1. INTRODUÇÃO O conceito de saúde, definido desde 1948 pela Organização Mundial de Saúde (OMS), envolve o bem-estar físico, mental, social do indivíduo, sendo este um direito fundamental do ser humano e que deve ser garantido pelo Estado (BRASIL, 1990; BRASIL, 1998 b; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1995). No Brasil a tentativa de promover de maneira eficiente as recomendações da OMS em relação à saúde se deu com a formulação da Lei 8.080/90 onde diz que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem como princípios a universalidade, integralidade, igualdade da assistência à saúde (BRASIL, 1990 a). Há mais de duas décadas, visando atender os princípios do SUS, políticas de saúde vêm sendo formuladas. Na década de 90, houve um grande investimento do Ministério da Saúde (MS) na universalização da Atenção Básica, estabelecendo novos arranjos para seu financiamento e serviços de saúde (VIANA et al., 2002). Em 1994, houve uma reorganização do modelo assistencial do SUS, com a implementação do Programa de Saúde da Família, estabelecido hoje como Estratégia de Saúde da Família- ESF (GIOVANELLA et al., 2009; VIANA et al., 2002). Este programa incorpora e reafirma os princípios do SUS e está estruturado com ênfase na Atenção Básica à Saúde, que visa promover uma redução nos gastos em saúde e melhorar a qualidade de vida da população por meio da reorientação das ações de saúde, focando a promoção da qualidade de vida da população (BRASIL, 2001 a; BRASIL, 2007 b; ROZANI, 2008; SÃO PAULO, 2000). A equipe básica da ESF é composta por médico, enfermeiro, cirurgiãodentista, técnicos de enfermagem e odontologia, agentes comunitários de saúde. Além de contar uma equipe interdisciplinar – NASF, que serve como apoio sendo incorporados de acordo com as características e demandas dos serviços locais de saúde, tendo o farmacêutico como profissional de apoio nesta equipe (RODRIGUES e ANDERSON, 2011; SÃO PAULO, 2000). Considerando este novo modelo assistencial focado na Atenção Básica a Saúde e o aumento da expectativa de vida da população, a atuação do farmacêutico torna-se essencial. Uma boa gestão da assistência farmacêutica leva a redução da morbi-mortalidade relacionada aos medicamentos em doenças crônicas e degenerativas que tem sido uma parcela importante nos serviços de Atenção Primária e geram uma demanda grande de medicamentos e cuidados contínuos (BORGES, 2008; ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2002; RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). A não adesão à terapia medicamentosa tem sido uma das causas para a falha do tratamento medicamentoso. A intervenção do profissional farmacêutico contribuiria e motivaria a adesão ao tratamento, por meio de ações educativas no momento da dispensação. Estimulando e fortalecendo assim o seguimento farmacoterapêutico causando um impacto positivo na qualidade de vida do paciente, na segurança do sistema de saúde e na eficiência de recursos (BORGES, 2008; BRASIL, 2009; MARQUES et al., 2011; ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2002; RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). Esse trabalho tem como objetivo demonstrar a importância da presença do profissional farmacêutico na equipe da ESF, uma vez que a inclusão do profissional farmacêutico à equipe básica de atenção à saúde é imprescindível, pois este é devidamente habilitado para organização e gestão da assistência farmacêutica (RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). 1.1 OBJETIVOS Objetivo geral: Demonstrar as possibilidades de atuação do farmacêutico na Atenção Básica à Saúde. Objetivos específicos: Apresentar os conceitos de saúde e os modelos de saúde; Relacionar o modelo vigente de saúde no Brasil com o conceito de saúde adotado nas políticas públicas de saúde; Abordar o histórico do Programa Saúde da Família no Brasil; Expor a importância da gestão da assistência farmacêutica na Atenção Básica à Saúde; Apresentar as possibilidades de atuação do farmacêutico na Estratégia de Saúde da Família. 1.2 METODOLOGIA DO REFERENCIAL TEÓRICO Foi realizada uma revisão bibliográfica por meio de livros, dissertações, documentos oficiais e artigos científicos disponibilizados em base de dados - Scielo, Lilacs, PUBMED e Portal Capes- utilizando as seguintes palavras-chave e termos: Estratégia de Saúde da Família- ESF, Sistema Único de Saúde- SUS, Organização Mundial de Saúde- OMS, uso racional de medicamentos- URM, Atenção Básica a Saúde, Assistência Farmacêutica, perfil de utilização de medicamentos (profile of drug consumption), dispensação, qualidade de atenção à saúde, farmacêutico (pharmacist), cuidado farmacêutico (pharmaceutical care), primary care, chronic diseases. A pesquisa foi realizada de agosto de 2011 à maio de 2012, e o limite de datas de busca das publicações foi de 1976 à 2012. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 CONCEITO DE SAÚDE Há séculos especula-se o que causa doenças e, até mesmo, o que leva a cura. Muitas hipóteses foram levantadas e derrubadas, até chegarem a um conceito de saúde. Porém ainda não se tem um consenso em relação a tais definições, uma vez que saúde não representa a mesma situação para todos. Sabe-se que saúde e doença, refletem a cultura, economia, sociedade e outros aspectos, como por exemplo, classe social e crenças em que uma população está inserida (SCILAR, 2007). Em 1948 a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu saúde como “estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença” (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1995). No Brasil, em 1998, o artigo nº 196 da Constituição Brasileira definiu saúde como Art. 196. Direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (BRASIL, 1998 b). Com o surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e a promulgação da Lei 8.080/90 um novo conceito de saúde se formou. Art. 2. A saúde é um direito fundamental do ser humano que deve ser garantida pelo Estado por meio da formulação e execução de políticas que reduzam o risco de doenças e que assegurem acesso universal e igualitário aos serviços de saúde. (BRASIL, 1990 a). Considerando as definições citadas fica clara a falta de consenso no que diz respeito a visões de saúde e doença. As leis brasileiras visam a necessidade de programas que reduzam o risco de doença, bem como a necessidade de acesso ao serviço de saúde como ponto principal para promoção de saúde. O bem-estar mental e social não estão considerados, de maneira direta, nos meios de garantir à saúde nos programas do governo como estabelecido pela OMS (BRASIL, 1990 a; BRASIL, 1998; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1995; SCLIAR, 2007). 2.2 ATENÇÃO À SAÚDE Em 1974, Marc Lalonde- Canadá, conceituou fatores que influenciam a saúde e que devem estar sob o campo de cuidados de saúde pública (SCILAR, 2007). As definições são as seguintes: Tabela 1: Fatores que influenciam a saúde. Biologia humana Meio ambiente Estilo de vida Organização da assistência a saúde Compreende a herança genética e os processos biológicos inerentes à vida, incluindo os fatores de envelhecimento. Inclui o solo, a água, o ar, a moradia, o local de trabalho. Do qual resultam decisões que afetam a saúde: fumar ou deixar de fumar, beber ou não, praticar ou não exercícios. À assistência médica, os serviços ambulatoriais e hospitalares e os medicamentos são as primeiras coisas em que muitas pessoas pensam quando se fala em saúde. No entanto, esse é apenas um componente do campo da saúde, e não necessariamente o mais importante; às vezes, é mais benéfico para a saúde ter água potável e alimentos saudáveis do que dispor de medicamentos. É melhor evitar o fumo do que submeter-se a radiografias de pulmão todos os anos. É claro que essas coisas não são excludentes, mas a escassez de recursos na área da saúde obriga, muitas vezes, a selecionar prioridades. Fonte: SCILAR (2007) Levando-se em conta que assistência à saúde abrange uma situação muito maior do que serviços ambulatoriais, hospitalares e medicamentos, medidas começaram a ser tomadas a esse respeito (BRASIL, 2007 d; SCILAR, 2007). Foi então sugerida uma estratégia cuja finalidade era fornecer uma base para que fossem prestados cuidados primários à saúde tornando-o a porta de entrada para o sistema de saúde, desde que este esteja diretamente relacionado ao desenvolvimento social e econômico do país, buscando assim atender o conceito abrangente de assistência à saúde (LAVRAS, 2011; SCILAR, 2007). Em 1978 foi então realizada uma Conferência Internacional de Assistência Primária à Saúde, em Alma-Ata, onde foi destacada a importância da participação do governo e da comunidade, nos cuidados e planejamentos em saúde, através da comparação da saúde em países desenvolvidos e subdesenvolvidos (GIL, 2006; ORGANIZAÇÃO DA SAÚDE, 1978; SCILAR, 2007). As ações de saúde devem ser práticas, exeqüíveis e socialmente aceitáveis; devem estar ao alcance de todos, pessoas e famílias - portanto, disponíveis em locais acessíveis à comunidade; a comunidade deve participar ativamente na implantação e na atuação do sistema de saúde; o custo dos serviços deve ser compatível com a situação econômica da região e do país. (SCILAR, 2007). Em 1985, levando em conta a meta de levar saúde para todos, a OMS fez a seguinte declaração (RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988): A busca de saúde para todos por meio da atenção primária de saúde exigirá a redefinição dos papéis e das funções de todas as categorias de pessoal de saúde, incluindo os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde, como dentistas, farmacêuticos, engenheiros sanitários etc., que terão de aceitar participar da equipe de saúde e, quando justificado, assumir responsabilidade por essa equipe. (RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988, p. 35). Os cuidados em saúde nem sempre necessitam de grandes gastos e intervenções, da mesma maneira que não podem ser sempre tratados de maneira simples e objetiva em todos os casos (BRASIL, 2005). A atenção à saúde engloba todo nível de ações, em todos os níveis de governo, para o atendimento das demandas pessoais e das exigências ambientais e compreende três campos: o da assistência, prestada em âmbito ambulatorial, hospitalar e domiciliar; o das intervenções ambientais, incluindo as condições sanitárias nos ambientes de vida e de trabalho, o controle de vetores e hospedeiros e a operação de sistemas de saneamento ambiental; e o das políticas externas ao setor saúde, que interferem nos determinantes sociais do processo saúde-doença das coletividades (NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SUS, 1996). A Atenção à Saúde é classificada em 3 níveis: primário, secundário e terciário. A Atenção primária é realizada em postos de saúde, a secundária ocorre em nível ambulatorial e centros especializados e a atenção terciária, nível mais complexo, em ambiente hospitalar. As medidas para cuidado em cada nível são diferentes e a complexidade de serviços requeridos é crescente (BRASIL, 2005). Em 1920, na Grã-Bretanha, surgiram as primeiras definições sobre Atenção Primária à Saúde (APS). A APS visa racionalizar os serviços oferecidos, busca-se utilizar os recursos disponíveis de modo à atender de forma real as necessidades da população. É entendida como atenção ambulatorial, não especializada, disponível em unidades de saúde (LAVRAS, 2011; SCILAR, 2007; SILVA e CALDEIRA, 2011; SISSON et al., 2011). O primeiro contato implica na acessibilidade e o uso do serviço para cada novo problema ou novo episódio de um problema para os quais se procura o cuidado. A longitudinalidade requer a existência do aporte regular de cuidados pela equipe de saúde e seu uso consistente ao logo do tempo, num ambiente de relação colaborativa e humanizada entre equipe, pessoa usuária e família. A integralidade supõe a prestação, pela equipe de saúde, de um conjunto de serviços que atendam às necessidades mais comuns da população adscrita, a responsabilização pela oferta de serviços em outros pontos de atenção à saúde e o reconhecimento adequado dos problemas biológicos, psicológicos e sociais que causam as doenças. A coordenação implica a capacidade de garantir a continuidade da atenção, através da equipe de saúde, com o reconhecimento dos problemas que requerem seguimento constante. (Mendes, 2009, p. 57-58). Há evidências que uma APS bem estruturada, com oferta integral à ações de saúde, apresentam impacto positivo sob a saúde pública e, também, por esse motivo deve-se ter um enfoque maior e uma execução mais eficiente nesse nível de cuidado (SISSON et al., 2011). Para assegurar ganhos em saúde e melhores resultados sociais, a orientação para a pessoa, a compreensão e integração, e a continuidade dos cuidados, assim como a existência de um ponto de entrada regular no sistema de saúde, de modo que se torne possível construir uma relação de confiança entre as pessoas e os seus prestadores de cuidados. (SISSON et al., 2011, p. 993). Há três níveis de prevenção à saúde possíveis sendo que o principal na APS é a prevenção primária, uma vez que este nível de cuidado é realizado em postos de saúde e a infra-estrutura do local não é a ideal para atendimento mais complexos como os de prevenção terciária, porém esse nível de cuidado pode ser realizado. Na tabela abaixo estão descritos os três níveis de prevenção à saúde (LAVRAS, 2011; LEAVELL e CLARCK,1976; SCILAR, 2007; SILVA e CALDEIRA, 2011; SISSON et al., 2011). Tabela 2: Níveis de prevenção à saúde. PREVENÇÃO Prevenção Primária Prevenção Secundária Prevenção Terciária Fonte: LEAVELL e CLARCK (1976) DEFINIÇÃO Eliminação ou redução das causas das doenças ou problemas de saúde na fase pré-clínica, antes do aparecimento de sinais ou sintomas, com a finalidade de impedir ou minimizar sua ocorrência. Identificação precoce dos primeiros sinais clínicos, buscando abreviar o curso, prevenir complicações ou melhorar o prognóstico de uma dada enfermidade por meio de tratamentos rápidos e eficientes Redução de danos ou sequelas resultantes de processos patológicos. A prevenção primária, prioridade de cuidado nos postos de saúde, compreende o nível mais eficiente, quando bem executado e rentável de cuidado, uma vez que diminui o número de complicações mais sérias e complexas de saúde. De certa maneira, apenas o primeiro nível corresponde à definição de prevenção, enquanto que os demais níveis de prevenção englobam todo o rol de práticas terapêuticas e reabilitação clínica (LEAVELL e CLARCK, 1976). Estes serviços não se devem focar em grandes feitos, mas sim em maneiras simples e capazes de atender a demanda da população, devendo ser o primeiro contato dos pacientes com o sistema de saúde (LAVRAS, 2011; SCILAR, 2007; SILVA e CALDEIRA, 2011; SISSON et al., 2011). As condições sociais, culturais, econômicas e políticas de uma determinada região são aspectos que devem ser considerados nos cuidados primários de saúde. Deve ser realizado serviços de educação em saúde, nutrição, imunização, planejamento familiar, prevenção e controle de doenças, provisão de medicamentos essenciais, dentre outros (SCLIAR, 2007; SISSON et al., 2011). A OMS teve um papel importante na mudança dos modelos assistenciais de saúde adotados no Brasil. Há mais de duas décadas o perfil do sistema de saúde brasileiro vem sendo modificado com a criação de diversas políticas públicas (BRASIL, 2007 a; VIANA et al., 2002). Na década de 90, houve um grande investimento do Ministério da Saúde (MS) na universalização da Atenção Básica, estabelecendo novos arranjos para seu financiamento e serviços de saúde, uma vez que o modelo anteriormente adotado – modelo assistencial centrado na doença e no atendimento a quem procura – visava tratar a doença e não evitá-la (VIANA et al., 2002). As modificações reais no modelo de saúde começaram com a publicação da atual Constituição Federal Brasileira, em 1988, a qual prevê a implantação do Sistema Único de Saúde-SUS. Assim, o modelo assistencial passou a ser descentralizado e associado à diretriz de gestão única resultante em três esferas formais para o sistema de saúde: os sistemas municipais, estaduais e o nacional (BRASIL, 1988; BRASIL, 2007 a; NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SUS, 1996). O cenário de assistência à saúde passou a ser de atenção integral, com ações de promoção e de proteção, além das ações para recuperação da saúde (BRASIL, 1990 a). Além disso, essas passaram a ser regidas por políticas que visam garantir universalidade, equidade e integralidade aos cidadãos (BRASIL, 1988; BRASIL, 2007 a). O surgimento do SUS faz parte de um processo complexo, destacando-se dois importantes fatores: (1) as sucessivas mudanças na política de saúde colocadas em prática pelas Ações Integradas de Saúde e pela introdução do Sistema Unificado e Descentralizado de Saúde, processo de democratização e de reforma sanitária; (2) a territorialização das políticas públicas, que levou os municípios a assumirem uma série de responsabilidades e atribuições no campo das políticas sociais e da saúde (VIANA et al., 2002). De acordo com os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS), a atenção básica, que se caracteriza por ser “um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde” (BRASIL, 2007 b, p.12). Deve garantir a universalidade, integralidade do serviço, bem como ser a principal porta de entrada do SUS (BRASIL, 2007 b; TANAKA, 2011). É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem resolver os problemas de saúde de maior frequência e relevância em seu território. É o contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde. Orienta-se pelos princípios da universalidade, da acessibilidade e da coordenação do cuidado, do vínculo e continuidade, da integralidade, da responsabilização, da humanização, da equidade e da participação social. (BRASIL, 2007 b, p.12). O governo federal, então, propôs sucessivas Normas Operacionais Básicas (NOBs) e criou o Departamento de Atenção Básica, com a finalidade de instruir e regulamentar a nova organização do sistema (BRASIL, 2007 b; VIANA et al., 2002). 2.3 ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA Em 1994, a APS teve um forte estímulo no Brasil com a implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), que foi instituído com o intuito de reorientar o modelo de atenção à saúde, reorganizar a Atenção Básica à saúde, incorporando os princípios do SUS e funcionando como a principal porta de entrada aos serviços de saúde (BRASIL, 1997 b; BRASIL, 2007 a; HELENA, 2007; LAVRAS, 2011; SARTI et al., 2011; SILVA e CALDEIRA, 2011; SISSON et al., 2011; TANAKA, 2011; VIANA et al., 2002). O primeiro local de implantação do Programa foi na região nordeste do país, que já contava com o Programa Nacional de Agentes Comunitários (PACS), desde 1991. A incorporação dos agentes comunitários às equipes foi um fato este de grande importância para o PSF, trazendo alterações e agilidades importantes ao trabalho realizado (GUEDES, SANTOS, LORENZO, 2011). Em 1995 houve fusão PACS/PSF levando assim à implantação do programa por todo o país (BRASIL, 1997 b; SARTI et al., 2011). Com o passar dos anos percebeu-se a necessidade de substituir o termo Programa de Saúde da Família por Estratégia de Saúde da Família (ESF), uma vez que o termo Programa visa um trabalho com tempo determinado e Estratégia vai além, estando assim melhor contextualizada na ideia do projeto não alterando com essa mudança a finalidade do programa (GIOVANELLA et al., 2009). O documento definidor das bases do programa, destaca que ao contrário do modelo tradicional, a ESF prioriza as ações de proteção e promoção à saúde dos indivíduos e da família, de maneira integral e contínua (TRAD e BASTOS, 1998). A ESF tem como objetivo a prevenção primária, focando na promoção da qualidade de vida da população, estando mais próximas das famílias, por meio de um trabalho multidisciplinar e interdisciplinar, os vários profissionais envolvidos tem como objetivo a prevenção de doenças e a melhora da qualidade de vida da população (BRASIL, 2001 a; BRASIL, 2007 b; GUEDES, SANTOS, LORENZO, 2011; SECRETARIA DE POLITICAS DE SAÚDE, 2000; VIANA et al., 2002). Segundo Franco e Merhy (1996), os 4 princípios básicos são: (1) caráter substitutivo – modificação das práticas rotineiras de assistência, concentrando-se agora na vigilância à saúde; (2) integralidade e hierarquização dos serviços – adoção da Unidade de Saúde da Família como primeiro nível de ações e serviços do sistema local de saúde; (3) territorialização e adscrição da clientela – incorporação do território enquanto espaço de abrangência definida; (4) equipe multiprofissional – composta por um médico generalista ou médico de família, um enfermeiro, um auxiliar de enfermagem e de quatro a seis agentes comunitários de saúde, sendo que outros profissionais, tais como psicólogos, dentistas, fisioterapeutas, por exemplo, poderão ser incorporados de acordo com as características e demandas dos serviços locais de saúde. A Estratégia Saúde da Família (ESF) deve ter caráter substitutivo em relação à rede de Atenção Básica tradicional nos territórios em que estas equipes; atuar no território realizando cadastramento domiciliar, diagnóstico situacional, ações dirigidas aos problemas de saúde de maneira pactuada com a comunidade onde atua, buscando o cuidado dos indivíduos e das famílias ao longo do tempo, mantendo sempre postura pró-ativa frente aos problemas de saúde-doença da população; desenvolver atividades de acordo com o planejamento e a programação realizados com base no diagnóstico situacional e tendo como foco a família e a comunidade; buscar a integração com instituições e organizações sociais, em especial em sua área de abrangência, para o desenvolvimento de parcerias; e ser um espaço de construção de cidadania. (BRASIL, 2007 b, p. 22) A ESF é executada por meio da implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde, responsáveis por acompanhar um número definido de famílias em uma área delimitada (SISSON et al., 2011). A equipe mínima é composta por 1 médico, 1 enfermeiro, 1 ou 2 auxiliares de enfermagem e de 4 a 6 agentes comunitários que devem promover ações, não só para o indivíduo mas, para a família toda desde recém-nascidos a idosos independente de sua condição clínica (GUEDES, SANTOS, LORENZO, 2011). Em todos os níveis de atenção à saúde, a prestação de serviços deve ser de natureza multiprofissional (RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). As equipes possuem como atribuições conhecer a realidade das famílias e identificar os problemas de saúde mais comuns e situações de risco às quais a população está exposta; realizar as medidas de vigilância à saúde e epidemiológica, nos diversos ciclos da vida; garantir a continuidade do tratamento; promover a saúde por meio da educação sanitária; promover ações intersetoriais e parcerias com organizações formais e informais existentes na comunidade para o enfrentamento conjunto dos problemas; argumentar junto à equipe e à comunidade, o conceito de cidadania de forma crítica e contextualizada (SÃO PAULO, 2000). A comunidade é avaliada, os problemas de saúde comuns que ocorrem em um determinado território são detectados, o ambiente físico e social passa a ser foco primário, possibilitando uma visão maior do processo de saúde e doença, conseguindo assim levar em conta o conceito amplo de saúde estabelecido pela OMS, anteriormente citado, uma vez que o intuito das equipes é o cuidado integral tanto do indivíduo, como da família num todo. O serviço passa a ser humanizado buscando soluções, seja na rede de serviços de saúde seja na sociedade em geral, através da integração com instituições e organizações sociais e espaço de construção da cidadania por meio da intersetorialidade. Trata-se de um atendimento humanizado e conclusivo (GUEDES, SANTOS, LORENZO, 2011; MOIMAZ et al., 2011; STARFIELD, 1998). Para o funcionamento da ESF, de acordo com as premissas da Atenção Básica à Saúde, todo este sistema deve ser estruturado segundo a lógica de trabalho interdisciplinar, para que haja maior diversidade e integração das ações em saúde, buscando sempre um consenso entre as equipes estimulando a permanente comunicação entre seus membros (SÃO PAULO, 2000). Visando esse trabalho em equipe a ESF teve como subsídio a criação dos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF), por meio da Portaria GM nº 154/ 2008, ampliando sua abrangência, resolutividade, territorialização e regionalização (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009). No art. 2º da Portaria nº 154 diz que o NASF deve ser formado por equipes multiprofissionais, incluindo o farmacêutico, com o objetivo de atuar em parceria com os profissionais das equipes da ESF, com atuação direta de apoio nas equipes e na unidade na qual o NASF está cadastrado (BRASIL, 2008). O NASF deve apoiar, ampliar, aperfeiçoar a atenção e a gestão da saúde na ESF. Deve ser uma equipe com conhecimento técnico que responde junto à um número determinado de equipes de Saúde da Família (SF). Assim como a equipe básica, deve estar comprometido, com o incentivo à mudanças nos hábitos de vida, prevenção, reabilitação da saúde da população, humanização dos serviços prestados pela ESF entre outros (BRASIL, 2009). É responsabilidade das equipes do NASF, dentre outras: Tabela 3: Responsabilidades do NASF. Juntamente com a ESF identificar, o público prioritário a cada uma das ações. Atuar, de forma integrada e planejada, nas atividades desenvolvidas pelas ESF e de Internação Domiciliar, quando estas existirem, acompanhando e atendendo a casos, de acordo com os critérios previamente estabelecidos. Acolher os usuários e humanizar a atenção. Promover a gestão integrada e a participação dos usuários nas decisões, por meio de organização participativa com os Conselhos Locais e/ou Municipais de Saúde. Avaliar, em conjunto com as ESF e os Conselhos de Saúde, o desenvolvimento e a implementação das ações e a medida de seu impacto sobre a situação de saúde, por meio de indicadores previamente estabelecidos. Elaborar projetos terapêuticos individuais, por meio de discussões periódicas que permitam a apropriação coletiva pelas ESF e os NASF do acompanhamento dos usuários, realizando ações multiprofissionais e transdisciplinares, desenvolvendo a responsabilidade compartilhada. Fonte: BRASIL (2008) A formação da equipe fica à critério dos próprios gestores municipais e das equipes de SF, relacionando as prioridades identificadas a partir das necessidades de cada local. O NASF funciona apenas como apoio às equipes de SF não sendo porta de entrada do sistema para os usuários (BRASIL, 2008; BRASIL, 2009). Embora a formação da equipe fique a critério dos gestores e das equipes de SF, o NASF veio para ampliar o número de componentes nas equipes de ESF, aumentando o número de profissionais e especialidades de saúde. Assim a incorporação e atuação do farmacêutico tornou-se maior no sistema (BRASIL, 2009). Nos municípios onde houve implantação da ESF, em condições adequadas, observou-se uma melhora perceptível na qualidade de vida da população. Com isso, reduziu-se os número de doenças causadas por falta de conhecimento, saneamento básico, causas evitáveis; há um maior número de pessoas vacinadas, pacientes hipertensos e diabéticos com tratamento assistido; diminuição das filas para atendimento hospitalar (BRASIL, 2001 b; GOMES e SILVA, 2011; MOTA, AGUIAR, CALDAS, 2011). Avanços como maior acesso aos cuidados básicos de saúde (PAIVA, BERSUSA e ESCUDER, 2006), redução da mortalidade infantil (MACINKO et al., 2007), melhor controle de doenças crônicas- hipertensão, diabetes mellitus, HIV/AIDS, por exemplo (ARAUJO, GUIMARÃES, 2007) e diminuição do número de internação hospitalar (GUAINAIS e MACINKO, 2009; SARTI et al., 2011.) Problemas em relação à estrutura também são encontrados, como por exemplo: qualificação ineficaz das equipes em Atenção Primária à Saúde, alta rotatividade dos recursos humanos, gestão ineficiente, poucas ações em educação à saúde, a assistência de forma individual e curativista ainda acontecendo de maneira expressiva, coordenações de Atenção Primária e Vigilância em Saúde desarticuladas no planejamento e organização de suas ações, falta de envolvimento de outras áreas da saúde e de profissionais além daqueles definidos como integrantes da equipe básica. Esses problemas implicam na não execução dos princípios do SUS e na baixa eficiência do sistema de saúde disponível no Brasil, (GIL, 2006; LIMONGI, MENEZES, MENEZES, 2008; SARTI et al., 2011). 2.4 ATUAÇÃO DO FARMACÊUTICO NA ATENÇÃO BÁSICA A AF faz parte das políticas de saúde e é uma ferramenta de suporte, hoje inserida no NASF, que promove ações de melhoria da qualidade de vida da população por meio do apoio as ações em saúde que busquem à promoção da saúde, possibilitando o acesso aos medicamentos essenciais e promoção do seu uso racional, e da prevenção, recuperação e reabilitação da saúde (BARBOSA, 2009; BRASIL, 2004; BRASIL, 2006 b; BRASIL, 2010). O papel do farmacêutico foi definido no Encontro Nacional de Assistência Farmacêutica e pela Política de Medicamentos, em 1988, como: O farmacêutico ocupa papel-chave nessa assistência, na medida em que é o único profissional da equipe de saúde que tem sua formação técnicocientífica fundamentada na articulação de conhecimentos das áreas biológicas e exatas. E como profissional de medicamentos, traz também para essa área de atuação conhecimentos de análises clínicas, toxicológicas e de processamento e controle de qualidade de alimentos (ARAÚJO, UETA e FREITAS, 2005). E de acordo com a Portaria G.M. nº 3916 - Política Nacional de Medicamentos- o papel do farmacêutico está relacionado a um: Grupo de atividades relacionadas com o medicamento, destinadas a apoiar as ações de saúde demandadas por uma comunidade. Envolve o abastecimento de medicamentos em todas e em cada uma de suas etapas constitutivas, a conservação e controle de qualidade, a segurança e a eficácia terapêutica dos medicamentos, o acompanhamento e avaliação da utilização, a obtenção e a difusão de informação sobre medicamentos e a educação permanente dos profissionais de saúde, do paciente e da comunidade para assegurar o uso racional de medicamentos (BRASIL, 1998). A atuação do farmacêutico no NASF tem como objetivo possibilitar um maior acesso da população ao medicamento e contribuir para o seu uso racional. No NASF o farmacêutico deve atuar nos processos da Assistência Farmacêutica na gestão do medicamento, principalmente na dispensação, e na assistência à saúde, realizando seguimento farmacoterapêutico através da implantação da Atenção Farmacêutica (BRASIL, 2010 a). As atribuições do farmacêutico no NASF estão descritas na tabela 4. Um dos objetivos da criação do NASF foi o fortalecimento da atividade farmacêutica e do farmacêutico, uma vez que a intervenção junto à ESF só acontece quando considerado necessário e as ações de Atenção Farmacêutica são preconizadas no documento que estabelece as atividades que devem ser realizadas no NASF (BRASIL, 2008). Tabela 4: Atribuições do farmacêutico no NASF. Atribuições do farmacêutico no NASF Coordenar e executar as atividades de Assistência Farmacêutica no âmbito da Atenção Básica/Saúde da Família. Auxiliar os gestores e a equipe de saúde no planejamento das ações e serviços de Assistência Farmacêutica na Atenção Básica/ Saúde da Família, assegurando a in tegralidade e a intersetorialidade das ações de saúde. Promover o acesso e o uso racional de medicamentos junto à população e aos profissionais da Atenção Básica/Saúde da Família, por intermédio de ações que disciplinem a prescrição, a dispensação e o uso. Assegurar a dispensação adequada dos medicamentos e viabilizar a implementação da Atenção Farmacêutica na Atenção Básica/ Saúde da Família. Selecionar, programar, distribuir e dispensar medicamentos e insumos, com garantia da qualidade dos produtos e serviços. Receber, armazenar e distribuir adequadamente os medicamentos na Atenção Básica/ Saúde da Família. Acompanhar e avaliar a utilização de medicamentos e insumos, inclusive os medicamentos fitoterápicos, homeopáticos, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população. Elaborar, em conformidade com as diretrizes municipais, estaduais e nacionais, e de acordo com o perfil epidemiológico, projetos na área da Atenção/Assistência Farmacêutica a serem desenvolvidos dentro de seu território de responsabilidade. Intervir diretamente com os usuários nos casos específicos necessários, em conformidade com a equipe de Atenção Básica/Saúde da Família, visando uma farmacoterapia racional e à obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados à melhoria da qualidade de vida. Estimular, apoiar, propor e garantir a educação permanente de profissionais - treinar e capacitar os recursos humanos da Atenção Básica/ Saúde da Família para o cumprimento das atividades referentes à Assistência Farmacêutica. Fonte: BRASIL (2008) 2.4.1 Assistência Farmacêutica na Atenção Básica A Saúde A prática de Assistência Farmacêutica desenvolveu-se em conjunto com as modificações na política brasileira em relação ao modelo de saúde, por meio da percepção da necessidade de ações mais eficazes e resolutivas, retirando o foco da doença e do modelo médico assistencial (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; COSENDEY et al., 2000). Levando em consideração o novo modelo assistencial focado na Atenção Básica a Saúde, tornou-se necessária a elaboração de mecanismos efetivos para atuação do farmacêutico. Uma gestão eficiente do ciclo de abastecimento e distribuição dos medicamentos para a população, bem como do uso racional dos mesmos, está diretamente relacionado à qualidade de vida do paciente, apresentando um impacto positivo quando bem executada, na segurança do sistema de saúde e na otimização dos recursos públicos investidos (BORGES et al., 2011; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 2002). Nesse contexto, e considerando o que foi dito pela OMS (1994), a função do farmacêutico na promoção e na aplicação da política farmacêutica nacional teve que ser definida, com o objetivo de garantir saúde para todos através de uma gestão eficiente dos sistemas de aquisição e administração dos medicamentos, o uso racional de medicamento e atividades de prevenção de doenças e promoção da saúde, devendo ser então aplicada e executada a Assistência Farmacêutica (BRASIL, 2010 a). A Assistência Farmacêutica (AF) é definida, de acordo coma a Resolução n 338 de 2004, como: Conjunto de ações voltadas à promoção, proteção e recuperação da saúde, tanto individual como coletiva, tendo o medicamento como insumo essencial e visando ao acesso e ao seu uso racional. Este conjunto envolve a pesquisa, o desenvolvimento e a produção de medicamentos e insumos, bem como a sua seleção, programação, aquisição, distribuição, dispensação, garantia da qualidade dos produtos e serviços, acompanhamento e avaliação de sua utilização, na perspectiva da obtenção de resultados concretos e da melhoria da qualidade de vida da população (BRASIL, 2004). De acordo com Angonesi e Rennó (2011), a filosofia da Assistência Farmacêutica deve ser sustentada pelos seguintes pilares: Atender à necessidade social de reduzir a morbimortalidade de medicamentos; Estabelecer uma relação de confiança entre o farmacêutico e o paciente; Atender o paciente de maneira individualizada e com foco nas suas necessidades relacionadas ao uso adequado do medicamento; Responsabilizar-se por educar o paciente para o uso adequado do medicamento e identificar as situações que necessitem de outros cuidados (ANGONESI e RENNÓ, 2011. p. 3886) A AF engloba várias atividades, dependentes entre si, e sua execução depende da otimização de tempo e recursos humanos para que não haja realização apenas das atividades de gestão do medicamento ou assistência à saúde (BRASIL, 2006 b; BRASIL, 2010 a). As funções estão descritas na tabela 5. Em 1988, com a promulgação da Nova Constituição Federal do Brasil, o Estado passou a ter o dever de, além de assegurar a saúde de forma universal, integral e equânime, promover à assistência farmacêutica (COSENDEY et al., 2000). Ficou estabelecido que entre os campos de atuação do SUS, deve estar disponível ações de “assistência terapêutica integral, inclusive a farmacêutica”, bem como a “formulação da política de medicamentos” (BRASIL, 2007 c, p.15; NICOLINE e VIEIRA, 2011). Tabela 5: Funções e atividades da AF. Planejar, coordenar, executar, acompanhar e avaliar as ações. Articular a integração com os serviços, profissionais de saúde, áreas interfaces, coordenação dos programas, entre outras. Elaborar normas e procedimentos técnicos e administrativos. Elaborar instrumentos de controle e avaliação. Selecionar e estima necessidades de medicamentos. Gerenciar o processo de aquisição de medicamentos. Garantir condições adequadas para o armazenamento de medicamentos. Gestão de estoques. Distribuir e dispensar medicamentos. Manter cadastro atualizado dos usuários, unidades e profissionais de saúde. Organizar e estruturar os serviços de AF nos três níveis de atenção à saúde no âmbito local e regional. Desenvolver sistema de informação e comunicação. Desenvolver e capacitar recursos humanos. Participar de comissões técnicas. Promover o uso racional de medicamentos. Promover ações educativas para prescritores, usuários de medicamentos, gestores e profissionais da saúde. Desenvolver estudos e pesquisa em serviço. Elaborar material técnico, informativo e educativo. Prestar cooperação técnica. Assegurar qualidade de produtos, processos e resultados. Fonte: BRASIL (2006 b) Foi então publicada a Política Nacional de Medicamentos (PNM), em 1998, que deu início a descentralização da AF. Além de enfatizar os princípios e diretrizes constitucionais do SUS. Tem por finalidade “garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais” (BRASIL, 1998). É fundamentada em uma gestão descentralizada, na regionalização, na promoção do uso racional de medicamentos e na melhoria da Assistência Farmacêutica (BARBOSA, 2009). De acordo com a Política Nacional de Medicamentos, o Uso Racional de Medicamentos (URM) é definido como: Processo que compreende a prescrição apropriada; a disponibilidade oportuna e a preços acessíveis; a dispensação em condições adequadas; e o consumo nas doses indicadas, nos intervalos definidos e no período de tempo indicado de medica- mentos eficazes, seguros e de qualidade (MS, 2001). Uma vez que o perfil de utilização de medicamentos pela população brasileira é crítico, a promoção do URM torna-se um dos pontos de maior enfoque e necessidade de controle (BRASIL, 1998; BRASIL, 2001). Os objetivos são: assegurar os deveres do governo, garantir o acesso aos medicamentos essenciais; garantir a qualidade, eficácia e segurança dos medicamentos, reorientar a Assistência Farmacêutica, estimular o desenvolvimento e capacitação de recursos humanos e promover o uso racional de medicamentos (URM) (BARBOSA, 2009; BRASIL 2001). Foi criada ainda, a fim de melhorar a AF, a Política de Assistência Farmacêutica, Resolução 338, de 6 de maio de 2004, para orientar a formulação de outras políticas, porém políticas setoriais e a intersetorialidade preconizada pelo SUS, envolvendo os setores públicos e privados de saúde (BRASIL, 2006 b). A AF é uma atividade essencial para o atendimento aos usuários dos serviços de saúde e para o funcionamento da atenção básica. É uma prática constituída de atividades interligadas e dependentes, um ciclo, onde cada etapa tem uma finalidade única e falhas em uma única etapa tem repercussão em todo o processo. Essas atividades são: seleção, programação, aquisição, armazenamento, distribuição e dispensação e estão representadas na imagem 1. (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BRASIL, 2006 a). Imagem 1: Ciclo da AF. Fonte: BRASIL (2006 b) A seleção de medicamentos é o processo de escolha dos mais eficazes e seguros, que atendam todos os níveis de atendimento á saúde. Essa etapa serve de suporte para a elaboração das listas de medicamentos essenciais e define as atividades nas outras etapas. É um processo dinâmico e participativo bem articulado (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BRASIL, 2006 b; BRASIL, 2010 a). O processo de seleção depende de decisão política do gestor, de informações técnicas e administrativas, análise e perfil das prescrições na rede de saúde, medicamentos mais prescritos, dados de consumo e demanda, entre outros, destacando a necessidade de um envolvimento do maior número de especialidades médicas e profissionais da saúde possível (BRASIL, 2006 a; BRASIL, 2006 b). Na programação acontecem atividades relacionadas ao planejamento da quantidade de medicamentos necessários à população em um determinado tempo. Problemas nessa etapa refletem diretamente no abastecimento e no acesso aos medicamentos. (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BARBOSA, 2009; BRASIL, 2006 b; BRASIL, 2010 a). A aquisição é o processo que efetiva a compra dos medicamentos programados. Deve-se levar em consideração possíveis imprevistos, epidemias, etc. Durante a distribuição, os medicamentos devem ser distribuídos de maneira rápida, segura e deve haver o controle das informações relacionadas ao estoque. Após deve ser feita a armazenagem desse medicamentos afim de assegurar a qualidade e conservação dos mesmos (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BRASIL, 2006 b). Todas essas etapas tem como fim o processo de dispensação, etapa na qual ocorre o acesso do usuário ao medicamento, à AF indo além da entrega do medicamento ou produto para saúde ao paciente. Nessa etapa há o encerramento das relações do paciente com a unidade de saúde, o profissional faz a análise técnica da prescrição e orienta o paciente garantindo seu entendimento e promovendo condições ideais para que estes produtos sejam utilizados da melhor maneira (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; ANGONESI e RENNÓ, 2011; ARAÚJO et al., 2008; BRASIL, 2006 b; FURTADO, 2008). Perceber problemas/erros relacionados à prescrição medicamentosa, acompanhar de maneira contínua e estabelecer uma relação de confiança entre paciente-profissional para que haja uma melhoria na qualidade de vida do paciente são uns dos objetivos da dispensação, os demais seguem listados na tabela 6 (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BRASIL, 2006 b; FURTADO, 2008). Tabela 6: Objetivos da dispensação. Garantir o cumprimento da prescrição e o uso correto do medicamento. Contribuir para adesão ao tratamento e o cumprimento da prescrição médica. Minimizar erros de prescrição. Proporcionar atenção farmacêutica de qualidade. Garantir o cumprimento da prescrição médica, no fornecimento do medicamento correto e em quantidade adequada. Informar sobre o uso correto do medicamento Fonte: BRASIL (2006 b) Embora o Brasil apresente um perfil alto de consumo de medicamentos, e possua leis que garantam o direito aos serviços de saúde, isso não significa que toda a população é atendida: cerca de 60% da produção de medicamentos é destinada a 23% da população (COSENDEY et al., 2000; FERRAZ e VIEIRA, 2009). Casos onde à obtenção de medicamentos tem se dado por meio da Defensoria Pública, Ministério Público e do Judiciário, no nosso pais são cada vez mais frequentes. Tem-se levado em conta os interesses individuais e das Indústrias farmacêutica por parte dos gestores e não o que a população realmente necessita (ALVES, 2011). A deficiência na distribuição de medicamentos está diretamente relacionada às deficiências do serviço de atenção primária, uma vez que esta é uma atividade dependente da utilização adequada de recursos; dos princípios de manutenção e renovação dos estoques e programação de aquisição de medicamentos essenciais, por exemplo. Levando-se em conta essa etapa, a inclusão do profissional farmacêutico à equipe de atenção à saúde torna-se imprescindível, pois este é devidamente habilitado para organização e gestão desse serviço (RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). A AF, no âmbito do SUS, tem por objetivo garantir um sistema com fluxo contínuo de abastecimento, fornecer de maneira eficiente a distribuição de medicamentos, por meio da seleção adequada dos mesmos, limitando a quantidade para cada nível de atenção, e de uma prescrição racional, já que o número de medicamentos disponível é limitado. Além disso, garantir o acesso aos medicamentos essenciais e o uso racional dos mesmos (MANAGEMENT SCIENCES FOR HEALTH, 1997; MARIN et al, 2003; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1997). A estruturação da Assistência Farmacêutica (AF) é um dos grandes desafios que se apresentam aos gestores e profissionais do SUS, uma vez que sua reorientação propõe uma mudança no modelo de organização e na forma de gerenciamento, tendo por base uma nova lógica de atuação. Não deve se limitar apenas a aquisição e distribuição de medicamentos, exigindo para a sua implementação a elaboração de planos, programas e atividades específicas, de acordo com as competências estabelecidas para cada esfera de governo. O processo de descentralização exige que os gestores aperfeiçoem e busquem novas estratégias, com propostas estruturantes que garantam a eficiência de suas ações, consolidando os vínculos entre os serviços e a população, promovendo o acesso, o uso racional e a integralidade das ações (BRASIL, 1998). O gerenciamento inadequado e o uso incorreto de medicamentos além de geram sérios problemas à sociedade e, por sua vez, ao SUS, o que gera aumento da morbi-mortalidade, elevação dos gastos com saúde, direta e indiretamente, e da qualidade de vida dos usuários (BRASIL, 2010 a; BRASIL, 2010 b). Deve-se executar um sistema de vigilância sobre os problemas de saúde, executar as políticas que visam financiar as ações em saúde e garantir a integralidade das ações por meio de atividade das atividades do ciclo da AF (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BRASIL, 2004; NICOLINE e VIEIRA, 2011; SEVERINO et al., 2008). No processo de saúde-doença, a Assistência Farmacêutica reconhece a necessidade de se considerar fatores como: modo de vida, aspectos culturais e religiosos, a subjetividade dos sujeitos e sua resolução depende de um trabalho em equipe multidisciplinar e da participação do usuário com informações que visam garantir a compreensão das informações sobre o medicamento, a indicação, a duração do tratamento, as doses, os possíveis efeitos colaterais, promovendo assim o uso racional dos medicamentos. É uma prática essencial para o atendimento das necessidades dos usuários dos serviços de saúde (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BRASIL, 2006 b; FURTADO, 2008). Uma pesquisa realizada pela OMS (1997) demonstrou a existência de problemas relacionados ao abastecimento de medicamentos, já que a maior parte da população não era atendida. Essa situação estava relacionada à problemas de disponibilidade, por falhas nas políticas de distribuição de medicamentos essenciais bem como por situação financeira do governo (COSENDEY et al., 2000; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1997). Porém apenas disponibilizar o medicamento e garantir o acesso ao tratamento, por si só, não são medidas suficientes para o controle de doenças e a melhoria da qualidade de vida da população. É necessário que haja, paralelamente, informações adequadas e atualizadas, além da educação dos pacientes sobre a doença (BORGES et al., 2011). 2.4.2 O farmacêutico no cuidado ao paciente Dentre as opções para tratamentos terapêuticos disponíveis, os medicamentos têm sido a opção mais utilizada para manutenção e/ou recuperação da saúde (NICOLINE e VIEIRA, 2011; VOSGERAU et al., 2011). Quando utilizados corretamente, os medicamentos são o recurso terapêutico de maior custo-efetividade, porém, seu uso inadequado torna-se um problema de saúde pública (NICOLINE e VIEIRA, 2011). O uso incorreto de medicamentos aponta crescimento de morbidades, mortalidades e gastos em saúde (ARRAIS et al., 2005; VOSGERAU et al., 2011). Cerca de 15-20% dos orçamentos dos hospitais são destinados à complicações resultantes pelo uso indevido de produtos farmacêuticos (SOYAMA, 2006; VOSGERAU et al., 2011). Além disso, os medicamentos ocupam a primeira posição entre os causadores de intoxicações desde 1996 (ORGANIZAÇÃO PANAMERICANA DE SAÚDE, 2002). Em pesquisa sobre consumo de medicamentos, Vosgerau et al. (2011), mostram que, embora grande parte dos medicamentos utilizados pela população tenham sido prescritos, não há a orientação adequada referente à sua aquisição e seu uso (VOSGERAU et al., 2011). A realidade brasileira é descontrolada e desassistida nesse contexto, há um consumo excessivo de produtos desnecessários e subutilização dos essenciais para o controle das doenças (BARBOSA, 2009). Com o aumento da expectativa de vida da população e o crescente número de doentes crônicos, há um aumento na utilização de medicamentos, produtos esses que se tornam componente central no tratamento desses pacientes e que apresentam diversos fatores interferentes no perfil do seu uso. A utilização de medicamentos está associada a fatores além dos farmacológicos, por exemplo, aspectos socioantropológicos, comportamentais, econômicos e, até mesmo, condutas de prescrição, e há evidencias de que a eficácia do tratamento está diretamente relacionada ao conhecimento a respeito da doença e da terapêutica instituída (ARAÚJO et al., 2008; AZIZ, CALVO e ORSI, 2012; BARROS et al., 2011; BORGES et al., 2011; TROCCOLI, 1990; VOSGERAU et al., 2011). A falta de informações sobre a terapêutica instituída acarreta situações onde a eficácia e eficiência do tratamento são negligenciadas e podem levar à problemas de saúde mais graves e, consequentemente, ao aumento dos gastos em saúde (ARAÚJO et al., 2008; BRASIL, 2004; SEVERINO et al., 2008). Em 1993, a OMS baseada nos altos índices de morbi-mortalidade relacionada aos medicamentos, reconheceu o papel fundamental do farmacêutico no sistema de atenção à saúde (NASSAU, 2009). Este passa a ser considerado o profissional melhor capacitado no que diz respeito à promoção do uso racional de medicamentos, a organização de ações voltadas ao acesso e distribuição dos mesmos (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1988). Todavia, ainda há relatos, nos tempos de hoje, que o cuidado relacionado ao medicamento não é responsabilidade exclusiva do profissional farmacêutico e sim de toda equipe envolvida na atenção ao paciente (ELORANTA et al., 2011). O acompanhamento farmacoterapêutico eficiente pode diminuir a chance de que outras doenças se instalem devido ao uso incorreto de medicamentos ou pela negligenciação de algum sintoma, bem como evitar à morte e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Torna-se essencial o cuidado farmacêutico contínuo e integral do doente para sanar problemas relacionados ao medicamento (ARAÚJO et al., 2008; AZIZ, CALVO e ORSI, 2012; BARROS et al., 2011; BORGES et al., 2011; ELORANTA et al., 2011). Dessa forma, ante o exacerbado crescimento do uso de medicamentos, tornase essencial o envolvimento do farmacêutico na Atenção Básica à Saúde, para que por meio do uso racional de medicamentos e adesão terapêutica, os problemas relacionados à utilização dos medicamentos sejam minimizados e não sejam mais ocupantes de posições relevantes de problemas de saúde pública (ARRAIS et al., 2005; COSENDEY et al., 2000; NASSAU, 2009; SOYAMA; 2006; VOSGERAU et al., 2011). A Assistência Farmacêutica, que visa garantir o acesso aos medicamentos e o uso racional dos mesmos, tem a Atenção Farmacêutica como atividade privativa do profissional farmacêutico, e essas ações interferem em todo o processo de atenção primária à saúde (ARAÚJO et al., 2008; BRASIL, 2004; SEVERINO et al., 2008). Hepler e Strand propuseram, em 1990, que a “Atenção Farmacêutica é a provisão responsável do tratamento farmacológico com o objetivo de alcançar resultados satisfatórios na saúde, melhorando a qualidade de vida do paciente” (HEPLER e STRAND, 1990). No Brasil, a promoção da Atenção Farmacêutica vem sendo preconizada desde 2001 e o Consenso Nacional de Atenção Farmacêutica conceituou como: Um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades, compromissos e co-responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de vida. Esta interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos, respeitadas as suas especificidades bio-psico-sociais, sob a ótica da integralidade das ações de saúde (IVAMA et al., 2002). O conceito acima proposto por Hepler e Strand foi discutido em Tóquio, em uma reunião da OMS e ficou definido como papel chave do farmacêutico: Estender o caráter de beneficiário da atenção farmacêutica ao público em seu conjunto e reconhecer, deste modo, o farmacêutico como dispensador da atenção sanitária que pode participar, ativamente, na prevenção das doenças e da promoção da saúde, junto com outros membros da equipe sanitária (ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1994). De acordo com a definição proposta por Cipolle e colaboradores (2000), na Atenção Farmacêutica o paciente é o centro de interesse, devendo ser o foco do profissional. A relação paciente-profissional deve ser de confiança e reciprocidade, o contato direto entre eles no processo de orientação e acompanhamento é de extrema importância (ANGONESI E SEVALHO, 2010). O farmacêutico é o profissional melhor preparado para orientar sobre medicamentos e o paciente é a principal fonte de informações e este precisa participar do processo terapêutico para que possa se sentir seguro e convencido do porque aquelas medidas são necessárias e capazes de melhorar sua vida (ANGONESI e SEVALHO, 2010; ELORANTA et al., 2011; HARDLING e TAYLOR, 1997; MARIN et al., 2003). A Atenção Farmacêutica é realizada por meio de informações referentes ao tratamento, acompanhamento e avaliação farmacoterapêutica da prescrição (BRASIL, 2009). Definiu-se AFT como: Serviço profissional que tem como objetivo detectar problemas relacionados com medicamentos (PRM), para prevenir e resolver os resultados negativos associados à medicação (RNM). O manejo farmacoterapêutico pode ser definido ainda como a provisão sistemática dos medicamentos por meio da parceria entre pacientes e profissionais de saúde, a fim de alcançar melhores resultados e minimizar os custos de atenção à saúde (AMARANTE et al., 2008). O Acompanhamento Farmacoterapêutico (AFT) deve ser contínuo, sistemático e documentado, sempre tendo como “parceiros” o paciente e os demais profissionais do sistema de saúde, intervindo com informações adicionais que possam melhorar a terapêutica instituída, como por exemplo, ajuste de dose, adição ou retirada de medicamentos (BORGES et al., 2011; HERNANDEZ et al., 2007). Para obter melhores resultados é necessária uma relação direta do paciente com o farmacêutico e com todos os componentes da equipe de saúde (BORGES et al., 2011; HERNANDEZ et al., 2007). A orientação deve ser baseada em informações e educação em saúde, transmitir conhecimentos a respeito do medicamento a ser utilizado, de maneira clara e simples. E motivar e induzir mudanças de estilo de vida, responsabilizando e comprometendo dessa maneira, também, o próprio paciente pela sua saúde (BRASIL, 2006 b). Essa relação entre profissional e paciente contribui para (AMARANTE et al., 2008; ARAÚJO et al., 2008; BORGES et al., 2011; ELORANTA et al., 2011; TROCCOLO, 1990): • O cumprimento do tratamento prescrito, pois o não cumprimento é um dos principais problemas relacionados a falha na efetividade da terapia medicamentosa, especialmente em tratamentos crônicos resultando em agravos à saúde, diminuição da qualidade de vida do paciente e aumento de gastos com saúde. • Orientações claras, verbalmente e por escrito, sobre como fazer o controle da doença, não só farmacológico como o não farmacológico - dietas, hábitos de vida saudáveis e etc. • Conhecimento sobre o efeito terapêutico e a importância de utilizar a medicação, aumentando assim a responsabilidade e o compromisso de seguir o tratamento da maneira adequada. • Encaminhamento dos pacientes para especialistas, diminuindo o risco de problemas secundários causados por uma determinada patologia e reduzindo, a longo prazo, gastos em saúde. • Diminuição da procura por serviços de emergência, que são mais caros, e aumenta à procura por serviços nas Unidades Básicas, reajustando os níveis de atenção no SUS. • Mudanças no perfil de consumo e na redução dos medicamentos utilizados. • Conhecimento dos possíveis efeitos adversos que evitam o abandono do tratamento. • Como verificar a eficácia do tratamento. As vantagens de se adotar a Atenção Farmacêutica são: capacidade de comunicação com outros profissionais de saúde, otimizando o tratamento e promovendo uma melhor assistência à saúde; a garantia da continuidade do acompanhamento farmacêutico, assim garantindo à assistência as necessidades futuras do paciente; redução dos gastos com saúde entre outros (ANGONESI e SEVALHO, 2010; BORGES et al., 2011). No que se refere à Atenção Farmacêutica no sistema público, o intuito é ampliar e qualificar o acesso aos medicamentos; racionalizar e ampliar o financiamento da Assistência Farmacêutica Pública, regular e monitorar o mercado de medicamentos e ainda promover a qualificação técnica da AF (SEVERINO et al., 2008). O farmacêutico se torna um canal de acesso, de qualidade, à informação e aos próprios medicamentos disponíveis na rede (ANGONESI e SEVALHO, 2010; ELORANTA et al., 2011; MARIN et al., 2003), devendo atuar de maneira mais ativa, assumindo responsabilidades junto à população e propondo intervenções com o intuito de se obter melhores resultados farmacoterapêuticos e, como já foi constatado, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes (ARAUJO et al., 2008; BARBANO, 2011; BARBOSA, 2009; BRASIL, 2009; BRASIL, 2010 a; NICOLINE e VIEIRA, 2011; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1988). As informações obtidas por meio das intervenções farmacêuticas podem servir como base para as ações dos demais profissionais de saúde, como indicador de qualidade dos serviços e participar ativamente na melhoria dos indicadores de saúde, otimizando assim os cuidados em saúde instituídos, bem como os gastos em saúde (BRASIL, 2009). O amplo conhecimento sobre terapias medicamentosas e as propriedades dos mesmos, aproxima o profissional farmacêutico do profissional prescritor como fonte de informações acerca das opções terapêuticas e de suas consequências nos tratamentos adotados (BORGES et al., 2011). O farmacêutico no sistema de saúde leva o diferencial por ter um conhecimento técnico na área dos medicamentos (ARAÚJO et al., 2008). Porém, a realidade não é essa, ainda não se tem o reconhecimento do farmacêutico perante os gestores, a equipe e a sociedade. Segundo a OPAS (1993) o papel do farmacêutico na equipe de saúde é dificultado, pois o modelo é centrado na consulta médica e na divisão social do trabalho em saúde (ARAÚJO et al., 2008; BRASIL, 2008; HARDLING e TAYLOR, 1997; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1997; RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). Só a implantação da ESF não garante o acesso universal à assistência farmacêutica, pois o profissional farmacêutico se quer está inserido na equipe básica do projeto. Uma possibilidade para que se consolide a atividade farmacêutica é a participação do farmacêutico nas equipes de Saúde da Família. (MARIN et al., 2003; VOSGERAU et al., 2011). Canesqui e Spinelli (2008) realizaram uma pesquisa em municípios do Estado de Mato Grosso e Silva e Caldeira (2011), um estudo para avaliação para melhoria da qualidade da ESF, e concluíram que há uma visão positiva em relação ao desempenho das equipes da ESF. Porém, há evidências de falhas no que se refere as atividades relacionadas a medicamentos, destacando a importância e necessidade do reconhecimento da importância da inserção de profissionais farmacêuticos nas equipes (CANESQUI e SPINELLI, 2008; SILVA e CALDEIRA, 2011). Na ESF, há uma grande oportunidade em garantir o URM, uma vez que se trata de um modelo focado na atenção primária a saúde que visa a integralidade das ações, promovendo práticas que reorientem a Assistência Farmacêutica (NASSAU, 2009; VOSGERAU et al., 2011). Nas comunidades, os farmacêuticos podem cooperar com medidas que geram efeitos imediatos ao bem-estar de pacientes com enfermidades leves, ou em condições crônicas e em terapia de manutenção. Podem ser dispensadores acessíveis, não apenas de medicamentos, mas também de informações sobre saúde (RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). Está estabelecido por lei que as intervenções farmacêuticas devem ser uma atividade contínua e não auxiliar, e mesmo assim estas só acontecem junto às equipes quando solicitadas. O papel do farmacêutico em equipe no NASF e na ESF não está completamente firmado (ARAÚJO et al., 2008; BARBANO, 2011; BARBOSA, 2009; BRASIL, 2009; BRASIL, 2010 a; NICOLINE e VIEIRA, 2011; ORGANIZAÇNAO MUNDIAL DA SAÚDE, 1988). O farmacêutico não possui uma relação ideal com a equipe de saúde, já que essa é muito limitada e seu tempo é gasto, principalmente, em questões relacionadas à gestão da Assistência Farmacêutica. É necessário adotar medidas que otimizem o tempo utilizado nessas atividades para que haja mais tempo de se trabalhar diretamente com os pacientes (ARAÚJO et al., 2008). Há avanços no que diz respeito às ações tradicionais de atenção à saúde, pacientes portadores de agravos ou não como grupo de idosos, grupos específicos (hipertensos, diabéticos, gestantes, etc) são atendidos em grupos direcionados ao problema pelas ESF, atitudes essas que intensificam educação em saúde e facilitam a criação de vínculos e a adesão ao tratamento (BORGES, 2008; PROVIN et al., 2010; SISSON et al., 2011). Em um estudo sobre a avaliação econômica de pacientes ambulatoriais portadores de diabetes melito tipo 2 assistidos por um serviço de atenção farmacêutica realizado por Borges e colaboradores, em 2011, mostrou que os pacientes que foram acompanhados apenas por médicos e enfermeiros, custavam mais ao governo, além de não apresentarem melhoras significativas no controle da doença, do que aqueles acompanhados também por um farmacêutico. O grupo que recebeu acompanhamento farmacêutico associado ao acompanhamento médico apresentou melhora dos resultados laboratoriais, onde foram medidas a eficiência da terapêutica instituída, redução de dose, redução de atendimentos de emergência, otimização da terapia farmacológica e do custo do tratamento (BOJKE et al., 2010; BORGES et al., 2011). É importante que realmente comece a ser feito um trabalho interdisciplinar como o sugerido pela ESF, para que se possa garantir todos os direitos de saúde já estabelecidos por lei (ARAÚJO et al., 2008; BRASIL, 2008; HARDLING e TAYLOR, 1997; RELATÓRIO DO GRUPO CONSTITUTIVO DA OMS, 1988; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1997). Faz-se necessário que a gestão pública se comprometa com a estruturação e a qualificação dos serviços farmacêuticos no SUS, bem como da sua necessária articulação multiprofissional e intersetorial, para que assim o real significado da assistência farmacêutica seja firmado assim como a sua inserção na atenção à saúde brasileira (BRASIL, 2010 a). 3. CONCLUSÃO O Brasil, apesar da formulação da Lei 8.080/90 do Sistema Único de Saúde – SUS na tentativa de promover de maneira eficiente as recomendações da OMS em relação à saúde, ainda apresenta uma realidade onde há um perfil alto no consumo de medicamentos e problemas na distribuição dos mesmos, além de parte da população continuar desassistida em relação aos problemas causados por medicamentos (ALVES, 2011; BRASIL, 1990; COSENDEY et al., 2000, FERRAZ e VIEIRA, 2009; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1995). Com o foco na Atenção Básica a Saúde e o aumento da expectativa de vida da população, a atuação do farmacêutico tornou-se de grande importância em virtude do impacto positivo na qualidade de vida do paciente, na segurança do sistema de saúde e na otimização de recursos. Além disso, a Assistência Farmacêutica bem executada em todas as suas etapas, um fluxo contínuo de abastecimento atende de maneira eficiente a distribuição de medicamentos, prescrição racional, o acesso aos medicamentos essenciais e o uso racional dos mesmos podem ser garantidos no âmbito do SUS (MANAGEMENT SCIENCES FOR HEALTH, 1997; MARIN et al, 2003; ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, 1997). As informações obtidas por meio das intervenções farmacêuticas podem servir como base para as ações dos demais profissionais de saúde, como indicador de qualidade dos serviços e participar ativamente na melhoria dos indicadores de saúde, otimizando assim os cuidados em saúde instituídos, bem como os gastos em saúde (BRASIL, 2009). Embora grandes avanços na saúde pública do nosso país já tenham acontecido, este é um processo complexo e contínuo, que se apresenta em constantes mudanças. Onde se pode ver e compreender as falhas e, o mais importante, onde se faz necessário que haja mudanças. E é sabido que, em relação a prestação de serviços farmacêutico, medidas urgentes necessitam ser tomadas, além de mais estudos nessa área tão importante para o bom funcionamento do sistema de saúde (ALVES, 2011). Um posicionamento e comprometimento da gestão pública com a estruturação e a qualificação dos serviços farmacêuticos no SUS, bem como da sua necessária articulação multiprofissional e intersetorial, trará resultados reais do que está estabelecido por lei no que se refere à saúde como um direito fundamental do ser humano que deve ser garantido pelo Estado de forma universal e igualitária dos serviços de saúde. Outro ponto é a necessidade de um sistema de vigilância sobre os problemas de saúde fazendo serem executadas as políticas que visam financiar as ações em saúde e garantir a integralidade das ações por meio das atividades do ciclo da AF (ALENCAR e NASCIMENTO, 2011; BRASIL, 2004; BRASIL, 2010 a; NICOLINE e VIEIRA, 2011; SEVERINO et al., 2008). Assim, a inclusão do profissional farmacêutico à equipe básica de atenção à saúde torna-se imprescindível (BORGES, 2008; MORRIS et CONSTITUTIVO DA OMS, 1988). al., 2002; RELATÓRIO DO GRUPO 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALENCAR, Tatiane de Oliveira Silva; NASCIMENTO, Maria Angela Alves do. Assistência Farmacêutica no Programa Saúde da Família: encontros e desencontros do processo de organização. Ciência & Saúde Coletiva, Feira de Santana, v. 13, p. 3939-3949, 2011. ALVES, Aramis Kraide. O Sistema Único de Saúde e as demandas judiciais. Porto Alegre, 2011. 19 f. 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