USO RACIOAL DE ANTIBIÓTICOS PARA INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS (NÃO PNEUMÔNICAS E NÃO SUPURATIVAS), AGUDAS, EM ADULTOS: recomendações do American College of Physicians (ACP) e dos Centers for Disease Control and Prevention (CDCs) Autores: Aaron M. Harris; LauriA. Hicks e Amir Qaseem. American College os Physicians, 190 N.Independence Mall West, Philadelphia, PA 19106, USA. Ann Intern Med.2016;164:425-424 Tradução, interpretação e resumo: JOSÉ EDUILTON GIRÃO JUSTFICATIVA Bronquites agudas não complicadas, faringites, rinossinusites e resfriados comuns são o motivo mais comum para consultas médicas (nos EUA, mais de 100 milhões anualmente gerando prescrição de antibióticos em 41% das vezes). Por outro lado, o uso inapropriado de tais medicamentos é um grande INDUTOR DO GRAVE PROBLEMA DA RESISTÊNCIA MICROBIANA, atingindo, naquele país, pelo menos 2 MILHÕES DE INFECÇÕES POR MICRORGANISMOS RESISTENTES, COM 23.000 MORTES A CADA ANO E DESPESAS ADICIONAIS DE CERCA DE 30 BILHÕES DE DÓLARES. O uso alargado de tais antimicrobianos, mesmo na comunidade, está relacionado com tal aumento da resistência de Pneumococo, especialmente quando se usam drogas de amplo espectro, incluindo cefalosporinas e macrolídeos. Antibióticos causam também OUTROS EVENTOS ADVERSOS (diarreia, exantema, anafilaxia, síndrome de Steven Johnson e até morte súbita) em 5 A 25) % DAS CONSULTAS. Uma grande ameaça e infecção por Clostridium difficile, causando até 29.300 mortes e gastos extras de 1 bilhão de dólares. Em 2009, ainda nos referindo àquele país, os custos diretos com prescrição de antibióticos alcançou 10.7 bilhões de dólares, dos quais 6.5 bilhões foram atribuído a prescrições para infecções ambulatoriais, 3.6 bilhões em hospitais e 527 milhões em instituições de longa permanência. Regra geral, A PRESCRIÇÃO FOI INADEQUADA OU DESNECESSÁRIA EM METADE DAS VEZES. A referida prescrição de tem aumentado em até vezes, representando um grave problema de saúde pública. As recomendações são dirigidas especialmente a médicos que fazem atendimento ambulatorial. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES As recomendações a seguir se destinam a pacientes sem condição mórbida prévia, ou seja, sem doença pulmonar crônica (DPOC, bronquietasias, fibrose pulmonar) ou imunocoprometimentos (insuficiência renal, SIDA/HIV, leucemias, linfomas, mieloma múltiplo, uso de drogas imunossupressoras etc.). BRONQUITE AGUDA NÃO COMPLICADA - é inflamação autolimitada dos brônquios, causando tosse com ou sem expectoração, durando até 6 semanas, com sintomas sistêmicos leves, geralmente causada por vírus ou, menos frequentemente, por Mycoplasma pneumoniae, Chlamydophila pneunomiae, podendo também sê-lo por Bordella pertusis. A presença do esputo ou mesmo a sua mudança de cor não significa necessariamente etiologia microbiana ( a purulência pode ser devida à presença de células epidetilais descamadas). HÁ NECESSIDADE DE SE EXCLUIR PNEUMONIA, pela ausência de dados clínicos (taquicardia, taquipneia febre de grau variado e alterações do exame físico dos pulmões ou dos achados radiológicos). NÃO HÁ INDICAÇÃO DE ANTIBIÓTICO, cabendo apenas medicamentos sintomáticos, a menos que haja comprovação ou grande suspeita de pneumonia bacteriana. FARINGITE: dor de garganta, odinofagia, ausência de sintomas sistêmicos, geralmente não está indicado antibiótico, posto ser a etiologia geralmente viral( rhinovirus, coronavirus, adenovirius, herpes simplex, parainfluenza, enterovírus, vírus Epstein Barr, citomegalovírus). Há tosse, congestão nasal, pode havia disfonia e diarreia, bom como úlceras ou vesículas no orofaringe. Não há indicação de antibiótico, exceto em caso de etiologia estreptocócica (febre persistente, calafrios, sudorese noturna, linfadenomegalia cervical, exsudato amigdaliano ou edema de amigdalas, podendo haver exsudato cutâneo escarlatiniforme). Deve-se pesquisar etiologia por Estreptococo do grupo A (exame rápido para detecção do antígeno ou cultura) e, neste caso, é indicado o uso de antibiótico. Utiliza-se um betalactâmico (Penicilina V 500.000 UI, oral, 2 a 3 vezes ao dia, por 10 dias ) OU Amoxicilina500 mg a cada 12 ou 8 horas por 10 dias OU Penicilina Benzatina 1.200.000 UI, dose única, via intramuscular ). Há informação de que Fusobacterium necrophorum pode responder por 10 a 20% de casos de faringite em adolescentes., para o que é indicado o uso de Amoxicilina/Clavulanato OU Amplicilina/Sulbactam. Para pessoas com alergia a penicilina, SEM ANAFILAXIA: Cefalexina 500 mg 2 x /dia, 10 dias OU Cefadroxila 500 mg 2x/dia, 10 dias. Para pessoas com história de ANAFILAXIA, usar Clindamicina 300 mg 3 x/dia, ´por 10 dias OU Azitromicina 500 mg, VO,/dia, por 5 dias OU Claritromicina 250 mg 2 x ao, por 10 dias. RINOSSINUSITE AGUDA – é geralmente autolimitada, de etiologia viral, alérgica ou por um irritante que cause inflamação da mucosa nasal ou dos seios paranasais. Os sintomas incluem congestão e obstrução nasais, coriza que pode ser purulenta, dor na arcada dentária ou na face, febre, fadiga, tosse, hiposmia ou anosmia, sensação de pressão ou plenitude nos ouvidos, cefaleia e halitose. A maioria dos sintomas cede em uma semana, sendo que, na grande maioria das vezes, a prescrição de antibiótico nestes casos é desnecessária. O tratamento de formas não complicadas inclui irrigação nasal com solução salina, podendo se acrescentar corticoide tópico. Pode haver, em menos de 2% dos casos, infecção bacteriana SECUNDÁRIA, resultante de obstrução do óstio de uma seio paranasal, o que leva ao crescimento bacteriano. As principais bactérias são Pneumococo, H. influenzae, S.pyogenes, M. catarrhalis e anaeróbios. A comprovação da etiologia bacteriana e respectiva identificação se faria através de punção do seio da face e aspiração da secreção purulenta, o que é raramente realizado. Radiografia, com sensibilidade de 90% tem sensibilidade de apenas 61%, não se prestando para distinguir uma causa bacteriana de uma viral, posto terem ambas aspectos semelhantes. Para o diagnóstico da complicação bacteriana, há que se valer de alguns dados clínicos, como a persistência dos sintomas por 10 dias ou mais, febre alta, secreção nasal francamente purulenta, dor facial durando mais do que 3 dias e o agravamento do quadro após um período inicial de melhora. Quanto à terapia antimicrobiana pode-se usar Amoxicilina 500mg 3 x ao dia OU Amoxicilina/Clavulanato(na suspeita de bactéria resistente ao betalactâmico). Em paciente alergico ou com história de anafilaxia, usa-se Doxiciclina 100 mg 2 x / dia, por 5 a 7 dias OU Levofloxaciono 500 mg / dia 5 a 7 dias OU Moxifloxacino 400 mg /dia por 5 a 7 dias. RESFRIADO COMUM E INFECÇÕES RESPIRATÓRIAS ALTAS NÃO INESPECÍFICAS – é também uma condição benigna e autolimitada, podendo persistir por até 2 semanas e sendo um dos problemas de saúde mais comuns. Há esternutos, coriza, dor de garganta, tosse, febre baixa, cefaleia e hipodinamia. Os sintomas dependem da resposta inflamatória do hospedeiro a determinado tipo de vírus. Os agentes etiológicos mais comuns são: rinovírus (>50%), coronavirus (10 a 15%),influenza (5 a 15%), vírus sincicial respiratório (5%) parainfluenza (5%) e, menos comumente, adenovírus, metapneumovirus e outros. Há sazonalidade no surgimento da infecção, sendo que os vírus podem ser transmitidos por contato pelas mãos (principalmente, daí a grande importante de higienização das mãos) ou superfícies contaminadas e perdigotos eliminados pelo espirro ou tosse. O tratamento é sintomático, NÃO CABENDO USO DE ANTIBIÓTICO. Pode-se usar analgésico, anti-histamínico, ingestão pródiga de líquidos, antitussígeno, instilação nasal de solução salina e se necessário ipatrópio e cromoglicado de sódio. Há citação do benefício da ingestão de comprimidos contendo zinco, se feita dentro das 24 horas do início dos sintomas. Não há evidência para uso de vitamina C ou fitoterápicos.