CEFAC CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA VOZ PAPILOMATOSE RECORRENTE RESPIRATÓRIA Monografia de conclusão do curso de especialização em Voz. Orientadora: Mirian Goldenberg MARILENE MARTINS DA COSTA FERREIRA RIO DE JANEIRO 2001 1 A meu pai e minha mãe que muito me ajudaram. AGRADECIMENTOS Ao meu marido e aos meus filhos, pela ajuda, compreensão, carinho, disponibilidade e contribuição em todos os momentos da minha vida profissional. A Dra. Rita Hersan, da Universidade de Pittsburgh, e ao Dr. Alberto Santos , da Universidade de Lisboa, pelo carinho e colaboração. A Dra. Silvia Pinho, pelo carinho, pelos conhecimentos e ensinamentos que tanto contribuíram para o meu crescimento profissional. Aos amigos do CEFAC, pelo apoio e amizade. 2 “À medida que se acumulam os conhecimentos científicos sobre o homem, cada vez mais se comprova que não há dois indivíduos iguais e que cada um é um”. Cavanha 3 SUMÁRIO Introdução ...............................................................................................................01 Etiologia ...............................................................................................................04 Tratamento Cirúrgico ...................................................................................................05 Tratamento Medicamentoso ......................................................................08 Tratamento Fonoterápico ............................................................................ 18 Considerações Finais Relato de Caso Bibliografia .................................................................................................... .................................................................................................... 22 ............................................................................................................23 4 20 RESUMO O objetivo desta pesquisa é enriquecer a atuação fonoaudiológica diante das diversas formas de tratamento da Papilomatose Recorrente Respiratória, formas estas que visam diminuir o índice de recorrência, que atualmente é um dos maiores obstáculos no sucesso dos vários procedimentos desta patologia. O sintoma inicial é geralmente relacionado à voz, pois as pregas vocais costumam ser o primeiro lugar acometido. A pesquisa que segue aborda diferentes tipos de tratamento: o cirúrgico, sendo o mais utilizado; o medicamentoso, favorecendo em alguns pacientes a diminuição ou impedindo o crescimento destes tumores benignas que acometem a árvore traqueo-brônquica; e as condutas no tratamento fonoterápico. No tratamento medicamentoso, há uma recente pesquisa com a utilização de um composto encontrado em vegetais crucíferos (repolho, brócolis, couve de Bruxelas), o Indole 3 Carbinol (I3C). Uma análise feita em vários pacientes, mostra como se comporta a Papilomatose quando no uso desse medicamento. Além de pesquisa bibliográfica, o trabalho é enriquecido com o relato de um caso clínico. O estudo revela que ainda não há alternativas que impeçam as recidivas definitivas. Concluindo, esta pesquisa visa colaborar particularmente com os fonoaudiólogos, otorrinolaringologistas e infectologistas, na atualização de métodos utilizados na melhoria do tratamento desta doença. 5 ABSTRACT The goal of this research is to enrich the speech therapist work in the various forms of treating the Respiratory Recurrent Papilomatosis. Those treatments aim to diminish the rate of recurrence, which is, nowadays, one of the greatest obstacles on the different procedures of this pathology. The initial symptom is usually related to the voice, since the vocal chords are the first area to be affected. Under the different treatments to this illness, this research covers: the surgical treatment, which is the most common used; the medicinal, which favors, in certain patients, the mitigation or block the growth of these benign tumors that affect the respiratory tract; and the procedures in the speech therapy treatment. In the medicinal treatment, there is a recent research consisting of using components found in vegetables cruciferous (cabbage, broccolis, Brussels sprouts), the Indole 3 Carbinol (I3C). The analysis of several patients shows the behavior of Papilomatosis when subject to this medicament. In addition to the bibliographic work, this research provides a rich description of a real clinical case. It also reveals that there are still no alternatives to prevent the definite reincidences. Finally, this study seeks to contribute to speech therapists, otorhinolaryngologist and infectologist, in updating the methods used in enhancing this illness’ treatment. 6 INTRODUÇÃO Com esta pesquisa, espero gerar uma reflexão em nós, fonoaudiólogos, acerca de como vivem os portadores da papilomatose recorrente respiratória e alertar quanto aos seus sintomas vocais e respiratórios, objetivando evitar os momentos de emergência nos procedimentos necessários à sobrevivência. O papiloma é uma lesão provocada pelo vírus human papillomavirus (HPV), similar a uma verruga, caracterizada pelo crescimento de um tumor benigno que acomete principalmente o trato respiratório, priorizando a laringe. Embora a laringe e, em particular as pregas vocais, sejam os sítios mais freqüentemente afetados, as lesões podem abranger o trato respiratório inferior e superior, sendo nasofaringe e vestíbulo nasal (Abramson e col, 1987). A designação da papilomatose recorrente respiratória (PRR) define bem a afecção, que apresenta lesões múltiplas confluentes, rápido crescimento e recorrência sistemática, podendo levar à obstrução dramática das vias aéreas. A papilomatose laríngea é um grave problema clínico tanto em crianças como em adultos, sendo que a maioria dos papilomas aparece mais comumente na primeira infância. Nesta patologia, a rouquidão é o sintoma presente mais freqüente. Por isso, crianças com queixa de rouquidão ou respiração “curta” 7 devem ser imediatamente avaliadas. Outros sintomas podem também ocorrer, incluindo estridor, dispnéia, tosse crônica, pneumonia recorrente. Geralmente, estes sintomas são erroneamente atribuídos à asma, crupe, tonsilite crônica ou alergias. Domingos H. Tsuji e Angélica K. A. Yokochi (in Pinho, 1998) relatam que as lesões papilomatoses apresentam-se como cachos ou em forma de couve-flor, principalmente na região glótica e supraglótica. O envolvimento de outras regiões, como a nasofaringe, a subglote, a traquéia e os brônquios, parece decorrer de contaminação proveniente do papiloma na glote e supraglote. O curso da papilomatose varia consideravelmente. Em alguns pacientes, os papilomas podem desaparecer tão rapidamente como aparecem, enquanto em outros, esta lesão pode experimentar vários graus de desenvolvimento. Quando ocorre o crescimento do papiloma nas pregas vocais, seus efeitos aditivos ocasionam graus variáveis de disfonia. O perigo é, sem dúvidas, a possibilidade de crescimento suficientemente rápido para interferir de modo decisivo na abertura da saída de ar. Por esta razão, o papiloma é considerado uma patologia laríngea grave que requer um rigoroso e continuado cuidado por parte dos otorrinolaringologistas. Usualmente, se faz necessário freqüentes cirurgias para manter uma via respiratória adequada e a traqueostomia é, algumas vezes, indicada na PRR agressiva. A papilomatose laríngea pode ser ainda extremamente frustrante de se tratar, uma vez que as lesões são, em sua maioria, recidivantes e agressivas. 8 É importante que os profissionais na área da fonoaudiologia estejam preparados para orientar os pacientes quanto aos riscos, às etiologias, às recidivas, e encaminhá-los aos tratamentos adequados. A papilomatose laríngea fornece um campo bastante amplo de estudos e especulações pois, mesmo com os avanços diagnósticos e terapêuticos e das técnicas da biologia molecular, que concedem um diagnóstico etiológico preciso, muitos questionamentos ainda permanecem. Faz-se imperativo refletir de modo consciente na busca de novas perspectivas de cura, já que ainda não foram descobertas formas de tratamento que impeçam o alto índice de recorrências, o que leva o paciente a repetidas intervenções cirúrgicas. Concluindo, o presente estudo objetiva aprofundar o conhecimento sobre a papilomatose e seus tratamentos cirúrgicos, medicamentosos e fonoterápicos, partindo de referências bibliográficas que apresentam vários métodos em busca da recuperação dos pacientes portadores desta patologia. Neste estudo, é dada uma ênfase maior ao tratamento medicamentoso com o I3C (Índole 3 Carbinol), por ser uma das mais recentes pesquisas direcionadas a uma melhor eficácia no tratamento das papilomatoses laríngeas. Sendo que não existe ainda um tratamento de cura desta doença. 9 ETIOLOGIA Suspeita-se ser o HPV (humam papilloma virus) (predominantemente os tipos 6 e 11) o agente etiológico na PRR, identificados em papilomas laríngeos. HPVs genitais infectam o corpo humano principalmente por transmissão sexual. O desenvolvimento de papilomatose respiratória recidivante em criança expostas ao HPV 6 ou 11 durante o nascimento pode ser uma forma de transmissão do HPV. Admite-se ser administrada de mães portadoras de HPV (condiloma acuminado, cervicites crônicas) diretamente para seus filhos, ao nascimento na passagem pelo canal do parto. O diagnóstico é freqüentemente tardio porque os sintomas imitam uma variedade de outras doenças. A etiologia viral para a PRR tem sido bastante estudada desde os primeiros experimentos de ULLMAN, em 1923, quando descreveu a transmissão de verrugas no seu próprio braço, a partir de extratos de papiloma de laringe. Várias técnicas e procedimentos têm sido utilizados desde então, na tentativa de se detectar o HPV em pacientes portadores da PRR. Geralmente, a papilomatose está associada à radioterapia prévia, tabagismo. Raramente a transformação é maligna (Pinho, 1998). 10 TRATAMENTO CIRÚRGICO Wetmore, Key e Suen (1985) acompanharam 40 pacientes (26 crianças e 14 adultos) que receberam coletivamente um total de 122 cirurgias a laser para papilomas ao longo de 6/12 anos. Onze entre 12 pacientes que sofreram mais de 6 (seis) operações ao longo deste período de tempo tiveram membranas glóticas anteriores com edema de prega vocal persistente como complicações e a vocalização foi seriamente afetada. Dedo e Jackfer (1982) descrevem que a cirurgia a laser foi claramente o procedimento prioritário para a retirada dos papilomas recorrentes em 109 pacientes. Relatam que em torno da metade dos seus pacientes, por fim, atingiram remissão e não tiveram qualquer recorrência das lesões. Mesmo com as possíveis complicações da cirurgia continuada, devido a papilomas recorrentes, deve-se remover as lesões quando começam a prejudicar a via aérea. A cirurgia para o tratamento da papilomatose recorrente respiratória avançou com a utilização do laser. Apesar de não curar a doença, sua eficácia em preservar as estruturas laríngeas normais e manter a via aérea permeável vem tornando-a o instrumento de escolha para o tratamento desta patologia. O tratamento cirúrgico mais comum tem sido a remoção endoscópica das lesões com pinças cirúrgicas (Cohen e col, l980). A cirurgia endoscópica usando laser de 11 CO2 tem sido a de preferência de alguns cirurgiões e considerada a forma mais acurada de remover lesões pequenas em áreas cruciais da laringe, além de oferecer visibilidade máxima na remoção dos papilomas. Além disso, parece reduzir o número de intervenções necessárias até a regressão do quadro. Existem várias técnicas de microcirurgias utilizadas, como criocirurgias, uso de instrumentos tradicionais como pinça, saca bocados, microcauterização e laser de dióxido de carbono. A cirurgia a laser tem sido escolhida e aceita como melhor alternativa de tratamento devido à precisão e melhor hemostasia em vasos de pequeno diâmetro e ausência de edema. Também permite corte preciso do papiloma e manutenção de uma adequada via respiratória, mas não é isenta de riscos de sérias complicações. Pode levar a uma inflamação endotraqueal e complicação a longo prazo, como membrana laríngea e cicatrizes. O objetivo da cirurgia é a remoção das lesões para impedir a obstrução respiratória e de se tentar manter a fonação. Dentre os vários tratamentos testados desde que o primeiro caso de PRR foi descrito, o laser cirúrgico é a ferramenta mais eficiente no controle dessas lesões. Uma paciente de 5 anos de idade que sofria de papilomatose recorrente respiratória desde 2 anos de idade, foi submetida a 80 tratamentos a laser durante 3 anos. Laser e interferon ministrados conjuntamente diminuíram a freqüência da terapia a laser nessa paciente. Variações no número e tamanho da papilomatose apresentam um desafio para o anestesista. A aplicação da anestesia requer coordenação e planejamento anestésicos precisos. Devido ao fato dessas lesões serem predominantemente 12 encontradas na via aérea laríngea, o campo cirúrgico deve ser compartilhado pelo cirurgião e pelo anestesista. São apresentados: a etiologia, o manejo terapêutico físico e médico, o manejo anestésico e complicações de pacientes com PRR. A traqueostomia é algumas vezes necessária na PRR agressiva, embora, sempre que possível, deva ser evitada, uma vez que pode facilitar a contaminação das vias aéreas inferiores. A alta taxa de recorrência da PRR com intervenção cirúrgica necessita de investigação extensiva, para identificar outros tratamentos eficazes. Não há nenhuma terapia conhecida capaz de erradicar efetivamente a doença permanentemente. 13 TRATAMENTO MEDICAMENTOSO Uso do Interferon Lundquist et al. (1984) relatam uma abordagem médica ao tratamento dos papilomas causados por vírus; injeção intramuscular de interferon. Ao acompanhar 17 pacientes jovens recebendo terapia com interferon ao longo de vários anos, Lundquist et al. verificaram que 9 foram totalmente curados, 4 não apresentaram mais crescimento de tumor, mas ainda estavam sendo tratados, 3 obtiveram redução no crescimento do tumor e um recusou tratamento adicional. Mais recentemente foi utilizado como tratamento para papiloma de laringe a droga interferon, embora esta droga mostre alguns sérios efeitos colaterais (por exemplo, sintomas sérios de gripe). Este tratamento produzia alguns bons resultados da voz e diminuía ou eliminava o papiloma. Em alguns pacientes tratados com interferon, observou-se significativa diminuição no papiloma e foram capazes de prover terapia vocal eficaz após terapia com droga. Terapia Fotodinâmica A terapia fotodinâmica (PDT) dos papilomas laríngeos tem sido utilizada experimentalmente com resultados promissores. Outro tratamento experimental 14 para PRR é alfa ou leukocyte, interferon, mas apresenta resultados imprevisíveis e efeitos colaterais múltiplos. Outros tratamentos médicos, sob investigação, incluem a vitamina A e seus derivados e as drogas antivirais acyclovir e ribarvirin. Em uma pesquisa, o interferon estava sendo usado em 9% dos pacientes pediátricos e em 1% de pacientes adultos, enquanto outras terapias coadjuvantes como PDT, ribarvirin, isotretinoin e I3C estavam sendo usados em menos de 5% dos pacientes. Uso do I3C Rosen et al, (1996), em uma das mais recentes pesquisas inscreveram pacientes portadores de PRR num estudo prospectivo, no qual foi usado I3C (Índole 3 Carbinol) para o tratamento da Papilomatose Recorrente Respiratória (PRR), acompanhado de revisão protocolar e aprovação por parte do grupo institucional de revisão da Universidade de Tenessee - Memphis e o Centro Médico da Universidade de Pittsburgh. A história médica demográfica da PRR foi obtida de todos os pacientes no momento da admissão. Além disso, todos os pacientes foram submetidos ao exame do trato aerodigestivo superior tanto no consultório como na sala operacional, no início do estudo, para identificar as localizações e quantidade da PRR. Amostras de urina foram coletadas de todos os pacientes antes do tratamento. Todos os pacientes foram designados a um intervalo cirúrgico de prétratamento (PTSI), baseado num intervalo médio entre as remoções cirúrgicas de suas PRR durante as quatro últimas cirurgias, quando possível. 15 Foram feitas remoções cirúrgicas em etapas, removendo o lado direito seguido pela remoção do lado esquerdo. Várias semanas depois, foram contadas como uma cirurgia para determinar o PTSI de cada paciente. Aqueles pacientes que não estavam perto de nenhum dos três centros médicos receberam acompanhamento de seus otorrinolaringologistas. Perguntou-se a cada paciente sobre sintomas relacionados na sua PRR e problemas causados do I3C a cada visita de acompanhamento. Foi feito um diagrama do trato aerodigestivo superior com acompanhamento à cirurgia de cada paciente externo para o estudo completo das localizações e quantidade do papiloma e o acompanhamento. Para demonstrar o acompanhamento adequado de cada paciente, foi calculada a razão entre os meses de acompanhamento e o follow-up (PTSI) para todos os pacientes. Ao final do estudo (setembro de 1996), todos os pacientes foram reexaminados e pediu-se aos pacientes e ao otorrinolaringologista para preencherem um formulário de coleta de dados e categorizar a taxa de crescimento da PRR enquanto submetidos ao I3C. Todos os pacientes receberam I3C para ser administrado por via oral. Crianças foram dosadas conforme o peso. Adultos tomaram 200mg de I3C BID. Coletaram-se durante o tratamento, amostras de urina de quase todos os pacientes aproximadamente 3 semanas após o inicio do estudo e foram comparadas com as amostras coletadas anteriormente ao início do tratamento. Cada amostra de urina foi submetida a teste para determinar a proporção de metabolito de estrogênio (2 hidroxiestrone) e estriol (razão 20 HE1/E3). Essa razão foi comparada com a anterior ao início do tratamento sempre que possível. 16 Um dos autores (H. Leon Bradlow) supervisionou todas as análises de urina e estabeleceu alguns parâmetros, caso fossem observadas mudanças nas amostras de urina anteriores ao tratamento comparadas com aquelas coletadas durante o tratamento. O autor não recebeu nenhuma informação clínica antes de serem determinadas as razões 20HE1/E3 urinárias. Se constatadas mudanças significativas na razão 20HE1/E3 após I3C, o resultado do exame da urina seria considerado positivo. O I3C é um composto que é encontrado em grande concentração em vegetais crucíferos (repolho, couve-flor, couve de Bruxelas, brócolis). O I3C é um potente indutor do citocromo P450 no metabolismo do estrogênio. Encontramos I3C nos vegetais crucíferos e um suplemento nutricional aprovado. O I3C mostrou-se capaz de alterar o metabolismo do estrogênio em humanos e afetar o crescimento de tumores sensíveis ao estrogênio em experimentos com animais. I3C foi utilizado para reduzir o desenvolvimento de tumores papilomatóides em HPV (vírus papiloma humano) Antídotos clínicos de efeitos positivos do I3C para a PRR levam a um início de uma perspectiva de um teste usando I3C em pacientes com PRR. No metabolismo do estrogênio, o estradiol é oxidado para estrone e depois hidroxilado seja com C - 16 para dar em hidroxiestone - 16a seja C - 2 para dar hidroxiestrone -2. Qualquer aumento em qualquer dos caminhos do metabolismo do estrogênio resultará na diminuição da formação do metabolito oposto. Assim, o aumento na hidroxilação -2 do estradiol leva a uma diminuição da hidroxilação 16a e vice-versa. O produto estradiol hidroxilação - 16a mostrou ser genotóxico, 17 promovendo a síntese desordenada do ADN e induzindo a hiperploriferação das células epiteliais. Hidroxilação - 2 está associada com a redução de risco de tumores hormônio dependentes. I3C induz o citocromo P450 estradiol hidroxilação - 2 , deste modo aumentando a taxa total dos produtos hidroxilação - 2 para hidroxilação - 16a. Os efeitos dessas medidas podem ser medidos pela taxa de estrogênio metabolito de hidroxiestrone - 2 para estriol (2OHE1/E3) na urina. Resultado do uso da droga Indole 3 Carbinol na Papilomatose Recorrente Respiratória. Trinta e cinco pacientes foram inscritos em um experimento prospectivo, open label, para estudar os efeitos do I3C no crescimento da PRR. Quatro pacientes não foram encontrados para o acompanhamento e 13 pacientes tiveram duração inadequada do acompanhamento não podendo ser incluídos na análise de resultados. Dezoito pacientes foram analisados num acompanhamento mínimo de 8 meses e fizeram parte do grupo de estudos. Desses 18 pacientes, 10 eram do sexo feminino, 12 eram menores de 18 anos quando admitidos no estudo. Das 12 crianças, 8 pacientes eram menores de 10 anos quando entraram no estudo. O acompanhamento médio para todos os 18 pacientes em estudo foi de 14.6 meses com um mínimo de 8 meses e um máximo de 24 meses. Nenhuma complicação maior foi observada em nenhum dos pacientes estudados. Três pacientes desenvolveram sintomas de desequilíbrio quando tomaram crescentes quantidades de I3C. Um adulto do sexo masculino desenvolveu um desequilíbrio e um pequeno tremor enquanto tomava 400mg de 18 BID PO de I3C por 10 dias ( a dose aumentada foi dada numa tentativa de mudar o status da sua urina). Seus sintomas desapareceram completamente quando retornou a 200mg BID PO de I3C. Uma menina de 2 anos de idade acidentalmente tomou o triplo de sua dose e desenvolveu instabilidade por um dia, o que foi inteiramente resolvido. Quando uma jovem de 12 anos ingeriu 3 doses durante um período de 12 horas, ela desenvolveu instabilidade com náuseas que desapareceu em 8 horas. Nenhum paciente parou com o tratamento devido a problemas com a medicação e todos os pacientes tomaram I3C durante todo o estudo. Os 6 primeiros pacientes inscritos no experimento não foram submetidos à remoção cirúrgica de sua PRR e foram observados para ver se o I3C causaria regressão na PRR. Nenhum pacientes nesse grupo demonstrou regressão da PRR enquanto no uso do I3C, mas experimentaram uma parada na taxa de crescimento da PRR. Subseqüentemente recomendou-se que todos os pacientes começassem o estudo após remoção cirúrgica de todo ou da maior porção da PRR. Isto também permitiu ao cirurgião diagramar precisamente a localização e extensão da doença no começo do estudo. Em 33% (6/18) dos pacientes houve uma interrupção do crescimento do papiloma (resposta completa) e não precisaram de cirurgia desde o início do estudo. Seis pacientes (33%) tiveram uma significante redução na taxa de crescimento do papiloma enquanto sob I3C, baseado na comparação do intervalo cirúrgico do pré-tratamento (PTSI) com o intervalo cirúrgico durante o tratamento com I3C.Considerou-se esses pacientes como tendo obtido resposta parcial. Seis pacientes (33%) não mostraram resposta clínica (NR) ao I3C. Nenhum dos 19 pacientes estudados apresentou aumento na taxa de crescimento da PRR durante o estudo. Dois pacientes no grupo NR precisaram de tratamento adicional com interferon e os outros tiveram progressão da PRR com invasão pulmonar parenquimal. Os resultados preliminares desse estudo demonstraram que o I3C pode ser um tratamento relativamente seguro e promissor. Newfield et al demonstraram que o tecido laríngeo infectado ou não com HPV é muito sensível às mudanças do metabolismo do estrogênio induzidas pelo I3C. O estudo demonstrou que o nível l6a-hidroxilação de estradiol é constitutivelmente maior na laringe e significantemente aumentado na mucosa laríngea infectada com HPV. Além disso, descobriu-se que produto do l6a hidroxilação tem um efeito proliferativo para o eptélio laríngeo infectado com HPV, enquanto que o produto de 2 hidroxilação mostrou-se antiproliferativo. Verificou-se que o I3C anula os efeitos proliferativos do estradiol nas céllulas laríngeas em cultura e diminuiu o desenvolvimento do papiloma em enxertos de tecido laríngeo humano infectado com HPV em machos e fêmeas de ratos. Isso sustenta a crença que o aumento de 2 hidroxilação do estradiol, após I3C, inibe a hiperproliferação induzida pelo HPV do tecido eptelial. A resposta a longo prazo ao I3C foi estudada. Bradlow et al estudaram o metabolismo do estrogênio em 20 mulheres sadias tomando 400 mg de I3C por dia durante 3 meses. Nenhum efeito adverso significativo foi reportado pelas pacientes e o I3C teve apenas efeitos menores numa extensiva bateria de testes incluindo medição de hemoglobina, plaquetas, cálcio, fosfato, proteína, função 20 hepática, função renal e perfil de colesterol. Além disso, 17 das mulheres (85%) tiveram uma elevação significativa de suas proporções 20HE1/E3, enquanto tomavam I3C. Estudos anteriores realizados por Michnovicz e Bradlow demonstraram a eficiência do I3C em aumentar significantemente a proporção 20E1/E3 em homens também. Portanto, esses estudos clínicos e o presente estudo sugerem que o uso do I3C é um meio eficiente e seguro de alterar o metabolismo do estrogênio na maioria da população. Nenhum estudo anterior demonstrou a eficiência do I3C em alterar significantemente a proporção 20HE1/E3 em indivíduos infectados com HPV. Descobriu-se que 66% (8/12) dos pacientes com PRR tiveram mudanças em seus metabolitos de estrogênio da urina após a administração de I3C. A taxa de alteração da proporção 20HE1/E3 (66%) foi mais baixa que a do estudo anterior em pacientes sem PRR (85%). O número de pacientes do estudo é muito pequeno para se afirmar definitivamente que essa porcentagem menor dos pacientes com metabolismo de estrogênio alterado possa indicar que indivíduos com infecção por HPV possam ter uma habilidade diferente para processar o I3C daqueles que não estão propensos a uma infecção por HPV, ou que possa haver uma alteração pré-existente de seu sistema de metabolismo de estrogênio. Foram reportados resultados preliminares de um experimento prospectivo, open label fase I sobre o uso de Indole 3 Carbinol, no tratamento da PRR. Essa pesquisa primeiramente estudou a segurança do I3C no tratamento da PRR e a seguir avaliou o efeito da ingestão dessa droga na taxa de crescimento da PRR. Descobriu-se que o I3C era bem tolerado e não causou nenhuma complicação maior nem resultou em efeitos colaterais severos. Nenhum paciente do estudo 21 pareceu ter uma aceleração na sua doença (PRR) durante o tratamento com I3C. O Indole 3 Carbinol parece não causar regressão em PRR pré existente, mas talvez possa ser eficiente em controlar o crescimento de um novo papiloma. Os resultados do uso do I3C para o tratamento da PRR são preliminares e devem ser interpretados com isso em mente.Parece haver uma boa correlação entre a habilidade do indivíduo de alterar o seu metabolismo de estrogênio com I3C e de receber um efeito positivo para limitar o crescimento da PRR. Entretanto, alguns pacientes tiveram boas respostas ao I3C e não mudaram suas proporções de metabólitos de estrogênio na urina e vice-versa, portanto, indicam-se investigações futuras com o objetivo de monitorizar o uso do I3C usando metabólitos de estrogênios urinários. Adicionalmente, a investigação do mecanismo de metabolismo de estrogênio em indivíduos saudáveis e naqueles com PRR está sendo estudado ativamente. I3C parece ser bem tolerado por aqueles com doença da PPR e evidências suficientes são apresentadas para justificar um teste duplo cego, um experimento controlado para estudar a eficácia do Indole 3 Carbinol para o tratamento da Papilomatose Recorrente Respiratória. (Clark A. Rosen, Jerome W. Thompson, Gayle E Woodson, H. Leon Bradlow). Tratamento de papilomatose repiratória juvenil com Ribavirin A papilomatose respiratória juvenil que envolve a árvore traqueo-bronquial impõe um problema de manejo e algumas vezes causa risco de vida. O tratamento principal é a vaporização repetida com laser CO2. Até hoje, tratamentos médicos acessórios têm sido de uso limitado. Uma criança 22 traqueotomizada com papilomatose laringo-traqueo-bronquial extensivo que se submeteu a laser bronqueoscópio, foi tratada com Ribavirin, um agente antiviral de largo espectro, durante 3 anos a cada 2 semanas. A droga foi admistrada em forma nebulosa através de um pequeno gerador aerosol de partículas (SPAG) no trato respiratório baixo (6 gm/150ml mais de 9 horas) durante 3 noites consecutivas a cada 2 semanas por sete semanas, e também foi administrado via oral (15mg/kg/dia). Foram realizadas avaliações endoscópicas quinzenais. Após 14 dias os papilomas estavam regredindo e foi preciso muito menos laser, não sendo mais necessário após 56 dias. Um mês após o término do tratamento com Ribavirin, entretanto, alguns papilomas sésseis haviam reiniciado na árvore traqueo-bronquial e foram tratados com laser. Nenhuma adversidade foi encontrada. Durante o período de tratamento, houve uma redução significante na freqüência de ao risco de edema laríngeo. 23 TRATAMENTO FONOTERÁPICO A remoção cirúrgica de um papiloma grande constitui o método preferido de tratamento e em, nenhum caso, a criança com papiloma é um candidato a terapia vocal com o objetivo de reduzir a hiperfunção (Boone, 1992). Ocorre em algumas oportunidades que o fonoaudiólogo é solicitado a examinar uma criança em fase pré-escolar com um papiloma obstrutivo que sofreu uma traqueostomia aberta, para permitir uma adequada respiração. Os principais anseios do clínico são: o de desenvolver comunicação funcional com a tal criança e estimular o desenvolvimento normal da linguagem, ensinar a criança a fechar o estoma aberto com um dedo ou ajustar na criança uma válvula unidirecional que cobre o estoma (para permitir vocalização sem inclusão de dedo), geralmente permite alguma vocalização. Nas crianças mais velhas ou adultos que estão sendo tratados cirurgicamente por um papiloma recorrente, ajudá-las a desenvolver a melhor voz possível com os mecanismos laríngeos comprometidos é um objetivo realista na terapia vocal. Algum trabalho sobre como controlar a respiração (como vocalizar com maiores volumes de ar pulmonar) ou trabalhar sobre intensidade e altura pode melhorar o funcionamento da voz (Boone, 1994). 24 Nos casos de papilomatose laríngea, podemos citar o tratamento fonoterápico, que pode promover uma melhoria na sonoridade glótica, visando também um padrão global de comunicação com inteligibilidade, através de um trabalho de sobrearticulação dos sons da fala. Pode também ser feito um trabalho de prevenção do desenvolvimento de gestos motores atípicos, como fonação vicariante por voz de banda ou produção ariepiglótica (Behlau, 1995). Quando os papilomas param de recorrer ou talvez entre os episódios de recorrência, a terapia vocal pode ser apropriada a fim de manter ou restaurar a melhor produção vocal possível. O prognóstico dependerá muito do estado da mucosa da prega vocal. (Colton & Casper, 1996) Podemos utilizar também como prognóstico terapêutico, a higiene vocal, adequar tom habitual, fonação relaxada, projeção vocal 25 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa sobre Papilomatose surgiu de um interesse em descobrir sempre algo mais a respeito das patologias que abrangem a área fonatória. Com isso, espero poder contribuir de maneira consciente com os pacientes em momentos de desconforto, tristezas e frustrações e junto a eles, buscar alternativas priorizando sempre a sua qualidade de vida. Refletindo sobre essas ânsias que continuamente estão presentes em meu dia a dia, busquei através de estudos e contatos com outros profissionais da minha área e área médica, especificamente otorrinolaringologia, material e conhecimentos para realizar este trabalho. Fiz uma pesquisa bibliográfica e análise de um caso cedido por uma fonoaudióloga, levando-me a um maior envolvimento com esta doença. À medida que fui explorando o assunto, foi com muita satisfação que fui contemplando as descobertas da doença e absorvendo maior conhecimento, pensando sempre em enriquecer a maneira de conduzir meu trabalho. Muito me chamou a atenção um dos tipos de tratamento medicamentoso, o uso do I3C, que foi pesquisado na tentativa de minimizar as repetidas cirurgias que, na maioria das vezes, são necessárias para a remoção dos papilomas. Essas cirurgias são necessárias devido às repetidas recorrências e também à rapidez em 26 que elas crescem, levando o portador da mesma a risco de vida. Ocorre a obstrução laríngea, impedindo a passagem de ar, que é vital à sobrevivência. Esse tratamento (I3C) é feito com composto formado de substâncias extraídas de algumas plantas. A papilomatose é uma doença que precisa de muitos estudos e experiências para definir tratamentos mais precisos. A causa principal desta patologia é a contaminação do vírus HPV (papilloma vírus human) pela mãe portadora do mesmo vírus, no momento do parto, na passagem do feto pelo canal vaginal. Sugiro que seriam necessárias mais pesquisas, na direção de prevenção junto a estas mães. Durante os estudos, no relato de caso de uma criança portadora do HPV, tive informações que esta criança nasceu de parto cesáreo, portanto sem contato com o canal do parto. Existem outras vias de contaminação? Qual será o melhor caminho a trilhar para a prevenção? 27 RELATO DE CASO Paciente com 10 anos de idade, portador de Papilomatose Recorrente Respiratória. Parto cesáreo, com identificação de refluxo aos 3 meses de idade com muito vômito. Aos 4 meses começou a perder o som do choro; Alterações graves na respiração e cianose com a idade de 1ano e 3 meses. Diagnosticado papiloma na traquéia e o paciente foi submetido à traqueostomia. A partir desta data era feita a retirada do papiloma a cada 3 meses, durante 5 anos. Tratamento com Interferon até 3 anos de idade. Atualmente, a retirada do papiloma é feita a cada 2 meses de intervalo. Voz de qualidade ruim, semelhante à do “Pato Donald”. Só fala com familiares. Não gosta de tampar o traqueostoma para falar. 28 BIBLIOGRAFIA BEHLAU & PONTES, P. – Avaliação e Tratamento das Disfonias. São Paulo, Lovise, 1995. 302 p. BOONE, D. R. & McFARLANE, S. C. – A voz e a terapia vocal. . Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. 300 p. BOONE, D. R. – La voz y el tratamento de sus alteraciones. Buenos Aires, Panamericana, 1983; 248 p. BRANDI, E. – Voz Falada, estudo – avaliação – tratamento. 1990. 224 p. 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