2. Equipamentos Neste capítulo pretende-se fornecer uma breve introdução aos módulos existentes nos equipamentos a que recorremos para o estudo do corpo humano. Embora, obviamente se esteja particularmente interessado nos dispositivos de imagem, chama-se a atenção para o facto de a informação contida neste capítulo ser muito mais abrangente e poder ser aplicada a qualquer equipamento e/ou sistema. 2.1 Sistemas de medida e de controlo É possível reduzir qualquer sistema de medida a um pequeno conjunto de operações que poderão ser mais ou menos complexas. Desta forma, sempre que se pretender aceder à medida de uma grandeza, quer directamente através dos nossos sentidos, quer utilizando equipamentos adequados, podemos distinguir cinco passos (ver Figura 1): No primeiro, com o recurso a um sensor apropriado, transforma-se a grandeza a que se pretende aceder num sinal analisável (tipicamente um sinal eléctrico). No segundo passo, esse sinal é amplificado, uma vez que, em particular nos fenómenos biológicos, a ordem de grandeza do sinal medido é, em geral, tão baixa que se torna difícil de processar. Em seguida, ou se observa directamente o sinal ou se processa o sinal e posteriormente se o observa. Por fim, o sinal poderá ser guardado de modo a poder ser novamente analisado ou posteriores processamentos. Medição do parâmetro a observar Amplificação Visualização Armazenamento Processamento do sinal Figura 1 - Esquema dos blocos existentes num sistema de medição. Para ilustrar a aplicação deste esquema a duas situações considere-se: 1) a percepção de uma imagem através dos nossos olhos e 2) a medição dos ultra-sons emitidos pelos morcegos. No primeiro caso os fotões de luz que formam a imagem que os nossos olhos vêm são registados pelos sensores (cones e bastonetes) existentes na retina, especializados em transformar luz em sinais eléctricos. Esses sinais são transferidos e processados pelos neurónios, formando-se uma imagem que é reconhecida pelo cérebro e que é o resultado da actividade de determinados neurónios. Por fim, essa imagem poderá ser colocada na memória através de mecanismos ainda não totalmente conhecidos. No caso de estarmos interessados no registo dos ultra-sons emitidos pelos morcegos, é necessário utilizar um sensor adequado, que nesse caso, poderá ser um cristal piezo-eléctrico que transforma os ultra-sons em sinais eléctricos. Estes sinais são amplificados e podem ser visualizados num osciloscópio. Geralmente, antes de serem observados, estes sinais sofrem um processo de filtragem (processamento) com o objectivo de os libertar de ruído (frequências indesejadas). Finalmente, o sinal poderá ser gravado no disco rígido de um computador, num CD ou qualquer outro suporte. 21 Associados aos sistemas de medida estão, muitas vezes, mecanismos de controlo. Neste caso os circuitos apresentam uma maior complexidade, uma vez que existe um parâmetro que é controlado com base no valor medido11. Na Figura 2 encontra-se um esquema geral dos sistemas de controlo: Existe um parâmetro que é monitorizado e um valor de referência que pode ou não ser também ele medido. Ambos são transmitidos a um dispositivo de comparação que actua sobre o parâmetro que se pretende controlar através de diferentes acções. Retome-se o primeiro exemplo. Como se sabe, o sistema nervoso tem capacidade para avaliar a quantidade de luz que está a chegar à retina e decidir qual a abertura adequada da pupila. Neste exemplo a referência é um patamar previamente estabelecido e o parâmetro controlado é diferente daquele que é medido. Imagine-se uma outra situação em que se pretende manter uma sala a uma dada temperatura que depende da humidade relativa da mesma. Neste caso, é medida a temperatura da sala (que coincide com o parâmetro a controlar) e simultaneamente a sua humidade relativa, estabelece-se a referência desejada e decide-se se os dispositivos de aquecimento ou arrefecimento devem ou não ser ligados. Valor de referência Factor do qual o parâmetro a medir depende Alteração de um outro parâmetro Medição do parâmetro Comparação Alteração do parâmetro a medir Figura 2 - Esquema dos blocos existentes num sistema de controlo. 2.2 O uso de computadores nos equipamentos de imagem médica Mesmo qualquer leigo no assunto compreende que o advento do computador veio revolucionar os equipamentos habitualmente utilizados pelo homem e, no caso, que importa aqui estudar, os equipamentos médicos e os aplicados à imagem, em particular. Num primeiro momento, parece importante salvaguardar o seguinte: em determinadas situações, o computador pode não trazer vantagens, por exemplo, ao nível da resolução da imagem, o que não significa que não possa ser mais prático, mais simples de manusear, possuir, enfim, outras vantagens que os equipamentos analógicos não possuem. No entanto, é importante realçar que, em situações específicas poderá ser um erro admitir à priori que a imagem digital é necessariamente melhor do que a analógica. 11 O parâmetro a controlar tanto pode ser aquele que é directamente medido, como outro que lhe esteja associado. 22 Seja como for, e tendo em conta que, actualmente, a maioria dos equipamentos hospitalares tendem a ser construídos numa base digital, cumpre referir alguns aspectos relacionados com este assunto. Quando as imagens médicas (e em particular as que utilizavam raios-X) eram impressas em película fotográfica a resolução da imagem12, por exemplo, era determinada pelo grão característico do filme. Actualmente, o que determina essa resolução são as características do conversor analógico-digital (CAD) utilizado, cujos níveis de amplitude determinam o número de tons de cinzento ou o número de cores que é possível discernir (não contando, obviamente, em qualquer dos casos, com as limitações inerentes à capacidade visual humana de distinguir tons ou cores próximas, com a resolução do monitor onde as imagens são observadas e com os limites associados aos princípios físicos da imagem). Uma outra característica dos equipamentos digitais é a sua taxa de aquisição. Para além de uma quantização em amplitude (imposta pelo CAD), o sinal é também quantizado em tempo, de modo que uma imagem não é mais do que uma série de sinais correspondentes a cada um dos pontos, ou conjunto de pontos, sendo que quanto menor for o tempo de recolha, mais rápida será a aquisição. Esta taxa de aquisição está, uma vez mais, relacionada tanto com o princípio subjacente à imagem, como com a rapidez com que o equipamento electrónico consegue recolher e guardar informação. Repare-se que, tendo em conta o que foi escrito, a resolução do sinal, para além das limitações técnicas, deve ser escolhida atendendo a um compromisso entre esta, o tempo de aquisição e a memória ocupada pelos dados. De facto, algumas imagens requerem resoluções muito elevadas, mas outras, onde os objectivos não sejam tão exigentes, podem ser recolhidas com uma pior resolução de modo a poupar tempo e recursos computacionais (tanto de memória, como de pós-processamento). Na verdade, uma das grandes vantagens das imagens digitais (para além do seu mais fácil, cómodo e ecológico armazenamento) é permitirem que esta seja manipulada após a sua aquisição. Atente-se no facto de, com o recurso a imagens digitais, é possível, mesmo depois do paciente já ter abandonado as instalações hospitalares, exercer sobre a imagem as mais diversas operações, como sejam: a aplicação de filtros que permitem melhorar o contraste, a reformulação da resolução (podendo, obviamente, apenas piorá-la…), quantificação do sinal, escolha de regiões de interesse para estudos mais aprofundados, cálculo do volume de estruturas ou massas, no caso de imagens tri-dimensionais, e muitas outras operações que o engenho e as necessidades poderão sugerir. Além disso, repare-se ainda que, mesmo a escolha dos parâmetros que caracterizam determinada imagem, é feita, na maior parte das circunstâncias, ao nível da logística13, sendo cada vez mais inusual recorrer a peças mecânicas para proceder a essa escolha. 12 O conceito de resolução de imagem será formalizado mais tarde no decorrer deste texto, mas neste momento basta que se entenda que está relacionada com a capacidade de distinguir dois objectos (tecidos ou órgãos) próximos um do outro. 13 A logística é a parte a que usualmente se chama software. 23