Princípios Físicos Envolvidos na Detecção de Radiação em um Espectrofotômetro Aplicados para Determinação da Concentração de Metais em Corpos d'Água Carolina Schneirer Heck, Fernando Mainardi Fan, Igor Augusto Schneider, Juliana Thaíssa Freese Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS Av. Paulo Gama, 110 - Porto Alegre/RS - CEP: 90040-060 [email protected], [email protected], [email protected],[email protected] Resumo: O controle da presença de metais pesados em corpos d'água, oriundos da incorreta disposição dos resíduos da atividade industrial, é essencial para a saúde humana uma vez que a ingestão em excesso de metais pode causar várias doenças. Uma das maneiras de se medir a concentração desses metais é através da espectrofotometria, que é um método de análise química baseado na absorção da radiação nas regiões espectrais do ultravioleta (UV) e do visível pela espécie analisada. Esta análise é feita com auxílio de em um instrumento de medida denominado espectrofotômetro. O espectrofotômetro é composto por diferentes componentes nos quais o detector do tipo fototubo (célula fotoelétrica) se mostra mais apropriado para a determinação da concentração de metais. Os princípios básicos de ser funcionamento são dois: fotoemissão e efeito fotoelétrico. A corrente gerada é diretamente proporcional à intensidade da radiação incidente. A grande aplicabilidade da espectrofotometria é devido a sua alta sensibilidade que garante uma boa exatidão. Aparelhos comercias são compostos das partes essências de um espectrofotômetro combinadas de forma a otimizar sua detecção. Os espectrofotômetros mais modernos costumam funcionar com um sistema de duplo feixe, que minimiza os erros causados pela constante alternância entre a solução padrão e a analisada durante as análises. A utilização desse método para análise química-ambiental se mostra completamente satisfatória. Palavras-chave: Metais em corpos d'água, Espectrofotometria, Fototubo. 1. INTRODUÇÃO A atividade industrial tem contribuído muito para um aumento significativo nas concentrações de íons metálicos em águas, representando uma importante fonte de contaminação dos corpos aquáticos (Jimenez, 2004). Segundo Furtado (2003), “Dos 2,9 milhões de toneladas de resíduos industriais perigosos gerados anualmente no Brasil, somente 850 mil toneladas recebem tratamento adequado, conforme estimativa da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento, Recuperação e Disposição de Resíduos Especiais (ABETRE). Os 72% restantes são depositados indevidamente em lixões ou descartados em cursos d’água sem qualquer tipo de tratamento.” O controle da presença na água de metais pesados lançados por esses resíduos é essencial para a saúde humana, uma vez que metais pesados em excesso podem causar muitas doenças e sérios problemas fisiológicos, já que são cumulativos no corpo. Os resíduos contendo cádmio, cromo, manganês e níquel possuem alto poder de 1 contaminação e, com facilidade, atingem os lençóis freáticos ou mesmo reservatórios e rios, que são as fontes de abastecimento de água das cidades (Salgado, 2003). A concentração desses metais na água é, segundo a norma CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), parâmetro para a avaliação da qualidade da água. Atualmente, uma das maneiras de se medir a concentração desses metais é através da espectrofotometria, mais especificamente da absorciometria, que é um método de análise química baseado na absorção da radiação nas regiões espectrais do ultravioleta (UV) e do visível pela espécie analisada, ou analito. A concentração dos metais em uma amostra é obtida pela relação proporcional entre a concentração e a absorbância. A absorbância é a capacidade intrínseca dos materiais em absorver radiação em determinado comprimento de onda. A absorbância obtida para uma amostra de concentração desconhecida pode ser comparada com a absorbância medida para soluções padrão preparadas em laboratório contendo o analito em questão. Esta análise é feita com auxílio de em um instrumento de medida denominado Espectrofotômetro. O espectrofotômetro é composto por diferentes componentes. Tendo em vista a parte instrumental elétrica que compõem esse método de análise química ambiental, o presente trabalho apresenta uma caracterização dos princípios físicos envolvidos na detecção de radiação em um espectrofotômetro. 2. incidente, é convertido em medida de absorbância para o comprimento de onda da análise. Todo modelo de espectrofotômetro deve necessariamente apresentar os seguintes componentes: fonte de energia radiante, seletor de faixa de radiação, recipiente para conter a amostra e um detector de radiação com um sistema de leitura associado. Os componentes do espectrofotômetro, que não serão abordados no trabalho, fonte de energia radiante, seletor de faixa de radiação e o recipiente para conter a amostra (cubeta) são brevemente descritos segundo a sua função e tipos existentes na tabela abaixo: Tabela 1: Componentes do espectrofotômetro. Componente Função Fonte de Radiação Emitir energia radiante -Estável durante a realização de medidas Lâmpada de H2 ou D2 Lâmpada de descarga de Xe Lâmpada de filamento de W Seletor de comprimento de onda ESPECTROFOTÔMETRO O espectrofotômetro é um aparelho no qual um feixe de luz monocromática, com comprimento de onda adequado à análise de um determinado componente, passa através de uma solução. O sinal recebido no detector devido à intensidade do feixe emergente, que corresponde a um determinado feixe Requisitos e Tipos -Feixe radiante com potência suficiente Cubeta Isolar dentro do espectro de radiação emitido pela fonte uma região para incidir sobre a amostra Recipiente para conter a amostra Filtros de absorção Filtros de interferência Monocromadores -Formato de prisma retangular -Dimensões bem determinadas 2 Vidro 2000). Um fototubo com um associado é apresentado na Fig. 1. circuito Quartzo Plástico *dependente da escolha da região do espectro que o aparelho opera 2.1 Detector de radiação A função do detector é converter a energia radiante recebida em corrente elétrica proporcional a intensidade da radiação. O detector deve apresentar: (1) alta sensibilidade, de maneira a detectar radiação de intensidade baixa e numa larga faixa de comprimento de onda; (2) alta razão sinal/ruído; (3) resposta constante em uma considerável faixa de comprimento de onda; (4) resposta rápida: e, (5) um sinal eletrônico que seja facilmente amplificado para poder ser registrado. Existem três tipos de detectores empregados em espectrofotômetros: células fotovoltaicas, fototubos ou células fotoelétricas, e tubos fotomultiplicadores. A célula fotoelétrica é mais apropriada para a determinação da concentração de metais, pois opera dentro da faixa de 200nm a 1000nm, que é a região do espectro em que a maioria dos metais absorve energia radiante, de acordo com o Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater. Fototubos ou células fotoelétricas. Os fototubos consistem de (1) um tubo de vidro (com janela de quartzo para o uso na região ultravioleta), (2) um cátodo semicilíndrico revestido internamente por uma película de uma substância que facilmente perde elétrons e (3) fio central de metal servindo de ânodo. Entre os dois eletrodos é aplicada uma diferença de potencial de 90 volts (Silveira, Figura 1: Fototubo com um circuito associado e com amplificador associado ao medidor. Os princípios básicos de funcionamento são dois: fotoemissão e efeito fotoelétrico. A fotoemissão consiste na remoção de elétrons da superfície de um sólido. A remoção é causada pela incidência da energia eletromagnética sobre a superfície fotoemissora do cátodo (Costa & Moreira, 2005). A energia dos fótons da radiação visível e ultravioleta absorvida por uma superfície é capaz de promover elétrons do último nível eletrônico, da faixa de valência para uma faixa permitida superior; chamada faixa de condução. Os elétrons nesta última faixa ficam livres para transportar carga. Os elétrons livres emitidos pelo cátodo são atraídos pelo ânodo, quando ele estiver polarizado por uma fonte DC (90V), e fluem através do circuito. Esse processo gera corrente elétrica (efeito fotoelétrico) e essa corrente é diretamente proporcional à intensidade da radiação incidente. A magnitude da corrente depende da voltagem aplicada nos eletrodos e do comprimento de onda da radiação incidente. Entretanto, a corrente para uma determinada intensidade de radiação aumenta com a voltagem até certo nível, 3 onde depende muito pouco da voltagem aplicada. Essa voltagem aplicada, chamada voltagem de saturação, representa o ponto no qual os elétrons emitidos no fototubo são coletados com 100% de eficiência. Logo, para que um fototubo responda linearmente à intensidade da radiação incidente é preciso operá-lo numa voltagem acima da voltagem de saturação 90V é usado como padrão e garante a resposta linear do fotubo. A resposta de um fototubo a uma radiação é tanto mais linear quanto mais estreita for a banda de comprimento da onda da radiação incidente. As correntes de fototubos são geralmente pequenas (até menores que 10 11 ampères) necessitando serem amplificadas para que possam ser medidas. (Silveira, 2000). Na Fig.1 observa-se de forma esquemática um amplificador associado ao medidor. Uma pequena corrente é observada no fototubo, mesmo quando não há incidência de radiação. Esta corrente, conhecida como “corrente escura”, é conseqüência da emissão térmica de elétrons pelo cátodo e a intensidade desta corrente aumenta com a temperatura e com a superfície do cátodo. Os instrumentos que usam fototubos são normalmente equipados com circuitos de maneira a neutralizar a corrente escura (Silveira, 2000). Os equipamentos utilizados para a neutralização da corrente escura não serão abordados, pois fogem do escopo do presente trabalho. As partes essenciais de um espectrofotômetro, isto é, a fonte de energia radiante, monocromador, amostra teste e detector podem ser combinados de várias maneiras para a montagem completa de diferentes instrumentos, que podem ser utilizados na medida do comprimento de onda e da intensidade de energia radiante. A Fig.2 apresenta dois diagramas em que se mostra um fotômetro de um só feixe e um fotômetro de duplo feixe. Sensibilidade da espectrofotometria. Uma das características mais importantes, e que mais contribuí para a grande aplicabilidade da espectrofotometria é sua alta sensibilidade; seus limites de detecção para a espectroscopia estão na faixa de 10-4 a 10-5 mol/L. Com certas modificações de procedimento, essa faixa pode freqüentemente ser estendida para 10-6 ou mesmo 10-7 mol/L. Figura 2: Diagrama esquemático de fotômetro de um só feixe (a) e fotômetro de duplo feixe (b). Essa alta sensibilidade garante uma boa exatidão. Os erros relativos da concentração para os procedimentos espectrofotométricos ou fotométricos, empregando-se a radiação ultravioleta e visível, estão na faixa de 1% a 5%. Com precauções especiais, esses erros podem ser freqüentemente reduzidos a poucos décimos por cento. A sensibilidade do fototubo não varia em proporção à tensão aplicada. 2.2. Aparelhos comerciais No fotômetro duplo feixe o feixe de luz incidente é partido em dois através de 4 espelho, uma parte do feixe passa através da amostra e depois incide na célula fotovoltaica, e a segunda metade do feixe incidente passa pelo solvente (branco) e depois também incide um detector semelhante. As correntes formadas nas duas células fotovoltaicas são forçadas a passar através de duas resistências variáveis, sendo uma delas calibradas. Um galvanômetro sensível é conectado entre as duas resistências. Quando a diferença de potencial em AB é igual à diferença de potencial em CD, nenhuma corrente passa através do galvanômetro; em circunstâncias diferentes, o galvanômetro acusa um fluxo de corrente. A maioria dos aparelhos comerciais emprega o princípio de duplo feixe porque este princípio compensa bastante as flutuações da intensidade da fonte ocasionadas pela variação da voltagem. 3. CONCLUSÕES Espectrofotômetros são equipamentos utilizados para o controle da concentração de metais na água, sendo o detector do tipo célula fotoelétrica o mais apropriado para tal função. A parte instrumental elétrica da célula fotoelétrica é de fácil compreensão, sendo composta por um circuito com uma fonte de tensão, uma resistência, em uma das pontas um cátodo e na outra um ânodo, que fecham o circuito através do efeito de fotoemissão e do efeito fotoelétrico, onde o cátodo emite elétrons para o ânodo ao receber radiação. Os dados são obtidos através do monitoramento dos terminais da resistência e amplificação do sinal. Esse sistema está sujeito a interferências causadas pela temperatura, uma vez que o cátodo pode emitir elétrons devido a sua emissão térmica, e esta aumenta conforme a temperatura aumenta. Os espectrofotômetros mais modernos costumam funcionar com um sistema de duplo feixe, que minimiza os erros causados pela constante alternância entre a solução padrão e a analisada durante as análises. Tendo em vista que estes aparelhos realizam as medidas de forma prática e rápida, que seus limites de detecção em relação à concentração estão na faixa de 10-4 a 10-5 mol/L e que os erros relativos das concentrações obtidas geralmente são menores que 5%, a utilização desse método para análise química para monitoramento ambiental se mostra completamente satisfatória. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Absorciometria (espectrofotometria de absorção, espectroscopia de absorção). Disponível em: www.domfelicianosec.dyndns.org/gilber/arquivos/espectrofotom etria.doc Costa, E. D.; Moreira V.D.; Laboratório de Instalações Elétricas: Fotometria. Universidade Federal de Campina Grande, 2005. Furtado, M.; Química e Derivados 2003, 412, 15. Jimenez, R. S.; Bosco, S. M.; Carvalho W. A. 2004. Remoção de metais pesados de efluentes aquosos pela zeólita natural escolecita – Influência da temperatura e do pH na adsorção em sistemas monoelementares. Quim. Nova, Vol. 27, No. 5, 734-738. Salgado, P. E. T. Em Fundamentos de toxicologia; Oga, S., ed.; 2ª ed., Atheneu: São Paulo, 2003. Silveira, Nadya Pesce da. Métodos que envolvem a energia radiante: absorção e emissão. Porto Alegre: gráfica da UFRGS, 2000. Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater 20th Edition, 1998. 5