As novas configurações da Gestão Pública: comunicação, conhecimento e pessoas Michelle Karen de Brunis Ferreira1 Introdução Com a emergência das transformações que vem ocorrendo com a sociedade nessa “era digital”, é fato colocar que essas transformações atingiram também as Organizações da Administração Pública, sendo que atualmente o que se presa não são mais as máquinas e sim o potencial humano que as desenvolve e que criam e inovam suas atividades cotidianas. Falar nos dias de hoje em Gestão Pública, é compreender que o processo de transformação da sociedade é inevitável e que para gerenciar instituições públicas, é preciso investir em novas tecnologias sim, mas é imprescindível investir também no capital humano, ou seja, propiciar formas para que o conhecimento individual seja agregado com o conhecimento coletivo para que desta forma se crie valores que não são tangíveis e também não se encontram à venda. Um trabalhador do conhecimento é aquele que sabe selecionar, absorver informação e conhecimento onde quer que ele se encontre e com capacidade para aplicar este conhecimento em ações concretas. (HBR, 2000, apud SANTOS, 2004, p. 3). O déficit institucional reflete principalmente na amplitude do atendimento às demandas sociais, bem como, na qualidade da prestação de serviços públicos. O Novo Modelo, denominado “GRP – Government Resource Planning” ou Sistema Integrado de Gestão Pública tem como foco o gestor público, o elemento chave para a mudança. O GRP fornece ao gestor público um Painel de Controle, fortemente baseado em fatos e dados, permitindo tomar decisões com respostas rápidas e eficazes, mesmo com recursos humanos e financeiros escassos. (WOLYNEC, 2005, p.2) Esse novo conceito tem como objetivo: a) revisão e automação de processos; b) estratégias de redimensionamento, realocação, capacitação e valorização do serviço público; c) redução de custos; d) otimização da arrecadação; e) melhoria da qualidade dos serviços prestados. Diante da colocação da autora, podemos afirmar que na atual gestão quem exerce um papel fundamental são os gestores. Devem priorizar pontos estratégicos da Administração Pública, sendo eles: Planejamento Estratégico; Padronização de 1 Com Especialização em Gestão de Organizações Públicas pelo Depto. de Engenharia de Produção da Faculdade de Engenharia, Unesp-Bauru/SP; é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, FAAC/UnespBauru/SP. Processos; Gestão do Capital Intelectual; Ambiente de Inovação; Aprendizagem Contínua com foco central a Comunicação Produtiva. O cenário mundial atual traz consigo uma série de mudanças que afetam tanto a realidade empresarial como os processo de comunicação das organizações. Considera-se que a sociedade é a principal responsável pela sua própria organização e pela provisão de suas necessidades. Assim, há um crescente deslocamento de tarefas públicas para a esfera privada, o que vem exigindo das empresas públicas um maior diálogo e comunicação com a sociedade. A sociedade da informação, a qual atualmente vivenciamos, se caracteriza pela necessidade de respostas rápidas e por uma cultura acentuadamente voltada aos relacionamentos internos e externos, transformações que se localizam principalmente nas formas e no tempo de distribuição da informação, resultado de inovações tecnológicas e da importância ofertada ao desenvolvimento social. O ambiente das comunicações também mudou, com a inclusão das novas tecnologias que, de um lado, oferece mais recursos e, de outro lado, acelera os processos e altera uma cultura bastante tradicional de relacionamentos entre as comunidades interna e externa das organizações. Assim, temos notícias via satélite e por redes de computadores, Internet e Intranet, a explosão da informação em nosso cotidiano, crescente autonomia comunicacional do cidadão, a diminuição da prestação de serviços públicos presenciais, o crescente envolvimento da mídia com o mercado, enfim tudo parece indicar que existe uma grande transformação da cultura de comunicação na sociedade contemporânea (MATOS, 2000). Historicamente, pode-se dizer que a Administração no Brasil passou por fases conceituais distintas: • Administração Pública Patrimonialista (anterior à Revolução de 30). • Administração Pública Burocrática (criação do Departamento de Administração do Serviço Público –DASP , em 1938). • Administração Pública Gerencial (com enfoque no cidadão, nos resultados e na descentralização dos serviços). Nos ano 90, a Administração Pública tem um ótimo período com a investida do governo em inovações tecnológicas que facilitam o acesso às redes informatizadas na esfera pública, permitindo o processo de interação do cidadão com os vários órgãos prestadores de serviços públicos, criando novas oportunidades para a área de comunicação. Essa participação no setor público envolve os sistemas de Co-gestão, Autogestão, Planejamento Participativo, Orçamento Participativo, Comunidades virtuais e os Instrumentos de Consulta Constitucional. Com o propósito de atender melhor às demandas e interesses da cidadania, bem como trazer o cidadão às esferas públicas, os governos são desafiados à qualificação permanente em torno de técnicas de negociação, habilidades de harmonia de interesses, diversidades e da administração de conflitos. Em meio a esse cenário, a gestão da comunicação na esfera pública pode ser explicada pela administração de conflitos, da diversidade e da cooperação entre os públicos e a necessidade de uma gestão de relações entre a esfera pública e a esfera privada. A configuração dessa nova realidade conduz ao debate para o espaço da comunicação, onde a definição de novas redes sociais, de acordo com Fossatti (2004), passa a impor medidas que assegurem ao cidadão a facilidade de acesso e disponibilidade de informações. Para Mattelart (2000, p.170) existe uma perspectiva de ampliação do espaço da comunicação, ao afirmar que: Essas novas redes sociais passam a fazer parte do debate sobre a possibilidade de um espaço público em escala planetária. Em todas as latitudes, a problemática da transformação do espaço público, nacional e internacional, tende, aliás, a ocupar lugar de destaque nas abordagens críticas inspiradas pela sociologia, pela ciência política e pela economia política (MATTELART, 2000, p.170). Torquato (2002, p.34) aponta para quatro formas de comunicação nas organizações, sintetizadas a seguir: • Cultural – quando as pessoas falam umas com as outras. • Administrativa – que reúne cartas internas, memorandos. • Sistema de informações – agrega informações armazenadas em bancos de dados. • Social – caracteriza-se por um processo indireto, unilateral e público, envolvendo as áreas de jornalismo, relações públicas, publicidade, editoração e marketing. Adotando-se a perspectiva de Torquato (2000) para a comunicação social, a gestão da comunicação corresponde a um elenco de atividades básicas que envolvem “analisar tendências, assessorar o poder de decisão, realizar diagnósticos, prognósticos, planejar e implementar programas de comunicação que tenham como diretriz o sistema organizações-público” (SIMÕES, 2001, p.36). A gestão da comunicação nas organizações requer a prática de um diagnóstico, análise crítica da organização e a avaliação de seus públicos, a fim de se obter as principais dimensões que concorrem para o processo da comunicação. A base dessa comunicação está no sistema de relações, que de acordo com Simões (1992,p.53) compreende: uma escala crescente que se inicia com as relações humanas – formado pela transação de pessoas; continua com o nível de relações grupais – sistema social estruturado nas relações entre grupos; prossegue com o nível das relações públicas – sistema social constituído pelas transações entre organizações e seus públicos; e, alcança o nível das relações partidárias. Segundo Mintzberg;Quinn (2001, p. 41), os gerentes das organizações precisam usar uma parcela considerável de seu tempo, compartilhando suas informações, tanto com terceiros (em espécie de porta-voz) quanto com o pessoal interno (em uma espécie de disseminador). Assim, para esses autores, o ato de gerenciar é fundamentalmente uma questão de processar informações nas organizações, notadamente falando e ouvindo. As organizações, portanto, devem recorrer a meios de informação para a viabilização da melhor decisão. A informação, nas organizações, é transmitida na forma de um sistema aberto, compreendendo um conjunto de elementos dinamicamente relacionados, formando uma rede de comunicação e reações, desenvolvendo um processo/atividade para o alcance de um ou mais objetivos. Isso requer a existência de feedback contínuo. Além disso, como ressalta Kunsch (2003, p.72), nem sempre é possível assegurar que as informações veiculadas atendam o desejo dos públicos das organizações, porque: Como fontes emissoras de informações para seus mais diversos públicos, não devem ter a ilusão de que todos os seus atos comunicativos causam os efeitos positivos desejados ou são automaticamente respondidos e aceitos da forma como foram intencionados. É preciso levar em conta os aspectos relacionais, os contextos, os condicionamentos internos e externos, bem como a perplexidade que permeia todo o processo comunicativo. Assim, a informação não só contribui com a gestão, assegurando maior eficiência e eficácia ao processo decisório, como também passou a ampliar os meios tradicionais de comunicação nas organizações (telefone, fax, jornal, revista, TV, rádio), implementando as funções de armazenamento (disco ótico, sites, database, arquivos magnéticos) e sistemas de processamento (computadores, processadores), rompendo com os possíveis limites e fronteiras pela via das redes Inrternet, Extranet/Intranet. Ainda, quando se trata de enfatizar o papel da comunicação, é importante resgatar as diferenças entre a comunicação governamental, comunicação política e comunicação pública. Desse modo, sintetizando as idéias de Brandão (apud MATOS, 1999, p.11) pode-se dizer que a comunicação governamental é a praticada por um determinado governo, visando à prestação de contas, o estímulo para o engajamento da população nas políticas adotadas e o reconhecimento das ações promovidas nos campos político, econômico e social. A comunicação política ou marketing político, expressão mais usual nos últimos anos, carece da indispensável legitimidade para ser considerada como sendo pública, respeitando-se o sentido estrito deste conceito, buscando atingir a opinião pública, quase sempre com métodos publicitários. Quanto à comunicação pública, ao contrário, se faz no espaço público, sobre tema de interesse público, sendo uma informação de caráter cívico e que inclui a accountability. Para Coelho (2000, p. 171) uma pessoa ou instituição é considerada accountable quando é responsável por decisões e pelas conseqüências de suas ações, resguardando a sua reputação, contando com alto nível de credibilidade junto à sociedade e aos mais diversos públicos. Vamos considerar o conceito de Matos (1999, p. 3) que afirma “ser a comunicação pública aquela que “remete ao processo de comunicação instaurado em uma esfera pública que engloba Estado, governo e sociedade, um espaço de debate, negociação e tomada de decisões relativas à vida pública do país”. Portanto, é esta visão de mundo que deve nortear a proposta de construção da cidadania, tanto que precisa ser difundido e aplicado por profissionais de comunicação, com a finalidade de que estes se engajem nesse novo contexto, integrado às novas formas de condutas de gestão e políticas públicas. Por outro lado, deve-se também considerar que a gestão da comunicação na esfera pública, em geral, responde normalmente por processos críticos que lidam diretamente com o conflito. Entretanto, as áreas de comunicação e de administração tratam o conflito mediante visões diferentes. A área de administração gerencia o conflito por meio das funções de direção/liderança e a área de comunicação administra o conflito mediante a gestão das atividades de jornalismo, publicidade/propaganda e relações públicas. O gestor, atuando na função de comunicação, deve responder por um conjunto de comportamentos adequados, agrupados em três categorias: interpessoal, informacional e de decisão (MINTZBERG, 1973). Na categoria interpessoal, a gestão do processo de comunicação no âmbito público, situa o gestor em uma posição única para obter informações organizacionais: representação (cerimoniais, receber e fazer visitas, atender solicitações e estar presente nos eventos); líder (motivar, dirigir pessoas, responsável pelo desenvolvimento de competências etc.); relação (manter ligações interna e externa à organização). Quanto à categoria informacional, refere-se às condições de monitor (procurar e receber grande variedade de informações especiais e atuais e elabora relatórios); disseminador (transmite a informação recebida de assessores para demais membros da organização) e porta-voz (transmite ao meio externo informações, políticas, planos e ações da organização). Na categoria decisão, existem situações próprias empreendedor (iniciar mudanças e projetos de melhoria); de administração: gestor de problemas (responsável por atitudes corretivas frente aos problemas inesperados); gestor de recursos (responsável por administrar e alocar recursos organizacionais, programas,etc.); negociador (responsabilidade de representar a organização nas principais negociações) (MINTZBERG, 1973). Todas essas categorias e suas dimensões são exercidas de forma integrada no contexto das organizações na esfera pública, como uma atividade de comunicação, envolvendo todo o processo administrativo. Os gestores devem ter em mente que a natureza da informação é agregar valor a uma tomada de decisão, enquanto que a comunicação é estabelecer processos de interação e relacionamento entre os públicos. Todo processo de comunicação deve ser analisado sob a ótica de três elementos: os públicos, os profissionais da comunicação e as mediações. Assim, é integrado pelas atividades de jornalismo (representado através das assessorias de imprensa, é um elo entre o poder público e os meios de comunicação); relações públicas (formar públicos, levantar as controvérsias, fornecendo todas as informações e facilitando a discussão à procura de opinião ou decisão) e publicidade/propaganda (conjunto de técnicas e atividades de informação e persuasão cujo objetivo é atrair a atenção do público para a marca, a mensagem publicitária para influenciar opiniões e comportamentos) Especificamente, a publicidade é considerada como um dos princípios que devem ser obedecidos pela administração pública. É importante ressaltar que os meios de comunicação não devem ser confundidos com a comunicação em si, isto porque, enquanto a comunicação representa um processo social primário, com relação ao qual os chamados meios de comunicação de massa, constituem apenas uma mediação tecnológica. Assim, de acordo com Rudiger (1998) a comunicação deve ser considerada como um processo de interação humana. Os instrumentos de gestão utilizados são relacionados como cerimonial-protocolo, segmentação de públicos, pesquisa (satisfação, clima, opinião), planejamento estratégico, marketing social, marketing político, briefing, programas de qualidade, auditorias, relatórios, prognósticos, diagnósticos, clipping, sugestão de pauta, SAC’s. Entretanto, a idéia do “direito à comunicação” não recebeu ainda sua forma definitiva, nem o seu conteúdo pleno. Os elementos que integram esse direito fundamental do homem são os seguintes, sem que sejam de modo algum limitativos: a) o direito de reunião, de discussão, de participação e outros direitos de associação; b) o direito de fazer perguntas, de ser informado, de informar e outros direitos de informação; c) o direito à cultura, o direito de escolher, o direito à proteção da vida privada e outros direitos relativos ao desenvolvimento do indivíduo. Acredita-se que esse enfoque oferece a perspectiva de um progresso da democratização da comunicação em todos os planos, internacional, nacional, local e individual. Implica um acesso maior do público aos meios de comunicação existentes, mas o acesso é apenas um dos aspectos da democratização. Nesse sentido, podem ser mencionadas as ações governamentais para a implementação do governo eletrônico. Governos do mundo inteiro têm se empenhado na questão de como usar as novas tecnologias da informação em prol da sociedade. As medidas tomadas incluem regulamentação do setor, políticas de segurança, investimento em infra-estrutura, disponibilização de informações e serviços na Internet e políticas de democratização do acesso. Em face desse novo espectro da comunicação e, considerando também que existe uma emergência da gestão do conhecimento na área pública, acredita-se ser importante apresentar alguma reflexão sobre essa questão, uma vez que todos os processos que envolvem a construção de conhecimento nas organizações devem perpassar pelo processo comunicacional e dele depende os resultados alcançados. 2 Gestão do Conhecimento – um marco diferencial. 2.1 Aproximações ao conceito de conhecimento Gestão do conhecimento, capital intelectual, inteligência competitiva e vários outros termos têm surgido para tentar caracterizar uma nova área de interesse na administração das organizações, sejam elas públicas ou privadas, ressaltando que o setor privado está bem à frente neste novo modelo do que o setor público. De forma complementar, Senge (1999, p. 487) afirma que “informações são dados com relevância à situação do receptor”, demonstrando “o importante papel do ser humano ao converter dados em informações.”.O conhecimento, ao contrário da informação, diz respeito a crenças e compromissos. Conforme Lévy (1993, p. 75), são três as etapas do processo de difusão do conhecimento: a oralidade (primária e secundária); escrita; informática. Entretanto, ao vislumbrarmos que a informática é apenas uma das possíveis categorias de expressão das formas escrita e oral, podemos argumentar que, na história da humanidade, os processos de gestão e difusão do conhecimento devem ser subdivididos, não apenas em três, mas em quatro grandes dimensões: da oralidade; da escrita; da impressão; da informática. A sociedade “pós-industrial” se caracteriza pelo predomínio dos trabalhadores do setor terciário, isto é, o setor de serviços. As mudanças mais perceptíveis na estrutura social são: a passagem da produção de bens para a economia de serviços, o avanço das classes de trabalhadores técnicos, a centralidade da inovação, a gestão do desenvolvimento tecnológico e uma nova organização do saber,onde a comunicação é fator essencial. O conhecimento é a matéria prima da carreira profissional dos indivíduos. Gerilo bem passa então a ser essencial no estágio atual da história da sociedade, tanto para as organizações quanto para as pessoas, o que requer a atenção primária à comunicação. Segundo Nonaka & Takeuchi (1997), o conhecimento se amplia através do conhecimento tácito versus o conhecimento explícito. Muito do que é feito em Gestão do Conhecimento tem por base essas sucessivas passagens de conhecimento tácito para explícito e vice-versa, na chamada “espiral do conhecimento”, dependendo da comunicação produtiva. O interesse das organizações no conhecimento deve-se, entre outros aspectos, ao fato do conhecimento estar muito associado à ação. A Gestão do Conhecimento é, em seu significado atual, um esforço para fazer com que o conhecimento de uma organização esteja disponível para aqueles que dele necessitarem dentro dela, quando isso se faça necessário, onde isso se faça necessário e na forma como se faça necessário, com o objetivo de aumentar o desempenho humano e organizacional. (TERRA, 2001, p.245) A Gestão do Conhecimento deve incluir duas estratégias relevantes, que podem ser chamadas de coleção e conexão. As iniciativas de Gestão do Conhecimento visam melhorar o desempenho de uma organização e das pessoas que nela trabalham, por meio de identificação, captura, validação e transferência de conhecimento. Não existe consenso sobre a definição de Gestão do Conhecimento, mesmo entre os profissionais da área. Muitos profissionais vêem cada vez mais “compartilhamento de conhecimento” como uma descrição melhor daquilo que eles se propõem a fazer do que “Gestão do Conhecimento”. No entanto, o processo do conhecimento pode ser gerenciado e é composto por três etapas: a) geração; b) codificação; c) transformação do conhecimento; sendo que na etapa da geração destaca-se a formação de redes de conhecimento, onde a questão da comunicação é uma condição sine qua non. 2.1 As tecnologias da informação e da comunicação diante da gestão do conhecimento Diante de tantas mudanças, não se pode excluir a revolução “infotecnológica” e com ela o surgimento das Tecnologias da Informação e do Conhecimento – TIC -, onde essas compõem o processo da globalização, exercendo profundas transformações na Gestão, tanto do Setor Público quanto do Setor Privado. Segundo Teixeira (2000), na maioria das organizações, a responsabilidade pela Gestão do Conhecimento não está centralizada na alta direção, mas sim disseminada entre a média e, muitas vezes, é vista como parte do trabalho de cada colaborador.É preciso sair do patamar do processamento de transações, da integração da logística, do workflow2 e do comércio eletrônico e agregar um perfil de construção de formas de comunicação, de conversação e aprendizado on the job, de comunidades de trabalho, e de estruturas e acesso às idéias e experiências. 2 Workflow é o termo utilizado para descrever a automação de sistemas e processos de controle interno, implantado para simplificar e agilizar negócios. É utilizado para controle de documentos e revisões, requisições de pagamentos, estatísticas de desempenho de funcionários, dentre outros. (Ipea, 2005) O papel a ser desempenhado pela TI é estratégico: ajudar o desenvolvimento do conhecimento coletivo e do aprendizado contínuo, tornando mais fácil para as pessoas na organização compartilharem problemas, perspectivas, idéias e soluções.No entanto, a Gestão do Conhecimento é uma questão essencialmente de pessoas e processos, incluindo-se a comunicação como fator de mediação. 2.2 Gestão do Conhecimento na Administração Pública. Apesar das organizações públicas serem notadamente intensivas em conhecimento, a sociedade brasileira em geral e as esferas da administração pública, de maneira genérica, não possuem uma cultura e um ambiente voltados para a aprendizagem organizacional e/ou para a inovação e, com raras exceções, também não incentivam a educação continuada de seus servidores. A primeira está vinculada ao Governo do Estado de São Paulo, e denominase CQGP – Comitê de Qualidade da Gestão Pública3, criado pelo Decreto n. 47.836 de 28 de maio de 2003. A CQGP é um portal eletrônico do Governo que se originou mediante o surgimento das TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação, pois a consideram como principal ferramenta de modernização e suporte gerencial.O portal, tem entre outras, a atribuição de “formular, dar proposição e implementação de diretrizes voltadas à elevação do nível de eficiência e eficácia da Administração Pública Estadual mediante a evolução do uso da tecnologia da informação”. A segunda iniciativa surge da Administração Pública Direta (governo federal), e é desenvolvida pelo IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada4 – fundação pública vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Através do IPEA foi realizada a pesquisa “O governo que aprende – a Gestão do Conhecimento no setor público.” Podemos citar as principais práticas que estão sendo desenvolvidas pelos Órgãos da Administração Direta, envolvendo a gestão do conhecimento sob o enfoque da comunicação produtiva: 1.Práticas relacionadas à gestão de recursos humanos: Fóruns (presenciais e virtuais) / Listas de Comunidades de prática ou Comunidades de conhecimento Educação Corporativa 3 4 Para maiores informações acessar <http://www.cqgp.sp.gov.br> Para maiores informações acessar <http://www.ipea.gov.br> Narrativas Mentoring e Coaching Universidade Corporativa 2. Práticas relacionadas a processos facilitadores da GC: Melhores Práticas (Best Practices) Benchmarking interno e externo Memória organizacional / Lições aprendidas / Banco de Sistemas de inteligência organizacional Mapeamento ou auditoria do conhecimento Sistema de gestão por competência Banco de competências organizacionais Banco de competências individuais Gestão do capital intelectual ou gestão dos ativos intangíveis 3.Práticas relacionadas à base tecnológica e funcional de suporte à GC: Ferramentas de colaboração como portais, intranets e extranets Sistemas de workflow Gestão de conteúdos cognitivos para plataformas digitais e comunicação interna e externa Gestão Eletrônica de Documentos (GED) 2.2.1 Desafios para a implantação de projetos de Gestão do Conhecimento no setor público. As tentativas de adoção de qualquer “tecnologia de gestão” por parte do governo brasileiro, como a da gestão do conhecimento, por exemplo, devem atentar para a necessidade de serem tratadas, de forma estratégica, situações ou condicionantes associadas aos seguintes aspectos: a) desprestígio dos serviços e dos servidores públicos junto à sociedade; b) abandono das iniciativas de padronização e de melhoria dos procedimentos administrativos; c) problemas éticos, legais e de legitimação associados à administração pública e ao Estado; d) desequilíbrios entre cargos em comissão, contratações temporárias e quadro efetivo; e) descontinuidade administrativa de objetivos, estruturas e projetos e de políticas públicas; f) permanência de modelos, estilos e atitudes gerenciais inadequadas; g) irracionalidade das diferenciadas estruturas de carreiras, cargos, salários e benefícios concedidos; h) inadequação do quantitativo de pessoal e/ou dos níveis de capacitação e de motivação do corpo funcional; i) falta de padrões de interoperabilidade e de adequação (quantitativa e qualitativa) da infra-estrutura de tecnologia da informação; j) fragilidade do sistema de recompensas, reconhecimento e punições, voltado à melhoria do desempenho funcional e dos resultados organizacionais; k) coexistência de culturas e climas organizacionais impróprios à colaboração e ao compartilhamento de conhecimentos. l) formas de comunicação inadequadas às necessidades de governança e transparência para as organizações públicas na atualidade. Além disso, é importante ressaltar que os processos de comunicação dependem de uma estrutura organizacional, do estilo de liderança e do componente principal – as pessoas. 3 Gestão de pessoas – componente básico da estrutura organizacional. Com o desenvolvimento e as transformações ocorridas na sociedade e no mundo do trabalho nos últimos anos, um dos grandes desafios dessa nova ‘sociedade do conhecimento’ é a formação de líderes para a gestão de pessoas. A gestão de pessoas tem sido a responsável pela excelência de organizações bem-sucedidas e pelo aporte de capital intelectual que simboliza, mais do que tudo, a importância do fator humano em plena Era da Informação. Podemos dizer que gestão de pessoas é o aperfeiçoamento do que se denominava Gestão de Recursos Humanos, onde esta adquiriu uma “nova roupagem” e vem se desenvolvendo de acordo com as transformações ocorridas no mundo do trabalho, onde o capital humano agrega mais valor do que o capital industrial. Gestão de Pessoas é a função gerencial que visa à cooperação das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais. Constitui, a rigor, uma evolução das áreas designadas no passado como Administração de Pessoal, Relações Industriais e Administração de Recursos Humanos. Essa expressão aparece no final do século XX e guarda similaridade com outras que também vêm se popularizando, tais como Gestão de Talentos, Gestão de Parceiros e Gestão do Capital Humano. (Gil, 2001, p.17) É fundamental que haja nesse processo um gerenciamento adequado de pessoas, pois a reorganização da gestão exige uma maior flexibilidade e responsabilidade às pessoas, sejam elas da alta cúpula decisória, dos gestores, ou dos funcionários operacionais. Gestão de Pessoas é a função gerencial que visa à cooperação das pessoas que atuam nas organizações para o alcance dos objetivos tanto organizacionais quanto individuais. Essa expressão aparece no final do século XX e guarda similaridade com outras que também vêm se popularizando, tais como Gestão de Talentos, Gestão de Parceiros e Gestão do Capital Humano. Entretanto, muitas publicações surgidas na década de 90 incluem novas atividades, algumas tradicionalmente abrangidas pelo campo da Administração Geral, como Motivação, Comunicação e Liderança, e outras decorrentes da evolução do âmbito dessa disciplina, como Gestão da Qualidade e Negociação. Todas essas áreas, igualmente, estão relacionadas com a comunicação produtiva nas organizações públicas e merecem ser melhor estudadas no cenário da sociedade contemporânea. III - Considerações finais Todas as mudanças que vem ocorrendo na morfologia do tecido social causam grandes impactos nos processos de gerenciamento, implicando na admissão de novas estratégias de enfrentamento às mudanças ocorridas, sejam eles na gestão da esfera pública, do conhecimento ou de pessoas. Apesar de as organizações públicas possuírem propósitos distintos das organizações privadas (para o setor público, a eficiência está associada ao atendimento das demandas da sociedade e, para o setor privado, a eficiência está vinculada a aspectos ligados à lucratividade dos empreendimentos), atualmente, as estratégias e as tecnologias utilizadas para a consecução de seus objetivos tendem a ser semelhantes, por isso, este estudo busca suprir uma demanda relacionada à necessidade de a gestão pública, do conhecimento e de pessoas serem mais analisadas, compreendidas e, consequentemente melhor aproveitadas pelas diferentes esferas do poder público. Podemos constatar a importância e a complexidade da gestão do conhecimento e a existência de um grande desafio para a implantação de projetos deste gênero no âmbito da administração pública brasileira, principalmente pelo predomínio de critérios políticos que moldaram um setor público carente de recursos e estruturas minimamente capazes de responderem aos seus desafios operacionais básico. Cada vez mais o capital humano está agregando valor às atividades desenvolvidas pelas organizações, acarretando mudanças no relacionamento organizacional. Neste cenário, cabe ressaltar a importância do gestor público e da interação com seus públicos internos e externos, pois, cabe a ele mediar às relações dentro das organizações, desenvolvendo suas atividades de forma flexível, sendo de vital importância uma comunicação produtiva. IV – Referências bibliográficas COELHO, S. de C.T. Terceiro setor: um estudo comparado entre Brasil e Estados Unidos. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2000. 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