da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em

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Tradução & Comunicação
Revista Brasileira de Tradutores
Nº. 22, Ano 2011
DA INFORMAÇÃO AO CONHECIMENTO: ESTUDO
TERMINOLÓGICO BASEADO EM CORPORA NA
ÁREA DO SEGMENTO ACCIONISTA
From information to knowledge: corpora-based
terminology study in the stock market area
Inês Rodrigues Pedro
Instituto Superior de Línguas e
Administração - Lisboa, PT
[email protected]
RESUMO
Estudo contrastivo da terminologia do segmento accionista dos
mercados financeiros utilizada no âmbito jornalístico em inglês e
português europeu com vista à elaboração de uma base de dados
terminológica bilingue. Após uma breve introdução a aspectos teórico
práticos da Terminologia e da Linguística de Corpus, apresentamos a
metodologia do processo terminológico bilingue e os resultados da
investigação realizada a partir dos cinco termos mais frequentes no
corpus em português europeu e os seus equivalentes em inglês, a saber:
acção, share e stock; título, security e equity; índice e index; bolsa, stock
market, exchange e bourse; empresa e company. Concluímos com a
avaliação do contributo do presente projecto para os Estudos de
Tradução.
Palavras-Chave: base de dados terminológica bilingue; corpora comparáveis;
linguística de corpus; segmento accionista; terminologia; tradução.
ABSTRACT
Contrastive study in terminology used in journalist texts in the stock
market area of financial markets written in English and European
Portuguese in order to create a bilingual terminological database.
After a brief introduction into theoretical and practical aspects of
Terminology and Corpus Linguistics, the methodology utilized
throughout the bilingual terminological creation is followed by a
discussion of the research results obtained based on the five most
frequently used terms in European Portuguese and their equivalents in
English: acção, share and stock; título, security and equity; índice and
index; bolsa, stock market, exchange and bourse; empresa and
company. In the conclusions’ section, an evaluation of the study’s
contribution to Translation Studies is presented.
Keywords: bilingual terminological database; comparative corpora; corpus
linguistics; stock market; terminology; translation.
Anhanguera Educacional Ltda.
Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo
CEP 13.278-181
[email protected]
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
Recebido em: 01/08/2011
Avaliado em: 04/09/2011
Publicação: 30 de setembro de 2011
55
56
Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
1.
INTRODUÇÃO
O principal objectivo do projecto foi analisar empiricamente o léxico especializado de uma
área do saber específica, o domínio do segmento accionista, com vista à construção de
uma base de dados (BD) terminológica1 consultável por prestadores de serviços
linguísticos (tradutores, intérpretes, revisores etc.) e especialistas financeiros à procura de
um equivalente, em língua inglesa, para determinado termo em português europeu e
vice-versa. Com base em corpora comparáveis em inglês e português: 1) identificámos
termos, criámos sistemas conceptuais, elaborámos definições e localizámos informações
fraseológicas; 2) elaborámos uma BD terminológica bilingue, em inglês e português
europeu, com as informações obtidas mediante o objectivo anterior.
Nas últimas décadas, o progresso do conhecimento humano, coadjuvado pelo
desenvolvimento dos meios de transporte e comunicação, com destaque para a Internet,
resultou no aumento dos léxicos especializados. Ambicionamos transformar-nos numa
sociedade do conhecimento, mas somos, antes de mais, uma sociedade da informação,
com um excesso de dados que muitas vezes parecem impossíveis de gerir. Para tradutores
e terminólogos, o desafio da escassez de fontes e informação tornou-se, com a
generalização do acesso à Internet, o desafio oposto: o da multiplicidade de fontes e
informações que se tornam difíceis de conciliar. Está nas mãos da comunidade científica
desenvolver e divulgar ferramentas e abordagens que auxiliem o tradutor, enquanto
intermediário profissional entre comunidades linguísticas, a transformar informação em
conhecimento útil para o seu trabalho2.
Deste modo, consideramos que o presente projecto se encontra directamente
relacionado com a actividade da tradução, quer pelo resultado (uma base de dados
terminológica bilingue) quer pelo processo, o qual poderá servir para divulgar estratégias
de extracção de terminologia que qualquer tradutor deverá conseguir transpor, mediante
as adaptações necessárias, para o seu âmbito de trabalho. Cumpre sublinhar que uma
parte da qualidade da tradução especializada, em particular, depende da qualidade
1
Disponível na íntegra em: <https://docs.google.com/leaf?id=0B8P8DfJfV5GJYWQ3NWQ4ZGQtMDQ2Ny00ZmJkLTg
5ZGEtOGZkM2NkN2U0Yzcx&hl=en>. Acesso em: 25 jul. 2011.
2 Ackoff (1989) distingue, através de uma hierarquia, cinco categorias do saber humano: dados (data), informação
(information), conhecimento (knowledge), compreensão (understanding) e sabedoria (wisdom). Na perspectiva de Ackoff,
os dados não têm significado além da sua mera existência; a informação consiste em dados que adquiriram significado
graças ao estabelecimento de relações entre si; o conhecimento consiste na aplicação de dados e informação; compreensão é
o processo cognitivo e analítico que permite alcançar conhecimento novo a partir do conhecimento adquirido (por exemplo,
com base na tabuada [conhecimento], é-se capaz de realizar uma operação de multiplicação mais complexa); sabedoria é um
processo de extrapolação que exige todos os níveis anteriores do saber. Apesar de polémica, esta hierarquização alerta para
a necessidade de diferenciação entre vários tipos de saber e, mais concretamente, entre informação e conhecimento. Para
efeitos do presente estudo, consideramos importante distinguir esses dois conceitos, algumas vezes utilizados
indiscriminadamente como sinónimos (por exemplo, nas expressões «sociedade da informação»/«sociedade do
conhecimento»), salientando que «conhecimento» se encontra a jusante e num patamar superior a «informação».
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terminológica e esta, por sua vez, depende dos recursos que o tradutor tiver ao seu dispor
e da pesquisa que for capaz de desenvolver.
De entre as aplicações informáticas para o processamento de dados linguísticos,
devemos realçar a evolução das ferramentas de análise de corpora. Este tipo de software
permite explorar, de uma forma sistemática e semiautomática, volumes elevados de texto
em formato electrónico, sendo uma mais valia para os profissionais que, não sendo peritos
numa determinada área, têm de a dominar. É no âmbito deste desenvolvimento
tecnológico que se insere também o surgimento de memórias de tradução, de programas
de alinhamento de texto e de gestão de dados terminológicos, de grande utilidade para o
tradutor especializado e na elaboração de glossários, dicionários e bases de dados
terminológicas.
A escassez de recursos terminológicos desse tipo em português europeu é
generalizada em vários ramos do saber, nomeadamente no âmbito do segmento accionista
dos mercados financeiros. Contudo, a motivação para o presente projecto prende-se
sobretudo com a divulgação de uma abordagem que permita ao estudante de tradução e
ao tradutor terminólogo desenvolver competências no sentido de se tornar capaz,
autonomamente, de transformar a informação em conhecimento útil aplicável no processo
de tradução e visível no produto da tradução. O alargamento da panóplia de ferramentas
e abordagens metodológicas torna-se tanto mais premente se tivermos em consideração a
afirmação dos Estudos de Tradução como disciplina independente da Linguística, dos
Estudos Culturais ou Literários e, concretamente, a recente autonomização dos cursos do
ensino superior de tradução em relação aos Estudos Literários e Culturais em algumas
instituições do ensino superior portuguesas.
Em suma, consideramos a Terminologia uma disciplina que pode ser colocada ao
serviço da actividade tradutória e o processo descrito sobretudo uma ferramenta
adaptável a outros contextos, e não um fim esgotado em si. O desenvolvimento
sistematizado de um trabalho terminológico, com recurso a corpora de linguagem
especializada, permite ao tradutor superar um dos grandes desafios da sua actividade,
que é «o de encontrar traduções satisfatórias para determinados termos ou expressões»
(TAGNIN, 2007, p. 1), e justificar as opções tomadas, podendo, a qualquer momento, por
exemplo, citar as suas fontes e fornecer definições e contextos de determinados termos.
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Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
2.
METODOLOGIA
Na presente secção, expomos a metodologia subjacente à criação da BD terminológica
bilingue, nomeadamente, o processo de delimitação do domínio e a construção dos
corpora. A questão da categorização dos domínios e subdomínios de uma BD
terminológica é complexa, mas facilita a transmissão e a aquisição de conhecimentos. Em
primeiro lugar, estabelecemos o supra-domínio «mercado». Segundo a definição do
dicionário electrónico Houaiss (HOUAISS, 2001), «mercado» designa um espaço fictício
em que qualquer produto ou serviço é passível de transacção. Podemos realizar distinções
entre mercados, dividindo os por produto ou serviço negociado (por exemplo, mercado
do ouro ou do café). «Mercado financeiro» é o «mercado de oferta e procura de capitais a
médio e longo prazo»3, podendo ser subdividido em diversos segmentos. Com base na
pesquisa em literatura especializada, optámos pela decomposição do mercado de capitais
em três segmentos: segmento obrigacionista, segmento de produtos derivados e segmento
accionista.
Durante a exploração do corpus do segmento accionista (CSA), apercebemo-nos
da possibilidade de agregar as unidades terminológicas pelas seguintes categorias:
«intervenientes», «produtos», «processos», «instrumentos» e «cenários». De facto, no
mercado accionista, tal como em qualquer outro tipo de mercado, procede-se, num
determinado espaço ou lugar (cenário), real ou virtual, à compra e venda de bens
(produtos), com recurso a processos e instrumentos fixos ou semi-fixos, entre uma série de
intervenientes.
Para a construção do corpus do segmento accionista (CSA) – composto pelo
corpus PT e pelo corpus EN –, recorremos aos artigos das versões em linha de jornais
especializados, em português europeu e inglês, que prestam informações, em geral, sobre
a economia, as finanças e o mundo empresarial, e, especificamente, sobre a evolução do
segmento accionista a um público especializado composto sobretudo por investidores.
Para o corpus PT, recorremos ao Jornal de Negócios e ao Diário Económico e, para o
corpus EN, ao Financial Times, ao Bloomberg e ao Irish Times. A recolha teve lugar entre
Novembro de 2009 e Fevereiro de 2010. É um corpus bilingue comparável com um total
de 462 390 palavras, composto em 40,05% (185 201 palavras) por textos originais em inglês
(corpus EN) e 59,95% (277 189 palavras) por textos originais em português europeu
(corpus PT).
3
Disponível em: <http://www.instituto-camoes.pt/lextec/por/domain_3/definition/17721.html>. Acesso em: 25 jul. 2011.
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3.
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DISCUSSÃO DE RESULTADOS
Recorrendo à função da lista de palavras da ferramenta de análise de corpora AntConc
(ANTHONY, 2005, p. 7-13), criámos uma lista das palavras mais frequentes do corpus por
ordem de frequência descendente. A lista de frequências produzida desta forma apresenta
9829 palavras/formas lexicais. Posteriormente, recolhemos as formas lexicais com uma
frequência superior a 40 ocorrências. A selecção foi realizada com recurso às linhas de
concordâncias para a) efeitos de desambiguação gramatical e de b) verificação da
possibilidade de categorização do candidato a termo como um termo do segmento
accionista. Procedemos também à pesquisa de bigramas e trigramas, ou seja, sequências
de duas e três palavras, respectivamente, por ordem de frequência, com mais de
40 ocorrências no corpus PT. Os resultados estão sistematizados na seguinte lista de
unidades terminológicas (Quadro 1).
Quadro 1. Unidades terminológicas (corpus PT).
Unidades terminológicas
acção
nota de análise
accionista
OPA
analista
operadora
avaliação
papel
banca
participação
banco
perda
bolsa
petrolífera
casa de investimento
ponto
cimenteira
posição
cobertura
praça
companhia
preço-alvo
construtora
prémio
cotação
previsão
empresa
recomendação
estimativa
retalhista
exposição
risco
ganho
sector
grupo
sentimento
índice
sessão
investidor
sociedade
mercado
target
negociação
título
Fonte: Corpus PT.
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Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
Realizámos um processo idêntico com o corpus EN, com 9663 formas, obtendo
as 10 palavras lexicais mais frequentes no corpus EN (Quadro 2).
Quadro 2. Unidades terminológicas (corpus EN).
Unidades terminológicas
per cent / percent
year
index
shares
stocks
company
market
bank
group
investors
Fonte: Corpus EN.
Após a pré-selecção de dados, realizámos a recolha, a validação e o
processamento de dados referentes aos cinco termos mais frequentes no corpus PT:
«acção», «título», «índice», «bolsa» e «empresa». Em simultâneo, tendo os termos em
português europeu por base, levámos a cabo o mesmo processo para o corpus EN. Por
não ser possível delimitar as três componentes, optámos por expor este processo na sua
globalidade.
3.1. Acção, share e stock
Através da análise dos «micro-contextos» (ALMEIDA, 2008, p. 35) em que o lema «acção»
surge, estabelecemos este termo como um dos mais importantes do corpus PT, com uma
frequência relativa de 674 ocorrências em 100 000 palavras. Assume dois tipos de papéis
preponderantes do ponto de vista sintáctico, tanto como sujeito como complemento de
objecto directo (COD). Na posição de sujeito, «acção» ocorre com verbos que descrevem
tendências de subida («apreciar», «brilhar», «impulsionar») e descida («deslizar»,
«recuar», «tombar»). Simultaneamente, observámos o comportamento do termo «acção»
como COD ao nível dos verbos que selecciona («adquirir», «emitir», «negociar a prémio»,
«recomprar»).
Numa segunda fase, com vista a explorar unidades terminológicas e
fraseológicas, analisámos as linhas de concordâncias produzidas pela função de n-gramas,
com a pesquisa de «de acção/de acções», dado que a estrutura nome + de + nome é uma
das classes de nomes compostos mais produtivas em português (RANCHHOD;
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CARVALHO, 2006). Cumpre destacar que as unidades fraseológicas, compostas por um
núcleo terminológico e por um núcleo eventivo sobretudo de base verbal (comprar /
compra; emitir / emissão; comportar-se / comportamento), mas também adjectival
(líquido / liquidez) , remeteram, em parte, para o campo semântico dos verbos
observados na primeira etapa, confirmando o carácter consistente da linguagem de
especialidade em análise.
Na fase seguinte, procedemos à pesquisa do equivalente terminológico de
«acção» em inglês. Os equivalentes directos de «acção» em inglês, «shares» e «stocks»,
surgem entre as cinquenta formas mais frequentes do corpus EN. Através da comparação
das frequências relativas de «acção», «share» e «stock» (674, 456 e 468 ocorrências em
100 000 palavras, respectivamente), inferimos que se trata de termos com importância
semelhante em ambos os corpora.
A análise dos contextos permitiu concluir que os termos «share» e «stock»
apresentam um comportamento a nível das formas de combinação com verbos
semelhante ao do termo «acção». Verificámos, assim, ser possível estabelecer
equivalências, entre o português europeu e o inglês, ao nível dos verbos que acompanham
os termos «share», «stock» e «acção», na posição de sujeito, para descrever tendências de
valorização («to gain», «to leap», «to rise») ou desvalorização («to decline», «to fall back»,
«to plummet») durante as sessões da bolsa. Na posição de COD, o perfil dos termos
«share» e «stock» é análogo ao perfil de «acção» no corpus PT (por exemplo,
«comprar»/«to
buy»
ou
«to
purchase»,
«emitir»/«to
issue»,
«negociar
a
prémio»/«to trade at a premium»): constatámos que «share» e «stock» também assumem
um papel fundamental na frase como sujeito e COD, seleccionando verbos
semanticamente próximos aos observados para «acção».
3.2. Título, security e equity
Identificadas 1126 ocorrências do termo «título» (frequência de 406 ocorrências em 100
000 palavras), apercebemo-nos da predominância da estrutura «títulos + de (+ artigo
definido) + nome», com 620 ocorrências. Na estrutura «títulos + de (+ artigo definido) +
nome», o espaço «nome» pode ser preenchido pela firma da sociedade (Wal Mart, Galp
Energia, etc.) ou, nomeadamente, pelas seguintes opções: empresa, banco, banca, sector,
grupo e índice (por exemplo: «títulos do sector dos media», «títulos da banca»; «títulos
das farmacêuticas»; «títulos do sector energético»; «títulos das petrolíferas»).
No contexto específico da linguagem jornalística do segmento accionista, é
possível aplicar o hiperónimo «título» em detrimento do hipónimo «acção»: o termo
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Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
«título» surge associado à evolução global das acções das sociedades cotadas em bolsa ao
longo de um outro período de tempo, normalmente, por comparação a uma determinada
referência. Assim se explicam estruturas comparativas como «os títulos que mais», com
24 ocorrências, e «o título mais», com 48 ocorrências.
Do ponto de vista sintáctico, a utilização do termo «título» predomina na posição
de sujeito, co-ocorrendo com verbos que descrevem os movimentos de descida e subida
do valor das cotações, à semelhança de «acção». Subdividimo-los em verbos de tendência
ascendente («apreciar»; «escalar»; «encontrar-se em alta») e de tendência descendente
(«deslizar»; «encontrar-se em baixa»; «perder»; «recuar»). A observação do perfil do termo
«título» na posição de COD também foi produtiva, tendo-se recolhido verbos como
«deter», «impulsionar», «negociar», «pressionar», «sustentar» e «transaccionar».
Por fim, organizámos as unidades fraseológicas compostas pelo termo «título» e
por um núcleo eventivo («cobertura do título»; «recomendação para o título»; «liquidez
do título»; «volatilidade do título»). Novamente, verificámos que as unidades
fraseológicas são de base verbal (cobrir / cobertura; recomendar / recomendação) e
adjectival (líquido / liquidez; volátil / volatilidade).
O equivalente terminológico prima facie de «título» é «security». De facto, a
definição que se segue permitiu categorizá-lo como um hiperónimo de acções («stocks»),
obrigações («bonds») e instrumentos derivados («derivatives»), à semelhança da definição
de «título»:
«An instrument representing ownership (stocks), a debt agreement (bonds) or the rights
to ownership (derivatives).»
Fonte: Investopedia4
«Termo utilizado para descrever uma ampla variedade de instrumentos de
investimento transaccionáveis, ou negociáveis, tais como acções, obrigações,
títulos de participação, warrants, unidades de participação em fundos de
investimento, instrumentos derivados (futuros, opções,…), etc.»
Fonte: IAPMEI 5
A pesquisa do lema «security» no corpus EN, porém, revelou-se frustrante: a
frequência de 10 ocorrências do termo não é comparável com as 406 ocorrências de
«título» em 100 000 palavras. Além disso, através da observação dos contextos, inferimos
que o perfil pragmático e sintáctico de «security» não é análogo ao de «título», que surge
4
Disponível em: <http://www.investopedia.com/terms/s/security.asp>. Acesso em: 26 jul. 2011.
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sobretudo em contextos descritivos da evolução das acções, associado a uma entidade,
sendo abundante a construção «títulos + de + nome» (Figura 1).
Fonte: Corpus EN.
Figura 1. Lista de concordâncias de «securities».
Perante a inadequação da primeira hipótese colocada, optámos por partir para a
pesquisa do termo «equity» no corpus EN. Com a frequência relativa de 180 ocorrências
em 100 000 palavras, este termo aproxima-se mais da frequência de «título» no corpus PT.
O objectivo foi comparar o perfil de «equity» com o de «título», na qualidade de
hiperónimo e sinónimo aproximado de «acção». Deste modo, se o termo «título» pode
descer um patamar hierárquico de hiperónimo para sinónimo aproximado de «acção»,
pretendemos verificar se o contrário também acontece, ou seja, se «equity», um sinónimo
de «stock» e «share», pode subir um patamar hierárquico, situando-se ao nível de
hiperónimo destes termos.
O termo «equity» co-ocorre com adjectivos que especificam zonas geográficas
que podem referir-se a uma determinada bolsa («London equities») ou à generalidade dos
títulos no mundo («global equities»), não sendo utilizado para veicular dados relativos ao
desempenho das acções de uma empresa específica. Tem, portanto, um carácter mais
abrangente, podendo servir para introduzir uma notícia. No corpus PT, «título» pode
desempenhar um papel análogo:
«London equities bounced back on Wednesday, with miners and banks in demand […].»
Fonte: Corpus EN
«O título mais movimentado esta segunda feira foi o do BCP, com 11,8 milhões
de acções transaccionadas, um terço da média habitual, seguido da EDP e Sonae,
com 4,5 e 2,3 milhões de papéis negociados, respectivamente.»
Fonte: Corpus PT
Pela análise dos verbos, apurámos que o termo «equity» apresenta um
comportamento sintáctico semelhante ao de «título», sendo que alguns verbos que
5
Disponível em: <http://www.iapmei.pt/acessivel/iapmei-gls-02.php?glsid=4&letra=V>. Acesso em: 26 jul. 2011.
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Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
selecciona, na posição de sujeito, denotam uma valorização («to advance»; «to rebound;
«to rise») ou desvalorização («to drop»; «to fall»; «to lose ground») das acções.
De forma semelhante, observámos que uma parte das unidades fraseológicas
recolhidas remete para o tipo de verbos observados, ou seja, para verbos que descrevem
tendências de ganhos e de perdas, por exemplo, «equity rally», «rebound in equities»,
«surge in equities», «drop in equities», «slide in equities». Além disso, algumas das
unidades fraseológicas localizadas no corpus EN podem ser consideradas equivalentes
das extraídas do corpus PT («escalada do título» / «surge in equities» e «rally in equities»;
«volatilidade do título» / «equity volatility»).
Em síntese, examinámos os adjectivos e os verbos que co-ocorrem com o termo
«título», na posição de sujeito e de COD, e recolhemos unidades fraseológicas. Apesar de
ser um hiperónimo de «acção», «título» pode, no contexto do segmento accionista, ser
usado como sinónimo desse termo. No corpus EN, a baixa frequência do termo «security»
e os contextos em que surge alertaram para a sua inadequação como equivalente de
«título». Deste modo, não nos limitámos à equivalência ao nível das «palavras isoladas»
(TOGNINI-BONELLI, MANCA, 2004, p. 295), prestando a devida atenção aos seus
contextos. Presumimos que um equivalente de «título» teria de ter um perfil semelhante
em texto, seleccionando, por exemplo, verbos que denotassem uma valorização ou
desvalorização das acções.
Numa abordagem bottom up, explorámos o comportamento de «equity», com
vista a entender-se poderíamos considerá lo como estando ao mesmo nível hierárquico
superior de «título». De facto, constatámos, mediante a análise dos micro e
macro-contextos, que «equity» pode subir um patamar hierárquico através, por exemplo,
da atribuição de uma posição cimeira num artigo ou de um adjectivo que remeta para um
conjunto, e não para aspectos específicos.
Finalmente, cumpre referir que as frequências de «título» e de «equity» são
demasiado díspares para serem ignoradas. Trata-se de um caso em que os profissionais
dos jornais de expressão inglesa são mais precisos, evitando termos mais abrangentes
quando podem utilizar termos exactos, sacrificando porventura a variedade lexical do
texto. Por sua vez, os jornalistas dos jornais de expressão portuguesa evitam as repetições,
à custa da exactidão terminológica, tratando de igual forma conceitos distintos.
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448 ocorrências
em
3.3. Índice e index
O
termo
«índice»
apresenta
uma
frequência
relativa
de
100 000 palavras, apresentando um comportamento semelhante ao de «acção» e «título»: a
nível sintáctico, pode ocorrer na posição de sujeito ou na posição de COD; no que diz
respeito aos verbos que gravitam à sua volta, são, sobretudo, verbos que dão conta de
tendências de subida («apreciar»; «expandir-se»; «valorizar») e descida («afundar»; «estar
em queda»; «negociar no vermelho»). Também as unidades fraseológicas identificadas
remetem para a valorização («subida do índice»; «valorização do índice») ou
desvalorização («descida do índice»; «queda do índice») dos índices e para processos que
podem ocorrer no seu seio, nomeadamente a saída («saída do índice») e entrada («entrada
no índice») de acções de novas empresas.
O corpus EN inclui 480 ocorrências em 100 000 palavras do lema «index»,
equiparável às 448 ocorrências de «índice» no corpus PT. Do ponto de vista sintáctico,
o perfil de «index» corresponde ao de «índice», assumindo um papel preponderante como
sujeito e co-ocorrendo com verbos que transmitem os movimentos de subida (por
exemplo, «to jump»; «to rally»; «to soar») e descida («to decline»; «to plunge»; «to slip
back») registados pelas acções que integram os índices. Na posição de COD, observámos a
co-ocorrência com verbos do campo semântico dos identificados nas ocorrências de
«index» em posição de sujeito, ou seja, verbos que dão conta de uma tendência ascendente
(«to help up»; «to push higher»; «to send to a high») e descendente («to drag down»; «to
send down»; «to weigh down»).
3.4. Bolsa, stock market, exchange e bourse
No corpus PT, o termo «bolsa» apresenta uma frequência relativa de 419 ocorrências em
100 000 palavras. Identificaram-se dois grandes tipos de verbos que descrevem as
tendências ascendentes («negociar em alta»; «somar ganhos»; «valorizar») e descendentes
(«encerrar em queda»; «negociar em terreno negativo»; «perder terreno») no desempenho
das bolsas. Recolhemos igualmente os verbos que descrevem uma acção praticada sobre
«bolsa» e categorizámo los como exercendo uma influência positiva («animar»;
«impulsionar»; «dar força a») ou negativa («deprimir»; «penalizar»; «tirar força a»). Por
fim, identificámos unidades fraseológicas compostas pelo núcleo terminológico («bolsa»)
e, predominantemente, por um núcleo eventivo de base verbal (abertura / abrir; fecho /
fechar; entrada / entrar).
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Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
Iniciámos o processo de estabelecimento de equivalências definindo «stock
market» como equivalente prima facie em inglês de «bolsa». A sua frequência relativa é de
29 ocorrências em 100 000 palavras, um número pouco relevante em comparação com as
419 ocorrências em 100 000 palavras no corpus PT, pelo que optámos por pesquisar outros
possíveis sinónimos: «bourse» e «exchange». No caso de «bourse», registámos uma
frequência relativa de 18 em 100 000 palavras e, no caso de «exchange», 52 ocorrências em
100 000 palavras. Também estas frequências não são equiparáveis à relevância concedida
ao termo «bolsa» no corpus PT. A análise mais atenta do corpus EN revelou dois aspectos:
em primeiro lugar, no corpus EN, à semelhança do que se verifica no corpus PT, é
possível fazer referência a uma determinada bolsa de valores através do nome da cidade
em que se situa, como demonstram os exemplos que se seguem:
«Em Londres, o FTSE aproxima-se do maior ganho […].».
Fonte: Corpus PT
«Cadbury’s shares fell 4p in London on Tuesday to 777p […].»
Fonte: Corpus EN
Além disso, as referências são mais concretas no corpus EN: no corpus PT,
fazem-se referências no corpo do artigo ao conceito mais abrangente de «bolsa» como
instituição e espaço e não ao respectivo índice, o instrumento concreto de medida; pelo
contrário, no corpus EN, menciona-se a bolsa, ou a respectiva cidade, no título do artigo,
especificando-se o índice no corpo do artigo. Passamos a concretizar:
[Título] «Acções da Cimpor sobem mais de 1% após tombo de ontem
[Corpo do artigo] «As acções da Cimpor estão em alta na bolsa de Lisboa […].»
Fonte: Corpus PT
[Título] «London’s mid cap stocks fall after PBR»
[Corpo do artigo] «The FTSE 100 fell back on Wednesday […].»
Fonte: Corpus EN
Mediante esta análise, esclarecemos a reduzida importância do conceito de
«bolsa» como instituição e espaço físico no corpus EN em comparação com o corpus PT.
Porém, através da observação dos contextos, verificámos que «stock market», «exchange»
e «bourse» apresentam, do ponto de vista fraseológico e sintáctico, comportamentos
semelhantes entre si e equiparáveis ao perfil de «bolsa» no corpus PT. Assim, na posição
de sujeito, os termos «exchange» e «stock market» inserem-se em estruturas sintácticas
semelhantes às observadas no caso de «share», co-ocorrendo com verbos que descrevem
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tendências ascendentes (to jump; to pick up; to rise) e descendentes (to be down; to fall; to
retreat).
Em síntese, analisámos o termo que designa a instituição e o espaço físico/virtual
em que são transaccionados bens entre os intervenientes. Verificámos que, no corpus PT, é
possível tomar-se o todo pela parte, fazendo-se referência à bolsa que emite um
determinado índice e não ao índice em si, porventura para evitar repetições.
À semelhança dos termos «título» e «security», deparámo-nos com a falta de
comparabilidade das frequências relativas de «bolsa» e «stock market». Para encontrar um
equivalente de «bolsa» no corpus EN, expandimos as possibilidades de equivalência a
outros termos, «exchange» e «bourse», e, graças aos contextos, verificámos que estes
termos seleccionam verbos equiparáveis aos seleccionados pelo termo «bolsa» no corpus
PT, descrevendo processos semelhantes.
3.5. Empresa e company
O
termo
«empresa»
apresenta
a
frequência
relativa
de
404
ocorrências
em 100 000 palavras. Destaca-se também o recurso directo ao nome da empresa,
precedida do determinante artigo definido, número singular, forma feminina (por
exemplo, «Às 9h55, a Teixeira Duarte subia 1,96% […].)», bem como a sinónimos ou
sinónimos aproximados, nomeadamente, «companhia» (83 ocorrências) e «sociedade» (43
ocorrências), com um comportamento semelhante do ponto de vista fraseológico e
sintáctico ao do termo «empresa». Finalmente, com vista a evitar a repetição, nos artigos
em português europeu, é possível omitir-se o termo «empresa» e recorrer-se ao adjectivo
que especifica o respectivo sector de actividade. Por exemplo, uma empresa com
actividade no sector dos seguros pode ser denominada apenas «a seguradora».
O termo «empresa» co-ocorre com verbos e estruturas sintácticas já observadas
com os termos «acção» e «título», por exemplo:
«A Semapa valoriza 1,51% para 7,52 euros […].»
«A Portucel aprecia 0,79% para 1,905 euros e a Altri avança 0,37% para 3,785
euros.»
Fonte: Corpus PT
Nestes casos, trata-se o tema do desempenho das acções da respectiva empresa
no mercado, sem se mencionar o termo «acção», «título» nem «papel». De facto, apurámos
que é possível referenciar-se a empresa em vez de se mencionar as suas acções, tomandose o todo pela parte, ou seja, o conceito de empresa pode desempenhar a função
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Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
semântica de «acção» ou «título», comportando-se como seu sinónimo. Além disso, a
análise dos verbos co-ocorrentes permitiu inferir das actividades e resultados de uma
empresa que influenciam a percepção do seu valor por parte dos investidores. Optámos
pela sua categorização em dois grupos abrangentes, «actividades» e «resultados», sendo
que o primeiro engloba os actos comuns da empresa como sociedade comercial
(cortar/suprimir empregos; distribuir/pagar dividendos) e o segundo abarca os actos
relacionados com o registo de lucros/prejuízos e a apresentação de resultados
(divulgar/apresentar resultados; registar prejuízos).
Em seguida, explorámos o equivalente directo em inglês de «empresa» no corpus
EN, o termo «company». Embora «company» seja um termo produtivo no corpus EN,
com uma frequência relativa de 481 ocorrências em 100 000 palavras , localizámos ainda
uma panóplia de sinónimos aproximados: «maker», «producer», «firm», «operator»,
«business» e «corporation». Tal como observado durante a análise das ocorrências de
«empresa» no corpus PT, também no corpus EN detectámos referências a uma
determinada empresa quando o contexto remete para as respectivas acções. Observem-se
os seguintes exemplos:
«Suez Environnement advanced 4.8 per cent to 16.25 […].»
«In the Netherlands, mail company TNT gained 1 per cent to 20.9.»
Fonte: Corpus EN
Da mesma forma, a partir da observação dos micro-contextos de «company»,
verificámos que, no corpus EN, este termo remete para o quotidiano de uma empresa e
para os seus actos como tal, e não somente para o valor e evolução das respectivas acções
em bolsa. Estabelecemos, deste modo, para o inglês, um paralelo com as «actividades»
(to cut jobs; to pay dividends) e os «resultados» (to report results; to report losses)
encontrados no corpus PT.
Resumindo, nesta secção, apresentámos os resultados das pesquisas efectuadas
para o termo «empresa», no corpus PT, e «company», no corpus EN. A frequência real
deste interveniente no segmento accionista é de difícil contabilização, dada a
possibilidade de contornar o termo «empresa»/«company» e sinónimos aproximados
através da utilização da designação específica da sociedade em questão. Observámos que
o termo apresenta perfis idênticos no corpus PT e no corpus EN: tanto pode tomar a
posição que o termo «acção» ocupa, descrevendo oscilações de cotação em bolsa, como
servir para veicular informações sobre as actividades e os resultados de uma empresa.
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4.
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CONCLUSÕES
No presente estudo, apresentámos o processo subjacente à criação da BD terminológica
bilingue do jornalismo especializado na área do segmento accionista recorrendo à
Terminologia como uma disciplina auxiliar à actividade tradutória e à metodologia
empírica da Linguística de Corpus. Definimos por objectivos a identificação de termos e
informações fraseológicas, a criação de sistemas conceptuais e a elaboração de definições
no sentido de organizar os dados recolhidos numa BD terminológica bilingue, em inglês e
português europeu. Apresentámos também a metodologia subjacente à construção do
corpus bilingue desde a delimitação do domínio e dos subdomínios à sua construção.
Seguidamente, procedemos à pré selecção de dados no corpus PT e no corpus EN
e, dada a impossibilidade de expor a recolha, a validação e o processamento de dados
relativo a todos os termos da BD, seleccionámos os cinco termos mais frequentes no
corpus PT e discutimos o respectivo processo terminológico bilingue. Confirmámos,
empiricamente, com base no corpus PT e no corpus EN, que a linguagem especializada
em estudo se caracteriza pela consistência a nível terminológico e sintáctico. Assim,
concluímos que a abordagem sistemática desta linguagem especializada permitirá, a um
público não especializado, apropriar-se da sua terminologia, fraseologias e construções
sintácticas mais relevantes, contribuindo para a redacção de textos naturais nesta.
O processo de trabalho subjacente à descrição terminológica e fraseológica da
linguagem especializada do jornalismo do segmento accionista foi moroso, em parte
devido à construção de raiz do corpus bilingue. Decerto, para o tradutor, muitas vezes
confrontado com prazos limitados, o recurso a uma metodologia semelhante à
apresentada não será viável. No entanto, parece aconselhável considerar este tipo de
abordagem se, pelo contrário, o objectivo for a especialização numa determinada área, até
porque, no mercado actual português, não há oferta de formação especializada
aprofundada em todos os domínios do saber, nem em domínios muito específicos. Além
disso, a formação existente tende a basear-se na noção clássica de termo como nome e a
ignorar aspectos fraseológicos (por exemplo, os verbos de especialidade).
Deste modo, esperamos ter contribuído para a evolução dos Estudos de Tradução
através da divulgação de uma metodologia de trabalho útil ao processo prático da
tradução. Um aspecto essencial da formação actual do tradutor é a terminologia e os
métodos de trabalho terminológico, assim como o domínio de ferramentas informáticas
que podem ser colocadas ao serviço da tradução. De facto, na nossa opinião, o
alargamento da panóplia de abordagens metodológicas é imperativo no quadro da
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Da informação ao conhecimento: estudo terminológico baseado em corpora na área do segmento accionista
afirmação dos Estudos de Tradução como disciplina independente da Linguística, dos
Estudos Culturais ou Literários.
O recurso a corpora permitiu a recolha de informação de carácter terminológico,
fraseológico e conceptual. De facto, o texto foi a âncora da investigação, contribuindo para
a autenticidade deste estudo descritivo. Além disso, explorámos e aplicámos a
metodologia da Terminologia à elaboração de uma bases de dados bilingue, tendo
concluído que esta disciplina é importante para a descrição da comunicação especializada,
em geral, e para a tradução especializada, em concreto. Os recursos terminológicos
promovem, por um lado, a língua como forma de transmissão de conhecimento
especializado e, por outro lado, as próprias áreas técnico científicas, na medida em que a
sistematização e a divulgação dos seus léxicos contribuem para a reflexão sobre o
conhecimento e, por conseguinte, para a maturação do mesmo.
Cumpre realçar, igualmente, que o presente projecto apresenta certas limitações
pelo facto de não ter sido realizado em equipa. De facto, em geral, os projectos
terminológicos são multidisciplinares, envolvendo terminólogos, especialistas da área e
profissionais da informática, sobretudo para a gestão de sistemas informáticos complexos.
Pensamos que será proveitoso colaborar com um terminológo de língua inglesa e com
especialistas responsáveis pela validação terminológica nas duas línguas. De facto, uma
das sugestões para investigação futura prende-se com a expansão do CSA, ao nível
linguístico e da tipologia textual, através da sua alimentação com textos de outras línguas,
contemplando, nomeadamente, a variante do português do Brasil e com textos de outros
níveis de especialização e resultantes de outras situações de comunicação. Além disso,
propomos o estudo mais aprofundado dos verbos especializados do segmento accionista
à semelhança do trabalho de Almeida (ALMEIDA, 2008) para a terminologia jurídico
parlamentar, bem como a exploração dos estrangeirismos.
Durante a construção e a análise do CSA, apercebemo-nos do recurso a uma
linguagem metafórica e da presença de recursos estilísticos criativos, sobretudo no título
da notícia, mas também ao longo do corpo do artigo. Por exemplo, no corpus EN, numa
notícia relativa à oferta pública de aquisição lançada sobre a Cimpor, recorre-se ao verbo
«to cement» para referir o aumento de ganhos em bolsa: «Cimpor bid helps bourses
cement gains». Outro exemplo semelhante do corpus EN é «European telecoms ring the
changes»; no corpus PT, observámos fenómenos comparáveis: «[EDP] Renováveis tira
energia à bolsa»; «Banca tira crédito à bolsa». Deste modo, num âmbito distinto do da
Terminologia, consideramos interessante a exploração das figuras de estilo no CSA.
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REFERÊNCIAS
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RANCHHOD, Elisabete Marques; CARVALHO Paula. Expressões Multipalavra - Questões
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Inês Rodrigues Pedro
Doutora em Línguas e Literaturas Modernas Estudos Ingleses e Alemães, com especialização
em Tradução, pela Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas da Universidade Nova de Lisboa e pósgraduada em Ciência Política e Relações
Internacionais - Estudos Europeus - pela mesma
instituição. É mestre em Tradução Jurídica e
Empresarial pelo Instituto Superior de Línguas e
Administração Campus Lisboa. É tradutora desde
2006. A sua formação inclui estágios no âmbito do
Programa Leonardo Da Vinci e no Banco Central
Europeu.
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