Universidade Federal de Santa Catarina

Propaganda
Universidade Federal de Santa Catarina
Centro Sócio-Econômico
Departamento de Ciências da Administração
Curso de Administração modalidade a distância – quarta edição
ATIVIDADE 1 de FILOSOFIA
Professora: Selvino José Assmann
Unidades abordadas: Apresentação e capítulo 1
Peso: 15% da nota final
Acadêmico (a):
1. Qual a melhor definição de filosofia , segundo o livro-texto?
a) Ser um jeito de viver fora da realidade, nas nuvens?
b) Ser um esforço racional, rigoroso, radical para fundamentar reflexiva e criticamente os
conhecimentos e as práticas humanas?
c) Ser um conhecimento bem subjetivo, uma opinião individual, e por isso ser um conhecimento de
cada um?
d) Ser uma visão de mundo ou programa geral de governo, de uma empresa?
e) Ser uma sabedoria de vida (“filosofia de vida”)?
1. Resposta correta: de acordo com o livro-texto, e por mais que haja um senso comum de acordo com o
qual a filosofia seja algo que pode ter vários sentidos, a resposta correta é a letra "b" E no livro-texto estão
motivos para esta resposta
2. De acordo com o livro-texto, quais as alternativas que não estão corretas?
a) Filosofia significa amor (ou desejo) pela sabedoria, e por isso só pode ser filósofo quem ama a
realidade, no sentido de a respeitar, de a querer conhecer profundamente, buscando uma solução
segura e definitiva para os problemas, mesmo que nem sempre se encontre a mesma.
b) A filosofia é uma forma de conhecimento que tem a ver com coisas abstratas, um saber subjetivo,
muitas vezes dogmático e fanático, e imaginativo.
c) Foram os gregos que inventaram a filosofia, e não os orientais, por terem sido os primeiros que, ao
procurarem resolver os próprios problemas, o fizeram como se estivessem resolvendo os
problemas de todos os povos e de todos os seres humanos.
d) A filosofia contemporânea em geral, e também a ciência contemporânea, já não admitem que
possa haver uma só verdade, definitiva e objetiva, e que a razão humana trabalha mais com
probabilidades, com conjeturas, do que com certezas.
e) A filosofia é uma forma de conhecimento humano que se distingue do senso comum, das ciências
naturais ou sociais, da teologia, da religião, da mitologia.
2. Resposta que pede para que se assinale uma afirmação incorreta, de acordo com o livro-texto: a letra
"b" é a única resposta (afirmação incorreta!), pois não é correto dizer que a filosofia pode ser vista, no seu
sentido genuíno e histórico, como um saber meramente subjetivo, ou que cada um pode definir do seu
jeito o que é a filosofia, nem que cada um inventa uma filosofia sem rigor e sem conhecer um pouco da
história da filosofia, por outro lado, a filosofia não equivale a afirmar que ela é uma verdade dogmática ou
fanática, sem fundamentos, nem é fruto de mera imaginação...
3. Descreva brevemente (até cinco linhas) as características principais do pensamento antigo,
medieval e moderno – sobretudo qual é o fundamento último da realidade para cada época, e
qual seria a caracterização de pessoas que hoje em dia têm mentalidade antiga, medieval ou
moderna.
Características gerais do pensamento antigo, medieval e moderno:
-Antigo: fisiocentrismo, ou seja, a natureza é vista e vivida como central, fundamental, como aquilo
que define e determina o que somos e o que devemos ser e fazer. É a natureza quem define que o
homem é um animal racional, ou político; que o homem nasce ou livre ou escravo; que o homem
deve mandar na mulher; que ser feliz é realizar a natureza humana, que a beleza (na arte) é
representação da natureza
- Medieval: teocentrismo, ou seja, Deus é visto e vivido como central, como o ser que cria tudo,
que define quem nós somos (filhos de deus e irmãos entre nós mesmos, e irmãos da natureza física,
que tb foi criada por Deus...). Deus define, neste caso, o que vale e o que não vale, o que é bom e
mau (mandamentos de Deus): fazer o bem é cumprir os mandamentos de Deus, e nao a vontade
humana; por isso, só Deus pode nos salvar do mal, e não os seres humanos, nem as instituições
humanas. Deus é que define o que é a verdade e o que é falso ou mentiroso. A verdade está na
fé, enquanto a filosofia precisa estar a serviço da fé. A propria arte é arte sagrada, representando
Deus, os santos.
- Moderno: antropocentrismo: é o ser humano que se põe como principio, como centro de tudo.
Ele deve dominar a natureza.. ele deve provar se Deus existe ou não..É ele que define as coisas, é
ele que faz algo ser verdadeiro: ele precisa provar (pela ciência, por exemplo) a verdade. Na idade
média a verdade era definida por deus e o homem precisava crer em deus... Na modernidade: é o
ser humano que cria a política, o Estado, que estabelece o que é bem e o que é mal, o que é bonito
e o que é feio. Por isso se passa a dizer que a verdade não é mais “des-coberta”, mas construída ou
produzida pelo ser humano (hoje se fala de produção da verdade...). O homem que se faz à sua
imagem e semelhança, e não mais à imagem de Deus. Ele que se constrói, pelo trabalho, tornandose proprietário de terra, ou de bens, e assim se torna proprietário de si, ou seja, se torna livre,
dispondo de si mesmo... Mas isso entrou em crise, segundo tantos autores a partir do séc. XIX
(Nietzsche, por exemplo).
4. Qual a alternativa que, de acordo com o livro-texto, não corresponde a uma caracterização
correta do pensamento filosófico moderno e da modernidade?
a) Ser moderno é partir do princípio de que cabe aos seres humanos decidir sobre todos os
problemas, inclusive sobre o da existência de Deus e o do bem e do mal.
b) Ser moderno significa ter a coragem de ser autônomo, a coragem de pensar por própria conta e
risco", e não significa seguir a moda e fazer tudo o que a maioria faz.
c) Ser moderno é estar simplesmente na moda, tanto no modo de aparecer e de viver, quanto no
modo de conhecer, estando sempre atualizado.
d) A modernidade tem como característica afirmar que é pela razão humana e pelo trabalho humano
que o ser humano se tornará senhor ou proprietário de si e da natureza, e que é por dominar a
natureza que nascem, ao mesmo tempo, os problemas ambientais contemporâneos.
A única afirmação que não corresponde a uma visão correta a respeito da modernidade é a letra "c", pois
é incorreto dizer que ser moderno corresponde a estar na moda, a seguir simplesmente o senso comum
existente. Se tomarmos a sério a história do ocidente, modernidade corresponde a um período em que o
ser humano se põe no centro de tudo, em que cabe ao ser humano definir a partir de si - e não a partir de
Deus ou de alguma outra crença - o que é a verdade, e compete ao ser humano dominar a natureza
(externa a ele e a sua própria natureza). Por isso, se declara que o ser humano é o fruto do seu proprio
trabalho, de sua própria ação, e não é fruto da vontade de Deus ou de alguma predestinação da natureza.
Neste contexto falar de pós-modernidade equivale a afirmar que há uma crise da modernidade, crise desta
crença do ser humano na sua capacidade absoluta de criar um mundo perfeito através do trabalho da
razão. E Sinais de crise da modernidade são neste contexto: : entre outras coisas, já não se acredita tanto
de que o ser humano possa resolver todos os problemas por si mesmo; já não se acredita tanto que o ser
humano possa e deva dominar a natureza...pois a natureza parece lhe dizer (problema ambiental) que ele
não pode fazer com a natureza o que bem quiser, pois ela se revolta...Outro sinal da crise seria (ou é):
volta de tantas pessoas à alguma visão religiosa.... Acabou, ou teria acabado, o otimismo histórico, ou seja,
acabou a crença de que a gente sempre vai poder progredir em conhecimento, em bondade moral, em
progresso político... Em suma, a modernização deixou de ser a grande solução.. e passou a ser um
problema,, por mais que ainda prevaleça entre tantas pessoas a ideia de que os seres humanos poderão
um dia resolver todos os problemas, por mais que prevaleça prática segundo a qual não há outra maneira
de ser gente a não ser aquela que endeusa a tecnologia e economia, por exemplo.
e) (O livro - texto indicará outros elementos para a resposta...)
5. Descreva brevemente (no mínimo cinco linhas) as duas maneiras (a de Sócrates e a de Platão) de
se entender a filosofia e /ou o ato de filosofar, mostrando qual é a principal diferença, e quais as
conseqüências teóricas e práticas desta diferença (por exemplo, na vida de um administrador).
Diferença entre a concepção socrática de filosofia e a concepção platônica da filosofia.
Creio que o texto que os alunos têm em mãos está claro também a este respeito. Importante na resposta é
o seguinte: para Sócrates, a filosofia é a busca da verdade, o amor pela verdade (O BANQUETE), mas esta
busca nunca é realizada total e definitivamente. Busca-se a verdade insistentemente, mas de fato ela
nunca é encontrada. Por isso que Sócrates chega a dizer que filosofia (buscar a verdade) é aprender a
morrer, pois todos morrerão sem terem encontrado a verdade, mesmo podendo nunca ter decidido de a
encontrar. Por isso, para Sócrates o filósofo nunca pode se apresentar como dono da verdade, mas como
alguém que sempre ainda está insatisfeito com o que já alcançou, e por isso sempre vai tender a entrar em
diálogo com outro, e não alguém que simplesmente vai dizer que o outro está errado, embora este outro
possa estar no caminho errado para buscar a verdade
Platão: filosofo é alguém que não só busca a verdade, mas que alcança a verdade... Para ele, o ser
humano é capaz de realizar este desejo, pois se não o realizar sempre haverá impossibilidade de
resolver definitivamente os problemas humanos. E por pensar que se não alcançarmos a verdade, a
gente nunca saberá claramente o que devemos fazer e o que, afinal de contas, é o bem e o mal. Se nao
soubermos a verdade na teoria, nunca saberemos o que a verdade na prática. Em suma, se nao
conhecermos a verdade, a única verdade, a objetiva verdade, a verdade neutra, cientifica, filosófica,
não saberemos direito o que fazer na prática. Por isso Platão vai dizer que o único bom governante, o
melhor governante é o filósofo, ou seja, quem alcançou a verdade, e a pode pôr em pratica. Isso
equivale, na modernidade, a dizer que o melhor governante é o cientista, aquele que sabe das coisas, o
sociólogo, o cientista da política (exemplo: melhor ministro da saúde é alguém da medicina ou da área
da saúde, e não um bom político). E sabedor das coisas da sociedade não só PODE pôr em prática a
verdade que conhece, mas DEVE pô-la em pratica.. e assim fará o bem pra todos, pois a verdade, se
pressupõe, deve valer para todos como verdade, assim como acontece com a matemática...
Mas atenção, Sócrates nunca admitiria que o melhor governante fosse o filosofo...., e nunca admitiria
que o melhor governante hoje fosse um cientista... porque ele não aceita que alguém possa alcançar a
verdade para agir em nome dela depois... Neste sentido, socraticamente se pode defender que a
política deve se basear na opinião mesmo, e não na verdade. Toda vez que um governante aparece e
governa como se agisse em nome da verdade que ele possui teremos governos fortemente
autoritários, e nunca democráticos.
Aqui estão, portanto, conseqüências praticas: alguém que age em nome da verdade, tendencialmente
se tornará mais totalitário, se tornará menos dialogante com os outros. Por isso, como diz Hannah
Arendt, toda a vez que se torna prática a verdade (a verdade que se acredita ser única, objetiva, neutra,
etc..) vai se cair numa espécie de totalitarismo, como o fizeram Hitler e Stalin....ou como o fizeram
ditaduras recentemente em nossa América Latina. Platão defende, pois, que na política se deve por em
prática a verdade, enquanto Arendt diz que é importante agir na política baseado em opiniões, e não
na verdade...Opiniões são várias, e democracia é permitir e estimular a pluralidade de opiniões e de
posições; com opiniões se admitem as diferenças e se tem liberdade, enquanto a verdade é única, e
não admite liberdade (assim como na matemática nao se tem liberdade...), nem diferenças.
Por outras palavras: na perspectiva platônica, se corre um risco: o de querer agir em nome de uma
verdade, que pode não ser bem fundamentada...: pode-se tb querer agir autocraticamente, impondo
de forma autoritária as coisas, em nome da competência... Assim se pode dizer, tendo em conta este
risco: que as grandes revoluções podem ser justificadas platonicamente, mas não socraticamente: os
revolucionários agiram em nome da verdade, e para a porem em prática não temeram em matar
pessoas; o mesmo se diga, por exemplo, de Hitler, de Stalin: mataram em nome da verdade.. Mas
acrescente-se: isso não equivale a dizer que se possa jogar no lixo imediatamente a teoria de Platão,
pois é nela que se baseia a insistência em querer entender bem as coisas, nela que se baseia
praticamente o nascimento da ciência moderna...Galileu, Bacon, Descartes, foram platônicos..
A posição de Sócrates nunca permitiria que se mate em nome da verdade...pois não havendo uma
certeza absoluta de se ter alcançado a verdade, seguramente haverá muito mais cautela para agir em
nome do que se alcançou teoricamente. E se continuará sendo sempre, a vida toda, alguém que
humildemente e respeitosamente aos outros e não agira tão facilmente com violência e truculência em
relação aos outros..
Aqui não se fala tb que as duas posições superam de longe as visões mais comuns de filosofia: de que a
filosofia é pensar meio vagamente, em contraposição a Platão e Sócrates que exigem uma atitude muito
rigorosa, e muito consciente, que trazem posição muito autocrítica, ao contrario de certas visões meio
vagas e gerais de filosofia. É importante que se mantenha claro que filosofia não é qualquer coisa que se
faça teoricamente... E menos ainda filosofia é "estar nas nuvens" e não ter os pés no chão..Afinal, está nas
nuvens quem acredita piamente em todas as modas, quem segue todos os modismos inclusive na maneira
de pensar....
Download