AMBULATÓRIO DE SAÚDE MENTAL Bruna Brandt Oliveira¹; Félix Guazina ²; Marcelo Moreira³ ¹ Aluna do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. [email protected] ² Professor Adjunto do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. [email protected] ³ Aluno Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil. [email protected] ÁREA: Salud Pública y Colectiva EJE TEMÁTICO: Nuevos dispositivos clínicos: Invención y contrahegemonía. Objetivos Ampliar conhecimentos acerca da temática da reforma psiquiátrica que baliza a saúde mental. Experienciar a realidade do atual contexto onde os profissionais da saúde mental estão inseridos, discutndo e relacionando a experiência prática a fim de por a prova a realidade brasieira da rede de atendimento da saúde mental. Refletir, descrever e problematizar atividades realizadas dentro de um ambulatório especializado em Saúde Mental da região central do Rio Grande do Sul. Discutindo-se a sua adequação à proposta assistencial estabelecida pela Reforma Psiquiátrica. Conclusões Acreditamos que não é impossível formar uma equipe coesa que trabalhe em rede com outras áreas profissionais, para a construção de uma melhoria na saúde pública, mas para isto acontecer é necessário não somente o empenho dos profissionais e sim muito depende da política governamental com investimentos financeiros em infra-estrutura, qualificação e capacitação dos profissionais para o trabalho multiprofissional integrado. 1. INTRODUÇÃO Santos (2007) menciona que o início dos anos de 1800 no Brasil foi marcado por mudanças socioeconômicas e culturais, sendo muitas delas geradas pela chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro. Tal fato acarretou um acelerado crescimento populacional o que gerou problemas, sendo que alguns desses ligados a ordem médicosanitário, que acabou influenciando os médicos brasileiros a criarem Comissões de Salubridade que tinha como objetivo diagnosticar as condições sanitárias do Rio de Janeiro. Propondo uma reorganização dos espaços públicos, chamando a atenção para a realidade dos loucos, mendigos e toda população considerada “marginal”, sugerindo-se a criação de um hospital destinado para os alienados. Sendo que em 1841 foi assinado o Decreto n°. 82 que regulamentava a criação do primeiro manicômio brasileiro, o Hospício de Pedro II, no Rio de Janeiro só iniciou suas atividades em 1852, vinculado a Santa Casa de Misericórdia, dessa forma sendo administrada pelas freiras da instituição. No final do século XIX início do século XX que surgem às primeiras propostas de transformações de assistência asilar influenciadas pelas idéias de higienização, onde são criadas campanhas sanitárias com o objetivo de combater as epidemias (febre amarela, rubéola, varíola) e as condições insalubres e o desenvolvimento de ações sanitárias e vacinações obrigatórias em massa. Ou seja, as primeiras políticas de saúde no Brasil são formuladas com o objeto de disciplinar e manter sob controle a ordem social. Só a partir dos anos de 1990 que revela-se a consolidação do projeto de reforma psiquiátrica, assumindo uma política oficial pelo Ministério da Saúde, e provocador de discuções, diretrizes e novas formas de cuidado. São implementados serviços substitutivos aos Hospitais psiquiátricos como CAPS, Centro de Convivência, Residências Terapêuticas e ambulatórios. (SANTOS, 2007). Santos (2007) aponta que os ambulatórios surgiram como um recurso alternativo ao manicômio, sendo que em muitos locais funcionavam no mesmo ambiente que o próprio hospital psiquiátrico. O mesmo ainda afirma que os ambulatórios eram vistos como um mediador na internação psiquiátrica. 2. METODOLOGIA Esta pesquisa transversal e qualitativa foi realizada por alunos do 6° semestre do curso de psicologia, como atividade de campo da disciplina “Atenção a Saúde Mental”. Por pesquisa qualitativa entende-se um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (GIL, 2007). Por sua diversidade e flexibilidade, não admitem regras precisas, aplicáveis a uma gama de casos. Além disso, as pesquisas qualitativas diferem bastante quanto aos aspectos que podem ser definidos já no projeto. Assim, defende um mínimo de estruturação prévia (ALVES-MAZZOTTI, 1998). 2.1 Participantes Foi realizada entrevista com o psicólogo responsável pelo Ambulatório Mental e alguns estagiários de psicologia. Para que a identidade dos profissionais, bem como da instituição fossem resguardadas, não foram utilizados nomes, nem dos profissionais, como também o da cidade onde foi realizada a entrevista e observação. 2.2 Instrumentos Foi realizada uma entrevista com os participantes do estudo, que é um dos principais meios que tem o investigador para realizar a coleta de dados, pois valoriza a presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação (TRIVIÑOS, 1987). 2.4 Análise de dados Após a realização da coleta de dados, as entrevistas foram transcritas e submetidas a uma análise de conteúdo, segundo o modelo desenvolvido por Gil (2007). Por análise de conteúdo entende-se um conjunto de técnicas que visam, através de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, permitindo a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção da mensagem. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir da transcrição e análise da entrevista, percebeu-se que existem aspetos trazidos na teoria que condizem com o que observou-se na prática. Santos (2007) aponta que os ambulatórios de Saúde Mental surgiram como um recurso alternativo ao manicômio, sendo que em muitos locais funcionavam no mesmo ambiente que o próprio hospital psiquiátrico. Contextualizando o Ambulatório Mental dentro da história do município Zembenedetti e Perrone (2008) mencionam que em 2001 ocorreu a implantação do Serviço de Saúde Mental da Secretaria de Saúde deste município, conhecido também como Ambulatório de Saúde Mental. Esse se tornou referência neste sentido para a atenção básica do município. Já por volta de 2002/2003 outros serviços foram inaugurados como os CAPSII e CAPS AD. Esses foram formulados com a participação dos trabalhadores do ambulatório de saúde mental, constituindo, posteriormente, a equipe dos novos serviços. A fim de buscar um atendimento na atenção básica (PSF, hoje ESF), em 2005 foi criada a Comissão Municipal de Saúde Mental reunindo gestores do município, professores universitários, bem como representantes especializados do serviço de atenção básica e de saúde mental. Assim, procurou, com isso, montar uma capacitação aos servidores da atenção básica. O primeiro CAPS surgiu dentro do Ambulatório Mental, possuindo somente duas salas para atendimento. Com o tempo, o CAPS e o Ambulatório foram transferidos para locais diferentes. Sendo que o Ambulatório Mental teve que mudar-se várias vezes em decorrência a precariedade dos prédios onde se encontravam. A equipe relatou que se sentia desmotivada em trabalhar em uma casa escura, velha com características asilar, No atual governo municipal não se vislumbra muito a idéia de pulverizar o serviço do ambulatório colocando um psicólogo em cada unidade básica de saúde. Normalmente os ambulatórios estão desconectados a uma rede de suporte, o mesmo não mostra a continuidade do que preconizava teoricamente na prática. (PAULIN E TURATO, 2004, p.250). O trabalho em rede é muito difícil, pois são feitos os encaminhamentos para as unidades básicas e os postos enviam de volta, então atualmente existe uma lista de espera de 800 pessoas para a psiquiatria por tempo indefinido. Já na psicologia conseguiu-se organizar de uma forma diferente o atendimento, tendo uma lista bem menor de espera. A equipe é formada atualmente por quatro psiquiatras, uma enfermeira, uma técnica de enfermagem, dois administrativos, uma faxineira, quatro psicólogos, um trabalhando com criança e três que trabalham com adultos, também possuem uma gama de estagiários da psicologia. Os atendimentos destinam-se a crianças, adultos, não atendendo pessoas em surto. Conforme o que é mencionado no Relatório de Gestão da Coordenação Geral de Saúde Mental de 2003-2006 em geral, os Ambulatórios de Saúde Mental prestam assistência, sobretudo às pessoas com transtornos mentais menores e apresentam, em sua grande maioria, um funcionamento pouco articulado à rede de atenção à saúde, sendo referência para inúmeras consultas em psiquiatria e psicologia. No local da visita trabalha-se com psicoterapia de grupos, psicoterapia individual, triagem terapêutica, onde são realizados três a cinco encontros de forma interventiva, para que o sujeito consiga se desvincular do serviço, e ao mesmo tempo organizar-se como sujeito. Existe uma grande dificuldade da equipe em conseguir interagir, pois não existe discussão sobre os pacientes, sendo um trabalho não multiprofissional e sim “pluriprofissional”, cada um fazendo o que mais ou menos imagina que deviria fazer. Goularte (2007) menciona em sua pesquisa realizada no interior de São Paulo, que os profissionais que trabalhavam em Ambulatórios (psicólogo, psiquiatra, assistente social, enfermeiro) indicam que o tratamento não deve ser somente medicamentoso. Deve, para tanto, englobar outras abordagens como psicoterapia e trabalho com a família do usuário. Da mesma forma, o tratamento não deveria estar centralizado na figura do médico, e sim em um trabalho em equipe. 4. CONCLUSÕES: Este trabalho foi apresentado em forma de seminário na disciplina de Atenção em Saúde Mental. Percebeu-se que ainda estamos muito aquem o esperado pelas propostas de promoção sobre Saúde Mental, ainda que, o processo de ambulatorização foi idealizado para ser inovador no sentido de ser realmente um serviço alternativo que inclui atendimento individual, na prática se pode observar que o atendimento acontece. A equipe ambulatorial realiza triagem para encaminhamento quanto para um trabalho psicoterápico e não somente pelos psicólogos, mas por outros integrantes da equipe como enfermeira por exemplo. Hoje após a reforma ainda se pode ver o descaso com este serviço, os responsáveis pelo ambulatório verbalizam, que tiveram que mudar de lugar inúmeras vezes por falta de infra-estrutura e de investimentos do estado; o que vai de encontro com a proposta da reforma psiquiátrica de que a promoção de saúde seria garantida a todos os usuários, na práxis isto não acontece. Neste ambulatório são atendidos numerosos casos de transtornos psicológicos, e ainda tem uma gama de pessoas na fila de espera, o que vem a confirmar a situação de renúncia ao serviço pelo estado, então os profissionais precisam recriar formas de olhar e entender o sujeito não pela via psiquiátrica ou pelo quadro do sintoma somente, mas pela via do social da maneira em que possam atender o máximo de pessoas que estão em espera, no entanto ainda é difícil de sair da política médico assistencialista. Acreditamos que não é impossível formar uma equipe coesa que trabalhe em rede com outras áreas profissionais, para a construção de uma melhoria na saúde pública, mas para isto acontecer é necessário não somente o empenho dos profissionais e sim muito depende da política governamental com investimentos financeiros em infra-estrutura, qualificação e capacitação dos profissionais para o trabalho multiprofissional integrado. REFERÊNCIAS ALVES-MAZZOTTI, A. J.; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. 2. ed. São Paulo: Editora Pioneira, 1998. BRASIL. Legislação em Saúde Mental: 1990-2004. 5.ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2007. GOULART, M. S. B. Os descaminhos da política de saúde mental: um estudo sobre os serviços ambulatoriais nos anos 80. Belo Horizonte: PUC, Minas, 2004. SANTOS, Y. F. O ambulatório de saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica em Natal/RN. Natal: UFRGN, 2007. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2007. PAULIN, L. F. e TURATO, E. R.: Antecedentes da reforma psiquiátrica no Brasil: as contradições dos anos 1970. História, Ciências, Saúde — Manguinhos, Rio de Janeiro, vol. 11, n.2, mai./ago. 2004. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/hcsm/v11n2/01.pdf> Acesso em: 16/10/2009. SANTOS, Y. F. O ambulatório de saúde mental no contexto da reforma psiquiátrica em Natal/RN. Natal: UFRGN, 2007. Dissertação (Mestrado em Psicologia), Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2007. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução a pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. ZEMBENEDETTI, G.; PERRONE, C. M. O processo de construção de uma rede de atenção em Saúde Mental: desafios e potencialidades no processo de Reforma Psiquiátrica. Physis: Revista de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, jan. 2008. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php? script=sci_arttext&pid=S0103-73312008000200005&lng=pt&nrm=iso> Acesso em: 13/10/2009.