contribuição da serrapilheira na ciclagem do carbono e nitrogênio

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Anais da Jornada Científica – Integração: Educação, Sociedade e Tecnologia
CONTRIBUIÇÃO DA SERRAPILHEIRA NA CICLAGEM DO CARBONO
E NITROGÊNIO EM FLORESTAS INUNDÁVEIS NO NORTE DO
PANTANAL
CAVALCANTE, Jéssica, Karina Guedes1; DIAS, Vanessa Rakel de Moraes2;
SANCHES, Luciana3; SALLO, Fernando da Silva4.
INTRODUÇÃO: O Pantanal Mato-grossense é considerado a maior planície
inundável do mundo. No território brasileiro ocupa 138.183 km2, além de englobar parte do
Paraguai e Bolívia. Em virtude de sua grande extensão territorial, esse patrimônio natural
abriga uma enorme biodiversidade em fauna e flora, contudo nos últimos anos, essa rica
diversidade tem sido ameaçada pela expansão agropecuária (Adámoli, 1982; Junk & Cunha,
2004).
Apesar da crescente pressão humana sobre a extensão e a integridade das áreas
alagáveis, especificamente em regiões tropicais (Tockner & Stanford, 2002), existe um alto
déficit de conhecimento da biodiversidade. Neste contexto, o estudo da contribuição da
serrapilheira na ciclagem de carbono e nitrogênio pode contribuir para compreensão da
dinâmica dos ecossistemas pesquisados.
A serrapilheira é a camada orgânica gerida pelo material que cai da parte aérea das
plantas e pelo índice de decomposição desse, respondendo por grande parte da ciclagem
de nutrientes. Vale ressaltar que essa camada contribui para a recuperação e a
conservação de áreas degradadas (Andrade et al., 2003).
Conforme Selle (2007), a serrapilheira constitui-se como uma fonte que transfere
nutrientes para os vegetais, sendo essa camada orgânica a principal responsável pela
disponibilização de nutrientes, sobretudo, nitrogênio e fósforo, ao ecossistema.
OBJETIVO: Assim sendo, o presente trabalho teve como objetivo verificar a
contribuição da serrapilheira na ciclagem do carbono e do nitrogênio em florestas no Norte
do Pantanal Mato-grossense, tendo sido selecionados dois ecossistemas, um denominado
de Cambarazal e o segundo de Acurizal.
METODOLOGIA: O estudo ocorreu em duas florestas na Reserva Particular do
Patrimônio Natural (RPPN) do Serviço Social do Comércio (SESC)-Pantanal, município de
Poconé, Mato Grosso, nas coordenadas 16º30’42”S e 56º24’73”O. O clima local é
1
Bolsista de iniciação científica; UNEMAT, Tangará da Serra-MT; [email protected].
Química; UNEMAT, Tangará da Serra-MT; doutoranda em Física Ambiental, UFMT; [email protected].
3
Engenheira ambiental, professora titular; UFMT, Cuiabá-MT; [email protected].
4
Doutorando em Física Ambiental, UFMT, Cuiabá-MT; [email protected].
2
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classificado
como
Aw
segundo
Köppen,
com
precipitação
média
anual
de,
aproximadamente, 1.400 milímetros por ano, com máxima em janeiro e mínima em julho. A
temperatura varia entre 22°C e 32°C. A inundação acompanha o período chuvoso e a
oscilação anual do nível da água do rio Cuiabá sendo influenciada pela precipitação local e
a difícil drenagem do solo (Cunha & Junk, 2004; Arieira & Cunha, 2006). Os solos são de
origem sedimentar, alternando-se em fases argilosa e arenosa de forma descontínua, com
dominância de solos hidromórficos compondo 92,5% do total (Amaral Filho, 1984).
Foram selecionados dois ecossistemas de relevância, sendo uma das áreas com
dominância de Vochysia divergens Pohl, conhecida como Cambarazal, e a outra
predominância de Scheelea phalerata (Mart. Ex Sperng.) Burret, conhecida como Acurizal. E
ambas as áreas de estudo foi estabelecido um transecto em que foram instalados em cada
local 11 coletores metálicos de 1 m2 de área e 1 m de altura, recobertos com malha de nylon
de 2 mm de abertura, em distâncias de 10 metros entre si (Figura 1). Os coletores foram
instalados com altura similar a coletores adaptados ao monitoramento de áreas alagáveis
(Haase et al., 1999).
Figura 1. Coletor de serrapilheira instalado nas áreas de Cambarazal e Acurizal no norte do Pantanal Matogrossense em 2014.
A serrapilheira produzida foi coletada mensalmente, de janeiro a dezembro de 2014,
e levada ao laboratório onde cada amostra foi transferida para sacos de papel kraft, pesada
separadamente em balança de precisão (modelo UX 4200H, Shimadzu, Japão) e colocada
em estufa de circulação forçada (modelo MA 035, Marconi, Brasil) a uma temperatura de
70°C durante 72 h ou até a massa constante. Cada amostra foi triturada em moinho (modelo
MA 330, Marconi, Brasil) e acondicionada em recipientes de vidro para posterior análise
química. As análises de carbono orgânico total e nitrogênio das amostras de serrapilheira
foram realizadas utilizando-se o Analisador Automático CHN (modelo HT 300, Analytik Jena,
Jena, Alemanha).
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RESULTADOS: O presente estudo verificou o comportamento da serrapilheira ao
longo do ano tanto no Cambarazal quanto no Acurizal, florestas dominantes presentes no
norte do Pantanal Mato-grossense.
Conforme o gráfico da figura 2, o Cambarazal foi o ecossistema responsável pela
maior produção de serrapilheira ao longo do ano, sendo o mês de agosto o de valor máximo
(170,61 g m-2 mês-1) e o mês de novembro o de valor mínimo (49,17 g m-2 mês-1). Enquanto,
a floresta com dominância de acuri apresentou os menores valores de serrapilheira
produzida quando comparada ao primeiro ecossistema, sendo o mês de setembro o de valor
máximo (124,23 g m-2 mês-1) e o mês de dezembro o de valor mínimo (g m -2 mês-1). Os
meses de agosto e setembro foram os de maior produção de serrapilheira no Cambarazal e
no Acurizal, respectivamente, devido ao período de seca na região, onde ocorre pouca ou
nenhuma precipitação durante esses meses.
Acorizal
Cambarazal
-1
Produção de serrapilheira (g m mês )
300
-2
250
200
150
100
50
0
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Mês
Figura 2. Média (±DP) da serrapilheira produzida no Cambarazal e Acurizal no norte do Pantanal Matogrossense em 2014.
No gráfico da figura 3, é possível verificar a concentração de carbono presente na
serrapilheira produzida tanto no Cambarazal quanto no Acurizal ao longo do ano, sendo
possível inferir que o segundo ecossistema apresenta maiores concentrações de carbono,
contudo, o Cambarazal exibiu concentrações muito próximas das apresentadas pelo
Acurizal. É necessário ressaltar que a serrapilheira concentra de duas a três vezes mais
carbono do que a atmosfera (Couteaux & Berg, 1995).
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Acorizal
Cambarazal
-1
Carbono presente na serrapilheira (g Kg )
600
500
400
300
200
100
0
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Mês
Figura 3. Média (±DP) da concentração de carbono presente na serrapilheira produzida no Cambarazal e
Acurizal no norte do Pantanal Mato-grossense em 2014.
No gráfico da figura 4, observa-se a variação da concentração de nitrogênio presente
na serrapilheira produzida no Cambarazal e no Acurizal, permitindo averiguar que a floresta
com dominância de acuri apresentou as maiores concentrações do nutriente mencionado,
sendo o mês de fevereiro e de agosto os de maiores e menores concentrações,
respectivamente. Isso se deve ao fato de que nos períodos chuvosos há uma maior
concentração de nitrogênio (LUIZÃO, 1989).
Acorizal
Cambarazal
-1
Nitrogênio presente na serrapilheira (g Kg )
25
20
15
10
5
0
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Mês
Figura 4. Média (±DP) da concentração de nitrogênio presente na serrapilheira produzida no Cambarazal e
Acurizal no norte do Pantanal Mato-grossense em 2014.
CONCLUSÕES: O Cambarazal foi o ecossistema responsável pela maior produção
de serrapilheira ao longo do ano, sendo o mês de agosto o de maior produção. O Acurizal
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apresentou altas concentrações de carbono ao longo do ano e as maiores concentrações de
nitrogênio, sendo o mês de fevereiro e de agosto os de maiores e menores concentrações,
respectivamente. Durante o período chuvoso há uma maior concentração de nitrogênio na
serapilheira.
AGRADECIMENTOS: À FAPEMAT e ao CNPq por fomentarem a pesquisa no
Pantanal; à RPPN pelo apoio logístico; à FAPEMAT pela bolsa concedida à primeira autora.
PALAVRAS-CHAVE: Ciclagem de nutrientes, Vochysia divergens, área inundável.
REFERÊNCIAS:
ADÁMOLI, J. O Pantanal e suas relações fitogeográficas com os cerrados: Discussão sobre
o conceito de complexo do Pantanal. In: Congresso Nacional da Sociedade Botânica do
Brasil, Teresina, 1982. Anais: Universidade Federal do Piauí, 1982, p. 109-119.
AMARAL FILHO, Z. P. Solos do Pantanal Mato-Grossense. In: Simpósio sobre Recursos
Naturais e Socioeconômicos do Pantanal. Anais. EMBRAPA-CPAP-UFMS, Documentos,
5. 1984. 265p.
ANDRADE, A. G.; TAVARES, S. R. L.; COUTINHO, H. L. C. Contribuição da serrapilheira
para recuperação de áreas degradadas e para manutenção da sustentabilidade de
sistemas agroecológicos. Informe Agropecuário: Belo Horizonte, v.24, n.220, p.55-63,
2003.
Disponível
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<http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/Art6_IA220_contr_da_serrapilhaIDmN5PKyNJTD.pdf>; acesso em: 13/07/2015.
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monodominante de Vochysia divergens Pohl. (Vochysiaceae), no Pantanal Norte, MT, Brasil.
Acta Botânica Brasílica, 20(3): 569-580, 2006.
COUTEAUX, M. M.; BERG, P. B. B. Litter decomposition climate and litter quality. Trends in
Ecology and Evolution, Cambridge, Grã-Bretanha, v. 10, n. 2, p. 63,66, 1995.
CUNHA, C. N.; JUNK, W.J. Year-to-year changes in water level drive the invasion of
Vochysia divergens in Pantanal grasslands. Applied Vegetation Science, 7:103-110, 2004.
HAASE, R. Litterfall and nutrient return in seasonally flooded and non-flooded forest of the
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Luizão, F.J. Litter production and mineral element input to the forest floor in a central
Amazonian forest. Geol. Journal, 19:407- 417, 1989.
MATOS, L. V.; CAMPELLO, E. F. C.; RESENDE, A. S.; PEREIRA, J. A. R.; FRANCO, A. A.
Plantio de leguminosas arbóreas para produção de moirões vivos e construção de
cercas
ecológicas.
Embrapa
Agrobiologia,
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Disponível
em:
<http://sistemasdeproducao.cnptia.embrapa.br/FontesHTML/Moirao/MoiraoVivoCercaEcolog
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SELLE, G. L. Ciclagem de nutrientes em ecossistemas florestais. Biosci. J: Uberlândia,
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