A história se repete? É fato que a história se repete? Há quem diga que a crise econômica que o Brasil atravessa na atualidade é assemelhada aos anos de 1929. Na década de 20 do século passado a crise foi agravada por vários fatores, como superprodução, o subconsumo e a especulação que foi a Quebra da Bolsa de NY. Ou seja, a crise do capitalismo liberal se deu pela falta do consumo que não acompanhou a superprodução e a solução disso tudo foi o New Deal, iniciativa tomada por Franklin Roosevelt para que o Estado intervisse na economia. O governo americano queria aumentar o consumo, diminuir o desemprego, aumentar o poder de compra, além de diminuir os impostos, dinamizar a economia, etc. E podemos afirmar com convicção que esse plano deu certo, pois os Estados Unidos retomou o poder de compra, diminuiu o desemprego, retomou as exportações, principalmente com o Brasil e as indústrias voltaram a funcionar. Deste modo na atualidade brasileira onde a crise política persiste em seguir impactando a agenda econômica e social se reitera a pergunta: O que fazer? Ou seria o que desfazer? E cada segmento possui essencialmente as suas considerações sobre a realidade motivo pelo qual considero elementar retomar alguns elementos conceituais sobre a analise da conjuntura, para que possamos faze-lo de uma maneira cada vez mais conscientes. Analisar a conjuntura tarefa prioritária dos formadores de opinião. O exame da conjuntura é a possibilidade de construção de um diagnóstico sobre a realidade. E será de posse de um “quadro geral” que os sujeitos sociais buscam definir a sua agenda tática e estratégica. Ou seja, não fazemos analise da realidade por uma questão de diletantismo. Especialmente quando realizamos uma analise em meio aos movimentos sociais é fundamental estabelecer uma profunda relação entre o campo teórico e a ação política. Esta analise da conjuntura possibilita ter um olhar mais crítico sobre a realidade em suas múltiplas e complexas dimensões. É preciso construir um caminho para a nossa ação e para tanto é necessário examinar a realidade do ponto de vista do presente sem se esquecer de observar as diferentes possibilidades de médio e longo prazo. É preciso “tratar em profundidade os aspectos recentes das finanças públicas, da política monetária, do setor externo, da agricultura, da atividade econômica, do emprego” entre tantos outros. Ao final da sistematização realizada será preciso traçar a nossa ação, o que indica uma grande relação entre conjuntura e Planejamento. Para que possamos fazer uma analise criteriosa será essencial examinar a evolução dos diferentes índices elaborados por variados institutos de pesquisas. Quanto maior a abrangência e a seriedade destes indicadores maior será a consistência de nossa analise. É importante lembrar também que toda analise da realidade deve ser feita por meio de um método, um jeito que garanta um olhar estratégico para a sociedade. Analise de conjuntura pode ser definida como “busca de possibilidades para ação”. Neste sentido ela só tem validade quando realizada pelos próprios sujeitos sociais, neste sentido a fala de um assessor traz elementos e dados, mas nunca substituirá a análise dos atores da práxis de cada movimento ou instituição. A analise de conjuntura foi um instrumental muito utilizado no final da década de 70 e na de 80, quando da reestruturação dos movimentos sociais na saída da época do regime de ditadura militar, instalado em 1964. No entanto com a crise dos modelos de socialismo real que se instalou na década de 90, por varias razões deixou-se de fazer, ou fez-se menos análise de conjuntura. E isto aconteceu em boa medida porque no momento anterior muitos eram aqueles que compreendiam a história e a conjuntura como um movimento linear e cujo final estava mais ou menos indicado em função de fortes teorias e ideologias. Na atualidade esse instrumental metodológico foi retomado especialmente porque as contradições se complexificaram pondo novas necessidades para o conjunto dos movimentos sociais, das empresas e os governos. Pode-se definir a análise de conjuntura como um estudo sobre o “ possível “ que existe na realidade, não se resume a apenas um estudo sobre a realidade. A analise de conjuntura é feita por “atores” que portam a intencionalidade de transformar a realidade, o que requer um instrumental. Conjuntura implica uma visão de mundo e, toda a análise de conjuntura implica uma análise da estrutura, que procure articular com as ‘ondas de longa duração’. Em razão de determinada leitura da realidade, as correntes políticas se formam. Em razão disto, pode-se compreender a análise de conjuntura como uma chave de ação política. Pode-se situar uma conjuntura em algumas escalas: indo da escala do poder local ao nível regional, nacional e mesmo mundial. Esta escala de análise deve ser definida, pois quanto maior a escala de tempo escolhida, por exemplo, um mês, uma semana, ou um ano, maior a dificuldade de análise dos fatos e acontecimentos. Pontos importantes para organizar a análise de conjuntura: Referencial teórico - Este aspecto diz respeito a um campo de conhecimento, à teoria sobre a sociedade, a história, etc. É evidente que cada agente vai buscar aquela teoria com a qual mais se identifica. E em relação a esta questão é preciso tomar cuidado para não cair no engessamento dos pensadores e das teorias. Até porque cada realidade tem sua originalidade e toda práxis tem que captar esta originalidade, para evitar a copia de modelos. Momentos de uma análise de conjuntura - 1-descrição; 2-análise; 3-síntese. Informação - A análise de conjuntura depende de um grau avançado de informações sobre vários campos da realidade. Neste sentido, é importante se ter fontes de informação, sobre pessoas, dados, fatos e contextos. Escala de tempo/espaço na análise - Pode ser um semestre, um mês, um ano... Mas como falamos acima, quanto maiores as escalas de tempo e espaço mais complexa torna-se a análise. Cenário - qualificar os cenários num tempo e num espaço. Espaços de rua e institucionais. Espaços fechados ou abertos, de elite ou de massa, ativos ou passivos. Atores coletivos/atores individuais - Os principais atores são os coletivos, os grupos, classes, etc. Mas, há indivíduos que têm papel importante na historia. Análise da relação de força – Qual força tem esses atores numa perspectiva mais política? Qual a força dos adversários, dos aliados e dos inimigos? Que capacidade operativa temos para desenvolver determinadas ações e alterar a relação de forças. Síntese – requer clarividência, conhecimento e experiência no sentido de articular uma visão de estrutura com a conjuntura. A práxis política se baseia na capacidade de antecipação. Construção dos cenários e decisão sobre que rumos - Na projeção de cenários, há o jogo das probabilidades que por ser nula, média e alta. Pode-se, assim, prever “o curso provável” dos acontecimentos. Há uma projeção como conhecimento (ver o que pode acontecer), e uma projeção planejada de ações dirigidas aos objetivos (passos táticos e estratégicos, etc). Assim, iremos investir nossas forças nos cenários de alta probabilidade de vitória. É importante também o estudo do adversário. O que pensa? Como age? A análise de conjuntura é importante porque permite situar os atores sobre qual projeto estão construindo. Para mudança no longo prazo,o ideal é combinar forte organização popular com a governos de esquerda nos espaços institucionais. A pressão dos movimentos sociais por políticas públicas, que podem ajudar a alteração da relação de forças. Combinar a ‘guerra de movimento’ com a ‘guerra de posições’, no sentido Gramisciano, acumular forças em certas conjunturas. Às vezes há uma contradição entre estratégia e tática. Se de um dia para o outro muda-se a estratégia é sinal de oportunismo político, pois a estratégia tem caráter de ‘longa duração’, implica princípios,etc.. Por isso, a conjuntura precisa ser feita processualmente. É importante distinguir as várias formas de acúmulo de forças: pode ocorrer derrotas no nível político, mas avançar no nível de consciência. Pode ocorrer derrota no campo militar, mas resultar em ganhos de consciência e organização. As lutas nunca são apenas vitórias ou derrotas. Fortalecer o debate sobre a questão do trabalho, uma prioridade. Quando observamos o tema da jornada de trabalho, verificamos que esta é fixada por lei em termos diários e semanais. De um modo geral a maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento possuem regras que fixam um limite máximo diário e semanal para as horas normais e para as horas efetivas. Porém é também frequente que as partes envolvidas no mundo do trabalho possam por meio de convenções ou acordos coletivos, estabelecer limites inferiores em relação à legislação. O movimento sindical defende há décadas a redução da jornada de trabalho no Brasil para 40 horas semanais sem a redução dos salários, entretanto o que se percebe é que nunca há consenso para que o tema entre na pauta das negociações. É importante que se diga que a possibilidade de redução da jornada de trabalho contribuiria a um só tempo com três questões: a) Igualaria a jornada de trabalho nacional a outras nações modernas; b) Viabilizaria a possibilidade para a geração de mais oferta de trabalho para alguns segmentos sociais; c) Criaria condições para que ao trabalhar menos os trabalhadores pudessem se dedicar mais a atividades de educação, cultura e lazer. Os indivíduos que sustentam opiniões contrárias à ideia da redução da jornada de trabalho quase sempre partem do pressuposto único que esta possibilidade elevaria ainda mais os custos do trabalho reduzindo a nossa competitividade. Não é sem tempo lembrar que ao longo das últimas décadas uma série de equipamentos e processos contribuiu para que em muitos segmentos econômicos houvesse a possibilidade de elevação substancial da competitividade, em que pese às dificuldades de mensurar com precisão a elevação desta questão. Da nossa parte acreditamos que o tema deve ser considerado também em função de outros aspectos na medida em que percebemos que na realidade nacional as questões relacionadas ao trabalho demoram exageradamente para ter uma solução razoável. Vejam o caso da legislação sobre as empregadas domésticas, por exemplo, cuja legislação após sua aprovação demorou cerca de dois anos para que se tornasse possível a sua regulamentação. E mais, quando nos lembramos da demora dos processos de implementação dos programas de Participação nos lucros e resultados que passaram a ser amplamente implementada apenas depois de 1.994 rememoramos que os mesmos faziam parte da legislação desde a primeira Constituição brasileira. Deste modo não nos causou estranheza quando recentemente tenha sido votado no Congresso Nacional o polêmico Projeto de Lei 4330/2004, iniciativa que objetiva regulamentar a terceirização de trabalhadores nas empresas brasileiras. Lembramos que entre as grandes polêmicas estabelecidas em torno desta votação foi a aquela que se refere à liberação de terceirizados para executar atividades-fim da empresa. Até aquele momento as empresas só podiam terceirizar chamadas atividades meio. Ou seja, uma empresa que produz automóvel pode terceirizar a limpeza, o serviço de alimentação entre outros de seus trabalhadores, mas não pode terceirizar a área de montagem dos veículos por exemplo. Lembro ainda que a matéria estava há mais de uma década engavetado e cuja votação que foi aprovada aguardou emendas e na sequencia teve seu curso legislativo concluso. É certo lembrar que a falta de uma adequada regulamentação em relação à terceirização causa enorme insegurança jurídica o que contribui inclusive com um ambiente em que uma série de empresas “empurra” para outras as obrigações trabalhistas dos seus contratados. Quando se consideram as pilhas de processos que complicam a situação do judiciário verificase que apenas no Tribunal Superior do Trabalho - TST - há mais de 16 mil documentos que tramitam em relação à terceirização. No entanto depois da votação do PL 4330 muitas dúvidas voltam à cena nacional. a) Será o caminho da liberalização da terceirização a alternativa que vai garantir uma melhor condição para os ambientes de trabalho? b) Esta iniciativa vai garantir de fato a segurança desejada por segmentos empresariais? Há muitas questões cujo tempo certamente será o senhor da razão. No entanto da nossa parte temos certeza que há muitos outros temas que precisam ser abordados para que o trabalhador possa ser tratado com o devido respeito em todos os cantos. Acreditamos que se faz necessário que o trabalho esteja no centro dos debates da agenda nacional, mas para que isto ocorra será necessária uma efetiva mudança de compreensão em relação ao Brasil, Acreditamos que somente assim haverá novos tempos para a realidade nacional. Vamos ao debate! Faça o que eu mando mas não faça o que eu faço O exame dos números da realidade podem nos ajudar a compreendê-la mas nunca estes poderão substituí-la. Abaixo apontamos alguns dados recentes do Boletim Focus para que possamos ir buscando a compreensão da realidade que nos cerca. Indicadores selecionados da realidade brasileira Indicadores Expectativa 2016 IPCA - % 7,19 IGP – DI - % 7,97 IGPM - % 7,95 IPC Fipe - % 7,39 Tx Câmbio (final período) 3,65 SELIC (Final do período) 13,00 Dívida líquida setor público - % PIB 43 % Crescimento PIB -3,60 % Crescimento Produção Industrial -5,84 Conta Corrente (Bi US$) -15,20 Balança comercial – bi US$ 50,52 Fonte: Boletim Focus – 10.06.2016 – Elaboração Rumo Desenvolvimento Expectativa 2017 5,50 5,60 5,67 5,25 3,81 11,25 47,00 1,00 0,80 -13,40 50,00 O quadro acima apenas confirma o quanto é delicada a atual situação da economia nacional e cujas previsões inspiram muitos cuidados. E mais uma vez reiteramos que certamente as questões relacionadas a economia serão decididas e encaminhadas em função das questões políticas. Quando relembramos o primeiro ano do segundo mandato de Dilma Rousseff era evidente que havia o propósito de converter a situação de déficit fiscal em superávit. No entanto esse objetivo não foi alcançado em função da queda acentuada das receitas. Naquele momento, em cenário de retração econômica, a busca de superávits primários exigia mais cortes, ampliando uma espiral viciosa, que derrubava ainda mais a arrecadação e tornava distante a obtenção dos resultados pretendidos. Agora o que vemos em relação a proposta de ajuste econômico anunciado pelo governo Temer é bastante diferente daquela ensaiado em 2015. Ou seja, depois de tantas criticas apontadas a gestão econômica da Presidenta Dilma a revisão da meta fiscal autorizou quase a dobrar o valor do déficit primário. Esta mudança de postura obedece a uma lógica oposta à de cortes discricionários nas despesas.1 A ampliação do déficit primário para mais de 170 bilhões de reais sinaliza a ampliação dos gastos públicos em curso, em vez do divulgado corte. A meta de superávits primários como porcentual do PIB foi substituída pelo conceito de limite ao crescimento do gasto primário, cuja ampliação deverá ser proporcional à da inflação do ano anterior. Esta nova lógica do “equilíbrio fiscal” sugere impedir o crescimento real do gasto primário em função da redução de sua participação percentual em relação ao PIB, ou seja, não será obtida pelo corte absoluto, mas pela perda da participação relativa decorrente de um crescimento inferior ao da expansão do PIB ao longo dos anos. A meta de déficit fiscal de R$ 170 bilhões em 2016, de aproximadamente 2,8% do PIB, exprime de forma flagrante a aguda crise fiscal brasileira. Supondo juros reais de 6% ao ano e um PIB que cresça 2% a.a., o superávit primário que estabilizaria o crescimento da relação entre a dívida e o PIB seria de aproximadamente 2,9% do PIB. Evidentemente, trata-se de um problema de difícil solução para o atual governo, que já vem sinalizando na direção da adoção de medidas pelo lado das despesas como o limite ao crescimento do gasto público. Por outro lado, deve-se lembrar que parte do desacerto fiscal é de natureza cíclica. O Brasil sofrerá uma queda de quase 8% do PIB no biênio 2015 e 2016. Essa redução diminuiu de forma drástica a arrecadação. Em termos reais, as receitas administradas pela Receita Federal caíram de R$ 868 bilhões em 2014 para R$ 802 bilhões acumulados nos últimos 12 meses findos em abril de 2016, um recuo de 7,8%. Essa queda foi ainda maior do que a do PIB em período quase equivalente — isto é, entre o último trimestre de 2014 e o primeiro de 2016. Dessa forma, a retomada cíclica da economia, cujas opiniões mais otimistas que deve acontecer a partir do final deste ano, deve ajudar a política fiscal. Seria em tese possível que, de forma simétrica ao que ocorreu em 2015 e 2016, as receitas do governo crescessem ainda mais do que o PIB. Assim, um cenário otimista poderia contemplar não só uma retomada da economia mais rápida e intensa do que aquela que se supõe agora, como também uma recuperação da arrecadação ainda mais veloz. Adicionalmente, a melhora fiscal deve reduzir o risco país e, com ele, o custo de financiamento do Tesouro. É necessário repensar o caminho Ao longo das duas últimas décadas os superávits primários não foram capazes de impedir de maneira mais consistente o salto da dívida bruta do setor público, e mais, acompanhamos também a enorme elevação da carga fiscal em relação ao PIB. 1 BELLUZZO, Luiz Gonzaga e GALÍPOLO, Gabriel. Uma estratégia errada. Revista Carta Capital. 01.06.2016. Essa agenda perversa é decorrente dos efeitos de uma prioridade estabelecida pela política monetária elemento central da política econômica pós Plano Real No entanto fica entre tantas perguntas. Será possível arriscar mudanças ao mesmo tempo sustentáveis e responsáveis? A 199ª Reunião do COPOM realizada nos últimos dias 7 e 8 de junho onde mais uma vez analisaram a evolução recente e as perspectivas para a economia brasileira e para a economia internacional fica evidente que a questão da inflação e por consequência a política monetária segue como sendo uma prioridade absoluta o que certamente dificulta a possibilidade de uma alternativa mais consistente. Fontes NASCIMENTO, Claudio. Fonte:http://www.recid.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=778&Itemid= SCHYMURA, Luiz Guilherme. Receita tem equação complexa e governo não deve contar com sua reação. Vol.70 nº06 Junho 2016 - Carta da Conjuntura