desafios e possibilidades na vida rural

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A EDUCAÇÃO CAMPESINA E A SOCIEDADE PÓS-INDUSTRIAL:
DESAFIOS E POSSIBILIDADES NA VIDA RURAL
THE COUNTRYSIDE EDUCATION AND POST - INDUSTRIAL SOCIETY:
CHALLENGES AND POSSIBILITIES IN FARM LIFE
Patrick Oliveira Silva
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Bacharelado em Ciências Econômicas
[email protected]
Manoel Valquer Oliveira Melo
Universidade Federal de Alagoas – UFAL
[email protected]
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo compreender a realidade da educação do campo, sob o prisma
das transformações sociais que vêm se desencadeando nas últimas décadas, em especial pela ótica da
emergente sociedade pós-industrial, que se apresenta com o conceito de bens imateriais, destacando-se
a cultura, a criatividade, o lazer dentre outros, associando, analisando e comparando os desafios e as
possibilidades desse novo segmento social com a realidade campesina. Esta pesquisa é de natureza
básica e possui uma abordagem qualitativa, onde o objetivo é de caráter exploratório. É possível
inferir que as transformações das sociedades: rural, industrial e pós - industrial em relação à educação
do campo, tem como abordagem principal a compreensão da realidade social a partir de um novo
segmento que se mostra escamoteado pelo fato das análises referentes a sociedades precedentes
estarem sendo empregadas nessa nova sociedade, que se desencadeia com o termo de sociedade pósindustrial.
Palavras- chave: Educação; Campo; Sociedade pós-industrial; Campesinato.
ABSTRACT
The present work has the objective of understanding the reality of the countryside education, under the
prism of the social transformations that have been happened in the last decades, especially by the view
of the emerging post industrial society, which presents itself with the concept of immaterial assets,
stading out the culture, the criativity , the leisure and others, associating, analysing and comparing the
challenges and possibilities of this new social segment with the countryside reality. This is a basic
nature research and it presents a qualitative approach, where its objective is exploratory. It is possible
to deduce that the transformations of the countryside, industrial and post - industrial societies, in
relation to the countryside education, have as main approach the comprehension of the social reality
from a new segment that shows itself hidden because the analysis about previous societies have been
done in this new society, which occurs with the name of post - industrial society.
Key-words: Education; Countryside; Post - industrial society; Peasantry.
INTRODUÇÃO
Na sociedade moderna, a educação institucionalizada, em especial a educação do
campo, vem se deparando com incontáveis desafios relacionados com as transformações
econômicas, políticas e sociais que ocorrem desde os anos 80, essas mudanças estão sendo
chamadas de sociedade pós-industrial.
A necessidade de compreensão e adaptação da rotina campesina a essa nova realidade,
mais do que uma preferência, torna-se uma exigência. Esta requisição é necessária para que a
estrutura campesina se adeque a uma realidade que por muito se apresenta de maneira distinta
da realidade rural.
Esse novo modelo de sociedade, se apresenta por uma necessidade intrínseca e não por
imposição do sistema, valores como: a cultura, o ócio criativo e o lazer, serão intimamente
indispensáveis.
Não há dúvida de que a educação esteve sempre presente nas sociedades rural e
industrial e na sociedade pós-industrial que ora se torna cada dia mais vigente, mas é
necessário diferenciar os vários níveis de educação já conhecidos, como a educação urbana,
no campo e do campo, para a partir daí compreender como a educação campesina se adaptará
a esse novo arquétipo de sociedade.
No decorrer deste trabalho serão abordados os processos ligados à educação dentro e
fora dos parâmetros institucionais, assim como, a ideologia que perpassa o campo e sobre
tudo, o campo e a sociedade pós-industrial.
Para Domenico De Masi (2004), essa nova sociedade se apresenta com conceitos
imateriais, assim como na sociedade rural o foco era a produção de alimentos, na industrial a
produção de bens materiais, esta tem por conseguinte, o oposto da segunda trazendo um
conceito de criatividade, um mercado de ideias.
A EDUCAÇÃO COMO INSTITUIÇÃO
Os processos de ensino e aprendizagem ocorrem todos os dias das mais variadas
formas, nas esquinas, nas ruas e em tantos outros lugares. Para Mészáros (2005) “A
aprendizagem é a nossa própria vida, desde a juventude até a velhice, de fato quase até a
morte; ninguém passa dez horas sem nada aprender”.
__________________
De Masi, Domenico: A Sociedade pós-industrial trabalha com conceitos imateriais.
Porém, a partir da inserção da educação enquanto instituição atribuiu-se a ideia
pejorativa de que tais processos dependem inteiramente do professor e do ambiente
educacional, neste caso, a escola como instituição formalizada. A ideia de educação formal é
de tal modo bastante antiga, na citação a seguir apresentaremos um contexto do artigo Luzes
no Oriente da História em revista (1990) que descreve a educação formal enquanto forma
primitiva:
Situadas em pequenas propriedades cuja terra fornecia rendimentos para mantê-las,
todas as escolas possuíam salas de aula, um conjunto de textos oficialmente
impressos e um espaço em separado em que funcionava um templo de Confúcio,
onde se realizavam cerimônias semi-religiosas de caráter edificante. Além disso,
algumas tinham bibliotecas consideráveis, abertas ao público: a Escola do Condado
de Wu-yuan, na província de Liang-Tse, por exemplo, reunia mais de 1.400
volumes.
No entanto, podemos definir a educação como procedimento de transferência do saber
produtivo, sendo a passagem de saberes por meio de diálogos, vivência entre outros, de um
indivíduo para outro, independente de quem ensina e de quem aprende e mais ainda, do local
em que essa passagem de conhecimento é aplicada.
A aprendizagem é o reflexo de uma necessidade, por exemplo: em uma tribo indígena
não se faz necessário que os índios aprendam a dirigir um veículo automotivo ou que
construam prédios, pois a realidade vivenciada não necessita dessas práxis, seus aprendizados
são reflexos de suas necessidades, eles precisam de métodos dos quais são indispensáveis no
dia a dia para sua sobrevivência, tais como as atividades extrativistas, ou seja, aquilo que é
necessário aprender para o seu entorno social. Tudo isso é muito evidente em uma carta
destinada aos índios das seis nações.
Como mostra Carlos Rodriguez Brandão² (2007, p. 8):
...Nós estamos convencidos, portanto, que os senhores desejam o bem para nós e
agradecemos de todo coração. Mas aqueles que são sábios reconhecem que
diferentes nações têm concepções diferentes das coisas e, sendo assim, os senhores
não ficaram ofendidos ao saber que a vossa ideia de educação não é a mesma que a
nossa....Muitos de nossos bravos guerreiros foram formados nas escolas do norte e
aprenderam toda a vossa ciência. Mas, quando eles voltavam para nós , eles eram
maus corredores, ignorantes da vida da floresta e incapazes de suportarem o frio e a
fome. Não sabiam como caçar o veado, matar o inimigo e construir uma cabana, e
falavam a nossa língua muito mal. Eles eram, portanto, totalmente inúteis. Não
serviam como guerreiros, como caçadores ou como conselheiros. Ficamos
extremamente agradecidos pela vossa oferta e, embora não possamos aceitá-la, para
mostrar a nossa gratidão oferecemos aos nobres senhores de Virgínia que nos
enviem alguns dos seus jovens, que lhes ensinaremos tudo o que sabemos e faremos,
deles, homens.
A partir de então, fica claro que a necessidade de uma sociedade não pode ser aplicada
_______________
² Doutor em ciências sociais pela Universidade de São Paulo.
a outra, isso se justapõe à educação campesina, onde não é necessário que os modelos de
ensino-aprendizagem, por exemplo, da cidade sejam os mesmos utilizados na sociedade rural.
É necessário olhar para o campo não só pela ótica da educação, mas acima de tudo com a
ótica social.
Esse olhar crítico está pautado nas lutas diárias do campo, e da vida campesina, uma
vez que as satisfações, desejos ou pretensões de uma determina comunidade não satisfaz o
requerimento de outras, como já abordamos no início do trabalho.
A lei de diretrizes e bases da educação nacional diz que o sistema de ensino deve ser
adequado às peculiaridades da vida rural, assegurando conteúdos e metodologias adaptados
aos interesses da educação do campo, no entanto, essa é uma realidade distante. A falta de
uma estrutura que viabilize todas as condições necessárias para a promoção efetiva dessas
relações deixa o campo a mercê de condições precárias, que por sua vez se apresenta de uma
maneira bastante peculiar, aproximando-se do que de antemão era a sociedade rural, onde esta
possuía um sistema educacional escasso, levando em consideração seu principal objetivo que
era a produção de alimentos.
Porém, os métodos e metodologias de ensino-aprendizagem nas zonas rurais
necessitariam estar se adaptando às necessidades da emergente sociedade pós-industrial e não
se distanciando da mesma, sociedade essa que se ocupa essencialmente da produção de bens
não materiais tais como: conhecimento, informação, moda, estética, estilo de vida, etc., e não
com a produção de alimentos ou até então de bens materiais, segundo o criador deste
conceito, o sociólogo italiano Domenico De Masi.
Atualmente, não podemos pensar sobre o campo com as mesmas perspectivas de três
ou quatro décadas atrás, onde é necessária a compreensão das transformações sociais, e de
como cada necessidade pode e deve ser inserida na zona rural para um melhor rendimento e
aproveitamento da vida campesina, considerando o mercado das ideias que se concretiza cada
dia mais. Se os déficits no modelo educacional refletem modelos de sociedades póstumas,
torna-se mais que uma obrigação a relação campesina com a sociedade pós-industrial.
A IDEOLOGIA DO CAMPO SOB A ÓTICA UTILITÁRIA
Os aspectos ideológicos da educação campesina se apresentam das mais variadas
formas, dentre elas, sob a ótica da força produtiva. Sabe-se que a grande concentração de
trabalho agrário predomina no campo, e que é necessária uma mão de obra intensa e abusiva
para promover a prática do agronegócio.
Os déficits do campo no processo ensino e aprendizagem poderiam refletir a
necessidade da força produtiva de trabalho? Ora, é sabido que a educação urbana desde sua
institucionalização era restrita apenas à elite, para aqueles que possuíam um poder aquisitivo
que lhes davam esse prestígio.
Logo, se todas as classes mais oprimidas da população como a classe proletária, por
exemplo, ascendessem à esfera intelectual, de onde sairia a força de trabalho necessária, neste
caso, no campo, para a produção de alimentos, visto que uma das características da nossa
economia é pautada na produção e exportação dessas Commodities? Talvez seja possível
supor que os empecilhos que restringem o campo, mais do que a cidade no processo sócio
pedagógico, sejam uma necessidade mais que ideológica do organismo Estado.
Pois o que é a ideologia como nos mostra Marilena Chauí (1999), senão uma subface
da realidade social, legitimando a exploração e a dominação. Por intermédio dela, tomamos o
falso por verdadeiro, o injusto por justo. De uns tempos para cá, a proliferação de cursos
superiores aumenta gradativamente, não por bondade do estado, mas sim por haver uma
necessidade sistêmica da própria manutenção do mesmo.
Sendo possível compreender que tais indícios são os germens de uma nova
organização, como abordamos anteriormente no tópico “processos de educação”.
No entanto, a educação, especificamente a rural, não está acompanhando essa nova
lógica. Como foi exposta, essa retração campesina pode e deve estar ligada à necessidade da
mão de obra. Apesar de todo o processo mecatrônico inserido na sociedade capitalista, a força
de trabalho ainda se faz necessária na sociedade industrial, talvez não mais na sociedade pósindustrial. Quando a Inglaterra abdicou do modo de produção feudal, e se instituiu ao
capitalismo por meio da revolução industrial, ela prioriza a necessidade primordial deste novo
modo de produção, que é a produção de bens materiais, no antigo modelo em que o país
estava inserido, o feudalismo, a prioridade deste modo de produção era a produção de
alimentos, essas são as características essenciais de sobrevivência destes modelos.
Porém, na sociedade pós – industrial, o foco não é a produção de alimentos nem bens
materiais, como nas sociedades por ora ultrapassadas, e sim o saber produtivo, a criatividade.
O Brasil possui mais de 70 mil escolas públicas localizadas nas zonas rurais, segundo
o último senso escolar realizado em 2013. O relatório iniciativa global pelas crianças fora da
escola lançado em 2012 pela UNICEF, (Fundo das Nações Unidas para a Infância), afirma
que em 10 anos 37 mil escolas rurais foram fechadas neste país.
Gráfico 1: Fechamento das escolas do campo
24%
76%
Escolas Rurais Abertas
Escolas Rurais Fechadas
Fonte: IBGE, 2013.
Com a redução das escolas do campo segundo a UNICEF, os números das instituições
campesinas se apresentam cada vez menos, e com elas se vão todo o processo cultural que faz
parte desse ambiente.
As forças políticas responsáveis pelo manuseamento dessas entidades afirmam que
manter várias escolas compartimentadas no campo implica em gastos que poderiam ser
poupados se as mesmas fossem reduzidas, transportando os alunos para a cidade, onde na
maioria das vezes se quer há transporte de qualidade que garanta uma condução segura para
os discentes. Romper com a cultura do campo é fazer com que esses alunos migrem para a
cidade. Tal processo pode ser considerado como um atentado à cultura e ao povo campesino,
pois como já foi visto a realidade da cidade não condiz com a do campo. A linha política
pedagógica da zona rural é totalmente diferente das demais. Isso pode comprometer, sem
dúvida, as relações que esses educandos têm com o seu dia a dia, além do que os professores
precisam estar inteiramente capacitados para lidar com esse alunado, onde se faz necessário
adequar as práxis de ensino ao campo. Essa prática só pode ser realizada no ambiente social
que é a zona rural.
Porém, esse processo não é possível, talvez por interesses de grupos superiores. Como
afirma Mészáros (1930, p.35):
A educação institucionalizada especialmente nos últimos 150 anos, serviu – no seu
todo – ao propósito de não só fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à
máquina produtiva em expansão do sistema do capital, como também gerar e
transmitir um quadro de valores que legitima os interesses dominantes, como se não
pudesse haver nenhuma alternativa à gestão da sociedade, seja na forma
“internalizada” (isto é, pelos indivíduos devidamente “educados” e aceitos) ou
através de uma dominação estrutural e uma subordinação hierárquica e
implacavelmente imposta.
A partir daí, é possível inferir sobre a necessidade da educação enquanto instituição e
estrutura de poder, os investimentos em capital humano por parte do estado dentro dos
parâmetros escolares, podem estar ligados a uma necessidade de saber produtivo enquanto
aplicabilidade prática do modo de produção capitalista.
Sendo assim, como o campo vai acompanhar a emergência da sociedade pós-industrial
se suas respectivas raízes estão se extinguindo, é possível supor que esse extermínio da
cultura e educação campesinas se apresente pela formação econômica deste país, que alimenta
os países do centro e priva os nativos desses alimentos e das políticas públicas. Porém, é
importante ressaltar que dentro desse viés, ocorreram algumas transformações positivas
dentro da esfera campesina, como os programas de incentivo à agricultura, onde o estado
passa a subsidiar alguns setores de produção, por exemplo, a agricultura familiar, a economia
solidária, entre outros.
CARACTERÍSTICAS DA SOCIEDADE INDUSTRIAL/ PÓS – INDUSTRIAL
Para Domenico de Masi (2003), a sociedade industrial que se instituiu desde o século
XVIII até parte do século XX, não surgiu de forma repentina, muito menos foi ultrapassada de
uma hora a outra pela sociedade pós – industrial. A transição do feudalismo para o
capitalismo, pautados na revolução da máquina a vapor, marcaram a sociedade industrial. No
momento em que as novas tecnologias são postas em prática nas etapas de produção, saindo
do setor primário para o secundário, as emergentes características da sociedade industrial
passam a se apresentar.
Com a dinamização da tecnologia e do aumento das indústrias, as alterações no
cenário, político, econômico e social passam a ocorrer em velocidade tão alarmante, quanto à
proposta pela lógica de produção capitalista.
Domenico De Masi (2003) cita as seguintes características essenciais da sociedade
industrial:
a concentração de massas de trabalhadores assalariados nas fábricas e nas empresas
financiadas e organizadas pelos capitalistas de acordo com o modo de produção
industrial; b) predomínio de trabalhadores no setor secundário; c) aplicação das
descobertas científicas ao processo produtivo na indústria; d) maior mobilidade
geográfica e social; e) reforma dos espaços em função da produção e do consumo
dos produtos industriais; f) aumento da produção em massa e do consumismo; g) fé
em um progresso irreversível e em um bem-estar crescente; h) difusão da idéia de
que o homem, em conflito com a natureza, deve conhecê-la e dominá-la; i) presença
conflitual, nas fábricas, de partes distintas e contrapostas, os empregadores e os
empregados; j) possibilidade de reconhecer uma dimensão nacional dos vários
sistemas industriais; l) concessão do predomínio aos critérios de produtividade e de
eficiência entendidos como único procedimento para a otimização dos recursos e
dos fatores de produção; m) existência de uma rígida hierarquia entre os vários
países, estabelecida com base no Produto Nacional Bruto, na propriedade das
matérias-primas e dos meios de produção.
As características da sociedade industrial, citadas por De Masi, se justapõem ao
momento de abdicação do modo de produção feudal, mas especificamente, após a revolução
industrial, quando a mecanização da indústria se sobrepõe a força dos trabalhadores.
Se fossemos comparar, as características da sociedade industrial hoje, perceberíamos
que dentre as citações mencionadas à cima, muitos aspectos estão superados.
Nos anos 60, os países desenvolvidos, como os EUA, Alemanha e outros, acreditavam
que o mundo estava passando por uma transição de conceitos, de ideias, aspectos, de uma
sociedade à outra.
Domenico De Masi (2003) cita a teoria de Rostow, aceita pelos economistas no início
dos anos 60, segundo a qual:
depois da fase de decolagem e de bem-estar, os estágios do desenvolvimento
econômico desembocam em uma época de consumo de massa e depois em uma
abundância que vai além do próprio consumo. Mais tarde, sobretudo em
conseqüência da crise petrolífera (1973), esta confiança em um bem-estar que cresce
ao infinito cederá o lugar a um medo difundido da iminência dos efeitos regressivos
determinados pelos limites do desenvolvimento.
Esses efeitos podem estar relacionados ao consumo excessivo, que por muito satisfazia
as necessidades essenciais, mas, por conseguinte geraram medo e desespero relacionados aos
eventos de crises cíclicas do modo de produção e consumo desenfreado.
No momento em que a mecanização é superada pela mecatronização da indústria, as
máquinas e os softwares de computador passam a se fundir, e as respostas que a sociedade
industrial apresentava, já não eram de total valia, pois essas transformações já eram
características de um novo modelo de sociedade, a pós – industrial.
Domenico De Masi (2003) cita cinco aspectos que definem a sociedade pós-industrial:
1) a passagem da produção de bens para a economia de serviços; 2) a preeminência
da classe dos profissionais e dos técnicos; 3) o caráter central do saber teórico,
gerador da inovação e das idéias diretivas nas quais a coletividade se inspira; 4) a
gestão do desenvolvimento técnico e o controle normativo da tecnologia; 5) a
criação de uma nova tecnologia intelectual.
Fica perceptível que após tais transformações um novo setor predomina, o terciário, a
indústria dos serviços, que consolida a economia e dinamiza o conhecimento. Talvez, essa
ultima transformação tenha sido o que concretizou, por fim, a sociedade pós – industrial. De
Masi (2003), conclui que na sociedade pós-industrial os desafios principais são a qualidade de
vida, saúde psíquica, conformismo, necessidades pós-materialistas, e preocupação com o
meio ambiente.
Dessa forma, fica perceptível que a cada dia, tendo por base científica as
transformações sociais, que não se enquadram na sociedade industrial, são segmentos de uma
nova ótica, da sociedade pós – industrial.
O CAMPO E A SOCIEDADE PÓS – INDUSTRIAL
O processo do desenvolvimento histórico dialético é marcado pelas transformações
sociais, desde a organização e fundamentação da sociedade rural, que tinha como intuito o
trabalho agrícola, até o surgimento da sociedade industrial, que por sua vez emergiu no seio
social sem que os cidadãos se dessem conta de que o processo, as necessidades e as
transformações sociais estavam ocorrendo. Assim como coloca Domenico De Masi (2003, p,
17):
A própria expressão “sociedade industrial” está ausente das obras e da linguagem
dos grandes pensadores da época, embora sua mente estivesse constantemente
tomada por dois grandes acontecimentos: a revolução francesa e a expansão
manufatureira. O primeiro estudioso que usou a expressão “sociedade industrial” no
sentido mais próximo ao que hoje é corretamente usado foi talvez Carlyle, por volta
de 1830, isto é, cerca de oitenta anos depois que a realidade correspondente àquela
definição começara a se difundir.
É perceptível que as transformações políticas, econômicas e sociais das últimas
décadas estão sendo compreendidas como seguimentos da sociedade industrial, quando na
verdade essas modificações fazem parte da emergente sociedade pós-industrial, que possui
esse termo pelo fato de não se saber qual fator será dominante. Mas como compreender tais
transformações?
O sociólogo Danilo Santos de Miranda (2003, p, 10) na introdução à obra de De Masi
afirma que:
A realidade não está em crise. Ela se transforma continuadamente. Porém, estão em
Crise nossos modelos mentais de compressão dessa realidade. Essa sensação de
“crise” permanente é sintoma de que os modelos interpretativos de que dispomos
estão adequados à era industrial e agora necessitam ser substituídos, justamente
porque a realidade é outra e, com uma percepção superada, não seremos capazes de
aceitar o choque do futuro.
Agora mais do que nunca se faz mais que necessário a compreensão dessa nova
realidade social, pois a partir dessas perspectivas poderemos supor algumas hipóteses
correlacionando-as aos déficits que a população campesina está sentindo.
Com o advento da sociedade pós-industrial, que segundo De Masi, já está em vigor,
especialmente nos países do centro, a nova hierarquia se concentra da seguinte forma: em
primeiro lugar estão os que produzem ideias, em segundo lugar os que podem produzir algo a
partir dessas ideias, em terceiro, os que podem consumir o objeto materializado pelas ideias,
e, em quarto, os que se quer consomem.
Essas novas transformações da sociedade que estão sendo aguardadas até então com
muito entusiasmo e otimismo nos mais variados campos de atuação, como na ciência e na
tecnologia, possivelmente trarão um grande nível de analfabetismo e exclusão social.
Esta suposição pode ser baseada da seguinte maneira: os produtos para consumo
continuarão a ser produzidos em larga escala, pois isso é parte integral do modo de produção
capitalista. Essa mesma produção de bens materiais será feita por máquinas programadas
apenas para a execução de determinada tarefa. O trabalho para produzir tais máquinas estará a
cargo dos inventores, gestores articuladores etc.
A grande maioria da classe proletária passará para o setor de serviços e isso já vem
acontecendo há certo tempo se percebermos que o processo de mecanização foi substituído
pelo de mecatronização. Com essa migração de serviços, uma parte dos trabalhadores ficará
sem trabalho remunerado por não haver inteira necessidade na mão de obra.
O conhecimento referente às áreas da tecnologia, dos serviços técnicos e da
informação passará a ter valor primordial, sendo a força motriz de maior valor, a educação e a
criatividade.
Sem os meios necessários para a empregabilidade, a vida da classe proletária nas
fabricas estará ameaçada, o local de trabalho pode e deve se tornar disperso, a cultura e o lazer
criativo terão relevância primordial, talvez as lutas de classe serão substituídas por
movimentos de interesses que se assimilam ou se assemelham, assim como a organização do
Estado estará com uma suposta alteração no seu modo de operar o organismo, sociedade.
O papel da educação nesse novo segmento social mais que necessário torna-se
obrigatório. Como afirma Mészáros (2005. p. 17,) “[...] diga-me onde está o trabalho em um
tipo de sociedade e eu te direi onde está a educação.” Ou seja, a educação reflete as
transformações e características da sociedade vigente.
Desde as transformações, evoluções e transições de uma sociedade para outra, todos os
segmentos, independente da esfera de atuação, tiveram de se adaptar as novas mudanças, por
uma questão de sobrevivência.
Se todas as formas de conduzir os mais variados campos da sociedade estão ligadas
aos processos sócio-pedagógicos, como a educação campesina que está enfrentando vários
desafios, vai se adaptar, acompanhar e se realizar nessa nova realidade social, se quer
conseguiu superar os empecilhos de sociedades outrora, onde as ferramentas criativas são e
serão parte crucial da sociedade.
Se a ótica do campo permanecer com essa “crise” metodológica da falta de
compreensão da realidade social, as escolas do campo juntas com seus processos culturais
podem estar ameaçadas.
A educação do campo teve participação oficial em um evento nacional com o objetivo
de compreender e apontar saídas para a população campesina. Como nos mostra Arroyo
(1999, p. 08):
A primeira Conferência Nacional Por uma Educação Básica do Campo aconteceu
em Luziânia, GO, de 27 a 31 de julho de 1998. Precedida por Seminários estaduais,
com apoio em um Texto-Base e nas experiências concretas, ela constituiu um
processo unindo muitos parceiros na sua animação e, sobretudo, envolvendo, de
modo muito participativo, expressiva quantidade de educadoras e educadores do
campo.
Em relação à educação do campo, é pertinente ressaltar que a concepção de educação
que vem sendo empregada pela cultura dominante e elitista, não tem favorecido
satisfatoriamente para combater o analfabetismo, elevar a escolaridade dos sujeitos, sua
cultura e seu padrão de vida. Há ainda insatisfação, ocasionada pelo acesso tardio à escola que
na maioria das vezes, nas regiões mais pobres do Brasil, são oferecidas sem condições de
oportunizar saberes para a criança, o adolescente, os jovens e adultos devido à precariedade
de investimentos dessa política pública. Isso representa, sem dúvida, uma das maiores dívidas
históricas para com as populações do campo. Parece que é urgente pesquisar as desigualdades
históricas sofridas pelos povos do campo. Desigualdades econômicas, sociais e para nós
desigualdades educativas, escolares. Sabemos como o pertencimento social, indígena, racial,
do campo é decisivo nessas históricas desigualdades.
Marx (1998; p.28) também se reporta aos aspectos das desigualdades remetendo essa
situação a partir de uma ordem social que submete o mundo ao poderio do capital. Relata que
o trabalho humano nunca produziu tantos objetos em toda a história humana:
A condição de poder da burguesia é o crescimento do capital que submete o homem
ao trabalho assalariado, gerando uma base de competitividade e desigualdade entre
os trabalhadores. Isso canaliza para um índice absurdo de pobreza que cresce mais
rápido do que a população e a riqueza.
A lógica de produção capitalista permite maior exploração entre as pessoas, causa a
marginalização do trabalhador do campo e, a mão de obra na fábrica ou no latifúndio
transforma-se numa mercadoria a serviço da burguesia, que também se articula pelo processo
educativo.
Todas as formas de exploração de como o sistema opera ficaram explícitas, o modo
em que as relações se fundem com a sociedade e a deficiência séria e precária dessas relações
com o campo. Diante do exposto é necessário compreender a “crise” dos nossos modelos
mentais de compreensão da realidade, em especial da realidade campesina, pois esse modo de
operar o pensamento impede o entendimento das novas necessidades da sociedade e do
campo, colocando em risco o desaparecimento das escolas, da educação e da cultura rural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa apresentou as transformações das sociedades: rural, industrial e pós industrial com a educação do campo, teve como abordagem principal a compreensão da
realidade social a partir de um novo segmento que se apresenta, de certo modo, escamoteado
pelo fato das análises referentes a sociedades precedentes estarem sendo empregadas nessa
nova sociedade, que se desencadeia com o termo de sociedade pós-industrial.
Assim como a educação do campo se adaptará a esse novo modo de operar a
sociedade -- ressaltando alguns aspectos que por muito parecem óbvios, mas que se
apresentam de forma ideológica para parecer de maneira natural como a ideologia do
trabalho. Torna-se imprescindível compreender que a falta de uma nova ótica que se adapte às
transformações politicas, econômicas e sociais que vêm ocorrendo de uns tempos para cá, põe
em risco a vida do campo e as relações da sociedade pós-industrial com a população rural.
Dessa forma, mais do que nunca, faz-se necessário romper com tais paradigmas de
compreensão para adaptarmos o campo à nova estrutura que emerge cada dia mais.
REFERÊNCIAS
ARROYO, M. F; BERNARD, M. A. Educação Básica e o Movimento Social do Campo.
Vol. 2. Brasília. BF: articulação nacional por uma educação básica do campo, 1999.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Coleção
primeiros passos; 20).
CHAUÍ, Marilena de Souza. O que é ideologia. 38.ª ed. – São Paulo: Brasiliense, 1994.
(Coleção primeiros passos: 13).
DE MASI, Domenico. A sociedade pós-industrial. 4ª ed. São Paulo: Senac, 2003.
LUZES NO ORIENTE. História em revista. Rio de Janeiro: Editora Cidade Cultural, 1990.
MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. 2.ed. São Paulo: Boitempo, 2008.
MARX, K. Terceiro manuscritos. [Propriedade privada e trabalho]. In: Os pensadores. São
Paulo: Nova Cultural, 1998; p. 163-208.
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