A Revolução Russa e a formação da URSS Antecedentes Na Rússia, o Czar exercia poder absoluto. No imenso país de 22 milhões de quilômetros quadrados, viviam 170 milhões de habitantes, 85% deles no campo. A nobreza possuía quase metade das terras cultiváveis. O progresso da industrialização a partir de 1890 ampliou o numero de proletários (trabalhadores urbanos), concentrados em centros urbanos como São Petersburgo (a capital), Odessa e Moscou. Como o capital estrangeiro representava mais da metade do total investido no parque produtivo, grande parte dos lucros acabava não permanecendo no país. Entre a massa proletária, fermentava uma forte oposição ao regime czarista, sustentado pelas camadas privilegiadas da nobreza e da burguesia industrial mercantil. No campo, reinava forte tensão social. As reformas promovidas por Alexandre II, como abolição da servidão em 1861, pouco adiantaram para aliviar as tensões. Os camponeses não tinham terras suficientes para cultivar e as dividas aumentavam em razão da baixa produtividade, resultante do uso de técnicas rudimentares. Os impostos pesavam sobre os mais pobres. Em toda Rússia, o ambiente era adequado á difusão de ideias revolucionarias. Em 1898, foi fundado o partido Social - Democrata Russo, que tinha por base as ideias de Marx (socialismo científico). Entre seus lideres, estava Vladimir Ilitch Ulianov, mundialmente conhecido como Lênin. Suas ideias eram difundidas pelo jornal a centelha, divulgado clandestinamente na Rússia. O partido defendia a tese de que a Rússia, pais atrasado, precisava passar por uma revolução democrático-burguesa que desenvolvesse o capitalismo e criasse as condições para uma revolução do proletariado. Essa tese foi discutida em um congresso do partido. No congresso de 1903, o partido se dividiu em duas tendências de posições opostas: Mencheviques e Bolcheviques. Os Mencheviques julgavam que se devia esperar o desenvolvimento do capitalismo para então começar a revolução, conduzida pela burguesia e apoiada pelos operários e camponeses. Já os bolcheviques, liderados por Lenin, defendiam a revolução imediata conduzida por um partido operário apoiada nos camponeses. Trotsky, outro importante líder revolucionário, afirmava que só uma revolução socialista tiraria a Rússia do atraso, tarefa que a burguesia não seria capaz de realizar. Por volta de 1905, estavam delineadas as principais forças politicas no país: de um lado, Bolcheviques e Mencheviques; de outro; o partido constitucional democrata (cadete), que representava a burguesia liberal; sua meta era a instauração de uma monarquia constitucional. O Ensaio Revolucionário de 1905 Em 1904, eclodiu a Guerra Russo-Japonesa, motivada pelo choque de interesses em torno da região da Manchúria (na China). A Rússia saiu derrotada, a que agravou a crise econômica do país. Começou a ocorrer, então, uma serie de greves e manifestações contra o regime. Os cossacos (soldados da guarda imperial) reprimiam duramente esses movimentos. Em janeiro de 1905, uma grande multidão se reuniu em frente ao palácio de inverno de são Petersburgo, sede do governo, pedindo audiência com o Czar. O exercito abriu fogo contra os manifestantes, mantendo muitos deles. Conhecido como Domingo Sangrento, o fato serviu de estopim para uma serie de revoltas no país inteiro. Os marinheiros do encouraçado Potemkin, ancorado em Odessa, e a guarnição de Kronstadt se amotinaram. Ao mesmo tempo, cresceu a pressão das greves e contestações; surgiram espontaneamente os primeiros conselhos de operários, os sovietes. Para ganhar tempo, o Czar promulgou uma constituição e permitiu a convocação de eleições para a Duma (Parlamento). A Rússia tornava-se, assim, uma monarquia constitucional, em contraste com as limitações do Parlamento. Essas medidas, somadas a intensa repressão contra os sovietes, contribuíram para o esvaziamento do movimento. A Revolução de Fevereiro Os efeitos da primeira guerra mundial desmascararam a falsa ordem constitucional, revelando a crise da sociedade imperial: a inflação corroía os salários, empresas nacionais faliam, cedendo lugar ao capital estrangeiro. A mobilização de 13 milhões de soldados para os combates agravou os problemas, já que eles foram retirados das atividades produtivas, obrigando a população a um esforço extra para o sustento dos efetivos militares. O movimento grevista crescia. Em 1916, havia 200 mil trabalhadores parados. O exercito tinha sofrido três milhões de baixas. Os soldados desertavam e engrossavam as fileiras da oposição. No começo de 1917, a burguesia liberal, apoiada pela esquerda moderada, pressionava o governo, provocando manifestações por “pão e abaixo a guerra”. Os sovietes ressurgiram. A polícia não conseguiu deter o movimento e o exercito se recusou a marchar contra população. No dia seguinte, 27 de fevereiro, o Czar Abdicou. Constituíram-se, então, dois poderes paralelos: a Duma, na qual um comitê provisório pretendia consolidar a monarquia constitucional; e os sovietes, conselhos de operários, soldados e camponeses, pró Republica Socialista. O comitê da Duma transformou-se em Governo provisório, presidido pelo príncipe Lvov e tendo como um de seus principais membros Alexander Kerenski, líder do partido Social-Revolucionário. O governo decidiu manter a Rússia na guerra, apesar do esgotamento do país e da oposição popular. A Burguesia, além de não contar com grande apoio popular, não tinha condições de estimular a produção, nem de conter a carestia e as deserções. Por toda parte, os sovietes, compostos de uma maioria de mencheviques e socialistas revolucionários, exerciam o poder de fato: distribuíam terras aos camponeses e condenavam a guerra. Foi nesse contexto que Lenin retornou se seu exilio na suíça. Uma vez na Rússia, passou a expor seu programa, as Teses de Abril, que propunha: todo poder aos sovietes, nacionalização dos bancos, controle das fabricas pelos operários; terra para os camponeses e a paz. Em julho, diante de intensas manifestações populares, Lvov se demitiu. Kerenski assumiu a chefia do governo e passou a perseguir os Bolcheviques. A Revolução de Outubro Em Agosto, tropas fiéis ao antigo regime, sob o comando do general Kornilov, marcharam sobre Petrogrado com o objetivo de derrubar o governo. Kerenski pediu ajuda aos operários e até aos bolcheviques, o que mostrava sua fragilidade. Lenin retornou da Finlândia e o golpe de Kornilov foi sufocado com a ajuda da guarda vermelha. Nas semanas seguintes, os bolcheviques – que propagavam a palavra de ordem “pão, terra e paz” – começaram a ser eleitos em maioria para os sovietes. Enquanto isso, Trotsky preparava a insurreição socialista, criando o Comitê Militar Revolucionário, que assumiu o controle da guarnição militar de Petrogrado. O que a maioria da população queria era o fim da guerra. Kerenski, porém, adiava o acordo de paz em separado com a Alemanha. Por isso, perdia apoio entre a população, enquanto os bolcheviques conquistavam a simpatia das massas. Assim, na noite de 24 de outubro, os bolcheviques ocuparam pontos estratégicos de Retrógrado. Abandonado pelas tropas, Kerenski fugiu. Os Bolcheviques estavam com o controle do governo. Os Bolcheviques estavam no poder. Era necessário realizar logo mudanças estruturais. Vários decretos se sucederam: acabaram com a grande propriedade rural; atribuíram a gestão das terras aos comitês de camponeses; estatizaram as fabricas que passaram ao controle dos operários. Em março de 1918, a Rússia assinou a paz com os alemães em Brest-Litovsk, retirando-se da guerra. A Guerra Civil (1917 – 1921) Logo após a assinatura do tratado de paz, iniciou-se na Rússia uma Guerra Civil, que durou de 1918 a 1921. As forças ligadas ao antigo regime czarista reuniram-se no Exército Branco. Conseguiram ainda apoio de potências capitalistas ocidentais para tentar derrubar o nascente poder soviético. A organização soviética na Guerra Civil criou as bases da centralização estatal da economia e do controle da vida social. A constituição do Comunismo de Guerra procurava administrar o novo Estado. Tendo por base a militarização da economia, direcionando-a para os esforços da Guerra Civil, o Comunismo de Guerra impôs a disciplina militar nas indústrias e também passou a confiscar as colheitas dos camponeses. Na Ucrânia, que havia se tornado independente, camponês e operário organizou-se em torno da guerrilha liderada por Nestor Makhno. A makhnovtchina foi uma importante organização na luta contra o Exército Branco e também na organização da produção, principalmente agrícola, na Ucrânia. A ação da makhnovtchina e do Exército Vermelho conseguiu conter a invasão do Exército Branco. Porém, ao fim da Guerra Civil, a Rússia estava arrasada pela fome e pela destruição causada pela guerra. Porém, a militarização promovida pelos bolcheviques se manteve principalmente no papel centralizador do Estado. As forças de Makhno foram destruídas logo após a guerra civil. Uma rebelião contra o novo Estado, realizada na fortaleza de Kronstadt, foi massacrada pelos bolcheviques. Os marinheiros dessa fortaleza, que eram a principal força revolucionária da Rússia, pediam a eleição de sovietes livres, buscando assim diminuir o poder bolchevique. Mesmo a liberdade econômica temporária, proporcionada pela Nova Política Econômica (NEP), não abalou as estruturas centralizadoras do Estado Soviético. O período de centralização do controle econômico, político e social da Guerra Civil moldou a forma de organização da URSS, principalmente a partir de 1928, quando as terras foram estatizadas e foi inaugurado o primeiro Plano Quinquenal. Os burocratas do partido e os administradores das empresas puderam com esse plano iniciar o planejamento da economia soviética, impulsionando a industrialização da URSS. Nova Politica Econômica e a criação da União Soviética Terminada a guerra civil, a Rússia estava completamente arrasada, com graves problemas para recuperar sua produção agrícola e industrial. Visando promover a reconstrução do país, Lenin criou, em fevereiro de 1921, a Comissão Estatal de Planificação Econômica ou GOSPLAN, encarregada da coordenação geral da economia do país. Pouco tempo depois, em março de 1921, adaptou-se um conjunto de medidas conhecidas como Nova Política Econômica ou NEP. Entre as medidas tomadas pela NEP destacam-se: liberdade de comércio interno, liberdade de salário aos trabalhadores, autorização para o funcionamento de empresas particulares e permissão de entrada de capital estrangeiro para a reconstrução do país. O Estado russo continuou, no entanto, exercendo controle sobre setores considerados vitais para a economia: o comércio exterior, o sistema bancário e as grandes indústrias de base. Desde 1918, após uma tentativa de assassinato de Lenin no mês de agosto com a participação de membros do partido Socialista, encarregou-se de combater as facções de oposição no interior do Partido e de garantir os postos importantes da administração estatal para pessoas da inteira confiança do regime, o que foi por ele utilizado para impor à administração interna a hegemonia do seu grupo pessoal. Em dezembro de 1922, foi organizado um congresso geral de todos os sovietes, ocorrendo à fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). O governo da União, cujo órgão máximo era o Soviete Supremo (Legislativo), passou a ser integrado por representantes das diversas repúblicas. Competia ao Soviete Supremo eleger um comitê executivo (Presidium), dirigido por um presidente a quem se reservava a função de chefe de estado. Competiam ao governo da União as grandes tarefas relativas ao comércio exterior, política internacional, planificação da economia, defesa nacional, entre outros. Paralelamente a essa estrutura formal, estava o Partido Comunista, que controlava, efetivamente, o poder da URSS. Sua função era controlar os órgãos estatais, estimulando sua atividade e verificando sua lealdade e manter os dirigentes em contato permanente com as massas. Também assegurava à população a difusão das ideologias vindas da alta cúpula. Lênin, o fundador do primeiro Estado socialista, morreu em janeiro de 1924. Teve início, então, uma grande luta interna pela disputa do poder soviético. Num primeiro momento, entre os principais envolvidos nesta disputa pelo poder figuravam Trotsky e Stalin. Trotsky defendia a tese da revolução permanente, segundo a qual o socialismo somente seria possível se fosse construído à escala internacional. Ou seja, a revolução socialista deveria ser levada à Europa e ao mundo. Opondo-se a tese trotskista, Stalin defendia a construção do socialismo num só país. Pregava que os esforços por uma revolução permanente comprometeriam a consolidação interna do socialismo na União Soviética. A tese de Stalin tornou-se vitoriosa. Foi aceita e aclamada no XIV Congresso do Partido Comunista. Trotsky foi destituído das suas funções como comissário de guerra, expulso do Partido e, em 1929, deportado da União Soviética. Tempos depois, em 1940, foi assassinado no México, a mando de Stalin, por um agente de segurança soviético, que desferiu no antigo líder do Exército Vermelho golpes de picareta na cabeça.