formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 1 INTERGERACIONALIDADE, REDES DE APOIO E PRESTAÇÃO DE CUIDADOS AO IDOSO DO SÉC. XXI A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO FICHA TÉCNICA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 2 FICHA TÉCNICA INTERGERACIONALIDADE, REDES DE APOIO E PRESTAÇÃO DE CUIDADOS AO IDOSO DO SÉC. XXI ENTIDADE PROMOTORA Santa Casa da Misericórdia de Mértola EQUIPA TÉCNICA Santa Casa da Misericórdia de Mértola IFH - Instituto de Formação para o Desenvolvimento Humano APOIO TÉCNICO DOCUMENTAL Associação Indiveri Colucci / Clínica Médica da Linha / / Casa de Repouso de Paço d’Arcos Paradoxo Humano AUTORIA Cristina Coelho GESTÃO E COORDENAÇÃO Emília Colaço (Santa Casa da Misericórdia de Mértola) José Silva e Sousa e Cláudia Miguel (IFH) CONSULTORES Cristina Coelho Marta Simões Ana Assunção DESIGN, PRODUÇÃO GRÁFICA, PAGINAÇÃO E REVISÃO IFH / PSSdesigners PRODUÇÃO VÍDEO IFH - Instituto de Formação para o Desenvolvimento Humano EDIÇÃO IFH - Instituto de Formação para o Desenvolvimento Humano MANUAIS TÉCNICOS “A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO” CONCEPÇÃO Marta Simões REVISÃO E SUPERVISÃO DE CONTEÚDOS Cristina Coelho Santa Casa da Misericórdia de Mértola IFH - Instituto de Formação para o Desenvolvimento Humano DESIGN, PRODUÇÃO GRÁFICA, PAGINAÇÃO E REVISÃO IFH / PSSdesigners Produção apoiada pelo Programa Operacional de Emprego, Formação e Desenvolvimento Social (POEFDS) Medida: 4.2. Desenvolvimento e Modernização das Estruturas e Serviços de Apoio ao Emprego. Tipologia do Projecto: 4.2.2. Desenvolvimento de Estudos e Recursos Didácticos. Acção Tipo:4.2.2.2. Recursos Didácticos. Co-financiado pelo Estado Português e pela União Europeia através do Fundo Social Europeu 2 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 3 PREFÁCIO Nos países tidos como mais desenvolvidos assistimos, presentemente, a um fenómeno curioso: o envelhecimento da população idosa. Como consequência, o sector da prestação de cuidados a idosos sofreu um incremento de actividade, multiplicando-se os serviços disponibilizados e diversificando-se o tipo de oferta dos mesmos. A nível nacional é importante apostar no desenvolvimento de redes sociais de apoio, eficazes e eficientes, em contexto institucional e a nível familiar. Para que tal se verifique, é através da formação qualificada que se poderão dotar os seus intervenientes, profissionais ou cuidadores, das competências necessárias para lidar com as problemáticas inerentes ao aumento da esperança média de vida e à crescente dependência dos nossos idosos, potenciando e facilitando o envolvimento dos familiares na tarefa. Neste sentido, e tendo já uma vasta experiência neste ramo de actividade, não só em termos formativos como também na intervenção diária em estruturas de prestação de cuidados, a Santa Casa da Misericórdia de Mértola propôs-se desenvolver o projecto “INTERGERACIONALIDADE, REDES DE APOIO E PRESTAÇÃO DE CUIDADOS AO IDOSO DO SÉC. XXI”, constituído por manuais técnicos do formador e do formando e vídeos sobre a mesma temática a utilizar de forma integrada. Temas: • A alimentação do idoso • Cuidar do idoso com demência • Animação intergeracional • Construção de uma rede de cuidados: Intervenção com a família e o meio social do idoso Pretende-se, como tal, colmatar, as dificuldades que os cuidadores, profissionais de saúde ou familiares, sentem diariamente, potenciando, em última consequência, o atraso da institucionalização dos idosos e contribuindo para o aumento da sua qualidade de vida. 3 7/23/07 2:20 PM Page 4 ÍNDICE formando_alimentacao.qxp ÍNDICE INTRODUÇÃO 1. NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Objectivos gerais Grupos alimentares e seus constituintes Alimentação e nutrição Necessidades alimentares do idoso Necessidade de hidratação do idoso Síntese Actividades propostas Actividades de avaliação 2. MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO Objectivos gerais Factores que afectam o consumo de nutrientes nos idosos Má nutrição A Má nutrição: sintomas e sinais de alerta Consequências da má nutrição Avaliação do estado nutricional Síntese Actividades propostas Actividades de avaliação 3. ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA Objectivos gerais Alimentação entérica: definição, vantagens e vias de administração Procedimento de colocação da sonda nasogástrica e administração da alimentação entérica Tipos de alimentos utilizados na alimentação entérica Síntese Actividades propostas Actividades de avaliação 4. A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E DIETAS ADEQUADAS Objectivos gerais Aspectos psicossociais da alimentação do idoso As dietas adequadas: elaboração de ementas Síntese Actividades propostas Actividades de avaliação 5. ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO Objectivos gerais Cuidados nutricionais em função da doença Distúrbios alimentares mais frequentes nos idosos Síntese Actividades propostas Actividades de avaliação 4 PÁG. 5 PÁG. 7 PÁG. 17 6. A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES Objectivos gerais Cuidados na aquisição de alimentos, no seu armazenamento e conservação Técnicas de confecção Receitas Culinárias Higiene e segurança alimentar Síntese Actividades propostas Actividades de avaliação 7. PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO Objectivos gerais Cuidados específicos na alimentação Procedimentos para alimentação de idosos dependentes ou semi-dependentes Cuidados específicos com a hidratação Síntese Actividades propostas Actividades de avaliação PÁG. 55 PÁG. 79 SOLUÇÕES DAS ACTIVIDADES PÁG. 93 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA PÁG. 99 ANEXO 1. TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO PÁG. 101 ANEXO 2. DIAPOSITIVOS PÁG. 109 ANEXO 3. OUTRA INFORMAÇÃO ÚTIL Índice de figuras, quadros, receitas e fichas de procedimento Bibliografia aconselhada Outros auxiliares didácticos complementares Contactos úteis Agradecimentos PÁG. 147 PÁG. 29 PÁG. 37 PÁG. 47 7/23/07 2:20 PM Page 5 INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO formando_alimentacao.qxp “A qualidade de vida dos idosos depende em grandes parte daquilo que bebem e comem.” (Berger, L., Mailloux-Poirier, D., 1995) Os hábitos e necessidades alimentares acompanham o desenvolvimento humano, não sendo iguais aos 5 e aos 50 anos. Um dos papéis do cuidador é orientar os idosos de maneira a que a alimentação seja ajustada à sua idade e estado de saúde. A má nutrição, decorrente de um desequilíbrio entre aquilo que o organismo pede e aquilo que é ingerido, é um quadro extremamente frequente nos idosos. Torna-se portanto essencial que quem cuida esteja atento e identifique esta situação, de forma a actuar atempadamente. Com este manual pretende-se que os formandos, cuidadores ou potenciais cuidadores, contactem com as questões relacionadas com uma alimentação equilibrada e que reconheçam factores de risco, sinais e sintomas de má nutrição, bem como estratégias de actuar nestas situações. O manual apontará também no sentido de apresentar algumas especificidades de grupos especiais dentro da terceira idade, como o caso de algumas doenças e distúrbios em particular. Serão também abordadas formas de lidar com estes casos de maneira geral, dando pistas aos formandos para agir. Aspectos práticos como a preparação de refeições apropriadas com uma divisão de tarefas com os idosos, cuidados na aquisição, conservação e armazenamento, embora questões triviais que fazem parte do dia-a-dia, permitem estimular a autonomia e o contributo desta faixa da população, e muitas vezes não lhes é dada a atenção merecida. Por fim, pretende-se ainda que este manual seja um ponto de referência em situações como a alimentação de idosos dependentes, actuação em caso de vómito ou engasgamento, e ainda na alimentação entérica, muito utilizada no universo geriátrico. É expectativa deste projecto conferir uma ampla gama de ferramentas aos formandos para poderem actuar em diversos momentos, contextos e situações no que se refere à alimentação do idoso. 5 formando_alimentacao.qxp 6 7/23/07 2:20 PM Page 6 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 7 NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO 1 A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO 1 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 8 NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO OBJECTIVOS GERAIS • Indicar os grupos alimentares e definir a sua constituição; • Identificar e caracterizar as necessidades alimentares dos idosos; • Explicar a necessidade de hidratação na alimentação do idoso. GRUPOS ALIMENTARES E SEUS CONSTITUINTES A alimentação dos idosos, bem como a de todas as faixas etárias, pode ser optimizada através de dois tipos de controlo quantitativo e qualitativo: quantitativo poderá ser feito pela vigilância do peso e qualitativo recorrendo à ideia de grupos alimentares (Ferry & Alix 2004). Os grupos alimentares não são mais que uma organização dos alimentos em categorias, pelas semelhanças das suas propriedades nutricionais. Para facilitar a assimilação destes grupos e a interiorização das proporções que devem ser respeitadas na alimentação, foram criadas representações gráficas como a Roda dos Alimentos e mais recentemente a Pirâmide dos Alimentos. RODA DOS ALIMENTOS Foi criada em Portugal na década de 70, segundo a realidade dessa época e revelou-se um instrumento de trabalho eficiente, o que levou outros países a adoptarem-no. O seu formato em círculo, dividido em 5 fatias, assemelha-se a um prato, com as porções de alimentos que devem ser ingeridas. Figura 1 - Pirâmide dos Alimentos Figura 2 - Nova Roda dos Alimentos 8 A Pirâmide dos Alimentos (Figura 1) assenta numa lógica de frequência de consumo, apresentando no topo os alimentos que devem ser consumidos mais esporadicamente. Em Portugal apesar da disseminação da Pirâmide dos Alimentos, a Nova Roda dos Alimentos é divulgada pela Direcção Geral de Saúde uma vez que, ao apresentar a forma de prato permite a fácil percepção das proporções adequadas e não hierarquiza os alimentos como acontece com a Pirâmide. O grupo do pão, cereais, arroz e massas, que são alimentos que fornecem energia, devem ser consumidos diariamente, pelo que constituem a base. No topo está o grupo das gorduras e óleos, que, segundo a pirâmide, devem ser consumidas apenas esporadicamente. A Nova Roda dos Alimentos, que está representada na Figura 2, divide-se em sete grupos alimentares: cereais, seus derivados e tubérculos; hortícolas; fruta; lacticínios; carne, pescado e ovos; leguminosas; gorduras e óleos. No Quadro 1.1 são apresentados exemplos de cada grupo alimentar, indicadas as doses diárias recomendadas (ddr), e a percentagem que cada grupo deverá ocupar na alimentação diária. 7/23/07 2:20 PM Page 9 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp QUADRO 1.1 - PORÇÕES DIÁRIAS DOS VÁRIOS GRUPOS ALIMENTARES Grupos de Alimentos Porções diárias Percentagem na Alimentação Cereais, seus derivados e tubérculos 1 pão (50g) 1 fatia fina de broa (70g) 1 e 1/2 batata - tamanho médios (125g) 5 colheres de sopa de cereais de pequeno-almoço (35g) 6 bolachas - tipo “Maria” / água e sal (35g) 2 colheres de sopa de arroz/massa crus (35g) 4 colheres de sopa/massa cozinhados (110g) 4 a 11 28% Hortícolas 2 chávenas almoçadeiras de hortícolas crus (180g) 1 chávena almoçadeira de hortícolas cozinhados (140g) 3a5 23% Fruta 1 peça de fruta - tamanho médio (160g) 3a5 20% Lacticínios 1 chávena almoçadeira de leite (250ml) 1 iogurte líquido ou 1 e 1/2 sólido (200g) 2 fatias finas de queijo (40g) 1/2 queijo fresco - tamanho médio (50g) 1/2 requeijão - tamanho médio (100g) 2a3 18% 1,5 a 4,5 5% Leguminosas 1 colher de sopa de leguminosas secas cruas (ex: grão de bico, feijão, lentilhas) (25g) 3 colheres de sopa de leguminosas frescas cruas (ex: favas, ervilhas) (80g) 3 colheres de sopa de leguminosas secas/frescas cozinhadas (80g) 1a2 4% Gorduras e Óleos 1 colher de sopa de azeite/óleo (10g) 1 colher de chá de banha (10g) 4 colheres de sopa de nata (30ml) 1 colher de sobremesa de manteiga/margarina 1a3 2% Carne, pescado e ovos Carnes/pescado crus (30g) Carnes /pescado cozinhados (25g) 1 ovo - tamanho médio (100g) Folheto da Nova Roda dos Alimentos 9 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 10 NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO CEREAIS, SEUS DERIVADOS E TUBÉRCULOS Este grupo inclui os alimentos essencialmente responsáveis por fornecer energia ao organismo alguns exemplos são: cereais (arroz, milho, centeio) e derivados (farinha, pão, cereais de “pequeno almoço”), tubérculos (batata) e castanha. São principalmente ricos em açúcares ou hidratos de carbono complexos. Para além destes nutrientes, são também constituídos por vitaminas do complexo B, sais minerais e fibras alimentares. HIDRATOS DE CARBONO Também conhecidos por glícidos, são a principal fonte de energia motora do organismo. Consoante a sua composição e estrutura, os hidratos de carbono podem ser simples ou complexos. Os hidratos de carbono simples são absorvidos mais rapidamente e estão presentes nas frutas (frutose), no leite (lactose) e no açúcar comum. Os hidratos de carbono complexos são absorvidos mais lentamente e são a fonte mais saudável de energia, encontram-se principalmente nos cereais, tubérculos e leguminosas. HORTÍCOLAS O grupo dos hortícolas é composto por hortaliças (ramas, folhas, flores) e legumes que compreendem as raízes (cenouras, rabanetes, beterraba), bolbos (cebolas e alhos) e frutos (abóbora, pepino, tomate). Estes alimentos, são ricos em fibras, vitaminas e minerais, o que faz com que a sua presença diária seja essencial para uma alimentação adequada. Neste grupo também se incluem os cogumelos que são ricos em proteínas e minerais. Os hortícolas podem ser consumidos crus ou cozinhados, em concentrados, sumos ou sopa, sendo que a cozedura prolongada, e o reaquecimento fazem perder o teor de vitaminas presentes nesses alimentos. Devem ser cozinhados em pouca água e a temperaturas baixas e moderadas. No entanto, é importante referir que o valor nutritivo dos legumes ultracongelados é comparável aos legumes frescos. 10 VITAMINAS São essenciais para o organismo, porque regulam grande parte dos processos que nele ocorrem, mantêm o seu equilíbrio e são indispensáveis para o crescimento. Estão presentes num grande número de alimentos. (Nos Textos de aprofundamento temático, é apresentado um quadro com as características das vitaminas e exemplos dos alimentos onde elas podem ser encontradas). FRUTAS Incluem-se neste grupo as frutas frescas e os secos (figos secos, passas), sendo excluídos os frutos gordos (azeitonas, pinhões, nozes, amendoins, coco) dado o seu teor energético. São ricas em sais minerais, fibra e vitaminas e algumas fornecem também uma quantidade apreciável de água, como é o caso da melancia, melão, morango, laranja e limão Preferencialmente, deve ser consumida crua ou em sumos, sendo descascada pouco antes da ingestão. Também pode ser cozinhada mas, neste caso, os nutrientes não serão tão preservados. LACTICÍNIOS O leite e os seus derivados, excluindo a manteiga e as natas, compõem este grupo. Para além da principal fonte de cálcio, são também ricos em proteínas, lípidos e vitamina A, B2 e D, devendo, por isso, ser consumidos diariamente, em todas as refeições. Nos lacticínios incluem-se os iogurtes, o queijo fresco ou seco e o requeijão, que, para além de ingeridos assim, podem também ser utilizados na confecção de outros pratos como o molho bechámel, os gratinados, pudins, bolos, entre muitos outros. 7/23/07 2:20 PM Page 11 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp CÁLCIO É um nutriente essencial na formação e no crescimento dos ossos. Pertence ao grupo dos minerais que, tal como os oligoelementos, são nutrientes imprescindíveis para a renovação e conservação de tecidos e bom funcionamento das células nervosas, intervindo em muitas outras reacções do organismo. (Nos Textos de aprofundamento temático, é apresentado um quadro com as características dos minerais e oligoelementos, bem como dos alimentos onde elas podem ser encontradas). CARNE, PESCADO E OVOS São fonte de proteínas de excelente qualidade e o seu consumo é recomendado, numa idade mais avançada, pelo menos uma vez por dia, podendo nas outras refeições ser substituído por lacticínios. É também rica em vitaminas, em especial B12. Pode ser consumida fresca, congelada, seca ou fumada, deve haver a preocupação de alternar o consumo de carnes vermelhas (vaca, porco, cabra) com o das carnes brancas (aves, coelho): as primeiras contêm a gordura na sua própria constituição, enquanto nas segundas esta se concentra em locais fáceis de remover como a pele. O pescado apresenta a vantagem de possuir uma gordura mais saudável (ácidos gordos ómega-3), principalmente os peixes “gordos” como o salmão, a truta salmonada, a cavala, o atum e a sardinha, entre outros. É também rico em minerais e vitaminas do complexo B. O marisco é considerado pescado e contém menor teor proteico, sendo uma importante fonte de minerais. LEGUMINOSAS São alimentos essencialmente ricos em hidratos de carbono, capazes de fornecer energia mas com um nível proteico superior aos cereais e tubérculos. Lentilhas, feijão, grão, ervilhas, favas e soja, são exemplos de leguminosas. Fornecem também fibras alimentares, à semelhança dos hortícolas, fruta e os cereais pouco processados. O seu consumo deve ser feito combinando diferentes tipos de leguminosas de forma a enriquecer o seu valor proteico. FIBRAS ALIMENTARES São muito importantes para a regulação do organismo. Não fornecem energia, mas actuam ao nível do intestino, prevenindo a obstipação. As fibras provocam a sensação de saciedade, o que faz com que não seja necessário um consumo exagerado de alimentos, evitando assim a obesidade. Também contribuem para a regulação dos níveis de glicose no sangue, prevenindo a diabetes. GORDURAS E ÓLEOS Os ovos são ricos em proteínas, lípidos e vitaminas, cálcio e ferro, sendo a gema, mais rica que a clara. Este grupo contém alimentos ricos essencialmente em lípidos, algumas vitaminas (A, D e E) e ácidos gordos essenciais (ómega-6 e ómega-3). São exemplos o azeite, banha de porco, óleos vegetais, margarina e manteiga. Não é necessária a ingestão de grande quantidade mas é importante o seu consumo. PROTEÍNAS São as principais responsáveis pelo crescimento, conservação e reparação dos órgãos, tecidos, e células. São compostas por aminoácidos que podem ser de dois tipos: essenciais (fornecidos pelos alimentos) e não essenciais (podem ser produzidos pelo próprio organismo). 11 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 12 NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO LÍPIDOS Os lípidos são constituídos por ácidos gordos. Essenciais para o desenvolvimento da visão e do cérebro, protegem o organismo contra as agressões externas (principalmente contra o frio) e também são importantes na manutenção e crescimento de tecido. Os ácidos gordos podem ser divididos em saturados, monoinsaturados e polinsaturados. Os primeiros estão presentes na gordura de carnes vermelhas, pele de aves, leite gordo e derivados, salsichas, chouriço e gema de ovo, sendo responsáveis pelo aumento do “mau” colesterol no sangue. Os ácidos gordos monoinsaturados, estão presentes no azeite e óleo de amendoim, produzindo menos colesterol. Quanto aos ácidos gordos polinsaturados, dividem-se em ómega-3 (encontram-se nos óleos de peixe) e ómega-6 (encontram-se nos óleos vegetais) e têm um poder protector em relação às doenças cardiovasculares. ÁGUA E OUTRAS BEBIDAS A Nova Roda dos Alimentos inclui, no centro, a água. Apesar de não estar representado num grupo próprio, este nutriente entra na constituição de grande parte dos alimentos. É, portanto, aquele que deve ser consumido em maior quantidade. A água, entre outras funções, serve de meio de transporte de todos os outros nutrientes, ajuda na regulação da temperatura e proporciona o meio onde ocorrem as reacções ao nível do organismo. Para além da água, podem ser consumidas outras bebidas que não contenham adição de açúcar, álcool ou cafeína, como chás e sumos de fruta naturais. Devem ser ingeridas a todas as refeições e no intervalo destas, oscilando a dose recomendada de água entre o 1,5 e 3 litros. OUTROS ALIMENTOS De fora da Roda dos Alimentos ficam as bebidas alcoólicas, os doces, o vinagre, o sal, e as ervas aromáticas. No que diz respeito às bebidas alcoólicas, aconselha-se o consumo moderado, às refeições e de acordo com a compleição física e o facto de ser homem ou mulher. Estas bebidas têm um elevado poder calórico e a sua eliminação envolve vários órgãos, nomeadamente o fígado. Os alimentos ricos em açúcar, como os bolos e outras guloseimas, são, na sua maioria, pobres ao nível de outros nutrientes, aconselhando-se o seu consumo esporádico, dado o alto teor calórico 12 responsável pelo aparecimento de doenças como a diabetes e obesidade. O consumo de sal não deve ultrapassar os 5g por dia, uma vez que em excesso pode provocar doenças cardiovasculares (hipertensão), problemas ósseos e renais. Acontece muitas vezes um excesso de consumo de sal, principalmente nos idosos, devido à diminuição do paladar, o que se aconselha é a confecção dos alimentos recorrendo a ervas aromáticas, especiarias. Estes condimentos são geralmente de origem vegetal e não têm valor calórico. Em anexo, nos textos de aprofundamento temático, apresentam-se alguns exemplos de ervas aromáticas e especiarias e sugestões de utilização. NUTRIÇÃO É o conjunto de processos de assimilação e desassimilação que mantêm o organismo em boas condições e que lhe fornecem energia vital. Os elementos nutritivos (nutrientes) que o organismo necessita, provêm dos alimentos e são sintetizados pelo organismo. (Berger, L., Mailloux-Poirier, D., 1995) NECESSIDADES ALIMENTARES DO IDOSO As necessidades alimentares do idoso, de uma maneira geral, não diferem muito das dos adultos, embora existam algumas especificidades ao nível dos nutrientes que é importante salientar. No Quadro 1.2 são apresentados valores dos principais nutrientes e energia, recomendados para os idosos. Por exemplo para um idoso com cerca de 70 kg, a necessidade energética é de 2400kcal. Dessa energia cerca de 1200kcal deve ser proveniente de hidratos de carbono, e 840kcal dos lípidos, vindo a restante dos outros nutrientes ingeridos. PROTEÍNAS As necessidades proteicas dos idosos tendem a ser ligeiramente superiores do que nos adultos mais jovens, principalmente se houver qualquer tipo de agressão grave para o organismo como uma infecção ou uma intervenção cirúrgica. Nestes casos a dose diária recomendada pode passar a 1,5 ou 2g /Kg/d, no caso de não haver complicações ao nível dos rins (Ferry & Alix, 2004). 7/23/07 2:20 PM Page 13 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp Os alimentos proteicos que devem ser consumidos são de origem animal. Os ovos, em especial a clara, a carne e o peixe, são os alimentos mais completos e capazes de fornecer a quantidade de aminoácidos essenciais adequada às necessidades dos idosos (Saldanha, 2001). LÍPIDOS Nos idosos o consumo de lípidos não deve ser negligenciado. Embora quanto à quantidade total não difira muito dos adultos, estima-se que deva constituir cerca de 30 a 35% do total de calorias ingeridas, distribuídas da seguinte forma: 15% de gorduras moninsaturadas (óleos vegetais); 7.5% de saturadas (gorduras animais) e 7.5% de polinsaturadas (gorduras de vegetais e do peixe). A ingestão de ácidos gordos ómega-3 e ómega-6 protege o idoso a nível cardiovascular, ajudando a controlar a tensão arterial, reduzindo o colesterol, e actuando favoravelmente sobre a trombogénese (diminuindo o risco de trombose) (Saldanha, 2001). total energético. Nos idosos, que muitas vezes se tornam mais “gulosos”, o consumo de açucares (hidratos de carbono de absorção rápida), poderá ser permitido caso não exista diabetes, a quantidade deverá rondar 20 a 30g/d (chá, leite ou biscoitos). Os hidratos de carbono complexos deverão ser consumidos numa quantidade de 100 a 150g/d, em alimentos como massa, arroz, batata e pão branco. No caso de doença, situações de stress, ou estilos de vida mais activos, deve haver um aporte de energia suplementar (Saldanha, 2001). FIBRAS O consumo diário deve rondar os 25 a 30 g/d, através dos cereais integrais, vegetais e frutos. As fibras são muito importantes na alimentação do idoso, pois ajudam na prevenção da obstipação, hemorróidas, diabetes e outros problemas de saúde frequentes no idoso (Vieira, 2001). HIDRATOS DE CARBONO As necessidades de energia de um idoso são idênticas às de um adulto com gastos semelhantes. A porção diária deverá fornecer cerca de 50 a 55% do QUADRO 1.2 - VALORES NUTRICIONAIS RECOMENDADOS PARA IDOSOS Valores diários aconselhados Nutrientes e Energia Energia 35Kcal/kg/d Proteínas 1g/kg/d (mais em caso de doença ou stress) Glícidos 50% da energia total Lípidos 35% da energia total Ómega-6 7,5g Ómega-3 1,5g Fibras 20 a 25 g /d Cálcio 1200 mg/d Líquidos 1,5 l/d +500 ml em caso de muito calor +500ml /grau de temperatura corporal a partir de 38º Adaptado de Ferry & Alix, 2004 13 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 14 NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO VITAMINAS De uma maneira geral na população idosa encontram-se frequentemente em défice as vitaminas B1, B2, B6, C e D. Os motivos desta carência prendem-se muitas vezes com o facto de os idosos utilizarem técnicas de cozedura inadequadas ou por escolherem alimentos pobres neste nutriente. As principais consequências são a anorexia (falta de apetite), perturbação da memória, depressividade, insuficiência imunitária e osteoporose. Muitas vezes são fornecidos suplementos no caso de uma necessidade específica de vitamina, sendo também aconselhado um reforço em termos de ingestão de determinados alimentos. MINERAIS E OLIGOELEMENTOS Na população idosa, o mineral que mais frequentemente se encontra em falta é o cálcio, o que leva, em conjunto com outros factores, à perda de massa óssea e, consequentemente, à osteoporose. Por este motivo recomendável a ingestão de 1g/d, o que equivale a cerca de 1 litro de leite por dia (Vieira, 2001). A necessidade de uma administração suplementar de magnésio no idoso deve-se à diminuição da absorção intestinal. O recurso ao suplemento é recomendado principalmente em situações de stress, a indivíduos submetidos a medicação específica e que consumam grandes quantidades de álcool (Ferry & Alix, 2004). O zinco é um oligoelemento que surge em défice na população idosa, principalmente em idosos internados em lares, pelo que é recomendada a ingestão de cereais pouco polidos e pelo menos uma refeição semanal que inclua bivalves. Também pode ser ponderado um suplemento de zinco, nomeadamente em doentes que apresentem escaras (úlceras de decúbito), ou outras perturbações da cicatrização bem como para casos de alimentação artificial (Saldanha, 2001). Escaras ou úlceras de decúbito são lesões produzidas na pele em partes moles, quando se mantêm comprimidas durante tempo prolongado, entre uma proeminência óssea e uma superfície dura. 14 NECESSIDADE DE HIDRATAÇÃO DO IDOSO Existe, nos idosos, um risco importante de desidratação, que pode constituir um quadro grave e frequente nesta população. As necessidades de hidratação são superiores nesta faixa etária, porque o organismo sofre uma redução acentuada da massa hídrica (quantidade de água no organismo). Por exemplo, enquanto que num adulto de 30 anos, com 70kg, a massa hídrica é de 41 litros, num adulto com 70 anos e o mesmo peso é reduzida para 35 litros. Outro factor que aumenta a necessidade hidratação planeada é a atenuação da sensação de sede, o que faz com que, mesmo necessitando de água, o organismo perca a capacidade para se auto-regular com eficácia. Situações demenciais ou limitações físicas podem fazer com que o acesso aos líquidos seja dificultado, impossibilitando o idoso de se deslocar ou de os pedir. O envelhecimento dos rins diminui a capacidade de concentração da urina, o que faz com que, mesmo em privação o organismo continue a eliminar líquidos da mesma forma, não acautelando uma situação de desidratação. O fornecimento de água é feito, para além da contida nos alimentos ingeridos (1l/dia), e da oxidação destes (300ml/dia), através da bebida. Logo uma alimentação insuficiente e pobre compromete também o nível de hidratação do indivíduo (Ferry & Alix, 2004). A desidratação ocorre quando a perda se torna superiores à entrada de líquidos. As principais perdas são feitas através: - da sudação, cerca de 500ml em situações normais (aumenta substancialmente no caso de haver febre); - da respiração, cerca de 500ml num dia, (aumenta no caso de haver por exemplo dispneia ou ventilação mecânica); - da urina, o volume deve rondar os 500ml, embora difira consoante os líquidos consumidos e da medicação; - do aparelho digestivo, pela boca no caso de haver vómito ou pelo ânus através das fezes. (Ruipérez & Llorente, 1998). É necessário estar atento a todos estes mecanismos, para poder prevenir. No capitulo 7 “Preparar a família e as instituições para prestar apoio na alimentação do idoso”, são indicados sintomas da desidratação bem como quais as formas de a prevenir 7/23/07 2:20 PM Page 15 SÍNTESE DISPNEIA “Dificuldade respiratória provocada pelo esforço do organismo em aumentar a quantidade do oxigénio disponível nos pulmões para a oxigenação do sangue. É caracterizada por respiração curta e laboriosa.” (Berger & Mailloux-Poirier, 1995) 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp Os principais grupos alimentares podem ter várias representações gráficas, sendo exemplo disso a Nova Roda dos Alimentos. Nesta estão representados sete grupos alimentares: cereais, seus derivados e tubérculos; hortícolas; fruta; lacticínios; carne, pescado e ovos; leguminosas; gorduras e óleos. Cada é composto por alimentos ricos em diferentes nutrientes: hidratos de carbono; vitaminas; fibras alimentares; minerais e oligoelementos; proteínas; lípidos e água. Na pessoa idosa, as necessidades alimentares são idênticas às dos adultos. No entanto, existem especificidades ao nível de alguns nutrientes que requerem um cuidado acrescido. Conhecendo-as é possível adequar a escolha e a forma de prepararação para que a alimentação seja equilibrada e adaptada ao idoso. As necessidades de hidratação surgem como uma das preocupações centrais neste tema. Tendo em conta os aspectos fisiológicos, a diminuição da massa hídrica, a perda progressiva da sensação de sede e a fraca capacidade de concentração da urina, é importante estar atento a todos os sintomas e possíveis factores que levem à desidratação. 15 7/23/07 2:20 PM Page 16 1 . NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃo formando_alimentacao.qxp ACTIVIDADES ACTIVIDADES PROPOSTAS 1. Utilizando como base de trabalho a última refeição completa que tomou (jantar ou almoço), descreva os alimentos que dela constaram e identifique qual o grupo alimentar a que cada um pertence. Verifique se os grupos se encontram na proporção aconselhada na Roda dos Alimentos. ACTIVIDADES DE AVALIAÇÃO 1. Compare a nova Roda dos Alimentos e a Pirâmide dos Alimentos. 2. O que é a Nova Roda dos Alimentos? 2.1. Em quantos grupos está dividida a Nova Roda dos Alimentos? 2.2. Diga quais os grupos e que tipo de alimentos os compõem, exemplificando. 3. Quais os nutrientes que conhece? 4. O que são hidratos de carbono complexos? 5. Classifique como verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações e justifique cada uma delas: 5.1. Um idoso com febre necessita da mesma quantidade de água que um idoso “saudável”. 5.2. Se não forem diabéticos, os idosos podem comer doces. 5.3. Um idoso com uma ferida que dificilmente cicatriza pode beneficiar comendo iscas, e amêijoas. 16 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 17 MÁ NUTRIÇÃO: 2 CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO 2 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 18 MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO OBJECTIVOS GERAIS • Identificar os factores que afectam o consumo de nutriente nos idosos; • Definir má nutrição; • Reconhecer factores de risco para a má nutrição no idoso e sinais a ela associados; • Indicar as consequências da má nutrição no idoso; FACTORES QUE AFECTAM O CONSUMO DE NUTRIENTES NOS IDOSOS A alimentação do idoso é influenciada por diversos factores que interferem no consumo de nutrientes e consequentemente afectam o estado nutricional. Aspectos socioeconómicos, culturais, psicológicos, fisiológicos digestivos e não digestivos, intervêm directamente na forma como os indivíduos deste grupo etário se alimentam. • Conhecer as formas de avaliação da má nutrição. ESTADO NUTRICIONAL É o resultado de um equilíbrio entre valores de energia e nutrientes, por um lado, e os dispêndios energéticos por outro. Este equilíbrio traduz-se pela manutenção dos processos metabólicos e pela composição corporal normal e estável (Ferry & Alix, 2004). FACTORES SOCIOECONÓMICOS, CULTURAIS E PSICOLÓGICOS O apoio familiar (ou a falta dele), bem como o facto de o idoso viver só e isolado, pode condicionar o tipo de alimentação. Em muitos casos por falta de condições e apoio social para fazer compras de qualidade, em quantidade suficiente, acabam por se alimentar de forma monótona e inadequada, recorrendo a alimentos fáceis de preparar (chá e torradas, pão com manteiga) ou muito calóricos, mas de baixo valor energético (bolos e bolachas). A solidão leva a um desinvestimento em si e ao desleixo na preparação de comida, argumentando, muitas vezes, que cozinhar só para si não vale a pena. Por outro lado, as refeições são também momentos de partilha social e comer sozinho é mais inibidor e potencia um desinteresse em relação à alimentação. Nas instituições, esse deve ser um momento privilegiado onde a componente social é estimulada, evidenciando aos idosos aspectos mais prazerosos. O factor económico, nomeadamente a escassez de recursos, conduz a um consumo insuficiente ao nível qualitativo e quantitativo de alimentos. Constrangimentos devido a pensões, reformas baixas e despesas elevadas com a medicação levam a um fraco poder económico (Campos, Monteiro & Ornelas, 2000). 18 7/23/07 2:20 PM Page 19 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp No caso dos idosos viverem sozinhos é necessário ter também em conta o sexo e o estado civil. Culturalmente, as mulheres dominam a culinária e muitos homens nunca tiveram contacto com a preparação da refeição, logo, no caso de impossibilidade da companheira ou do seu falecimento, a alimentação vai ficar comprometida, caso a rede de apoio não intervenha. As tradições culturais como certas restrições alimentares (jejum, interdição de alguns alimentos), os usos, costumes e hábitos adquiridos ao longo da vida, interferem com a manutenção de um equilíbrio nutricional. É importante referir ainda que existe um profundo desconhecimento e falta de informação, por parte dos idosos, em relação à alimentação. Predominam as ideias preconcebidas e crenças falsas que impedem o ajuste à idade. O mesmo acontece por parte dos cuidadores, quer a família, quer as instituições, pois estão muito pouco sensibilizados para as necessidades específicas desta faixa etária (Berger & Mailloux-Poirier, 1995). Ao nível psicológico, as situações de depressão, motivadas pela perda progressiva de autonomia, pela solidão, desaparecimento de entes queridos e sentimento de inutilidade, dão origem a falta de apetite. Acontece, frequentemente, em contexto institucional, haver uma recusa e até repulsa pelos alimentos, o que pode estar associado a uma chamada de atenção e/ou um desinteresse pela vida. A ansiedade gera, por vezes, o efeito contrário, aumentando a vontade de comer e o peso. O tipo de sentimentos associados à alimentação difere consoante o indivíduo. Por exemplo, pode ser relacionada com a punição, ou, pelo contrário, com gratificação, sendo importante que quem cuida do idoso, ou faz parte da sua rede de apoio, esteja atento a este aspecto. Nos casos de demência, sobretudo numa fase inicial, ou em doentes que se apresentam ansiosos, a dificuldade em se alimentar surge, principalmente, pela instabilidade e falta de consciência da necessidade de comida e bebida. (Berger&Mailloux-Poirier, 1995) FACTORES FISIOLÓGICOS (DIGESTIVOS) Alterações do Gosto e do Olfacto Com a idade vão surgindo alterações ao nível orgânico. A redução do número de papilas gustativas e da sua eficácia contribui para que o sabor dos alimentos não seja sentido tão facilmente como em outras idades. Assim, muitas vezes, os idosos tendem a escolher alimentos muito doces ou muito salgados para que possam ter a percepção do que estão a comer. Outros factores que afectam o gosto são: alguns medicamentos, menor secreção salivar e uma higiene oral inadequada. Diminuição da Capacidade Mastigatória A alteração da dentadura é o principal motivo para a perda progressiva da capacidade de mastigar e ensalivar. O aparecimento de cáries, a osteoporose das gengivas, as próteses mal ajustadas ou a inexistência de dentes faz com que os idosos recorram amiúde a alimentos moles, fáceis de mastigar e ingerir. Assim, ficam de fora a fruta e os legumes mais duros, as carnes e as fibras, empobrecendo a dieta e conduzindo a um estado de desequilíbrio nutricional. Problemas na Deglutição Aparecem sobretudo em doenças que se associam à idade: acidentes vasculares cerebrais, fases terminais de doenças como o Parkinson e outras demências. É comum ver alguns idosos com 19 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 20 MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO grande facilidade em engasgar-se, o que acontece devido à perda de acuidade neuromuscular. A alimentação fica comprometida, pois, para não se sujeitarem a esta situação, evitam determinados alimentos. Alterações ao nível do Estômago e Intestino Com o avanço da idade, devido à redução das contracções do estômago o esvaziamento gástrico é atrasado e a sensação de fome diminui. Também, o envelhecimento da mucosa gástrica atenua o nível de ácido clorídrico (essencial para efectuar a digestão), afectando assim a absorção de minerais e a digestão de proteínas. A quantidade de enzimas (catalizadores do processo digestivo) diminui e a capacidade de absorção intestinal é afectada. FACTORES FISIOLÓGICOS (NÃO DIGESTIVOS) O decréscimo de massa corporal e hídrica conduz a que a necessidade de comer e beber aumente, de modo a prevenir a escassez de reservas no caso de doença, exposição a situações de stress, entre outros. A insuficiente capacidade de concentração de urina por parte dos rins leva à perda de água e torna o idoso mais vulnerável a uma situação de desidratação. As alterações motoras correspondem a outro factor fisiológico que dificulta os movimentos e a possibilidade de se alimentar facilmente. DOENÇAS QUE AFECTAM O CONSUMO DE ALIMENTOS A diabetes, por desconhecimento dos idosos e de alguns cuidadores, leva a dietas desadequadas, suprimindo alimentos que são essenciais. O álcool (situações de alcoolismo), que numa faixa etária mais avançada tem um efeito devastador ao nível nutricional, impede a degradação de alguns nutrientes, impossibilitando a sua assimilação. Doenças do foro gástrico como esofagite de refluxo (azia crónica) e úlceras gástricas têm grande prevalência entre os idosos e são também condicionantes. Outras patologias, como a osteoporose, a artrite e a arteriosclerose, que são frequentes nesta faixa etária, interferem indirectamente na alimentação ao conduzirem a quadros em que a mobilidade é muito limitada e as hospitalizações prolongadas. OUTROS FACTORES - A adopção de dietas, quer as prescritas para situações específicas, quer as impostas pelo próprio, trazem sempre um risco associado, já que tendem a prolongar-se e impedir o fornecimento adequado de todos os nutrientes. - A hospitalização, bem como a institucionalização, pela fraca qualidade e atractividade das refeições, não favorecem o apetite e o suprimento das necessidades nutricionais. - A toma de medicação, antes da refeição, com ingestão de água, provoca anorexia (falta de apetite), bem como perda da sensibilidade, alteração do gosto e da humidade da boca. MÁ NUTRIÇÃO A má nutrição pode ser de dois tipos: exógena, devido a factores que afectam a ingestão de nutrientes que foram anteriormente enunciados, e endógena, que é motivada por um aumento das necessidades nutricionais desencadeado perante qualquer doença (infecção, enfarte do miocárdio, fracturas, escaras, entre outros). Neste último caso a necessidade de consumo de energia é superior e requer uma actuação rápida. MÁ NUTRIÇÃO Desajuste entre as necessidades do indivíduo e os nutrientes ingeridos (quantitativamente e qualitativamente), o que traz diversas consequências, tornando-o mais vulnerável. 20 7/23/07 2:20 PM Page 21 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp A MÁ NUTRIÇÃO: FACTORES DE RISCO E SINAIS DE ALERTA Quando existe má nutrição surgem sinais e factores de risco que evidenciam as carências nutritivas, quer qualitativamente, quer em termos de quantidade. Antes do aparecimento de qualquer sintoma ou sinal físico é importante olhar para o indivíduo e para o contexto onde se insere, para analisar o risco ao qual está sujeito. No Quadro 2.2 estão presentes alguns sinais que podem ser observados e que ao serem detectados pelo cuidado, estes pode encaminhar para o médico assistente, afim de avaliar a situação. O despiste da má nutrição pode evitar complicações de saúde graves se a intervenção for atempada. No Quadro 2.1 estão indicados alguns exemplos de factores aos quais é necessário estar atento para investigar mais profundamente se há ou não má nutrição. A abordagem do idoso terá que ser feita não só através de uma observação directa, mas também investigando o seu dia a dia, de forma a recolher dados que permitam fazer um diagnóstico. QUADRO 2.1 - FACTORES DE ALERTA - RISCO DE MÁ NUTRIÇÃO É de notar que nenhum destes sinais, isoladamente, significa que exista má nutrição 1. Rendimentos insuficientes 2. Perda de autonomia, física e psíquica 3. Viuvez, solidão, estado depressivo 4. Problemas ao nível da boca e dos dentes 5. Dietas 6. Problemas com a deglutição 7. Duas refeições por dia 8. Obstipação 9. Mais de 3 medicamentos por dia 10. Perda de 2kg no último mês ou de 4 kg nos últimos 6 meses 11. Qualquer doença Adaptado de Ferry & Alix, 2004 QUADRO 2.2 - SINAIS CLÍNICOS DE RISCO DE MÁ NUTRIÇÃO Órgão Sinais Clínicos Olhos Secura dos olhos Cabelos Baços, com queda frequente Boca Fissura dos lábios, hemorragias nas gengivas Língua Vermelha, violácea, lisa e sem papilas Pele Áspera seca, dermatose seborreica, dermatite, pequenas nódoas negras subcutâneas Osso Pernas arqueadas, deformações do tórax Sistema nervoso Funções diminuídas Extremidades Edema (Inchaço) Adaptado de Berger & Mailloux-Poirier, 1995 21 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 22 MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO CONSEQUÊNCIAS DA MÁ NUTRIÇÃO A má nutrição aparece frequentemente, tanto nos idosos que estão em instituições como nos que estão no domicílio e é muitas vezes subestimada. A nível individual tem como principais consequências o aumento da mortalidade e morbilidade, bem como a perda progressiva de autonomia; a nível social representa um aumento dos custos com a saúde (hospitalização, cuidados médicos, enfermagem) e com a dependência. CONSEQUÊNCIAS GERAIS O estado geral do idoso altera-se e é comprometido quando há um deficit ao nível da quantidade e qualidade de nutrientes. Esta alteração tem sinais e sintomas visíveis, como o emagrecimento progressivo e prolongado, com perda de massa muscular. O gasto de proteínas contidas no músculo, por carência proteica da alimentação, provoca um enfraquecimento do organismo e uma debilitação física que, para além de comprometer a saúde, afecta a vida diária. No Quadro 2.3 estão representadas algumas das consequências que a má nutrição pode acarretar a nível das actividades de vida diária (AVD) e das necessidades vitais A anorexia (falta de apetite) e a astenia (caracteriza-se pela falta de energia, fraqueza) aparecem como causa e consequência da má nutrição, piorando o quadro do idoso e contribuindo para um agravamento do enfraquecimento. No caso de existir uma patologia aguda, o consumo de calorias e proteínas aumenta substancialmente, sendo que, se o aporte destes nutrientes não for rápido e eficiente, surge o risco de novos episódios. As reservas existentes são já limitadas e no caso de patologia aguda estas são abaladas, tornando difícil a sua reposição total. Assim, um idoso que perde peso, é pouco provável que venha a atingir o que tinha anteriormente, ao contrário do que acontece em idades mais jovens. CONSEQUÊNCIAS ESPECÍFICAS A carência de vitaminas pode levar a uma série de distúrbios cognitivos e psíquicos, por vezes negligenciado. No Quadro 2.4 apresentamos alguns exemplos dos distúrbios clínicos que podem ocorrer. OSTEOPOROSE Associação patológica de uma diminuição da densidade mineral óssea com uma desorganização da arquitectura óssea. 22 A má nutrição piora a deficiência fisiológica provocada pela idade que ao nível imunitário pode traduzir-se num decréscimo das defesas do organismo. O idoso torna-se ainda mais vulnerável a infecções, quando estas surgem diminuem o apetite, levando a um agravamento do quadro nutricional e, consequentemente, à complicação e/ou ao aparecimento de novas infecções. (Ferry & Alix, 2004). A obstipação (prisão de ventre), muito usual nos idosos pode ter várias causas, mas umas das mais encontradas deve-se à ingestão insuficiente de líquidos e fibras alimentares. Este factor associa-se também à falta de mobilidade. Para além do desconforto, a obstipação pode trazer outras complicações. (Ferry & Alix, 2004). Ao nível da pele, a má nutrição e a desidratação podem favorecer o aparecimento de escaras e é por isso muito importante estar atento aos sinais de desidratação, para que se possa prevenir o aparecimento e tornar o tratamento mais eficaz (Ruipérez & Llorente, 1998). O aparecimento de osteoporose tem como principal motivo é a carência de vitamina D, proteínas e cálcio. Esta é uma doença que aparece maioritariamente nas mulheres, embora os homens também sejam muito afectados. Nos idosos a osteoporose é responsável por fracturas, sendo muito vulgar a do colo do fémur, grande factor de perda de autonomia e imobilização, causa de muitas hospitalizações e entrada em instituições (lares). Mesmo sendo a cura difícil, uma correcção dos hábitos alimentares de maneira a providenciar os nutrientes em falta pode atrasar o processo desta patologia. (Berger & Mailloux-Poirier, 1995; Ferry & Alix, 2004). A anemia é outra patologia que aparece com frequência no idoso, devido à insuficiência de hemoglobina no sangue. A má nutrição contribui para a sua existência, principalmente a carência de ferro, de vitamina B12 e de ácido fólico. A ingestão de alimentos ricos nestes nutrientes previne o aparecimento desta doença. 7/23/07 2:20 PM Page 23 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp QUADRO 2.3 - CONSEQUÊNCIAS DA MÁ NUTRIÇÃO AO NÍVEL DE OUTRAS NECESSIDADES VITAIS E ACTIVIDADES DA VIDA DIÁRIA (AVD) Necessidades Vitais e AVD Eliminar Consequência Obstipação resultante do consumo inadequado de fibras alimentares. Alteração da eliminação urinária associada a uma insuficiente ingestão de líquidos. Mover-se e manter boa postura Pouca capacidade para se movimentar, devido à fraqueza provocada por hábitos alimentares incorrectos. Dormir e repousar Perturbações dos hábitos de sono, associados à dor, secundária a hábitos alimentares incorrectos (como por exemplo a osteoporose). Vestir e despir Incapacidade de se vestir devido a obesidade ou emagrecimento. Manter a temperatura do corpo Hipertermia (aumento da temperatura) devido a um consumo insuficiente de líquidos dentro dos limites normais Estar limpo e cuidado Potencial compromisso da integridade da pele devido à sua secura. Compromisso da mucosa oral devido a higiene deficiente e estomatite. Evitar os perigos Risco de acidente associado a deficit sensorial e a uma fraqueza provocada pela falta de apetite e pela má nutrição. Comunicar com os outros Alteração das percepções sensoriais e em alguns deficits cognitivos e mnésicos que dificultam a comunicação. Ocupar-se tendo em vista Dificuldades de concentração e intolerância à actividade. a auto-realização Divertir-se Ausência de ocupação de tempos livre associada a debilitação física. Recusa de actividades que se relacionem com alimentação. Adaptado de Berger & Mailloux-Poirier, 1995 QUADRO 2.4 - PRINCIPAIS DISTÚRBIOS CLÍNICOS PROVOCADOS PELA CARÊNCIA DE VITAMINAS Vitaminas Distúrbios Clínicos B1 Distúrbios de humor e outras síndromes neurológicas B3 Astenia, anorexia, confusão, demência B6 Astenia, depressão, distúrbios mnésicos B9/B12 Astenia, depressão, distúrbios mnésicos, demência C Astenia, depressão, demência Adaptado de Ferry & Alix, 2004 23 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 24 MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL A avaliação do estado nutricional é tarefa dos clínicos, nutricionistas, médicos, ou em alguns casos enfermeiros, pelo que abordaremos apenas de forma geral. A sua elaboração tem por base três dimensões fundamentais: história dietética, medidas antropométricas e parâmetros bioquímicos. HISTÓRIA DIETÉTICA Conhecer e compreender a forma como o idoso se alimenta é essencial para avaliar o estado nutricional e despistar casos de má nutrição. Uma das formas de conhecer os hábitos alimentares é através de questionários, como o MNA (Mini Nutricional Assessment), cuja versão portuguesa adaptada se apresenta no Quadro 2.5 (nos Textos de aprofundamento temático encontra-se uma série de orientações em relação ao tipo de conduta a adoptar consoante a pontuação obtida). Outro instrumento de avaliação é o registo feito pelos próprios idosos ou pelos cuidadores, onde se assenta todos os alimentos ingeridos, a quantidade (pesagem se for necessário) e a frequência. Podem ainda ser recolhidos dados através de entrevista, onde são colocadas questões como o orçamento destinado à alimentação, a capacidade do idoso para fazer compras e armazená-las em casa, como são preparados e confeccionados os alimentos, o número de refeições diárias, se o idoso está ou não a fazer alguma dieta específica, quais as preferências alimentares, entre outros. O cuidador poderá utilizar os questionários ou os registos para fazer o despiste de uma situação de má nutrição. No entanto, deverá sempre contactar um nutricionista ou um médico, para obter uma avaliação clínica completa. MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS E PARÂMETROS BIOQUÍMICOS São efectuadas medições clínicas do corpo do idoso: o peso, a altura, o perímetro da barriga da perna e pregas cutâneas. Os parâmetros bioquímicos são retirados através de análises ao sangue e apesar de não serem muito específicos, reportam o estado nutricional do organismo (Ferry & Alix, 2004). 24 7/23/07 2:20 PM Page 25 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp QUADRO 2.5 - QUESTIONÁRIO DE AVALIAÇÃO DO ESTADO NUTRICIONAL (QAEN) Responda à primeira parte do questionário, indicando a pontuação adequada para cada questão. Adicione os pesos da parte Despistagem - se o resultado for igual ou inferior a 11, complete o questionário para obter a apreciação precisa do estado nutricional. A. O doente apresenta perda de apetite? Comeu menos nos últimos 3 meses, por falta de apetite, problemas digestivos, dificuldades de mastigação ou de deglutição? 0 - Anorexia Grave 1 - Anorexia Moderada 2 - Não há anorexia B. Perda recente de peso (inferior a 3 meses). 0 - Perda de peso > a 3kg 1 - Não sabe 2 - Perda de peso entre 1 e 3 kg 3 - Não há perda de peso C. Motricidade 0 - Da cama para o sofá 1 - Autonomia no interior 2 - Sai de casa D. Doença Aguda ou stress Psicológico nos três últimos meses? 0 - Sim 2 - Não E. Problemas Neuropsicológicos 0 - Demência ou depressão grave 1 - Demência ou depressão moderada 2 - Não há problemas psicológicos F. Índice de Massa Corporal (Imc=peso/(altura)2, em kg/m2 0 - IMC < 19 1 - 19 ≤ IMC <21 2 - 21≤IMC < 23 3 - 23≤IMC Pontuação de Despistagem (sub total máximo: 14 pontos) 12 ou superior: normal, não é necessário continuar com a avaliação. 11 ou inferior: possibilidade de má nutrição, continue a avaliação. Avaliação Global G. O doente vive de forma independente no domicílio? 0 - Não 1 - Sim H. Toma mais de 3 medicamentos 0 - sim 1 - Não I. Escaras ou feridas subcutâneas 0 - sim 1 - Não J. Quantas refeições (de verdade) toma o doente por dia? 0 - 1 Refeição 1 - 2 Refeições 2 - 3 Refeições K. Consome: 0 - Lacticínios, pelo menos uma vez por dia? 1 - Lacticínios, pelo menos uma vez ou duas por semana? 2 - Diariamente, carne, peixe ou carne de aviário? Sim Não 0 = se 0 sim 0,5 = se 1 sim 1 = se 2 sim L. Consome, pelo menos duas vezes por dia fruta ou legumes? 0 - Sim 2 - Não M. Quantos copos de bebidas bebe por dia? (água, sumo, café, chá, leite, vinho, cerveja,...) 0 = menos de 3 copos 0,5 = 3 a 5 copos 1= mais de 5 copos . N. Forma de se alimentar 0 = Necessita de assistência 1 = Alimenta-se sozinho com dificuldade 2 = Alimenta-se sozinho sem dificuldade O. O doente considera-se bem alimentado? 0 = Má nutrição grave 1 = Não sabe, ou má nutrição moderada 2 = Sem problemas de nutrição P. O doente considera-se mais ou menos saudável que a maior parte das pessoas da sua idade? 0 = menos saudável 0,5 = não sabe 1 = tão saudável 2 = mais saudável . Q. Circunferência do braço (em cm) 0,0 = C.B. < 21 0,5 = 21≤C.B. ≤22 1,0 = C.B. >22 . R. Circunferência da barriga da perna (em cm) 0 = C.B.P.<31 1=C.B.P. ≥ 31 Avaliação Global (max. 16 pontos) . Pontuação de Despistagem . Pontuação Total (max. 30 pontos) . Apreciação do Estado Nutricional De 17 a 23,5 - Risco de má nutrição Menos de 17 pontos - Má nutrição Adaptado de Berger & Mailloux-Poirier, 1995 25 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 26 SÍNTESE A má nutrição ocorre quando há um desajuste entre as necessidades do indivíduo e os nutrientes ingeridos através da alimentação, o que conduz a diversas consequências e o vulnerabiliza. Consoante o tipo de causa, pode ser exógena ou endógena. A primeira deve-se aos factores que podem a afectar o consumo de alimentar: socio-económicos, culturais, psicológicos, fisiológicos, doenças e outros factores como a medicação e institucionalização. A segunda tem como causa um aumento das necessidades nutricionais desencadeado por situação de doença ou stress. Os quadros de má nutrição manifestam sinais e sintomas aos quais os cuidadores devem estar atentos para que se possa intervir atempadamente, evitando assim situações graves. As suas consequências podem ser de vária ordem e, vão desde a falta de apetite, às limitações cognitivas, passando pelo o aparecimento de problemas de saúde (osteoporose, escaras). A avaliação do estado nutricional pode ser feita através da história dietética, medidas antropométricas e parâmetros bioquímicos. Só os profissionais de saúde, médicos e nutricionistas, estão habilitados para a realizar, mas o cuidador pode utilizar registos diários, bem como questionários de despiste. 26 7/23/07 2:20 PM Page 27 ACTIVIDADES 2 . MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO formando_alimentacao.qxp ACTIVIDADES PROPOSTAS 1. Aplique a escala de avaliação do estado nutricional a si próprio e verifique qual pontuação que obtém. Analise o resultado e, no caso de obter uma pontuação inferior a 23,5 , identifique quais as alterações que poderá efectuar na sua alimentação, de forma a melhorar o estado. ACTIVIDADES DE AVALIAÇÃO 1. Leia o seguinte caso: O Sr. Gualdino tem 76 anos, está viúvo há 6 meses e anda muito abalado com a morte da sua companheira com quem esteve casado 52 anos. Sente-se triste, sem paciência para nada, com pouco apetite e nem lhe apetece sair de casa. Geralmente, ao jantar, come umas torradas e bebe um chá, e ao almoço abre uma lata de atum, que come com pão, ou compra uns rissóis no café. Nunca estrelou um ovo e agora nem tem quem lhe coza umas batatas. Ultimamente tem-se sentido mais fraco, com pouca força para subir as escadas para o seu 2º andar e tem perdido peso. 1.1. Para avaliar a situação seria necessário mais do que este pequeno texto. No entanto com as informações disponíveis, considera que este idoso está em risco de má nutrição? 1.2. Quais os factores que afectam o consumo de alimentos? 1.3. Quais os sinais e sintomas caso considere que existe má nutrição? 1.4. Indique duas consequências possíveis que podem advir desta situação. 2. A anorexia é um sintoma que é causa ou consequência da má nutrição? 3. A má nutrição pode afectar as actividades de vida diária? Se sim, indique três exemplos. 4. Analise as seguintes frases, e verifique a sua falsidade ou veracidade, justificando as falsas. 4.1. Um idoso pode piorar a sua memória devido a uma alimentação desequilibrada. 4.2. Duas refeições por dia são suficientes para suprir as necessidades nutricionais dos idosos. 4.3. Os idosos, com a idade, perdem o olfacto e o gosto e por isso não vale a pena temperar os cozinhados. 4.4. A pele áspera e seca, bem como os cabelos baços e com queda frequente, podem significar má nutrição. 4.5. A osteoporose é uma doença que nos idosos não está relacionada com a alimentação. 27 formando_alimentacao.qxp 28 7/23/07 2:20 PM Page 28 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 29 ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA 3 A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO 3 3 . ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 30 ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA OBJECTIVOS GERAIS • Definir alimentação entérica; • Indicar as principais vantagens e limitações da sonda nasogástrica e da gastrostomia percutânea endoscópica; • Executar os cuidados de higiene e manutenção da sonda; • Manipular a sonda e administrar a alimentação entérica; • Preparar uma refeição para ser administrada por sonda. ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA: DEFINIÇÃO, VANTAGENS E VIAS DE ADMINISTRAÇÃO A alimentação entérica é uma forma de nutrição artificial, que consiste na administração directa de produto nutritivo no estômago ou jejuno e está indicada para situações em que não é possível assegurar o provimento de todos os nutrientes necessários oralmente (através da boca). É utilizada quando há dificuldades de deglutição, obstrução do tubo digestivo, o doente se encontra em coma ou semi-consciente, em situações de pós-operatório e anorexia grave, sendo no entanto, é imprescindível que o tubo digestivo se mantenha intacto. O abastecimento nutritivo pode ser intermitente ou contínuo (sistema gota a gota), por acção da força da gravidade ou pelo impulso de bomba infusora, que regula a quantidade de produto que corre para o interior da sonda. A administração intermitente consiste em fazer introduzir o alimento entérico algumas vezes por dia, através de seringa (alimentos preparados em casa), ou de embalagem de produto específico para utilização entérica. O sistema contínuo implica um fornecimento constante e está indicado, por exemplo, quando há complicações como diarreia ou vómitos. A nutrição entérica pode ser exclusiva ou parcial, consoante o estado do indivíduo. Se houver impedimento para a admissão oral dos alimentos, é inevitável a exclusividade deste tipo de alimentação. No caso de o idoso conseguir comer, por muito pouco que seja, deve ser estimulado, caso seja necessário, através de sonda fornecer o complemento. Pode, inclusive, optar-se por manter durante o dia o esquema das refeições normais (pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar) e recorrer à nutrição entérica como suplemento nocturno, através de uma administração gota a gota por força da gravidade. O facto de ser parcial permite que as rotinas sejam conservadas e que a mobilidade se mantenha, aspectos fundamentais quando se pretende minimizar os impactos da doença e da limitação. 30 Logo que seja possível o idoso deve voltar à via oral, já que cada dia que passa as funções vão regredindo e torna-se cada vez mais difícil inverter a situação. Para alguns familiares ou cuidadores, esta alteração pode constituir uma dificuldade, já que passa a haver preocupação em assegurar uma nutrição eficaz. É importante dar apoio, explicado quais os procedimentos a adoptar para que as dificuldades diminuam. 7/23/07 2:20 PM Page 31 3 . ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA formando_alimentacao.qxp O idoso pode ser alimentado de forma enteral e manter-se no domicílio. Se houver condições físicas e cuidadores responsáveis com capacidade para aprender os procedimentos, esta é uma mais-valia pois evita a hospitalização e permite melhor qualidade de vida. Mas nem sempre esta solução é pacífica, pois para além da decisão médica é necessário conversar com a família e prepará-la para a situação. Outras vantagens da administração entérica são: a possibilidade de serem administrados medicamentos directamente, o baixo risco de infecção e o facto de não ser necessário o idoso estar acamado. intolerância digestiva e a broncoaspiração. A primeira manifesta-se com vómitos ou diarreia e pode acontecer devido a uma alimentação inadequada ou a uma administração demasiado rápida. Quanto à broncoaspiração, pode ocorrer devido à incapacidade para controlar os esfíncteres do esófago, o que faz com que, quando há refluxo entre a sonda e o esófago, o liquido não seja travado por nenhuma válvula, passando para os brônquios e dando origem a uma pneumonia por aspiração. Esta é uma situação frequente nos idosos, que pode ocorrer também quando a sonda se desloca do seu trajecto. VIAS DE ADMINISTRAÇÃO GASTROSTOMIA PERCUTÂNEA ENDOSCÓPICA A administração entérica pode ser feita por várias vias, sendo as mais utilizadas nos idosos a sonda nasogástrica e a gastrostomia percutânea endoscópica. À primeira recorre-se quando se espera que a utilização seja curta e transitória, à segunda quando o período de uso se prevê prolongado, ou quando existe intolerância à sonda (por exemplo em idosos que sistematicamente arrancam a sonda do nariz). SONDA NASOGÁSTRICA A sonda nasogástrica é um tubo em silicone ou poliuretano que se introduz através do nariz até ao estômago. A colocação é simples mas deve ser feita por enfermeiros ou médicos, embora a sua manutenção e a administração possa ser feita por auxiliares de acção médica ou por cuidadores devidamente esclarecidos. Este tipo de sonda traz alguns transtornos, principalmente na cara e nariz (incómodo, feridas). Também ao nível social causa um impacto negativo, inibindo o idoso, caso este se encontre lúcido e consciente. Nos casos em que há perturbações do comportamento motivadas por alterações da consciência (confusão mental, ansiedade, doença neurológica), a sonda nasogástrica pode facilmente ser arrancada impossibilitando a sua aplicação. Nestas situações é, por vezes, necessário imobilizar o doente impedindo que este chegue com as mãos à cara, ou em último caso recorrer a uma gastrostomia percutânea endoscópica. Consiste num tubo (cânula) que faz ligação directa ao estômago, colocado através de uma intervenção cirúrgica simples. Esta forma de alimentação entérica apresenta vantagens em relação à sonda nasogástrica, principalmente ao nível do incómodo causado no nariz, na garganta e na cara. A utilização da gastrostomia é menos recorrente do que a sonda nasogástrica, já que a colocação não é tão simples. O risco de infecção local é, no entanto, superior. Comparativamente, também se verificam outras complicações, embora mais raras, como é o caso da hemorragia digestiva, choque séptico (infecção generalizada muito grave) entre outros. Uma vez que a sonda nasogástrica é a forma de alimentação entérica mais utilizada junto da população idosa, serão abordados aqui os procedimentos relativos à sua colocação, manutenção e administração. Os cuidados de higiene e de administração não diferem dos necessários quando se utiliza gastrostomia percutânea endoscópica. A colocação da sonda nasogástrica deve ser feita apenas pelos técnicos de enfermagem. PROCEDIMENTO DE COLOCAÇÃO DA SONDA NASOGÁSTRICA E ADMINISTRAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA A colocação da sonda nasogástrica deve ser feita apenas pelos técnicos de enfermagem. Para além dos incómodos mencionados, as principais complicações clínicas que podem surgir são a 31 3 . ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 32 ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA FICHA DE PROCEDIMENTO Nº 1 COLOCAÇÃO DA SONDA NASOGRÁSTICA PREPARAÇÃO DO DOENTE Deve estar semi sentado; Retirar a próteses dentárias; Limpar o nariz; Esclarecer o procedimento e técnica que vai ser utilizada e pedir, se as condições do o idoso o permitirem, colaboração. PROCEDIMENTO - Lavar as mãos e colocar luvas; - Fazer o cálculo do comprimento da sonda que vai ser utilizado. (Medição entre o nariz e o lóbulo da orelha e daí até ao apêndice xifóide. Marcar com marcador ou fita adesiva apropriados; - Lubrificar a ponta sonda; - Introduzir lentamente a sonda pelo nariz, não forçar demasiado; - Para facilitar a chegada ao estômago pode-se pedir ao doente que engula aquando da passagem da faringe. - Para averiguar se a sonda chegou ao estômago é importante executar um ou dois dos seguintes procedimentos. • Verificar se há saída de conteúdo gástrico pela sonda (através da força gravidade; • Aspirar com uma seringa o conteúdo gástrico; • Auscultar o estômago enquanto se injecta 30ml de ar pela sonda, para ouvir a sua entrada; • Colocar a ponta da sonda dentro de um recipiente de água com sabão; se fizer bolhas é porque não está no estômago, mas sim no aparelho respiratório. - Fixar com adesivo a sonda ao nariz, orientando-a para baixo; - Prender, também com adesivo, à roupa do idoso; - Fazer uma marca na sonda pelos bordos da narina de forma a facilitar a verificação da sua posição; - Tapar a extremidade da sonda, ou conectá-la ao sistema regulador de débito ou outro, se for caso disso; - Registar a data deste procedimento. CUIDADOS ESPECÍFICOS - Estar atento a sinais como tosse, cianose ou dificuldade respiratória. Estes podem significar que as vias respiratórias estão a ser invadidas. Neste caso a sonda deve ser retirada imediatamente; - Quando for necessário retirar a sonda nasogástrica deve ser introduzido um pouco de ar para a descolar da mucosa; - O adesivo que fixa a sonda ao nariz, não deve ser adesivo de tecido, uma vez que este facilita o aparecimento de lesões. Devem ser utilizados os adesivos próprios para a pele. 32 7/23/07 2:20 PM Page 33 3 . ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA formando_alimentacao.qxp FICHA DE PROCEDIMENTO Nº 2 ADMINISTRAÇÃO DA ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA PREPARAÇÃO DO DOENTE - Colocar o idoso numa posição de sentando ou semi-sentado (caso não seja possível deitado de lado), antes e depois da administração. Este é um aspecto muito importante pois, na posição de decúbito (deitado), é possível haver refluxo, o que aumenta a probabilidade de regurgitação (retorno do bolo alimentar à boca) e consequente aspiração brônquica (entrada de conteúdo gástrico para os brônquios); - Assegurar que o estômago está vazio para prevenir situações de enchimento exagerado. Para isso deverá ser retirado conteúdo gástrico com a seringa. PROCEDIMENTO - Acoplar a seringa ou a embalagem com o preparado à sonda; - Encher lentamente o estômago, para evitar possíveis vómitos ou desconforto do idoso (se existir um regulador de débito ou a administração gota a gota, é automático); - Ao iniciar este tipo de alimentação, a introdução deve ser feita com um aumento progressivo das doses. Exemplo: começar com uma dose correspondente a 500kcal/dia e ir aumentando cerca de 300kcal por dia até atingir os valores estipulados para aquela pessoa; - É também possível administrar medicamentos por esta via, sendo preferíveis os medicamentos em suspensão ou solúveis para evitar o entupimento da sonda; - No final da administração não esquecer de lavar a sonda e tapar a sua extremidade. (Nos casos do fornecimento contínuo, os procedimentos adaptam-se sempre que seja mudada a embalagem do produto nutritivo.) CUIDADOS ESPECÍFICOS Higiene e Segurança - Assegurar que o ambiente que rodeia o idoso está em perfeitas condições de higiene e ter atenção para que o material não entre em contacto com superfícies sujas; - Lavar e secar as mãos antes e depois do manuseamento da sonda; - No caso da sonda nasogástrica, fazer a higiene das fossas nasais com cotonete embebido em soro fisiológico e hidratar com vaselina; - No caso da gastrostomia, limpar o ponto de penetração cuidadosamente; - Garantir que a cavidade bucal e a faringe estão desimpedidas; - Manter bem limpa a extremidade da sonda; - Conservar a sonda lavada e permeável, sendo para isso necessário administrar 50ml de água no final de cada administração; Vigilância e Manutenção - Verificar se está bem colocada (se a marca está no local apropriado) periodicamente; - Mudar o adesivo de fixação da sonda de 24 em 24 horas, para evitar que a sonda se solte e que possam aparecer feridas; - Mobilizar a sonda (24 em 24 horas), mudando o ponto de apoio para prevenir o aparecimento de úlceras de pressão; - Ter atenção à duração do material, embora dependa do fabricante, em muitos casos as seringas, por exemplo, só devem ser utilizadas por 24 horas. 33 3 . ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 34 ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA TIPOS DE ALIMENTOS UTILIZADOS NA ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA PRODUTOS DE ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA INDUSTRIAIS A administração que é feita pelo processo entérico pode ser de dois tipos: alimentos confeccionados e devidamente preparados para a introdução na sonda nasogástrica ou produtos industriais, constituídos por misturas nutritivas, prontos para serem administrados. Existem diversos tipos de dietas: hiperproteicas, energéticas, com suplemento de fibras, adaptadas a doenças específicas e às necessidades alimentares por elas induzidas, entre outras. Nos casos em que se utilizam produtos para aplicação entérica industriais, a administração é feita através de uma embalagem, não sendo necessário recorrer ao uso de seringa. O sistema de adminis- tração mais frequente é por acção da gravidade, sendo também possível a utilização de uma bomba, tanto para a forma intermitente como gota a gota. Quando há recurso a este tipo de preparado, os medicamentos não devem ser misturado na embalagem do produto, mas sim dados através de uma seringa. A sonda deve ser lavada antes e depois da sua introdução. PRODUTOS DE ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA ARTESANAIS É possível elaborar dietas “caseiras”, caso existam condições e cuidadores devidamente informados e capacitados para as prepararem. São à base de sopas, enriquecidas com carne e peixe, devendo, salvo indicação em contrário, obedecer aquilo que já foi referido anteriormente para um sustento equilibrado nos idosos. A preparação das refeições não é complexa, no entanto requer alguns cuidados que devem ser escrupulosamente seguidos, como é evidenciado no quadro 3.1. QUADRO 3.1 - PREPARAÇÃO DE ALIMENTOS PARA ADMINISTRAÇÃO ENTÉRICA 1. Limpar o local da preparação e os utensílios que vão ser utilizados para a confecção. 2. Caldos, sopas e frutas - Lavar bem e descascar os alimentos; - Cozer os ingredientes: carne, peixe, legumes, arroz, massa, frutas; - Aproveitar a água da cozedura e triturar muito bem até adquirir uma consistência líquida (ter atenção para que não entupam a sonda). 3. Papas e batidos de leite - Escolher papas não granulosas; - Assegurar que a quantidade de água ou leite é suficiente, para dissolver até adquirir uma consistência liquida; - O leite ou a água devem estar quentes, para dissolver melhor; - Os batidos devem ser feitos com frutas que se dissolvam inteiramente, caso isto não aconteça, devem ser passados por um coador. 4. Verificar a temperatura e deixar arrefecer se estiver muito quente, para evitar queimaduras. 5. Colocar o conteúdo na seringa e administrar. QUADRO 3.2 - QUADRO SÍNTESE DE CUIDADOS E VIGILÂNCIA Controlar o ponto de verificação da sonda (marca). Caso não se encontre bem colocada, deve ser o enfermeiro a recolocar; Não esquecer os cuidados de higiene diários do nariz, da boca (mesmo que não haja deglutição), no caso de gastrostomia, do ponto de penetração; Manter o doente sentado ou semi-sentado durante e após a alimentação entérica para evitar o vómito e a regurgitação; Lavar sempre a sonda antes e depois administrações, tanto dos preparados nutritivos, como da medicação; Sempre que possível privilegiar a ingestão oral insistindo com o doente para mastigar e engolir. 34 7/23/07 2:20 PM Page 35 SÍNTESE ADMINISTRAÇÃO DE ÁGUA E CUIDADOS DE HIDRATAÇÃO Também por sonda a hidratação é imprescindível para o bem-estar e equilíbrio do idoso, é necessário ter cuidados a este nível. Por dia deve ser introduzido através da seringa cerca de 1,5l de água, para além da água da lavagem da sonda. Este valor deve aumentar caso existam percas importantes (vómitos, diarreia, sudação). No quadro 3.2 é apresentada uma síntese dos cuidados a ter com a sonda. 3 . ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA formando_alimentacao.qxp A alimentação entérica é uma forma de nutrição indicada para situações em que através da via oral não é possível fornecer um aporte suficiente de nutrientes. A nutrição entérica pode ser parcial ou exclusiva, consoante seja possível ou não a utilização da via oral (introdução de alimentos através da boca). As vias de administração mais utilizadas no idoso são a sonda nasogástrica e a gastrostomia percutânea endoscópica. A primeira consiste na introdução de um tubo pelo nariz, atravessando o tubo digestivo até ao estômago e a segunda resulta da colocação de uma cânula (também vulgarmente chamada sonda) que atravessa directamente o estômago. A gastrostomia percutânea endoscópica é feita através de uma cirurgia simples, enquanto que a colocação da sonda nasogástrica pode deve ser feita por técnicos de enfermagem. No entanto os cuidados de higiene, manutenção, vigilância e administração poderão ser executados pelos cuidadores devidamente ensinados. Também a preparação de refeições artesanais pode ser feita em casa, seguindo todos os procedimentos de higiene e segurança. 35 3 . ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 36 ACTIVIDADES ACTIVIDADES PROPOSTAS 1. Elabore um plano diário de cuidados a prestar a idosos alimentados por sonda (nasogástrica ou gastrostomia) para aplicar numa enfermaria de um lar. É importante que contenha: cuidados de higiene e manutenção ao longo do dia, administração da alimentação e preparação da refeição. ACTIVIDADES DE AVALIAÇÃO 1. O que é alimentação entérica? 2. Quais as diferenças entre sonda nasogástrica e gastrostomia percutânea endoscópica? 3. Imagine que tem um idoso a seu cargo com sonda nasogástrica. Que cuidados de higiene, manutenção e vigilância deve ter? 4. Analise as seguintes frases, e verifique a sua falsidade ou veracidade, justificando as falsas. 4.1. Não se podem administrar preparados artesanais (caldos, papas liquidas) através da cânula da gastrostomia. 4.2. O idoso deve permanecer deitado de barriga para cima enquanto é feita a alimentação por sonda, para que o alimento se possa espalhar bem no estômago. 4.3. A colocação da sonda nasogástrica deve ser feita exclusivamente por médicos ou enfermeiros. 4.4. O idoso que está sujeito a alimentação entérica não pode “comer” (através da via oral) sequer uma bolacha. 4.5. Para além da água introduzida nas sondas para fazer a lavagem é necessário administrar cerca de 1,5 l de água diariamente. 36 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 37 A NUTRIÇÃO DO IDOSO: 4 ASPECTOS SOCIAIS E DIETAS ADEQUADAS A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO 4 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 38 A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA OBJECTIVOS GERAIS • Especificar aspectos psicossociais da alimentação do idoso; • Identificar quais os factores a ter em conta ao elaborar uma ementa; • Preparar uma ementa para um grupo específico, adaptada às suas necessidades; • Elaborar um plano alimentar de acordo com os conhecimentos gerais, para o caso particular de um idoso. ASPECTOS PSICOSSOCIAIS DA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO A representação que os alimentos têm para a população idosa varia consoante o nível sócio-económico, a região onde vivem, as crenças religiosas e a cultura dominante. Com a passagem de tempos de austeridade para uma época de abundância, modificou-se a forma como a alimentação é encarada. Para muitos o facto de haver mais fartura é sinónimo de bem-estar, o que os leva a consumir de forma excessiva os alimentos a que anteriormente o acesso estava mais condicionado (bolos, carne, peixe). O valor simbólico do acto de comer difere também entre os idosos. A componente intergeracional das refeições em conjunto é um factor fundamental para os que dividem a casa com a família. O convívio com os mais novos, num ambiente amistoso e integrador estimula o apetite e a vontade de partilhar momentos. Para quem vive sozinho, tomar a refeições pode tornar-se num acto penoso, que progressivamente tende a ser evitado. Na instituição este acto trivial ganha sentido se houver bom ambiente e investimento por parte da “casa” para tornar os repastos em momentos agradáveis. Para quem vive num lar, alimentar-se, pode tornar-se no acto mais importante do quotidiano. Isto acontece frequentemente, quando o dia-a-dia não é preenchido com actividades ocupacionais e de animação. Nestes casos os idosos centram-se demasiado nas ementas, nas comidas e em todos os pormenores envolvidos, servindo o tema muitas vezes de actividade principal diária. Esta situação acaba por causar dificuldades aos responsáveis já que os defeitos não tardam em surgir, tornando-se complicado tentar corresponder de forma positiva às altíssimas expectativas criadas. Os contextos, as circunstâncias e o meio que rodeia, interferem na realização de uma dieta adequada e podem constituir diferentes obstáculos. No âmbito institucional surgem uma série de dificuldades, que se prendem com aspectos como a despersonalização do atendimento, a fraca apresentação dos pratos, e a qualidade dos mesmos. No domicilio, outro tipo de problemáticas podem impedir o idoso de ter uma nutrição saudável e ajustada às suas necessidades, como o facto de comer sozinho, e em alguns casos, as refeições serem incompletas, não equilibradas e variadas o suficiente. Acresce ainda o facto de não querer cozinhar só para ele, “petiscando” apenas qualquer coisa, ao longo do dia (Ferry & Alix, 2004). 38 7/23/07 2:20 PM Page 39 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp AS DIETAS ADEQUADAS: ELABORAÇÃO DE EMENTAS PREPARAÇÃO DA EMENTA Uma nutrição saudável caracteriza-se por ser: • Completa, composta por todos os grupos alimentares; • Equilibrada, consumindo maiores porções dos alimentos que pertencem aos grupos maiores, e menor quantidade de alimentos pertencentes a grupos pequenos; • Variada, o que implica uma escolha diversificada dentro de cada grupo. Sendo utilizadas essencialmente nas instituições, as ementas implicam uma previsão das escolhas alimentares a colocar em prática. O seu uso pode ser também sugerido para os idosos no domicílio, pois orienta e assegura maior equilíbrio das opções. Apesar de alguns inconvenientes que podem ser ultrapassados, como o facto de não contemplarem o desejo momentâneo de determinada comida, é um instrumento precioso, que permite, para além do planeamento, uma avaliação qualitativa do que é ingerido. A sua preparação deve ser feita por uma equipa multidisciplinar: nutricionista, cozinheiro, responsável geral, responsável pelo economato (no caso de existir) e representantes dos utilizadores. Por questões práticas, poderá ser mais rápido e eficiente a elaboração de um esboço por parte do nutricionista e cozinheiro e depois constituir uma comissão para que possam ser discutidas as escolhas. A presença de utentes nos momentos de decisão pode ser essencial para o sucesso de uma cozinha de um lar ou centro de dia (Ferry & Alix, 2004). É importante escutar quais são as preferências e expectativas em relação à alimentação e levá-las em conta, para que as opções sejam do agrado daqueles a quem se dirigem. Os nutricionistas, ou cozinheiros, optam por sequências de refeições e determinados pratos com base em critérios nutricionais, ou por uma questão de optimização da cozinha. Por exemplo: o nutricionista escolhe peixe para o jantar, por ser de mais fácil digestão, enquanto que o cozinheiro prefere passá-lo para o almoço, para o poder fazer frito, pois à hora do jantar não tem pessoal suficiente para fazer os fritos. O nutricionista, ou técnico responsável pela elaboração das ementas, pode ainda levar a cabo iniciativas, que lhe permitam chegar mais próximo dos hábitos alimentares dos indivíduos. Uma das hipóteses é a feitura de uma ficha de “gostos” onde são indicadas as preferências dos idosos que utilizam determinado serviço. Aqui podem ser registados, os pratos eleitos, bem como aqueles que não são tolerados, alimentos que não podem comer, estrutura das refeições (ex: jantar só sopa, ou beber só leite manhã), formas preferenciais de confecção de alimentos e outros aspectos que ajudem a personalizar os menus e a ir ao encontro das expectativas. Existe ainda o factor económico: quer nos lares e centros de dia, quer na casa dos utentes, é necessário fazer um ajuste das iguarias escolhidas ao orçamento previamente concebido. Também as condições de higiene são um imperativo na decisão dos manjares que compõem a lista. Algumas formas de confecção tradicionais, bem como alguns produtos, não têm espaço na restauração colectiva, e isso deve ser transmitido aos utentes já que se torna difícil para estes compreenderem o porquê da omissão de algumas especialidades gastronómicas com as quais simpatizam. Nas instituições é importante criar espaços e locais para falar sobre a alimentação. A exposição da lista é um aspecto muito importante, pois permite antecipar o que vai ser a comida e, caso de não agrade, pensar em alternativas para pedir na cozinha, comprar no bar, ou ir à rua. 39 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 40 A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA A realização de sessões ao nível da animação social, em que participem a nutricionista e o cozinheiro são uma forma de abordar o tema. É um espaço onde se podem trocar impressões sobre a qualidade dos serviços prestados pela cozinha, as escolhas mais saudáveis, e os hábitos culturais, constituindo uma mais valia e um veículo para a satisfação de todos. Outras actividades como jogos relacionados com os alimentos e nutrientes, exercícios que envolvam o paladar, o olfacto e ateliers de cozinha em que são realizadas receitas sugeridas pelos utentes, e preparadas por eles também podem ser desenvolvidas. ESTRUTURA E CONSTITUIÇÃO DAS EMENTAS Por dia, os idosos devem fazer 5 a 6 refeições: pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar e ceia. Esta organização depende da hora de levantar e de comer. Pode acontecer que, se a hora de levantar for às 7.00 horas e a hora de almoço às 13.00, a meio da manhã deva ser feito um pequeno lanche. Diárias, semanais, ou por períodos de tempo mais longos, são vários os formatos em que podem aparecer e geralmente apenas constam as refeições principais (almoços e jantares), indicando os pratos que vão ser apresentados. É frequente os lanches e a ceia não constarem, no entanto, fica ao critério da equipa que a organiza. Não são apontadas as quantidades, aparecendo a designação que o cozinheiro dá e em alguns casos torna-se pertinente colocar uma breve explicação para que saibam o que se vai comer. Depois de haver uma pesquisa dos hábitos e preferências alimentares, existem outros aspectos importantes a ter em conta para elaborar as ementas. No quadro 4.1 são apresentados alguns deles. As refeições principais devem incluir sopa, prato e sobremesa e é assim que devem constar nas ementas, cuja estrutura e constituição deve seguir algumas directivas para que se possam adequar às necessidades dos idosos a quem se destinam: • Haver alternância diária entre o peixe e carne, ao almoço e ao jantar (se ao almoço é carne, ao jantar deve ser preferido o peixe). • O peixe deve ser preferencialmente consumido ao jantar; • A carne não deve ser em excesso, recaindo as escolhas sobre as magras (peru, coelho, frango), removendo-se a gordura visível (dentro do possível); • Não existem restrições ao nível do tipo de peixe. No entanto, é necessário estar atento, principalmente nos casos em que os seniores estão no domicílio, porque na sua preparação (grelhado, assado) tendem a salgá-lo em demasia. QUADRO 4.1 - ASPECTOS IMPORTANTES NA ELABORAÇÃO DE EMENTAS Conhecer os gostos e hábitos dos idosos consumidores das refeições; Preparar especialidades típicas, recorrendo a receitas antigas e a alimentos menos utilizados e fora de moda, por exemplo: migas, mangusto, roupa velha; Utilizar pratos sazonais, adaptando as escolhas às estações do ano, por exemplo: saladas e grelhados no verão e cozido à portuguesa no Inverno; Aproveitar as festas (Natal, Páscoa, dias comemorativos) para oferecer uma diversidade maior de iguarias, permitindo satisfazer o desejo expresso pelos utentes; Criar sempre uma alternativa de “dieta” para quem pontualmente não possa fazer a refeição estabelecida. Nestes casos é também salvaguardada a hipótese de, se alguém não gostar ou não lhe apetecer, poder pedir outra coisa; As comidas devem ser ricas em nutrientes e atractivas (bem apresentadas e a uma temperatura adequada); 40 7/23/07 2:20 PM Page 41 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp • A carne e o peixe podem ser substituídos pelos ovos algumas vezes; • Os acompanhamentos devem ser alternados, evitando a repetição de arroz, batata e massa ao longo do dia (incluindo na sobremesa); • As leguminosas devem ser utilizadas preferencialmente na sopa (feijão, grão, ervilhas, favas), no entanto, podem ser consumidos enquanto acompanhamentos sob a forma tradicional, cozinhados com receitas saborosas e que podem ser do agrado dos seniores (ovos com ervilhas); • É preferível escolher legumes da época; • As saladas ou legumes são indispensáveis em todas as refeições; • As sopas devem ser de legumes e o mais variadas possível, tentando ir ao encontro dos gostos e das tradições; • A gordura de eleição é o azeite, tanto para a confecção dos alimentos, como para adição no prato; • Na sobremesa privilegia-se a fruta crua, o mais variada possível, que em alguns casos pode ser cozida ou assada; • A sobremesa doce está limitada a três vezes por semana, prefererindo-se as lácteas (leite-creme, arroz-doce, pudim, aletria) ou a gelatina; • O consumo dos produtos lácteos deve ser feito com a periodicidade de duas a três vezes por dia sob a forma de leite, queijo, iogurte, doces de colher e outro tipo de preparados; • Dos tipos de confecção e de preparação dos alimentos são preferidos: os cozidos e estufados em cru, bem como grelhados e assados (no capitulo 6 serão abordados); • Os fritos devem ser consumidos esporadicamente e preferencialmente ao almoço; • Variar a escolha da forma de confecção (por exemplo não confeccionando fritos para o almoço e para o jantar); • Ter atenção ao tipo de associação de alimentos (por exemplo, panados com batata frita); • Combinar a consistência dos preparados culinários (por exemplo, utilizar passados e triturados). Em seguida é apresentada uma hipótese para uma ementa semanal a utilizar numa instituição (lar, centro de dia, hospital). A configuração pode ser criativa e passível de modificações, não esquecendo que deve ser perceptível e que o público alvo são os idosos. 41 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 42 A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA EMENTA SEMANAL 42 2ª Feira Almoço Sopa Lombardo Jantar Saloia Prato Carne de porco assada à Padeiro Peixe-espada grelhado com nabiça salteada com arroz de legumes Sobremesa Fruta da época Gelatina de Morango Dieta Pescada cozida com batata e cenoura Febras Grelhadas com arroz branco 3ª Feira Almoço Jantar Sopa Creme de cenoura Couve portuguesa Prato Jardineira de vitela Pescada à alentejana Sobremesa Laranja fatiada Fruta da época Dieta Jardineira simples (sem tempero) Pescada Corada 4ª Feira Almoço Jantar Sopa Juliana Agrião Prato Frango estufado com esparguete Bacalhau com natas Sobremesa Maçã assada Fruta da época Dieta Bife de frango grelhado Bacalhau cozido 5ª Feira Almoço Jantar Sopa Feijão com hortaliça Repolho Prato Ovos escalfados com ervilhas Salmão com batata e brócolos Sobremesa Leite creme Ananás natural fatiado Dieta Carne de vaca cozida com batata, couve e cenoura Abrótea cozida 6ª Feira Almoço Jantar Sopa Camponesa Horta Prato Rolo de carne com estufado de legumes Corvina assada à portuguesa Sobremesa Queijo com banana Fruta da época Dieta Arroz de carne simples Corvina grelhada Sábado Almoço Jantar Sopa Grão Alho francês Prato Peru assado à padeiro Pasteis de bacalhau com arroz de grelos Sobremesa Salada de fruta Pêra cozida Dieta Frango cozido Peixe assado simples Domingo Almoço Jantar Sopa Nabiça Legumes Prato Carne de vaca estufada com arroz de cenoura Soufflé de peixe com salada de tomate Sobremesa Leite-creme Papaia fatiada com vinho do porto (opcional) Dieta Carne de vaca estufada ao natural Peixe cozido com legumes 7/23/07 2:20 PM Page 43 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp Para avaliar qualitativamente as ementas criadas, tendo em conta o critério do equilíbrio alimentar, é possível atribuir um sistema de cores a diferentes grupos de alimentos, o que facilita a visualização e permite uma análise rápida. Assim: • • • • • • Produtos lácteos: azul Carne, peixe e ovos: vermelho Frutas e legumes crus: verde claro Frutas e legumes cozidos: verde escuro Gorduras: amarelo Hidratos de carbono: castanho O plano alimentar é um registo que organiza sequências nutricionais adequadas para um dia ou semana e constitui um auxílio para os idosos e cuidadores. A título de exemplo, no quadro 4.2 é apresentado um esquema diário. O facto de o plano alimentar ilustrar exemplos concretos, facilita a escolha dos alimentos e a forma como são tomados. A sua elaboração tem como base os hábitos alimentares dos indivíduos e as suas preferências. Também ao nível institucional, as indicações das quantidades por prato, podem ser importantes para que os cozinheiros possam fazer um cálculo das porções. QUADRO 4.2 - EXEMPLO DE UM ESQUEMA DE REFEIÇÕES DIÁRIAS EQUILIBRADAS Pequeno - Almoço 1 tigela de leite (1/4 litro) + café +10g de açúcar 2 fatias de pão (50g) + 10g de manteiga 1 copo de sumo de fruta Almoço 100g de legumes verdes cozidos ou crus + 10g de azeite + vinagre 100g de carne (ou equivalente) 150g de massa, ou arroz, ou batata 1 iogurte + 10g de açúcar 1 peça de fruta fresca 2 fatias de pão (50g) Café + 10g de açúcar Lanche 1 chávena de leite (1/8 l) com chocolate 1 fatia de pão + 5g de manteiga 1 compota (dose individual) Jantar Sopa de legumes contendo 50 g de batatas + 5g de azeite 1 prato de legumes verdes 1 fatia de queijo (30g) 1 sobremesa láctea (Ex.: pudim) 2 fatias de pão Adaptado de Ferry & Alix, 2004 43 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 44 SÍNTESE A alimentação tem aspectos psicossociais que devem ser tidos em conta já que interferem directamente com a forma como idoso se alimenta. O valor simbólico das refeições, assim como o contexto e as circunstâncias a que estão associadas, relacionam-se com o tipo e a quantidade de alimentos consumidos. Quem vive numa instituição está sujeito a uma série de especificidades, diferentes de quem está em casa. Estando sozinho, o valor simbólico da refeição remete para aspectos depressivos e traduz-se em ainda maior dificuldade em se mobilizar para uma dieta correcta. Na instituição (lar, centro de dia), beneficia da dimensão social, partilhando o momento com outras pessoas, embora do ponto vista alimentar as escolhas sejam mais reduzidas (obrigatoriedade de uma lista) e em alguns casos a qualidade e o sabor não sejam muito estimulantes para o apetite. A realização de uma dieta adequada é assegurada pela elaboração de ementas que primam pela variedade dos alimentos, pelo equilíbrio na constituição dos pratos, pela escolha de modos de confecção apropriados às necessidades dos idosos. Estas devem ser compostas por equipas multidisciplinares e é importante não esquecer a participação dos próprios utentes. 44 7/23/07 2:20 PM Page 45 ACTIVIDADES 4 . A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS SOCIAIS E DIETA ADEQUADA formando_alimentacao.qxp ACTIVIDADES PROPOSTAS 1. Construa para si próprio uma ementa semanal, seguindo as indicações dadas para a sua elaboração. Teste-a e analise no final da semana, o que possa ter corrido mal e o que mudaria. ACTIVIDADES DE AVALIAÇÃO 1. “O contexto e as circunstâncias onde o idoso se encontra podem influenciar a alimentação.” De que significado se reveste o acto de comer num lar, em casa sozinho, e com a família? 2. Qual a utilidade de uma ementa? 3. Quais as fases/passos que devem ser seguidos para elaborar uma ementa e quais os intervenientes envolvidos? 4. Indique uma estrutura de ementa possível para uma instituição. 5. Analise as seguintes frases e verifique a sua falsidade ou veracidade, justificando as falsas. 5.1. Os idosos devem comer canja dia sim, dia não. A canja é um prato rico e apropriado para “debilitados”. 5.2. O almoço da Casa de Descanso, é arroz de frango e o que está previsto na ementa para o jantar é empadão de arroz. Esta é a forma mais correcta de elaborar a ementa pois é uma questão de aproveitamento, e assim os idosos não comem arroz de frango requentado. 5.3. O consumo diário de carne, peixe ou ovos deve ser respeitado. 5.4. Os idosos devem comer exclusivamente alimentos cozidos, pois é o mais fácil de mastigar. 5.5. Os idosos não devem comer, sopa, prato, e sobremesa/fruta pois é demasiada comida. É preferível que comam um pouco mais de prato principal e evitem ou a sopa ou a sobremesa/fruta. 45 formando_alimentacao.qxp 46 7/23/07 2:20 PM Page 46 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 47 ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO 5 A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO 5 5 . ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 48 ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO OBJECTIVOS GERAIS • Indica os cuidados nutricionais específicos a ter com determinadas doenças; • Descreve os distúrbios alimentares mais comuns: anorexia e recusa da alimentação; • Identificar formas de actuar, quando surgem dificuldades alimentares. CUIDADOS NUTRICIONAIS EM FUNÇÃO DA DOENÇA Algumas doenças comuns nos idosos carecem de regimes alimentares adequados, por vezes com restrições e regras próprias. As dietas dependem da especificidade dos casos e são prescritas por técnicos (médicos, enfermeiros, nutricionistas) existindo, no entanto algumas indicações alimentares gerais. Abordaremos aqui de forma resumida e generalista alguns cuidados para uma das patologias mais frequente na população geriátrica e que mais condiciona a alimentação - a diabetes. Esta abordagem não dispensa a avaliação da situação por parte dos médicos e técnicos de saúde implicados. DIABETES A diabetes é uma doença que se caracteriza por um aumento da glicose no sangue (hiperglicémia) devido a uma incapacidade de produção de insulina (necessária para a utilização da glicose), ou acção insuficiente da mesma. Assim sendo, o regime alimentar tem que ser ajustado e é importante que o indivíduo, ou o cuidador, tenham conhecimentos suficientes para pôr em prática uma alimentação equilibrada para esta patologia. Algumas indicações: • Fazer 6 refeições por dia (pequeno-almoço, lanche matinal, almoço, lanche, jantar e ceia), preferencialmente, ligeiras, mas completas. O doente não deve ficar mais de 2 a 3 hora sem comer durante o dia e, à noite, cerca de 8 horas. Ao alimentar-se com regularidade previne situações de aumento brusco da glicemia, uma vez que o aporte de glicose é pouco de cada vez. • A ingestão de hidratos de carbono não deve ser inferior a 180g/dia. • Preferir os hidratos de carbono de absorção lenta: alguns deles são ricos em fibra e com baixíssimos teores de gordura, sendo por isso indicados para a alimentação diária do diabético. • Os hidratos de carbono de absorção rápida (açúcar, doces, refrigerantes, mel, compotas, frutas cristalizadas, passas) são reservados apenas paradias de festa, sempre em quantidades muito reduzidas. • O consumo de frutas e hortícolas é indispensável para o equilíbrio alimentar e reveste-se de particular importância no diabético. As fibras ingeridas retardam a absorção dos açúcares, evitando a 48 7/23/07 2:20 PM Page 49 5 . ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp hiperglicémia. Relativamente à fruta são indicadas 3 peças por dia, tendo em atenção o seu potencial calórico. • As gorduras em excesso podem aumentar os níveis de glicemia, pelo que é aconselhado moderar o consumo de fritos, canjas e outros caldos gordos e racionalizar o de queijos gordos, carne gorda, enchidos, manteiga, natas. • O azeite é a gordura de eleição; • As necessidades proteicas são idênticas, indicando-se as proteínas de origem animal e vegetal; • O consumo de sal é permitido, embora em quantidades moderadas, salvo indicação em contrário; • Ingerir cerca de 1,5l de água por dia; • Os substitutos do açúcar (aspartame, sacarina e outros) podem ser utilizados pelos diabéticos, visto que o seu teor calórico é praticamente nulo. Alguns alimentos com denominação light contêm estes adoçantes e devem ser preferidos por estes doentes, embora sempre consumidos com moderação. Todas estas alterações aos hábitos alimentares, são potenciais desencadeantes de quadros depressivos. É essencial um cuidado acrescido ao acom- panhar estas situações de forma a não “proibir”, mas sim a explicar a importância de equilibrar as quantidades e diversificar o tipo de alimentos. Importa referir que o idoso não deve ser forçado a uma dieta demasiado restritiva pois, do ponto de vista psicológico, pode conduzi-lo a situações de anorexia, ou recusa alimentar. OUTRAS DOENÇAS E SINTOMAS O quadro 5.1 resume alguns cuidados alimentares em função das doenças que mais frequentemente afectam os idosos, para além da diabetes, e para as quais pode haver benefício em alterar os hábitos alimentares. A diarreia é um sintoma que surge com alguma frequência, pelo que é necessário actuar e tomar medidas do ponto de vista alimentar. A ingestão de líquidos (agua ou chá fraco) é fundamental para evitar os riscos de desidratação. Os alimentos recomendados são: torradas (sem manteiga), água com farinha, cenoura e arroz cozido em caldo. QUADRO 5.1 - DOENÇAS FREQUENTES NOS IDOSOS E CUIDADOS ALIMENTARES Obstipação Beber muita água de forma regular ao longo do dia (nunca menos de 1,5l); Ingerir alimentos ricos em fibras, por exemplo farelo de trigo (faz aumentar o peso das fezes, melhorando o trânsito intestinal). Determinados frutos como kiwi, a ameixa e a laranja são conhecidos pelas suas propriedades laxantes. Escaras Deve haver um aporte hipercalórico (com elevado teor de calorias) e hiperproteico (com ele vado teor proteico). Os doentes devem ter acesso a suplementos ricos em calorias e proteínas. Caso a alimentação oral esteja comprometida, deve ser avançada a hipótese da nutrição entérica. Osteoporose Uma alimentação rica em cálcio é essencial e este deve ser proveniente do leite e produtos lácteos, dos vegetais de folha verde (espinafres, bróculos) e peixes com muitas espinhas. Também os amendoins, as amêndoas e figos secos contêm uma quantidade elevada de cálcio, apesar de conterem mais gordura. Doenças O consumo excessivo de sal é dos principais factores que do ponto de vista alimentar cardiovasculares interfere com os problemas cardiovasculares, como a hipertensão arterial. Nos idosos, quer por uma questão cultural, quer pela diminuição do paladar, este é um mau hábito difícil de corrigir. Também as gorduras devem ser evitadas, especialmente carne gorda, salsichas, queijo e leite gordo. No caso de obesidade ou excesso de peso, deve ser feita uma alimentação menos calórica, com vista a perder peso e reduzir o risco deste tipo de doenças. Gota úrica Deve haver um cuidado acrescido com a hidratação. As bebidas alcoólicas devem ser evitadas, ou eliminadas. A carne de animais jovens e de caça, bem como os mariscos, devem ser abolidos ou consumidos com muita moderação. 49 5 . ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 50 ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSOO DISTÚRBIOS ALIMENTARES MAIS FREQUENTES NOS IDOSOS Os principais distúrbios alimentares estão relacionados com as limitações que vão surgindo ao longo da vida e são por vezes sintomas de patologias quer do foro fisiológico, quer psicológico. A anorexia e a recusa de alimentos são dos mais recorrentes e perigosos na população idosa. Desta forma aprofundaremos estes dois, apontando, no final um resumo de outro tipo de perturbações ou alterações do comportamento alimentar. ANOREXIA Como anteriormente foi definida traduz-se por uma falta de apetite, perda de desejo e prazer em comer. Constitui simultaneamente causa, sintoma e consequência de má nutrição, mas pode estar relacionada com outros factores, para além da má nutrição. Pode ter como causas factores psicológicos, como a morte ou doença de alguém próximo, o isolamento, a entrada para uma instituição e consequente processo de adaptação. De uma maneira geral, os estados depressivos e a demência conduzem também à falta de apetite. Assim como algumas dietas exageradas que reduzem a alimentação à ingestão de pratos pouco saborosos. Também alguns medicamentos actuam de forma a que o paladar seja diminuído, ou a alterações a nível da digestão, o que pode contribuir para a fraca vontade de comer. Existem também patologias que são responsáveis pela anorexia, como problemas bucodentários, muito frequentes nos idosos; patologias digestivas como úlceras, ou tumores; infecções, ou reacções inflamatórias; problemas de deglutição devidos a patologias neurológicas; alcoolismo; entre outras. Para actuar nos casos em que se manifesta este distúrbio, os cuidadores devem procurar tornar as refeições mais apetitosas, atractivas e variadas. Deve-se rever as dietas e verificar, quais as preferências alimentares do idoso, de forma a ir ao encontro dos seus gostos. Fornecer várias refeições ao longo do dia, de pequenas quantidades, pode ajudar a aumentar o apetite, pois o estômago não fica demasiado cheio, dando logo uma sensação de saciedade (Ferry & Alix, 2004). Os suplementos nutritivos, como pudins, ou cremes hipercalóricos e algumas bebidas, que podem ser ingeridas no intervalo das refeições, vão suprir as necessidades dos doentes. Estimular a ingestão de água, sumos, ou caldos, é também importante para prevenir a desidratação. No quadro 5.2. estão descritos alguns alimentos de alto valor nutritivo a que se deve recorrer nos casos de risco nutricional. Existem alguns pequenos “truques”, como estimular o apetite com um pequeno cálice de vinho do porto, antes da refeição servindo de aperitivo, se o sénior gostar e não houver qualquer contra-indicação. O exercício físico, através de uma caminhada antes das refeições, também poderá ajudar a “abrir o apetite”. QUADRO 5.2 - ALIMENTOS E PRODUTOS NUTRITIVOS 50 Pratos salgados nutritivos e fáceis de comer Salgados (croquetes, pasteis de bacalhau, rissóis), de preferência confeccionados em casa com a garantia de que os produtos são de qualidade, e em vez de fritos, finalizados no forno; tortilhas; omeletas; massas (lasanha, ravioli); legumes recheados; soufflés (peixe, carne), mousse de peixe, carne e legumes; purés enriquecidos com ovo, queijo, e leite; almôndegas; empadão de carne e peixe; bacalhau espiritual; sopas enriquecidas com carne, ovos, natas frescas; açordas. Pratos doces enriquecidos Pudins; arroz doce; leite-creme; fatias douradas; gelados de leite (caseiros de preferência); batidos de leite. Alimentos que enriquecem os preparados alimentares Ovos; fiambre; leite; leite em pó; queijo ralado; carne picada, salsicha; pão; pós de proteínas; proteínas; pós energéticos. Produtos alimentares ricos em proteínas Cremes, caldos, batidos, sumos de fruta natural; produtos geralmente utilizados para crianças (papas, boiões de fruta com liete, sobremesas, iogurtes enriquecidos); 7/23/07 2:20 PM Page 51 5 . ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp RECUSA DE ALIMENTOS A recusa de alimentos implica uma atitude de rejeição da alimentação, que difere da anorexia pela falta de patologia associada e pelo diagnóstico difícil. O idoso não corresponde aos pedidos e solicitações para se alimentar e quando tentam mais activamente dar a comida na boca, empurra a mão, fecha a boca e não tolera que a comida lá chegue. Este acto de grande agressividade para o próprio pode significar uma afirmação última num conflito com quem o rodeia e consigo, em jeito de expressão da sua liberdade. Ao decidir que não se alimenta, está a exercer o controlo sobre o seu próprio corpo, que pode servir de aviso para quem cuida. O conflito pode representar uma chantagem, ou ser sintoma de uma situação angustiante, com a qual não é capaz de lidar de outra forma. A recusa dos alimentos, pode ainda traduzir um desejo de auto-destruição, e/ou uma desistência da vida. Pode acontecer em quadros terminais, em que o sofrimento está agudizado, por dor ou dependência extrema e prolongada, e o idoso se mantém consciente. Nos doentes com demência, pode aparecer um quadro de recusa alimentar, não por factores psicológicos, mas fazendo parte da patologia neurológica. OUTROS DISTÚRBIOS ALIMENTARES Este comportamento é extremamente ansiogénico (gerador de ansiedade) para os cuidadores e para quem rodeia o doente. Não é fácil lidar com estas situações, sendo por isso preferível acompanhá-las com uma equipa multidisciplinar, para que se possa identificar a causa e agir de forma rápida, para evitar o culminar da situação na morte. A intervenção deve estimular o interesse pelos alimentos, melhorando o aspecto e o paladar, e oferecendo poucas quantidades. Deve ser admitido e respeitado o facto de esta ser uma expressão da vontade do doente, assegurando que esse é um direito, mas que apenas vai conduzir a uma destruição, pelo que se deve motivar para a vida. No quadro 5.3 estão representadas algumas perturbações alimentares que podem surgir em determinadas circunstâncias, nomeadamente em quadros de demência. São também apresentadas algumas indicações de como actuar nas situações específicas. Estar atento aos pormenores e agir com calma é o essencial. É necessário estar preparado para actuar e/ou encaminhar para os técnicos, quando a situação parece ultrapassar o âmbito de actuação do cuidador. Em caso de dúvida de como agir, a situação deve ser exposta à equipa de técnicos que acompanha o caso. 51 5 . ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 52 ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSOO QUADRO 5.3 - DIFICULDADES AO NÍVEL ALIMENTAR Dificuldade em engolir Consultar o médico assistente, não insistir, para evitar o risco de engasgamento. Ansiedade após insistência para alimentação Voltar a tentar, mantendo a calma. Caso o doente esteja a ficar desorganizado, desistir e voltar mais tarde a tentar com outros alimentos. Lentidão a comer Manter a calma e paciência e providenciar um prato térmico, para que a comida não arrefeça. Olhar para a comida sem comer Encorajar o doente a comer, verificando se há qualquer elemento distractor que o impeça de se concentrar. Dificuldade em discernir os utensílios Marcar uma consulta para o oftalmologista. Boca seca e/ou com aftas Oferecer líquidos para beber, água, sumos ou leite. Dar pequenos cubos de gelo, ou gelados, para que os idosos mantenham a boca molhada. A ingestão de alimentos crus, ou com bastante molho, de caldos e sopas, ajuda na hidratação e evita a boca seca. Dificuldade em mastigar Nestes casos é necessário verificar o estado da boca (gengivas e dentes) e adaptar a consistência dos alimentos às suas capacidades. Náuseas e vómitos Evitar as comidas demasiado condimentadas, fritos, gorduras e alimentos com um cheiro forte. Propor ao idoso que se alimente com pequenas quantidades, não enchendo demasiado o estômago. Recusa da carne Substituí-la por alimentos ricos em proteínas à base de leite e derivados, e ovos (pudins, iogurtes, soufllés). Engasgamento Em alguns idosos existe a propensão para se engasgarem e é importante como medida de precaução tornar mais cremosos os líquidos que ingerem. Adicionando gelatina, “Maizena”, ou pós espessantes, a consistência modifica-se e diminui a probabilidade de engasgamento. Também as compotas e os batidos podem substituir os sumos, assim como o iogurte substitui o leite. Comer demasiado depressa Encorajar a comer mais devagar. Não segurar os talheres Existem opções de talheres e utensílios adaptados para o idoso, com limitações de várias ordens; Não abrir a boca Em algumas patologias, nomeadamente a demência, pode acontecer que o doente não abra a boca. Nestes casos, tocar levemente nos seus lábios com uma colher pode resolver a situação. Adaptado de Ferry & Alix, 2004 52 7/23/07 2:20 PM Page 53 SÍNTESE 5 . ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp Existem doenças comuns nos idosos que requerem cuidados nutricionais específicos. É o caso da diabetes, obstipação, escaras, doenças cardiovasculares, osteoporose e gota úrica. Estas não são as únicas, no entanto são aqui destacadas devido à sua prevalência na população geronte. As dietas e recomendações devem ser prescritas pelo médico ou outro técnico de saúde competente nesta matéria. Algumas das indicações fundamentais são: comer várias vezes ao dia, respeitar o horário das refeições, ingerir cerca de 1,5 l de água diariamente. Os distúrbios do comportamento alimentar mais frequentes na população geriátrica são a anorexia, que pode surgir enquanto causa, sintoma ou consequência, associada a outra patologia; e a recusa dos alimentos que se manifesta em geral, como um sintoma de profunda insatisfação com a vida, não estando associada a patologia. Aparecem por vezes outro tipo de dificuldades que interferem com a alimentação que são muitas vezes secundárias a patologias neurológicas (avc's, trombose, demência). São exemplos: a dificuldade em mastigar e não segurar os talheres, para as quais é possível recorrer a soluções são apresentados e sugeridas algumas medidas que podem auxiliar. 53 5 . ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 54 ACTIVIDADES ACTIVIDADES PROPOSTAS 1. Junto dos idosos que conhece procure saber quais os problemas de saúde e averigúe se sofrem de alguma das patologias indicadas. Registe o tipo de patologia e inquira acerca dos hábitos alimentares. Após a entrevista, analise a presença ou ausência de cuidados específicos com a doença ou sintomatologia em causa. Verifique ainda se os cuidados são adequados e qual a percepção que o idoso tem sobre a doença. ACTIVIDADES DE AVALIAÇÃO 1. Quais as doenças mais frequentes nos idosos que carecem de cuidados nutricionais específicos? 2. Comente a seguinte frase: “ O idoso diabético deve ter uma dieta muito restrita e deve ser impedido de comer aquilo que lhe faz mal, mesmo que goste muito.” 3. Nos casos de anorexia quais as principais atitudes a tomar? 4. Qual a diferença entre anorexia e o comportamento de recusa de alimentos? 5. Analise as seguintes frases, e verifique a sua falsidade ou veracidade, justificando as falsas. 5.1. O idoso diabético não deve comer muito, por isso deve fazer apenas 3 refeições por dia. 5.2. Beber muita água, ajuda a regular os intestinos. 5.3. Um idoso com uma paixão não correspondida, pode como consequência sofrer de anorexia. 5.4. Quando um idoso recusa os alimentos, não se deve ligar muito, porque eles são como as crianças. 54 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 55 A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES 6 A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO 6 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 56 A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES OBJECTIVOS GERAIS • Indicar cuidados a ter na aquisição de alimentos, bem como no seu armazenamento e conservação; • Reconhecer os principais métodos de confecção de alimentos; • Praticar a confecção de pratos adaptados às necessidades específicas dos idosos, identificando estratégias que estes podem executar; • Identificar as fontes de contaminação dos alimentos e os seus riscos, bem como formas de a evitar. CUIDADOS NA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS, NO SEU ARMAZENAMENTO E CONSERVAÇÃO AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS - COMPRAS A aquisição de alimentos pode ser feita pelo idoso ou pelos cuidadores. Quando se pretende que os primeiros mantenham esta ocupação, é possível ajudar através da elaboração de listas de compras previamente definidas, onde é apenas necessário colocar a quantidade em falta. Pode até ser levada a uma mercearia com serviço de entregas ao domicílio. Também o cuidador pode averiguar se há compras que podem ser feitas com a sua ajuda (uma vez por mês ou de dois em dois meses) em locais mais baratos e que possam ser armazenadas por um período mais longo (leite, conservas, arroz, massa, açúcar). Se houver maior disponibilidade para acompanhar o idoso, pode ajudar com os volumes mais pesados. Actualmente já é possível fazer encomendas telefonicamente ou online nos grandes hipermercados. Implica a existência de um computador com ligação à Internet mas nos centros dias e outros equipamentos sociais, bem como em casa dos filhos ou dos netos, é possível levar a cabo esta tarefa. Existe um conjunto de aspectos para os quais é importante alertar o idoso quando selecciona os produtos alimentares, para que estes se encontrem nas melhores condições. No quadro 6.1 são apresentados alguns desses cuidados a ter quando vão às compras. 56 7/23/07 2:20 PM Page 57 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp QUADRO 6.1 - CUIDADOS NA AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS Ter em atenção o estado da embalagem, se apresenta rasgões ou vestígios de humidade. Verificar sempre a validade, que se pode perguntar a alguém caso não se consiga ler. Adquirir os tubérculos, incluindo a batata, sem estarem grelados ou apresentar uma cor esverdeada. Preferir os produtos hortícolas e as frutas da época, pois são os mais nutritivos e sujeitos a menor tratamento. Averiguar se as verduras apresentam sinais de contusões e mantêm um aspecto fresco. Escolher fruta não tocada ou com bolor e examinar brevemente o cheiro, a cor e a textura. O leite, o iogurte e os enlatados devem ter as embalagens em perfeitas condições. Recusar a carne escurecida, esverdeada, muito mole e com um cheiro intenso e desagradável, pois não está em condições de ser consumida. Comprar sempre ovos devidamente acondicionados e verificar sempre se algum está partido. Reservar a compra de peixe fresco apenas para locais que ofereçam garantias de higiene e da confiança ou recorrer a peixe congelado. Examinar o peixe fresco: consistência firme e rija, olhos salientes e brilhantes, as escamas bem aderentes à pele e também brilhantes, as guelras húmidas, e vermelhas vivas e o cheiro deve ser característico e não a “amoníaco”. Rejeitar as embalagens de congelados que não estejam devidamente fechadas e sem gelo por dentro (que é sinal que já foram descongeladas e voltaram a congelar). O peixe seco e salgado não deve apresentar coágulos de sangue e excesso de sal ou uma cor ligeiramente avermelhada. Comprar apenas os mariscos frescos de concha quando esta esteja fechada e, se possuírem antenas, caudas e tenazes, em que estas se movimentem. CONSERVAÇÃO E ARMAZENAMENTO A conservação dos alimentos pode ser feita de diversas formas: desidratação, salga, pasteurização, sendo as mais comuns a refrigeração e a congelação. Refrigeração Consiste em submeter o produto a baixa temperatura sem chegar à rigidez. É o método de conservação mais utilizado. Os microrganismos necessitam de uma temperatura mais amena para se reproduzirem e, ao bai-xá-la, estes e as bactérias retardam a sua reprodução. Os objectivos principais são: manter os géneros alimentícios, crus ou cozinhados, num bom estado higio-sanitário até ao seu consumo; servir de complemento muito importante para uma correcta descongelação e permitir fazer as compras para vários dias. No entanto há algumas medidas preventivas que devem ser tomadas para que a refrigeração ocorra de forma a não comprometer as características dos alimentos: - Não introduzir no frigorífico produtos quentes; - Não colocar as caixas que vêm do supermercado (focos de contaminação); - Não misturar nos mesmos compartimentos alimentos de origens diferentes (carnes e peixes; alimentos cozinhado com alimentos crus); - Envolver os alimentos em película aderente para evitar que sequem; - Não colocar as latas de conserva. Passar o seu conteúdo para o recipiente adequado; - Utilizar recipientes de material inalterável para guardar os alimentos. 57 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 58 A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES Congelação É o método através do qual a acção do frio é tal que os alimentos chegam à rigidez. Tal como na refrigeração, os microrganismos param a sua reprodução. Existem diferentes métodos: • A congelação tradicional, em que os géneros alimentícios são submetidos a uma temperatura de -20ºC, o tempo necessário para a sua rigidez (dependendo do tamanho da peça); • A ultra congelação que se caracteriza pela rapidez com que se submete o alimento a uma temperatura de -40ºC. É depois conservado a uma temperatura de -18ºC, como qualquer outro congelado. Este é o método utilizado na indústria já que garante uma maior conservação de todos os valores nutritivos bem como das suas características organolépticas. Praticamente todos os produtos podem ser congelados, sendo certo que alguns deles exigem uma pré elaboração. Quanto ao armazenamento, deve ser feito em locais adequados, secos bem arejados e limpos, sem incidir a luz solar directamente. Não devem estar próximos dos produtos de limpeza, outras substâncias tóxicas, ou com aromas fortes. É importante ter em conta que o primeiro produto a entrar na despensa deve ser sempre o primeiro a sair, para evitar um tempo prolongado de permanência no local. No quadro 6.2 estão indicados alguns cuidados a ter na conservação e armazenamento dos alimentos. TÉCNICAS DE CONFECÇÃO O valor nutritivo dos alimentos depende da forma como são confeccionados, para além das implicações ao nível digestivo e da própria estimulação do apetite. Por exemplo 100g batata frita contêm cerca de 253kcal, enquanto que a batata cozida possui um valor calórico mais baixo, 80kcal. No entanto, uma refeição de peixe cozido pode ser para muitos bastante desmotivante, enquanto que o mesmo peixe assado no forno, ou numa boa caldeirada pode criar água na boca e fazer as delícias de muitos idosos. É necessário aliar a criatividade, para inovar com pratos saudáveis, mas apetitosos e dosear a introdução de formas de confecção menos saudáveis, não as excluindo por completo das ementas, a não ser em situações específicas. QUADRO 6.2 - CUIDADOS NO ARMAZENAMENTO E CONSERVAÇAO O armazenamento das leguminosas, bem como dos cereais deve ser feito em locais frescos (temperatura entre 10 a 18 ºC), secos e arejados. A batata deve ser guardada em locais preferencialmente escuros. Depois de abertas, as embalagens de cereais e leguminosas devem ser acondicionadas em recipientes bem fechados. Depois de aberta a embalagem do leite, este deve ser guardado no frigorífico. No verão, ou em ambientes mais quentes, é necessário diminuir o tempo em que está fora. O iogurte, os queijos frescos as manteigas e margarinas devem também ser guardados a uma temperatura entre os 0 e os 6ºC. A carne fresca deve ser conservada no frigorífico ou no congelador. No frigorifico a temperaturas entre os 0 e os 3ºC, não por mais de 2 a 3 dias. No congelador (-18ºC) o período de congelação pode ir de 6 meses (para as carnes gordas), a 1 ano (para as carnes magras). A sua descongelação deve ser feita no frigorífico e não devem voltar a ser congeladas. A carne picada deve ser utilizada no momento ou, caso não isso não aconteça, armazenada apenas por 2 horas no frigorífico, devido ao risco elevado de contaminação. Os ovos devem ser conservados no frio a uma temperatura de cerca de 5ºC, em locais limpos e isentos de cheiros, pois a casca é permeável à passagem do odor. Mesmo que estejam muito sujos apenas devem ser lavados imediatamente antes de serem consumidos. Quando o ovo flutua dentro de água é porque já é velho. As condições de armazenamento e congelação do peixe são idênticas às da carne. 58 7/23/07 2:20 PM Page 59 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp MÉTODOS DE COZEDURA COM ELEMENTOS HÚMIDOS Cozido • Partindo de líquido a ferver - baseia-se em introduzir o produto num líquido que se encontra em ebulição, e a coagulação das proteínas impedirá a saída de sucos naturais do que se vai cozinhar. • Partindo de líquido frio - esta técnica requer a imersão do produto e o posterior aquecimento, produzindo um intercâmbio de qualidades com o líquido da cozedura. • A vapor - esta fórmula consiste em aproveitar a evaporação para a cozedura do produto, sem que exista contacto directo com o líquido. O recipiente onde se realiza pode ser uma panela com tampa e uma rede suspensa. Também pode ser feita numa panela de pressão com rede. Estufado Método em que o alimento é previamente corado em gordura, impedindo assim a perda de sucos naturais, e é seguidamente cozido dentro de um líquido (água ou vinho branco, na maior parte dos casos). Geralmente emprega-se cortado em cubos, podendo também ser estufadas peças inteiras. O líquido da cozedura serve-se como molho podendo ser ligado (engrossado com farinha e manteiga). Salteado Método que consiste na cozedura de fracções submetidas a lume alto com pouca gordura, durante um período de tempo curto e produzindo um movimento de vaivém com a frigideira, proporcionando assim a conservação de sucos naturais. Fritos Método básico que consiste na imersão do produto em gordura abundante a uma temperatura alta (180º). OUTROS MÉTODOS DE CONFECÇÃO Gratinados Método em que se expõe a superfície do preparado à acção directa do calor forte, produzido por resistências, com o objectivo de a dourar (com queijo ralado, pão ralado, ou gema de ovo). COZER COM GORDURA Assado Pode ser no forno, na chapa ou na brasa e é o processo de transformação de um produto submetido à acção indirecta do calor (primeiros dois casos), ou directa (último caso). Devido à alta temperatura, produz-se a sua concentração, permitindo a coagulação das proteínas e impedindo que saiam os sucos naturais. Este método de cozedura utiliza-se para produtos muito tenros e, segundo o seu tamanho, opta-se pelo tipo de assado: no caso de peças grandes e alimentos inteiros aplica-se o forno; se, por outro lado, se tratar de porções e cortes menores, deverá ser utilizada a técnica de assado sobre a chapa. A brasa é reservada para peças pequenas e cortadas. A vácuo Consiste em colocar os alimentos dentro de um saco termo-resistente, extrair o ar e selá-lo hermeticamente, submetendo à cozedura, num ambiente húmido a uma temperatura inferior a 100º, seguido de um arrefecimento rápido. “Au sal” Técnica que se emprega sobretudo na zona mediterrânica que consiste em arranjar o alimento coberto de sal e no forno. É utilizado especialmente para peixe que não deve estar escamado. Em papillote Consiste em cozinhar um produto envolto num papel sem poros, geralmente de alumínio, bem fechado, para não haver fugas de vapor. É cozinhado no forno e ao entrar em contacto com o calor, o papillote insufla, cozinhando os ingredientes no seu próprio vapor. 59 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 60 RECEITAS RECEITAS CULINÁRIAS As receitas que são apresentadas ilustram algumas refeições que podem ser feitas e que se adaptam ao tipo de alimentação que idosos devem ter. Servem também de exemplo em relação às actividades que podem desempenhar, com ou sem auxílio, sugerindo a repartição de tarefas quer ao nível do domicílio, quer ao nível institucional. RECEITA Nº 1 SOPA JULIANA (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 3 alhos franceses (só a parte branca) Descascador • 2 batatas médias Faca • 1 cebola Tábua de corte • 3 cenouras 2 Recipientes • 1/4 de couve lombarda 1 Panela • 2 nabos • azeite • sal q.b. CONFECÇÃO Cortar os legumes em juliana (tiras finas). Refogar a cebola, o alho francês e a cenoura num pouco de azeite, adicionar a couve lombarda, a batata e o nabo. Colocar uma panela com cerca de 2 litros de água ao lume e, quando estiver a ferver, vertê-la sobre o refogado. Na altura de servir, regar com um fio de azeite. PARA O IDOSO PARTICIPAR O que dá o nome a esta sopa é o tipo de corte (em pequenas tiras). Dependendo do grau de autonomia e das suas limitações funcionais, o idoso pode desempenhar diferentes tarefas adaptadas à sua capacidade. Assim, poderá estar ao seu alcance apenas descascar os alimentos com o auxílio de um descascador (minimiza o risco de ferimento do próprio) ou arranjar os hortícolas. Deverá estar sentado com as costas apoiadas ou ser-lhe colocado no “colo”, um recipiente onde vai depositando as cascas. Para cortar os vegetais na tábua terá que estar à frente de uma mesa não 60 demasiado alta onde possa facilmente fazer força. Colocar a água ao lume e os vegetais, bem como fazer o refogado, podem ser tarefas excessivas, mas para as quais pode ser auxiliado. 7/23/07 2:20 PM Page 61 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp RECEITA Nº 2 SOPA DE NABIÇA (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 3 batatas médias Descascador • 1 cebola Faca • 4 cenouras Tábua de corte • 1 molho de nabiças 2 Recipientes • 2 nabos Varinha mágica • azeite 1 Panela • sal q.b. CONFECÇÃO Colocar uma panela com cerca de 2 litros de água ao lume. Quando a água estiver a ferver, adicionar a batata, a cenoura os nabos e a cebola partidos aos cubos. Deixar levantar fervura e passar com a varinha mágica até fazer um puré. Voltar a levar ao lume e adicionar as nabiças partidas. Deixa-se cozer e junta-se um fio de azeite. PARA O IDOSO PARTICIPAR Se o idoso não tiver condições para a elaborar sozinho, estão ao seu alcance tarefas como: descascar os legumes (tal como é indicado na Receita nº 1), arranjar as nabiças, e reduzir a puré. Numa instituição podem ser averiguados os costumes individuais e seguir, tanto quanto possível, a forma como cada um fazia. Por exemplo, a forma de cortar ou algum ingrediente personalizam mais a sopa. NOTA: A confecção de sopas simples é uma das tarefas culinárias mantidas até mais tarde pelos idosos. É bom estimular esta actividade, mesmo que seja necessário enriquecer a receita com um pedaço de carne, para que possa ser transformada em refeição (por exemplo ao jantar). 61 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 62 RECEITAS RECEITA Nº 3 SOPA DE PEIXE (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • • • • • • • • • • • 1/2 cabeça pequena de garopa 1 cebola 1 folha de louro 1 litro de água 1 colher de café de sal 2 dentes e alho 2 colheres de sopa de azeite 200g de polpa de tomate 80g de massa de cotovelos 1 molho de coentros 1 malagueta (caso gostem) Descascador Faca Tábua de corte 1 Panela 1 Tacho CONFECÇÃO Cozer o peixe na água, já com sal e louro. Coar a água e reservar. O peixe deve ser desfeito às lascas e as espinhas retiradas. Picar a cebola os alhos e refogar no azeite, juntamente com a malagueta. Deixar alourar. Juntar a polpa de tomate e deixar cozinhar um pouco. Regar com a água e, quando levantar fervura, juntar a massa. Deixar 10 minutos e adicionar o peixe. Mais 5 minutos a cozinhar e juntar os coentros picados. PARA O IDOSO PARTICIPAR Este é um prato que os idosos facilmente podem confeccionar. Sendo feito em conjunto com o cuidador, pode colaborar a arranjar o peixe, picar cebola e os alhos. Caso se utilizem tomates frescos, pode ainda pelá-los e esmagá-los. No caso de executar o prato sozinho, pode ser sugerido que, ao cozer peixe, por exemplo para a refeição do jantar, adicione uma posta a mais e reserve a água no frigorífico, para que ao almoço possa fazer este prato. NOTA: Este é um prato apetitoso e que deixa os idosos bem alimentados com os nutrientes de que necessitam. Pode ser acompanhado com uma salada de alface. O facto de ser uma sopa e poder servido como prato principal, torna-o uma boa opção para dias de calor em que o risco de desidratação é maior. 62 7/23/07 2:20 PM Page 63 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp RECEITA Nº 4 QUEIJO FRESCO COM HORTELÃ (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 200gr Queijo fresco Esmagador de alho • Colheres de sopa de hortelã fresca Colher • 1 Dente de alho Faca • 2 Colheres de sopa de azeite • Sal • Pimenta CONFECÇÃO Esmagar o alho e picar a hortelã. Misturar todos os ingredientes com o queijo e temperar. Decorar com folhas de hortelã. O queijo pode ser substituído por requeijão, e outras ervas aromáticas (como os orégãos) e especiarias podem ser adicionadas. PARA O IDOSO PARTICIPAR Esta é uma receita muito simples que facilmente pode ser realizada pelo idoso. Mesmo com supervisão do cuidador, é boa receita delegar, pedindo para trazer para uma festa. NOTA: Este preparado pode ser servido como entrada para um almoço, ou jantar, ou pode também ser utilizado como conduto para uma sandes. Sabendo que os idosos muitas vezes apenas comem uma sopa ao jantar, pode-se sugerir este patê para comer com o pão, tornando a refeição mais completa e saborosa. 63 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 64 RECEITAS RECEITA Nº 5 TORTILHAS DE VERDURAS COM QUEIJO (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 4 Ovos • 1 Cebola • 2 Alhos franceses • 50 g de espinafres • 2 Alhos • 50 g Queijo ralado • Azeite • Sal • Pimenta Recipiente para bater os ovos Faca Varetas para bater os ovos Frigideira CONFECÇÃO Picar as cebolas, os alhos franceses e refogá-los numa frigideira com azeite, temperando com sal e pimenta. Escaldar previamente os espinafres. Bater os ovos e deitar sobre o refogado. Polvilhar com queijo ralado. Em vez de dar a volta à tortilha, introduzir a frigideira no forno grelhador durante alguns minutos para que acabe de cozer e para que o queijo ralado fique gratinado. Pode acompanhar com uma salada de tomate e/ou com arroz branco. PARA O IDOSO PARTICIPAR A receita é simples e facilmente pode ser passada à prática pelo idoso sozinho. Os espinafres frescos podem ser substituídos, por congelados, que nem precisam de fervura, bastando descongelar antecipadamente, simplificando o procedimento. Caso não consiga autonomamente elaborar a receita, tarefas como partir e mexer os ovos, arranjar e cortar as verduras, partir o alho francês em rodelas, descascar a cebola e os alhos, podem ser facilmente executados. NOTA: As omeletas são geralmente do agrado das pessoas seniores, até pela sua consistência. Esta receita exemplifica uma forma de a enriquecer adicionando-lhe legumes e tornando-a mais saborosa (com cebola e alho). 64 7/23/07 2:20 PM Page 65 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp RECEITA Nº 6 ERVILHAS TORTAS À CAMPONESA (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 500g de ervilhas tortas Faca • 1 cebola Descascador • 1 azeite Tacho com tampa • 1 cenoura • 2 batatas • 1 Pé de segurelha • 1 Colher de café de sal CONFECÇÃO Lavar, retirar os pés e os fios às ervilhas, picar a cebola e refogar com o azeite, juntar o tomate cortado em quadradinhos e a cenoura às rodelas, tapar e deixar estufar com um pouco de água. Introduzir as batatas cortadas em cubos, as ervilhas, o pé de segurelha e temperar com sal. Deixar cozer em lume brando cerca de 20 minutos agitando o tacho de vez em quando. PARA O IDOSO PARTICIPAR A preparação deste prato é fácil, o que o torna bastante viável para ser executado pelos idosos. Se tiver o auxílio do cuidador, pode colaborar descascando os legumes e preparando-os (como indicado na receita nº1). NOTA: Este é um preparado de legumes, que permite o consumo de hortícolas, fugindo à forma tradicional dos cozidos. Pode inclusivamente ser acrescentada carne ou ovos escalfados, tornando-o uma refeição completa. 65 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 66 RECEITAS RECEITA Nº 7 SOUFFLÊ DE PESCADA “À MINHA MODA” (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 2 postas de pescada (grandes) Descascador • 8 batatas Faca • 4 cenouras Passevite • 2 colheres de sopa de mateiga Batedeira eléctrica • 1,5 dl de leite 1 Panela • Noz moscada • 2 ovos CONFECÇÃO Coza a pescada num tacho com água e um pouco de sal (pode adicionar também uma cebola e ervas aromáticas a gosto). Depois de arrefecer, retire a pele e as espinhas e desfie. Ao mesmo tempo, as batatas e as cenouras deverão ser cozidas cortadas em pequenos pedaços. Após escorridas, são passadas no passevite de forma a reduzir a puré. Adicione a manteiga e o leite quente e mexa até tornar o preparado mais cremoso. Junte noz moscada a gosto. A pescada desfiada deve ser misturada com o puré e as duas gemas acrescentadas ao preparado. As claras são batidas em castelo e incorporadas por fim. Para finalizar pode-se levar ao forno, ou servir de imediato. PARA O IDOSO PARTICIPAR Este é um prato mais elaborado e portanto oferece mais dificuldades para ser confeccionado autonomamente. De todo o modo, existem tarefas que podem ser desempenhadas pelo idoso como: descascar batatas e cenouras com a ajuda do descascador, retirar as espinhas e a pele ao peixe e desfiá-lo. Também partir os ovos, separar a clara da gema e bater as claras em castelo, ser feito sentado sem grande esforço. NOTA: Este prato é ideal quando a mastigação está dificultada e é extremamente nutritivo. Adequa-se a situações como: dificuldade na cicatrização de feridas (escaras), debilidade física. 66 7/23/07 2:20 PM Page 67 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp RECEITA Nº 8 PUDIM DE PEIXE INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 350 g de peixe fresco ou congelado Faca • 200 g de miolo de pão Recipiente • 5 dl de leite Tacho médio • 1 cebola média Varinha mágica • 2 colheres de sopa de manteiga Forma de bolos ou pudim • 5 ovos Raspador • sal • pimenta • noz-moscada • raspa da casca de 1/2 limão • pão ralado • 1 chávena de molho de tomate • brócolos CONFECÇÃO Coza o peixe e pique-o finamente. Ponha o miolo de pão de molho no leite. Pique a cebola e aloure-a na manteiga juntamente com o peixe, deixando refogar um pouco. Retire do calor e junte, batendo bem, o miolo de pão bem escorrido e as gemas. Tempere com sal, pimenta, noz-moscada e a raspa da casca do limão. Bata as claras em castelo bem firme e envolva-as no preparado anterior. Deite numa forma com buraco, untada e polvilhada com pão ralado. Leve a cozer em forno médio (180ºC) durante cerca de 40 minutos. Retire do forno e desenforme passados 5 minutos. Sirva com molho de tomate e brócolos cozidos temperados com azeite e vinagre. PARA O IDOSO PARTICIPAR A receita, apesar de simples, implica vários procedimentos, o que a pode tornar mais complicada de pôr em prática pelos idosos. Com o apoio do cuidador, é possível que este colabore a preparar o peixe, separar as gemas das claras, raspar o limão, bater as claras em castelo e untar a forma, que pode facilmente executar sentado comodamente. NOTA: Esta receita permite fazer uma refeição de peixe de forma diferente, com um efeito visual bonito e inovador. Ao mesmo tempo, a sua consistência mole, permite uma fácil mastigação e deglutição. 67 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 68 RECEITAS RECEITA Nº 9 BATATAS EM PAPILLOTE INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 4 batatas grandes Descascador • 2 cebolas Faca • 2 tomates Folhas de alumínio • sal • pimenta • noz-moscada • 3 colheres de sopa de manteiga • 4 quadrados de folha de alumínio CONFECÇÃO Descasque as batatas e as cebolas. Corte-as em rodelas, tal como ao tomate. Intercale as rodelas de uma batata com as de meia cebola e as de meio tomate. Tempere com sal, pimenta e noz-moscada. Embrulhe num quadrado de folha de alumínio abundantemente untado com manteiga e feche hermeticamente. Proceda de igual modo com as restantes batatas e coloque tudo num tabuleiro. Leve a cozer em forno quente (200ºC) durante cerca de 45 minutos. Sirva quentes, dentro dos papelotes. PARA O IDOSO PARTICIPAR Este é um prato muito fácil de elaborar cujo resultado é engraçado e saboroso. Pode ser confeccionado pelo idoso sozinho e interessante para fazer em conjunto com os netos, ou numa actividade intergeracional. NOTA: Este é uma forma diferente de cozinhar as batatas, conservando as suas propriedades, e tornando-as apetitosas e apelativas. 68 7/23/07 2:20 PM Page 69 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp RECEITA Nº 10 BATATAS AROMÁTICAS (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 4 batas médias Descascador • 8 dentes de alho Faca • 1 colher de sopa de orégãos Tabuleiro de ir ao forno • 2 colheres de sopa de salsa picada Tábua de corte • 2 colheres de sopa de azeite • 1 colher de café de sal. CONFECÇÃO Lavar bem as batatas e cozê-las com casca durante 10 minutos. Depois, cortar em golpes de cerca de 0.5 cm, sem chegar a dividir as rodelas, colocar num tabuleiro de ir ao forno. Pique os alhos e junte com o azeite, o sal os orégãos e a salsa. Deite o molho sobre as batatas. Levar ao forno (200ºC) durante cerca de 15 minutos. PARA O IDOSO PARTICIPAR Este é um prato simples de fazer, que não requer grande destreza, a não ser na altura do corte, podendo também alterar ligeiramente a receita e separar as batatas em rodelas. NOTA: Este é um acompanhamento que estimula o paladar. Sendo que os idosos vão perdendo este sentido, é importante fornecer alternativas para que não percam o interesse pela comida. 69 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 70 RECEITAS RECEITA Nº 11 COXAS DE FRANGO ASSADO NO FORNO (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 4 coxas de frango Recipiente não muito largo para a marinada • Marinada Faca • Raspa de uma laranja Tabuleiro de ir ao forno • Hortelã • 1 colher de sobremesa de azeite • 1 colher de café de sal • 1dl vinho branco CONFECÇÃO Preparar a marinada com o azeite, sal e a raspa de laranja, na qual se envolvem as coxas de frango. Deixar descansar. Colocar o frango num tabuleiro, cobrir com a marinada e levar ao forno. Guarnecer com raminhos de hortelã e acompanhar com puré de batata. PARA O IDOSO PARTICIPAR A simplicidade dos procedimentos, torna esta receita muito fácil de executar pelo idoso, sendo excelente para encorajar quem vive sozinho a experimentar, ou para pedir a colaboração na instituição ou mesmo em casa. NOTA: Este é uma forma muito simples de preparar a carne, para a tornar mais apetitosa e apaladada. Contribui para a estimulação do apetite e é uma forma de confecção saudável, sem alterar muito o valor nutritivo dos alimentos. 70 7/23/07 2:20 PM Page 71 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp RECEITA Nº 12 FEBRAS DE PORCO SABOROSAS (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 4 febras de porco 2 Recipientes • Marinada: 1 cebola picada Tábua de corte 1 dente de alho Faca 15g de folhas de hortelã 3 colheres de sopa de sumo de limão 50 ml de azeite 1 colher de café de sal pimenta CONFECÇÃO Temperar a carne com sal e pimenta. Preparar a marinada misturando todos os ingredientes de modo a ficar uma pasta. Espalhar sobre a carne, tapar e guardar no frigorífico 6 a 8 horas, virando de vez em quando. Grelhar a carne durante 5 a 6 minutos e servir com pão estaladiço e uma boa salada de verduras. PARA O IDOSO PARTICIPAR À semelhança da receita anterior, a forma de confecção é fácil e bastante acessível. Picar a cebola e o dente de alho, espremer o limão, e fazer o preparado da marinada, são tarefas que estão ao alcance dos idosos. NOTA: Os grelhados são umas das formas mais saudáveis de confeccionar a carne. Pela diminuição do paladar, torna-se uma forma de cozinhar pouco apelativa. Esta receita ajuda a dar mais sabor à carne, ao mesmo tempo que também a amacia. 71 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 72 RECEITAS RECEITA Nº 13 ROLO DE CARNE (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • • • • • • • • • • 500 g de carne de vaca picada 2 colheres de massa de alho 1 ramo de salsa 1 ovo 1 colher de sopa de pão ralado 1 cenoura média ralada Sal q.b. Pimenta q.b. Margarina q.b. Bacon, q.b. Recipiente Tabuleiro de forno Ralador Espremedor de alho CONFECÇÃO Num recipiente juntam-se todos os ingredientes, à excepção da margarina e do bacon, amassa-se tudo muito bem e reserva-se no frigorifico por cerca de 1 hora e meia. Passado este tempo retira-se e, num tabuleiro de ir ao forno, molda-se o rolo, dispõem-se por cima nozinhas de margarina e cobre-se com as fatias de bacon, de modo a que a carne fique sem se ver. PARA O IDOSO PARTICIPAR Este é um prato simples cuja preparação é fácil de colocar em prática sem auxílio. Recomenda-se que os cuidadores insistam na questão da higiene das mãos durante a manipulação da carne, pois é um produto que tem um elevado risco de contaminação. Se por acaso se manifestar difícil fazer um rolo, pode sugerir-se outros formatos. NOTA: A mastigação é facilitada, não deixando de ser um prato saboroso e com consistência. Pode-se estimular os idosos a colocarem outros condimentos (ervas aromáticas ou legumes). 72 7/23/07 2:20 PM Page 73 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp RECEITA Nº 14 MOUSSE DE MANGA (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • Mangas Colher • Sumo de 1/2 limão Espremedor • 2 Folhas de gelatina Batedeira eléctrica • 2 Claras de ovo • 50 gr Açúcar CONFECÇÃO Triturar a polpa das mangas (também se pode utilizar uma lata de concentrado de manga) e juntar sumo de limão e açúcar. Dissolver a gelatina e juntar à pasta de manga. Bater as claras em castelo, acabar de misturar tudo, deitar em taças e deixar arrefecer. PARA O IDOSO PARTICIPAR Para o idoso autónomo, o grau de dificuldade é baixo e portanto é simples de a colocar em prática sozinho. Bater as claras em castelo e misturar os ingredientes, são funções ao seu alcance. NOTA: Confeccionada com fruta é fresca e nutritiva, sem levar um grande aporte calórico. A manga pode ser substituída por maracujá ou ananás. 73 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 74 RECEITAS RECEITA Nº 15 PURÉ DE MAÇÃ COM CANELA (4 PORÇÕES) INSTRUMENTOS INGREDIENTES • 4 Maçãs Golden Tacho com tampa • Sumo de limão Varinha mágica • 1 Pau de canela • 1 Colher de sopa de açúcar amarelo • Canela para polvilhar CONFECÇÃO Descascar as maçãs e cortar em pedaços pequenos, levar ao lume e deixar cozer num recipiente tapado. Reduzir a puré, colocar dentro de algumas taças e decorar a gosto com rodelas de limão e pau de canela, polvilhando com canela em pó. PARA O IDOSO PARTICIPAR A participação está facilitada pela simplicidade da tarefa. Descascar as maçãs e reduzi-las a puré com a varinha mágica é facilmente posto em prática pelo idoso, com ou sem auxilio. NOTA: Esta ideia transforma a simples fruta cozida, muitas vezes ingerida pelos idosos devido à consistência, numa sobremesa apetitosa. 74 7/23/07 2:20 PM Page 75 A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp HIGIENE E SEGURANÇA ALIMENTAR A higiene e segurança alimentar, é um aspecto impossível de descurar. As consequências da sua falta podem ser bastante problemáticas, quer ao nível institucional, quer no domicílio. O cuidador que presta auxílio ao idoso em sua casa pode sensibilizá-lo e ensinar boas práticas, para minimizar o risco de toxinfecções e alguns problemas ao nível gastrointestinal. Nas cozinhas das instituições as regras de higiene e segurança têm de estar obrigatoriamente de acordo com regulamentação específica. Ao confeccionar refeições para o público a responsabilidade é grande e as directivas têm que ser seguidas. Nos idosos a gravidade dos sintomas de uma toxinfecção, provocada pela ingestão de alimentos contaminados por bactérias ou pelas suas toxinas é maior e, em alguns casos, pode mesmo a conduzir a situações limite colocando em risco a sua vida. As principais manifestações são: diarreia, dor abdominal, vómitos, eventualmente febre e dor de cabeça. - animais domésticos e aves - no pêlo e nas penas transportam bactérias nocivas, por isso a sua presença muito próximo do local onde é manuseada a comida, deve ser evitada. Ao nível institucional é mesmo proibida. - Contaminação cruzada - é a contaminação de alimentos sãos por alimentos contaminados, directa (alimento com alimento) ou indirectamente (através do contacto com superfícies, utensílios e equipamentos). Os alimentos que apresentam maior risco de contaminação, isto é, cuja própria composição favorece um desenvolvimento rápido das bactérias, são: carnes frescas, ovos, produtos de pastelaria (especialmente bolos com creme), molhos e maionese. Para prevenir este tipo de situação são apresentadas em seguida no quadro 6.3 algumas indicações gerais. As principais fontes de contaminação são: - o homem - é portador de bactérias na boca, mãos, nariz, intestinos e pode assim contaminar os alimentos, ao tossir, espirrar e manipular; - Insectos e roedores - transportam bactérias, algumas delas perigosas. As moscas, por exemplo, por poisarem em cima do lixo representam um risco elevado. QUADRO 6.3 - CUIDADOS PARA PREVENIR A CONTAMINAÇÃO DOS ALIMENTOS 1. Manipular (mexer) o menos possível. 2. Utilizar pinças ou luvas sempre se que se justifique. 3. Evitar o contacto directo das mãos com os alimentos. 4. Separar os crus dos cozinhados. 5. Separar os de origem vegetal, dos de origem animal. 6. Não utilizar os mesmos utensílios (faca, tábua de corte, garfo) para a preparação de crus e cozinhados. 7. Não provar com o dedo, utilizar uma colher ou garfo e lavá-los em seguida. 8. Manter os alimentos em recipientes com tampa para evitar a contaminação com poeiras e insectos. 9. Utilizar, preferencialmente, papel para limpar as mãos. No domicílio, os panos devem ser trocados de 3 em 3 dias. 7. Cozinhar bem. 8. Manter os alimentos abaixo dos 5ºC. 9. Evitar o contacto com superfícies de trabalho sujas (utensílios, bancadas). 10. Limpar bem e desinfectar o equipamento, utensílios e superfícies, depois de os utilizar. 75 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 76 A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES No que diz respeito à higiene pessoal, existem cuidados que devem ser tidos em conta. Quanto ao vestuário (as roupas devem ser confortáveis, sendo a utilização de farda obrigatória numa instituição), ao cabelo (deve permanecer, apanhado ou curto, limpo e sempre protegido por uma touca ou barrete) e às mãos. Relativamente a estas: • Devem estar sempre limpas e as unhas curtas e sem verniz; • Precisam de cuidados de hidratação. As mãos ásperas e com fissuras, cortes ou feridas, são locais onde se podem instalar os microrganismo; • A utilização de luvas é aconselhada, desde que substituídas frequentemente; • A lavagem deve ser feita com sabões anti-sépticos, nas cozinhas das instituições. • Devem ser lavadas: antes de qualquer manipulação e depois de utilizar as instalações sanitárias, após ter mexido no cabelo, no nariz ou noutra parte do corpo. Outros hábitos a evitar quando se manipula alimentos são: comer, fumar, mascar pastilha elástica, mexer em dinheiro, usar jóias, relógios, ou outros adornos, espirrar ou tossir sobre os alimentos, meter os dedos na boca, nariz e ouvidos. 76 7/23/07 2:20 PM Page 77 SÍNTESE 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp Os cuidados na aquisição de alimentos, no seu armazenamento e conservação são essenciais para garantir a qualidade nutricional dos produtos. A escolha dos métodos de confecção e das técnicas adequadas permite responder às necessidades específicas dos idosos, respeitando as limitações impostas por questões de saúde. A preferência por receitas simples mas apelativas facilita a adesão sénior à sua implementação, constituindo um estímulo a uma alimentação mais equilibrada, variada e saudável e à manutenção da sua autonomia e independência. Conhecer as principais fontes de contaminação alimentar permite, quer ao nível institucional, quer no domicílio, minimizar o risco de toxinfecções e alguns problemas ao nível gastrointestinal. 77 6 . A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 78 ACTIVIDADES ACTIVIDADES PROPOSTAS 1. Com o crescente número de publicações na área da culinária, por vezes o difícil é escolher as receitas adequadas. Elabore um dossier com receitas adaptadas aos idosos. Tendo em conta factores como as dificuldades de mastigação, a diminuição do paladar, entre outros abordados. Coloque os seguintes separadores: entradas, sopas, acompanhamentos, pratos de carne, peixe e ovos, e sobremesas. Este dossier vai constituir decerto um excelente instrumento de trabalho. ACTIVIDADES DE AVALIAÇÃO 1. Quais os tipos de ajuda que o cuidador pode fornecer ao idoso no que diz respeito à aquisição de bens alimentares? 2. Indique 5 cuidados a ter na refrigeração de alimentos. 3. O que é um prato salteado? 4. Assinale como verdadeiras ou falsas as seguintes afirmações: Relativamente aos cuidados de higiene pessoal, as mãos: 4.1. Devem estar sempre limpas, as unhas curtas a utilização de verniz nas unhas não tem qualquer problema; 4.2. Não devem estar ásperas e com fissuras, cortes ou feridas. 4.3. Devem ser lavadas com qualquer tipo de sabão desde que estejam bem esfregadas. 4.4. Devem ser lavadas: antes de qualquer manipulação e depois de utilizar as instalações sanitárias, após ter mexido no cabelo, no nariz ou noutra parte do corpo, ou sempre que considere necessário. 4.5. O uso de jóias, relógios, ou outros adornos devem ser evitados nas cozinhas. 5. Quais os riscos para os idosos de uma toxinfecção? 78 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 79 PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO 7 A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO 7 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 80 PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO OBJECTIVOS GERAIS • Identificar as especificidades da alimentação do idoso no domicílio e na instituição e actuar de forma a melhorá-la; • Intervir de forma adequada em situações de vómito e engasgamento, de acordo com o procedimento indicado; • Reconhecer os sinais e sintomas de desidratação e desenvolver acções para as combater e evitar; • Utilizar os procedimentos para a alimentação dos idosos dependentes e semi-dependentes. CUIDADOS ESPECÍFICOS NA ALIMENTAÇÃO Tendo em conta a importância de uma alimentação correcta e adequada para a saúde do idoso, torna-se imprescindível que a rede de suporte social esteja preparada para o apoiar. A família, outros cuidadores e as instituições, têm um papel fundamental, pelo que é necessário estarem preparados para situações específicas e dispor de recursos para poder lidar com elas. NO DOMÍCILIO O contexto domiciliar diferencia-se do contexto institucional, acima de tudo pela falta da componente social, que a nível alimentar pode trazer implicações graves como a diminuição da vontade de comer. Também há menos vigilância, principalmente se o idoso vive sozinho, o que torna ainda mais difícil diagnosticar situações de má nutrição. Aspectos como os que são apresentados no quadro 7.1 constituem problemas que dificultam uma alimentação adequada, completa, equilibrada e variada. 80 7/23/07 2:20 PM Page 81 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp QUADRO 7.1 - PROBLEMAS E SUGESTÕES DE RESOLUÇÃO RELATIVOS À ALIMENTAÇÃO DOS IDOSOS NO DOMICÍLIO Orçamento alimentar Quando o idoso vive sozinho, a família ou outros cuidadores devem estar atentos às dificul- limitado dades económicas que possam surgir. Muitas vezes não passam fome, mas acabam por ter uma alimentação pouco variada e rica; - Averiguar quais as refeições que são tomadas e o que é ingerido; - Observar a despensa e o frigorifico; - Fornecer ajuda ou contactar a rede comunitária e solicitar apoios com alimentos ou refeições. Dificuldade em Ir às compras torna-se, à medida que idade aumenta, uma tarefa cada vez mais complicada. adquirir, armazenar - Verificar se há possibilidade de, nas redondezas, virem trazer as compras a casa; e preparar - Ir ao supermercado a horas com menor afluência; os alimentos Relativamente à confecção é importante alertar os idosos para as formas de confecção mais saudáveis, explicando-lhes as mais simples (por exemplo, recorrendo ao micro-ondas). Se as dificuldades se manifestarem impeditivas de uma alimentação correcta, deve ser ponderado o fornecimento dos alimentos já confeccionados. Humor depressivo Tentar junto do idoso que está sozinho que, pelo menos uma vez por dia, faça uma refeição e sentimentos de em conjunto num centro de dia ou comunitário, por exemplo. solidão A família deve estimulá-lo para que continue a cozinhar para si, mesmo que sejam coisas simples e que receba ajuda. Crenças É frequente os idosos estarem pouco esclarecidos em relação a determinado tipo de alimen- e ideias erróneas tos. São mais permeáveis à publicidade e tendem a comprar o que é indicado nos meios de comunicação como mais saudável, mesmo não sendo o mais adequado. É importante os cuidadores estarem atentos e prestarem esclarecimento, sobre os rótulos e as utilizações devidas. Existem uma série de alterações que podem ser levadas a cabo na casa dos idosos para facilitar a utilização dos espaços para comer e cozinhar. Para que seja estimulado o levante e para que o sénior possa ir fazer as refeições à mesa, é necessário estar atento a aspectos como: o acesso à mesa e cadeiras, os obstáculos que possam surgir, o ajuste dos níveis dos assentos para facilitar a passagem da posição de pé para sentado e vice-versa, também deve ser tido em conta o conforto e pode ser sugerida a colocação de almofadas e apoio de braços, ou até a troca de cadeira. cozinha, retirar tapetes e objectos que permaneçam no chão; A adaptação da cozinha da casa do idoso, caso este ainda prepare as suas refeições, é uma forma de estimular a autonomia por mais tempo e de diminuir o risco de acidentes. Os familiares ou cuidadores poderão recorrer à ajuda de um terapeuta ocupacional, que sugerirá especificamente para o caso o plano de alterações e as acções a tomar. Algumas indicações genéricas são: - Colocar diversos pontos de apoio, a que o sénior possa recorrer em caso de desequilíbrio, e onde se possa sentar para descansar, enquanto desempenha alguma tarefa como descascar batatas; - Facilitar a circulação para os diferentes lugares da - Organizar esta divisão de uma forma prática e acessível, sem ser necessário subir a bancos ou estar muito tempo baixo (inclinado para a frente numa bancada baixa por exemplo). Deixar nos armários mais acessíveis os utensílios que necessita mais frequentemente: pratos, copos, talheres; tachos, panelas. As mercearias devem estar também alcançáveis, bem como o frigorífico em que a porta abra de modo a que o idoso não corra o risco de queda; - Também pode ser considerada a aquisição de ajudas técnicas, geralmente à venda em casas da especialidade: tábuas para o pão, abre-latas, abre-cápsulas com fixação, base antiderrapante para tachos, pratos com rebordo antiderrapante, entre outros; 81 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 82 PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO - Se a utilização do fogão a gás, for uma preocupação, ou constituir um risco, consider a hipótese de colocar uma placa de indução, ou fogão eléctrico, sendo sempre necessário o ensino dos procedimentos adequados e dos recipientes que podem ser utilizados; - As torneiras de preensão facilitam o acesso, dado que não requerem fazer força; - A escolha de produtos passíveis de serem cozinhados no micro-ondas, também pode constituir uma opção acertada, caso o idoso de mostre receptivo à aprendizagem ou esteja já habituado a funcionar com ele; - Por uma questão de segurança deve ser colocado um telefone na cozinha, de fácil acesso ou, no caso de haver um telefone portátil, estimular o idoso a andar com ele no bolso (do avental ou bata se usarem). É importante não esquecer que qualquer das recomendações acima descritas, para ser implementada, terá que ter a concordância do idoso: a casa é sua e nem sempre as sugestões são bem vindas, levando à sua recusa. O cuidador deverá visitar o sénior enquanto este utiliza a cozinha e faz as suas refeições, para ir verificando quais as limitações que surgem e que tipo de ajudas poderá ir propondo como, por exemplo, auxílio na aquisição das compras e na preparação das refeições. NA INSTITUIÇÃO Nas instituições aparecem diferentes queixas associadas à alimentação embora as mais recorrentes estejam relacionadas com os seguintes factores: 1. Os horários fixos, estabelecidos em função do pessoal e não dos utentes, geralmente muito cedo (jantar às 18.30) são um dos motivos de descontentamento. Para quem está a perder capacidades, a perda de liberdade de escolha é muito penosa e mal aceite. A instituição deve estar atenta a este tipo de acontecimento e não “obrigar” os utentes a fazer as refeições a horas com as quais não concordam. É sempre possível conversar, colocar a questão e dar alternativas, como deixar a refeição preparada para que coma quando quiser. 2. O tempo para comer deve ser respeitado e nunca ser inferior a 30 minutos. Os hábitos adquiridos ao longo da vida ditam a duração das refeições. O essencial é que não se sintam pressionados e pos- 82 sam desfrutar do espaço, com calma e tranquilidade. No caso de um espaço comum (sala de refeições) é natural que a partilha da alimentação propicie conversas. 3. A escolha dos parceiros de mesa é geralmente feita pela instituição, por uma questão de organização e gestão do espaço. Não raro, as relações entre companheiros são tensas e geradoras de conflito, frequentemente queixando-se uns dos outros, relatando que são péssimas companhias, malcriados e não sabem comer. Sendo um pouco mais trabalhoso, deve ser deixado ao seu critério escolher a companhia ou até fazer a refeição sozinho. Embora as rotinas se vão instituindo, quando entra alguém para a “casa”, por exemplo, pode haver curiosidade em saber mais sobre aquela pessoa, vontade de a acolher da melhor forma e, nestas alturas, a opção deverá ser deixada ao critério do idoso. Outra hipótese é adoptar um sistema self-service, que dá total liberdade para a escolha dos lugares, embora se adeqúe apenas a utentes autónomos. 4. Há idosos que podem querer tomar as suas refeições no quarto, o que em algumas instituições é incompatível com o regulamento. Nos casos em que é impossível deslocar-se ao refeitório devido a doença ou outra incapacidade, é inevitável e os técnicos devem prestar todo o apoio e acompanhar a refeição, para que o utente não fique só. Por outro lado, comer no quarto, pode aparecer como sintoma ou uma forma de comunicar algo. É por isso necessário estar atento e tentar compreender o porquê da decisão. Razões como o desentendi- 7/23/07 2:20 PM Page 83 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp mento com algum companheiro, tristeza face a um acontecimento recente, sentimentos de inferioridade, medo da exposição ao ridículo podem estar na base da recusa da companhia. Também pode ser uma forma de simplesmente afirmar a sua vontade e exercer o direito de escolha. Na maior parte dos casos a decisão é transitória, devendo ser respeitada e, depois de analisados os motivos, intervir de modo a tentar integrar o idoso. A instituição tende a tornar os idosos dependentes, menos desenvoltos e as suas capacidades vão acabando por diminuir. Por vezes quando se ausentam deste contexto, numa ida a casa ou num passeio, surpreendem os cuidadores com os seus desempenhos. Assim é importante identificar as áreas em que é possível estimular a autonomia e travar o processo incapacitante. Algumas medidas podem ser tomadas para tornar mais apelativas as refeições. O aspecto da sala de refeições deve ser acolhedor e atractivo, para além de limpo e funcional, considerando os seguintes pontos: • Evitar a cor branca e preferir cores como laranja, pêssego ou amarelo, pois estimulam o apetite; • Colocar quadros consonantes com o estilo da decoração (podendo até ser elaborados pelos próprios utentes em ateliers de animação); • Distribuir a iluminação para que não fique demasiado forte e crie um ambiente mais intimista, podendo optar-se por pontos de luz na parede. • Privilegiar a luz natural, desimpedindo as janelas e portas vidradas, protegendo os utentes do sol directo e distribuindo os lugares de modo a que quem tenha dificuldades acrescidas de visão fique de costas para o sol; • Garantir boas condições de insonorização, sobretudo relativamente aos barulhos provenientes da cozinha que podem incomodar principalmente quem utiliza próteses auditivas, tornando-se demasiado agressivos; • Manter a temperatura constante, afastando as fontes de calor e frio de quem está a comer. A qualidade do serviço deve ter como padrão a restauração e não os serviços hospitalares. Os lares, pelas suas características, são mais facilmente comparáveis a hotéis do que a hospitais. Alguns aspectos devem ser tidos em conta: • Preferir toalhas e guardanapos de pano e em consonância com a restante decoração; • Optar por detalhes como marcadores de pratos, argolas de guardanapos personalizadas (que podem ser construídos pelos utentes), pequenas jarras com uma flor natural ou a colocação de velas decorativas nas mesas ao jantar para criar um ambiente diferente. • Passar com carros estufa ou um tabuleiro para mostrar as sobremesas e entradas; • Adequar o fardamento do pessoal que serve no refeitório (um avental elegante, por exemplo) para que se transmita a ideia de um espaço diferente que se assemelhe a um restaurante; • Assegurar a temperatura correcta dos alimentos servidos que quando demasiado quentes podem provocar queimaduras e se estão mornos ou frios são fonte de queixas e desagrado. Implicando alguma coordenação, consegue-se pelo serviço imediato dos pratos (em caso de empratamento) ou pelo serviço seguido, destacando um funcionário para 83 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 84 PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO oito utentes. De imediato deve passar outro funcionário a auxiliar quem precise (retirar as espinhas, partir o pão para dentro da sopa, cortar os alimentos); • Alternar a ordem dos lugares ou do início da distribuição da comida para evitar as reclamações quanto à sua temperatura ou ao tempo de espera. Esta gestão pode ainda considerar os gostos dos utentes, dado que alguns apreciam a comida muito quente, enquanto que com outros acontece o contrário; • Formar os funcionários para que sejam delicados e tentem atender aos pedidos que são feitos. • Implementar costumes como a semana gastronómica, ou o dia mensal das refeições típicas de determinada região ou país. O serviço dos quartos é também fundamental. Quando as refeições não são feitas na área comum, é necessário levar ao quarto o tabuleiro com a comida, sendo particularmente importante cuidar dos pormenores envolventes. Para que o aspecto seja agradável e atraente podem utilizar-se tabuleiros personalizados, ou individuais de pano, uma flor ou objectos decorativos como conchas ou estrelas de papel, consoante a época do ano. Por cima do prato deve colocar-se um naperon de papel ou um protector próprio para impedir que arrefeça. O funcionário deve ser cortês e preparar o ambiente, para que o espaço se assemelhe mais a uma sala que a um quarto. Certas iniciativas como transformar a sala de refeições num restaurante podem fazer a diferença e motivar para os momentos da refeição. A aproximação ao exterior, é sempre um factor que cativa e desperta a atenção de quem está sujeito à institucionalização. Deste modo, pormenores como colocar candeeiros nas mesas, uma jarra com flores, mudar as toalhas ou arranjar um menu mais requintado que se destaque do habitual enriquecem o dia-a-dia quebrando a monotonia. Pode inclusivamente sugerir-se que, mensalmente, o refeitório seja um restaurante por um dia. Os utentes terão que mudar de roupa e arranjar-se de forma especial para o jantar/almoço em que são disponibilizados menus temáticos e a decoração é alterada de acordo com estes. Por exemplo, num jantar de comida francesa, a decoração poderá ser à base de velas, com música da nacionalidade a criar ambiente. Devem ser ainda planeadas, saídas para comer fora, quer com familiares, quer em pequenos grupos. Os locais podem ser escolhidos pelos próprios, fazendo pequenos roteiros após a refeição. 84 PROCEDIMENTOS PARA ALIMENTAÇÃO DE IDOSOS DEPENDENTES OU SEMI DEPENDENTES Os cuidados a prestar diferem em função do grau de dependência do idoso. É importante não esquecer de estimular a autonomia devendo o cuidador insistir para que as tarefas sejam mantidas, mesmo que implique algum esforço. Nos casos em que a dependência é moderada, o papel de quem cuida é de supervisor. São apresentadas algumas indicações para ajudar o cuidador nessa tarefa. A situação de dependência é por si só constrangedora, a necessidade da ajuda de alguém para um acto tão natural como comer, retira muitas vezes o prazer e o gosto de fazer uma refeição. O facto do cuidador efectuar estes gestos mecanicamente, não ajuda à descontracção e provoca uma diminuição do apetite. É importante proporcionar um ambiente calmo de maneira a tornar os momentos prazerosos e não apenas obrigações. 7/23/07 2:20 PM Page 85 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp FICHA DE PROCEDIMENTO Nº3 ALIMENTAÇÃO DE IDOSOS DEPENDENTES PREPARAÇÃO DO DOENTE - Assegurar que o ambiente é tranquilo e que o idoso se sente confortável no espaço e com a companhia. - Verificar se está numa postura cómoda. Nunca deve ser dado qualquer tipo de alimento ou liquido com o indivíduo deitado. O ideal é a posição sentado de costas direitas, ou semi-sentado, no caso de estar acamado. - Idoso e cuidador devem estar ao mesmo nível e não, como acontece muitas vezes, ficar de pé quem está a ajudar. - Sempre que possível, sair da cama para comer. O cuidador deve insistir para que isto aconteça, mesmo que tenha que arranjar argumentos como o fazer a cama. - Ambos os implicados devem lavar as mãos antes (e depois) da refeição. Caso seja difícil deslocar-se até à casa-de-banho, o cuidador pode providenciar uma toalha turca molhada, uma toalhita impregnada em solução própria, ou uma pequena bacia com água, sabão e esponja. - Colocar o tabuleiro com o prato, talheres, copo e guardanapo, numa mesa de apoio, caso exista, ou recorrer a um tabuleiro com suportes laterais que permitem assentar na cama e ficar a uma altura, que facilite os movimentos (os braços devem fazer um ângulo de 45º). - Verificar se os alimentos estão prontos a ser consumidos e arranjados de forma a evitar o engasgamento: as frutas descascadas e partidas, ao peixe sem as espinhas e pele (caso o idoso não goste) e também partido. Os restantes elementos como as batatas, carne e outros alimentos devem ser cortados, quando o utente não consiga. Comidas como esparguete com carne picada, não são muito apropriadas para quem tem dificuldade em se alimentar. PROCEDIMENTO - No caso de o idoso não ter condições físicas, os alimentos devem ser administrados lentamente e em pequenas quantidades. - Assegurar que não são feitos movimentos demasiado bruscos, e que a comida não é derramada. - Sempre que se verifique que o idoso está a ficar cansado, persuadi-lo a deixar que o ajudem, e dar o restante na boca. - Ter em atenção o tipo de alimentos que estão no prato que devem ser dados alternadamente: por exemplo, uma colher de carne, uma colher de batata, uma colher de vegetais. - Deve-se estimular a mastigação compassada e durante o tempo suficiente. - Se ocorrer vómitos ou tosse, parar imediatamente a alimentação. A comida deve ser retirada da frente, caso possa estar a causar náuseas. - O cuidador deve estar por perto para supervisionar a refeição e estar atento às dificuldades que possam surgir. Quando tiver que se ausentar deverá avisar o idoso, de quanto tempo não vai estar presente. - O tabuleiro deve ser retirado e a quantidade de comida ingerida deve ser registada. CUIDADOS ESPECÍFICOS - Limpar a boca, sempre que o idoso não seja capaz durante a refeição, e no final tratar da higiene oral. Fornecer um copo de água e pasta dentífrica, no caso de não se conseguir deslocar. - Deixar o utente numa posição que favoreça a digestão. - Lavar as mãos após todo o procedimento. 85 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 86 PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO CUIDADOS ESPECÍFICOS COM A HIDRATAÇÃO Um dos maiores riscos a que os idosos estão sujeitos é ao de desidratação. Tal como foi anteriormente indicado há um conjunto de factores que propicia o desenvolvimento de um quadro deste tipo. Nestes casos há que estar atento aos sinais e sintomas que evidenciem desidratação, para poder intervir atempadamente evitando consequências graves. No quadro 7.2 estão representados os principais sinais e sintomas. A quantidade de água bebida deve aproximar-se dos 1,5 litros. No entanto, a hidratação dos mais velhos pode ocorrer também através da ingestão de alimentos sólidos e de outros líquidos. Quando não goste de água e caso se recuse a bebê-la, ou quando sistematicamente tende a evitá-la, devem ser introduzida na sua alimentação opções com alto teor de água. Em situações em que há risco de engasgamento devido a dificuldades de deglutição os líquidos o recurso aos espessantes (pós vendidos na farmácia) permite diminuir esse risco. O cuidador deve estar atento ao que o idoso consome ao longo do dia e pode inclusivamente efectuar um registo diário, para ajudar a controlar a hidratação. É importante ter em conta não só a quantidade de líquidos ingeridos, mas também o tipo de alimentos. Para facilitar o balanço dos líqui- dos bebidos, podem ser consideradas Unidades de Hidratação (UH). São dados alguns exemplos de acordo com Ferry & Alix, 2004: - 1 1 1 1 1 1 1 tigela de infusão, chá, leite ou café = 3 UH; copo de água, sumo, leite ou Chá = 2 UH; chávena de infusão, chá, leite ou café = 1 UH; tigela de caldo = 3 UH; batido = 3 UH; pudim flã = 1 UH; Iogurte = 1 UH. QUADRO 7.2 - PRINCIPAIS SINAIS E SINTOMAS DA DESIDRATAÇÃO Lábios, olhos e mucosas secas; Língua seca e com crostas; Pele seca, com pouca elasticidade; Respiração rápida; Olhos afundados; Ritmo cardíaco acelerado; Diminuição da pressão arterial; Redução do volume de urina; Extremidades frias; Hiperventilação; Alteração dos estados de consciência, com confusão e desorientação; Torpor e agitação; Rubor facial; Ausência de sede. 86 7/23/07 2:20 PM Page 87 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp Para um peso de 60 kg são necessárias 26 unidades de hidratação por dia, sendo que por cada 5 kg a mais deve acrescentar-se 2 UH (para 65 kg devem ser consumidas 28 UH). O registo diário poderá ter um formato semelhante ao que aqui apresentamos no quadro 7.3. O cuidador que produza um documento próprio pode registar também outros factos que lhe pareçam relevantes como, por exemplo, a medicação, a alimentação o número de vezes que urina ou defeca, entre outros. A criação de rotinas é fundamental, principalmente no Verão em que a temperatura elevada aumenta o risco de desidratação. Deve ser estimulada a bebida de água e outros líquidos não açucarados colocando-os à disposição, nos diferentes locais frequentados: água ou jarros com refresco, chá frio ou quente (consoante a temperatura ambiente) e copos. Também pode ser disponibilizada uma garrafa ou copo fechado com uma palha, com o nome do utente, que possa ser facilmente transportado por este. QUADRO 7.3 - REGISTO DA HIDRATAÇÃO DO IDOSO Nome: Data: Alimentos e Bebidas UH Pequeno Almoço Meio da manhã Almoço Lanche Jantar Ceia Total 87 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 88 PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO ACTUAR EM SITUAÇÕES PARTICULARES: VÓMITO, ENGASGAMENTO No decorrer do processo de alimentação podem aparecer situações que necessitem de uma intervenção pronta e rápida, por parte do cuidador. Não raro, vómitos e engasgamento, surgem nos idosos, sendo necessário aplicar procedimentos específicos que permitam agir em segurança. É apresentada na Ficha de procedimento nº4 um conjunto de anotações para agir de forma adequada em caso de vómitos. Na Ficha de procedimento nº5 são dadas algumas indicações para actuar em caso de engasgamento. É importante reforçar que o cuidador nestes casos deve manter a calma, transmitindo também segurança à vítima para que esta não se descontrole demasiado e agrave a situação. FICHA DE PROCEDIMENTO Nº4 ACTUAÇÃO PERANTE O IDOSO COM VÓMITOS PREPARAÇÃO DO DOENTE - Reunir o material necessário, ou se os vómitos forem uma situação recorrente, ter o material já numa caixa: • Bacia • Esponja • Toalha • Luvas • Copo • Tecido absorvente - Calçar as luvas; - Proteger com tecido absorvente a roupa do idoso e da cama; - Tranquilizar o idoso. PROCEDIMENTO - Na impossibilidade de se sentar, o paciente deve ser deitado de lado (decúbito lateral) com a cabeça voltada para evitar asfixia com o vómito; - Colocar uma bacia à frente do rosto; - Apoiar a testa do idoso com a mão, para que consiga fazer o esforço mais facilmente; - Limpar o suor com uma toalha húmida (fresca); - Quando terminados os vómitos, limpar o doente e, caso seja necessário, trocar a roupa do corpo e da cama; - Ajudar a lavar a boca, não utilizando pasta dentífrica nem escova de dentes logo de imediato, para não provocar a repetição da situação; - Retirar as luvas e lavar as mãos; CUIDADOS ESPECÍFICOS - Não dar líquidos nem alimentos, até que o idoso se sinta melhor, se houver complicações, a situação deve ser transmitida aos técnicos de saúde e aguardar instruções; - Registar sempre a ocorrência de vómitos, apontando a hora e o dia; 88 7/23/07 2:20 PM Page 89 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp FICHA DE PROCEDIMENTO Nº5 ACTUAÇÃO PERANTE O IDOSO ENGASGADO PREPARAÇÃO DO DOENTE - Colocar o paciente sentado, ou em pé; - Libertar o espaço circundante para poder movimentar-se (se houver mais gente presente, pedir que o façam). PROCEDIMENTO - Se houver uma obstrução parcial estando o idoso a tossir, deve estimular-se para que consiga expelir o objecto; - inclinar a pessoa para a frente favorece a que a força da gravidade ajude a desimpedir a via respiratória; - Se a passagem do ar está totalmente obstruída e não há tosse, é necessário passar de imediato à Manobra de Heimlich: • O cuidador deve posicionar-se atrás da vítima, incliná-la para a frente e dar 5 pancadas secas, com a mão aberta, entre as omoplatas; • Se objecto não tiver saído, na mesma posição, colocar a mão fechada com o polegar esticado, contra o abdómen (entre um umbigo e o apêndice xifóide) e a outra sobre esta, agarrando-a bem de forma a conseguir fazer pressão; • Com força devem ser feitas 5 compressões abdominais, compassadamente de forma seca e enérgica; • O movimento das compressões deve ser para dentro e para cima, para que a pressão do peito aumente e o objecto saia. • As sequências de pancadas e compressões, devem ser alternadas até ocorrer a desobstrução. CUIDADOS ESPECÍFICOS - Não dar líquidos nem alimentos, até que o idoso se sinta melhor. Se houver complicações, a situação deve ser transmitida aos técnicos de saúde e aguardar instruções; - Registar sempre a ocorrência de vómitos, apontando a hora e o dia; 89 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 90 SÍNTESE A alimentação dos idosos carece de alguns cuidados específicos. No contexto domiciliar é importante ter em conta aspectos como o orçamento limitado, dificuldade para adquirir e armazenar os alimentos, humor depressivo ou a solidão entre outros. Deve também ser pensada, caso seja necessária, uma adaptação da cozinha às limitações emergentes. Na instituição surge a questão de organizar o espaço do refeitório e da preparação dos pratos de forma a torná-los atractivos. O serviço de quartos, quando imprescindível, deve obedecer a aspectos particulares como o embelezamento do tabuleiro, ou fazer sempre que possível o levante do idoso. No caso do auxílio a idosos dependentes ou semi-dependentes ou nos cuidados de hidratação, existem procedimentos que facilitam as tarefas que requerem, em muitos casos, a sistematização. Para isto podem utilizar-se registos diários, de forma a assegurar que o indivíduo ingere a quantidade de água necessária. Por fim são indicados cuidados a ter no caso de vómito e engasgamento, para que a actuação do cuidador possa ser rápida e eficaz. 90 7/23/07 2:20 PM Page 91 ACTIVIDADES 7 . PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO formando_alimentacao.qxp ACTIVIDADES DE AVALIAÇÃO 1. Um idoso em casa pode-se deparar com um conjunto de dificuldades ao nível alimentar. Indique pelo menos quatro aspectos em que o cuidador pode intervir de forma a melhorar alimentação do idoso. 2. Classifique como verdadeiras ou falsa as seguintes afirmações: 2.1. Para os idosos o que importa é haver rotina, independente da hora a que a fazem as refeições. 2.2. Os idosos comem pouco e portanto levam menos de 20 minutos a fazer as refeições. 2.3. A escolha dos parceiros de mesa deve, preferencialmente, ser feita pelos utentes. 2.4. Deve-se proibir que os residentes tomem as suas refeições no quarto. 3. Que tipo de sinais e sintomas podem surgir nos idosos desidratados? 4. Se os vómitos são recorrentes, o cuidador pode ter uma caixa pronta com o material necessário para apoiar nesta situação? 5. O que entende por Manobra de Heimlich? 91 formando_alimentacao.qxp 92 7/23/07 2:20 PM Page 92 7/23/07 2:20 PM Page 93 SOLUÇÕES DAS ACTIVIDADES SOLUÇÕES formando_alimentacao.qxp A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO s SOLIUÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 94 SOLUÇÕES DAS ACTIVIDADES CAPÍTULO 1 NOÇÕES BÁSICAS DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO 1. Essencialmente, ambas são representações dos grupos alimentares, cujas divisões agrupam não só qualitativamente os alimentos, mas também quantitativamente, uma vez que indicam as proporções em que os alimentos devem ser ingeridos. A Roda dos Alimentos tem um formato idêntico ao de um prato, o que facilita a assimilação das proporções em que os grupos alimentares devem estar presentes à refeição. A Pirâmide dos Alimentos representa os grupos alimentares de forma hierarquizada dando uma ideia de alimentos “mais importantes” e “menos importantes”, sendo esse o critério para a frequência do consumo. 2. É uma representação gráfica dos grupos alimentares, criada para reformular a Roda dos Alimentos, que foi criada na década de 70. 2.1. Sete grupos. 2.2. Cereais, seus derivados e tubérculos: arroz, milho, centeio, trigo, massa, farinha, pão, batata, castanha. Hortícolas: cenoura, abóbora, pepino, agrião, nabiça, couve. Fruta: pêra, banana, manga, papaia. Lacticínios: leite, iogurte, requeijão. Carne, pescado e ovos: vaca, coelho, frango, sardinha, peixe espada, berbigão, camarão, ovos. Leguminosas: ervilhas, favas, lentilhas, grão, feijão. Gorduras e óleos: azeite, óleo de soja, banha, natas, manteiga, margarina. 3. Proteínas, hidratos de carbono, lípidos, vitaminas, fibras alimentares, minerais e oligoelementos e água. 4. São hidratos de carbono que demoram mais tempo a ser absorvidos e são fornecidos pelos cereais, pão e massas. 5.1. Falso. As necessidades de hidratação aumentam, uma vez que ao subir a temperatura, as perdas de água (sudação) são maiores. 5.2. Verdadeiro. Os idosos podem comer doces, sendo que em alguns casos até beneficiam, tendo em conta as necessidades energéticas e o facto de “abrir o apetite” para outros pratos, motivando para a alimentação. 5.3. Verdadeiro. Tanto as iscas como as amêijoas são alimentos ricos em zinco, mineral que melhora a cicatrização. 94 CAPÍTULO 2 MÁ NUTRIÇÃO: CAUSAS, SINTOMAS, CONSEQUÊNCIAS E AVALIAÇÃO 1. 1.1. Segundo a informação disponível no texto, o Sr. Gualdino reúne alguns factores que constituem sinais e sintomas de risco de má nutrição. 1.2. Ter sofrido a perda de um ente querido (enviuvado) há pouco tempo; Revelar sinais de tristeza e depressão como forma de reacção à perda da mulher (está muito abalado, triste, sem paciência e com pouco apetite). Estar isolado e não saber confeccionar refeições. Alimentação insuficiente e pouco variada (chá e torradas, e atum com pão ou fritos), que estimula pouco o apetite. Dificuldade em movimentar-se para ir às compras. 1.3. Tristeza, falta de motivação para se alimentar Falta de apetite (anorexia) Emagrecimento Sentir-se fraco (astenia) 1.4. Entre outras consequências o Sr. Gualdino, corre o risco, se não houver intervenção, de emagrecer, perder massa muscular e agravar as suas dificuldades de locomoção. Os sintomas psicológicos terão tendência a agravar-se, podendo haver deficit cognitivo. A anorexia pode evoluir para uma recusa da alimentação, motivada pela depressão. Ficará mais vulnerável a infecções ou a outros problemas de saúde. 2. A anorexia pode ser causa e consequência da má nutrição. Como causa ela afecta a ingestão de alimentos e poderá surgir como sintoma de depressão, ou de qualquer doença. Pode também ser motivada pela falta de paladar, que diminui o interesse pela alimentação. A pouca mobilidade e um estilo de vida demasiado monótono são também causas da falta de apetite. Por outro lado a anorexia pode aparecer também como consequência de uma alimentação desequilibrada, já que o estado do indivíduo vai-se agravando, o enfraquecimento progredindo e fazendo com que a vontade de comer seja menor. 3. Sim, a má nutrição pode afectar as actividades da vida diária, bem como algumas funções vitais. Vestir e despir - Incapacidade de se vestir devido a obesidade ou emagrecimento. Estar limpo e cuidado - Potencial compromisso da integridade da pele devido à sua secura. Compromisso da mucosa oral devido a higiene deficiente e estomatite. Sair de casa - Risco de acidente associado a deficit sensorial e a uma fraqueza provocada pela falta de apetite e pela má nutrição. 7/23/07 2:20 PM Page 95 SOLIUÇÕES formando_alimentacao.qxp 4.1.Verdadeiro 4.2. Falso. As necessidades dos idosos são idênticas às dos adultos, ou até mais exigentes. Portanto duas refeições, mesmo que muito equilibradas, não serão provavelmente adequadas. Aconselha-se quatro a cinco refeições diárias. 4.3. Falso. A perda do olfacto e do gosto está muitas vezes relacionada com a anorexia, ou com o consumo exagerado de alimentos muito salgados ou muito doces. Assim, deve-se apostar nas ervas aromáticas e temperos com especiarias, de forma a manter as comidas apetitosas. Vigilância e Manutenção • Verificar se está bem colocada (se a marca está no local apropriado) periodicamente; • Mudar o adesivo de fixação da sonda de 24 em 24 horas, para evitar que a sonda se solte e que possam aparecer feridas; • Mobilizar a sonda (24 em 24 horas), mudando o ponto de apoio para prevenir o aparecimento de úlceras de pressão; • Ter atenção à duração do material depende do fabricante, no entanto em muitos casos as seringas por exemplo só devem ser utilizadas por 24 horas. 4. 4.4. Verdadeiro 4.5. Falso. Está relacionada com a carência de vitamina D, proteínas e cálcio, e pode ser atenuada ou evitada através do consumo diário de acordo com a dose diária recomendada (ddr) de lacticínios. CAPÍTULO 3 ALIMENTAÇÃO ENTÉRICA 1. É um tipo de nutrição artificial que é utilizada quando não é possível através da via oral o individuo alimentar-se. Os nutrientes são administrados directamente no estômago ou jejuno. É utilizada quando há dificuldades de deglutição, ou outro problema que sirva de impedimento a uma alimentação equilibrada. 2. A sonda nasogástrica é um tubo que é colocado através do nariz até ao estômago, não é necessário qualquer tipo de intervenção cirúrgica. A gastrostomia, é consiste numa cânula que passa através de uma perfuração da pele directamente para o estômago. 3. Higiene Assegurar que o ambiente que rodeia o idoso está limpo e ter atenção para que o material não entre em contacto com superfícies sujas; • Lavar as mãos e secar antes e depois do manuseamento da sonda; • No caso da sonda nasogástrica, limpar as fossas nasais com cotonete embebido em soro fisiológico e hidratar com vaselina; • No caso da gastrostomia, limpar o ponto de penetração cuidadosamente; • Manter bem limpa a extremidade da sonda; • Conservar a sonda limpa e permeável, para isso devem ser administrados 50ml de água no final de cada administração; 4.1. Falsa. É possível alimentar o idoso através de sonda com caldos e papas, desde que bem passados e líquidos, para que não se corra o risco de entupimento da sonda. 4.2. Falsa. Pelo contrário deve permanecer sentado ou semi sentado, para evitar regurgitamento, vómito e broncoaspiração. Caso não seja possível deitar o idoso de lado. 4.3. Verdadeira 4.4. Falsa. Caso não exista nenhuma contra-indicação deve ser estimulada a função oral (mastigação) dando alimentos para que o idoso possa deglutir. 4.5. Verdadeira CAPÍTULO 4 A NUTRIÇÃO DO IDOSO: ASPECTOS PSICOSSOCIAIS E DIETAS ADEQUADAS 1. No lar, ou outra instituição a refeição é um momento de partilha e de estimulação das relações sociais. É em muitos casos o ponto central do dia-a-dia do idoso e deve ser investido enquanto tema de debate e de sugestões. Em casa sozinho, este tende a isolar-se e passa a evitar o acto, acabando por fugir ao confronto com a solidão que se acentua ao sentar-se com o prato. Quando se encontra em família, este é um momento privilegiado, caso a relação com os outros membros seja boa, caso contrário pode constituir uma verdadeira tortura. 2. A ementa é uma forma de planeamento das refeições, permite não só haver um aprovisionamento adequado para a colocar em prática, como também um equilíbrio nutricional nas escolhas alimentares. Esta previsão facilita também a avaliação da alimentação. 3. Os intervenientes no processo devem fazer parte de uma equipa multidisciplinar (responsáveis da casa, nutricionista, cozinheiro e representante dos utentes). O primeiro passo é ouvir atentamente e/ou fazer um questionário onde são registados os gostos individuais e os hábitos alimentares dos idosos. Posteriormente e para 95 SOLIUÇÕES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 96 SOLUÇÕES DAS ACTIVIDADES poupar tempo, o cozinheiro e o nutricionista podem apresentar um esboço de ementa, que é discutida em conjunto com os restantes elementos (responsáveis e representante dos utentes). No final esta deve ser afixada em local de fácil acesso. 4. A ementa deve conter as refeições de segunda a domingo, com indicação dos pratos do almoço e jantar. Também pode incluir o lanche e a ceia, ficando ao critério de quem a elabora. Dentro de cada refeição deve constar o nome da sopa, o prato principal, a sobremesa (opcional) e a alternativa. 5.1. Falso. As sopas consumidas devem ser de legumes, a canja pode ser consumida, mas só esporadicamente, devido ao alto teor de gordura, pouco adequado para os idosos. 5.2. Falso. A repetição dos acompanhamentos deve ser evitada, não é de todo adequado. 4. A anorexia traduz-se por uma falta de vontade de comer. A ausência de apetite está relacionada com factores internos ou externos, e pode também estar associada a patologias. A recusa alimentar implica uma rejeição da comida, independentemente da falta de apetite. Não está directamente ligada a uma patologia e é expressão de desejos do idoso. 5. 5.1. Falso. O idoso diabético deve comer várias vezes ao dia, exactamente para não comer muito de cada vez e evitar a hiperglicémia. 5.2. Verdadeiro. 5.3. Verdadeiro. 5.4. Falso. Não deve em caso algum ser negligenciada. A recusa de alimentos pode ter consequências muito graves, levando nalguns casos à morte. 5.3. Verdadeiro. 5.4. Falso. Devem diversificar as formas de confecção: estufado em cru, grelhado, assado com pouca gordura. Os idosos que têm dificuldade em mastigar, devem passar os alimentos ou preferir consistências mais moles. 5.5. Falso. Pelo contrário, mesmo que não comam muito devem diversificar a ingestão de alimentos, tornando assim mais completa a sua alimentação. CAPÍTULO 5 ASPECTOS PARTICULARES DA NUTRIÇÃO DO IDOSO 1. Diabetes, obstipação, escaras, osteoporose, doenças cardiovasculares e gota úrica. 2. Apesar das necessidades de uma dieta adequada e de algumas restrições específicas, como o caso dos doces, o idoso não deve ser “proibido”, principalmente se são opções alimentares de que gosta muito. Este deve ser persuadido e orientado, para a dieta de que necessita, mas não deve ser tratado como um “condenado” a uma alimentação sem acesso aos seus gostos pessoais. Nestes casos o risco de anorexia ou recusa alimentar é grande, bem como o aparecimento de quadros depressivos, muitas vezes motivadores de ainda maiores desajustes e descompensações do estado de saúde. 3. Tornar as refeições mais apetitosas, atractivas e variadas; Ir ao encontro dos gostos e preferências dos idosos; Fazer várias refeições ao longo do dia, com pequenas quantidades; Fornecer suplementos alimentares hiperproteicos e hipercalóricos. 96 CAPÍTULO 6 A PREPARAÇÃO DE REFEIÇÕES 1. O cuidador pode ajudar o idoso a organizar a sua lista de compras; pode sugerir a encomenda telefónica em lojas, ou solicitar a sua entrega no domicílio após ir à loja. Também pode sugerir as compras online, com auxílio dos filhos ou dos netos. Pode ainda acompanhá-lo mensalmente para as compras maiores, e de cada vez que se desloca ao supermercado. 2. Não introduzir no frigorífico produtos quentes; - Não colocar as caixas que vêm do supermercado (focos de contaminação); - Não misturar nos mesmos compartimentos alimentos de origens diferentes (carnes e peixes; alimentos cozinhado com alimentos crus); - Envolver os alimentos em película aderente para evitar que sequem; - Não colocar as latas de conserva. Passar o seu conteúdo para o recipiente adequado; - Utilizar recipientes de material inalterável para guardar os alimentos. 3. Método de cozedura com gordura que se baseia na cozedura de fracções, submetidas a lume alto com pouca gordura, durante um período de tempo curto e produzindo um movimento de vaivém com a frigideira, proporcionando assim uma cozedura do produto sem perda de sucos naturais. 4. 4.1. F; 4.2. V; 4.3. F; 4.4. V; 4.5. V 7/23/07 2:20 PM Page 97 SOLIUÇÕES formando_alimentacao.qxp 5. Nos idosos a gravidade dos sintomas de uma toxinfecção, provocada pela ingestão de alimentos contaminados por bactérias ou pelas suas toxinas, é maior e em alguns casos, pode mesmo a conduzir a situações limite colocando em risco a sua vida. As principais manifestações são: diarreia, dor abdominal, vómitos, eventualmente febre e dor de cabeça. CAPÍTULO 7 PREPARAR A FAMÍLIA E AS INSTITUIÇÕES PARA PRESTAR APOIO NA ALIMENTAÇÃO DO IDOSO 1. 1 - Orçamento limitado, dificuldade em adquirir e armazenar 2 - Dificuldade em adquirir, armazenar e preparar os alimentos 3 - Humor depressivo e sentimentos de Solidão 4 - Crenças e ideias erróneas 2. 2.1. F; 2.2. F; 2.3. V; 2.4. F 3. Lábios, olhos e mucosas secas; Língua seca e com crostas; Pele seca, com pouca elasticidade; Respiração rápida; Olhos afundados; Ritmo cardíaco acelerado; Diminuição da pressão arterial; Redução do volume de urina; Extremidades frias; Hiperventilação; Alteração dos estados de consciência, com confusão e desorientação; Torpor e agitação; Rubor facial; Ausência de sede. 4. Bacia; Esponja; Toalha; Luvas; Copo; Tecido absorvente 5. • O cuidador deve posicionar-se atrás da vítima, incliná-la para a frente e dar 5 pancadas secas, com a mão aberta, entre as omoplatas; • Se objecto não tiver saído, na mesma posição, colocar a mão fechada com o polegar esticado, contra o abdómen (entre um umbigo e o apêndice xifoide) e a outra sobre esta, agarrando-a bem de forma a conseguir fazer pressão; • Com força devem ser feitas 5 compressões abdominais, compassadamente de forma seca e enérgica; • O movimento das compressões deve ser para dentro e para cima, para que a pressão do peito aumente e o objecto saia. • As sequências de pancadas e compressões, devem ser alternadas até ocorrer a desobstrução. 97 formando_alimentacao.qxp 98 7/23/07 2:20 PM Page 98 7/23/07 2:20 PM Page 99 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA BIBLIOGRAFIA CONSULTADA formando_alimentacao.qxp A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO b BIBLIOGRAFIA CONSULTADA formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 100 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA Campos, M., Monteiro, J., Ornelas, A. (2000). Factores que afectam o consumo alimentar e a nutrição do idoso. Revista de Nutrição, Campinas, 13(3): 187-165. https://sigarra.up.pt/fcnaup/web_page.inicial Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e Instituto do Consumidor (2004). Guia-Os alimentos na Roda. Lisboa: Instituto do Consumidor http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/enciclopedia+da+saude/alimentacao/DGS+ANA.htm Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e Instituto do Consumidor (2004). Guia: Nutrientes, Aditivos e Alimentos. Lisboa: Instituto do Consumidor http://www.eufic.org/ http://www.foodinlaterlife.org/ http://www.consumidor.pt www.gastronomias.com www.nutricia.pt Ferry, M. & Alix, E. A nutrição da pessoa idosa. Aspectos fundamentais, clínicos e psicossociais. Loures: LUSOCIÊNCIA - Edições Técnicas e Científicas, lda. Mailloux-Poirier, D. (1995) Beber e Comer. In Berger, L., D. Pessoas Idosas, uma abordagem global. Lisboa: Lusodidacta Martins, A., Gonçalves, M., Carneiro, M., Fernandes M. (1994). Receitas Becel para uma vida saudável. FimaProdutos Alimentares Polónia, J., & Santos, A. (1996). Nutrição e terapêutica medicamentosa em geriatria. In Reis, P. Temas em geriatria tomo II. Lisboa: Prismédica - Reciclagem e Informação Médica, Lda Pimentel, F., Rodrigues, M., Costa, R., Lima, M. (?). Higiene Alimentar. Câmara Municipal de Lisboa-Divisão Municipal de Abastecimento e Consumo Rice, R. (2004). Prática de enfermagem em geriatria nos cuidados domiciliários. Loures: Lusociência (Obra original publicada em 2001) Ruipérez, I., & Llorente, P. (1998). Geriatria (M. T. R. Teixeira, trad.). Rio de Janeiro: McGraw-Hill Intramericana do Brasil, Ltda. (Obra original publicada em 1996) Saldanha, H. (2001). Nutrição clínica moderna na saúde e na doença. Lisboa: LIDEL. Edições Técnicas, lda. Vieira, A. (2001). Nutrição e envelhecimento. In Pinto, A. Envelhecer vvendo (143-154). Coimbra: Quarteto Referências de página de internet: http://www.grunenthal.pt/cw/pt_PT/pdf/cw_pt_pt_iu_guiu t_14.pdf;jsessionid=QYSVQNRNPDZG3LAQP2BCFEQ http://www.portalimentar.pt http://www.dgsaude.pt 100 7/23/07 2:20 PM Page 101 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO t TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 102 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO Os seguintes quadros são adaptados de : Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e Instituto do Consumidor (2004). Guia: Nutrientes, Aditivos e Alimentos. Lisboa: Instituto do Consumidor. VITAMINAS LIPOSSOLÚVEIS 102 A (Retinol) Essencial para o crescimento, funcionamento do sistema imunitário (defesas do organismo) e dos órgãos reprodutores, formação de ossos e dentes e processo de visão. Protege a pele e as mucosas de infecções. Fígado, peixes "gordos" (salmão, arenque, atum, sardinha,...) gema de ovo, lacticínios "gordos", manteiga, hortícolas de cor verde escura ou alaranjada (couves, brócolos, cenoura, abóbora,...). D (Calciferol) Fundamental para a adequada formação dos ossos e dentes e para manter correctos os níveis de cálcio e fósforo no sangue. Óleo de fígado de bacalhau, peixes "gordos" (salmão, arenque, atum, sardinha,...), fígado, gema do ovo, leite e derivados ricos em gordura. E (Tocoferol) Contribui para a recuperação dos tecidos, na protecção dos glóbulos vermelhos e anticorpos. Tem uma acção antioxidante. Óleos de origem vegetal, frutos gordos (avelãs, nozes e amêndoas), cereais e derivados pouco refinados, hortícolas (principalmente de folha verde escura), gema de ovo e queijo. K (Menadiona) Regula os processos de coagulação do sangue. Intervém na síntese de algumas proteínas importantes para o sistema nervoso, ossos, sangue e rins. Hortícolas (espinafres, brócolos, repolho, couve-flor, cenoura...), óleos vegetais, leguminosas (ervilha, feijão,...), batata. 7/23/07 2:20 PM Page 103 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp VITAMINAS HIDROSSOLÚVEIS C (Ácido ascórbico) Fundamental para a formação e manutenção de alguns tecidos (vasos sanguíneos, ossos, dentes,...). Acelera os processos de cicatrização. Essencial para a resistência a infecções. Tem uma acção antioxidante. Promove a absorção do ferro. Frutos (especialmente laranja, limão e outros citrinos, kiwi, morangos, papaia, manga, uvas, melão e hortícolas (couve-galega, espinafres, agrião, pimentos vermelhos, brócolos, tomate,...), batata. B1 (Tiamina) Intervém na obtenção de energia a partir dos macronutrientes, sobretudo dos hidratos de carbono. Participa na produção e crescimento das células do sangue. Cereais e derivados pouco refinados, leguminosas, carne de porco, pescado, frutos gordos (nozes e avelãs). B2 (Riboflavina) Intervém na obtenção de energia a partir dos macronutrientes. Essencial para o crescimento e reparação dos tecidos. Intervém na produção de hormonas pelas glândulas supra-renais. Vísceras (fígado,...), cereais e derivados pouco refinados, leite e derivados, frutos gordos (nozes e avelãs), leguminosas, pescado, cogumelos. B3, PP (Niacina) Intervém na obtenção de energia a partir dos macro nutrientes. Contribui para a produção de corticosteróides e hormonas sexuais. Contribui para o normal funcionamento do sistema nervoso e das glândulas supra-renais. Levedura de cerveja, vísceras (fígado e coração), pescado, carne de aves, cereais e derivados pouco refinados. B5 Ácido (pantoténico) Intervém na obtenção de energia a partir dos macronutrientes e no crescimento celular. Vísceras, levedura de cerveja, leguminosas, cereais e derivados pouco refinados, gema de ovo, nozes, pescado. B6 (Piridoxina) Intervém na formação de alguns aminoácidos e conversão de outros em hormonas. Essencial na formação de hemoglobina e para o normal funcionamento do sistema nervoso. Pescado, carnes, fígado, frutos (banana, manga, uvas,...), cereais e derivados pouco refinados, leguminosas, frutos gordos (nozes e amendoins). B8, H (Biotina) Essencial à actividade de enzimas que intervêm na decomposição dos ácidos gordos e dos hidratos de carbono. Importante na eliminação de produtos do metabolismo das proteínas. Levedura de cerveja, fígado, gema de ovo, frutos gordos, cogumelos, frutos (banana, toranja e melancia). B9 (Ácido fólico Intervém na produção de ácidos nucleicos (material genético das células), no crescimento e reprodução. Previne malformações no tubo neural dos fetos. Hortícolas de folha verde escura, fígado, frutos gordos, leguminosas (feijão e ervilhas), gema de ovo, cereais e derivados pouco refinados. B12 (Cobalamina) Indispensável para muitas reacções enzimáticas. Fundamental para a produção do material genético das células e para o metabolismo do ácido fólico. Vísceras (fígado e rim), carnes, marisco, ovos, produtos lácteos (excepto manteiga). 103 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 104 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO QUADRO DE MINERAIS E OLIGOELEMENTOS 104 Cálcio (Ca) Essencial na formação e crescimento de ossos e dentes. Auxilia os processos de coagulação do sangue e dos que permitem a actividade do sistema nervoso e contracção dos músculos. Lacticínios, hortícolas de folha verde escura, ovos, pescado, frutos gordos (avelãs, nozes,...). Cloro (Cl) Contribui para a manutenção do equilíbrio hídrico e electrolítico. Intervém na contracção e relaxamento dos músculos e em processos que permitem a actividade do sistema nervoso. Sal, pescado, produtos de salsicharia e de charcutaria, produtos enlatados, outros produtos salgados (batatas fritas,...). Enxofre (S) Entra na composição de aminoácidos, hormonas e vitaminas. Fundamental na cicatrização da pele. Intervém na coagulação do sangue. Leguminosas, hortícolas (cebola, alho, espargos,...), pescado, gema de ovo. Fósforo (P) Participa na formação e crescimento dos ossos e dentes. Fundamental para o crescimento, manutenção e reparação de todos os tecidos, para o transporte de nutrimentos através das membranas celulares e para a produção e armazenamento de energia. Leite e derivados (excepto manteiga), pescado, gema de ovo, frutos gordos, leguminosas, cacau. Magnésio (Mg) Participa na formação e crescimento dos ossos e dentes. Intervém no relaxamento dos músculos e em processos que permitem a actividade do sistema nervoso. Cereais e derivados pouco refinados, leguminosas (feijão, grão de bico, soja), castanha, frutos gordos (avelãs, nozes, amêndoas), frutos frescos (banana, figo,...). Potássio (K) Contribui para a manutenção do equilíbrio hídrico e electrolítico. Essencial para a contracção muscular, manutenção da pressão sanguínea e nos processos que permitem a actividade do sistema nervoso. Frutos (banana, laranja,...), batata, leguminosas (feijão e grão), frutos gordos, pescado, cacau. Sódio (Na) Contribui para a manutenção do equilíbrio hídrico e electrolítico. Essencial para a contracção dos músculos e para os processos que permitem a actividade do sistema nervoso. Sal, produtos de salsicharia e de charcutaria, produtos enlatados, outros produtos salgados (batatas fritas,...). Cobre (Cu) Participa na formação de hemoglobina, glóbulos vermelhos e diversas enzimas. Favorece a defesa antioxidante. Promove o bom funcionamento do sistema nervoso e das defesas do organismo. Cereais e derivados pouco refinados, cogumelos, pescado (moluscos e crustáceos), leguminosas secas. Crómio (Cr) Intervém no metabolismo da glicose e potencia a acção da insulina. Promove a estabilidade dos ácidos nucléicos. Cogumelos, ameixas secas, frutos gordos (amêndoas,...), levedura. 7/23/07 2:20 PM Page 105 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp QUADRO DE MINERAIS E OLIGOELEMENTOS Ferro (Fe) Indispensável na formação de hemoglobina e na actuação de determinadas enzimas. Carnes, vísceras (fígado, rins), gema de ovo, pescado, leguminosas, frutos gordos (nozes,...), hortícolas de folha verde escura, cereais e derivados pouco refinados. Flúor (F) Intervém na formação e desenvolvimento de ossos e dentes. Previne a cárie dentária e a osteoporose. Água, chá, pescado (de mar). Iodo (I) Fundamental para o correcto funcionamento da tiróide. Intervém nos processos de crescimento e reprodução, nas funções nervosa e muscular, na síntese de proteínas, no crescimento da pele e do cabelo, na regulação da temperatura corporal, na formação de células do sangue e na utilização de oxigénio nas células. Pescado (de mar), hortícolas. Nota: O teor em iodo dos hortícolas depende muito das características do solo em que foram cultivados. Manganésio (Mn) Intervém no metabolismo dos hidratos de carbono e dos lípidos. Contribui para a produção de hormonas sexuais. Tem uma acção antioxidante. Promove a integridade dos ossos e das cartilagens. Importante para a manutenção das funções cerebrais. Pescado (crustáceos), cereais e derivados pouco refinados, leguminosas, castanha, chá. Molibdénio (Mo) Intervém no metabolismo dos compostos sulfurados, das pirimidinas e das purinas. Favorece a defesa antioxidante. Leguminosas e sementes. Selénio (Se) Intervém no metabolismo dos lípidos. Fundamental para produzir hemoglobina a partir do ferro armazenado no organismo. Tem uma acção antioxidante e promove a inactivação de substâncias com eventual acção tóxica. Pescado (crustáceos), carne, gema de ovo, hortícolas (cebola, tomate, brócolos, alho,...), cereais e derivados pouco refinados. Zinco (Zn) Fundamental para o funcionamento de muitas enzimas que intervêm no metabolismo dos macronutrimentos. Intervém no crescimento e desenvolvimento dos órgãos sexuais. Importante na resposta imunológica (defesas do organismo) e cicatrização de feridas. Tem uma acção antioxidante. Pescado (crustáceos e moluscos), carnes, gema de ovo, levedura de cerveja, leite e derivados, fígado, leguminosas (feijão,...). 105 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 106 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO QUADRO DE ESPECIARIAS E ERVAS AROMÁTICAS 106 Aipo (caule e folhas; fresco) Sopas e caldos de carne. Estufados, guisados e cozidos de carne. Alecrim (seco) Marinadas, carnes, para aromatizar a água de cozedura de massa ou arroz. Alho (bolbo) Vasta utilização: sopa de legumes, molhos frios, em cru... Cebolinho (folhas; fresco ou seco) Saladas, pratos de ovos e de queijo. Coentro (folha ou em grão) Saladas, sopas, arroz, massa, ervilhas e favas. Erva-doce (semente; seca) Castanhas cozidas. Aromatizar bolos. Estragão (folhas ou raminhos; fresco ou seco) Saladas, aves, molhos, conservas. Aromatizar vinagre. Funcho bravo (sementes, caules e folhas; fresco ou seco) Peixes (especialmente grelhados), caldo para cozer peixe. Hortelã (folhas; fresca) Vasta utilização: carnes (especialmente carneiro), sopas, saladas e ervilhas. Louro (folhas; seco) Vasta utilização: peixe, carne e caça, feijão, molhos, ovos e batata. Manjericão (folhas; fresco ou seco) Carnes, peixes, sopas, massas e cozinhados com tomate. Manjerona (folhas; fresca ou seca) Pizzas, empadas, espetadas, molho de tomate, guisados e peixe (assado). Orégão (folhas ou em raminhos; seco) Saladas, caracóis, pizzas, molho de tomate, guisados de carne, pratos de peixe, azeitonas, massas. Salsa (fresca) Vasta utilização: molhos, saladas, pescado, carne, aves. Segurelha (fresca ou seca) Pratos de feijão verde ou seco, ervilhas e sopas de peixe. Tomilho (fresco ou seco) Vasta utilização: tisanas, sopas, leguminosas, saladas, pratos de peixe e carne, guisados... Açafrão (partes da planta não maduras e secas) Sopas, pratos de peixe, caldeiradas, arroz e molhos. Canela (casca do tronco da caneleira; em bocados ou em pó Bolos, doces com características regionais, produtos de confeitaria, licores e sobremesas. 7/23/07 2:20 PM Page 107 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp QUADRO DE ESPECIARIAS E ERVAS AROMÁTICAS Baunilha (vagem seca) Leites aromatizados, batidos, sobremesas à base de leite, produtos de pastelaria e licores. Caril (em pó) Peixe, moluscos, aves, pratos de ovos, arroz, massas e molhos. Colorau ou pimentão (polpa do pimento doce maduro em pó) Guisados, ensopados, carne de porco, bacalhau e outros pratos de peixe. Coentro (grãos) Marinadas, vinagres aromatizados, conservas de legumes, licores. Cominho (grãos) Carne de porco, dobrada e licor. Cravinho (botões da flor depois de secos) Vasta utilização: pratos de carne estufados, molhos de pão, arroz. Erva doce, anis (grãos) Pães especiais, doçaria e bebidas. Funcho (grãos) Sopas de peixe, saladas, bolos e licores. Gengibre (rizomas da planta) Bebidas, cozinha chinesa, sopas de peixe, compotas e bolos secos. Mostarda (grãos inteiros ou em pó) Pastas de queijo fresco, marinadas, carnes, pescado e molhos. Noz-moscada (grãos desengordurados) Vasta utilização: patês, conservas de carne, ovos, massa, queijo, cogumelos, vinho quente, cerveja e brandy. Paprika (pimento maduro, seco e reduzido a pó) Molhos, pratos de queijo, guisados, sopas e carnes. Pimenta (preta, branca, verde e vermelha) Todo o tipo de preparações culinárias. Piripiri (fresco ou maduro, ao natural ou conservado em azeite, seco em pó) Vasta utilização: saladas, molhos, caldeiradas e carnes. Zimbro (baga seca) Caldos aromatizados, marinadas e bebidas. 107 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 108 TEXTOS DE APROFUNDAMENTO TEMÁTICO O texto seguinte foi retirado de: Ferry, M. & Alix, E. A nutrição da pessoa idosa. Aspectos fundamentais, clínicos e psicossociais. Loures: LUSOCIÊNCIA - Edições Técnicas e Científicas, lda. GUIA PARA INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS DO QAEN A pontuação QAEN é superior ou igual a 24 O doente apresenta um bom estado nutricional, o peso deve ser vigiado de três m três meses. São úteis conselhos de base sobre o equilíbrio alimentar. A pontuação QAEN está entre 17 e 23,5 A pessoa idosa apresenta um risco de desnutrição; uma intervenção precoce será de bom prognóstico. Os resultados do QAEN devem ser analisados para identificar as causas da baixa pontuação. É preciso considerar os diferentes itens que proporcionam a perda de pontos QAEN, por exemplo, se a pessoa toma mais de três medicamentos por dia, é necessário ver com o médico a possibilidade de aligeirar a prescrição (questão H). se não tem mais que duas refeições por dia ou sofre de anorexia (questões A e J) é preciso procurar a presença de perturbações do comportamento alimentar. Se a família não se pode ocupar das refeições da pessoa idosa, deve considerar-se a hipótese de recorrer aos serviços de distribuição de refeições ao domicílio e/ou aos de cuidados domésticos. Se a pessoa idosa não consome alimentos dos vários grupos (frutas, legumes, lacticínios, carnes questões K, L, e N), dão-se conselhos para variar e equilibrar a sua alimentação; também se pode propor os serviços de cuidados domésticos e/ou distribuição de refeições ao domicilio. Se o QAEN detecta uma insuficiência de bebidas (questão M), é preciso aconselhar a pessoa idosa a ter á mão uma garrafa de água, para ir bebendo regularmente ao longo do dia. Pode sugerir-se uma grande variedade de bebidas: água canalizada, água de nascente, água mineral (com gás ou natural), gelatinas (em caso de dificuldades de deglutição ou de "falsos trajectos"), água por um pulverizador para hidratar a boca, café, chá, infusões. As bebidas nutritivas como os sumos de frutas, o leite, os caldos de legumes e as sopas são particularmente recomendados. 108 É preciso preconizar instrumentos adaptados (copo com fundo de chumbo, com asas ou bico, abre-latas, loiça ergonómica, etc.) destinadas a responder ás necessidades das pessoas idosas atingidas por reumatismo e outros distúrbios e para quem gestos simples da vida quotidiana são um verdadeiro teste. Estes utensílios de cozinha adaptados "facilitando a preensão" podem ajudar as pessoas que têm algumas limitações para a preparação das suas refeições. Com efeito, as pessoas que já não podem cozinhar em boas condições têm uma alimentação menos variada, consomem menos nutrientes essenciais e expõem-se deste modo a um risco acrescido de carências alimentares. Podem reeducar-se as pessoas idosas que apresentem dificuldades de preensão ou disfagia. Em caso de feridas na pele (questão 1), os conselhos para enriquecer as preparações em calorias e proteínas deverão ser acentuados. Um inquérito alimentar preciso será realizado, se possível, e o QAEN será repetido num prazo de três meses para avaliar a evolução do estado nutricional. A pontuação QAEN é inferior a 17 O indivíduo apresenta uma desnutrição proteico-calórica. O QAEN é analisado como anteriormente se descreveu. Recomenda-se um inquérito alimentar. Devem procurar-se outras causas de desnutrição como a depressão, uma perda de autonomia ou a diminuição das funções cognitivas. Serão dados conselhos adaptados aos resultados do QAEN e ao inquérito alimentar: fraccionar a alimentação (refeições principais e lanches mais frequentes, menos lautos, mas de alta densidade nutritiva, misturas nutritivas hiper proteicas). Levar-se-á a cabo um levantamento dos factores etiológicos da desnutrição. O QAEN será repetido num prazo de três meses. 7/23/07 2:20 PM Page 109 DIAPOSITIVOS DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO d DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 110 DIAPOSITIVOS OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 110 7/23/07 2:20 PM Page 111 DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 111 DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:20 PM Page 112 DIAPOSITIVOS OBS.: 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Page 143 DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 143 DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:21 PM Page 144 DIAPOSITIVOS OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 144 7/23/07 2:21 PM Page 145 DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 145 DIAPOSITIVOS formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:21 PM Page 146 DIAPOSITIVOS OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ OBS.: __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 146 7/23/07 2:21 PM Page 147 OUTRA INFORMAÇÃO ÚTIL INFORMAÇÃO ÚTIL formando_alimentacao.qxp A ALIMENTAÇÃO DO IDOSO MANUAL DO FORMANDO i ÍNDICE DE QUADROS E FIGURAS formando_alimentacao.qxp 148 7/23/07 2:21 PM Page 148 ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS, RECEITAS E FICHAS DE PROCEDIMENTO Figura 1 - Pirâmide dos Alimentos PÁG. 8 Figura 2 - Nova Roda dos Alimentos PÁG. 8 Quadro 1.1 - Porções diárias dos vários grupos alimentares PÁG. 9 Quadro 1.2 - Valores nutricionais recomendados para idosos PÁG. 13 Quadro 2.1 - Factores de alerta de risco de má nutrição PÁG. 21 Quadro 2.2 - Sinais clínicos de risco de má nutrição PÁG. 21 Quadro 2.3 - Consequências da má nutrição ao nível de outras necessidades vitais e actividades da vida diária (AVD) PÁG. 23 Quadro 2.4 - Principais distúrbios clínicos provocados pela carência de vitaminas PÁG. 23 Quadro 2.5 - Questionário de avaliação do estado nutricional (QAEN) PÁG. 25 Quadro 3.1 - Preparação de alimentos para administração entérica PÁG. 34 Quadro 3.2 - Quadro síntese de cuidados e vigilância PÁG. 34 Quadro 4.1 - Aspectos importantes na elaboração de ementas PÁG. 40 Quadro 4.2 - Exemplo de um esquema de refeições diárias equilibradas PÁG. 43 Quadro 5.1 - Doenças frequentes nos idosos e cuidados alimentares PÁG. 49 Quadro 5.2 - Alimentos e produtos nutritivos PÁG. 50 Quadro 5.3 - Dificuldades ao nível alimentar PÁG. 52 Quadro 6.1 - Cuidados a ter na aquisição de alimentos PÁG. 57 Quadro 6.2 - Cuidados no armazenamento e conservação PÁG. 58 Quadro 6.3 - Cuidados para prevenir a contaminação dos alimentos PÁG. 75 Quadro 7.1 - Problemas e sugestões de resolução relativos à alimentação dos idosos no domicílio PÁG. 81 Quadro 7.2 - Principais sinais e sintomas da desidratação PÁG. 86 Quadro 7.3 - Registo da hidratação do idoso PÁG. 87 Receita nº 1 - Sopa juliana PÁG. 60 Receita nº 2 - Sopa de nabiça PÁG. 61 Receita nº 3 - Sopa de peixe PÁG. 62 Receita nº 4 - Queijo fresco com hortelã PÁG. 63 Receita nº 5 - Tortilhas de verduras com queijo PÁG. 64 Receita nº 6 - Ervilhas tortas à camponesa PÁG. 65 Receita nº 7 - Soufflé de pescada “à minha moda” PÁG. 66 Receita nº 8 - Pudim de peixe PÁG. 67 Receita nº 9 - Batatas em papillote PÁG. 68 Receita nº 10 - Batatas aromáticas PÁG. 69 Receita nº 11 - Coxas de frango assadas no forno PÁG. 70 Receita nº 12 - Febras de porco saborosas PÁG. 71 Receita nº 13 - Rolo de carne PÁG. 72 Receita nº 14 - Mousse de manga PÁG. 73 Receita nº 15 - Puré de maçã com canela PÁG. 74 Ficha de procedimento nº 1 - Colocação da sonda nasogástrica PÁG. 32 Ficha de procedimento nº 2 - Administração da alimentação entérica PÁG. 33 Ficha de procedimento nº 3 - Alimentação de idosos dependentes PÁG. 85 Ficha de procedimento nº 4 - Actuação perante o idoso com vómitos PÁG. 88 Ficha de procedimento nº 5 - Actuação perante o idoso engasgado PÁG. 89 7/23/07 2:21 PM Page 149 BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA BIBLIOGRAFIA ACONSELHADA formando_alimentacao.qxp Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e Instituto do Consumidor (2004). Guia-Os alimentos na Roda. Lisboa: Instituto do Consumidor Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto e Instituto do Consumidor (2004). Guia: Nutrientes, Aditivos e Alimentos. Lisboa: Instituto do Consumidor Ferry, M. & Alix, E. A nutrição da pessoa idosa. Aspectos fundamentais, clínicos e psicossociais. Loures: LUSOCIÊNCIA - Edições Técnicas e Científicas, lda. Mailloux-Poirier, D. (1995) Beber e Comer. In Berger, L., D. Pessoas Idosas, uma abordagem global. Lisboa: Lusodidacta Martins, A., Gonçalves, M., Carneiro, M., Fernandes M. (1994). Receitas Becel para uma vida saudável. FimaProdutos Alimentares Ruipérez, I., & Llorente, P. (1998). Geriatria (M. T. R. Teixeira, trad.). Rio de Janeiro: McGraw-Hill Intramericana do Brasil, Ltda. (Obra original publicada em 1996) Saldanha, H. (2001). Nutrição clínica moderna na saúde e na doença. Lisboa: LIDEL. Edições Técnicas, lda. Referências de página de internet: http://www.portaldasaude.pt http://www.consumidor.pt www.gastronomias.com http://www.ese.ips.pt/nonio/maletacre/recursos/guiao_al imentos.pdf http://www.nutricaoempauta.com.br/ http://www.fda.gov/ 149 OUTROS AUXILIARES DIDÁCTICOS COMPLEMENTARES formando_alimentacao.qxp 7/23/07 Page 150 OUTROS AUXILIARES DIDÁCTICOS COMPLEMENTARES Videograma A alimentação do idoso Manual do formador A alimentação do idoso 150 2:21 PM 7/23/07 2:21 PM Page 151 CONTACTOS ÚTEIS Santa Casa da Misericórdia de Mértola Achada de São Sebastião 7750-295 Mértola Tel.: 286 612 121 Fax: 286 612 184 E-mail: scmertola@clix IFH Instituto de Formação para o Desenvolvimento Humano Av. dos Combatentes da Grande Guerra, 1C 2890 - 015 Alcochete E-mail: [email protected] Associação Indiveri Colucci Rua Lino Assunção, 6 - Paço de Arcos 2770-109 Paço de Arcos Tel.: 214 468 622 Fax: 214 410 188 E-mail: [email protected] CONTACTOS ÚTEIS formando_alimentacao.qxp Nutricia Portugal Nº verde: 800 20 67 99 APG Associação Portuguesa de Gerontopsiquiatria Serviço de Psicologia da Fac. Med. Univ. Porto Al. Prof. Hernâni Monteiro 4200-319 Porto Tel.: 22 502 39 63 Fax: (Psicologia): 22 508 80 11 (FMUP): 22 551 01 19 E-mail: [email protected] http://www.apgerontopsiquiatria.com/estatutos.php Alto Comissariado da Saúde Ministério da Saúde Avenida João Crisóstomo, 9, 7º piso 1049-062 Lisboa Tel.: 21 330 5000 Fax: 21 330 5190 E-mail: [email protected] http://www.acs.min-saude.pt/ACS Casa de Repouso de Paço d’Arcos Rua José Moreira Rato, 2 - 2A 2770-106 Paço de Arcos Tel.: 214 427 520 / 214 427 570 / 214 437 421 Fax: 214 417 003 E-mail: [email protected] www.colucci.pt Clinia - Clínica Médica da Linha Rua Lino Assunção, 6, Paço de Arcos 2780-637 Paço de Arcos Tel.: 214 468 600 Fax: 214 410 188 E-mail: [email protected] www.clinia.pa-net.pt Direcção Geral de Saúde Alameda D. Afonso Henriques, 45 1049-005 Lisboa Tel.: 218 430 500 Fax: 218 430 530 E-mail: [email protected] Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto Rua Dr. Roberto Frias 4200-465 Porto PORTUGAL Tel.: 225 074 320 Fax: 225 074 329 SPCNA Sociedade Portuguesa de Ciências da Nutrição e Alimentação Apartado 2528 4202-401 Porto Tel.: 225 074 320 Fax: 225 074 329 151 AGRADECIMENTOS formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:21 PM Page 152 AGRADECIMENTOS Nenhum projecto é possível sem a colaboração e a parceria dos diferentes actores sociais. Não seria justo, portanto, não deixar, um agradecimento profundo às entidades com quem estabelecemos parcerias estratégicas que permitiram o desenvolvimento dos manuais técnicos e videogramas deste projecto. O nosso obrigado ainda aos utentes e aos profissionais dessas instituições, dos mais aos menos novos, que participaram de forma generosa nas diversas filmagens, e que reconhecendo a importância do nosso trabalho nos deram o alento e a motivação necessária na prossecução dos objectivos ambiciosos a que nos tínhamos proposto. Destaque especial para a parceria com a Associação Indiveri Colucci - Casa de Repouso de Paço d'Arcos / Clínica Médica da Linha, pelo apoio no desenvolvimento, permitindo, no local, trabalhar e filmar situações-chave comuns às instituições de apoio ao idoso, de uma forma positiva em ambiente de grande qualidade, com a colaboração activa de toda a sua prestigiada equipa técnica. O nosso reconhecimento muito particular ainda a todos os colaboradores e funcionários da Santa Casa da Misericórdia de Mértola e particularmente aos seus utentes do século XXI. A todos, o nosso Bem Hajam. 152 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:21 PM Page 153 153 formando_alimentacao.qxp 7/23/07 2:21 PM Page 154 ENTIDADE PROMOTORA ENTIDADE PARCEIRA