UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE DIREITO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO Curso de Mestrado em Direito Público Metodologia da Pesquisa em Direito Prof. Dr. Rodolfo Pamplona Prof. Dr. Nelson Cerqueira TEMA “A Escritura e a Diferença” Jacques Derrida RESENHA, QUESTÃO PARA DISCUSSÃO E REDAÇÃO DE APROVEITAMENTO Charles Silva Barbosa Salvador/BA 25 de abril de 2010 SUMÁRIO 1.0 TEXTOS – “Escritura e a diferença” ___________________________ 3 1.1 Referência ________________________________________________________ 3 1.2 Apresentação do Autor ___________________________________________ 3 1.3 Apresentação da Obra ____________________________________________ 5 1.4 Perspectiva teórica da obra _______________________________________ 5 1.5 Resumo da obra __________________________________________________ 6 2.0 QUESTÃO PARA DEBATE ____________________________________ 11 2.1 Enunciado _______________________________________________________ 11 2.2 Reflexões preliminares ___________________________________________ 11 3.0 REDAÇÃO DE APROVEITAMENTO ___________________________ 12 2 1.0 TEXTOS – “Escritura e a diferença” 1.1 Referência Derrida, Jacques. A Escritura e a Diferença. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2009. 1.2 Apresentação do Autor Jacques Derrida nasceu em 15 de julho de 1930, na localidade de El-Biar, Argélia, e faleceu no dia 08 de outubro de 2004, em Paris. De origem judaica, passou infância e adolescência circundado pela colonização e guerra, que marcavam o Estado argelino naquela época. Em 1949, mudou-se para Paris e ingressou no curso preparatório para a École normale supérieure, sendo admitido ali três anos mais tarde. Dedicou-se notadamente à análise da escritura, circunstância que o conduziu até a fenomenologia de Husserl. Completou seus estudos superiores com a dissertação "O problema da gênese na filosofia de Husserl". Em 1956, é aceito na agrégation, recebe uma bolsa de special auditor para a Universidade de Havard, em Cambridge, para consultar ali microfilmes dos inéditos de Husserl, de quem começa a traduzir L'Origine de la geométrie. Em junho de 1957, casa-se com Marguerite Aucouturier, com quem terá dois filhos: Pierre, em 1963, e Jean, em 1967. Entre 1957-59, presta serviço militar na Argélia como professor numa escola para filhos de militares em Koléa, perto de Argel. De volta à França, dá sua primeira conferência em Cerisy-la-Salle. A partir de 1960, ensina filosofia na Sorbonne, como professor-assistente. Publica seus primeiros trabalhos nas revistas Critique e Tel quel. Em 1964, recebe o prêmio Jean-Cavaillès de epistemológica, pela tradução de A Origem da Geometria, da qual derivou o Introduction à L'Origine de la geométrie.. 3 Passa a ensinar, a convite de Hyppolite e de Althusser, na École normale supérieure, onde permaneceu até 1984 como professor-assistente. Em 1966, participa em Baltimore (Universidade Johns Hopkins) do simpósio internacional As Linguagens da Crítica e as Ciências do Homem, com a comunicação Estrutura, Signo e Jogo no Discurso das Ciências Humanas, que o tornou célebre e marcou uma relação de aproximação com a instituição universitária nos Estados Unidos. Publica, em 1967, seus três primeiros livros: Gramatologia, A Escritura e a Diferença e A voz e o Fenômeno. A partir de então, se avolumam as publicações (cf. http://membres.lycos.fr/farabi/biblio/Livres.html) e sua atuação como professor palestrante se estende a várias universidades na Europa e fora dela. A partir de 1975, nos Estados Unidos, depois de ter dado seminários na Universidade Johns Hopkins, passa a ensinar, algumas semanas por ano, em Yale, junto com Paul de Man e Hillis Miller. Intensifica-se, nessa época, sua relação com os Estados Unidos, quando grande parte de sua obra começa a ser traduzida ali. Ofereceu seminários todos os anos no período de dezembro a março, na École des hautes études en sciences sociales em Paris. Nos Estados Unidos, seus seminários aconteciam, em todas as primaveras, na Universidade da Califórnia, Irvine e nas Universidades de Nova York e Columbia, no outono, ano após ano. Jacques Derrida esteve no Brasil por duas ocasiões. Em 1995, num evento organizado pela USP e PUC-SP, o Professor profere, no grande auditório do MASP, a palestra História da Mentira: prolegômenos, cuja tradução foi feita por Jean Briant e publicada em Estudos Avançados 10, pela Edusp em 1996. Em junho de 2001, participou junto com René Major, no Rio de Janeiro, dos Estados Gerais da Psicanálise. Os principais temas discutidos foram: 1. Derrida e a Psicanálise; 2. Hospitalidade e Amizade; 3. Crueldade e Soberania; 4. O Futuro do Homem Face à Tecnologia. Publicou também: Sur parole, Marx em jeu, Adeus a Emmanuel Levinas, Do Espírito a la faculte de juger. 4 1.3 Apresentação da Obra A Escritura e a Diferença é formada por uma coletânea de artigos e conferências que se relacionam com o movimento estruturalista, integrado por Jacques Derrida. Nas edições brasileiras, a obra fez parte da coleção “Debates”, da Editora Perspectiva, passando atualmente a compor a coleção “Estudos”, com ampliação de mais três ensaios, conforme se verifica da estrutura da obra, que a seguir se apresenta: Força e significado Cogito e História da Loucura Edmond Jabés e a Questão do Livro Violência e Metafísica: Enmsaio sobre o Pensamento de Emmanuel Lévinas “Gênese e Estrutura” e a Fenomenologia A Palavra Soprada Freud e a Cena da Escritura O Teatro da Crueldade e o Fechamento da Representação Da Economia Restrita à Economia Geral: Um Hegelianismo Sem Reserva A Estrutura, o Signo e o Jogo no Discurso das Ciências Humanas Elipse 1.4 Perspectiva teórica da obra Considerada a diversidade de temas abordados por Derrida, a perspectiva teórica da obra converge para a própria perspectiva do estruturalismo – doutrina filosófica que considera a noção de estrutura fundamental como conceito teórico e metodológico, podendo ainda ser 5 abordado como uma concepção metodológica em diversas ciências que tem como procedimento a determinação e a análise das estruturas. Trata-se, pois, o estruturalismo, de uma das principais correntes de pensamento, sobretudo nas ciências humanas, do séc. XX, decorrente do estudos de Ferdinand de Saussure (1857-1913), que propôs uma abordagem da língua como um sistema no qual cada um dos elementos só encontra a sua definição a partir das relações de equivalência ou de oposição que mantém com os demais elementos. Justamente esse conjunto de relações forma a estrutura. Em outras palavras, Ferdinand de Saussure vislumbra na linguagem “a predominância do sistema sobre os elementos, visando extrair a estrutura do sistema através da análise das relações entre os elementos”. Assim, a linguística teria por objeto não a descrição empírica das línguas, mas a análise do sistema abstrato que constitui as relações lingüísticas. O método estruturalista foi aplicado em diversas vertentes científicas, tais como lingüística, antropologia, psicologia, no que busca explorar as inter-relações (as "estruturas") por meios das quais o significado é produzido dentro de uma cultura. São alguns dos integrantes do estruturalismo na Europa: Ferdinand de Saussure, Émile Benveniste, Claude Lévi-Strauss, Jacques Lacan, Michel Foucault , Jacques Derrida e Louis Althusser. 1.5 Resumo da obra Importa destacar, inicialmente, que os textos de Derrida versam sobre os mais diversos temas, com um ponto em comum: a sua preocupação com a linguagem e a escrita, cujos elementos são trabalhados e discutidos a partir dos conceitos de “desconstrução” e “diferença”. 6 Desconstruir na perspectiva de Derrida significa decompor o texto para descortinar elementos que estão ocultos e, por isso, obstam a compreensão do que deve ser implementado. Importante, para compreensão, destacar a seguinte explicação, extraída de uma das obras auxiliares: A distinção entre “Différence” e “Différance” “está na substituição proposital do “e” pelo “ a” . A Différence é o vocábulo aceito pela norma culta francesa (gramática francesa) que significa dentre outras definições ser diferente do senso comum. Différance é um neografismo que Derrida cunhou em 1967 para questionar algumas posições de Saussure.” “O “a” da Différance proposta por Derrida só é percebida (no idioma francês) na escrita, visualmente. O indivíduo lê, mas não se ouve, e nesse contexto “cai por terra” a afirmação de Saussure e de seus seguidores de que a escrita tem a função única de representar a fala.” “Neste caso, há uma inversão de papéis, pois tem-se que recorrer a escrita para notar a existência do “ a” da Différance. Saussure via a escrita como a deformação da linguagem e atribuía-lhe um caráter secundário, para ele a única razão de ser da escrita é representar a fala. Saussure questiona a importância que se dá à representação do signo vocal (escrita).” “Segundo seus ensinamentos é como se acreditássemos que, para conhecer uma pessoa, valesse mais a pena contemplar sua fotografia do que seu rosto. Derrida contesta essas posições em suas obras. Ademais o conceito da Différance de Derrida traz uma pluralidade de sentidos: divergência, discordância, oposição, distinção, espaçamento (um diferente só é diferente em relação ao outro) e temporização (é impossível identificar a diferença no presente simples, sem traçar uma relação com o passado ou futuro).” Em “força e significação”, Derrida esclarece, de logo, que “Se um dia a invasão estruturalista batesse em retirada, abandonando suas obras e seus sinais nas plagas historiador das idéias. Talvez mesmo um objeto. Mas o historiador cometeria um erro se assim fizesse: o próprio gesto de a considerar 7 como um objeto o levaria a esquecer o seu sentido, e que se trata antes de mais nada de uma aventura do olhar, de uma conversão na maneira de questionar todo o objeto. Os objetos históricos — os seus — em especial. E entre eles, muito insólita, a coisa literária.” A fecundidade estruturalista indicada por Derrida como locus da nossa vivência, enseja ser demasiado cedo para chicotear nosso sonho. Nesse âmbito tem-se que se raciocinar o que poderia significar, já que o relaxamento ou lapso da atenção à força, que consubstancia a tensão da própria força pode ser assim interpretado. O fascínio pela forma fascina representa a absoluta ausência da capcidade de se compreender o interior – vale dizer a força de criar. Por esta razão, esclarece Derrida, “a crítica literária e estruturalista em qualquer época, por essência e por destino. Ignorava-o, compreende-o agora, pensa-se a si própria no seu conceito, no seu sistema e no seu método.” Há que compreender, portanto, que a “neutralização pela forma constitui um ato do autor antes de ser o ato do crítico e pelo menos em certa medida — mas é de medida que se trata —. esta afirmação é correta. Em todo o caso, hoje declara-se mais facilmente o projeto de pensar a totalidade e um projeto como este escapa também por si próprio às totalidades determinadas da história clássica. Pois é um projeto de as superar. Deste modo o relevo e o desenho das estruturas tornam-se mais visíveis quando o conteúdo, que é a energia viva do sentido, se encontra neutralizado. Um pouco como a arquitetura de uma cidade desabitada ou destruída, reduzida ao esqueleto por uma catástrofe da natureza ou da arte.” A influência de Husserl no pensamento de Derrida é deveras marcante, já que o conceito de essência se faz presente na sua obra, notadamente no tocante às observações acerca da ausência do problema "estrutura-gênese". Veja, pois, a seguinte passagem: “Nesta fenomenologia em que, à primeira vista e se nos deixarmos inspirar por esquemas tradicionais, os 8 motivos de conflitos ou de tensões parecem numerosos (é uma filosofia das essências sempre consideradas na sua objetividade, na sua intangibilidade, na sua aprioridade; mas é, no mesmo gesto, uma filosofia da experiência, do devir, do fluxo temporal do vivido que é a última referência; é também uma filosofia na qual a noção de "experiência transcendental" designa o próprio campo da reflexão, num projeto que, aos olhos de Kánt, por exemplo," pertenceria à teratologia), não haveria portanto nenhum choque, e a mestria do fenomenólogo no seu trabalho teria assegurado a Husserl uma serenidade perfeita no uso de dois conceitos operatórios sempre complementares. A fenomenologia, na clareza da sua intenção,seria portanto ofuscada pela nossa questão prévia.” Esclarece, todavia, que “Husserl tenta portanto constantemente conciliar a exigência estruturalista que conduz à descrição compreensiva de uma totalidade, de uma forma ou de uma função organizada segundo uma legalidade interna e na qual os elementos só têm sentido na solidariedade j da sua correlação ou da sua oposição, com a exigência genetista, isto é, a exigência da origem e do fundamento da estrutura. Poder-se-ia contudo mostrar que o próprio projeto fenomenológico resultou de um primeiro fracasso desta tentativa.” Derrida transmite a suspensão na angustia que represente a posição dos escritores e sustenta que ”A escritura é.a angústia da ruah 1 hebraica sentida do lado da solidão e da responsabilidade humanas; do lado de Jeremias submetido aos ditames de Deus ("Pega um livro e nele escreverás todas as palavras que te disse") ou de Baruc transcrevendo os ditames de Jeremias, etc. (Jeremias 36-2, 4); ou ainda a instância propriamente humana da pneumatologia, ciência do pneuma, spiritus ou logos, que se dividia em três partes: a divina, a angélica e a humana. É o momento em que é preciso decidir se vamos gravar o que ouvimos. E se gravar salva ou perde a palavra.” 1 Ruah é uma palavra hebraica que representa espírito, sopro de vida. Nas escrituras hebraicas “ruah elohim” é o vento criativo de Deus. Corresponde ao Pneuma (grego) e ao Spiritus (latim). 9 Aduza-se, ainda, que “A consideração "objetivista" ou "mundana" da escritura nada nos ensina se não a referirmos a um espaço de escritura psíquica (dír-se-ia de escritura transcendental no caso de, com Husserl, se ver na psique uma região do mundo. Mas como é também o caso de Freud, que quer respeitar ao mesmo tempo o estar-no-mundo do psíquico, o seu ser-local, e a originalidade da sua topologia, irredutível a toda a intramundaneidade vulgar, é preciso talvez pensar que o que descrevemos aqui como trabalho da escritura elimina a diferença transcendental entre origem do mundo e estar-no-mundo. Elimina-a produzindo-a: meio do diálogo e do mal-entendido entre os conceitos husserliano e heideggeriano de estar-no-mundo).” Essa concepção, pois, nos conduz a refletir acerca do papel dop escritor e do peso da linguagem, justamente no momento em que se deseja transmitir uma idéia e a escrita não lograr encerrar a carga axiológica que desejamos. Nesse ponto o estar-no-mundo psíquico há que ser derivado da apreensão do mundo sensível, como um estar-no-mundo. Representar o que desejamos transmitir é, antes de tudo, um modo de ser-no-mundo, 10 2.0 QUESTÃO PARA DEBATE 2.1 Enunciado Relacione o título da obra de DERRIDA com a crítica, de matriz heideggeriana e exposta pelo próprio autor, feita ao cientificismo e ao mecanicismo. Em que medida pode-se compaginar tais idéias com a noção de “auto-distanciamento da fala”, trazida por GADAMER? 2.2 Reflexões preliminares “A escrita e a diferença” quer representar a natureza incompleta do texto, vale dizer, dos signos que o compõe, sobretudo pelo que resta não revelado. Assim, a desconstrução do texto para revelar o que a ele subjaz, bem como a atividade que o intérprete desenvolve sobre o texto implica a multiplicidade de compreensões e sentidos, o que representa, pois, a diferença do resultado encontrado por outro intérprete diante do mesmo texto. Assim, o ser neutro diante do texto não é algo presente no pensamento de Derrida e daí a sua crítica àquela pretensa neutralidade propugnada pelo cientificismo e pelo mecanicismo. Na verdade, Derrida não entende o intérprete neutro pelo fato de que, segundo reflete, somente a ação do atuar sobre o objeto viabiliza a sua apreensão. Portanto, se todo ser que é compreendido (ou existe) é linguagem, o auto-distanciamento da fala, pensado por Gadamer, converge justamente para o pessamento de Derrida, no tocante a ser o intérprete, com seu vorurteil aqueles que compreende e interpreta o texto, gerando novo sentido que retorna ao próprio texto. Essa é uma representação da existência e do ser-no-mundo. 11 3.0 REDAÇÃO DE APROVEITAMENTO O pensamento de Derrida, notadamente pela influência decorrente da fenomenologia de Husserl, desperta no pesquisador a necessidade de desenvolver especial atenção em relação ao que escreve e o que se pretende transmitir. O retorno à essência é caminho para a desconstrução do produto. Ao que parece, a escrita é um peso necessário. Por vezes pode se mostrar uma amiga, por outras uma inimiga, que, de forma traiçoeira, prepara armadilhas e nos projeta a precipício. Na verdade, resta a compreensão de que devemos desenvolver o exercício de construir e desconstruir textos, justamente para verificarmos se as diferenças advindas de tal operação são tão somente múltiplas possibilidades de sentido ou se incorremos em equívoco na idéia transmitida, possibilitando a apreensão de um sentido absolutamente indesejável. Dessa forma, imprescindível que, durante o curso, procuremos escrever o maior número de artigos parciais possível, para que possamos revêlos (desconstruí-los) o maior número de vezes, robustecendo os argumentos e oferecendo força à estrutura do texto maior – a dissertação. 12