Prof. Dr. Titular Benedito Tadeu Ferreira de Moraes Coordenação de Física Belém, PA 2016 (Trabalho Suplementar da Tese de Professor Titular) Prof. Dr. Titular Benedito Tadeu Ferreira de Moraes IFPA Coordenação de Física Belém, PA 2016 Dados para catalogação na fonte Biblioteca IFPA - Campus Belém Setor de Processamento Técnico M827r Moraes, Benedito Tadeu Ferreira de. Realidade, dualidade, causalidade e a equação geral de ondas e partículas: (Trabalho Suplementar da Tese de Professor Titular). / Benedito Tadeu Ferreira de Moraes. — 2016. 70 f. Tese (Doutorado – Professor Titular) - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará – IFPA, 2016. 1. Dualidade. 2. Causalidade. 3. Relatividade especial. 4. Mecânica ondulatória. I. Título. CDD: 530 AGRADECIMENTOS A Deus, a causa primeira, quem me permitiu enxergar além do meu conhecimento cognitivo. Ao Professor e amigo José Maria Filardo Bassalo pela suas opiniões sempre relevantes. Aos colegas da Universidade Federal do Ceará, em particular aos Professores Raimundo Nogueira da Costa Filho (orientador) e Raimundo Valmir Leite Filho, minha gratidão pelo doutoramento, em 2002. A Direção Geral, pela produção bibliográfica e publicação desta tese. Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para que eu realizasse este trabalho. RESUMO O objetivo deste trabalho é somar um suplemento à tese que apresentei, em 2015, para a progressão a Professor Titular de Física do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, onde fora estabelecida a coexistência de matéria e radiação em uma única configuração. O suplemento trata de dois novos aspectos relativos ao comportamento das partículas. O primeiro concerne a discussões sobre realidade física, dualidade e causalidade, que implicam em um princípio de complementaridade estendida, cujas questões filosóficas são exploradas para dar entendimento à existência da matéria dual-MD. O segundo é uma extensão de sua base dinâmicoanalítica onde são determinadas a quantidade de movimento da MD e a equação geral de ondas e partículas. Assim como a tese de Professor Titular, trata-se de um trabalho também inédito e absolutamente original. ABSTRACT The objective of this work is to add a supplement to the thesis I presented in 2015 to the progression Professor Physics Holder of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Pará, where he had established the coexistence of matter and radiation in a single setting. The supplement comes in two new aspects of the behavior of particles. The first concerns discussions about physical reality, duality and causality, which imply an extended complementarity principle, whose philosophical questions are exploited to understanding the existence of dual-MD matter. The second is an extension of a dynamic-analytical basis is determined where the amount of movement of the MD and the general equation of waves and particles. As the thesis Professor, it is also a new work and absolutely original. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................ 01 01 CAPÍTULO 1: Realidade Física e Dualidade ............................................... 02 CAPÍTULO 2: Realidade Física e Causalidade ..............................................07 CAPÍTULO 3: Causalidade e Dualidade .........................................................13 3.1. Introdução ........................................................................................... 13 3.2. Causa Interna ....................................................................................... 15 3.3. Causa Latente .................................................................................... 15 3.4. Conclusões ............................................................................................. 16 CAPÍTULO 4: Quantidade de Movimento..................................................... 18 4.1. Introdução ........................................................................................... 18 4.2. Quantidade de Movimento na Mecânica Newtoniana .............................. 18 4.3. Quantidade de Movimento na Relatividade Especial .............................. 20 4.4. Quantidade de Movimento na Mecânica Ondulatória .......................... 21 4.5. Quantidade de Movimento da Matéria Dual ........................................ 23 CAPÍTULO 5: Seis Equações de Ondas da Física ......................................... 26 5.1. Introdução .......................................................................................... 26 5.2. Equação de Onda de D’Alembert ...................................................... 26 5.3. Equação de Onda de Maxwell ............................................................ 27 22 5.4. Equação de Onda de Schrödinger da Partícula Livre ..........................28 5.5. Equação de Onda de Klein-Gordon ................................................... 30 5.6. Equação de Onda de Dirac ................................................................ 32 5.7. Equação de Onda de Maxwell-Proca ................................................ 33 CAPÍTULO 6: Equação de Onda da Matéria Dual ...................................... 37 6.1. Introdução .......................................................................................... 37 6.2. Equação Geral de Ondas e Partículas...................................................... 38 6.2.1. Equação de D’Alembert no Formalismo Dual ........................... 39 6.2.2. Equação de Maxwell no Formalismo Dual ................................ 39 6.2.3. Equação de Schrödinger no Formalismo Dual ......................... 39 6.2.4. Equação de Klein-Gordon no Formalismo Dual ....................... 40 6.2.5. Equação de Dirac no Formalismo Dual .................................... 41 6.2.6. Equação de Maxwell-Proca no Formalismo Dual ..................... 43 6.3. Conclusões ......................................................................................... 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 45 APÊNDICE ...................................................................................................... 52 NOTAS ............................................................................................................ 54 REFERÊNCIAS ............................................................................................... 61 INTRODUÇÃO Em janeiro de 2016 foi disponibilizada na Biblioteca Central e na página eletrônica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Campus-Belém, no link publicações, a tese que apresentei, em 2015, para a promoção a Professor Titular em Física. Com a proposta de uma matéria dual-MD, meu anseio era expor e fazer compreender minhas ideias sobre algumas questões relacionadas à teoria da relatividade especial-TRE e à teoria quântica, principalmente no que tange à mecânica ondulatória quanto ao comportamento de ondas e corpúsculos. Tenho consciência que a tese foi um trabalho audacioso, pois foram apresentadas novas concepções, interpretações, novos conceitos, fórmulas, mas, sobretudo, um novo modelo físico-matemático para a dualidade. Ao mesmo tempo, penso que ela é também bastante elucidativa quanto a sua proposta fenomenológica acerca do que imaginamos ser uma partícula. Acredito que as questões ali suscitadas tiveram respostas inteligíveis e razoáveis que permitiram um novo olhar quanto à interpretação de alguns resultados da antiga teoria quântica. Para exemplificar, foi explicado como a componente zero do 4-momento se vincula ao comprimento de onda Compton, revelando um comportamento ondulatório associado à partícula em repouso. Todavia, é importante que estabeleçamos a compatibilidade dos resultados da tese com alguns aspectos filosóficos que naturalmente a circundam, pois, como sabemos, em maior ou menor grau, a filosofia também contribuiu para o desenvolvimento da atual teoria quântica, na qual minha tese se baseou. Por isso, nos três primeiros capítulos exploramos os aspectos que tratam de realidade, dualidade e a causalidade da matéria dual. Nos capítulos seguintes, serão apresentados novos resultados relativos à sua dinâmica: quantidade de movimento e sua evolução ondulatória no espaço-tempo que tornam, em nossa interpretação, o fenômeno da dualidade como algo que incorpora à estrutura causal da relatividade especial o indeterminismo da teoria quântica. 1 CAPÍTULO 1 REALIDADE FÍSICA E DUALIDADE Neste capítulo abordamos algumas questões importantes relativas ao comportamento ondulatório das partículas e o nosso contraponto, pois consideramos que as interpretações dadas a essas questões, inclusive por algumas celebridades científicas, não foram suficientes para esclarecer o enigma da dualidade, descoberta em 1923, por Louis de Broglie. D’Broglie tinha conhecimento da identidade dual da radiação e postulou uma identidade dual para a matéria. Ele percebeu que o comportamento de onda e corpúsculo serve para ambos e, portanto, considerava ser possível aos dois aspectos coexistirem para constituir um sistema físico observável: o elétron, o fóton ou qualquer partícula com essas características. Sua concepção era de um “ente” que possuía ao mesmo tempo, e no mesmo nível, propriedades ondulatórias e corpusculares. Contudo, esse é um conceito ontológico que tenta descrever a natureza de “entes” físicos e não uma descrição relativa aos resultados de experimentos. Além disso, suas ideias sobre a dualidade necessitavam de uma causa, pois se utilizara do determinismo da relatividade especial para descrever o fenômeno no espaço-tempo bem como dos princípios de conservação da energia e da quantidade de movimento. Em seus artigos e mesmo em sua tese não se vê nenhuma dedução físico-matemática da razão de ser do comportamento dual da radiação e da matéria. Seu postulado expressa uma relação matemática entre a quantidade de movimento e o comprimento de onda da partícula que, a nosso ver, é uma conseqüência e não a causa da dualidade. Penso que essa última questão foi o real problema de D’Broglie e que ela envolve as demais. Todavia, com a publicação de minha tese, onde apresentei a fórmula da energia da MD, considero que esse problema foi parcialmente superado. Precisamos agora superar os conflitos que ainda se opõem às justificativas causais desse fenômeno. 2 Sabemos que o espectro eletromagnético constitui a organização das radiações já conhecidas, por range de comprimento de onda ou frequência, que vão do infravermelho passando pelo visível até a região do ultravioleta. O ultravioleta é a região do espectro onde os comprimentos de onda das radiações são cada vez menores, e, portanto, onde os efeitos corpusculares são mais evidenciados, uma vez que a massa inercial do fóton ( inversamente com o comprimento de onda ( ) pela relação: ) aumenta = ℎ⁄ , onde ℎ é a constante de Planck e , a velocidade da luz no vácuo. E Isso é uma realidade física. Essa realidade é corroborada com o fato das radiações do ultravioleta, em interação com algum campo, produzirem massa. A radiação gama, por exemplo, em interação com o campo elétrico de um núcleo pesado produz energia maior ou igual a duas vezes a massa de repouso do elétron, e isso é produção de matéria a partir da “frenagem” da radiação. No outro extremo do espectro, nas regiões de comprimentos de onda maiores, o comportamento ondulatório das radiações prevalece sobre seu comportamento corpuscular, e isso pode ser compreendido também pela relação: = ℎ⁄ . Nessas regiões a massa do fóton é desprezível. Naturalmente se intui que deve existir uma radiação- , possivelmente na fronteira do visível com a região do ultravioleta, que em interação com o campo elétrico de um núcleo pesado, tem probabilidade de produzir energia igual a uma unidade da massa de repouso do elétron. Ou seja, essa radiação- , em processo de ‘frenagem’, pode produzir um elétron. O fato é que não há diferença entre os vários tipos de radiações existentes quanto às suas origens, pois todas são criadas a partir de partícula carregada em movimento acelerado. E, em última análise, as ondas eletromagnéticas ou radiações são detectadas pela sua ação sobre a partícula. Mas, se temos um espectro para as radiações e estas são geradas por partícula acelerada, obviamente podemos imaginar esse espectro a partir da “frenagem” da partícula, dentro de cada região do espectro, medindo o comprimento de onda das radiações emitidas. 3 Podemos pensar no elétron. Ele emite em todos os comprimentos de onda, das ondas de rádio às radiações gama, sendo possível medir sua energia que irá produzir raios-X, por exemplo. Logo, em processo de ‘frenagem’ ele pode emitir inclusive a hipotética radiação- , que é uma onda eletromagnética, ou seja, é uma via de mão dupla, o elétron e a radiação. Em síntese, os extremos do espectro apresentam tanto para a radiação quanto para o elétron uma prevalência corpuscular ou ondulatória. Na região de grandes comprimentos de onda, prevalece o comportamento ondulatório; enquanto que na região de pequenos comprimentos de onda, prevalece o comportamento corpuscular. Na região intermediária está o visível onde pode ser observada a difração da radiação, uma propriedade das ondas. Também, nessa região, é possível verificar o efeito fotoelétrico, um processo no qual a radiação apresenta propriedades de um corpúsculo. Há de se supor, então, que nessa região dá-se a efetiva prevalência dual. Desse modo podemos construir um espectro comum, tanto para o elétron quanto para o fóton da radiação, exibindo a peculiaridade dual em cada região, de acordo com o Quadro abaixo (ver também minha tese, 2015). Espectro Eletromagnético Região do Infravermelho (grande comprimento de onda- ) Região do Visível Região do Ultravioleta (pequeno comprimento de onda- ) Prevalência Ondulatória (partícula → onda) Prevalência Dual Prevalência Corpuscular (partícula → corpúsculo) Quadro 1. Representação do espectro eletromagnético da dualidade da matéria e da radiação. 4 Com base em toda essa argumentação passamos a discutir sobre duas realidades físicas, R1 e R2, que consistem na análise do comportamento da radiação- e do elétron na região de prevalência dual do espectro proposto. R1) A radiação- interage com um núcleo, “desacelera” e ao mesmo tempo um elétron é emitido. Em processo inverso, um elétron interage com esse núcleo, “desacelera” e ao mesmo tempo há emissão de radiação- . R2) Um feixe de elétrons e um feixe de fótons (de radiação- ) são lançados contra um dispositivo de dupla fenda que evidencia tanto para o elétron quanto para o fóton um comportamento dual idêntico: a interferência. Em R2, o elétron e o fóton são submetidos à mesma experiência, de forma isolada e independente, mas apresentam resultados absolutamente semelhantes, um fenômeno óptico que somente ocorre com as ondas. Em R1, é evidente que não podemos imaginar a emissão de radiação sem conceber a partícula, e nem a emissão de partícula sem conceber a radiação, pois a desaceleração e a emissão são processos simultâneos. Logo, elétrons e fótons estão juntos nessa realidade. É fato que quando estudamos radiação poucos realmente ligam para a partícula, que é sua causa de existir. Via de regra, são os efeitos que quase sempre estudamos. Mas se não podemos separar o elétron do fóton na primeira realidade (R1), como escondê-los e justificar na segunda realidade (R2) que eles são distintos e independentes, se são os mesmos fótons e os mesmos elétrons que se deparam e interagem com o dispositivo de dupla fenda? No mínimo R2 possui alguma conexão de dependência com a natureza do elétron e do fóton revelada em R1, a menos que um elétron seja diferente de outro elétron e que uma mesma radiação emita fótons diferentes. O que não é possível, porque elétrons são partículas indistinguíveis e fótons de uma mesma radiação, também! Adicionalmente, para que esses fótons e elétrons possam ser tratados de modo distinto e independente, mas apresentem o mesmo comportamento 5 ondulatório, como é evidenciado em R2, é preciso considerar que eles ou têm as mesmas propriedades ondulatórias ou compartilharam juntos de uma mesma realidade anterior. Eles não possuem as mesmas propriedades ondulatórias: o fóton viaja com a velocidade da luz, o elétron, não. A velocidade do elétron nunca pode atingir a velocidade do fóton, pelo menos em assunção à teoria da relatividade especial, em que a maioria dos físicos acredita. Naturalmente se infere que eles estavam juntos em uma realidade anterior, por isso seus comportamentos ondulatórios são semelhantes na dupla fenda. No entanto, podem ser revelados de modo individual, por algum mecanismo que os separa, tornando-os partículas distintas. Em particular, penso que essas questões no mínimo recrudescem aquilo que aprendemos sobre dualidade nos textos de Física Moderna. As realidades R1 e R2 revelam que a radiação produzida por uma partícula e a interferência produzida por uma partícula, têm causa. 6 CAPÍTULO 2 REALIDADE FÍSICA E CAUSALIDADE É importante enfatizar que as duas realidades, R1 e R2, revelam que a interferência produzida por uma partícula e também a radiação produzida por uma partícula, têm causa. Contudo, depois de D’Broglie os textos científicos que tratam do comportamento dual somente apresentam discussões e princípios relativos à realidade R2 ou a outras realidades semelhantes. A experiência de dupla-fenda, por exemplo, é explicada considerando haver um princípio de incerteza que tem relação com o processo de medida sobre a partícula, e que somente após o efeito observado (medida realizada) é que se pode assegurar tratar-se realmente de uma partícula, pois poderia ser onda. O princípio é utilizado para difundir a idéia de que o efeito da observação define o fenômeno. O princípio da incerteza foi interpretado como a impossibilidade de medidas simultâneas de dois observáveis quânticos descritos por operadores não comutativos, relativos à dinâmica de uma partícula. A falta da simultaneidade se dá pelo valor da ação de Planck – ℎ ser diferente de zero, e que, em geral, o ato de medir um desses observáveis, destrói completamente a informação prévia contida e disponível no outro. Essa explicação e todas as que se baseiam nesse princípio provavelmente foram o “caminho” que Bohr se utilizara a fim de subsidiar sua tentativa de justificar, de maneira heurística, um outro princípio que imaginara ser a resposta para as contradições estabelecidas pelo comportamento dual e os processos de medida, e que é conhecido como princípio da complementaridade, cujo teor se depreende: “Uma partícula, em determinadas circunstâncias experimentais, exibe propriedades de onda e, em outras circunstâncias, exibe propriedades de corpúsculo, mas nunca exibe ambas as propriedades simultaneamente.” 7 Sobre esse princípio e às ideias de D’Broglie penso que eles asseveram não haver nenhuma contraditoriedade relativa aos aspectos ondulatórios e corpusculares. Por outro lado, penso também que só se complementam se antes atestam a ambigüidade da natureza dual da matéria e da energia, ou seja, a complementaridade deve contemplar as duas realidades R1 e R2, e o princípio da incerteza deve ser inerente às flutuações de energia entre partícula e radiação, como ocorrem em R1. Dessa forma, o princípio da complementaridade torna-se estendido e é enunciado como segue: “Uma partícula, em determinadas circunstâncias experimentais, exibe propriedades de onda e, em outras circunstâncias, exibe propriedades de corpúsculo, embora a essência dessas propriedades influencie um ao outro, e é essa essência que suscita uma ambigüidade” (os grifos são do autor, que tornam o princípio estendido). Com base nesse princípio, inferimos que as duas realidades (R1 e R2) se inserem nas seguintes proposições: (1) partícula e radiação formam uma única realidade; (2) os processos nos quais elas se verificam podem ou não ser simultâneos: a) serão simultâneos quando é cumprida uma primeira causa que chamamos de causa latente, e; b) não simultâneos, quando o lapso de tempo do processo puder ser medido e valer: = ℎ⁄ , nesse caso é cumprida uma segunda causa, que chamamos de causa interna, que depende da primeira. Os conceitos dessas causas e o que eles significam no sentido da essência da dualidade serão apresentados no capítulo 3. Por hora, estabeleceremos as relações delas com as realidades R1 e R2, através das proposições (1) e (2). A proposição (1) foi o objetivo central da tese que apresentei em 2015. Nela se definiu uma matéria dual-MD, composta de matéria e radiação, onde fazem parte o elétron e o fóton. Aqui, a MD é revelada como a causa latente da 8 dualidade, onde pode emergir uma causa interna, na forma de uma MD-elétron ou uma MD-fóton Desse modo, a R1 estará vinculada as proposição (1) e (2.a), enquanto que a R2 estará vinculada à proposição (2.b). Mas, é oportuno ressaltar que a dualidade para as partículas que participam dessas realidades é a mesma em essência, pois obedecem ao princípio da complementaridade estendida. Em essência, em R1 e R2 está presente a mesma virtude dual. Se a complementaridade não for estendida, R1 será uma realidade física na qual a emissão de radiação é distinta da partícula, e a criação de uma partícula é distinta da radiação, o que viola regra básica da eletrodinâmica quântica e nega a simultaneidade de algo claramente complementar, nos dois sentidos: elétron gera radiação, radiação gera elétron. Igualmente, se a complementaridade estendida não for aplicada a R2, esta será uma realidade na qual a onda pode ser separada de seu corpúsculo. No entanto essa possibilidade nega a própria hipótese de D’Broglie e consequentemente a mecânica ondulatória não existiria. Quando decidimos seguir Bohr, devemos entender que suas argumentações se limitam à R2, aí somos levados ao equívoco de deduzir que não há causa para a dualidade, e que as circunstâncias experimentais tornam a efeito o comportamento corpuscular ou ondulatório de uma partícula. Essa linha de raciocínio coloca a intervenção humana a frente da questão, pois é a atividade humana quem prepara e realiza medidas sobre os experimentos. Esse pensamento tem extrapolado e ganho imagens absurdamente paradoxais, onde a simples observação pode definir um fenômeno. Lembremos do paradoxo proposto por Schrödinger, criticando a interpretação da superposição de estados. Segundo esse paradoxo, um gato pode estar num estado vivo-morto. Pela complementaridade de Bohr, se ele for observado como morto perde-se por completo a informação do seu estado vivo. Do mesmo modo, ser for observado com vida, não teremos informação alguma sobre seu estado morto. Logo, se ele não for observado, a morte e a vida do gato passam a ser uma faculdade humana? Então é melhor não olhar para ele, caso contrário corre-se o risco de matá-lo! 9 As palavras de Wheeler reproduzem bem a adoção da complementaridade de Bohr: “Nenhum fenômeno é um fenômeno até que ele seja um fenômeno observado”. Em outra direção, quando consideramos as ideias de D’Broglie e o princípio da complementaridade estendida, sobretudo a existência da matéria dual-MD, onde coexistem elétron e fóton em sua estrutura, há uma clara necessidade de fixarmos as causas, os efeitos e como esses efeitos podem ser medidos. As causas já foram definidas. A primeira, é a causa latente, a própria matéria dual. A segunda, é a causa interna: MD-elétron ou MD-fóton. Esta última, portanto, está relacionada às características entitivas da MD. Nesse sentido, o elétron e o fóton não são partículas, mas MD’s. Os efeitos estão relacionados ao comportamento prevalente, da onda ou do corpúsculo, que ocorre em determinada realidade. Por exemplo, na experiência de dupla fenda, não dá para esperar da partícula, com prevalência corpuscular, qualquer evidência do fenômeno da interferência, pois uma vez lançada contra o aparato experimental, sua prevalência passa a ser eminentemente ondulatória. A interferência é uma realidade objetiva das ondas. As medidas são as intervenções humanas para a análise dos aspectos corpusculares e ondulatórios, que estão inseridos nas causas e cujos efeitos podem ser tratados matematicamente através da energia de determinada MD, via relatividade especial, onde: =ℎ . = ; ou via mecânica ondulatória, onde Infere-se, portanto, que o comportamento dual das partículas existe independentemente do observador. Tal conclusão está no bojo das argumentações apresentadas aqui e se encerram com o seguinte complemento. Há de se considerar que ao se explicar as propriedades ondulatórias do elétron e uma vez evidenciadas as propriedades corpusculares da radiação (efeitos fotoelétrico e Compton), ficou evidente que partículas dotadas de 10 ondas deveriam obedecer as duas vias. Essa era a conexão de D’Broglie e, a nosso ver, a segunda causa. A causa primeira é a matéria dual-MD e isso é aparente na proposta da minha tese, pois ali configuram princípios da relatividade especial e da mecânica ondulatória, que foram coerentemente conectados para explicar o fenômeno da dualidade. A coerência está na descrição física e matemática do fenômeno, uma vez que suas primícias requereram a introdução de nova base conceitual acerca da relatividade da simultaneidade e, desta, a necessidade de definir um espectro de velocidades para dois referenciais inerciais que se movem relativamente. Além disso, as primícias permitiram construir um modelo que se ajustasse perfeitamente às propriedades dinâmicas do elétron e do fóton. A conexão está na definição da matéria dual, onde coexistem onda matéria-OM (elétron) e fóton, conforme a Figura 1, OM % = % MD Fóton Figura 1. Representação da MD, páginas 34, da tese (Jan/2016). cuja energia foi determinada na forma: = onde = !1 − "⁄ 1− # $ ⁄ ⁄ + 1− 1− ⁄ , (1) . A partir dessa equação é mostrado que o elétron e o fóton têm caráter dual devido à MD, uma vez que as flutuações de energia entre eles ocorrem em seu interior. A equação revela, ainda, a compreensão dos efeitos produzidos em cada realidade (R1 e R2), na qual a MD pode existir. 11 " < Em R1, a MD é definida pelo mecanismo de sua existência onde < . Nesse caso, o efeito corpuscular e ondulatório é isócrono. A MD enquanto partícula, “desacelerando”, emite onda de radiação; em sentido inverso, a MD, enquanto onda de radiação, “desacelerando”, emite partícula. Em R2, a MD se revela de duas formas que matematicamente decorrem da equação (1). Como uma MD-elétron, definida a partir do mecanismo de existência, onde = ", quando o fóton transfere toda sua energia ao elétron; ou como uma MD-fóton, onde ela é definida pelo mecanismo de existência onde = , quando o elétron transfere toda sua energia ao fóton. Se assumirmos uma das formas da MD, em R2, teremos um sistema físico observável, a MD-elétron, por exemplo. Esta, ao existir, carrega sua própria identidade dual, cujos efeitos de sua prevalência, como onda ou corpúsculo, são mutuamente excludentes e também não simultâneos. Primeiro, porque é através da prevalência corpuscular que as propriedades da partícula são analisadas e seus efeitos estudados, por exemplo, e estas são incompatíveis com as propriedades de uma onda. Segundo, porque há um lapso temporal = ℎ⁄ para a mudança completa da configuração onda-partícula, a partir do qual se define a prevalência dual, o seu ato de existir, seja num sentido ou em outro. É importante ressaltar que em minha tese de Professor Titular, não foram discutidas as relações de causa e efeito, posto que ali não era o objetivo. Mas, um leitor mais atento, lendo a tese, certamente observará que está implícito nas definições, nas propriedades e nos desdobramentos matemáticos da MD, que considero uma causa latente (a envoltória) e uma causa Interna (matéria e energia) para efetivamente explicar a dualidade sob o aspecto físico, matemático e fenomenológico. No capítulo a seguir, daremos o devido enfoque à essência, onde serão tratadas as questões filosóficas que nos levam à compreensão da natureza causal da dualidade. 12 CAPÍTULO 3 CAUSALIDADE E DUALIDADE 3.1. INTRODUÇÃO É provável que a maioria das pessoas não tenha nenhum interesse de saber por que as coisas são do jeito que são, do que são constituídas e por que acontecem dessa ou daquela forma. A vontade de saber realmente é para poucos. Certamente se muitos tivessem interesse pelas causas a rapidez com que as coisas seriam descobertas seria incomensuravelmente maior. A palavra tem origem na filosofia e como iremos tratar de essência é razoável buscar seu significado no contexto filosófico, onde encontramos: “Causa é aquilo ou aquele que faz que uma coisa exista; é o princípio cujo influxo determina o existir de algo que de per si é insuficiente para tanto”. Esse princípio, para o presente trabalho, é a base do encadeamento lógico de argumentos sobre a essência de uma qualidade natural das partículas – a dualidade. Logo, ele se destina à argumentação filosófica da causalidade da matéria dual-MD. O início parte do pressuposto que elétron ou fóton por si só não são auto-suficientes para ingressarem no plano existencial. Por isso mesmo eles dependem da MD, a causa, que lhes comunica o existir de fato, ou seja, além de existirem pela causa, esta responde também pela natureza de seus efeitos. Em metáfora, é como a gestação de uma vida onde a bolsa placentária é a MD-mãe, onde em seu interior há troca permanente de energia (líquido amniótico) para formação de matéria (feto), ou troca de matéria (vibração) para a produção de energia (vida). A MD-mãe carrega em seu “ventre” elétron e fóton e enquanto não nascem eles trocam energia, como um embrião em formação. Nesse momento, eles coexistem sob a forma de um único corpo (placenta, líquido amniótico, feto) não há como saber nada sobre eles, a menos por um determinado 13 processo físico, compatível com as propriedades da MD-mãe, ou de uma MDelétron ou de uma MD-fóton. Se o processo físico for compatível com as propriedades da MD-elétron, por exemplo, ele faz irromper toda a energia da MD-mãe para o elétron. É o processo físico quem caracteriza a MD como um elétron, e não o observador, ou seja, a MD-elétron só nascerá se os mecanismos para sua existência assim o permitirem. A intervenção humana serve tão somente para fazer medidas sobre as suas propriedades e não para definir sua existência ou não existência, como onda ou corpúsculo, como asseveram as questões filosóficas da atual mecânica quântica sobre o tema. Não dá para imaginar que uma mãe-peixe, pronta para parir, seja mergulhada em um tanque com óleo e achar que um peixinho ao nascer sobreviverá se alguém estiver observando (e não fizer nada) ou se não estiver observando. Não é sensato pensarmos como Wheller, que poderemos encontrá-lo vivo, em algum momento e lugar do tanque, se não observarmos sua morte. Pois nós sabemos que mesmo se não observarmos o peixinho, ele morrerá. Na verdade, em qualquer dos casos ele morrerá, e a mãe também. Agora, se imaginarmos o peixinho nascendo em um tanque com água apropriada, independente de observá-lo ou não, ele permanecerá vivo na água, pois a água é o processo físico-químico compatível com sua existência. A intervenção humana pode ser somente para avaliar se o peixinho pode ser estudado (em uma ou mais de suas propriedades) ou não, mas isso é uma escolha humana, um arbítrio próprio. O exemplo acima é oportuno para compreendermos a existência da MDelétron, pois uma vez nascida ela traz a história da MD-mãe, suas características de comportamento ondulatório e corpuscular, ou seja, agora o observador se depara com a circunstância na qual o mesmo processo físico apresenta a MD-elétron com comportamento dual, e novamente a intervenção humana serve tão somente para fazer medidas sobre ela, é uma operação sequencial. Ressalta-se que tal exemplo serve também para MD-fóton. Então, a argüição sobre os processos de medidas é a seguinte: “Uma vez definida a MD-elétron (ou MD-fóton), o processo físico ao qual é submetida 14 é específico para tratar com ela, é ele quem fornece os mecanismos de sua existência, seja na forma de onda ou de corpúsculo, a sua prevalência dual. Nesse momento, a MD-elétron passa a ser a causa dos efeitos da MDmãe, e são esses efeitos que são analisados e estudados por um observador que tem papel coadjuvante de realizar medidas e não de protagonista da existência da partícula na forma de onda ou corpúsculo. O ato de medir não pode preceder as causas”. Ante ao exposto, podemos inferir que os modos de atuar, seja como MDelétron ou MD-fóton, por parte do influxo causante (MD), deixam clara a necessidade de estabelecimento de duas causas. 3.2. CAUSA INTERNA A coexistência de elétron e fóton como constituintes da MD nos permite afirmar com que propriedades a MD pode ser caracterizada. Sua energia, massa e freqüência formam um composto interno “diluído” que chamamos de influxo interno e que contribui para tal coexistência, sobretudo opera seja como um constitutivo determinável pela causa latente seja como um constitutivo determinante para as propriedades ondulatórias e corpusculares de um “ente substancial”. No ente substancial, essas propriedades respondem pelo comportamento da MD-elétron ou da MD-fóton, e também pela suas formas, daí se adaptarem ao processo físico ao qual submetemos à MD. Por isso, o influxo interno é uma causa determinante dos efeitos corpusculares e ondulatórios, bem como daquilo pelo qual o ente substancial é constituído em sua qualificação específica, seja como MD-fóton ou MD-elétron. 3.3. CAUSA LATENTE A causa latente é a MD, uma envoltória que não integra de modo constitutivo os efeitos, uma vez que seu papel é gerar e armazenar elétron e 15 fóton em seu interior, mas ali exerce seu influxo causal possibilitando a coexistência de ambos e, portanto a sua natureza dual. Por gerar e armazenar certamente influencia no que existe em seu interior. Isso nos conduz a pensar que essa causa influi, mas está produzindo algo que terá características próprias e, que após nascer, elas emergirão como uma MD-elétron (ou MD-fóton) com sua inequívoca personalidade, mas que herdarão da MD-mãe a sua história genética de comportamento corpuscular e ondulatório, pois ali fora gerada. De todo modo é algo novo diferente da MD, quando nasce: é uma MD-elétron (ou MD-fóton). Em outras palavras, a MD (envoltória) transfere e comunica para o elétron e para o fóton a sua forma e natureza entitiva. Essa forma e natureza dual, existentes na causa primeira, são incorporadas nos efeitos (comportamento corpuscular e ondulatório), ou seja, a forma transferida e comunicada passa a existir no influxo interno, de modo que quando nasce a MD-elétron (ou MD-fóton), os efeitos de comportamento (os traços genéticos da MD) surgem do mesmo modo como estavam na causa. Trata-se de um modo de causar por participação. Nela a causa apenas opera dentro da potencialidade receptiva do efeito a fim de lhe ativar a força retida e virtual ou estado de eclosão ou de vir-a-ser. Por isso, nessa participação emerge algo de novo, um ente substancial que antes não existia em ato. Portanto, causa e efeitos não configuram duas realidades diversas, mas constituem uma e a mesma realidade complexa: A causalidade. 3.4. • CONCLUSÕES A matéria dual-MD pode ser constituída de qualquer onda matéria-OM e qualquer fóton, seja ele virtual ou real. • A matéria dual-MD, em forma e existência, depende do processo físico, é ele quem proporciona os mecanismos de existência e as qualidades da MD. Talvez essa seja a razão pela qual algumas partículas têm 16 tempo de vida tão curto. Elas eclodem de uma MD em um meio que não favorece a sua permanência, daí tornam-se radiação. • A MD não é visível, portanto somente aquela passível de sofrer interação com determinado sistema (suas características e propriedades), ao qual é submetida, é que pode ser observada. • O vácuo ou qualquer outro meio são processos físicos apropriados que determinam, pelas suas propriedades, as qualidades de MD’s de existirem neles. É como um oceano, onde teríamos uma diversidade de peixes de todo tamanho e espécie. Isso explicaria a variedade de radiações e partículas no universo. • Pelo seu caráter dual, a MD pode mudar de comportamento ao passar de um meio para outro, ou dentro de um mesmo meio, dependendo da natureza do sistema ao qual é submetida nesse meio. • A MD é a causa da dualidade, então o elétron (uma OM) e o fóton são causados nos atos de existirem por ela, portanto estão arraigados na ostensiva realidade dual da MD. Por isso, ao principiarem existir são a causa de seus efeitos. Para finalizar destaco uma declaração de Planck sobre a causalidade: “A lei de causalidade não é verdadeira nem falsa. É antes de tudo um princípio heurístico, um guia – a meu ver, o melhor guia que temos – para nos orientar na confusão multifacetada dos eventos e nos mostrar a direção que a pesquisa científica deve seguir para dar bons resultados. A lei de causalidade que tão cedo contagia a criança e lhe coloca na boca a incansável pergunta “por quê?”, permanece a companheira do pesquisador durante toda a existência e sempre lhe apresenta novos problemas. Pois a ciência não significa repouso contemplativo na posse do conhecimento adquirido. Ao contrário, é obra jamais concluída e em progresso perpétuo”. Max Planck 17 CAPÍTULO 4 QUANTIDADE DE MOVIMENTO 4.1. INTRODUÇÃO Nesse capítulo apresentamos a quantidade de movimento ou momento linear da matéria dual-MD que não foi explorada em minha tese. Inicialmente, é oportuno lembrar que em conjunto com as forças e a energia, a quantidade de movimento é uma das grandezas de maior interesse na dinâmica do movimento de qualquer sistema. Na verdade, através dessa grandeza conjugada à energia, podemos determinar a evolução do sistema em si, daí sua importância. Não menos importante também é fazermos uma breve digressão de sua definição na mecânica newtoniana, na mecânica relativística e na mecânica quântica, uma vez que seu conceito para a dinâmica de uma partícula, como massa versus velocidade, nunca foi alterado, e é uma das bases para a compreensão da evolução espaço-temporal da MD. 4.2. QUANTIDADE DE MOVIMENTO NA MECÂNICA NEWTONIANA No livro Princípios Matemáticos da Filosofia Natural, publicado em sua 1ª edição em 1687, e mundialmente conhecido como Principia, Newton parte de algumas definições e três leis do movimento. As definições foram estabelecidas para a compreensão das leis e dentre elas encontra-se a da quantidade de movimento: Definição 2: “A quantidade de movimento se mede pela velocidade e a quantidade de matéria tomadas conjuntamente”. A atual tradução analítica dessa definição é: )* = massa de repouso e ++*" é a velocidade. % ++*" , onde % é a 18 É oportuno registrar que inicialmente Newton se utilizara de outra definição para compor a fórmula da quantidade de movimento: Definição 1: “A quantidade de matéria se mede pela densidade e o volume tomados conjuntamente”. Ocorre que densidade é massa específica, e, se antes não se define qualitativamente o que ela significa, estamos em uma via de mão dupla e sem saída. Certamente Newton se deparou com a questão e não tardou em realizar experiência com pêndulos, onde verificou que os pesos dos corpos são +* = proporcionais às suas massas (P *). %- Ele tentou explicar que a quantidade de matéria é sinônima de massa. Mas, isso não resolveu o problema de sua Definição 1 que continuava circular. Para Newton, a saída foi considerar que a Definição 1 e sua explicação sobre a massa dos corpos só podem ser usadas na Definição 2, da quantidade de movimento, se a massa for a mesma em todas as circunstâncias. A tal massa, hoje, chamamos de massa de repouso ( % ). Por fim, não podemos deixar de comentar que as definições e as três leis de Newton foram fundamentalmente elaboradas sobre dois pilares conceituais mais familiares da física: o espaço absoluto e o tempo absoluto; e também por um princípio basilar para sua estruturação físico-matemática: A relatividade de Galileu. O tempo e o espaço newtonianos. i) O tempo absoluto, verdadeiro e matemático, em si e por sua natureza sem relação alguma com nada externo, flui uniformemente e se chama duração. ii) O espaço absoluto, sem relação, por sua natureza, com as coisas externas, permanece sempre igual a ele mesmo e imóvel. O princípio da relatividade de Galileu, que se traduz matematicamente através das seguintes transformações convenientemente aplicadas para um movimento relativo na direção- .: 19 0) . = . 1 + 23 5 / 4) 3 = 3 1 , ou (2) ) . 1 = . − 23 5 / 7) 3 1 = 3 . (3) Essas transformações deixam invariantes as leis de Newton e, por conseguinte, toda a mecânica, quando analisamos o movimento, de dois referenciais inerciais que se deslocam relativamente com velocidade constante e igual a 2, um em relação ao outro. 4.3. QUANTIDADE DE MOVIMENTO NA RELATIVIDADE ESPECIAL A relatividade especial foi criada por Einstein para se ajustar à teoria eletromagnética, que é regida pelas equações de Maxwell. Nessa teoria, são as transformações de Lorentz e não as de Galileu que deixam invariantes as equações de Maxwell. Na verdade, as transformações de Lorentz são mais gerais, elas deixam invariantes não somente as leis do eletromagnetismo e da mecânica, mas todas as leis da Física. Elas formam um conjunto de relações do espaço-tempo quando analisamos o movimento de um ponto de luz em dois referenciais inerciais que se deslocam relativamente com velocidade constante 2, um em relação ao outro. Na direção-., elas têm a seguinte forma: 0) . = (. 1 + 23) 5 / 4) 3 = (3 1 + 2. ⁄ ) , ou / onde = !1 − "⁄ # $ ⁄ ) . 1 = (. − 23) 7) 3 1 = (3 − 2. ⁄ ) , 5 (4) (5) é o fator de Lorentz; ++*" é a velocidade da partícula e , é a velocidade da luz no vácuo. Para “baixas velocidades”, as transformações de Lorentz reproduzem aproximadamente as transformações de Galileu. 20 Em certo sentido, então, a mecânica relativística substituiu a mecânica newtoniana, pois, além da cinemática, a dinâmica relativa ao movimento de uma partícula também foi adequada ao princípio da constância da velocidade da luz. Nessa adequação, a quantidade de movimento ou momento aparece na forma: )* = ++*" , onde = %. Depois, veio a linguagem matemática dos 4- vetores de Minkowski, onde o 4-momento é dado como segue: Mas, <= = %! ; ++*? , ++*@ , ++*A # = ( )% ; )*) . <% = % = )% , (6) (7) é a componente zero do 4-momento e ela reproduz um resultado no mínimo surpreendente: O 4-momento não se anula quando a partícula “pára”, ao invés, vale: <% = % = )% . (8) Essa questão, quando abordada em textos que tratam da TRE, é justificada em termos da energia da partícula, mas nada melhora na obscuridade dessa expressão no que tange ao conceito primitivo da quantidade de movimento, que não foi alterado pela TRE: quantidade de movimento é igual a massa versus velocidade. Essa obscuridade está exatamente no conceito, pois se a partícula “pára” ela não tem velocidade, portanto não possui quantidade de movimento, pelo menos na sua tradicional forma conceitual. 4.4. QUANTIDADE DE MOVIMENTO NA MECÂNICA ONDULATÓRIA O primeiro passo para criação da mecânica ondulatória foi dado por Louis de Broglie, a partir de três artigos publicados em 1923. Mas, é precisamente no primeiro dos artigos que ele introduziu a idéia de uma onda associada às partículas, estendendo a idéia para a luz e para os elétrons. 21 Contudo, é em sua tese de doutoramento, de 1925, que ele mostra de maneira elegante e simples a natureza dual das partículas, pois no artigo de 1923 a onda associada à partícula parece mais como uma qualidade imposta. Em uma dedução relativística, considerando dois referenciais inerciais, D’Broglie percebeu que a quantidade de movimento ou momento associado a uma onda eletromagnética se transforma de modo análogo ao momento de e velocidade ++*" . uma partícula que possui massa Seria então possível que a natureza reservasse a todas as partículas uma relação fundamental onde ao momento )* , da partícula, estivesse associado um comprimento de onda , da mesma forma como à sua energia , na relação de Planck, aparece associada uma freqüência , ou seja, valeriam para todas as partículas a relações: )= " =ℎ = ℎ (9) (10) A dupla natureza da matéria fica evidente nessas equações. Cada uma delas apresenta um conceito corpuscular evidenciado por ) e , e um conceito ondulatório caracterizado por H . O mais surpreendente! A equação (9) passa a dar uma nova definição para a quantidade movimento de uma partícula. Agora não somente a quantidade de movimento é igual a massa versus velocidade, mas também igual a uma relação que envolve a constante de Planck e o comprimento de onda da partícula. Temos aqui uma nova revolução na física que contribuiu decisivamente para o desenvolvimento da teoria quântica, que culminou com o princípio da incerteza. Mas, é um exemplo muito claro do tipo de conceito de natureza abstrata, sem suporte na realidade palpável, que a física desenvolveu ao longo do século XX, que ensejou a construção de muitas idéias e interpretações paradoxais. 22 4.5. QUANTIDADE DE MOVIMENTO DA MATÉRIA DUAL Em minha tese, publicada em 2016, está estabelecido o modelo teórico e toda a estruturação físico-matemática do conceito de matéria dual. Tivemos que limitar nossas reminiscências para rediscutir a relatividade da simultaneidade e, por conseguinte, construir uma base de transformações espaços-temporais que alicerçasse uma cinemática e uma dinâmica apropriadas: uma nova mecânica para o comportamento dual das partículas. Nessa construção, fora definida a matéria dual-MD como uma entidade física, onde: MD = massa + frequência. Porém, como massa é equivalente a energia e freqüência é equivalente a energia, podemos também escrever: MD = massa(ST) + massa(UVWXVçãY) ou MD = frequência(ST) + frequência(UVWXVçãY) . Em particular, descrevemos como o elétron e o fóton estão vinculados e são constituintes de uma matéria dual que obedece às regras da teoria da relatividade especial e da mecânica ondulatória. Um desses vínculos foi apresentado: a energia; o outro, que passamos a apresentar agora, é a quantidade de movimento, cujo conceito não foge à regra, para a MD, vale: <+* = ou, onde <+* = ! é a massa do elétron; Z ++* + , (11) #++* , (12) , é a massa do fóton e ++* , é velocidade dual que pode assumir valores que dependem da condição de existência da MD, como fóton ou elétron. Então a Figura 1 pode simplesmente ser representada conforme a Figura 2. ++* Figura 2. Representação da MD . como uma partícula de massa 23 E, uma vez assumindo as massas, conforme a tese, onde: = ⁄ 1− (13) e = onde = [1 − ] \ ^] _ $ ⁄ 1− ⁄ 1− , (14) é o fator de Lorentz, teremos para a quantidade de movimento, ou momento dual: <+* = ++*Z ⁄ 1− + 1− ⁄ 1− . (15) Esse resultado é revelador. Por um lado, mostra que é possível estabelecer uma única expressão para o momento de uma partícula com característica dual, ela possui sempre duas parcelas: 1) Se 2) Se = ", a equação fornece o momento da partícula: ) = = , a equação fornece o momento do fóton: ) = "; ; Por outro lado, se a partícula “pára”, a equação (15) se reduz à forma: < (`) = % ⁄ a 1− Todavia, como o momento < (`) < (`) b . (16) se conserva, nessa circunstância, ele é transferido para fóton e consequentemente: equação (16) que + = % , = . Mas, isso implica na (17) A seção 4.3 tratou da definição relativística do momento, finalizando exatamente com o problema de a partícula possuir um “momento de repouso”: <% = % = )% , que é a componente zero do 4-momento. 24 O confronto entre as equações (8) e (17) revelam de modo intuitivo, físico e matemático tratar-se )% = pois % de um momento pertencente a uma MD, nunca se anula, ainda que a partícula pare ( " = 0). Dessa forma, embora sem alterar o conceito de momento, é necessário defini-lo a partir da concepção da equação (15) e daí estabelecermos as seguintes conclusões: 1) “O momento de repouso é uma propriedade da MD que, dependendo de suas características de existência, estará vinculado a MD-fóton ou a MD-elétron”; 2) “O fóton foi consagrado por não possuir massa de repouso, a MDfóton, ao invés, embora não o possua no sentido newtoniano da massa, ela o revela no sentido intrínseco de sua energia-momento”. No próximo capítulo discorreremos sobre as equações de onda, em particular às razões que levaram à equação de Schrödinger, pois a hipótese de D’Broglie, de sua onda de matéria, deveria ser posta à prova quanto às leis da óptica, uma vez que essas mesmas leis (reflexão, refração), por ocasião da disputa de Newton e Huygens sobre a natureza da luz, tiveram que ser substituídas por novas equações – as equações de Fresnel – quando a teoria ondulatória da luz prevaleceu sobre a teoria geométrica. Agora era necessário encontrar a expressão matemática exata de uma equação de onda, para a onda de matéria debroglieana, que levasse em conta os efeitos de difração e interferência. Tal feito foi realizado por Schrödinger, contudo, embora sua equação de onda tenha explicado vários resultados experimentais, entre outros percalços, ela é não relativística. A situação da matéria dual-MD, que trataremos no capítulo 6, não é diferente da busca de Schrödinger por uma equação de onda, no entanto, estamos em busca de uma equação que possa nos revelar a evolução no espaço-tempo de um “ente” que em determinadas circunstâncias pode representar um corpúsculo e em outras circunstâncias, uma onda. Para isso, é necessário ter em mente que até chegarmos a ela é necessário compreender como determinada equação de onda é importante na Física. 25 CAPÍTULO 5 SEIS EQUAÇÕES DE ONDAS DA FÍSICA 5.1. INTRODUÇÃO Neste capítulo faremos uma breve digressão cronológica sobre as equações de D’Alembert à Proca, passando por Maxwell, Schrödinger, KleinGordon e Dirac. No capítulo seguinte, abordaremos a equação espaçotemporal da matéria dual, demonstrando que a partir das características de cada sistema, essa equação inclui as demais. Ressalta-se que a fim de facilitar a análise e tornar mais familiar as expressões matemáticas, a notação científica utilizada para a apresentação de cada uma delas continuará sendo a ferramenta dos vetores e escalares, em coordenadas cartesianas. 5.2. EQUAÇÃO DE ONDA DE D’ALEMBERT Entre 1741 e 1743, Daniel Bernoulli realizou trabalhos nos quais estudou as vibrações de uma barra e os sons emitidos por ela, bem como separou os diversos modos dessas vibrações e observou que os sons correspondentes (ou diversos harmônicos) podiam existir juntos. Parece ser essa a primeira observação sobre a coexistência de pequenas oscilações harmônicas. Apesar de entender fisicamente esse problema, ele não foi capaz de resolvê-lo matematicamente. A solução para as vibrações em cordas foi encontrada pelo matemático francês Jean-Le-Rond d´Alembert, em 1746, ao obter a seguinte equação diferencial parcial da corda vibrante: 26 c c c + + c. cd ce f(., d, e; 3) = 1 c f(., d, e; 3) , c3 (18) onde f(., d, e; 3) é uma função de onda que descreve as variações de determinada propriedade do meio, no ponto (., d, e) e em um instante 3, cuja velocidade de propagação da onda é constante e igual a tensão da corda e i, sua densidade. = gh⁄i, onde h é a Uma maneira compacta de escrevê-la é na forma: ∇ f(., d, e; 3) = onde ∇ = é o operador laplaciano. 5.3. 1 c f(., d, e; 3) , c3 c c c + + c. cd ce (19) (20) EQUAÇÃO DE ONDA DE MAXWELL A primeira grande unificação da física deve-se a Newton, a segunda, a Maxwell que organizou todo o eletromagnetismo em “Uma Teoria Dinâmica do Campo Eletromagnético”, que fora apresentada à Sociedade Real de Londres, em 1864, através do seguinte grupo de equações: +*. Z +* = k , Lei de Gauss da Eletricidade. 1. ∇ +*o +* × m +* = n* + cZ 2. ∇ c3 , Lei de Ampère Generalizada. +*. p +* = 0 , Lei de Gauss do Magnetismo. 3. ∇ +*o +* × +* = − cp 4. ∇ c3 , Lei de Faraday da Indução, onde: k = k(., d, e; 3) é a densidade de carga; n* = n*(., d, e; 3), a densidade de +* = Z +*(., d, e; 3) , o vetor corrente; +* = +* (., d, e; 3) , o campo elétrico; Z +* = m +* (., d, e; 3), o campo magnético; p +* = p +* (., d, e; 3) , o vetor deslocamento; m indução magnética e, 27 +*= q̂ ∇ c c c + ŝ + tu c. cd c. (21) é o operador diferencial nabla, onde (q̂, ŝ, tu) são vetores unitários nas direções dos eixos cartesianos. Cada uma dessas 4 equações representa uma generalização de certas observações experimentais, por isso mesmo, elas não podem ser provadas matematicamente. Apesar disto, a explicação delas a qualquer situação pode ser verificada, sendo uma de suas aplicações mais importantes a dedução das equações para as ondas eletromagnéticas, onde Maxwell mostrou que elas se propagam com a velocidade da luz, . Maxwell mostrou que o campo eletromagnético satisfazia uma equação de ondas, análoga à equação de ondas elásticas, em corpos e membranas, deduzidas por D’Alembert, em 1746, ou seja: ∇ f(., d, e; 3) − 1 c f(., d, e; 3) =0 , c3 (22) onde f(., d, e; 3) é o campo eletromagnético. Essa é a equação da onda eletromagnética para uma dada região do espaço sem cargas e sem correntes, que se propaga com velocidade da luz igual a = 1⁄gv% w% , onde v% e w% são, respectivamente, a permeabilidade magnética e a permissividade elétrica do vácuo. Atualmente essa expressão é facilmente obtida através de manipulações das equações de Maxwell com algumas identidades vetoriais. 5.4. EQUAÇÃO DE ONDA DE SCHRÖDINGER DA PARTÍCULA LIVRE Lembremos que D’Broglie havia introduzido a noção de um processo ondulatório em que uma onda piloto “guia” o elétron e, de certa forma, usando a fórmula de Planck, onde = ℎ , postulou que o comprimento de onda desta “guia” se relaciona a quantidade de movimento ou momento ) = elétron, por intermédio da expressão órbita ligado ao núcleo do átomo. ", do = ℎ⁄) , esteja o elétron livre ou em 28 Em 1925, o físico holandês Pieter Debye, um dos organizadores de colóquios da Eidgenössische Technische Hochschule (ETH), em Zurique, pediu a Schrödinger que fizesse um relato da polêmica tese do francês Louis de Broglie. No colóquio seguinte, Schrödinger explicou as idéias do francês de que as órbitas obtidas por D’Broglie estariam corretas caso o elétron possuísse comprimentos de ondas inteiros. Debye asseverou que a idéia era “um tanto pueril”, pois se algo é uma onda, precisa de uma equação de onda adequada. Ademais, continuou: “Ondas se referem a coisas que ondulam”. Schödinger, ao contrário da maioria das pessoas presentes no colóquio da ETH, levou a sério o comentário de Debye, e também o de Einstein sobre o trabalho de D’Broglie, de que “um campo ondulatório está ligado a todos os movimentos”. Em janeiro de 1926, Schrödinger abriu o colóquio da ETH apresentando sua equação de onda e, posteriormente numa série de 6 artigos, publicados ainda em 1926, em 4 partes, ele escreveu sobre a “Quantização como um problema de valores próprios”. Em linguagem atual o que ele quis dizer é que essa “quantização” é na verdade dada por uma equação de autovalores que se escreve da seguinte maneira: mf(., d, e; 3) = f(., d, e; 3) , onde m é o hamiltoniano que surge da energia (23) da partícula. Nessa construção, esteja o elétron livre ou ligado pelo núcleo de um átomo, a sua energia e o seu o momento )* passam a ser escritos como operadores da mecânica quântica, respectivamente, operador energia e operador momento: e = ℏ c c3 +* )* = − ℏ∇ . (24) (25) Importante ressaltar que na teoria quântica a quantidade de movimento ganha duas novas concepções estruturais. A primeira está na equação (9), 29 postulada por D’Broglie, que estabeleceu uma norma conceitual: associar à partícula uma onda. A segunda deve-se a Schrödinger, que concatenou ao momento da partícula um objeto puramente matemático: um operador, dado pela expressão (25). Então, substituindo o operador energia (24) na equação de autovalor (23), o resultado fornece: mf(., d, e; 3) = ℏ cf(., d, e; 3) . c3 (26) E, para o caso particular do hamiltoniano ter energia puramente cinética: m = ) ⁄2 , onde )* é o operador dado pela fórmula (25), obtemos o seguinte resultado: − ℏ cf(., d, e; 3) ∇ f(., d, e; 3) = ℏ . 2 c3 (27) Tal expressão é conhecida na literatura como a equação de Schrödinger da partícula livre. Todavia, é importante ressaltar que ela é não-relativística, ou seja, não é invariante pelas transformações de Lorentz, fundamentalmente porque o hamiltoniano foi definido com energia cinética para baixas velocidades e a equação apresenta derivada temporal de primeira ordem e derivada espacial de segunda ordem. Aqui, mostraremos que ela advém de uma equação de onda geral. 5.5. EQUAÇÃO DE ONDA DE KLEIN-GORDON Após a publicação da equação de Schrödinger ocorreu uma verdadeira corrida para a obtenção de sua versão relativista. Ele próprio fez sua tentativa, mas foi o físico sueco Oskar Benjamin Klein, em abril de 1926, e o alemão Walter Gordon, em setembro de 1926, que obtiveram de modo formal a equação que supostamente apresentava o tratamento relativístico para a equação de onda do elétron livre. Atualmente essa obtenção é simples quando usamos a expressão da energia relativística da partícula livre, na forma: 30 =) + % y , (28) e adotamos para a o operador energia da equação (24) a forma quadrática: = −ℏ c c3 . (29) Além disso, como o operador hamiltoniano representa a energia da partícula, então podemos assumir a equação (26) como segue: m f(., d, e; 3) = −ℏ ou seja, desde que m = ℏ z−∇ + [ c f(., d, e; 3) , c3 (30) para a partícula livre, então: % ℏ _ { f(., d, e; 3) = −ℏ c f(., d, e; 3) , c3 (31) que é a equação de Klein-Gordon. É oportuno acrescentar que embora Klein e Gordon tenham utilizado na dinâmica relativística os operadores do momento e da energia, sugeridos por Schrödinger, sua aplicabilidade era limitada e a sua compatibilidade com a mecânica quântica falhava em alguns aspectos. Não explicava, por exemplo, a estrutura fina dos espectros atômicos, o efeito Zeemann anômalo, além de não considerar o spin do elétron, recém descoberto (1925), por Uhlenbeck e Goudsmit. Por fim, há de se deixar claro que em relação ao spin do elétron (ℏ⁄2) a discrepância com Klein-Gordon não está na validade de sua equação, pois ela é apropriada para descrever partículas com spin zero e não com spin semiinteiro, como observou alguns anos mais tarde o físico americano Richard Feynman, em seus estudos sobre eletrodinâmica quântica. 31 5.6. EQUAÇÃO DE ONDA DE DIRAC Em 1928, Dirac apresentou a equação relativista do elétron na qual seu spin aparece naturalmente. Ele partiu da idéia simples de que havia duas equações quânticas que descreviam o movimento de uma partícula livre e que era necessário usar uma ou outra para compatibilizar a relatividade à teoria quântica. A primeira era a equação de Schrödinger que, embora de natureza nãorelativística, tinha conseguido explicar uma boa quantidade de problemas de natureza atômica; enquanto que a segunda era a equação de Klein-Gordon, que tinha natureza relativística, mas não apresentava as características completas para descrição quânticas do elétron, por exemplo, o seu spin. Então, naturalmente Dirac preferiu se deter na primeira. Dirac enxergou que sendo a equação de Schrödinger de primeira ordem no tempo, e essa era a diferença clara em relação à equação de Klein-Gordon, ele apostou ser necessário baixar a ordem das duas derivadas, no tempo e no espaço, para escrever um hamiltoniano compatível com a equação (30). Em outras palavras, seria possível encontrar a compatibilidade se a equação (28) fosse escrita na forma: = ±() + % ) . o (32) Mas, a fim de cumprir a finalidade de se ter somente diferenciais de primeira ordem no tempo e no espaço, explícitas nos operadores de Schrödinger, e obedecer a conformidade espaço-tempo da relatividade, quanto as suas derivações, Dirac obteve uma expressão equivalente à equação (32), na forma: m = }*. )* + ~ % , (33) onde m é o hamiltoniano, que tem origem na energia ( ) da partícula, e }* = ++*" ⁄ e ~ = •1 − ! "⁄ # € ⁄ são coeficientes. Dirac observou, ainda, que embora m não contivesse os sinais da raiz quadrada da equação (32), ele era raiz dela e que os coeficientes }* e 32 ~ precisavam ser expressos de modo ao hamiltoniano atender os pressupostos da relatividade e o princípio da incerteza. Nessa construção, ele pôde assumir uma equação semelhante à equação (26), que é conhecida na literatura como a ‘equação de Dirac’: +* + ~ !− ℏ }*. ∇ % #f(., d, e; 3) = ℏ cf(., d, e; 3) . c3 (34) Portanto, uma vez estabelecida a equivalência entre a mecânica ondulatória e a mecânica matricial, }* e ~ passam a ser matrizes bem como f, esta, porém, mais precisamente um spinor. Ou seja, a equação de Dirac é consequência direta da representação spinorial do grupo de Lorentz. Para finalizar, registre-se que a equação de Dirac eliminou três problemas contidos na formulação de Klein-Gordon: 1) Ela está de acordo com os níveis de energia da estrutura fina do átomo de hidrogênio; 2) Ela descreve a dinâmica de partículas com spin ℏ⁄2, que é o spin do elétron; 3) Ela se ajusta à equação da continuidade da mecânica quântica. Quanto ao sinal negativo da energia, negligenciado na equação (32) para a determinação da versão relativística da equação de Schrödinger, Dirac interpretou como a energia de um “buraco” positivo deixado pelo elétron em sua movimentação durante a ocupação de estados quânticos do átomo. Mais tarde, tal energia foi medida como sendo o pósitron. Essa interpretação possibilitou o desenvolvimento de uma das áreas atuais mais promissoras da Física – a Física de partículas. 5.7. EQUAÇÃO DE ONDA DE MAXWELL-PROCA O texto em itálico, a seguir, trata de parte introdutória da monografia de HERDY (2010), intitulada: “A Eletrodinâmica de Maxwell-Proca e o Fóton Massivo”. Consideramos oportuno destacá-la para que o leitor tenha idéia dos avanços sobre as discussões que cercam a hipótese do fóton massivo. 33 “Uma questão de especial relevância nas teorias físicas é a propagação de perturbações geradas no espaço-tempo por algum tipo de fonte. No caso particular do Eletromagnetismo de Maxwell, um objeto de interesse é o estudo da emissão e propagação dos campos, elétrico e magnético, gerados por cargas, correntes, ou densidades de spin (na verdade momentos magnéticos), e a análise da energia transportada por estes campos. No entanto, as equações de Maxwell convencionais indicam ser nula a massa do fóton, o quantum portador da interação eletromagnética. Apesar de hoje a Física adotar que a massa de repouso do fóton seja exatamente zero, todos os experimentos realizados para determinar esta massa somente forneceram limites superiores para a mesma. Podem-se indagar, então, quais as evidências existentes para a ausência de massa do fóton, ou, quais as conseqüências decorrentes de uma massa não-nula para esta partícula elementar. Em 1936, S. J. Plimpton e W. E. Lawton fizeram uma experiência baseada na Lei de Gauss visando determinar se havia um desvio na Lei do inverso do quadrado. Seus dados encontraram um desvio que corresponde a um limite superior para a massa do fóton de 3,5 . 10$yy gramas (GONÇALES, 2008, p.35). Em 1971, E. R. Williams, J. E. Faller e H. A. Hill também fizeram uma experiência de laboratório baseado na Lei de Gauss, e encontraram um limite que corresponde a um valor de 1,6 . 10$y• gramas (JACKSON, 1983, p.4). Ou seja, a massa do fóton, em termos de energia, possuindo um limite superior de aproximadamente 10$ y H‚ (PDG, 2008, p. 385). As medidas do campo magnético da Terra, seja na superfície, ou por observações em satélites, fixam melhores limites para a massa do fóton. Já em 1968, A. S. Goldharber e M. M. Nieto encontram valores ligeiramente mais precisos, de 2,3 . 10$ 10$ „ ƒ H‚ (PDG, 2008, p.385). Atualmente, considera-se para a massa do fóton o valor limite de H‚ (PDG, 2008, p.385), descrito por D. D. Ryutov em 2007, usando um argumento magnetohidrodinâmico relativo ao vento solar para o raio de órbita de Plutão. 34 Partindo-se, assim, da possibilidade de um eletromagnetismo no qual a radiação esteja associada à existência de um quantum massivo (neste caso, o fóton de massa de repouso não-nula), adota-se como objeto de estudo uma teoria modificada do eletromagnetismo: a teoria de Maxwell-Proca. Para tanto, faz-se uma análise da teoria Eletrodinâmica de Maxwell e, comparativamente, da Eletrodinâmica de Maxwell-Proca, focalizando a atenção na questão da radiação eletromagnética, nas leis de conservação e nas conseqüências mais imediatas do fóton ter uma massa finita.” A proposta de Proca consiste em alterar a Lei de Gauss da Eletricidade e a Lei de Ampère Generalizada, introduzindo um parâmetro massivo … e os potenciais Φ e ‡* . No vácuo, as novas leis do eletromagnetismo, agora, são apresentadas respectivamente com as seguintes estruturas: +∇*. +* + …Φ = 0 , +∇*. p +* = 0 , e +*o +∇* × +* = − cp c3 +∇* × p +* + …‡* = v% w% c +*o c3 . (35) (36) (37) (38) Observa-se na proposta de Proca que somente as equações de Maxwell com fontes foram alteradas. Isso é razoável porque sendo … um parâmetro massivo, os potenciais Φ e ‡* passam a ter significação real. Assim, usando essas quatro equações e algumas identidades vetoriais, facilmente se chega à equação de onda de Maxweel-Proca para o potencial Φ: (−∇ + …)Φ(., d, e; 3) = − 1 c Φ(., d, e; 3) . c3 Da mesma forma se obtém para o campo ‡*. (39) Essa equação revela dois aspectos interessantes. Que há uma notável semelhança entre a equação de onda de Klein-Gordon com a equação de onda de Maxwell-Proca. Que o fóton se propaga como uma onda massiva, pois se 35 +* . ‰* − Œ3), ela é solução da Φ(‰*; 3) é uma onda plana do tipo Φ(‰*; 3) = Φ% ŠH‹(t equação (39), e da qual resulta: Œ =t +… . (40) Ademais, podemos multiplicar essa relação de dispersão acima por ℏ (ℏ simboliza a constante de Planck dividida por 2•), pois sendo as suas substituições na expressão (40) fornecem: =) + …ℏ +* , = ℏŒ e )* = ℏt . (41) Não obstante, para que essa expressão seja compatível com a equação da energia relativística é necessário que: … ⁄4• = ( Ž) $ = (ℎ⁄ % )$ , (42) ou seja, nessas condições … é realmente um parâmetro relacionado a massa de repouso do fóton, sendo Ž, o seu comprimento de onda Compton, uma grandeza que aparece somente no estado de repouso da partícula. 36 CAPÍTULO 6 EQUAÇÃO DE ONDA DA MATÉRIA DUAL 6.1. INTRODUÇÃO Ao longo da jornada sobre as equações de onda da Física apresentadas no capítulo anterior é oportuno salientar que de D’Alembert a Maxwell passaram mais de 100 anos. A razão é que os dois trataram de campos macroscópicos e de assuntos aparentemente distintos, enquanto a proposta de Schrödinger, Klein-Gordon, Dirac e Proca foi de tentar encontrar a equação dinâmica de movimento de uma partícula e associá-la a um campo através dos princípios da teoria quântica, cuja abordagem se estabelece no mundo microscópico, ou seja, de alguma maneira os trabalhos desses últimos estão correlacionados. De todo modo, a formulação matemática de cada uma das equações de onda apresentadas anteriormente foi construída especificamente para tratar de um particular sistema físico e independente do nível ser macro ou microscópico essa formulação resultou na determinação de uma equação de onda de algo que oscila. Então, se pensarmos que quaisquer corpos, substâncias ou meios oscilam por que tudo é constituído de matéria e radiação, podemos inferir que os estágios macroscópicos de oscilação desses mesmos corpos, substâncias ou meios, se verificam, porque são médias dos estágios microscópicos da radiação ou da matéria que oscilam nesse nível, e ai a sua coletividade pode ser medida através do estágio macroscópico. Nesse sentido, todas as equações de onda devem ter o mesmo perfil matemático em essência, seja em nível macro ou microscópico. Daí podermos concluir que se “tudo oscila” deve existir uma única equação da qual poderemos determinar as demais equações de oscilações, destacadas as suas peculiaridades. 37 O objetivo deste capítulo, portanto, é mostrar que as equações de onda dos sistemas físicos, que são capazes de explicar os mecanismos pelos quais esses mesmos sistemas evoluem no espaço e no tempo, podem ser sintetizadas e compreendidas a partir de uma única formulação matemática mais geral. 6.2. EQUAÇÃO GERAL DE ONDAS E PARTÍCULAS Quando escrevemos o momento obtido na seção 2.4, do capítulo 2, equação (15), em termos da energia, ele passa a fornecer um padrão de todas as equações de onda da Física, ou seja, é uma equação geral do tipo: < = onde: = + , (43) ⁄ 1− e, = com = [1 − é a massa, e = ] \ ^] _ $ ⁄ 1− 1− (44) ⁄ , (45) e com as grandezas definidas: 1) < é o momentum, é a velocidade da matéria dual; 2) é a energia da partícula e , a velocidade de sua onda associada; 3) é a energia da onda de radiação e , a velocidade da partícula associada (fóton). Nessa base e considerando que os operadores de energia e momento, respectivamente +* , agora, são usuais e aplicáveis em = ℏc⁄c3 e )* = − ℏ∇ todos os ramos da Física (clássica, quântica e relativística), podemos adequar os sistemas de interesse para escrever a equação de onda a partir do conhecimento da equação da partícula e vice-versa. A equação (43) fornece o caminho. 38 6.2.1. Equação de D’Alembert no Formalismo Dual Então, em regime clássico a velocidade dual é igual à própria velocidade da partícula. Portanto, quando = ", a equação (43) se reduz a: ) = . Desse modo, para um campo f(., d, e; 3) onde )* e (46) atuam como os operadores das equações (24) e (25) e, considerando tratar-se de um movimento harmônico coletivo de vibração das partículas de uma corda, com = gh⁄i sendo a velocidade total da onda, temos a equação de D’Alembert: ∇ f(., d, e; 3) = 1 c f(., d, e; 3) , c3 (47) 6.2.2. Equação de Maxwell no Formalismo Dual As ondas eletromagnéticas de Maxwell viajam com a velocidade da luz. Nesse caso, = e, portanto, não teremos o primeiro termo à direita da equação (43), que se reduz agora a: ) = . (48) Então, para um campo eletromagnético f(., d, e; 3), no espaço livre, onde )* e com também atuam como os operadores das equações (24) e (25) e, = 1⁄gv% w% , temos a equação de Maxwell: ∇ f(., d, e; 3) = 1 c f(., d, e; 3) , c3 (49) 6.2.3. Equação de Schrödinger no Formalismo Dual Recordemos que Schrödinger utilizou os resultados de D’Broglie para obter sua equação de onda. Ele considerou a dualidade proposta por D’Broglie e criou os operadores de energia e momento como suporte de sua formulação. Aqui, levaremos em conta a outra condição de D’Broglie: " = , que será 39 utilizada em nosso formalismo dual para a partícula, onde equação geral (43) assume a seguinte forma: ) = = ". . " Portanto, para uma função de onda f(., d, e; 3), onde )* e Logo a (50) são os operadores das equações (24) e (25) que sobre ela atuam, escrevemos: −ℏ ∇ f(., d, e; 3) = [ No regime não-relativístico: " _ ℏ cf(., d, e; 3) . c3 • (com = = 1) e " (51) = 2 , ou seja, a velocidade da partícula, que representa o grupo de ondas, é duas vezes o valor da velocidade de fase da onda. Nessa circunstância, escrevemos a equação de Schrödinger da partícula livre: − ℏ 2 • ∇ f(., d, e; 3) = ℏ cf(., d, e; 3) . c3 (52) 6.2.4. Equação de Klein-Gordon no Formalismo Dual Trata-se da primeira versão relativista da equação de onda de Schrödinger, que aqui será obtida impondo igualmente a condição de D’Broglie, " onde: = . Ressalta-se que estamos tratando de um formalismo dual e é nessa condição que aparecem conjugadas a velocidade da partícula e da onda associada, por isso ela é aplicável em qualquer nível, seja clássico ou quântico, seja relativístico ou não-relativístico. O sistema físico determinará sua forma de aplicação. Então, como o segundo termo à direita da equação geral (43) torna-se nulo para = " e, substituindo equação, o resultado fornece: = ) = y o " " no primeiro termo dessa mesma . (53) Contudo, 40 " =1− 1 . (54) Logo, resulta da equação (53) a equação de uma partícula: −) − =0 % . Mas, assumindo que f(., d, e; 3) é um campo escalar, com )* e (55) sendo, agora, os operadores das equações (24) e (25) que atuam sobre f(., d, e; 3), então escrevemos a expressão (55) na versão ondulatória: 1 c % −∇ +[ _ c3 ℏ f(., d, e; 3) = 0 . (56) Essa equação é conhecida na literatura como equação de Klein-Gordon da mecânica relativística. 6.2.5. Equação de Dirac no Formalismo Dual Da mesma forma que Dirac, temos a concepção que para descrever corretamente a equação de onda relativística para partículas de spin ℏ⁄2, em particular para o elétron, é necessário partir do hamiltoniano m , como fez Schrödinger; e não de seu quadrado, m , como fizeram Klein e Gordon. Então, no formalismo dual partiremos da equação (53) para a partícula na seguinte forma: e com a relação expressão: . "⁄ " = )*. )* , (57) , dada pela equação (54), facilmente chegamos à − % −1 =) ⁄ , (58) E, portanto, ao resultado relativo à energia da partícula: onde, }* = ++*" ⁄ e ~ = •1 − ! = }*. )* + ~ "⁄ # € ⁄ % , (59) . 41 Por último, usando os mesmos critérios adotados para a obtenção da e )* como os operadores da equação de Klein-Gordon, onde assumimos mecânica quântica, porém, agora, atuando sobre um campo spinorial f(., d, e; 3), escrevemos a equação de Dirac: onde )% = ℏ cf(., d, e; 3) , c3 +* + ~)% #f(., d, e; 3) = !− ℏ}*. ∇ % (60) é o momento de repouso da MD relativo à partícula, já discutido no capítulo 2, seção 2.4, deste trabalho. É importante destacar que nosso objetivo nesta seção não é descrever o trabalho completo de Dirac, mas somente encontrar sua equação de onda via o formalismo dual proposto pelo autor. É oportuno também ressaltar que uma das dificuldades de obter a versão relativística da equação de Schrödinger residia no fato de escrever o hamiltoniano, que representa a energia do sistema. O que se tinha à época era =‘+ % , onde ‘ é a energia cinética relativística, até então desconhecida. (61) Essa falta de conhecimento impediu que se escrevesse a equação (61) usando e )* como os operadores quânticos de Schrödinger, pois não se conhecia a forma de ‘ relativística e sua dependência com )*. Em 2007, o autor e BASSALO obtiveram a expressão de ‘, que aparece também na tese publicada pelo autor, em 2016, de modo que, hoje, podemos escrever a equação da energia da seguinte forma: =’ +1 “ )*. ++*" + % . (62) Essa expressão permite também que encontremos facilmente a equação de Dirac (Apêndice). No entanto, não partimos dela porque nosso objetivo, como já referenciamos, é demonstrar que a equação geral de onda (43) é válida para qualquer sistema, ou seja, ela também reproduz a equação de Dirac (60) e é compatível com a equação (28). 42 6.2.6. Equação de Maxwell-Proca no Formalismo Dual A equação geral das ondas (43) é composta dois termos: o termo da partícula e o termo da onda de radiação. Nessa equação quando substituímos = " obtemos a equação (46), que é aplicável também às partículas. No formalismo dual as partículas são MD’s, e isso significa que a equação (46) tem exatamente a forma: < = . (63) Além disso, foi mostrado no capítulo 4, seção 4.5, que quando a partícula “pára”, como a energia e o momento se conservam, a MD torna-se uma matéria dual de radiação, uma MD-fóton. Nessas circunstâncias, portanto, a equação (63) assume a forma: onde: )% = )% = % , % é o momento de repouso da partícula e % = de repouso, ambos vinculados a MD-fóton que tem velocidade = % e também que = % %, " desde que = % = %( , a energia . − 1)$ ⁄ , . Essas relações valem para todas as partículas. Logo para a MD-fóton, temos: = = Além disso, demonstramos em 2015, (tese) que (64) %. = %! − 1# $ ⁄ e Nessa base, podemos usar todas essas informações relativas à MD- fóton e substituir as grandezas de interesse que envolvem a partícula ()% , a onda ! , # , pára, enfim, obtermos a equação da partícula: =) + …1 . %) e (65) No formalismo quântico usamos os operadores das equações (24) e (25) sobre um campo eletromagnético f(., d, e; 3), resultando: (−∇ + … 1 )Φ(., d, e; 3) = − 1 c Φ(., d, e; 3) , c3 Essa é a equação de onda de Maxwell-Proca para … 1 = ℏ … = (66) % . 43 6.3. CONCLUSÕES É importante ressaltar que este trabalho inicia com a proposta de duas realidades R1 e R2. R1) A radiação- interage com um núcleo, “desacelera” e ao mesmo tempo um elétron é emitido. Em processo inverso, um elétron interage com esse núcleo, “desacelera” e ao mesmo tempo há emissão de radiação- . R2) Um feixe de elétrons e um feixe de fótons (de radiação- ) são lançados contra um dispositivo de dupla fenda que evidencia tanto para o elétron quanto para o fóton um comportamento dual idêntico: a interferência. Chegamos ao final do trabalho e parece que agora é possível compreendermos, ao menos fenomenologicamente, como essas realidades se processam. A realidade R1 é explicada pela equação de onda geral (43) que justifica o fato de um elétron rápido em processo de “desaceleração abrupta”, emitir radiação-X, por exemplo, cuja equação de onda é fornecida pelo modelo de Proca no formalismo dual, onde fótons massivos podem propagar ondas desse tipo de radiação. Do mesmo modo, quando essa mesma radiação-X sofre determinada interação de “frenagem”, ela passa a gerar massa, obedecendo à equação de onda de Klein-Gordon no formalismo dual. É uma via de mão dupla. A realidade R2 é perfeitamente compreendida, ainda que se use um único elétron ou um único fóton, quando ambos são considerados como MD’s, pois essas partículas ao se depararem com o instrumento óptico da dupla fenda, se ajustam como ondas, ao estágio da prevalência ondulatória, conforme equação geral (43), em um tempo ditado pelo princípio da incerteza. Em outras palavras, elétron e fóton são MD’s e uma vez postos a existirem constituem um único “ente”, uma causa interna que justifica efeitos que podem ser medidos em um tempo mensurável pelo princípio da incerteza, tendo em vista a prevalência dual; ou uma causa latente, onde a partícula gera radiação e vice-versa, em processos simultâneos. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS Essa última parte do presente trabalho está em grande parte fundamentada no contexto de duas excelentes obras de divulgação científica de Mário Schenberg e de Max Born et al, onde algumas de suas muitas discussões foram matematicamente traduzidas na tese que apresentei, em 2015, e também aqui. Basicamente elas têm um teor perfeitamente ajustáveis as nossas idéias e as nossas considerações, a seguir. As discussões sobre a natureza da luz, entre os séculos XVII e XVIII, remontam os contemporâneos Newton e Huygens. Historicamente e de modo factual a idéia de Huygens, em tratar a luz como onda, prevaleceu sobre a defesa de Newton de considerar a luz como um conjunto de corpúsculos. Nessa direção, Young e Fresnel ao estabelecerem os fundamentos da óptica ondulatória, no começo do século XIX, fomentaram em definitivo a derrocada da teoria corpuscular da luz, ao menos aparentemente abandonada com a aceitação do campo ondulatório. Na realidade, foi durante este século que se inicia um novo desenvolvimento na Física. A noção de campo é introduzida por Faraday e a rapidez com que ela é adotada acabou por abalar muito da física newtoniana. No final do século XIX, com a descoberta do elétron e a teoria cinética dos gases, baseada nas primícias newtonianas, e, ao mesmo tempo, o campo ondulatório em plena ascensão, principalmente porque as leis de Maxwell ao unirem a eletricidade ao magnetismo permitiram identificar a luz como uma onda eletromagnética, iniciou-se a busca por uma nova síntese na Física: unir campo às partículas. No começo do século XX, nasce a teoria quântica e rapidamente suas aplicações chegam ao átomo com os modelos de Bohr e Sommerfield. Também, neste início de século são criadas a teoria da relatividade especial e da relatividade geral, é o período que se pressupõe ser o ápice da teoria do campo clássico. 45 É curioso que Newton, no século XVIII, defensor da teoria corpuscular da luz, tenha tido a idéia de campo, como foi salientado pelo próprio Faraday, mas claramente não a usou para associar à natureza da luz. Também é curioso Einstein, no século XX, ter criado a relatividade especial para combinar com o campo eletromagnético, onde a luz é uma onda, e explicado o efeito fotoelétrico através da teoria quântica, onde a luz é identificada com um comportamento corpuscular. São dois trabalhos aparentemente sem conexões, publicados em um mesmo período de 1905, que deixam evidente o comportamento dual da luz. Contudo, Einstein não citou e não fez qualquer referência nesses dois trabalhos sobre a dualidade. No entanto, restava claro que a dualidade era um fenômeno que deveria ser explicado pela combinação da teoria da relatividade com a teoria quântica. E D’Broglie enxergou isso. As experiências com raios-X evidenciavam cada vez mais a natureza quântica e dual da radiação. Os raios-X difratam como ondas e desviam da matéria como partículas. D’Broglie imaginou que elétrons poderiam ter as mesmas propriedades, daí nasceu a hipótese da dualidade como um “elemento comum” às partículas materiais e às radiações. Mas a noção de partícula é incompatível com a noção de onda, principalmente porque a primeira é localizável, a segunda, não. Portanto, era algo paradoxal atribuir a uma mesma partícula aspecto corpuscular e aspecto de um campo ondulatório, exatamente porque esses aspectos são distintos. Dever-se-ia, então, escolher um caminho. A relatividade especial é uma teoria de partículas e parecia fechada, onde nada mais pudesse ser criado em sua estrutura. Por isso os físicos apostaram em uma teoria quântica de campos, onde convenientemente podese justificar como o campo eletromagnético tem aspectos ondulatórios e, ao mesmo tempo, está associado às partículas – os fótons. Por essa razão ela é conhecida também como teoria do campo quantizado. Todavia, o campo eletromagnético é gerado por uma partícula material carregada e em movimento, que não é o fóton, pois esse aparece associado ao campo, que foi gerado pela partícula material. Então, fótons não são geradores 46 do campo eletromagnético, mas tão somente “partículas mensageiras do campo”. Eles surgem igualmente com o campo, da carga em movimento. Portanto a teoria de campos não desvenda o mistério da dualidade, onde as partículas têm em si um comportamento ora corpuscular ora ondulatório. Um elétron, por exemplo, é uma partícula que possui o seu próprio campo de ondas, que não é o campo eletromagnético. Mostramos na tese e no presente trabalho que ainda podemos contribuir com a relatividade especial e a teoria quântica, em especial com a mecânica ondulatória. Contudo foi preciso apresentar novas idéias e novos conceitos. E essa é uma das razões da dificuldade de entender a relatividade e a teoria quântica. Em um momento ou outro, elas estabelecem conflitos conceituais que não estão de acordo com a nossa intuição. A nossa intuição de mundo, onde vivemos e aprendemos nele, corresponde mais ou menos aoda física clássica newtoniana, que permite a observação do concreto e do real que rodeiam nossas vidas, e não da relatividade e menos ainda da mecânica quântica. Ao estudar mecânica quântica devemos nos acostumar com a abstração, criando modelos matemáticos que se ajustem o máximo possível de uma intuição mais plausível. Essa intuição abstrata pode ser desenvolvida do mesmo modo como foi utilizado o conceito de “estado”, antes somente usado na mecânica estatística. Esse conceito começou a adquirir uma importância enorme quando se buscou interpretar a função de onda de Schrödinger, onde se verificou que tal função não representava um processo ondulatório do tipo clássico, mas a descrição do “estado” de um sistema quântico. Não podemos esquecer que foram Bohr, Kramers e Slater, em 1924, os precursores da adoção das regras estatísticas aos princípios quânticos que levaram a noção de “estado”. A idéia era juntar as concepções contínuas do campo eletromagnético com o quantum, postulado por Planck, através da seguinte interpretação: o campo das ondas eletromagnéticas determina apenas a probabilidade de um átomo absorver ou emitir energia luminosa por quantas no espaço em consideração. 47 Não obstante, tal interpretação probabilística não estava de todo correta, era necessário vincular a probabilidade com o campo de ondas da partícula, que deve obedecer uma equação de onda matematicamente formulável, pois as leis da natureza determinam a probabilidade do evento ocorrer e não a ocorrência do evento. Tal interpretação foi dada por Max Born e aplicada a função de onda de Schrödinger. Born interpreta que as leis da natureza formuladas em termos matemáticos não mais determinam os próprios fenômenos, mas a possibilidade de ocorrência, a probabilidade de que algo ocorrerá. Essa interpretação estatística além de estar de acordo com a situação experimental foi comprovada em muitas investigações e experimentos quânticos. Parecia não haver dúvidas quanto à formulação matemática e a interpretação dos resultados experimentais. No entanto, todas as experiências dependem de uma relação inequívoca entre a observação e os fenômenos físicos em que ela se baseia. Nesse sentido, quando se confronta a interpretação estatística da teoria quântica com a Física clássica é neste ponto que é posta em causa a inequívoca determinação dos eventos. Desse confronto nasceu um novo princípio estabelecendo que os conceitos da Física clássica e suas aplicações são limitados por relações de incerteza. O problema é que as interpretações de resultados experimentais, baseadas nessas relações, têm como conseqüência o completo abandono da causalidade, colocando o observador com a autoridade de definir um resultado experimental. Pelo menos é assim que a maioria dos físicos interpreta o princípio da incerteza. Respeitosamente compreendo que interpretar não é algo simples. E ninguém assegura com plena convicção, por algo que não tem acesso direto, que essa forma de interpretar o princípio da incerteza esteja absolutamente certa ou completamente errada. Contudo, no que pesem as interpretações, é na autoridade de Born que precisamos nos concentrar. Para isso repetimos o texto: 48 “Born interpreta que as leis da natureza formuladas em termos matemáticos não mais determinam os próprios fenômenos, mas a possibilidade de ocorrência, a probabilidade de que algo ocorrerá”. Então, se partimos da premissa que algo só poderá ocorrer se lhe for dado causa, não podemos em um evento de jogar uma moeda para o alto esperar que caia cara ou coroa, se não jogarmos a moeda. Essa é a primeira causa. A segunda são as interferências que a moeda sofrerá até chegar ao solo. Para nenhuma dessas causas temos fórmulas matemáticas para determinar que caia cara ou coroa. A formulação probabilística se dá por ocasião dos efeitos que dependem das causas, que somente em um grande espaço amostral de lançamentos, a moeda poderá chegar ao solo com 50% de chance de ser cara ou coroa e chances remotas de cair de “pé”. Embora tratar-se de um exemplo macroscópico, grosso modo, essa idéia é central no que tange as discussões sobre causa e efeito, inclusive neste trabalho que apresento. A matéria dual-MD é a causa da dualidade, na qual coexistem elétron e fóton, e são seus efeitos enquanto partícula ou campo ondulatório que são tratados matematicamente. Então, todas as formulações quânticas e relativísticas existentes para o fóton e para o elétron estão corretas quando definimos os efeitos como atributos matemáticos da matéria dual-MD, e isso nos provamos matematicamente. E, mesmo quando tratamos de sistemas contínuos, como o campo eletromagnético, por exemplo, onde o conceito de estado se torna mais abstrato, a matemática da MD indica, neste caso, que a função de onda deve ser tomada como uma função de infinitas variáveis. Felizmente, antes mesmo da teoria quântica ter sido criada, um espaço de dimensão infinita, para tratar desse tipo de função, já existia – o espaço de Hilbert – que depois foi estendido para o campo complexo. Esse espaço foi considerado pelo matemático Von Neumann como uma descrição conveniente para os estados dos sistemas da mecânica quântica. Se bem refletimos, mesmo a relatividade especial encontra suporte no campo complexo com a introdução da quarta dimensão espacial que 49 claramente tem dimensão de comprimento de onda. Então as coordenadas espaciais apontam na direção de uma partícula e a quarta coordenada, no eixo complexo, aponta para algo inerente a uma onda. Em minha tese e neste trabalho, foi mostrado que a energia e o momento são grandezas complexas. É provável que os observáveis da mecânica quântica sejam todos eles grandezas complexas, sendo, portanto, necessário criar e adequar uma matemática própria, dentro do espaço de Hilbert, que seja capaz de dar a eles uma significação mais geral. Talvez este problema esteja relacionado à imagem de tratar e descrever um processo quântico relacionado ao elétron, por exemplo, como se fosse uma única partícula singular. Entrementes, se o tratarmos como pertencente e “escondido” por uma matéria dual é um fato objetivo que as experiências a que é submetido apresentam resultados que nada têm a ver com a questão de ele ter sido observado ou não, sendo dessa forma, independente do observador. Essa questão pode também ser explicada pelo seguinte fato que se vincula a existência de matéria dual: segundo a teoria da relatividade a energia é conversível em massa, então todas as partículas são compostas da mesma substância – a energia. Dessa forma as partículas constituem as várias formas que a energia deve assumir a fim de tornar-se matéria. Portanto, temos boas razões para crer que elétrons e fótons são manifestações de uma única estrutura fundamental que pode ser expressa por equações matemáticas, via energia e momento, onde essas partículas são a solução. E isso ficou muito bem estabelecido com a equação de onda da MD, que pode representar a onda de Maxwell, de Schrödinger, de Klein-Gordon, de Dirac, de Proca, inclusive de D’Alembert, dependendo somente da análise sobre as propriedades do sistema de interesse. A vantagem de se adotar essa estrutura é que ela pode apresentar as propriedades de simetria das partículas que coexistem em seu interior, uma vez que elas passam a existir com identidade própria. Portanto, ela pode conter o chamado grupo de Lorentz, que podemos considerar como a representação da igualdade do espaço e tempo exigida pela relatividade especial. Ademais, ela é também pode ser simétrica para um operador de campo considerado 50 como spinor, pois a equação de Dirac, dela derivada, impõe essa natureza de campo quando se leva em conta o spin da partícula. Tal como os corpos elementares regulares de Platão, as partículas elementares da física moderna são definidas por condições matemáticas de simetria; não são eternas e nem invariáveis e, portanto, dificilmente podem ser chamadas “reais” na verdadeira acepção da palavra. São antes simples representações daquelas estruturas matemáticas fundamentais a que se chega na tentativa de continuar subdividindo a matéria. Elas representam o conteúdo das leis fundamentais da natureza. A opinião aprovada, hoje, é que tudo, efetivamente tudo, é ao mesmo tempo partícula e campo, ou seja, tudo possui a estrutura contínua de campo, que nos é familiar, bem como a estrutura discreta de corpúsculo, que também nos é familiar. E isso é a matéria dual. As próprias partículas nucleares, os nucleons, que nos ensinaram considerar suas estruturas como partículas discretas, produzem padrões de interferência quando uma grande quantidade deles é impelida contra a superfície de um cristal. A dificuldade que existia e que era igual em todos os casos era combinar essas duas características tão amplamente diversas numa única configuração, mas com a tese e este trabalho, essa dificuldade não constitui mais obstáculo para a formação de uma imagem, que antes parecia variável e incerta. A matéria dual-MD, onde coexistem fóton e elétron, pode ser representada, em cada ponto, como um trem de onda regularmente progressivo onde há uma dupla relação estrutural de efeitos, que é possível diferenciar como “longitudinal” e “transversal”. A estrutura transversal é das ondas superficiais e aparece em experiências como difração e interferência; a estrutura longitudinal é a das normais de onda e se manifesta na observação de partículas isoladas. Por fim, acreditamos que a tese e este trabalho apresentam uma interpretação absolutamente plausível quanto a questão do mistério da dualidade, sobretudo cremos serem eles uma contribuição a mais para o desenvolvimento da ciência. 51 APÊNDICE – Equação de Dirac Dada a equação da energia da partícula na forma, =’ Com a substituição de ", +1 “) " + % . (‡1) dada pela expressão (44), escrevemos −1 +1 ( − %) ’ “= ⁄ ) , (‡2) E, após simples algebrismo encontramos: = }*. )* + ~ onde, }* = ++*" ⁄ e ~ = •1 − ! "⁄ # € ⁄ % , (‡3) . Adicionalmente, para escrever a equação (‡3) no formato igual aos das equações de onda obtidas no formalismo dual, devemos usar operadores quânticos, cujo resultado fornece: +* + ~)% #f(., d, e; 3) = !− ℏ}*. ∇ e )* como ℏ cf(., d, e; 3) , c3 (‡4) Desse modo se verifica que essa expressão é uma equação de autovalor do tipo: +* + ~ onde m = − ℏ }*. ∇ mf(., d, e; 3) = ℏ %. cf(., d, e; 3) , c3 (‡5) Por fim, precisamos saber o que representam os coeficientes }* e ~, presentes na equação (‡3), a fim de serem compatíveis com as expressões da relatividade especial e ao mesmo tempo com as equações de onda da teoria quântica. Para isso elevaremos a equação (A3) ao quadrado, resultando: 52 =} ) +~ % + ”(}~)() ) + (~})( ))• . (‡6) Assim, para que tenhamos ajustada a expressão (‡6) com a equação (32) é necessário impor que: i) ii) iii) } =~ ; }~ = −~}, pois ). e o são diferentes de zero; } e ~ sejam matrizes. Nessa construção, podemos escrever: }— = ~ – }— }˜ + }˜ }— = 2™—˜ 5 , }— ~ + ~}— = 0 (‡7) ou seja, os coeficientes }e ~ não são simples números e, devido m ser um operador hermitiano, temos que } e ~ são matrizes hermitianas. Assim como é fácil verificar de (‡7) que elas possuem traço nulo e que seus autovalores são ±1. Em suma, a compatibilidade da relatividade especial com o princípio da incerteza está presente em (‡4) pelo fato de considerar que os operadores que atuam sobre f(., d, e; 3) não devam depender das coordenadas espaciais, de modo que } e ~ devam também ser independentes da posição, logo, comutam com os operadores de posição e momento. Nessas circunstâncias, essas matrizes descrevem um novo grau de liberdade relacionado a uma propriedade interna do elétron – o spin. 53 NOTAS Nota 1- Em maio de 2004 foi aceita para publicação no VI Congresso Brasileiro de Geógrafos, a excelente Resenha de Sérgio Almeida Loiola (IESA/UFG), intitulada: BOHM, David. A totalidade e a ordem implicada: uma nova percepção da realidade. 12. ed. Trad.: Mauro de Campos Silva. São Paulo: Cultrix, 2001. 292 p. Dessa Resenha, destaquei alguns trechos que considero próximos das questões filosóficas que abordei nos capítulos 1, 2 e 3, do presente trabalho e que se adicionam para novas reflexões: “Tanto Bohm quanto Einstein, nunca aceitaram as interpretações correntes da teoria quântica, entretanto, por motivos diferentes. A crítica bohmiana propõe que há uma ordem oculta atuando sob o aparente caos e falta de continuidade das partículas individuais de matéria, descritas pela mecânica quântica a partir das interpretações estatísticas da escola de Copenhagen. Em “A Totalidade e a ordem implicada”, Bohm sustenta que deve ser possível lidar com variáveis ocultas no nível subquântico mecânico na física das partículas, ou seja, ir muito além do experimento do qual derivou o Princípio da Incerteza de Heisenberg, embora não o invalide. Mesmo se opondo a interpretação de Copenhagen, a teoria de Bohm integra-a numa visão mais ampla e reafirma a superação do princípio cartesiano que separa sujeito e objeto. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Outro obstáculo apontado por Bohm ao desenvolvimento de uma visão mais ampla na física estaria na teoria da relatividade geral, apesar dela ser uma das revoluções científicas do século XX. Essa teoria superou a visão clássica de tempo e espaço absoluto newtoniana, introduzindo uma noção de tempo e espaço relativa ao sistema de coordenadas. Impôs nova noção de estrutura, na qual o corpo rígido deixa de ser um conceito primário, sendo substituído por eventos e processos. A análise e a síntese cartesiana, adequada à ordem determinístico-causal de Galileu e Newton, deixaram de ter primazia na relatividade, dada ao pressuposto einsteiniano de um universo de campos de forças contínuos. Entretanto, é justamente a ênfase na continuidade do campo o obstáculo conservador da relatividade. 54 Nesse campo contínuo einsteiniano, diferentes referenciais estariam interligados, ou se comunicando, por um “sinal” eletromagnético caminhante a uma velocidade limite e constante: a da luz. Nesses termos, segundo Bohm, embora a teoria da relatividade trate de um campo unificado, tanto a análise abstrata conceitual (em partes) do conteúdo independente e autônomo desse sinal de comunicação entre os sistemas de referenciais relativistas, quanto a análise abstrata quântico-estatística de Copenhagen se aproximam da mecânica newtoniana, pois consideram o mundo constituído por partes distintas e interagentes. Suas bases analítico-conceituais igualmente impedem a observância da totalidade indivisa implicada pela teoria quântica. Além disso, a continuidade relativística dos campos contraria o que as pesquisas têm demonstrado: a descontinuidade dos campos gravitacional e eletromagnético, devido suas propriedades quânticas em ponto zero. Como, então, combinar comportamentos descontínuos numa visão não analítica (global) da realidade? Este é o cerne do paradigma bohmiano contido no livro. É preciso pensar uma nova noção de ordem, medida e estrutura, que inclua numa totalidade ininterrupta e indivisa, tanto o aparelho de medida, o objeto e as noções teóricas do observador. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Assim, muito mais que uma teoria, o autor propõe uma nova forma de ver a realidade, em que haveria uma realidade implicada, multidimensional, dobrada dentro de si, cuja dinâmica é desconhecida, de onde derivaria uma ordem explicada. Esta é sensível aos sentidos e aos instrumentos. Juntas, ordem implicada e explicada compõem uma totalidade ininterrupta e indivisa, ou uma ordem de grande abrangência. Ao contrário de Descartes, para quem a totalidade da ordem é potencialmente manifesta, essa totalidade da ordem abrangente bohmiana é entendida pela composição de uma ordem manifesta e outra oculta. O forte embasamento teórico-filosófico acerca dessa visão de realidade e seus significados influenciaram e continuam a influenciar o conjunto das ciências. No entanto, seu amplo espectro ainda é pouco conhecido, justificando a leitura minuciosa dessa obra. Não fosse a elegância incomum da demonstração matemática, filosófica e conceitual de Bohm, provavelmente a noção de abrangência seria comparada à metafísica. O leitor certamente se encantará com suas ilustrações.” --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 55 Nota 2 - “Descoberto o estado sólido da luz”, com esse título foi produzida uma redação no site de inovação tecnológica, de 14/05/2007, onde pesquisadores descobriram que fótons se repelem como elétrons. Segue o texto publicado: Pesquisadores das universidades de Melbourne, Austrália, e Cambridge, Inglaterra, desenvolveram uma nova teoria que mostra que a luz pode se comportar como um sólido. “A luz sólida irá nos ajudar a construir a tecnologia deste século”, diz o Dr. Andrew Greentree. Ao invés de utilizar as ferramentas tradicionais encontradas nos laboratórios de óptica, os cientistas tiveram que empregar técnicas comumente utilizadas para estudar a matéria. Luz sólida – “Fótons de luz sólidos repelem-se mutuamente como acontece com os elétrons. Isto significa que nós podemos controlar fótons, abrindo as portas para novos tipos de computadores mais rápidos”, diz o cientista. No trabalho, os cientistas demonstram teoricamente como projetar “transição de fase” dos fótons, fazendo-os passar do comportamento sólido – quando eles interagem entre si como os elétrons – para o comportamento de onda tradicional da luz, na qual os fótons não interagem entre si. “Normalmente os fótons fluem livremente, mas, nas condições corretas, eles se repelem e formam um cristal”, diz Greentree. A nova teoria cria um campo totalmente novo de pesquisa, fazendo uma interseção entre a óptica e a física da matéria condensada. Agora, os pesquisadores experimentalistas vão começar a estudar a nova teoria para descobrir formas de testála na prática. Nota 3 - No site www.bassalo.com.br, Curiosidades da Física, há uma discussão intitulada “Uma possível interpretação do comprimento de onda Compton”, que antecede às questões aqui apresentadas sobre o momento de repouso de uma partícula. Nessa resenha também está publicada uma nova fórmula para a energia cinética relativística, obtida através da própria teoria da relatividade especial (2007). Nota 4 – No site de inovação tecnológica, de 18/08/2016, foi publicada a matéria com o título “Nova forma de luz: híbrido de luz e elétron”. Penso que essa matéria tem tudo a ver com minha tese de 2015 e com o presente trabalho, por isso destaquei a sua redação: 56 Fóton misturado com elétron - Físicos demonstraram que é possível criar uma nova forma de luz fazendo com que um fóton se ligue a um único elétron, criando um híbrido que combina as propriedades da luz e da matéria. Esse acoplamento entre a luz e o elétron terá propriedades que poderão ser exploradas para construir circuitos fotônicos, onde a eletricidade - um fluxo de elétrons - seria substituída por uma forma mais versátil e mais rápida de transmissão. A mistura também permitirá o estudo de fenômenos físicos quânticos em escala visível. Híbrido fóton-elétron - Quando a luz incide sobre um material comum, ela interage com uma série de elétrons presentes na superfície e no interior do material. Contudo, ao elaborar um modelo de como a luz se comporta em uma classe recentemente descoberta de materiais, conhecidos como isolantes topológicos, Gleb Siroki, da Universidade College de Londres, descobriu a luz pode interagir com apenas um elétron na superfície do material. Essa interação pontual cria um acoplamento que combina algumas das propriedades da luz e do elétron. Por exemplo, enquanto normalmente a luz viaja em linha reta, quando ela se liga a um elétron ela passa a seguir o percurso que o elétron segue pela superfície do material. Entre as novas formas de luz descobertas recentemente estão um superfóton, um topolariton e uma roda fotônica. Da mesma forma, conforme a luz herda a propriedade do elétron e começa a circular, o elétron também passa a se comportar como se tivesse algumas das propriedades da luz, passando por onde um elétron normal não passaria. Assim, enquanto os elétrons que viajam ao longo de circuitos elétricos, por exemplo, param quando encontram um defeito na estrutura atômica do condutor, quando acoplado à luz, o elétron pode prosseguir mesmo que haja imperfeições no material. Circuitos fotônicos - Se esse comportamento fóton-elétron puder ser usado em circuitos fotônicos, esses circuitos poderão se tornar mais robustos e menos vulneráveis a perturbações e imperfeições físicas do material. "Os resultados desta pesquisa terão um enorme impacto na forma como pensamos sobre a luz. Os isoladores topológicos só foram descobertos na última década, mas já estão nos proporcionando novos fenômenos para estudar e novas maneiras de explorar conceitos importantes na física," disse o professor Vincenzo Giannini, coordenador do trabalho. Giannini acrescenta que deve ser possível observar o novo fenômeno experimentalmente usando a tecnologia atual, e sua equipe já está trabalhando para realizar esses experimentos. 57 Nota 5 - Também no site de inovação tecnológica, do dia 19/08/2016, foi publicada a possível descoberta da quinta força fundamental da natureza, cujo teor, entre outros aspectos, comenta sobre fótons escuros. A idéia desse tipo de fóton também foi abordada em 2015 (Nota 7, de minha tese para professor titular), contudo com o nome de “fóton vestido”. Aqui destaquei o texto do site: Revolucionário - Experimentos realizados por físicos húngaros em meados do ano passado podem ter descoberto uma nova partícula subatômica que revela a existência de uma quinta força fundamental da natureza. "Se for verdade, é revolucionário," disse Jonathan Feng, da Universidade da Califórnia, nos EUA, cuja equipe está apresentando uma nova teoria para tentar explicar a anomalia encontrada pelos físicos húngaros. "Há décadas nós conhecemos as quatro forças fundamentais: gravitação, eletromagnetismo e as forças nucleares forte e fraca. Se for confirmada por outros experimentos, esta descoberta de uma possível quinta força vai mudar completamente a nossa compreensão do Universo, com consequências para a unificação das forças e para a matéria escura," acrescentou. Nova partícula de luz - Em 2015, uma equipe da Academia de Ciências da Hungria estava à procura de "fótons escuros", partículas que poderiam explicar a elusiva matéria escura, que os físicos dizem que compõe cerca de 85% da massa do Universo. Eles não encontraram exatamente o que procuravam, mas descobriram uma anomalia no decaimento radioativo que aponta para a existência de um fóton com massa, uma partícula de luz exatamente 30 vezes mais pesada do que um elétron. "Os experimentalistas não foram capazes de afirmar que era uma nova força," disse Feng. "Eles simplesmente viram um excesso de eventos que indica uma nova partícula, mas não estava claro para eles se era uma partícula de matéria ou de uma partícula que transmite força". O grupo de Feng então reuniu, além desses novos dados, todos os outros experimentos anteriores na área e demonstrou que as evidências desfavorecem fortemente tanto partículas de matéria quanto os fótons escuros. Eles então propuseram uma nova teoria que sintetiza todos os dados existentes e determina que a descoberta pode indicar uma quinta força fundamental da natureza.Vários experimentos já levantaram a possibilidade da existência de uma Quinta Força Fundamental da natureza. 58 Bóson X protofóbico - A nova teoria estabelece que, em vez de ser um fóton escuro, a nova partícula pode ser um "bóson X protofóbico". Enquanto a força elétrica normal age sobre elétrons e prótons, este bóson recém-descoberto interage apenas com elétrons e nêutrons - e em uma gama extremamente limitada. "Não há nenhum outro bóson que tenhamos observado que tenha essa mesma característica. Nós simplesmente o chamamos de 'bóson X', onde X significa desconhecido," explicou Timothy Tait, coautor da nova teoria. Feng destaca que novos experimentos são cruciais, o que não será difícil, já que a partícula não é muito pesada e há vários laboratórios ao redor do mundo que conseguem gerar a energia necessária para que ela apareça: "Mas a razão pela qual tem sido difícil encontrá-la é que suas interações são muito fracas. Como a nova partícula é tão leve, existem muitos grupos experimentais que trabalham em pequenos laboratórios ao redor do mundo que podem seguir as indicações iniciais, agora que eles sabem onde procurar". Força mais fundamental e Setor Escuro - Como tantas outras descobertas científicas, esta abre campos inteiramente novos de investigação.Uma possibilidade intrigante é que essa potencial quinta força fundamental pode se juntar às forças eletromagnética e nuclear forte e fraca como "manifestações de uma força maior, mais fundamental," defende Feng. Citando o entendimento que os físicos têm do Modelo Padrão, ele especula que pode haver também um "setor escuro" inteiro, com sua própria matéria e suas próprias forças - englobando assim, a matéria escura e a energia escura. "É possível que estes dois setores [o normal e o escuro] falem um com o outro e interajam através de interações de alguma forma veladas, mas fundamentais," propõe ele. "Esta força do setor escuro pode se manifestar como esta força protofóbica que estamos vendo como resultado do experimento húngaro. Num sentido mais amplo, ela se encaixa com a nossa pesquisa original para compreender a natureza da matéria escura." Nota 6 - O texto a seguir trata de um destaque da dissertação de mestrado de GONÇALES (CBPF) sobre a relatividade especial com fóton massivo: Sabemos que a constante na eletrodinâmica de Maxwell representa a velocidade de propagação de ondas eletromagnéticas no vácuo, e que a relatividade especial foi desenvolvida, em parte, como consequência da constância da velocidade da luz. Contudo, uma das previsões da teoria de Proca é que há uma dispersão da velocidade do fóton massivo no vácuo. 59 Conforme vimos, as soluções de onda plana das equações de Proca sem corrente são ‡š ≈ H —œ •? • , onde t = = (Œ, ž) é o vetor que satisfaz à relação: Œ − t = Podemos ver através da equação Ÿ = (1 − ⁄Œ ) ⁄ que Ÿ = 0, para . = Œ, ou seja, a onda massiva não se propaga. E que t se torna uma quantidade imaginária quando Œ < , e, portanto, a amplitude da onda massiva livre seria atenuada exponencialmente. Apenas quando Œ > as ondas podem se propagar no vácuo, sem serem atenuadas. No limite Œ → ∞, a velocidade de grupo se aproximará da constante , o que é consistente com o pressuposto de Einstein de que há uma única velocidade limite, , para todos os fenômenos. Portanto, um novo postulado deve ser introduzido para restaurar as propriedades da teoria da relatividade especial para fótons de massa não-nula. O postulado é: Dados dois referenciais inerciais, o primeiro se movendo com velocidade ¢ em relação ao segundo, existe uma frequência Œ% , dependendo de |¢| e da precisão desejada ¤, tal que qualquer onda luminosa de frequência maior do que Œ% possuirá uma velocidade entre e − ¤ em ambos os referenciais. Uma massa não- nula para o fóton implica que a velocidade da luz não é uma constante única, mas uma função da frequência. De fato, o pressuposto da constância da velocidade da luz não é necessário para a validade da relatividade especial, isto é, a relatividade especial pode se basear na existência de uma única velocidade limite para a qual a velocidade de todos os corpos tendem quando sua energia se torna muito maior do que sua massa. Assim, a velocidade que aparece nas transformações de Lorentz seria simplesmente esta velocidade limite, e não a velocidade da luz. 60 REFERÊNCIAS BASSALO, J. M. F., Crônicas da Física, Tomo I, Editora UFPA, Pará, Brasil (1987). BASSALO, J. M. F., Crônicas da Física, Tomo 2, Editora UFPA, Pará, Brasil (1990). BORN, M.; ET AL, Problemas da Física Moderna, Coleção Debates, Editora. Perspectiva, São Paulo, Brasil (2004). CARUSO, F.; OGURI, Física Moderna – origens clássicas e fundamentos quânticos, Editora Campus, Rio de Janeiro, Brasil (2006). DE MORAES, B. T. 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