o uso de verbos modais de abstracts em

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O USO DE VERBOS MODAIS DE ABSTRACTS EM
DA ÁREA DE LINGUÍSTICA
SARMENTO, S.
SCORTEGAGNA, B.
INTRODUÇÃO
O estudo do uso dos verbos modais em textos acadêmicos mostra-se relevante,
pois expressa a crença dos falantes e seus diferentes graus de convicção a respeito do
estado das coisas, permitindo também que os falantes expressem seus julgamentos sobre
as possibilidades (SARMENTO, 2008). O uso de tais estruturas tem demonstrado
características peculiares em relação a textos acadêmicos como um todo.
Neste estudo são investigados os verbos modais em abstracts em língua inglesa
da área de linguística de forma a descrever textos com diferentes níveis de proficiência
na língua. O trabalho propõe a continuidade de pesquisa previamente apresentada por
Sarmento et al. (2011) que compilou um corpus de gêneros acadêmicos da área de
Linguística e Literatura, nas línguas inglesa e portuguesa, de forma a possibilitar a
análise linguística e propôs projetos e tarefas pedagógicas para serem utilizadas com os
alunos do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Após a conclusão desse estágio da pesquisa, será elaborada mais uma Unidade
Didática que integrará o que já foi previamente feito. O objetivo geral deste projeto é
gerar subsídios para que haja material (para uso imediato ou para servir como base)
relacionado ao gênero abstracts e que o ensino desse seja mais direcionado e profundo.
METODOLOGIA
Para a realização desta pesquisa foram utilizados dois corpora: os abstracts em
inglês da área de linguística do Corpus LILE (este corpus também possui abstracts da
área da literatura e em língua portuguesa), que é composto por 1254 textos distribuídos
em diferentes níveis proficiência (para mais detalhes ver Sarmento et al., 2011) e a parte
acadêmica do COCA, corpus já amplamente difundido no meio acadêmico. A porção do
Corpus LILE analisada é composta por 351 textos (abstracts) e 65.468 tokens. Os
abstracts são provenientes de escritores com diferentes níveis de proficiência acadêmica
assim distribuídos:
 44 textos de trabalhos de conclusão de curso de graduação (da base de dados
LUME-UFRGS);
 71 de teses e dissertações (LUME-UFRGS);
 120 de periódicos nacionais de linguística; e
 116 de periódicos internacionais de linguística, ambos QUALIS A.
A realização da análise é feita, primeiramente através de um contraste entre o
grupo geral dos VMs no Corpus LILE e a seção acadêmica do COCA com o intuito de
verificar se a presença dos VMs caracteriza o gênero Abstract. Para tal, os valores
totais são normalizados e o teste estatístico Log Likelihood (LL) é aplicado para
verificarmos a significância das diferenças. Será utilizado o ponto de corte de 6,6, como
proposto por Rayson (2002). Em um segundo momento investiga-se a distribuição dos
VMs entre os nove padrões sintáticos propostos por Kennedy (2002) nos quatro
subcorpora do Corpus LILE (TCCs, Teses e Dissertações, etc):
•
•
•
•
•
•
•
•
•
1) Modal Sozinho
2) Modal + infinitivo (modal + voz ativa)
3) Modal + be + passado particípio (modal + voz passiva)
4) Modal + be+ presente particípio (modal + progressivo)
5) Modal + have + passado particípio (ou adjetivo) (modal + perfeito)
6) Modal + be + being + passado particípio (ou adjetivo) (modal + be + progressivo +
passado particípio/adjetivo)
7) Modal + have + been + passado particípio (modal + voz passiva + perfeito)
8) Modal + have + been + presente particípio (modal + voz passiva + progressivo)
9) Modal + have+ been + being + passado particípio (ou adjetivo) (modal + voz
passiva + perfeito + progressivo)
(KENNEDY, 2002, p. 82)
OS VERBOS MODAIS NOS CORPORA E RESULTADOS PRELIMINARES
A tabela a seguir mostra a distribuição dos verbos modais nos dois corpora
analisados. O valor normalizado refere-se à ocorrência de cada modal por cada mil
tokens.
CAN
COULD
MAY
MIGHT
MUST
SHALL
SHOULD
WILL
WOULD
TOT.
LILE
127
27
65
19
13
0
33
58
28
370
Norm.
1,934560078
0,411284426
0,990129174
0,289422374
0,198025835
0
0,502680965
0,883499878
0,426517183
COCA (acadêmico)
194250
83632
132824
45095
57253
5382
77011
138413
146054
879914
TOKENS
65648
85791918
NORMALIZADO
5,71
10,25
Norm.
2,264199292
0,974823759
1,548211103
0,525632263
0,667347244
0,062733182
0,897648657
1,6133571
1,702421433
LL COCA x LILE
-3,32
-27,38
-12,6
-8,34
-30,01
-8,23
-12,47
-24,77
-89,97
-157,62
LL - LOG LIKELIHOOD
Como é possível perceber, a relação (log likelihood) entre o COCA e o LILE
mostra-se estatisticamente significativa. Com exceção do verbo modal CAN, todos os
outros estão acima do ponto de corte estabelecido de 6,6. A frequência dos modais
normalizada é de 5,71 no LILE e 10,25 no COCA com um LL -157,62. Observando os
verbos separadamente, todos são significativamente menos frequentes no LILE em
comparação ao COCA, sendo would o verbo que apresenta maior diferença: 0,42 no
LILE e 1,7 no COCA e um LL de -89,97.
Dessa forma, verifica-se que os verbos modais não são frequentes nos abstracts
da área de linguística quando comparado aos outros gêneros acadêmicos presentes no
COCA, indicando uma especificidade quantitativa com relação à incidência dos verbos
modais no LILE.
A DISTRIBUIÇÃO DOS VERBOS MODAIS NO LILE
Esta tabela mostra a distribuição dos verbos modais no corpus LILE. Na
primeira coluna há uma numeração – de um até nove – que corresponde aos padrões
sintáticos propostos por Kennedy (2002):
Nota-se uma predominância do uso do modal Can, correspondendo a 34% (127
ocorrências) do total de ocorrências modais, seguido de May com 17% (65 ocorrências)
e Will com 15% (58 ocorrências). O modal Shall não apresenta nenhuma ocorrência e
Must apenas 3,5% (13 ocorrências). Dessa forma, deduz-se que há uma predominância
do uso epistêmico em contraposição ao deôntico, como pode ser verificado no exemplo
abaixo retirado do subcorpus de Revistas Internacionais:
“These analytic demonstrations are used to argue that researchers in the field of applied
linguistics might use this approach to examine interview interaction in order to develop[…]”
Conforme a primeira e última coluna da tabela anterior observa-se que a distribuição
dos modais nos nove padrões sintáticos concentra-se nos padrões 2 e 3: “Modal +
infinitivo” e “modal + be + passado particípio”, respectivamente (exemplos a seguir do
subcorpora de Revistas Internacionais):
“We briefly review what conversation and discourse analysis can explain about these
exchanges[…]”.
“[…]and the article makes recommendations for ways in which attention can be drawn
to the discoursal dimension in interviewing practice”.
A DISTRIBUIÇÃO DOS VERBOS MODAIS NOS SUBCORPORA DO LILE
A tabela a seguir mostra a distribuição dos verbos modais nos subcorpora
analisados. O valor normalizado refere-se à ocorrência de cada modal por cada mil
tokens.
CAN
COULD
MAY
MIGHT
MUST
SHALL
SHOULD
WILL
WOULD
TOT.
TCC¹
18
12
10
3
4
0
3
10
4
64
NORM
1,98
1,32
1,1
0,33
0,44
0
0,33
1,1
0,44
7,05
T&D²
45
8
18
3
2
0
6
17
11
110
NORM
2,13
0,37
0,85
0,14
0,09
0
0,28
0,8
0,52
5,22
RN³
32
5
15
2
4
0
11
16
7
92
NORM
1,99
0,31
0,93
0,12
0,24
0
0,68
0,99
0,43
5,8
RI4
32
2
22
11
3
0
13
15
6
104
NORM
1,64
0,1
1,12
0,56
0,15
0
0,66
0,76
0,3
6,3
1) Trabalhos de Conclusão de Curso
2) Teses e Dissertações
3) Revistas Nacionais
4) Revistas Internacionais
Como podemos perceber, parece haver um uso mais frequente de modais por
alunos de graduação do que por outros escritores mais experientes, com um valor
normalizado de 7,05. Entretanto, observa-se que a preferência pelo modal Can em todos
os quatro subcorpora. Os modais Could e Might apresentam uma diferença significativa
na comparação entre o subcorpus de TCC e o de Revistas Internacionais.
CONCLUSÃO
O uso dos verbos modais, de uma forma quantitativa, mostra-se bastante
diferente ao compararmos um corpus composto somente de abstracts (LILE) com um
corpus composto de diversos gêneros acadêmicos (COCA). Da mesma forma, os quatro
subcorpora apresentam algumas diferenças entre si. Essas diferenças apontam para uma
necessidade de desenvolvermos materiais didáticos de forma a habilitarmos estudantes
de Letras a escreverem de uma forma mais semelhante aos padrões internacionais.
REFERÊNCIAS
KENNEDY, G. D. (2002). Variation in the distribution of modal verbs in the British
National Corpus In: REPPEN, R.; FITZMAURICE, S. M., BIBER, D.; Using Corpora
to Explore Linguistic Variation. Amsterdan: John Benjamins: 73-91.
RAYSON, P. (2002). Matrix: A statistical method and software tool for linguistic
analysis through corpus comparison. Tese de doutorado. Universidade de Lancaster.
SARMENTO, S. (2008). O uso dos verbos modais em manuais de aviação em inglês:
um estudo baseado em corpus. Tese (Doutorado em Letras) – Instituto de Letras,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre.
SARMENTO, S.; SCORTEGAGNA, B. E GOULART, L. (2011). Corpus de Gêneros
Acadêmicos de Linguística d Literatura: Compilação, Análise e Aplicações Didáticas.
ELC 2011 – X Encontro de Linguística de Corpus, UFMG, Belo Horizonte..
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