Antibióticos: com ou sem receita médica?

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Lopez HV • Antibióticos: com ou sem receita médica?
PUNTO DE VISTA/PONTO DE VISTA
Antibióticos: com ou sem receita médica?
Antibiotics: with or without medical prescription?
Hélio Vasconcellos Lopes*
* Professor Titular da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC. Professor
Assistente da UNIMES (Universidade
Metropolitana de Santos). Membro do
Comitê de Resistência a Antibacterianos da Associação Pan-Americana de
Infectologia. Membro do Comitê de
Antibióticos da Sociedade Brasileira de
Infectologia.
Rev Panam Infectol 2010;12(2):75.
Conflicto de intereses: ninguno
Recibido en 19/4/2010.
Aceptado para publicación en 4/5/2010.
A Secretaria de Saúde do México decretou recentemente o controle da venda de
antimicrobianos em farmácias; assim, o paciente – para obter determinado antibiótico – necessita previamente de um atendimento médico e da consequente receita
contendo a prescrição do medicamento.
Muitos colegas da América Latina, via internet, têm se manifestado, alguns a
favor e outros contra a referida medida. Experiência chilena, por exemplo, mostrou
eficácia, a partir da implantação da medida (1999) e um recrudescimento a partir
de 2002. Resultados parecidos ocorreram na Costa Rica.
O termo “politicamente incorreto’ define tudo aquilo que achamos errado, inadequado, enfim, impróprio e, neste caso, nos colocamos desse modo; discordamos dessa
medida por considerarmos alguns outros aspectos que nos parecem ser mais importantes
do que o simples ato legal: “é proibido vender antibióticos sem receita médica”.
Países latino-americanos, cujo PIB situa-se de médio para baixo, a maioria deles
convivendo com uma terrível desigualdade social, têm milhões e milhões de pessoas
sem acesso a serviços de saúde no momento em que eles são necessários.
Então, pode-se perguntar: a exigência da receita não irá – na relação custo/benefício, tender para o pior lado? Dentro deste contexto, Carlos Amábile Cuevas, colega
mexicano, afirma: “a autoprescrição muito provavelmente salva mais vidas do que o
custo da resistência que gera”.
Outro colega, mexicano, Victor Fortuno, comenta: “A resistência bacteriana é
muito importante, mas será mais do que a possibilidade de que muitos pacientes
indigentes, que não têm direito a serviços médicos, possam enfrentar maiores problemas como a morte?”
Os obstáculos relacionados ao uso adequado de antibióticos são tantos e certamente maiores do que o imaginado benefício que o controle da venda de antibiótico,
na farmácia, trará. A utilização de um antibiótico está na dependência de uma tríade,
constituída pelo médico prescritor, pelo farmacêutico e pelo paciente. Quanto ao
primeiro, inúmeros trabalhos têm mostrado que cerca de 50% das receitas contendo
antibióticos são impróprias, os maiores exemplos sendo dados pela sua prescrição
em infecções respiratórias virais e nos quadros febris em pediatria. Quanto ao farmacêutico, com todo o respeito pela profissão, dificilmente é encontrado na maioria das
farmácias de meu país, onde, habitualmente, a venda do medicamento fica por conta
de um atendente-balconista. E com relação ao paciente, somos obrigados a admitir
que, diante de uma febre, o que ele mais anseia – com médico ou sem médico – é a
utilização de um antibiótico.
Acrescento, ainda, dois dados constrangedores: cerca de metade dos antibióticos
produzidos pela indústria farmacêutica vai para o emprego em animais criados para
alimentação humana, enquanto a adesão ao tratamento é um assunto perdido em
grande parte das prescrições médicas.
Por fim, pergunto: as bulas dos antibióticos já não incluem a exigência da prescrição médica? Então...
Correspondência:
Dr. Hélio Vasconcellos Lopes
Av. Brigadeiro Luís Antonio, 4.178 - CEP 01402-002 - São Paulo, SP, Brasil.
e-mail: [email protected]
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