MAPEAMENTO DA ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA EM VINTE E SEIS MUNICÍPIOS DA REGIÃO DE ALFENAS, MINAS GERAIS Lucas Emanuel Servidoni 1 Ericson Hideki Hayakawa2 [email protected], [email protected] 1 Graduando do curso de geografia – UNIFAL-MG 2 Professor do curso de geografia – UNIFAL-MG Palavras chaves: Esquistossomose; geoprocessamento; geografia médica Introdução A Esquistossomose mansônica é uma doença parasitária que tem como meio de veiculação os recursos hídricos e o homem como hospedeiro definitivo. Sua incidência é majoritariamente em áreas rurais e também em áreas de baixo desenvolvimento urbano que se encontra em áreas ambientais e sócio-culturais degradadas (SILVA, 2000). Esta enfermidade atinge vários países das Américas, regiões do mediterrâneo ocidental e países do continente africano. O parasita também está relacionado com a pobreza e o baixo desenvolvimento econômico. Nesses ambientes é comum que a população tenha contato direto com as águas naturais, as quais podem estar contaminadas (KATZ, PEIXOTO; 2000). Acreditava-se que a região do sul de Minas Gerais estava livre da endemia desde 1980. Contudo, um levantamento ocorrido na cidade de Itajubá na década de 1980 revelou diversos pontos de proliferação e casos da enfermidade em crianças. Considerando a importância do núcleo urbano de Alfenas, sua proximidade com a cidade de Itajubá e a ausência de estudos que analisem a distribuição espacial da esquisotossomose na região de Alfenas, faz-se necessário estudos que estejam atentos a estas demandas. Ademais, a utilização de mão de obra oriunda de áreas endêmicas de esquistossomosse na colheita de cana e café favorece a presença da doença. Neste contexto, o objetivo deste estudo é o de quantificar o número de casos de esquistossomose na região abordada pelo banco de dados DATASUS da secretaria regional de saúde pública no município de Alfenas – MG e representar em mapa temático a distribuição de esquistossomose na área de estudo. Nesta tarefa, atualmente com o desenvolvimento das técnicas de geoprocessamento, é possível representar qualquer fenômeno que esteja localizado em um espaço geográfico delimitado, favorecendo inúmeras formas de análise espacial. Neste sentido, a aplicação de um conjunto de “técnicas de coleta, tratamento e exibição de informações referenciadas” podem auxiliar significativamente em estudos sobre doenças como a esquistossomose, bem como qualquer outra endemia ou fenômeno distribuído espacialmente (HINO; SASSAKI, 2006). O desenvolvimento desta pesquisa não só forneceria indicadores, bem como auxiliaria no planejamento de ações para melhorar a qualidade de vida da população. Fundamentação Teórica Esquistossomose mansônica A transmissão da esquistossomose obedece ao ciclo que apresenta: a) ovo com miracídio alcançando a água; b) miracídio nadando para um caramujo – Biomphalaria; c) penetração do miracídio nas partes moles do caramujo; d) esporocisto; e) esporocisto; f) esporocisto com cercárias dentro; g) cercárias saindo do caramujo e; h) cercárias nadando para hospedeiro definitivo (homem), conforme observado na figura abaixo. Ademais, a transmissão da esquistossomose depende da relação entre o ecossistema, que proporciona o desenvolvimento biológico do parasita e as condições sociais das pessoas. Figura 1: Ciclo do S.mansoni. (Silva,2000) Geoprocessamento Segundo Muller (2011), o termo geoprocessamento pode ser entendido como a utilização de conhecimentos geográficos aliados a outras áreas de conhecimento visando a coleta, armazenamento e criação de banco de dados e mapas para correlacionar as informações relevantes entre os dados espaciais e potencializar a análise. As ferramentas computacionais para o geoprocessamento são chamadas de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), e permitem realizar análises complexas, ao integrar dados de diversas fontes e ao criar banco de dados geo-referenciados (CAMARA, 2001; MULLER, 2011). A utilização dos SIG´s na área de saúde é de grande utilidade para a espacialização de enfermidades. Os SIG´s também servem para auxiliar o planejamento público no controle e na elaboração de planos para prevenção de diversas doenças (MULLER, 2011). Materiais e métodos A elaboração deste trabalho consistiu na obtenção de dados referentes aos casos da esquistossomose na região de Alfenas MG e utilização de técnicas de geoprocessamento para mapeá-la. Os dados foram obtidos no banco de dados da Superintendência Regional de Saúde localizada no município de Alfenas. O programa ArcGis disponível no laboratório de Geotecnologias da Universidade Federal de Alfenas foi utilizado para o tratamento das informações referenciadas. A base cadastral dos municípios está disponível no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no formato shapefile (.shp). Com a base cadastral dos municípios de Minas Gerais foi elaborado uma nova base com os municípios atendidos pelo Sistema de Informações de Agravos de Notificação. Em seguida foi inserido no ArcGis os dados de esquistossomose para confecção do mapa referente a quantidade de casos durante o período de 2007 e 2010. Resultados finais A localização dos casos de esquistossomose é verificada em oito cidades abrangidas pelo banco de dados da Secretária Regional de Saúde Pública: Alfenas, Areado, Botelhos, Cabo Verde, Campestre, Campo do Meio, Guaranésia e Monte Belo (Figura 2). Três cidades possuem contato direto com as águas do lago: Alfenas, Areado e Campo do Meio. Curiosamente essas cidades foram classificadas como áreas de baixo a médio grau de presença do parasita. De forma geral, a doença não é preocupante na região do sul mineiro como é em outras regiões do Estado, como a norte e na região do Vale do Rio Doce. Mas existem cidades que passaram em um passado próximo por situações alarmantes com alguns surtos dessa doença. É o caso do município de Guaranésia e de Cabo Verde que tiveram respectivamente 19 e 20 casos da doença confirmada entre 2007 a 2010. Deve-se considerar também alguns equívocos no banco de dados da Secretária Regional de Saúde, como dados defasados ou que não foram registradas no sistema. Das 68 pessoas contaminadas apenas oito foram constatadas como curadas ou não curadas. Ou seja, aproximadamente 88% dos indivíduos contaminados não possuem essa notificação no sistema. Isso de fato é prejudicial, pois essas pessoas podem estar contaminadas e disseminando ovos de esquistossomos em suas fezes, o que pode ocasionar um surto desta doença. Além disso, não há informações sobre o tratamento desses pacientes. Figura 2: Casos de Esquistossomose na região de Alfenas-MG. De 2007 a 2010. A distribuição espacial da esquistossomose na área de estudo revela que os munícipios de Guaranésia, Monte Belo e Cabo Verde possuem maior índice de esquistossomose. Os munícipios de Campo do Meio, Areado, Alfenas, Botelhos e Campestre apresentam média presença de esquistossomose. Os demais munícipios apresentaram baixa presença da doença. A doença é mais comum em homens entre 20 a 29 anos. Tal fato poderia estar condicionado ao modo de vida desses homens que buscariam atividades de lazer nas regiões do lago que poderiam estar contaminadas. Outra explicação seria a indisponibilidade de água tratada, o que obrigaria a obtenção da água diretamente no lago de Furnas. Infelizmente a Secretaria Regional de Saúde não disponibiliza o endereço das pessoas contaminadas. Sendo impossível constatar se elas possuem ou não água tratada em suas residências. Conclusão A aplicação da geotenoclogias para o mapeamento da esquistossomose aliada a obtenção de demais dados auxiliaram na entendimento do comportamento dessa doença. Contudo, para que o trabalho realmente auxilie os órgãos públicos responsáveis, é fundamental que a base de dados da doença esteja pertinente. A ausência de dados dificulta a averiguação da real condição da doença. Bibliografia KATZ, Naftale; PEIXOTO, Sérgio, V. Análise crítica da estimativa do número de portadores de esquistossomose mansoni no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical; vol.33(3), 2000. KATZ, Naftale; Carvalho, Omar, S. Introdução Recente Da Esquistossomose Mansoni No Sul De Minas Gerais, Brasil. Mem. Inst. Oswald Cruz, Rio de Janeiro, vol.78 (3), p. 281-284 Julho/Setembro; 1983. HINO, Paula; VILLA, Tereza; SASSAKI, Midori; NOGUEIRA, Jordana; SANTOS, Claudia. GEOPROCESSAMENTO APLICADO À ÁREA DA SAÚDE. Revista Latino Americana de Enfermagem. 2006, vol.14, p.6, Nov.out SILVA, A.; SANTANA, L.B.; JESUS, A.R.; BURATTINI, M.N.; CARVALHO, E. Aspectos clínicos de surto de esquistossomose aguda no Estado de Sergipe, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina tropical, 2000, v. 33, n. 1, p.376. CARDIM, Luciana Lobato. Caracterização das áreas de risco para a esquistossomose xx mansônica no município de Lauro de Freitas, Bahia / xxxxLuciana Lobato Cardim – Salvador: UFBA, Escola de xxxxMedicina Veterinária, 2010a, p.35. CÂMARA, G.; DAVIS, C.; MONTEIRO, A. M. V. Introdução à ciências da geoinformação. São José dos Campos: INPE-OBT, 2001. (Relatório Técnico - INPE10506-RPQ/249. MULLER, Erika Priscilla Lisboa. Sistemas de Informção Geográfica em Políticas Públicas. Disponível em http://www.sbis.org.br/cbis/arquivos/1002.pdf; Retirado no dia 16 de Novembro de 2011.