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imoocac13 –18 a 24 de junho de 2013
João Pedro Cardoso Martins da Silva, nº UAb 1005690
Tópico 4 – Uma perspetiva sociológica das alterações climáticas.
Ficha de Leitura
1. Referência bibliográfica:
Wilson, G., et al. (2012). T869 Climate change: from science to lived experience. Module 1:
Introduction to climate change in the context of sustainable development. Textbook. United
kingdom: Open University, 182 p. (Colab. de Paula Bacelar Nicolau).
2. Ideia principal:
Este texto apresenta-nos uma compreensão de como os sociólogos olham para as alterações
climáticas dentro da sua construção social, como avaliar de forma crítica as alterações climáticas
nas suas relações de poder e desigualdades sociais tanto ao nível local como global, como
considerar as relações entre a ação individual e a estrutura social na questão ambiental e como
reconhecer a importância crescente da interpretação sociológica nas alterações climáticas.
3. Ideias fundamentais:
Até agora, têm sido apresentados vários aspetos de análise científica, económica e política das
alterações climáticas, este capítulo fornece mais uma dimensão na construção em direção a uma
compreensão mais holística, que é a perspetiva sociológica. Essencialmente, a perspetiva
sociológica considera como qualquer fenómeno é mediado através das relações sociais de poder e
desigualdades incorporadas nas estruturas sociais locais e globais. Embora sabendo o lugar da ação
individual para alterar as coisas, a perspetiva sociológica centra-se em como as relações sociais,
moldadas pelos aspetos discriminadores como a classe, género e raça, influenciam o modo em
como os indivíduos medeiam o impacto das alterações climáticas.
4. Síntese:
A interligação entre o comportamento individual e as estruturas sociais
Uma perspetiva sociológica, como o nome sugere, surge da sociologia que é um estudo sistemático
da sociedade e relações sociais. Como uma disciplina pode ser agrupada sob o termo geral de
‘ciências sociais’ e partilha diversas ferramentas conceptuais, teóricas e metodológicas com outras
disciplinas dentro desta faixa, como por exemplo, a geografia humana e a antropologia.
Isto leva os sociólogos a analisar as complexidades da interação humana tanto a um nível micro e
macro, por exemplo, em relação às alterações climáticas, os sociólogos quererão considerar pelo
menos uma análise de três vias:
1.
do comportamento e atitude individual;
2.
dentro de específicos contextos sociais locais;
3.
e dentro de um contexto global que reflete as estruturas, questões e ações mundiais.
A sociologia é portanto um assunto científico social distinto em que é considerado a análise do
comportamento individual, primeiro através de uma compreensão crítica das estruturas sociais
dentro das sociedades, bem como na localidade imediata do indivíduo ou dentro de um contexto
mundial.
Nestas interligações, os sociólogos observam com atenção as nossas vidas diárias e a nossa
interação com os outros, como padrões e normalmente girando à volta de várias organizações,
instituições e estruturas na nossa sociedade imediata e mais ampla de uma forma previsível. Estas
previsões e padrões são definidos pelas expectativas nos papéis e nos estatutos que cada um tem
na sociedade e são importantes para o seu funcionamento – interações contrárias num modo
aleatório é frequentemente contraproducente e confuso! Como humanos, portanto, necessitamos
de estruturas incorporadas numa instituição social e organizações que são parte essencial de
qualquer sociedade. Estas estruturas incluem as famílias, a religião, a cultura, a educação e
organizações civis.
Como as sociedades têm muitas camadas através das quais tanto o comportamento individual como
social é definido, a perspetiva sociológica irá desfazê-las sistematicamente, a fim de perceber o que
há por detrás do comportamento individual. Por isso, enquanto o indivíduo é importante, a
sociedade dentro da qual vive e funciona ainda o é mais!
Por tudo isto, os sociólogos tentam identificar os padrões das relações sociais e casuais e procuram
encontrar o que se desvia destes padrões e explorar na sociedade o que os faz desviar. O processo
do descobrimento do desvio atiça assim a imaginação ainda mais e torna-se ainda mais vivo quando
permite aos sociólogos ponderar o que está a acontecer, não só no corpo dominante, mas também
nas margens da sociedade. Por exemplo, as noções de adaptação e vulnerabilidade, geralmente
usadas nas discussões sobre as alterações climáticas: (i) a capacidade de adaptação é a habilidade
de um sistema para se ajustar às alterações climáticas, para moderar os prejuízos potenciais, obter
vantagem das oportunidades, ou lidar com as consequências; a vulnerabilidade é o grau no qual um
sistema é suscetível para, ou incapaz de lidar com, os efeitos adversos das alterações climáticas,
incluíndo a variabilidade climática e os extremos. Tanto a adaptação como a vulnerabilidade são
negociadas dentro das margens dos seus contextos sociais específicos, que inclui identidades
culturais e sociais, capacidades e limites económicos da sociedade e os valores que sustentam as
tomadas de decisão. Por exemplo, ao nível individual, as pessoas ricas serão possivelmente mais
capazes de explorar uma gama de estratégias de adaptação, enquanto que as pessoas pobres
poderão passar por uma maior espiral descendente para a miséria. A capacidade individual para
atenuar a adaptação e a vulnerabilidade irá depender da idade, género, raça e outros fatores que
determinam o seus estatuto social geral e posição social, a adpatação e a vulnerabilidade, portanto,
dependem tanto de contextos sociais individuais como globais específicos.
Ao procurar pelo desvio, os sociólogos irão questionar pelo o que falta e não pelo o que é aparente,
pelo contexto mais amplo das alterações climáticas, por exemplo, os processos de liberalização
económica e comercial, dentro do qual os indivíduos terão escolhas limitadas em como irão
adaptar-se ou atenuar as alterações climáticas. A produção alimentar, por exemplo, é afetada pelas
alterações sazonais, temperaturas e chuvas que podem resultar em secas ou cheias. Agricultores de
todo o mundo têm que criar estratégias de adaptação para estas variações nas condições locias do
cultivo de alimentos, no entanto, também têm que responder à procura de uma mundo maior, o
contexto no qual inclui a urbanização, globalização e flutuações dos preços dos alimentos nos
mercados internacionais.
Que influência conta: a ação individual ou estrutural?
Uma questão importante para os sociólogos é a de estabelecer a importância relativa e a natureza
da ação individual em relação às estruturas sociais nos comportamento e ações de influência. Esta
questão surge do debate entre estrutura/ação individual que interroga: ‘Serão as escolhas de vida
individuais moldadas pela nossa capacidade de fazer escolhas controladas, livres e independentes
(ação individual), ou estarão elas ligadas a restrições e limitações definidas pelas estrutras sociais e
no contexto social em que cada indivíduo reside?’
Uma estrutura é definida como o padrão ou moldura de relações entre instituições sociais como
mercados, famílias, classes e fações políticas, enquanto a ação individual é definida pelas ações
dos indivíduos ou grupos e a sua capacidade de influenciar eventos.
Especialmente os indivíduos dos países em desenvolvimento, continuam na destruição e perda de
recursos porque têm uma ação individual limitada para fazer outras escolhas pois vivenciam uma
miséria estrutural em dois sentidos: (i) através da pobreza nacional e baixa produtividade per
capita, e (ii) como indivíduo vinculado ao poder e às relações desiguais dentro da sociedade que
restringe e determina as suas escolhas.
Anthony Giddens refere uma ‘dualidade estrutural’ ao argumentar que indivíduos são restringidos
pela sociedade mas, ao mesmo tempo, são eles que a fazem, os dois estão inexoravelmente
ligados.
Peter Berger e Thomas Luckman sugerem que a realidade, como percebida pelo indivíduo, é de
facto baseado nas estruturas sociais dentro da qual cada pessoa interage.
Assim, um indivíduo pode ter caracteríticas particulares que o definem mas, essencialmente, são os
discriminadores sociais gerais da idade, género e classe social que têm influência no seu
comportamento e oportunidades de vida.
O contexto ideológico dentro do qual a sociedade global opera é claramente importante na análise
da relação entre a estrutura e a ação individual, por exemplo, nas sociedades ocidentais onde
domina uma ideologia neo-liberal e de mercado livre e onde são particularmente valorizados a
individualidade e o empreendedorismo individual, a noção de que as nossas vidas são moldadas
pelos comportamentos previsíveis e padronizadas das estruturas sociais, não é algo que seja
imediatamente aceite para muitos. No entanto, embora reconheçam que alguns indivíduos são por
natureza mais empreendedores, mais determinados em fazer parte da competição nos mercados,
os sociólogos colocam a questão dentro de (i) estruturas locais onde a classe, género e raça podem
ajudar ou impedir os indivíduos, bem como (ii) o posicionamento geral do país e do indivíduo dentro
das estruturas globais que possa fazer o mesmo. Não quer dizer que outras disciplinas não
considerem também o global, mas para a perspetiva sociológica que se centra nas estruturas
sociais, isto é particularmente importante. Uma razão subjacente para isso é que os sociólogos
querem explorar como as estruturas sociais geram, manifestam e reforçam o poder e as
desigualdades na mediação das relações sociais e usam esses resultados para dirigir políticas e
ações que podem efetivamente resolver este desequilíbrio.
Mediar as relações sociais: poder, incapacidade e conhecimento
Para os sociólogos, o poder é central para a compreensão das relações sociais diárias. Eles
questionam quem são os poderosos, o que lhes dá poder e como o poderoso pode influenciar o
comportamento individual. O poder também é um conceito central especialmente se quisermos
entender como a mediação das alterações climáticas é negociada. Os sociólogos também estão
interessados na transição do poder para o empossamento e, pelo contrário, as questões
relacionadas com a incapacidade e a impotência que fazem das negociações sobre as alterações
climáticas uma luta maior pelas vidas e meios de subsistência.
Fatores como dinheiro, a classe ou etnia onde nasce, a raça e género a que pertence, mais vezes
do que doutras, influencia quão poderoso (ou impotente) se sente dentro de uma dada sociedade.
Por sua vez, quanto mais poderoso é, mais irá influenciar provavelmente as estruturas dominantes
da sua sociedade. Para analisar as ações e como elas interagem umas com as outras numa
sociedade mais ampla, os sociólogos aprofundam abaixo do nível da superfície para explorar e
identificar o que molda o poder dentro de uma dada sociedade e como isso permite ou restringe o
indivíduo. Esta análise é firmada de noções de igualdade e desigualdade.
Muitos sociólogos argumentam na esfera pública que o conhecimento das alterações climáticas e
que o futuro das pessoas é atualmente dominado por uma tendência científica sustentada por uma
abordagem objetiva aos dados que, por sua vez, geram hipóteses de ameaças de alterações
climáticas. Por contraste ao conhecimento científico, outro tipo de conhecimento como o indígena
que não é validado por dados científicos e que se baseiam numa aprendizagem tácita, muitas
vezes, aparece menos autoritário.
De qualquer das maneiras, as pessoas não são vítimas passivas e demonstram tomada de poder ao
darem voz às preocupações sobre as alterações climáticas, especialmente onde estas afetam os
meios de subsistência dos pobres, em que são tomadas ações (i) através de movimentos sociais em
massa em que as pessoas têm forçado as suas preocupações ambientais nas agendas políticas e (ii)
através de parcerias com académicos e outras atuações institucionais, as pessoas têm assegurado
que o conhecimento indígena seja integrado na política e planificação dominante.
É claro que é necessário desenvolver parcerias que respeitem todas as facetas do conhecimento na
luta para controlar as alterações climáticas.
Contexto social, enraizamento e alterações climáticas
A perspetiva sociológica toma conta de diversas explicações a fim de construir uma compreensão
holística mais ampla sobre as alterações climáticas, assim, examina como as interpretações
relacionadas com as alterações climáticas mudam como tópico e os eventos climáticos como
experiências individuais podem ser interpretadas dentro de um contexto social, dentro de uma
moldura de estrutura/ação individual e poder/incapacidade. Por exemplo, os efeitos negativos de
eventos gerados pelo clima, incluindo eventos climáticos caóticos e dramáticos (como as cheias e
furacões) dos quais o público em geral toma conhecimento assim que chegam aos meios de
comunicação. O que geralmente acontece é que a televisão e a rádio noticiam o evento, onde
acontece e apresenta algumas imagens (normalmente perturbantes) dos seus impactos nas
pessoas, por vezes seguido de um apelo de assistência de países vizinhos e outros abastados.
Também há por vezes uma análise, talvez científica, fornecida em termos leigos para o consumo do
público em geral.
Uma análise sociológica, no entanto, começa geralmente muito depois dos eventos iniciais quando,
por exemplo, o governo, a ajuda humanitária ou outras ações institucionais são analisadas para
tratar da eficácia das respostas políticas. Ao analisar o caos climático, portanto, os sociólogos irão
considerar como o clima tem na sua história, influenciado as pessoas vulneráveis e quem são os
mais prováveis de sofrer com a ocorrência de eventos extremos.
A perspetiva sociólogica tem assim, a capacidade de contribuir para uma compreensão mais
profunda das alterações climáticas através da análise das estruturas sociais enraizadas, ainda que
não seja pelo custo de outras considerações como a científica e económica mas complementar a
estas.
Enraizamento social e as consequências do caos climático
As ações individuais durante e após um desastre não pode ser entendido como um ato isolado do
seu contexto social. O exemplo do comportamento do género em tempo de desastre, é amplamente
evidente que estes afetam mais as mulheres do que os homens nas sociedades rigidamente
patriarcais, tanto durante como após o evento. Enquanto algumas pessoas podem considerar estes
dados como um facto, os sociólogos irão questionar porque alguns indivídios morrem enquanto
outros sobrevivem e qual a razão subjacente por haver mais mortes de mulheres do que de
homens. Foram estas proporções distorcidas, o resultado de uma maior capacidade do homem em
desafiar o clima através de puro determinismo e força (i.e. pura ação individual), ou foi o resultado
de algo diferente que está enraizado no contexto local? Por exemplo, códigos de conduta que
obrigam a dependência do homem para se movimentarem; códigos de atividade pública que
proíbam a mulher de aprender a nadar; códigos de vestuário que obrigam o uso de roupas
restritivas de movimentos; e outros códigos sociais que restringem as mulheres ao isolamento e à
habitação.
As cheias, por exemplo, põe fim à qualquer atividade agrícola ou pecuária, trazem a carência de
abrigo e dependência de socorro, assim como os homens que ficam sem as suas casas, são
relatados por descarregarem a sua fúria cada vez mais nas mulheres, sendo muito comum que a
violência física, sexual e emocional aumenta durante e após um desastre. Os abrigos para as cheias
e ciclones, bem qualquer centro de socorro atiram as mulheres para lugares partilhados com
estranhos, onde muito provavelmente as irão molestar, para além de que elas poderão ter
dificuldade em defender-se, estes espaços partilhados são particularmente difíceis para mulheres
vulneráveis como mulheres inválidas ou mães que amamentam.
Um estudo de 2006 sugeria que dos 141 desastres naturais o seguinte: onde os direitos sociais e
económicos dos homens e mulheres fossem mais ou menos iguais, não haveria ou mesmo
nenhuma diferença de mortes entre os sexos num evento catastrófico, no entanto, a mortalidade
feminina seria maior onde as mulheres têm menos direitos do que os homens. Este tipo de
conclusão só pode ser traçado por uma análise das estruturas sociais subjacentes, através de uma
perspetiva sociológica que procure por explicações casuais em termos de contexto social.
Enraizamento social, desigualdades e alterações climáticas
Felizmente, o caos climático não acontece todos os dias, no entanto, a invisível, lenta mas gradual
degradação do meio ambiente afeta tanto homens e mulheres, como ricos e pobres, mas, num
olhar mais atento, são os indefesos, especialmente mulheres na miséria que são mais
provavelmente ameaçadas. Por isso, precisamos de olhar para o porquê deste grupo ser
particularmente vulnerável e porque a diferenciação social afeta o modo como os indivíduos
respondem às alterações climáticas.
No caso das mulheres na miséria em todo o mundo, há vários pontos em comum que se
manifestam em incapacidade para o indivíduo no seu dia a dia, que inclui:
1.
é menos provável que mulheres pobres sejam donas de terras ou proprietárias, ainda são
mais dependentes de recursos naturais para o seu meio de subsistência;
2.
o seu poder na sociedade é limitado pelas estruturas sociais, económicas e políticas que
restringem a sua capacidade em lidar com as ameaças;
3.
são muitas vezes diretamente responsáveis pela procura de fornecimento de combustível,
água e alimentos básicos para as suas famílias, apesar da sua mobilidade limitada, particularmente
nas áreas rurais.
As mulheres sofrem desigualdades sociais de larga escala tanto em termos de assuntos materiais
como imateriais, o primeiro inclui desigualdades de terras, direitos de propriedade e de herança; o
segundo inclui questões de tomadas de decisão dentro das famílias, saúde reprodutiva e
planeamento familiar, educação e direitos humanos e políticos na generalidade. No entanto, os
papeis e responsabilidades definidos pelas sociedades significam que as mulheres são muitas vezes
responsáveis por encontrar o alimento e água necessários para as suas famílias e tomar conta dos
seus filhos qualquer que seja a circunstância. Assim, as alterações climáticas afetam a sua
capacidade diária de produzir alimento e colher forragem, bem como a escassez de água devida às
alterações nos ciclos hidrológicos.
Poder e incapacidade são assim incorporados nas estruturas sociais e influenciam o dia a dia dos
mundos em que cada indivíduo reside. Assim, as ações individuais e as reações às alterações
climáticas são adaptadas de acordo à sua idade, género, classe e outros fatores discriminatórios
que os possibilita ou restringe.
Dentro de uma estrutura local, há também o contexto de um mundo mais amplo, por exemplo, há
uma consciência crescente da interconectividade global dos impactos climáticos, mudanças no clima
e ambientes dependentes do clima são, hoje em dia, factos concretos da realidade quotidiana, mas
são cada vez mais uma questão premente para os países em desenvolvimento em todo o mundo.
É importante relembrar que nem os pobres na generalidade, nem as mulheres na miséria
especialmente são vítimas passivas.
Alterações climáticas como redifinição geográfica da igualdade e desigualdade
Através das lições aprendidas dos desastres como as cheias, furacões e das previsões dos
climatologistas, uma posição sociológica preocupa-se com a desintegração social e o aumento das
desigualdades que acompanha as alterações climáticas. Os sociólogos especulam que, à medida
que aumenta a vulnerabilidade, o caos social resulta, exemplificado pelas migrações em massa, na
rutura familiar e no sistema de apoio entre pares, deslocações, perda de subsistência económica,
conflito e guerra. Portanto, as consequências das alterações climáticas e o aumento das
desigualdades têm um longo alcance, não só pela próxima vizinhança e das localidades, mas
também pelos zonas e fronteiras geográficas mais amplas. É importante notar, no entanto, que os
sociólogos não atribuem este futuro cenário sombrio apenas às alterações climáticas, já que eles se
preocupam sempre com variabilidades múltiplas em vez de uma só explicação variável mas, as
alterações climáticas, como um indicador analítico na sociologia ambiental, tornou-se cada vez mais
importante.
Assim, uma perspetiva sociológica liga inexoravelmente as alterações climaticas às noções de
desigualdade, e em contrapartida, na igualdade, pois, assim como a desigualdade e quem
provavelmente irá mais sofrer, têm intrigado os sociólogos, as alterações climáticas também são
capazes de fornecer novas oportunidades de juntar as nações e os indivíduos na criação de
igualdades, o que irá, em último caso, desafiar as desigualdades existentes.
Enquanto as alterações climáticas têm o potencial de aumentar as brechas e levar a uma
desintegração social, um afastamento de princípios nacionalistas têm o potencial de criar uma
solidariedade transnacional global, frente à cenários de alterações climáticas que afetam a
Humanidade.
Um lugar para a sociologia no debate das alterações climáticas
Indiscutivelmente, a ciência foi a primeira a reivindicar o estudo das alterações climáticas. Os
cientistas de disciplinas com diversas origens, há muito que têm sido capazes de avisar toda a
gente, de um modo autoritário, sobre os gases de efeito de estufa, a camada do ozono e muito
mais. Nos tempos recentes, esta autoridade tem sido reforçada, por exemplo pelos relatório do
Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, depois, os populares programas científicos
televisivos e o acesso público à notícias e relatórios da comunicação social, também têm trazido as
interpretações científicas sobre as alterações climáticas para o primeiro plano da imaginação
pública.
A perspetiva sociológica nas alterações climáticas tem estado associada de perto com um longo
interesse nas questões ambientais e nas relações subjacentes do comportamento social com o
mundo natural e físico. Isso inclui como os homens e mulheres, ricos e pobres, se relacionam com o
ambiente, de acordo com cinco áreas importantes que determinam os comportamentos sociais e
sem os quais, qualquer sociedade não existiria:
1.
Relações sociais de produção como a indústria, extração e tecnologia;
2.
Consumo como a alimentação, combustíveis e energia;
3.
Reprodução diária biológica como as tendências, socialização ambiental e opinião pública;
4.
Inclinação espiritual como entendimentos e relações culturais e religiosas;
5.
Ação como a proteção ambiental, atividades e movimentos sociais.
Hoje em dia, no entanto, os sociólogos têm transferido as alterações climáticas da alçada geral das
preocupações ambientais para especificamente demonstrar o seu lugar na sociologia, por exemplo,
Ulrich Beck apresenta fortes argumentos para a inclusão da perspetiva sociológica como
complemento numa perspetiva científica-natural, a fim de nos dar uma compreensão mais completa
do meio ambiente e das questões climáticas, pois se o meio ambiente apenas incluir tudo o que não
seja humano nem social, então o conceito é socialmente vazio.
John Urry acrescenta mais um argumento para o reconhecimento da contribuição social nas
alterações climáticas, ao afirmar que a fim de superar os problemas deste mundo de alto teor de
carbono, é necessário provocar uma mudança por grosso para um conjunto de bloqueio com
sistemas de baixo carbono, o que involve estabelecer e examinar as características sociológicas de
tais soció-economias de baixo carbono.
Outro sociólogo muito influente, Anthony Giddens, destaca questões de vontade política que dizem
respeito às ações nas alterações climáticas, face às crescentes evidências científicas que as
mudanças antropogenéticas do clima têm ocorrido ao nosso planeta através das nossas ações, e
pergunta se devemos continuar a comportarmo-nos de forma complacente da mesma maneira.
De notar um ponto adicional, não é apenas a sociologia mas também outras disciplinas que estão
altamente preocupadas com o porquê os seres humanos não agirem suficientemente rápido, em
vista as crescentes evidências e avisos de alterações climáticas. Os psicólogos, por exemplo,
voltam-se para o indivíduo e identificam diversas barreiras psicológicas na perceção individual das
alterações climáticas, ao sugerirem que o indivíduo é muitas vezes guiado pela emoção em vez das
evidências científicas em como as alterações climáticas representam um risco para ele próprio ou
para a Humanidade. As emoções também regem as perceções sobre o nível no qual o indivíduo age
ou se envolve ativamente nas alterações climáticas.
Acrescenta-se que muitas pessoas sentem que desconhecem o atual problema e são inseguros do
que fazer sobre isso, para determinar o que faz sentido para eles em termo da gestão do risco
individual e da sua ação.
De um ponto de vista psicológico, as emoções, incertezas, a confusão, falta de conhecimento, os
contextos social pessoais, a cultura, capacidade e competência pessoal, de entre muitas outras
vairáveis, todas moldam as perceções da gestão do risco individual e da sua ação.
A sociologia vem de um longo caminho, Mike Hulme afirma que, em vez de vermos as alterações
climáticas como um ‘problema’ a espera de ‘solução’, devemos começar a explorar os diversos
caminhos que temos tido conhecimento e percebé-los como construções sociais a partir de
diferentes pontos de vista (ambiental, cultural, político) e assim, poderá agir pra nos fazer reavaliar
a forma como vemos o nosso lugar no mundo.
Conclusão
Assim, o que entendemos como a realidade das alterações climáticas e como reagimos às suas
questões globais – ou seja, quer aceitemos as mudanças ou as rejeitemos mentalmente – depende
parcialmente na definição que lhe atribuimos, como resultado, alguns indivíduos e alguns grupos
sociais irão avançar com a ideia do ‘movimento verde’ enquanto outros podem sentir que as suas
contribuições serão sempre tão insignificantes dentro do contexto de imensas questões que uma
ação expressiva é impossível. A fim de apoiar os fins lucrativos, as instituições, organizações e
órgãos governamentais podem não ser capazes de desenvolver alternativas, hábitos sustentáveis e
uma mudança nas atitudes individuais no consumo e produção.
Uma noção importante em toda a análise sociológica é a desigualdade, o papel do poder e da
incapacidade nos quais as alterações climáticas afetam as diferentes nações e pessoas. Enquanto
que podemos ser todos afetados por estes graus variados, não seremos capazes de responder ou
atenuar as alterações do mesmo modo, nisto, uma análise da igualdade e desigualdade é essencial
para o entendimento da capacidade variável que as pessoas têm na resposta à mudança e as
consequências desta capacidade nos países em desenvolvimento em particular.
A sociologia também começou por examinar os processos de múltiplas dimensões e níveis (global,
nacional, local) de como as políticas das alterações climáticas são constituidas e implementadas.
Tem sido um passo importante que alterou a imagem das ‘alterações climáticas’ como sendo uma
ameaça iminente mas distante e um problema científico para um problema público a ser resolvido
através de políticas e ações públicas efetivas.
A sociologia, enquanto disciplina, pode assim ter entrado tardiamente no debate das alterações
climáticas, mas o valor do seu contributo já deixou uma marca em diversas áreas disciplinares,
incluíndo as ciências naturais que começa a reconhecer o valor da interdisciplinaridade.
5. Comentário:
Neste estudo foi possível compreender como a sociologia, em comparação com as ciências naturais,
embora chegando recentemente ao debate das alterações climáticas, tem contribuido com mais
valias na abordagem, perspetivas e conhecimento da relação da Humanidade com o clima, numa
noção de poder e desigualdade, bem como entre os indivíduos e as estruturas sociais, ao analisar
os problemas, os impactos e as ações relacionadas com as alterações climáticas.
As evidências são claras que a presença da Humanidade e o seu comportamento, tem-se refletido
no clima de forma significativa e apenas a Humanidade tem a capacidade, senão o dever, de repor
essa mesma naturalidade sob pena de sofrer consequências imprevisíveis, por isso,
inevitavelmente, devemos introduzir uma abordagem sociológica às alterações climáticas, tanto ao
nível individual, na comunidade onde está inserido, mas também ao nível regional e global.
Bibliografia adicional:
Araújo, L. & Coelho, M. J. (2013). Políticas públicas de energia e ambiente: rumo a um país
sustentável?. Sociologia, Problemas e Práticas. 2013, n.72, pp. 145-158. Acedido em 2013-06-23
em http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S087365292013000200007&script=sci_abstract
Texto escrito conforme o Acordo Ortográfico - convertido pelo Lince.
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