia De onde “vem” os novos tipos de HA e NA? • 16 tipos HA • 9 tipos NA – Todos circulam em aves Influenza A: subtipos virais na natureza Hemaglutinina Neuraminidase 16 subtipos de H e 9 subtipos de N foram isolados de aves. Dois subtipos de H e N foram mais recentemente identificados em morcegos (H17 and H18, e N10 and N11) Influenza aviário Reservatórios do vírus na natureza Aves selvagens (migratórias): Aves aquáticas e costeiras Fonte de novas linhagens do vírus que infectam espécies domésticas de aves e mamíferos galinha peru pato codorna faisão suínos equinos mais vulneráveis à infecção Influenza em aves selvagens: infecção localizada no trato respiratório ou gastrointestinal sem manifestação clínica Vírus replica predominantemente no trato intestinal de aves aquáticas sendo disseminado pela contaminação fecal da água www.iowadnr.gov www.biologycorner.com Transmissão do virus influenza A de aves selvagens para animais domésticos Ocorre em fazendas ou em arrozais ao longo das rotas de aves migratórias Como são formados os novos subtipos ? Suínos: recipientes de mistura Infectado por subtipos de aves e humanos Origem do vírus influenza A (H1N1) X X “Every influenza outbreak or pandemic is unique” H1N1: triplo rearranjo Avian Human H3N2 Avian Classical swine H1N1 Eurasian avian-like swine H1N1 lineage Classical swine H1N1 Pode ocorrer a transmissão direta do vírus influenza de aves para o homem ? Bird flu H5N1? Emergência de ameaças pandêmicas H5N1 • Em 1997, um menino de 3 anos em Hong Kong desenvolveu uma doença respiratória aguda e foi a óbito. Um vírus influenza composto inteiramente de genes aviários foi isolado desse paciente, constituindo a primeira detecção da infecção pelo virus influenza A aviário no homem. Vírus influenza aviária (H5N1) • H5N1: amostra altamente patogênica, surtos graves em aves domésticas em partes da Ásia e Oriente Médio • Casos humanos: 856 casos em 16 países (Indonésia, Vietnam e Egito) desde 2003 (452 óbitos, 60% TF) • Casos humanos ocorreram em pessoas que tiveram contato direto com aves. Transmissão sustentada pessoa-pessoa ainda não foi evidenciada Barreira de especificidade de receptor dos vírus influenza restringe o espectro de hospedeiro HA reconhece o ácido siálico e tb como ele se liga ao resíduo de galactose Influenza aviário: HA reconhece ácido siálico ligado a galactose com Influenza humano: HA reconhece ácido siálico ligado a galactose com ligações -2,3 ligações -2,6 Suíno (hospedeiro intermediário): células do epitélio respiratório com ácido siálico ligado a galactose com ligações -2,3 e -2,6 Como explicar a infecção do vírus H5 da Ave Homem? Células pulmonares do homem com ácido siálico ligado a galactose com ligações -2,3 www.hsph.harvard.edu Maio 2013: Um novo vírus influenza de origem aviária detectado no homem (H7N9) com potencial pandêmico Em março de 2013, três moradores urbanos de Xangai e de Anhui, na China, apresentaram uma infecção grave do TRI causada por uma nova amostra recombinante do vírus influenza de origem aviária (H7N9), subtipo este associada à doença respiratória grave e fatal em aves e humanos. n engl j med 368;20 nejm.1888 org may 16, 2013 Infecções humanas com o vírus influenza A aviário H7N9 na China (FAO) Fev 2003 a 19 Fev 2017: 1258 casos humanos confirmados com 516 óbitos Disseminação do vírus nos mercados de aves vivas da China http://www.fao.org/ag/againfo/programmes/en/empres/H7N9/situation_update.html H7N9: comércio de aves vivas Para os cientistas este comércio deveria ser interrompido na China (criação de abatedouros centralizados) E a história não tem fim... Possíveis hospedeiros do vírus influenza cão 2004 H3N8 H3N8 H5N2 H7N9 2013 ricochetscience.com Tratamento Inibidores de Neuraminidase (Influenza A e B) Oseltamivir (Tamiflu®, oral) e Zanamivir (Relenza®, inalatório) Uso terapêutico e profilático Todos os inibidores de neuraminidase licenciados são mais eficazes quando administrados precocemente na infecção (48 horas do início da doença) www.ff.up.pt Imunização Método mais eficaz para prevenir e controlar a infecção pelo vírus influenza Vacina inativada trivalente: Influenza A (H1N1 e H3N2) + Influenza B Preparadas anualmente Composição da vacina de gripe para 2017 Anunciada pela ANVISA em 31 outubro/2016 Influenza A/Michigan/45/2015 (H1N1), Influenza A/Hong Kong/4801/2014 (H3N2) Influenza B/Brisbane/60/2008. Vacina de gripe licenciada pela ANVISA em 2015: quadrivalente Influenza A/H1N1, Influenza A/H3N2, + duas cepas do vírus Influenza B (vírus Influenza B, subtipo Phuket/3073/2013) MAR/ABR CDC MAI JUN JUL AGO Grupos prioritários para vacinação – – – – – – Indivíduos com 60 anos ou mais Crianças 6 meses a < 5 anos Gestantes e puérperas (até 45 dias após o parto) Profissionais de saúde Povos indígenas População privada de liberdade e funcionários do sistema prisional – Pessoas portadoras de doenças crônicas não transmissíveis – Professores PÚBLICO ALVO: ~50 MILHÕES DE PESSOAS “There is nothing permanent except change” Heraclitus