RESUMO - Revista Mineira de Educação Física

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ARTIGO
Ana Rosa Fachardo ~ a p e i r*a
RESUMO
Observa-se atualmente que as demonstrações de capoeira, tanto
enquanto treinamento dentro de academias, ou rodas de rua, ou eventos
sagrados para o ritual capoeirístico, como o batizado, têm acontecido em
clima de ansiedade, nervosismo e violência explícita. A busca pela origem
do comportamento agressivo na capoeira se dá no estudo da própria
capoeira enquanto modalidade esportiva, em seu meio, e dos capoeiristas
mestre e aprendiz. Buscou-se, através do levantamento histórico, a
conceituação do termo mandinga entre os capoeiristas e a sua implicação na
demonstração do comportamento relativo a prática de seus fundamentos e
em demonstrações agressivas e violentas. O termo estilização da capoeira,
utilizado pelos capoeiristas para determinar o estilo de cada grupo, não pode
ser correlacionado a Capoeira Angola-Regional, uma vez que tal evento
pouco conserva da originalidade da capoeira em seus aspectos
fundamentais, ideológicos e técnicos. O comportamento agressivo na
capoeira é mistificado pela deturpação do conceito de mandinga. As
motivações intrínsecas e extrínsecas para o comportamento agressivo na
capoeira foram estudadas de acordo com a Psicologia do Esporte e as
Teorias da Agressão e da Aprendizagem. Elementos como o nível de
ativação, a modalidade, as regras do esporte, o comportamento do árbitro
(mestre de capoeira); sentimentos como a frustração, o medo e a ansiedade;
e comportamentos como a imitação de um modelo agressivo e o reforço são
tidos como determinantes da agressividade na capoeira.
Palavras-chave: capoeira, violência, agressividade.
Negros trazidos da África, a partir de 1441, para trabalhar no Brasil
como escravos trouxeram a sua cultura, seu modo de ver, de sentir e de
reagir ao seu dominador - o llomem branco.
* Mestranda em Treinamento Desportivo da Escola de Educação Física da - UFMG
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Na luta pela sobrevivência, contra a violência física e psicológica, o
homem negro criou, através de seu manancial cultural, uma arma para se
defender da opressão branca - a capoeira.
A capoeira é uma luta em sua concepção original, "luta de autodefesa para enfrentar o inimigo ", segundo Almir das Areias, citado por
BARBIERI (1 993).
Segundo Mestre ~ o r o n h a 2(citado por COUTINHO, 1993) a
Capoeira veio da África trazida pelo africano todos nóis sabemos disco
porém não era educada quem educor ella fomos nois bahianos para sua
defeiza pessoal", e é uma "defeiza pecoal de grande valor que é suas
mandingas tracueira para vencer todas parada que apareisa.
Com o advento do Estado Novo (1930 -1945), surge no ano de 1937
a primeira academia de capoeira. Fundada por Manoel dos Reis Machado, o
Mestre Bimba (1899 - 1974), é registrada com o nome de Centro de Cultura
e Capoeira Regional. Em 194 1, Joaquim Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre
Pastinha (1 889 - 1981), funda o Centro Esportivo de Capoeira Angola.
Observa-se atualmente o uso indevido da técnica de autodefesa da
capoeira. O desconhecimento dos fundamentos e a falta de uma filosofia e
de ética remontam os tempos da "capoeiragem", da capoeira transgressão,
quando no ano de 1890 foram criados três artigos no Código Penal
Brasileiro para coibir e punir a atuação dos capoeiristas.
Este estudo visa identificar o momento atual da capoeira sob a ótica
da Psicologia do Esporte e da Sociologia, tratando de aspectos como o
comportamento agressivo na capoeira, seus determinantes e suas
conseqüências para o estado da arte.
Durante a primeira metade deste século - Estado Novo (1930) - as
ideologias que se difundiam pelo Brasil eram baseadas em princípios de
disciplina. A capoeira, como toda a área educacional, sofreu tal influência,
deinarcada por sua segunda fase, denominada "Capoeira Regional".
A inclusão de métodos de treinamento propostos por Mestre Bimba
obteve, em um primeiro momento, a aceitação de muitos capoeiristas. Já em
outra fase, segundo o levantamento bibliográfico realizado, pode-se
observar certo descontentamento de alguns capoeiristas acerca do
2 ~ e x t omanuscrito por Mestre Noronha. Lê-se: "a Capoeira veio da África. Todos nós
sabemos disso. Porém não era educada. Quem educou ela fomos nós baianos para sua (nossa)
defesa pessoal .. defesa pessoal de grande valor que é suas mandingas traiçoeiras para vencer
todas paradas que apareçam".
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comportamento dos "alunos de Bimba" na roda de capoeira. Neste
momento, surge o que parece ser uma nova capoeira.
No entanto, segundo VIEIRA (1995), qualquer cronologia que tente
demarcar e distinguir a capoeira em dois estilos - Angola e Regional - é
falsa, pois a história da capoeira é una:
Geralmente é estabelecido um corte que separa a
capoeira 'moderna' da sua vertente 'tradicional', a saber, a
Capoeira Regional e a Capoeira Angola. Esse tipo de
abordagem, que geralmente trata a Regional como uma
forma 'descaracterizada' da capoeira original, pressupõe
uma dualidade que não se verifica na realidade.
Então, a capoeira é a continuidade de dois momentos - Angola e
Regional - que se diferenciam em características rituais, estéticas e técnicas
da capoeira praticada em nosso tempo (VIEIRA, 1995).
Observa-se que antes da metodização do treinamento da capoeira,
quando ela era praticada somente em dias de festas, dias santos, domingos e
feriados, ocorriam em dados momentos cenas de agressividade e violência
nas rodas. Tais confrontos surgiam tanto entre os capoeiristas como com a
polícia durante a época da perseguição à capoeiragem. Os elementos sociais
classe e origem étnica eram também motivadores de conflitos.
Quando sistematizada, a capoeira passa a objetivar a eficiência,
como descrito anteriormente, e para isso desenvolvem-se treinamentos em
academias.
A capoeira atual, "profundamente marcada pela violência e pela
absorção de técnicas corporais alheias ao seu universo tradicional"
(VIEIRA, 1995), não pode ser vinculada a capoeira regional.
Na análise bibliográfica constatam-se mudanças ocorridas na
capoeira como sinal dos tempos. O grande e primeiro passo dado por Mestre
Bimba como um fim - a eficiência- tornou-se um meio para o surgimento e
desenvolvimento de novos objetivos.
Durante o processo de disseminação da capoeira pós-regional novos
elementos foram incluídos em seu meio: instrumentos musicais, novos
toques de berimbau, novas cantigas e novas formas de se jogar a capoeira.
O jogo da capoeira contemporânea conserva ainda elementos rituais
originais. Entretanto, a performance dos capoeiristas mostra-se bastante
alterada, baseada em objetivos que remontam o quadro da capoeira
transgressão dos anos 30, apesar de se viver hoje um contexto social bem
diferente.
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JAQUEIRA (1996) relata que as variáveis que interferem no
processo ensino-aprendizagem da capoeira são, segundo o depoimento de
mestres "da antiga" e mestres contemporâneos:
3 desconhecimento do tema;
3 desrespeito aos fundamentos;
3 relação mestre-aprendiz;
3 relação entre os diferentes grupos;
s formação indiscriminada de mestres,
s descaso pela cultura nacional;
s ascensão meteórica da capoeira;
s marketing imbutido;
3 prática desconectada da realidade do indivíduo;
s binômio capoeira-esporte; e
s descaso pela história dos brasileiros.
OS "velhos mestres" apontam o desconhecimento dos toques de
berimbau por parte dos capoeiristas atuais como uma forma de
descaracterização da capoeira, A violência é citada por eles como um dos
"principais aspectos da descaracterização" (VIEIRA, 1995).
ANGOLA - REGIONAL
Somente havia a Capoeira Angola, dita "primitiva" por Mestre
Itapoan (1994), em depoimento no "V FESTIVAL GU ARULHUENSE DE
CAPOEIRA", até que o Mestre Bimba criou um sistema de treinamento da
capoeira e o batizou de Capoeira Regional. Tal sistematização incluía novos
golpes, eliminava outros já existentes e se baseava em. seqüências de
treinamento.
Mestre Bimba foi praticante da Capoeira Angola, mas, observando
outras lutas, concluiu que a capoeira precisava se adequar a realidade,
satisfazendo assim as necessidades de defesa pessoal de seus alunos.
Segundo o Mestre Atenilo, em ALMEIDA (1991), Mestre Bimba
convocou todos os capoeiristas (angoleiros ou "alunos de Bimba") para
questionar, entre eles, a eficiência da Capoeira Angola diante das outras
lutas:
Olha, nós temos lutador de judô, boxeur, lutador de
caratê, jiu-jitsu, lutador de luta-livre, se nós Jicar com
essa capoeira de angola quando passar na rua vão dizer:
olhe, disclpulo de filano tomou tapa na rua...
Mediante a aprovação de todos os presentes, nasce a "luta regiona
baiana" (DECÂNIO FILHO, 1996), posterior e atualmente denominads
Capoeira Regional.
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Mestre Canjiquinha, um legítimo representante da Capoeira Angola,
foi aluno de Aberrê (Antônio Raimundo). Segundo MOREIRA (1989), o
jogo do Mestre Canjiquinha contava, já naquela época, com elementos de
outras lutas: "o jogo é combinado - herdado das marmeladas e combates
simulados nos ringues de luta-livre, vale-tudo e greco-romana que o mestre
praticou nas décadas de 50 e 60".
Mestre Canjiquinha, em depoimento a MOREIRA (1989), afirma
que em 1950 era contramestre também do Mestre Pastinha quando o caratê
passou a ser praticado na Bahia. De acordo com o Mestre Canjiquinha,
"antigamente a capoeira era mais bonita, era dançada. Hoje é mais violenta.
E comercial. A explicação: não tinha caratê, não tinha judô".
DECÂNIO FILHO (1996) estabelece uma "relação complementar"
entre Angola e Regional, afirmando que a primeira tem no jogo sua mais
marcante característica e a segunda, a luta. Considera que a Regional e a
Angola formam a:
unidade da Capoeira como jogo e luta... em todo
jogo existe a semente da maldade e em toda luta
encontramos movimentos portadores do germe Iúdico,
dentro do conjunto do aperfeiçoamento do Ser.
Segundo VIEIRA (1995), devido à influência do "espírito político"
de modernização cultural e política da Revolução de 1930 e do Estado
Novo, a capoeira adota a "eficiência como estruturante central da nova
ordem de seus elementos de significação". E atualmente a Capoeira
Regional apresenta "um tipo peculiar de ascetismo, uma concepção de
disciplina, hierarquia e de eficiência combativa.
DELGADO (1993) atenta para a influência da Revolução Industrial
na sociedade através da massificação do público e da frustração por apenas
alguns poucos conseguirem o sucesso e da repressão.
Segundo VIEIRA (1995), a denominação de "estilos" para a
Capoeira Angola e Regional é um equívoco, uma vez que a segunda é a
continuidade da primeira. A atualidade dos seminários, dos encontros e das
rodas abertas contrapõe a idéia de estilos diferei~ciados.
De acordo com o seu estudo, a Capoeira Angola praticada
atualmente nas academias de Salvador é o "esforço de reconstituição da
capoeira dos tempos passados a luz das condições estabelecidas no
presente". Tal reconstituição da Capoeira Angola não condiz com as
características originais dela.
Conforme CAPOEIRA (1988), o Mestre Nestor Capoeira, em
"comentário pessoal", cita os Velhos Mestres como os "conhecedores e
...
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legítimos representantes da capoeira praticada pela geração anterior de
angoleiros". Segundo o autor, tais mestres sentem que "a sua geração
acabou", devido a incompatibilidade da tecnologia e da massificação do
indivíduo com seus valores, conhecimentos e filosofia diante da influência
da televisão.
Quanto a Capoeira Regional contemporânea, observa-se o
desenvolvimento do que é chamado entre os capoeiristas de "estilizaqiío"
da capoeira, fenômeno este que determina padrões sui generis a
determinados grupos. Para VIEIRA (1995), "a imposição de novos padrões
de conduta articula-se com as relações de poder em que os valores aparecem
como expressões de grupos sociais específicos".
FUNDAMENTO DA CAPOEIRA
O fundamento principal da capoeira é a ginga. E dela que surgem
todos os movimentos que irão compor o jogo, inclusive a defesa (esquivas).
ZULU (1989) classifica como essenciais as seguintes características da
capoeira:
- Ritualismo: é a configuração dos preceitos rituais da
capoeira...
- Polirritmo: é o componentefestivo da capoeira...
- Continuidade: consiste na movimentação ininterrupta e
espontânea da capoeira...
- Eficiência: ... está sedimentada na arte de derrubar por
desequil&rio através de rápidos e pequenos contatos;
traumatizar sem rigidez das atitudes, com ações
descontraidas e até acrobáticas; esquivar na ação de
defesa para não receber o impacto da força de um golpe
nem agarrar para não entrar no uso da força.
- Pluralidade: consiste nas várias formas de jogos de
capoeira...
- Estilo: é a maneira caracteristica de cada capoeirista
exprimir psicossomaticamente o seu íntimo através da
Capoeira; é o emergir da individualidade do capoeirista a
partir da interação entre seu mundo interior e seu mundo
exterior por meio da Capoeira.
Brohm, citado por BALBINO (1997), em seu estudo sobre a
simbolização da agressividade, observa ':na interpretação de um estado
agressivo" algo bastante comum no esporte enquanto ritual: uma
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movimentação de precaução com possíveis manifestações agressivas, tanto
por parte do adversârio quanto das torcidas.
SILVA (1993) compara a ginga da capoeira à movimentação natural
e necessária à vida: "a movimentação é a essência da vida, e cada
movimentação leva a um estado de permanente vigília e constante atenção.
Para agir ou contrapor-se a uma ação é necessário movimentar-se".
BARBIEFU (1993) cita como essência do jogo a dissimulação,
expondo as denominações dos Velhos Mestres para tal elemento: "malícia,
truque, falsidade, manha, engano, esperteza, malandragem, o traiçoeiro,
mandinga", que dão origem a outro fundamento base: a surpresa.
Segundo VIEIRA (1995), o termo traiçoeiro "é utilizado
frequentemente pelos mestres da velha guarda com conotação fortemente
positiva, designando o capoeirista que é capaz de iludir o adversário com
sorrisos e simulações".
Mestre ~ o r o n h a 3 ,da Capoeira Angola (citado por COUTINHO,
1993), conceitua como "malícia", na capoeira, o saber esperar a hora de se
confrontar com alguém:
... porque eziste outro encontro. Porque quem apanha
nunca cisquece e quem dá não si lembra. Esta é a malícia do
capoeirista, que corre para não morrer e mata. São este o
fundamento do capoeirista que conhece a sua pro4ssão de
mandingueiro.
A ginga seria mais um simples movimento se não fosse associada à
dissimulação. O movimento da ginga em sua mecânica pode ser explicado e
aprendido por qualquer um. Entretanto, a diferenciação entre gingar e gingar
com "malandragem", "manha", "mandinga" é que determina o grau de
assimilação do capoeirista quanto à sua arte.
De acordo com CAPOEIRA (1988), a "malícia tem dois aspectos
básicos", referentes ao adversário e aos seus sentimentos:
... saber que sentimentos - tais como a agressividade,
medo, orgulho, vaidade, estrelismo - existem em todo ser
humano. Reconhecer o aparecimento desses sentimentos no
outro jogador, prevendo que rumo os acontecimentos
tomarão.
' Texto manuscrito por Mestre Noronha. Lê-se: "...porque existe
outro encontro. Porque
quem apanha nunca se esquece e quem da não se lembra. Esta t a malicia do capoeirista, que
corre para náo morrer e mata. Sáo estes os fundamentos do capoeirista que conhece a sua
profissão de mandingueiro".
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Mestre Paulo dos Anjos, citado por BARBIERI (1993), afirma que
"se alguém quer vadiar, brincar, jogar, é preciso também que esse alguém
saiba lutar".
Mestre Curió, em depoimento no V FESTIVAL GUARÚLHUENSE
DE CAPOEIRA (1995), coiiceitua a mandinga: "mandinga é você mostrar
que não bateu porque não quis".
Nos tempos de hoje o capoeirista mantém (ou não) a essência da
dissimulação do jogo - de acordo com a sua opção comportamental - diante
do parceiro (adversário).
As variantes que interferem no jogo do capoeirista contemporâneo
foram citadas por CAPOEIRA (1988), que faz a relação do homem com seu
meio social: "riquezas mal distribuídas e mal aplicadas, injustiça social,
miséria, guerra, violência, propaganda e consumo, massificação, valores
falsos estereotipados ..." O fundamento da capoeira é a mistura da sociedade
onde o capoeirista vive com uma "forte dose de bom humor", para que ele
não se torne "azedo, amargo, agressivo, árido ou preocupado demais".
NA ATUALIDADE
Considerando-se a definição de CAPOEIRA (1988), do Mestre
Nestor Capoeira, de que o fuiidainento da capoeira é a solna dela inesina
com o indivíduo e a sociedade, e seiido o agente principal dessa tríade o
capoeirista (indivíduo), uma vez que ele executa as ações, deparamo-nos
com o resultado subjetivo dessa adição: a individualidade.
A individualidade a que nos referimos é relativa a subjetividade, a
forina de cada uin ver a realidade e de agir ou reagir a ela. Segundo VIEIRA
(1995), "as características individuais definem-se pela inaneira como o
indivíduo articula os eleineiitos de sigiiificação que lhe são apresentados nos
limites de sua cultura e de seu teinpo".
VIEIRA (1989) atenta para a importância da influência da estética e
da supervalorização de certos gestos e inoviinentos ria capoeira coino
formas de padronização e de imitação. É denominado por ele "clichês
gestuais", resultado da falta de criatividade dos capoeiristas, o que interfere
de inaneira negativa sobre a "caracterização de estilos individuais".
Observa-se que, atualinente, a iinposição de padrões de jogo e de
coinportainento vai aléin dos detalhes dos gestos sui generis de grupos de
capoeira. Os clichês não se liiiiitain mais aos gestos, são determinantes até
de cortes de cabelos. A alienação dos capoeiristas é, assim, fomentada, e a
coiisciência critica deixa de existir desde o processo ensino-aprendizagemtreiiiainento até as atitudes coinportainentais.
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Segundo o Mestre ZULU (1989), "a Capoeira como arte-luta é
também instrumento.de construção da inteligência e do comportamento de
quem a pratica".
A capoeira, em seus fundamentos bksicos de ginga-dissimulaçãosurpresa, confere um grau considerável de subjetividade a qualquer tentativa
de conceituá-Ia. Fica então o capoeirista sujeito as interferências dos
elementos e fundamentos componentes da capoeira (tarefa) e à sociedade e
ao grupo de capoeira ao qual pertence (meio) no momento de construção de
seu jogo (ação).
Max Weber, citado por VIEIRA (1995), conceitua a ação como "um
comportamento humano (tanto faz tratar de um fazer externo ou interno, de
omitir ou permitir) sempre e na medida em que o agente ou agentes o
relacionem com um sentido subjetivo".
SAMULSKI (1995) refere-se a situação de ação no esporte,
considerando a "interrelação de fatores pessoais, ambientais e componentes
da tarefa". Os conceitos subjetivos dos capoeiristas sobre si ou sobre os
outros, os interesses, as atitudes, as motivações e a experiência própria
podem interferir negativamente sobre os determinantes objetivos da ação
(capacidades fisicas e ação do meio ambiente físico).
O jogo é uina forma de readaptação da capoeira ao momento e as
interferências psicológicas e sociais sofríveis. A expressão do jogo codifica
a luta em uma linguagem pertinente a necessidade simbólica do momento.
VIEIRA (1995) afirma que "os cânticos constituein o mais
significativo espaço de representação dos conflitos sociais" e que, sendo
assim, a "luta corporal na roda de capoeira" é mais uina forma de
representação desses conflitos. Os mestres da antiga, entrevistados pelo
autor, afirmam que o "capoeirista podia deinoilstrar sua malícia (ou que era
mandingueiro) ao receber uin golpe, chainando o outro ao pé do beriinbau e,
agachado, fazer uni desafio cantando ao seu contendor".
VIEIRA (1995) aponta para a importância da "evolução das forinas
particulares de representação social presentes rio ritual da roda de Capoeira"
como meio de "eiitendiineiito do processo Iiistórico pelo qual passa a
sociedade brasileira". O autor faz referência a Max Weber ao coriceituar a
ação social: "a coinpreensão da ação torna-se possível ao se descobrirem as
motivações que iinpulsioilarain o agente para uma ou outra ação específica".
Os golpes originais da Capoeira Regional são classificados, segundo
ALMEIDA (1 994), em:
Básicos:aú, cocoriiilia, negativa, rolê...
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Traumatizantes: armada, asfixiante, baú, bochecha, cabeçadas,
chibata, chapéu de couro, calcanheira, cotovelada, chave, godeme,
joelhada, leque, martelo, mortal, meia-lua de compasso, meia-lua
de frente, ponteira, palma, queixada, escorão, esporão, forquilha,
galopante, sapinho, queda de rins, suicídio, telefone, vôo do
morcego.
Desequilibrantes: apanhada, arrastão, balão de lado, banda de
costas, bênção, crucifixo, dentinho, gravata baixa, tesouras,
arqueado, baiana, balão cinturado, banda traçada, cruz, cruzilha,
gravata alta, rasteiras, vingativas.
Muitos destes golpes não mais são ensinados pelos mestres de
capoeira. Existe atualmente a inclusão de golpes de outras lutas na capoeira,
as chamadas "lutas alienígenas" por Mestre Itapoan (1995). Segundo ele, tal
miscigenação de filosofias descaracteriza a capoeira e é um dos fatores que
desencadeiam a agressividade na luta.
A EMOÇÃO NEGATIVA E AGRESSÃO
SAMCTLSKI (1 995) cita Gabler na definição de agressão:
uma disposição permanente (motivo) de uma pessoa para
comportar-se numa determinada situação de forma agressiva.
Um comportamento é denominado agressivo quando existe só
a intenção ou o desejo de prejudicar outra pessoa independentemente da realização da ação agressiva e dos
efeitos prejudiciais pretendidos.
A conduta agressiva refere-se as normas sociais e esportivas quando
desrespeitadas por alguém, com o objetivo de causar prejuízo ou dano
pessoal, provocando lesão corporal ou dor psíquica. A conduta agressiva
explícita busca explicitar o objetivo da conduta agressiva por motivos
intrinsecos.
A agressão instrumental é a conduta agressiva de alguém que quer
impedir outrem de atingir o seu objetivo, causando danos a ele.
Agressões
afetivas são resultado de processos de controle cognitivo
e consciente bloqueados, produzindo ações impulsivas. A culpa e a
frustração pessoal podem levar o indivíduo a auto-agressão.
As variadas formas de violência demonstradas pelas sociedades são
percebidas de maneira diferenciada, de acordo com a influência que ela
causa na sociedade. A violência é uina forma bastante eficaz de se
demonstrar e adquirir o poder.
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No esporte, uma conduta agressiva pode sdrgir em decorrência de
um alto nível de ativação. As regras do esporte; a natureza da modalidade e
a tolerância de colegas, técnicos e adversário é que determinam o nível de
aceitaçgo da agressividade.
A violência é uma forma de agressão em que o indivíduo
pretende lesar intencionalmente outra pessoa. (SAMULSKI,
1995)
Segundo Lazarus (MELLO, 1988), a tensão "implica uma espécie
de transação entre os indivíduos e o meio ambiente". Tal interpretação
considera a situação como que ameaçadora, o que leva a ansiedade e a
alterações fisiológicas. São três os elementos da tensão: o tensor, a
percepção da ameaça e a ansiedade.
A tensão pode gerar sentimentos de medo, ódio, pesar, triunfo ou
alegria, raiva ou até a morte súbita, quando extremada.
Concepção psicológica para a agressão
A agressão é conceituada como uina emoção negativa, assim como
o medo e a raiva. Pode-se conceituar a emoção de acordo coin o senso
comum: "feiiôineiios primordialmente ineiitais"; ou de acordo coin a teoria
de James-Lange, que coi-isidera a emoção "como a percepção consciente
que possui o sujeito dos processos orgânicos e fisiológicos que se
desenrolam em seu organisino"; ou, ainda, sob o ponto de vista de
Woodworth e Cannon, que consideram "a parte desempenhada nas emoções
pelos músculos lisos e estriados, bem como pelas modificações
glandulares", ressaltando tainbéin os processos conscientes iinplicados
(GARRETT, 1974).
De acordo coin tal teoria, há uin impulso que leva a uma atividade
definida (escapar ou lutar, por exemplo). Mudanças fisiológicas
acompanham tal atividade consciente elou comportamento.
O Behaviorisino descoi-isidera o estado mental do indivíduo como
atuante na demonstração de suas emoções.
O surgimento de uina emoção pode ser correlacionado â objetos,
idéias ou eventos e pode ser manifestado voluntária ou involuntariainente. A
seqüência de eventos é: primeiramente a estiinulação, seguida do sentir
subjetivaineiite e do coinportainento.
A própria idéia de ameaça ou a expectativa de perigo faiein com
que o indivíduo n-ianifeste a ansiedade. Tal sentiinei-ito é baseado, real ou
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imaginariamente, no medo da perda material ou afetiva, mas também pode
ser manifestado em resposta a um acontecimento agradável.
Zillmann, citado por CRATTY (1984), afirma que a agressividade
pode ser ativada emocionalmente. De acordo com a sua teoria, a excitação e
a ativação são desencadeadoras da agressividade. Os postulados de sua
teoria são:
-+ componente disposicional: que são as tendências preexistehtes para a
reação.
+ componente excitatório: que é a reação excitatória para atividades
motoras vigorosas ("lutar ou fugir").
-+ componente experimental de comportamento emocional: são as
avaliações das reações no segundo estágio. Tal componente é relativo
a aprendizagem de novos comportamentos.
O estudo do condicionamento emocional conclui que o estímulo
registrado no passado reforça a qualidade da resposta no presente.
SAMULSKI (1995) afirma que a agressão instrumental "se desenvolve
através de processos de aprendizagem social e dependem das intenções e
dos motivos de cada pessoa e da estrutura da modalidade esportiva".
A conduta agressiva do esportista deper.de das características da
modalidade, das regras e do comportamento do árbitro. Durante a roda de
capoeira - treinamento - podemos correlacionar o árbitro ao comportamento
do mestre, responsável pelo andamento do treino.
A presença de torcedores - os quais podem ser os componentes da
roda de capoeira - determina também a qualidade da performance quanto ao
comportainento dos esportistas, pois a interação entre capoeirista e
componentes da roda pode propiciar demonstrações agressivas entre os
jogadores.
Concepção sociopsicológica da agressão
Os estínzulos sociais não diferem nas suas dimensões dos
outros estímulos. Ao contrario, a diferença é só de origem,
provém de outro organismo, do seu comportamento, ou de
produtos de seu comportamento. (KELLER, 1973)
Segundo FERRANDO (1987), as questões sociais interferem de
maneira clara no cotidiano das pessoas. Assim, as condutas agressivas
podem ser classificadas sob a ótica da Sociologia: a crença legitimadora
postula que "qualquer atitude, ideologia ou definição da situação, que
mantém os participantes num tumulto ou desordem, relacionando
diretamente a revolta coin algum problema da estrutura social".
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A influência social no comportamento do indivíduo é claramente
observada, em maior ou menor grau. Mesmo que as leis de conduta sejam as
mesmas para todos, a conduta difere de indivíduo para indivíduo.
A diferenciação na conduta demonstrada pelas pessoas é chamada
de personalidade, sendo formada a partir da história de reforçamento e da
motivação peculiares a cada pessoa.
O desenvolvimento da construção da personalidade, do "eu", iniciase na infância, através da percepção do seu mundo pela criança.
Há uma coerência do comportamento com as suas leis, mas as
vezes ilógica. A pessoa pode demonstrar dois tipos de comportamento sobre
o mesmo fato.
As pessoas tidas como "normais" demonstram uma unicidade em
seu sistema de respostas, o que é chamado de integração da personalidade,
ou seja, uma harmonia entre as respostas aos estímulos.
A continuidade entre as respostas e o autocontrole do
comportamento integrado dão uma visão do indivíduo como um todo. O
contrário também pode ocorrer com pessoas que não desenvolveram a
continuidade entre as respostas. O que resulta desse processo é a
incoerência de respostas diante de diferentes estímulos (situações).
A integração inadequada pode ser demonstrada pelo indivíduo em
casos como: choques emocionais, reforço negativo severo ou ameaça de
punição.
Os motivos (impulsos) sociais para o comportamento humano têm
três origens:
- uma operação de estabelecer;
- o efeitos dessas operações sobre a força momentânea do reflexo,
além das deinais operações de reforçamento; e
- a possibilidade de reforçamento que estas operações de
estabelecimento criam.
um motivo pode ser classificado como social quando as operações
de estabelecimento e reforçamento envolvem a apresentação ou a supressão
de estímulos sociais. Muitas vezes, o que é considerado como iinpulso
social não o é. KELLER (1973) afirma que os desejos de prestígio,
superioridade e aprovação social, por exemplo, não se encontram entre os
impulsos sociais devido as suas operações de estabelecimento e de
reforçamento.
As várias formas de prestígio, por exemplo, quando não
correlacionadas com reforços positivos primários ou com possíveis
punições, tornam-se ineficientes como forma de controle do
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I
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comportamento, ou seja, o comportamento que obteve êxito no passado é
digno de ser repetido. Quando tal comportamento passado não obteve
reforço, mesmo que sob êxito, deixa de ser repetido.
A teoria de instintos e impulsos ('drive ') parte do
princípio que agressão representa um instinto inato,
espontâneo e cumulativo, o qual provoca no organismo
humano uma acumulação contínua de energia agressiva, a
qual deve ser descarregada de vez em quando. (SAMULSKI,
1995)
Os estímulos externos é que vão determinar tal descarga de energia
negativa, que é cumulativa. Há funções na descarga da energia negativa,
como o sentido da defesa do estado vital, de seleção dos mais fortes e
saudáveis e de formação de uma hierarquia.
A teoria Jiustração-agressão parte da hipótese de
que vivências de Jiacasso frustrações) provocam
agressões. Frustração é definida 'como um impedimento
de uma atividade atual dirigida a uma meta.
(SAMULSKI, 1995)
A frustração não provoca diretamente o comportamento agressivo,
aquele que tem o objetivo de prejudicar outra pessoa. O comportamento ou
a conduta agressiva deriva de tendências agressivas; intensidade das
frustrações passadas; quantidade e intensidade das frustrações; e causas da
fmstração. Este comportamento depende do nível de excitação da pessoa e
dos estímulos agressivos externos.
AGRESSIVIDADENA CAPOEIRA
Com base no levantamento bibliográfico realizado por este estudo,
especificamente no histórico da capoeira, podemos afirmar que:
- A capoeira é originalmente uma luta.
- As duas fases do contínuo - Angola e Regional - são marcadamente
caracterizadas pelo caráter marcial.
- O segundo momento, a recriação da capoeira, denominada "Capoeira
Regional", surgiu metodizada e caracterizada como esporte e, sendo assim,
admite regras e competição.
- O fenômeno "Capoeira Regional" surgiu cercado por movimentações
político-sociais que influenciaram claramente essa nova filosofia.
- Na atualidade, a capoeira continua sendo marcada pela movimentação
político-social, que produz, muitas vezes, sentimentos e comportamentos
marginais a sua proposta e ao seu fundamento.
'
i
I
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VIEIRA (1995) desconsidera o surgimento da Capoeira Regional
como forma de descaracterização do moviineiito da arte. Segundo o autor,
tal conceituação é reducionista, posto que a "lógica interna do processo de
mudança ocorrido nas linguagens da capoeira" sofre os efeitos da dinâmica
e das articulações da cultura e da sociedade, respectivamente. O mesmo
autor relata que a Capoeira Regional "apresenta um conjunto de parâmetros
orientadores de conduta que envolvem provas, prêmios, sanções, multas,
insígnias, hierarquia e disciplina".
Ao correlacionarmos os fundamentos da capoeira, encontramos três
grupos de elementos coletados entre os capoeiristas:
- elementos técnicos, como a ginga, as esquivas e os golpes;
- elementos comportamentais: o disfarce, a mandinga, a malícia, o
truque, a dissimulação, a falsidade, a manha, o engano, a esperteza, a
malandragem, o traiçoeiro, que poderiam também ser classificados
como elementos psicológicos; e
- elementosflloso$cos.
BRITO (sld), o Mestre Suíno, afirma que "a linlia filosófica é que
determina a condução ideológica dos traballios de capoeira". Assim,
classifica, dentre outros, a malícia e a violência por "aspectos dicotôniicos"
da ideologia capoeirística.
VIEIRA (1995) afirma que a agressividade demonstrada na
Capoeira Angola e a preocupação com a objetividade da luta "eram apenas
componentes de um cornplexo articulado em torno da noção de mandinga".
Dessa forma, o enfrentainento não era o objetivo dos praticantes daquela
época, e, portanto, eles não treinavam diariamente para aperfeiçoarem-se ein
sua luta. Os encontros dos capoeiristas de Angola se davam somente aos
domingos, dias saiitos e feriados, na rua.
A Ciência do Esporte identifica ein seus estudos o ponto chamado
ponto citimo, ou nível dc ativação, ein que se deve encontrar o atleta no
inoinento da perforinaiice. Ou seja, para lutas e outros esportes, existe unia
forma de determinar o "limiar entre a mandinga e a agressividade", ou até
onde se possa chegar baseaiido-se nos parâinetros do esporte.
O prinieiro parâinetro a se observar para que a qualidade da
capoeira seja malitida são os seus fi~iidaineiitos.As formas de treiiiarnento e
a ideologia foinentada no meio tainbérn são de extrema relevância para o
caráter qualitativo da luta.
Segiiiido Pilzs e Trebels (citados por SAMULSKI, 1995), os
determinaiites da agressão são:
+ genéticos e sociais
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+
+
+
+
+
+
+
+
valores sociais (cooperação/competição)
valores culturais (produção/orgaiiização)
valores político-econômicos (produção/organização social)
condições ecológicas (c l iinalfatores regional/geográfico)
condições de comunicação (espectadores/mídia)
intenções desportivas de ação
inodalidade esportiva
importância da competição
Os determinantes da agressão citados influenciain o comportamento
do atleta, podendo ser expresso sob a forina de agressão, dependendo das
características da inodalidade.
No estudo das teorias sobre a agressão, podemos constatar a
variação nos coiiceitos sobre "iiistintos e impulsos", que considera a
agressão como um instinto inato, e sobre "frustração-agressão", que
considera ser a agressão produto da frustração.
As teorias da aprendizagem constatam os efeitos do "reforço" e do
"modelo agressivo", em que o primeiro estimula comportamentos
agressivos que causaram sucesso e o segundo produz cópias a partir do
modelo agressivo.
A agressividade na capoeira é expressa de forina a alimentar um
tipo de competição desleal e irregrada entre diferentes grupos e indivíduos
do inesmo grupo ou de grupos diferentes, de graduações diferentes ou
inesino iguais. A agressão instrumental é clara' quando o objetivo de se
projetar no meio inspira ações baseadas em modismos e estilização da
capoeira. Justifica essa estilização o fato de que as demonstrações de
violência na capoeira vêin se toriiaiido mais graves. Os determinantes da
agressão citados anteriormente iiidicain claramente os fatores que também
na capoeira coiidiizein a violência.
A avaliação subjetiva do capoeirista sobre a situação da roda é o
fator deterininaiite da einoção negativa. Ele pode se irritar em situação de
rendimento quando avalia suas próprias capacidades e dificuldades da tarefa
capoeira. SAMULSKI (1995) cita Aliner quando relaciona as situações
típicas de irritação na coinpetição, que podein ser observadas no capoeirista
na roda:
Eiii situações de reiidiinento:
o resultado negativo poderia ser evitado por ele mesmo;
outras pessoas impediram o alcance de uin bom resultado (compra do
jogo);
depois de 11111boiii resultado iião se apresenta o efeito esperado; e
quaiido impede sua participação ein uma coinpetição.
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Em situações sociais:
outras pessoas se comportam de forma injusta e indigna; e
outras pessoas se comportam de forma não-confiável e irracional.
Depois da roda (competição), o capoeirista pode experimentar o
êxito, quando o rendimento esperado foi alcançado ou superado; ou o
fracasso, quando na diferença negativa entre o resultado esperado e o
obtido. Segundo Weiner, citado por SAMULSKI (1995), as relações
emocionais dependem da atribuição causal feita pelo atleta:
autoconfiança;
surpresa (sorte); e
orgulho (capacidade ou controle próprio do capoeirista).
A expressão da capoeira sob a forma Regional apresenta
modificações, em relação a Angola, de cunho filosófico, técnico e de
fundamentos.
Já no momento do surgimento da Regional registrou-se a inclusão
de golpes de outras lutas no repertório dos capoeiristas da época, tanto
praticantes da Angola como os "alunos de Bimba". Tal adaptação continua
sendo observada atualmente, mas em detrimento de golpes originais da
capoeira, de alguns fundamentos-base, como a ginga, e de comportamentos
específicos do capoeirista: a mandinga.
Tal evento de eliminação-inclusão de golpes e comportamentos é
denominado, entre os capoeiristas, de esrilização da capoeira. A estilização
atual vai além do conceito obsoleto de Capoeira Angola e Capoeira
Regional, pois não conserva elementos suficientes para identificar-se com o
contínuo Angola-Regional.
A estilização da capoeira interfere na construção da personalidade
dos indivíduos aprendizes, tanto como na fundamentação da arte: muitas
vezes de maneira negativa. O aprendizado, o desenvolvimento, o
treinamento e as fundamentações técnica, filosófica e ideológica da capoeira
não se forinulam a partir da intenção original de defesa-pessoal, mas no
ataque.
O comportamento agressivo na capoeira é mistificado pelo conceito
deturpado de mandinga, marginalizando os capoeiristas e ameaçando-os
pela baixa qualidade de sua performance.
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As motivações intrínsecas e extrínsecas do comportamento
agressivo - violência - compreendem a gama de valores cultivados pelo
capoeirista mestre e pelo capoeirista aprendiz. Auto-suficiência, poder,
ignorância do tema, liderança autoritária, capitalismo, banalização da
violência, carisma, status, alienação e frustração são alguns dos elementos
que interferem negativamente no comportamento do capoeirista dentro de
seu próprio grupo e em relação a grupogdiferentes.
A conduta agressiva, Q b é , . k g ~ d SAMULSKI
o
(1995), "se refere
as normas sociais e esportivas quando desrespeitadas por alguém, com o
objetivo de causar prejuízo ou dano pessoal, causando lesão corporal ou dor
psíquica", possui um certo álibi na capoeira, devido a conceituação de
mandinga ou mandingueiro.
Mestre Curió (1995) afirma que mandinga é "você mostrar que não
bateu porque não quis, é desequilibrar psicologicamente o adversário".
Enquanto luta, como qualquer outra, a capoeira preserva em sua técnica
elementos de ataque e de defesa. O desequilibrar psicologicamente do
Mestre Curió explicita de forma global o sentido ataque-defesa
característico da capoeira.
As várias formas de demonstração de violência produzem efeitos
diferentes, dependendo do grau da influência" que ela produz no meio. A
conceituação teórica do termo mandinga difere de sua demonstração prática,
não Iiavendo nesse momento o limiar entre mandinga e violência.
Tal limiar poderia ser traduzido pelo nível de ativação dos
capoeiristas ao participarem de uma Roda de Capoeira. A tensão gerada pelo
meio pode influenciar negativamente os capoeiristas, produzindo ansiedade
e mascarando intrinsecamente o sentimento de medo, por exemplo, e
produzindo um comportamento agressivo como forma de autopreservação.
SAMULSKI (1995) afirma que a agressão instrumental "se
desenvolve através de processos de aprendizagem social e depende das
iiiteiições e motivos de cada pessoa e da estrutura da modalidade esportiva".
Também o estímulo registrado no passado reforça a qualidade da resposta
no presente.
Eleinentos determinantes do comportamento do atleta, como as
regras, as características da modalidade e o comportamento do árbitro
(também da torcida), podem ser traduzidos para os termos da capoeira como
o coinportainento dos capoeiristas, as regras, o ritual e os fundainentos, o
caráter da luta e a interferência do mestre de capoeira (também dos
coinponentes da Roda). Tais eleinentos deterininain o comportamento dos
capoeiristas que estão jogando.
Tainbém as teorias da aprendizagein ressaltam influenciadores para
o comportainento agressivo, como o reforço e a imitação de uin modelo
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agressivo. As teorias da agressão apontam para os instintos e impulsos e
para a fmstração como elementos desencadeadores da agressão.
Tratando especificamente da capoeira, podemos concluir que:
- As demonstrações de capoeira que hoje se fundamentam no ataque
e na violência nada conservam do continuo Angola-Regional que possa ser
classificado como capoeira. Segundo VIEIRA (1995), o momento Regional
"apresenta um conjunto de parâmetros orientadores de conduta que
envolvem provas, prêmios, sanções, multas, insígnias, hierarquia e
disciplina. Tais parâmetros lhe conferem a designação de esporte, o que
permite a exigência de observação as regras.
- A filosofia da capoeira, enquanto Angola, enquanto Regional,
também é um forte determinante do comportamento de seus adeptos.
- A avaliação subjetiva do capoeirista sobre a situação da Roda de
Capoeira é um fator determinante da conduta agressiva.
- A atuação do inestre de capoeira enquanto educador, modelo e
transmissor de cultura é primordial para a preservação da arte, da ética e da
integridade física, moral e psicológica de seus alunos.
ABSTRACT
Capoeira:from mandinga to violence
Nowadays, it is observed that the capoeira demonstrations, while
indoor training, or street groups, or sacred events to capoeira rituals as the
baptism, have been happening with anxiety, nervousness and explicit
violence. The search for the origin of capoeira aggressive behavior stays in
the study beyond capoeira while sporting modality, and with master and
apprentice capoeira players. Through historical research, the meaning of the
term mandinga beyond capoeira players was looked for and its implication
in the demonstration of behavior related to the practice of your basis and in
aggressive and violent demonstrations. The term style process from
capoeira, used by the players to determine the style of each group, cannot be
correlated to the Angola-regional Capoeira, once that such event do not
preserve the capoeira originality in the fundamental, ideological and
technical aspects. The aggressive behavior in capoeira is mystified by the
distortion of mandinga concept. The intrinsic and extrinsic motivations for
the aggressive behavior in capoeira were studied in agreement with the
Sport Psychology and the Theories of Aggression and Learning. Elements
as the activation leve], the modality, the sports rules, the referee's behavior
(capoeira master); feelings as frustration, fear and anxiety; and behaviors as
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-
-
aggressive model iinitation and reinforceinent are considered determinant of
aggressiveness in capoeira.
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