O Banquete O livro é a porta que se abre para a realização do homem. Jair Lot Vieira platão O Banquete Tradução, apresentação e notas edson bini O Banquete Platão Tradução, apresentação e notas: Edson Bini © desta tradução: Edipro Edições Profissionais Ltda. – CNPJ nº 47.640.982/0001-40 1ª edição 2012 Editores: Jair Lot Vieira e Maíra Lot Vieira Micales Coordenação editorial: Fernanda Godoy Tarcinalli Assessor editorial: Flávio Ramalho Editoração: Alexandre Rudyard Benevides Revisão: Fernanda Godoy Tarcinalli Arte: Mariana M. Ricardo e Danielle Mariotin Dados de Catalogação na Fonte (CIP) Internacional (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Platão (427?-347? a.C.) O banquete / Platão ; tradução, apresentação e notas Edson Bini. – São Paulo : EDIPRO, 2012. Título Original: ΣΥΜΠΟΣΙΟΝ ISBN 978-85-7283-826-9 1. Filosofia antiga 2. Literatura Grega I. Bini, Edson. II. Título. 12-05097 CDD-184 Índices para catálogo sistemático: 1. Filosofia platônica 184 2. Platão : Obras filosóficas 184 edições profissionais ltda. São Paulo: Fone (11) 3107-4788 – Fax (11) 3107-0061 Bauru: Fone (14) 3234-4121 – Fax (14) 3234-4122 www.edipro.com.br Apresentação Minhas considerações acerca de O Banquete trilham uma via diferente. Esse diálogo, como A República, a Apologia, o Fedro, o Fédon e o Timeu, figura entre as mais conhecidas, lidas, estudadas e influentes obras de Platão. Seu sucesso, para empregarmos um termo bem ao gosto de nosso tempo, diferentemente do caso de tantas outras obras escritas, sobretudo contemporâneas, que deveram e devem o sucesso mais a fatores externos (protecionismo, marketing, mídia etc.) do que à qualidade literária, é inteiramente merecido. Além de ter se imposto ao longo dos séculos como um dos mais importantes textos da filosofia ocidental, de leitura e análise obrigatórias para o estudante e o estudioso da matéria, O Banquete é uma obra-prima literária, seja pelo seu majestoso conteúdo (seu tema é o amor [erwV] - essa misteriosa energia insidiosa e soberana que perpassa e vivifica o universo), seja pela sua forma impecável, na qual Platão atinge o clímax de sua proficiência e brilho no emprego e manejo da língua grega, pro- 6 duzindo uma peça primorosa quer de clareza, quer de beleza, num estilo fluente e elegante, até porque, peculiarmente em O Banquete, o talento literário do mestre da Academia tem que dar conta da marcante diversidade dos discursos sobre o amor proferidos por personagens e personalidades tão díspares (embora irmanadas em torno do tema) como Fedro, Pausânias, Erixímaco, Aristófanes, Ágaton... além de seu mestre e usual porta-voz, Sócrates. Quanto a Alcibíades, embora seu discurso seja sobre o amor, ele não se dirige diretamente a Eros num louvor, mas discursa tendo como objeto o próprio Sócrates. Embora Platão encaminhe naturalmente a conversação para o coroamento da exposição de Sócrates, portadora de uma concepção de eros a um tempo inclusiva e transcendente, a estrutura de O Banquete difere da de muitos outros diálogos, que mostram Sócrates nitidamente aplicando a maiêutica numa performance de protagonista, voz central e superior que conduz o(s) interlocutor(es), alvo(s) da parturição das ideias, à meta do autoconhecimento. Não! O que ressalta em O Banquete é um painel heterogêneo de pontos de vista (e uso essa expressão no seu sentido primário e estrito). Facetas distintas do amor são reveladas. Platão bem sabe que seu objeto é fatalmente espinhoso e excepcionalmente polêmico, mesmo porque ele não está preocupado apenas com a expressão biológica e psicológica do amor, mas também com sua conotação e dimensão éticas. Trata-se de um diálogo de “múltiplas vozes norteadoras” no qual não parece que para Platão seja indispensável fazer do discurso de Sócrates o único verdadeiro e, talvez, nem sequer o melhor, mas simplesmente o mais consequente, pois não reduz o amor à mera sexualidade física. É de se salientar, também, que nesse diálogo todos os discursos estão investidos de solenidade e reverência, pois todos os discursadores, exceto Alcibíades, se dirigem a Eros, ou seja, à personificação divina do amor. Curiosamente, a despeito da riqueza e variedade das exposições, o final de O Banquete deixa o assunto em aberto! E como esgotá-lo? O desfecho em feitio aporético é filosoficamente honesto e literariamente magistral. 7