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Cidade
caderno A
14
jornal da tarde
segunda-feira, 7 de novembro de 2005
Os cupins estão devorando meia Cidade
Estudos recentes
do IPT mostram
que 45 dos 96
distritos de São
Paulo repousam
sobre aldeias de
cupins-subterrâneos. Segundo os
especialistas, a
revoada desse tipo
de inseto já
começou e deve
se intensificar no
verão. E não
adianta recorrer a
produtos
químicos ou
sprays: eles só
pioram o
problema
O trabalho deles é silencioso e o
resultado, altamente devastador.
Quando nos damos conta de sua indesejada presença, é sempre tarde
demais. A revoada dos cupins já começou e deve se intensificar no verão. “Estamos na época da reprodução”, afirma a ecóloga do Instituto
de Pesquisas Tecnológicas (IPT), Ligia Ferrari Torella di Romagnano.
Conhecidos como siriris ou aleluias, eles saem das tocas para buscar a luz e o acasalamento. Se forem bem-sucedidos, formarão novos núcleos. “O problema é que
nessas revoadas nupciais há várias
espécies, inclusive a Coptotermes
gestroi – subterrânea e mais voraz.”
Originário do sudoeste asiático,
o cupim-subterrâneo ou cupim-desolo se alimenta da madeira, do
concreto, do isopor e até do azulejo. No Brasil, ele não encontra predadores. Especialistas ressaltam
que sprays ou produtos químicos
só pioram o problema, pois ajudam a espalhar a praga. Durante a
revoada, deve-se apagar a luz ou fechar as janelas. Diagnósticos recentes elaborados pelo IPT demonstraram que 45 dos 96 distritos da Capital repousam sobre aldeias de
cupins-subterrâneos.
Evelson de Freitas/AE - 11/05/05
Os insetos não poupam
nem o couro dos calçados
Sebastião Moreira/AE - 20/05/04
MARC TAWIL
20 espécies
em São Paulo
“Eu era vereador na Câmara Municipal e, um dia, ao abrir a porta
do meu gabinete, ela saiu na minha mão. A Casa estava infestada
de cupins e demoramos 15 anos
para erradicar o problema”, diz o
secretário de Coordenação das Subprefeituras, Walter Feldman.
A Prefeitura não tem planos de
combate à praga, mas a Secretaria
do Verde e Meio Ambiente deve
pedir, nos próximos dias, um estudo ao Instituto de Biologia para saber como proceder ante os diferentes tipos do inseto.
“Um dos primeiros sinais da
ocorrência de ataque de cupins no
interior da edificação é a presença
Vigas do Edifício Ramos de Azevedo, no Centro, foram atacadas por cupins no ano passado: trabalho silencioso e devastador
de resíduos (provenientes do ataque de cupins-de-madeira-seca ou
do ataque de brocas de madeira)
junto à peça atacada ou a ocorrência de orifícios ou fendas na superfície da madeira. O sinal típico da
ocorrência de cupins-subterrâneos
é a construção de túneis de terra,
em que eles envolvem a peça de
madeira que vai ser atacada”, explica o biólogo Gonzalo Antonio Carballeira Lopez, pesquisador respon-
sável pelo Laboratório de Entomologia, Agrupamento e Preservação
de Madeiras do IPT.
O especialista diz que é possível
evitar o ataque, desde que se acompanhe as várias etapas da construção do imóvel. “Posteriormente, a
melhor prevenção passa a ser a
análise periódica de todos os ambientes do imóvel, principalmente
aqueles junto ao solo e do madeiramento junto à alvenaria.”
Em São Paulo, há 20 espécies de
cupins; apenas três são pragas.
“É um problema bastante sério.
Todo mundo já sofreu a ação dos
cupins ou conhece alguém que teve a casa atacada pelo inseto. Infelizmente, não existe uma política
pública eficaz e quem tem sua casa
ou empresa nessa situação tem de
resolver o problema sozinho”, diz a
ecóloga do IPT Ligia Ferrari Torella
di Romagnano.
Um estudo encomendado pela
Prefeitura ao instituto no início do
ano indicou que 832 árvores (de
um universo de 7.050) das regiões
de Vila Prudente, Vila Mariana, Pirituba, Pinheiros e Campo Limpo estavam condenadas à queda por
causa dos cupins. Outro estudo demonstrou que 76,6% das casas e
17% das árvores do Pacaembu, na
Zona Oeste, foram ou estão sendo
atacadas por cupins-subterrâneos.
Evelson de Freitas/AE - 11/05/05
Evelson de Freitas/AE - 11/05/05
Descupinizar imóvel pode levar 10 dias
De tão pequenos, os cupins são quase invisíveis
Descupinizar uma casa ou um grande apartamento
pode levar até dez dias. “Vai depender muito do
tamanho do imóvel e das suas características
construtivas. Estimamos que uma casa de 150 m² a
200 m² pode ser tratada em um a dois dias”, diz o
físico Antonio Marco França Oliveira, diretor da
Tecnomad, empresa que realiza de 200 a 300
descupinizações por mês em São Paulo.
Para exterminar os nichos do cupim-subterrâneo
ou cupim-de-solo é necessário agir de forma
estratégica, explica Oliveira. “Boa parte do trabalho é
feita preventivamente, uma vez que não adianta focar
o tratamento somente onde os insetos estão atacando.
Fazemos uma barreira no solo para proteger o imóvel
e depois tratamos as regiões de interface entre a
alvenaria e as madeiras (estruturais ou armários
embutidos). Tratamos ainda os conduítes de
eletricidade e a telefonia (por facilitarem a
movimentação dos insetos no imóvel). Por fim,
tratamos a madeira para deixá-los sem opção de
alimento”, explica.
Os cupins-de-solo fazem ninhos que chegam a ter
milhares de insetos e que, muitas vezes, podem estar
longe do local que estão atacando. Isso dificulta o
controle. Os cupins-de-madeira-seca são mais fáceis
de controlar porque as colônias são pequenas e estão
instaladas em uma peça de madeira. Se for feito o
tratamento na peça, o problema está resolvido.
Contratar uma empresa qualquer para fazer o
serviço só piora a situação, afirma Oliveria. “Você
estará colocando em sua casa pessoas que irão usar
produtos químicos tóxicos que, se não forem
manuseados por profissionais, poderão envenenar ou
até matar pessoas de sua família”, adverte Oliveira.
“Controlar cupins não é um trabalho para
desinsetizadora, e sim para empresas especializadas.
O prejuízo será maior para que contratar, pois terá de
fazer o trabalho duas vezes.” O IPT recomenda evitar o
manuseio de produtos químicos sem a devida
orientação ou conhecimento do problema.
Imóveis antigos costumam abrigar mais focos. No
ano passado, os cupins vitimaram o telhado do
Edifício Ramos de Azevedo, dos anos 20, onde
funciona o arquivo Histórico Municipal, no Centro.
Ninhos de cupins construídos nos vãos de tijolo
Quando o morador percebe a
ação dos cupins, quase
sempre é tarde, pois eles já
fizeram muitos estragos no
interior da casa
O QUE FAZER
Previna-se contra os devoradores de casas*
Contra cupins e brocas a prevenção é sempre
melhor do que o tratamento curativo. Ao construir
ou reformar é importante adquirir material de usinas
de preservação de madeira, como vigas para
telhados. Trate móveis, janelas e portas
Ter a casa invadida por uma revoada de siriris não
significa que sua residência foi contaminada. Mas
faça uma limpeza “pente-fino” e aspire todos os
cantos. É o lugar preferido dos cupins
O IPT recomenda que se evite o
manuseio de produtos
preservativos de madeira para
eliminar os cupins
Buraquinhos no batente da
porta ou no móvel pode
ser indício de cupimde- madeira-seca ou
broca. Pó de madeira
ou bolinha são os
sinais mais comuns
Procure uma empresa
especializada para
fazer uma visita e
diagnóstico do móvel
ou imóvel “doente”
Na primavera
e verão as revoadas
dos siriris ou
aleluias indicam o
acasalamento
e reprodução
do cupim
Se há contaminação é preciso
diagnosticar e tratar o problema o
quanto antes
É preciso descobrir se o inseto
é um cupim-de-solo, de madeira
seca ou broca
Os cupins-de-solo podem invadir tomadas,
conduítes e prejudicar a fiação elétrica e
do telefone. Montinhos de terra podem
ser resquício de uma colônia
Limpe os móveis
e lugares sob suspeita.
O observe e se
a sujeira persistir procure
um serviço especializado
Os técnicos devem
checar todo o
imóvel. Exija que a
empresa faça um
laudo e diagnóstico
do caso e indique
tratamento
*Consulta: Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) – www.ipt.br
Associação Paulista de Pragas Urbanas (Aprag) – www.aprag.org.br
Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM) – www.abpm.com.br
ARTEJT/HUGO CARNEVALLI
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