DEFINIÇÃO DE UM COEFICIENTE DE EFICÁCIA PARA ESTUDO DE TENSAO SUPERFICIAL COM SURFATANTES SILICONADOS E NÃO SILICONADOS MONTÓRIO, G. A.1; VELINI2, E.D.; MONTÓRIO3, T. RESUMO: o presente trabalho teve como objetivo definir um coeficiente de eficácia para estudo de tensão superficial em gotas de solução elaboradas com diferentes concentrações de surfatantes. Para analisar a tensão fez-se pesagens das gotas formadas na extremidade de uma bureta, com os seguintes tratamentos combinados de forma fatorial (5x12) 5 surfatantes (Break Thru, Haiten, Herbitensil, Silwet L-77 e Will Fix) e 12 concentrações (0; 0,001; 0,0025; 0,005; 0,01; 0,025; 0,05; 0,1; 0,25; 0,5%; 1 e 2%) num total de 60 tratamentos. A analise estatística dos dados foi realizada com auxilio do programa SAS (Statistical Analysis System) e para analise de regressão, adotou-se o modelo de Mitscherlich ajustado e modificado para os dados obtidos. Observou-se que os organosiliconados Break Thru e Silwet reduziram significativamente a tensão superficial (19,87 e 19,08 mN/m) e apresentaram os mais elevados coeficientes de eficácia (169,81 e 143,43). Will Fix apesar de ter apresentado baixo coeficiente de eficácia (1,52), reduziu significativamente a tensão superficial (24,71 mN/m) porem numa concentração elevada próxima a 2%. O surfatante Herbitensil apresentou o coeficiente de eficácia igual a 21,38 e tensão superficial de 63,74 mN/m. Já o surfatante Haiten apresentou valores correspondentes de 21,38 e 27,94 mN/m; respectivamente evidenciando dessa forma ser inferior em relação ao espalhante adesionante Herbitensil. PALAVRAS-CHAVE: surfatante, tensão superficial, coeficiente de eficácia. ABSTRACT: the present work had as objective to define a coefficient of effectiveness for study of surface tension in solution drops elaborated with different surfactants concentrations. To analyze the tension he/she made himself weighty of the drops formed in the extremity of a burette, with the following combined treatments of form factorial (5x12) 5 surfactants (Break Thru, Haiten, Herbitensil, Silwet L-77 and Will Fix) 1 Prof. Dr. Plantas Daninhas / Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista – ESAPP, CEP 19 700-000 e.mail. [email protected] 2 Prof. Dr. Faculdade de Ciências Agrárias / UNESP – Botucatu-SP, CEP 18603-970 3 Aluno de Graduação do curso de Agronomia da ESAPP, Paraguaçu Paulista-SP CEP 19 700-000 Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — 25 and 12 concentrations (0; 0,001; 0,0025; 0,005; 0,01; 0,025; 0,05; 0,1; 0,25; 0,5%; 1 and 2%) in a total of 60 treatments. Analyze it statistics of the data it was accomplished with I aid of the SAS program (Statistical Analysis System) and for it analyzes of regression, the model of adjusted Mitscherlich was adopted and modified for the obtained data. It was observed that the organosilicon Break Thru and Silwet reduced the surface tension significantly (19,87 and 19,08 mN/m) and they presented the highest coefficients of effectiveness (169,81 and 143,43). Will Fix in spite of having presented low coefficient of effectiveness (1,52), it reduced the surface tension significantly (24,71 mN/m) they put in a close high concentration at 2%. The surfactant Herbitensil presented the coefficient of effectiveness the same to 21,38 and surface tension of 63,74 mN/m. Already the surfactant Haiten presented values corresponding of 21,38 and 27,94 mN/m; respectively evidencing in that way to be inferior in relation to the Herbitensil. KEY WORDS: surfactants, surface tension, and efficacy coefficients. INTRODUÇÃO 26 A água é um dissolvente universal para moléculas polarizadas e o veículo mais importante para diluir formulações de defensivos agrícolas aplicados através de pulverizações. Entretanto ela apresenta baixa capacidade de retenção quando aplicada sobre alvos com superfície cerosas e hidrofóbicas (STEVENS et al., 1993). Herbicidas aplicados na superfície foliar devem penetrar a cutícula e o plasmalema antes de atingir o citoplasma e ser posteriormente carreado para seu sítio de ação JUNIPER & JEFREE (1983) e HOLOWAY (1993). A natureza hidrofóbica da cutícula age como barreira entre a folha e o ambiente, prevenindo a perda excessiva de água pela transpiração celular e protegendo a célula contra estresse biótico e abiótico. Variação na composição química, características morfológicas e estruturais da cera epicuticular entre espécies de plantas daninhas, associado às condições ambientais, são fatores determinantes da seletividade e eficácia de alguns herbicidas de translocação simplástica (BACHER & CHAMEL, 1990; NEWSOM et al., 1993). Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — O controle eficiente de plantas daninhas por herbicidas aplicados na folhagem é dependente de sua translocação nas plantas. A velocidade de absorção e translocação é determinada por inúmeros fatores. Em alguns casos, o período com chuva após a aplicação do herbicida pós-emergente pode comprometer a eficácia do produto. Também a eficiência de herbicidas pós-emergentes pode ser influenciada por diversos fatores: espécies e tamanho de plantas daninhas, condições ambientais, momento da aplicação, taxa de aplicação, interação com outros herbicidas e uso de adjuvantes (BRIDGES, 1989; YORK et al., 1990). Adjuvantes são então acrescentados a calda de pulverização com o objetivo de melhorar a eficiência das pulverizações foliares de herbicidas sistêmicos, reduzir o impacto das interferências ambientais e permitir maior penetração cuticular devido a propriedade de alguns deles alterar a permeabilidade das membranas (STOUGAARD, 1997), facilitar o molhamento em superfícies hidrorepelentes e facilitar o contato da calda com a cutícula em superfície pilosas que tendem a manter as gotas suspensas (KISSMANN, 1996). Tipicamente, surfatantes reduzem a tensão superficial do líquido de pulverização, diminuindo a ângulo de contato (que depende da cerosidade da superfície e tensão superficial do líquido) das gotas isoladas sobre a superfície foliar, fazendo com que elas deixem de ser esféricas (SING & MACK, 1993; McWORTHER & OUZTS, 1994). O acréscimo de surfatantes nas caldas aquosas de pulverização contribui para a formação de filmes líquidos sobre as superfícies foliares graças ao processo de coalescência das gotas. Diante do exposta, já faz parte das recomendações de herbicidas quando aplicada na modalidade pós-emergência, acrescentar surfatantes à calda de pulverização para usufruir os benefícios citados anteriormente, corroborando para a maior eficiência do produto. O maior agravante é a falta de metodologia que permite avaliar qual o nível de eficiência para cada surfatante. Observa-se poucos métodos experimentais utilizados em laboratório para se estimar as mínimas tensões superficiais de gotas de pulverização desses surfatantes (MENDONÇA, 1999). Da mesma forma são escassos os estudos sobre surfatantes disponíveis no Brasil, principalmente quando utilizados isoladamente, ou seja, sem misturas com herbicidas. Nesse aspecto, devem ser ressaltadas as pesquisas de MATUO et al. 27 Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — (1989), DURIGAN (1993), VELINI et al. (1995), MENDONÇA et al. (1999) e COSTA (1997) e VELINI et al. (2000). Esse trabalho teve como objetivo, identificar um coeficiente de eficácia para avaliar a tensão superficial em surfatantes de uso agrícola. MATERIAL E MÉTODOS As avaliações da tensão superficial foram realizadas no Laboratório de Nutrição da Escola Superior de Agronomia de Paraguaçu Paulista – ESAPP, em Paraguaçu Paulista-SP. Os tratamentos foram constituídos de 5 produtos surfatantes comercializados no mercado brasileiro e nas seguintes concentrações: 2%; 1%; 0,5%; 0,25%; 0,1%; 0,05%; 0,025%; 0,01%; 0,005%; 0,0025%; 0,001 e 0% (água destilada). QUADRO 1 - Caracterização dos surfatantes utilizados no ensaio, Paraguaçu Paulista / SP, 2000 28 Utilizou-se uma balança de precisão em gramas com quatro casas decimais, óleo de soja, copos de Becker, balões volumétricos (100 mL e 50 mL) e bureta de 50mL. A escolha das concentrações dos espalhantes foi feita a partir de recomendações dos fabricantes e dos resultados obtidos por VELINI et al. (1993). Posteriormente estimou-se à tensão superficial dos tratamentos quantificando-se o peso das gotas formadas na extremidade da bureta Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — em balança de precisão em gramas com quatro casas decimais, num tempo médio aproximado de 30 segundos. Inicialmente utilizou-se uma bureta calibrada com peso da água destilada. Para evitar perdas por evaporação usou-se uma camada de óleo em um Becker de 25 mL colocados sobre a balança. Foram utilizadas 15 repetições. O capilar responsável pela formação da tensão superficial das gotas foi constituído pela extremidade da bureta, a qual para todos os tratamentos encontrava-se a uma altura de 5 cm acima da superfície do óleo, padronizando assim a interferência no caminhamento das gotas para todos os tratamentos durante o percurso de queda. A calibração da bureta sempre foi acompanhada do tempo total de formação até a queda da gota na ponta da mesma, com auxílio de um cronômetro. Alem disso, à regulagem através de abertura e fechamento da torneira da bureta foram acompanhadas da altura da coluna de líquido, a qual foi mantida em 50 mL na escala de graduação. Os dados de peso das gotas foram convertidos para tensão superficial, considerando uma média do peso de gotas da água destilada como 0,0762 N/m (Newtons/metros), conforme metodologia desenvolvida por COSTA et al. (1997) e MENDONÇA et al.(1999). A análise estatística dos dados foi realizada com auxílio do programa SAS e para análise de regressão dos mesmos, adotou-se o modelo representado pela equação de Mitscherlich. Para que o modelo de Mitscherlich se ajustasse aos dados obtidos, houve a necessidade de modifica-lo. Os modelos empregados encontram-se representados na FIGURA 1. Tensão superficial (N/m) 0,08 A = 0.0726 - a 0,07 0,06 0,05 0,04 a= Tensão superficial mínima Dados originais Dados modificados (Y = 0.0726 - Tensão) 0,03 Dados hipotéticos (Y = 0.0726 - Tensão) 0,02 0,01 B 0 -0,01 -1,5 -1 -0,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 Concentrações do espalhante (%) FIGURA 1: Caracterização do modelo utilizado nas analises de regressão. Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — 29 Modelo original: Y = A. [1-10-C. (X + B ) ]; Modelo utilizado: Y = Tágua – A. [1-10-C.(X + B)]; Onde: Y = Tensão superficial, em mN/m; A = Assíntota horizontal máxima alcançada no modelo original; C = concavidade da curva; B = Ponto de interceptação do eixo das abscissas; T água = 72,6 mN/m; X = Concentração do surfatante em porcentagem; T água – A = Assíntota horizontal mínima alcançada no modelo utilizado. RESULTADOS E DISCUSSÃO Todos os parâmetros dessa equação têm seu significado prático; a expressão “Tágua - A” corresponde a mínima tensão que pode ser obtida com a utilização dos surfatantes em análise. O parâmetro “C” representa o nível de eficiência do surfatante e o parâmetro “B” é utilizado quando se trabalha com herbicidas; o mesmo indica quanto do espalhante adesivo tem que ser colocado para que se obtenha a mesma redução da tensão, condicionado pela adição do herbicida na concentração considerada. Neste estudo como não se utilizou misturas com herbicidas, estabeleceu-se como “zero” o valor deste parâmetro. Da mesma forma, a variável “X” correspondeu a concentração de cada surfatante utilizado nesse estudo e “Y” correspondeu a tensão superficial estimada, expressa em mili Newton/metro (mN/m). O trabalho apresentou resultados significativos e de boa qualidade com valores médios para o coeficiente de determinação (R2) próximos a 0,99. Todos os valores de “F” foram significativos ao nível de 1% de probabilidade. Também são apresentados os coeficientes de eficácia (C) e as tensões mínimas superficiais (mN/m) alcançadas para cada surfatante estudado (QUADRO 2). 30 Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — QUADRO 2. Resultados das análises de variância e regressão entre as tensões superficiais e as concentrações dos surfatantes (%), utilizando o modelo de Mitscherlich modificado. FCA/UNESP. Botucatu-SP, 2000. ** Significativo a 1% de probabilidade. Observa-se que os surfatantes organo-siliconados Break Thru e Silwet L-77 apresentaram coeficientes de eficáciaz iguais a 169,81 e 142,43, respectivamente. Quanto à tensão mínima alcançada, tais espalhantes adesionantes apresentaram reduções de 19,87 e 19,08 mN/m (mili Newton / metro). Os produtos não organo-siliconados Herbitensil, Haiten e Will Fix apresentaram os seguintes coeficientes de eficácia: 63,74; 21,38 e 1,51; e as tensões mínimas correspondentes de: 29,66; 27,94 e 1,51 mN/m; respectivamente. Como se observa, Will Fix, a exceção dos surfatantes organo-siliconados, foi quem apresentou a melhor redução da tensão superficial, indicando ser um bom espalhante em relação a esse aspecto. Entretanto quando se avalia seu coeficiente de eficácia, verifica-se que seu valor é o mais baixo, certamente porque as referidas reduções de tensão só foram atingidas a altas concentrações (2%). Logo, seu custo beneficio desse ser levado em consideração. Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — 31 32 Quando se observa os demais produtos não organosiliconados, verifica-se que o surfatante Herbitensil foi o melhor destensionador da água, sendo superior ao Haiten e Wil Fix. Esse comportamento certamente ocorreu porque tal produto apresenta a maior concentração de ingrediente ativo por unidade de litro, quando comparado com os anteriores não siliconados e, portanto tende a apresentar maior potencial para redução da tensão superficial. COSTA (1997) e MENDONÇA et al. (1999) quando trabalharam com o surfatante Silwet L-77 encontraram a mínima tensão superficial próxima a 19,00 mN/m, de acordo com o resultado obtido nesse estudo. STEVENS & KIMBERLEY (1993) quando estudaram a adesão de gotas de pulverização e a dinâmica da tensão superficial comparando surfatante siliconados com os surfatantes convencionais, observaram que todos os organo-siliconados testados apresentaram tensão de equilíbrio com valores próximos a 20 mN/m a 0,05% enquanto os espalhantes convencionais mostraram níveis de equilíbrio próximos a 30,3 mN/m; com concentrações bem maiores que a verificada nos siliconados. Da mesma forma, BUICK et al. (1993) estudando os níveis de tensão superficial em gotas de pulverização com Silwet L-77, encontraram tensão superficial de equilíbrio variando de 19,5 a 22,9 mN/m em concentrações próximas a 0,05%. Ainda com relação aos organosiliconados, SINGH (1993) observou o seguinte: os surfatantes organo-siliconados estudados apresentaram concentração micelar mínima de 22,5 mN/m em concentração que variavam de 0,1 a 0,125%. Quando estudou espalhantes convencionais pertencentes ao grupo do alquilfenol etoxilado, verificou tensão de equilíbrio próxima a 31,00 mN/m em concentrações nos mesmos níveis aos observados pelos siliconados. STEVENS et al. (1993) em pesquisa dessa mesma natureza, encontrou níveis de tensão para os siliconados com valores próximos a 24 mN/m na concentração de 0,05% e valores maiores para os adjuvantes convencionais nas concentrações variando de 0,2 a 0,3%. Considerando as informações aqui apresentadas, o surfatante ideal é aquele que apresenta elevado coeficiente de eficácia associado a baixas tensões mínimas. Os surfatantes organo-siliconados Scientia Agraria Paranaensis - Vol. 3 - N.º 1 - 2004 — www.unioeste.br/saber — combinam estas características ideais. Já para os não organosiliconados as melhores performances foram observadas em ordem decrescente de eficácia para os seguintes produtos: Herbitensil (63,74), Haiten (21,38) e Wil Fix (1,51). CONCLUSÕES Os surfatantes organo-siliconados Silwet L-77 e Break-Thru foram os mais eficientes, dentre os testados para redução da tensão superficial; O surfatante não organo-siliconado Herbitensil foi mais eficiente que os produtos Haiten e Wil Fix em reduzir a tensão superficial; O método laboratorial utilizado apresentou praticabilidade, eficiência e precisão para determinação da tensão superficial de surfatantes em meio aquoso. REFERÊNCIAS BACKER, E.A.; CHAMEL, A.R. Herbicide penetration across isolated and intact leaf cuticles. Pesticide Science, v. 29, p.187-96, 1990. BRIDGES, D.C. Adjuvant and pH effects on sethoxydim and cletodim activity on rhizome johngrass (Sorghum halepense). Weed Technology, v.3, p.615-20, 1989. BUICK, R.D. et al. The role of surface tension of spreading droplets in absorption of a herbicide formulation via leaf stomata. Pesticide Science, v. 38, p.227-35, 1993. COSTA, E.A.D. Efeitos de surfatantes sobre tensão superficial de soluções de rodeio. 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