Uma cabeça com muitos problemas Conheça os sintomas dos esquizofrenia e o tratamento para essa incapacitante doença "O começo foi muito difícil. Não sabíamos o que ele tinha. Ele também não sabia explicar direito o que sentia. Relutamos em levá-lo ao médico, achando que era só uma fase e que ele logo iria melhorar. Mas não melhorou. Cheguei a pensar que a culpa pelo problema era minha, algum erro na criação dele. O início do tratamento foi sofrido, mas hoje ele está bem melhor. Voltou a estudar, está fazendo terapia ocupacional e levando o tratamento a sério". O relato acima é da mãe de um esquizofrênico, que prefere não se identificar. Mas, afinal, o que é esquizofrenia? A esquizofrenia é uma doença que se caracteriza essencialmente por comportamento anormal e isolamento emocional. Apesar de atingir a humanidade há milhares de anos e já ter sido exaustivamente estudada, sua causa continua sendo um grande mistério. No início do século 20, o psiquiatra alemão Eugen Bleuler criou o termo esquizofrenia a partir das palavras gregas "divisão" e "mente". Ele escolheu esse nome baseado na idéia de dupla personalidade, um erro comum, uma vez que os esquizofrênicos apresentam uma desconexão com a realidade, mas não personalidade dupla. As prováveis causas da esquizofrenia são várias e o único fator bem definido é a constituição multifatorial da doença, que inclui mudanças na química cerebral, fatores genéticos e alterações estruturais. Uma possível origem viral e traumas encefálicos não estão descartados. A doença é provavelmente um grupo de doenças relacionadas, algumas causadas por um fator, outras, por outros fatores. A esquizofrenia pode se desenvolver lentamente, de modo que nem o esquizofrênico nem as pessoas próximas percebem que algo vai errado, até que algum comportamento estranho se manifesta. Essa fase geralmente é marcada por descuido com a aparência e com a higiene pessoal, além de mudanças radicais no visual, como o uso de piercing e a realização de tatuagens. Nessa fase da doença, a família espera por uma recuperação espontânea do comportamento do doente. No entanto, conforme passa o tempo, os sintomas se aprofundam, e o doente começa a apresentar uma conversa estranha, de maneira que a família chega a desconfiar que ele está fazendo uso de drogas ilícitas. Infelizmente, o tratamento precoce não previne a esquizofrenia, que é uma doença implacável. A psiquiatra Maria Helena Muniz explica que a esquizofrenia faz com que a pessoa perca a noção de identidade. “O paciente perde a identidade de quem é o “eu” dele, e todas as alterações são decorrentes dessa alteração do eu. Depois dessa alteração, a pessoa não volta mais”. Não há exame que detecte com precisão a esquizofrenia, porém, um moderno exame de tomografia chamado PET Scan indica uma menor atividade no lobo frontal do cérebro esquizofrênico. Esse exame é utilizado unicamente no estudo de pacientes já em tratamento.O diagnóstico inicial continua sendo feito da maneira tradicional, e nisso conta muito a experiência do médico. Muitas vezes há um conflito de diagnósticos. A esquizofrenia pode ser confundida inicialmente com depressão e transtorno bipolar. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), a doença normalmente se desenvolve em homens entre o fim da adolescência e o começo da idade adulta, próximo dos 20 anos. Nas mulheres, por volta dos 25 e 30 anos. Os sintomas são classificados como positivos e negativos. Os positivos se referem às formas distorcidas ou exageradas da atividade normal, o que inclui, entre outros, ilusões, alucinações, discurso desorganizado, atividades motoras sem propósito ou falta de atividade, o chamado comportamento catatônico. Os negativos referem-se à ausência de comportamento normais, como não conseguir expressar emoções, não sentir prazer pela vida e apresentar uma atitude de apatia geral. Para que alguém seja diagnosticado como esquizofrênico, de acordo com os padrões oficiais do DSM-IV, um certo número de sintomas precisa ser identificado e o quadro deve se estender, no mínimo, por seis meses. A esquizofrenia pode se apresentar de diversas formas que se subdividem em diferentes categorias (ver infográfico). Algumas doenças são muito semelhantes à esquizofrenia. O transtorno esquizofreniforme, por exemplo, pode incluir os positivos e negativos de esquizofrenia, mas dura apenas de um a seis meses. Um outro quadro semelhante é o transtorno esquizoafetivo. Pessoas com transtorno esquizoafetivo sofrem tanto com sintomas de esquizofrenia quanto com transtornos do humor, como depressão. Desde os anos de 1950, o tratamento da esquizofrenia é feito por meio de medicamentos antipsicóticos. Essas drogas diminuem os sintomas da doença, fazendo com que o paciente restabeleça o contato com a realidade, no entanto, essa recuperação é apenas parcial. Os antipsicóticos controlam as crises e ajudam a evitar uma evolução desfavorável da doença. Em geral, essas drogas apresentam efeitos colaterais que podem ser controlados. A reintegração de um esquizofrênico à sociedade tende a ser difícil, uma vez que a doença se manifesta quando a pessoa já tem uma profissão e é auto-suficiente. “Perdi meu emprego e quase todos meus amigos. Eu acho que eles têm medo de mim”, diz Ronaldo, que convive com a doença há 8 anos. A maioria dos esquizofrênicos não se casa, não tem sucesso no trabalho e, muitas vezes, acabam virando moradores de rua. Esses fatores podem contribuir para a alta porcentagem de esquizofrênicos que cometem suicídio, cerca de 10% de acordo com estatísticas do National Institute of Mental Health (NIMH), dos Estados Unidos. Box: Esquizofrênicos Famosos John Forbes Nash – vencedor do prêmio Nobel, o matemático e economista sofre de esquizofrenia paranóica. O filme “Uma Mente Brilhante” foi baseado em sua luta contra a doença. Jack Kerouac – escritor, Kerouac ficou famoso nos anos de 1950 pelo livro “Pé na Estrada”. Syd Barret – Um dos fundadores do Pink Floyd, Syd Barret era esquizofrênico. Provavelmente teve os sintomas da doença aumentados pelo uso de drogas ilícitas. Lionel Aldridge – jogador de futebol americano, Aldridge ajudou o Green Bay Packers a vencer dois campeonatos. Ele chegou a morar nas ruas por um período, até se recuperar e viajar os Estados Unidos para falar sobre a doença.