XXI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea

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Resumos do Evento
XXI Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea
XXISimp
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
Campus de Toledo
Toledo, PR
2016
Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem
A FÍSICA CONTEMPORÂNEA POR GASTON BACHELARD, MAX PLANCK E NIELS BOHR
David Velanes de Araújo.
As descobertas que ocorreram na Física, no início do século XX, são apontadas por filósofos e cientistas como um marco de
mudanças epistemológicas. Gaston Bachelard, filósofo francês, apresentou em seu conjunto de obras epistemológicas os impactos
dessas descobertas como fatos que instituíram uma nova época de pensamento, a saber, um novo espírito científico. Entre os
cientistas deste mesmo século, pode-se citar Max Planck e Niels Bohr como autores que perceberam as novidades trazidas pela
física da qual eles mesmo foram protagonistas. Efetivamente, tais descobertas, como por exemplo, o quantium elementar de ação,
a Teoria da Relatividade, e as partículas mais diminutas dos átomos (corpúsculos), contribuíram para uma mudança acerca da
representação de mundo da qual fornecia a física clássica. Esta é apresentada por Max Planck como uma ciência onde os conceitos
do qual se utilizava para representar o mundo tinham como ponto de partida as percepções sensoriais. Na perspectiva de Max
Planck e de Gaston Bachelard, a física contemporânea se trata de uma ciência que rompeu nitidamente com a experiência comum.
Esta ideia bachelardiana se refere às noções ingênuas que se derivavam da experiência sensível e que tinha como ponto de partida
a vida corriqueira, porque o conhecimento científico se encontrava intrinsecamente ligado ao senso comum. Parece que ambos os
autores concordam que a física clássica se sustentava em bases simplistas, mas que romperam com essas bases na época
contemporânea. Gaston Bachelard ressaltou de maneira semelhante às ideias de Niels Bohr em relação à atomística
contemporânea, isto é, de que as concepções contemporâneas de investigações acerca da natureza dos átomos não tem nenhuma
correlação histórica. A atomística contemporânea se trata, com efeito, de um fato totalmente inédito na física. Conforme Bohr e
Bachelard, as noções realistas da física clássica, oriundas das percepções sensíveis, não podem servir para as explicações
contemporâneas sobre as propriedades dos átomos. A nova Física se sustenta em um novo espírito científico, que estabelece o
modelo teórico-matemático como ponto de partida para a experiência, e não mais a observação imediata acerca do fenômeno. O
objetivo deste trabalho é discutir junto a Gaston Bachelard, Max Planck e Niels Bohr, algumas considerações acerca das
características da nova Física, que está precisamente na desvinculação do caráter sensualista nesta ciência. Sustentar-se-á que esta
ciência rompeu com os conceitos e intuições que tinha como ponto de partida o mundo sensível ao estabelecerem um novo tipo de
realidade científica própria do século XX.
Palavras Chave: Bachelard; Física; Epistemologia; Planck; Bohr.
A SUBJETIVIDADE NA ACEITAÇÃO DE TEORIAS CIENTÍFICAS
Murilo Morato Santos.
Resumo não informado pelo autor.
Palavras Chave: Filosofia da ciência; Teorias da aceitação; Teoria científica
A TEORIA DOS ATOS DE FALA EM AUSTIN
Luiz Claudio Inocêncio.
[email protected] RESUMO O tema proposto para essa apresentação refere-se as conferências de John
Langshaw Austin na obra “Quando dizer é fazer: palavras e ações”. Aonde Austin reelabora de forma abrangente a análise da
linguagem. Nessa abordagem serão analisados A teoria dos Atos de Fala, assim Austin irá se confrontar com a tradição refutando
algumas formas de se conceber o processo analítico. E a partir desse confronto irá propor uma nova maneira de analise da
linguagem pautada na ação, ou seja, a linguagem será analisada dentro de um determinado contexto social, o sujeito interagindo
com o meio social. O que permeia todo esse novo horizonte não é mais somente uma analise semântica entre sentido e referência,
que produz uma verdade ou falsidade. Mas para alem disso, outros elementos passam á ser considerados importantes, o sujeito, á
fala, as convenções, o meio aonde o ato de fala está sendo empregado em um determinado contexto. Nesse novo horizonte é que
Austin irá introduzir a distinção das dimensões dos atos de fala, locução, ilocução e perlocução. Assim o sujeito passa a ter um
papel importante nesse contexto ao qual ele se encontra inserido. E a partir desse processo de investigação nos é propiciado novos
elementos para uma nova forma de abordagem da linguagem através do agir em um contexto social. Nesse sentido a ação aparece
como elemento central para compreender esse novo processo na presente obra de Austin. REFERÊNCIAS AUSTIN, Jonh
Langshaw; Quando dizer é fazer; palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes de Souza Filho\ Porto Alegre: Artes Médicas;
1990.
Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem
Palavras Chave: Linguagem; Locução; Ilocução; Perlocução;
AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO, SUJEITO E SOCIEDADE: UMA DISCUSSÃO EPISTEMOLÓGICA
Veronice Alves de Souza.
Esse trabalho foi desenvolvido com o intuito de apresentar uma discussão teórica no XXI Simpósio de Filosofia Moderna e
Contemporânea da UNIOESTE - Campus Toledo, uma “conversa” aguçada entre as três grandes matrizes teóricas de todos os
tempos: o positivismo, a fenomenologia e o materialismo histórico. Não temos pretensão alguma em esgotar o assunto, ou
apresentar soluções para tais questionamentos, porém buscaremos, dentro da apresentação das abordagens específicas de cada
teoria tornar mais compreensível as concepções de Educação, Sujeito e Sociedade; objetos centrais dos debates no campo da
pesquisa em Educação. De maneira simples procuraremos apresentar os conceitos elementares de cada matriz epistemológica
procurando contribuir com as discussões acerca da realidade que cerca os saberes no campo da educação. Os principais autores
que traremos à discussão são: na vertente positivista, Augusto Comte e Émile Durkheim; na fenomenologia, George Simmel e
Max Weber; no Materialismo Histórico Karl Marx & Engels e István Meszáros. A título de conclusão podemos apresentar que, se
o processo de produção do conhecimento está relacionado ao conhecimento das ciências, suas mudanças, seus objetivos e objetos
nos desdobramentos sociais que os questionamentos da vida foram se estabelecendo historicamente entre os homens; um
posicionamento emerge de forma elementar: quanto mais condições de apreensão da realidade, através do conhecimento das
relações humanas no desenvolvimento da vida em sociedade, mais condições teremos de conhecer a realidade tal qual ela está
constituída.
Palavras Chave: Epistemologia, Positivismo, Fenomenologia e Materialismo Histórico Dialético
AS CONTRIBUIÇÕES DE CARL MITCHAM PARA A FILOSOFIA DA TECNOLOGIA
Alexandre Klock Ernzen.
O livro de Carl Mitcham Thinking Through Technology foi escrito para ser uma introdução crítica à filosofia da tecnologia,
disciplina relativamente nova para as ciências humanas. Mitcham, que já foi presidente da Society for Philosophy of Technology
(SPT), é um dos autores renomados desta “disciplina”. O livro, de caráter introdutório, apresenta uma leitura não linear da filosofia
tecnologia que extrapola os limites de uma simples introdução rumo à uma obra completa por suas importantes contribuições. Ela
nos dá uma visão panorâmica geral de toda a filosofia da tecnologia e se torna forte aliada dos pesquisadores devido à sua rica
quantidade de informações. O livro é dividido metodologicamente em duas partes, cada uma delas com suas peculiaridades. Ao
pensar “por entre” a tecnologia, em um movimento de passagem da própria tecnologia para a filosofia, o autor pretende mostrar
que, muito embora a filosofia não seja natureza tecnológica, ela pode ser um elo de ligação com a tecnologia para uma possível
análise mais ampla. Esta análise não pode ser realizada, no entanto, com elementos tecnológicos. A possibilidade de analisar a
tecnologia por um viés “não-tecnológico” torna-se uma via interessante. A primeira mudança significativa é que o próprio conceito
de tecnologia muda, pois, inclusive sistemas teóricos serão considerados “tecnológicos”. A conclusão do livro é fantástica já em
seu título, “Continuando a pensar sobre tecnologia”. A ideia central do livro foi “pensar sobre tecnologia, por meio de uma via que
não exclui o discurso da engenharia”. Os estudos de filosofia e tecnologia são necessários para fazer evidente uma “guerra” entre
duas áreas distintas que debatem o mesmo assunto. Tanto filosofia quanto engenharia podem falar sobre “tecnologia”, apesar que,
segundo Mitcham, a primeira possui melhores condições de contribuir com a segunda, dada sua natureza teórica, muito embora os
exemplos e as contribuições dos engenheiros sejam importantes e não devem ser tomadas como dadas. O que se pretende aqui é
não é desmerecer a EPT (Engineering Philosophy of Technology), ao contrário, é demonstrar que HPT (Humanities Philosophy of
Technology) objetiva tomar a tecnologia seriamente através do discurso da filosofia, tornando a análise profunda e séria. Isto
significa tratar da tecnologia por completo, ou seja, experiência e prática aliada à teoria. É importante destacar que se pode falar de
tecnologia de várias formas. A filosofia pode ser a ponte que pode ligar a filosofia da tecnologia das humanidades com a filosofia
da tecnologia das engenharias. Apenas a filosofia da tecnologia é transformada em estudos de filosofia e tecnologia e pode realizar
totalmente este ideal de entendimento da tecnologia. Segundo Mitcham, o que é preciso é mais conhecimento sobre ciência e
tecnologia e suas relações sociais assim que as pessoas podem agir mais efetivamente para realizar seus fins. “Os problemas da
tecnologia serão resolvidos não com menos tecnologia, mas com mais e melhores tecnologias”. PALAVRAS-CHAVE (entre 3 e
6): Resumo; Felicidade; Normas e exemplos; (Palavras-chave separadas por ponto-e-virgula.) REFERÊNCIAS MITCHAM, Karl.
Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem
Thinking Through Technology: the path between engenieering and philosophy. Chicago: Chicago Press: 1994.
ATIVIDADES PRÁTICAS NO ENSINO DE HISTORIA: DISCUTINDO EXPERIENCIAS E POSSIBILIDADES
Victor Antonio Melo Silva; Vinicius Boaretto Kaefer.
O presente trabalho tem como objetivo apresentar resultados e reflexões desenvolvidas no grupo de estudos do projeto PIBID –
História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná 2014/2016, campus de Marechal Cândido Rondon, orientado pela Profª.
Drª. Aparecida Darc de Souza. Dentre os trabalhos desenvolvidos destacamos a atividade prática realizada na oficina de
Antiguidade Clássica – Eixo: Democracia Ateniense, aplicada no dia 25 de agosto de 2016 com a turma do 2º ano do Ensino
Médio do Colégio Estadual Marechal Rondon, na cidade de Marechal Candido Rondon PR. O projeto Pibid tem como base o
método dialógico de Paulo Freire no qual o aluno é encarado como um sujeito histórico portador de uma visão de mundo e
carregado de experiências individuais e coletivas de sua realidade. Para esta análise utilizamos a categoria experiência evidenciada
por Thompson em sua obra A miséria da teoria ou um planetário de erros (1981). Iremos discutir com mais ênfase a atividade
prática onde foi realizada uma representação da assembleia democrática ateniense (Eclésia), na forma de um jogo narrativo.
Temos como objetivos debater esta experiência e apontar limites e possibilidades no que diz respeito a elaboração e aplicação de
atividades práticas no ensino de História, utilizando elementos lúdicos e trabalhando a realidade vivida pelos alunos dentro da
atividade.
Palavras Chave: Atividade Prática; Ensino de História; Experiência.
O PROBLEMA SEMÂNTICO NA FILOSOFIA DA MENTE DE PAUL M. CHURCHLAND
Robson Martins do Amaral.
Esse trabalho propõe um estudo do chamado "Problema Semântico", como é conhecida na Filosofia da Mente a dificuldade em
precisar o processo de significação dos estados mentais. Partindo da multiplicidade das questões filosóficas ligadas ao problema da
mente, a motivação inicial que levou a escolha desse tema em específico está ligada diretamente ao trabalho do filósofo canadense
Paul M. Churchland, o qual analisa o "Problema Semântico", entre outras questões relacionadas, em seu livro "Matter and
Consciousness: A Contemporary lntroduction to the Philosophy of Mind" de 1984. Entendendo a semântica como o estudo do
significado das palavras e de sua evolução histórica ou, em um sentido mais específico, das relações das palavras com os objetos
que designam, o estudo da semântica pode ser tratado, assim, tanto do ponto de vista filosófico - que centraliza principalmente a
análise das relações entre as palavras e seus objetos, e na determinação de conceitos tais como significado, nominação, literalidade
e verdade, como do ponto de vista linguístico - que se ocupa da problemática das relações entre pensamento, linguagem e
significado, e almeja designar o papel da semântica enquanto elemento linguístico. Num primeiro momento, é importante entender
a relação que o autor faz, em sua Filosofia da Mente, entre o problema semântico e o chamado problema ontológico, pois os dois
problemas estão estreitamente associados. O primeiro problema refere-se à questão de onde os termos que utilizamos
frequentemente para representar os estados mentais alcançam o seu significado. Enquanto o segundo problema é uma questão
sobre quais coisas de fato existem e qual a sua natureza essencial (no que se refere à mente, consciência, alma, etc). Feito isso, nos
colocamos diante de uma das questões fundamentais do "Problema Semântico": a ostensão interior. Essa é a descrição do processo
de introdução de um termo, ou expressão, no vocabulário de alguém a qual Churchland chama "concepção-padrão" e que, segundo
nosso autor, não pode ser uma explicação completa da significação dos predicados psicológicos, pois muitos estados mentais, dirá
ele, não apresentam nenhum caráter qualitativo e entre os estados mentais que estão relacionados aos qualias (qualidades
subjetivas das experiências mentais conscientes) nem todos os tipos tem um quale uniforme. Outro ponto levantado pelo autor são
as definições operacionais (estruturas por meio das quais poderia ser explicitado o significado dos termos mentais) ponto esse que
parte do behaviorismo filosófico (positivismo lógico) o qual não seria uma teoria sobre o que são os estados mentais em sua
natureza interior, mas sim um princípio de como averiguar ou entender o vocabulário que usamos para falar sobre eles. Além
disso, o "Problema Semântico" nos leva a chamada teoria da "rede de leis", segundo a qual, os termos teóricos extraem seu
significado de definições explícitas e isoladas que estabelecem as condições necessárias e suficientes para a sua aplicação.
Palavras Chave: Paul Churchland - Semântico -
Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem
REFUTAÇÃO KANTIANA DO IDEALISMO PROBLEMÁTICO DE DESCARTES
Juliana Gilo Tiberio.
A presente comunicação tem por objetivo expor o argumento kantiano da Refutação do Idealismo. Na estratégia desse argumento
Kant mostra que a experiência interior, aquela em que o idealismo material cartesiano se assenta e sobre a qual, em seguida, se
apoia para desenvolver a hipótese cética a propósito do mundo exterior – é impossível sem a experiência exterior. Na situação de
responder, mediante um modelo rigoroso de prova, à questão da existência das coisas exteriores à consciência, Descartes admitiu
haver somente “[...] uma fortíssima inclinação para crer que elas [as ideias das coisas exteriores e corporais] me são enviadas pelas
coisas corporais ou partem destas [...]”(Meditações Metafísicas, VI, parágrafo 30, p. 143). O levantamento dessa suspeita aparece,
segundo Kant, como o falso problema do “mundo exterior” e como um escândalo da Filosofia. Na medida em que a experiência
interna (intuição temporal) só pode ocorrer a partir da experiência externa (intuição espacial), a tentativa de defender a realidade
(externa) de nossas representações fenomênicas só a título de “crença” mostra quanto o argumento cético se baseia num idealismo
sonhador (problemático). A possibilidade de a intuição de um objeto se dar fora de nós (espaço) está intrínseca e constitutivamente
ligada à possibilidade de intuir algo na nossa mente (tempo). O conhecimento objetivo de algo tem seu começo pela intuição
empírica (fenômeno), isto é, no espaço, sem cujo conteúdo não haveria nada para a mente “pensar” ou mesmo “determinar”.
Alicerçado o caráter real dos objetos em nossa capacidade de sermos afetados, a omissão cética da dimensão espacial (forma pura
do espaço ou sentido externo, como denomina Kant) torna impossível toda tentativa de fazer juízos sobre qualquer objeto. A
principal fonte na CPR para resolver ou dissolver esse falso problema, Kant a exibe como a Estética transcendental da CRP.
Acompanharemos seus principais passos argumentativos, na demonstração de que tanto o espaço quanto o tempo são formas puras
a priori do sujeito, só em virtude do qual o conhecimento objetivo se torna possível para nós. PALAVRAS-CHAVE: Refutação do
Idealismo, sentido externo/interno, espaço, tempo. REFERÊNCIAS KANT, IMMANUEL. Crítica da Razão Pura. Trad: Fernando
C. Mattos. 4º Ed – Editora Vozes, 2012. KLOTZ, HANS C. A Refutação do Idealismo: Problema, Objetivo e Resultado do
Argumento Kantiano. Universidade Federal de Goiás. In: KLEIN, Joel T. (Org.) Comentários às obras de Kant: Crítica da Razão
Pura. Florianópolis: NEFIPO, 2012, pp. 415-434. Disponível online (10/10/2016): http://www.nefipo.ufsc.
br/files/2012/11/comentarios1.pdf
Palavras Chave: Refutação do Idealismo, sentido externo/interno, espaço, tempo.
SOBRE A QUESTÃO DA AUTONOMIA DA CIÊNCIA
Douglas Antonio Bassani.
Esta análise procura analisar filosoficamente as formas de autonomia da ciência, começando pela proposta de Galileu Galilei no
século 17, passando pela concepção de autonomia do final da segunda guerra mundial com Vannevar Bush e pela concepção
defendida no início da década de 70 com a autonomia neoliberal. O tema se mostra pertinente filosoficamente, uma vez que trata
do desenvolvimento histórico da ciência e mapeia o debate filosófico da autonomia da mesma, apontando para a importância de
destacar os valores cognitivos do "fazer" científico, reduzindo as chamadas "pressões externas" ou "interferências externas" no
desenvolvimento das pesquisas científicas. Podemos dizer que a autonomia da ciência começou a ser seriamente debatida na
filosofia a partir da questão sobre "Fatos e Valores" no início do século 17. Nessa época o debate era de que a ciência deveria
preservar os valores cognitivos e desprezar valores sociais, ideológicos, religiosos, financeiros, etc., que pudessem persuadir o
cientista a tomar essa atitude ou aquela a partir desses últimos. Galileu entendia que desenvolver as teorias científicas era uma
tarefa que exigia atenção aos fatos da experiência, compreensão dos mesmos e estabelecimento de um arcabouço teórico que
pudesse dar conta de descrever algum fenômeno novo. Em algumas obras de Galileu aparece a reivindicação de uma ciência
autônoma, livre das pressões sociais ou de interferências da Igreja nos seus resultados, ou seja, os resultados obtidos pela ciência
deveriam preservar a autonomia da razão do cientista, e não ser submetido a uma espécie de "tribunal" que julgasse o que poderia
ou não ser publicado e divulgado. Mais do que isso, onde o "tribunal" determinasse qual pesquisa deveria ser feita e qual deveria
ser abandonada. Mostraremos que a autonomia para a ciência reivindicada por Galileu perdurou durante um tempo, mas que após
a segunda guerra mundial duas outras formas de autonomia da ciência surgiram. O debate sobre essa questão e as principais
diferenças entre as diferentes formas de autonomia da ciência será o objetivo da exposição.
Palavras Chave: Autonomia da Ciência; Galileu Galilei; Vannevar Bush.
Área: Estética
A DISTINÇÃO ENTRE PROSA E POESIA EM SARTRE
Fernando Alves Silva Neto.
O presente texto possui como objetivo apresentar a diferença entre prosa e poesia em Sartre, a partir da leitura da obra Que é
Literatura?. Com isso, pretendemos reconstruir a argumentação sartreana a respeito da poesia, que diz respeito a mesma não
pertencer as artes-significantes, assim, não podendo ser caracterizada como uma arte engajada. Já que, para Sartre, a finalidade da
poesia se encontra na contemplação, pois cria para si uma realidade “mística”, na qual a fala deve ser seguir de encontro com o
poema, pois ele deve ser o primeiro motor da fala, ou seja, aquele que proporciona o movimento da fala. Por esse motivo a poesia
visa uma finalidade diferente da prosa, uma vez que a finalidade da prosa é a comunicação, em Sartre, as palavras não são
entidades abstratas que representam algo, mas são frutos de uma atividade natural do homem, visto que não há linguagem pura que
possua um sentido completamente contemplativo, já que a linguagem advém do sujeito que a profere como uma ação
comunicativa, e por ser comunicativa torna-se uma arte engajada. Portanto, para que possamos alcançar a compreensão da
“finalidade” de cada arte, para assim entender como é estabelecida a distinção entre prosa e poesia, nossa investigação se voltará
também artigos de Situações I, nos quais Sartre já havia realizado comentários sobre a poesia, e neles exposto a situação da poesia
da poesia no século XX.
Palavras Chave: engajamento; fenomenologia; literatura.
KANT E OS QUATRO MOMENTOS DO JUÍZO ESTÉTICO NA ANALÍTICA DO BELO
Tamara Havana dos Reis Pasqualatto.
Kant estabelece a “Analítica do belo” com base no fio condutor dos seguintes momentos – que seguem claramente a divisão
estabelecida na tábua das categorias: qualidade, quantidade, relação e modalidade, obtendo assim uma quadrupla determinação do
belo. No primeiro momento Kant analisa o desinteresse, no segundo, a universalidade subjetiva, no terceiro, a finalidade sem fim,
e por último, no quarto momento, a necessidade exemplar. A tese principal do primeiro momento é o desinteresse, característico
do juízo de gosto. Assim, para saber se uma obra é bela, no juízo de gosto não pode estar presente nem o mínimo interesse pela
existência do objeto e tal juízo tem que ser proferido de modo absolutamente imparcial. No segundo momento do juízo de gosto
temos que: embora o ajuizamento de uma coisa como feia ou bela seja realizado sem conceitos objetivos, ele pode ser, segundo a
quantidade universalmente válido. Se o momento anterior concluiu que o belo é um objeto da complacência independente de todo
interesse, disso decorre que a complacência não se funda sobre qualquer inclinação do sujeito e por isso não é possível descobrir
nenhuma condição privada como fundamento da mesma, mas ao contrário, a complacência deve ser fundada naquilo em que um
sujeito também pode pressupor em todo outro. O terceiro momento do juízo de gosto trata da relação dos fins que é considerada
neste juízo. Ele inicia com uma definição a partir da qual é possível concluir que: fim é um conceito ou representação que precede
o objeto e que essa relação existente entre o conceito e o objeto é entendida como uma causalidade, visto isso, a “finalidade”
consistiria justamente nessa relação de causalidade entre um conceito e seu objeto. O último momento, segundo a modalidade da
complacência no objeto tem por principal tema a busca de um sentido comum como condição da necessidade a que pretende um
juízo de gosto. É possível admitir com razão a pressuposição de um sentido comum pois se um conhecimento pode comunicar-se
universalmente, então também o pode o estado de ânimo que o acompanha, pois, como já foi dito, a comunicabilidade universal de
um sentimento pressupõe um sentido comum e este sentido comum é o efeito que se origina do jogo livre de nossas faculdades de
conhecimento. Assim, conclui-se a analítica do belo com a resolução de que o belo é o que é conhecido sem conceito como objeto
de uma complacência necessária.
Palavras Chave: Kant; Estética; Belo
NIETZSCHE E O "GRANDE ESTILO" EM CREPÚSCULO DOS ÍDOLOS
Ramon Corrêa da Costa.
O “grande estilo” é, sem dúvida alguma, uma noção de legítima importância para o legado nietzschiano. Ciente dessa importância,
acreditamos que tal noção merece pesquisas mais detidas, como a que ora aqui empreendemos. Desenvolvida ao longo da vida
produtiva de Nietzsche, como podemos notar nas recorrentes referências em várias de suas obras, a temática do “grande estilo”
encontra-se em grande parte inserida no contexto da chamada filosofia madura do filósofo e, portanto, se relaciona a outros
conceitos do período de tal forma que para ser melhor compreendida se faz necessário investigá-la na relação com eles, sobretudo
aqueles decorrentes do projeto filosófico de maturidade, nomeadamente às noções de décadence, transvaloração de todos os
Área: Estética
valores, vontade de potência, sabedoria trágica, dionisíaco, e é desta forma que buscamos proceder no andamento de nossas
investigações. Tal fato nos dá uma ideia da abrangência e complexidade do problema em questão. Assim, propomos,
primeiramente, tematizar o problema caracterizando de forma introdutória os possíveis sentidos de “grande estilo” para, a partir
daí, tentar relacioná-lo a outros elementos teórico-especulativos. Acreditamos que uma análise mais detida na obra Crepúsculo dos
Ídolos é fundamental, pois além desta noção ser um elemento fundamental para os propósitos do último Nietzsche, com destaque a
transvaloração, é onde possivelmente encontramos a definição mais acabada do “grande estilo”. A referida obra nietzschiana, que
tem como bojo o diagnóstico de uma situação de decadência da cultura moderna, lança o convite a um “esforço de guerra”, uma
luta a ser travada ante o que está posto: os valores da décadence. Nietzsche, assim, assume essa “missão” acenando para a
possibilidade de uma saída do estado decadente e, nesta direção, aponta para determinados “tipos” de constituição “saudável”,
“homens de força”, “robustos”, que nos dão indicativos ao conceito de “grande estilo”. Assim sendo, nossa proposta de pesquisa,
de nos ocupar com a investigação dos possíveis significados de “grande estilo”, nos permitiu, ao mesmo tempo, e
intencionalmente, refazer o caminho diacrônico desta noção. Portanto, para além da pesquisa no Crepúsculo, trouxemos à baila
alguns elementos da primeira estética nietzschiana, principalmente o conceito de dionisíaco, tese fundamental e herança maior de
O Nascimento da Tragédia, que constituirão a base para modificações posteriores. Neste contexto, o retorno a essas teses no
período final da filosofia nietzschiana, acabaram, entre outras coisas, por destacar uma importante mudança de perspectiva em
relação aos gregos, onde a sabedoria trágica ali celebrada será entendida por Nietzsche a partir da compreensão da força do deus
Dioniso, agora, diferentemente de como era entendido na primeira estética nietzschiana, é concebida como “afirmação integral” de
tudo o que existe. Aqui nos foi irresistível a intenção de uma tentativa de aproximação do “grande estilo” com o “dionisíaco”.
Assim, o problema em questão é baseado em uma tentativa de mostrar que alguns dos elementos principais da estética juvenil de
Nietzsche se conservam na maturidade e, assim procedendo, buscaremos argumentar que o “grande estilo” pode ser entendido
como uma espécie de (re-)encontro com o dionisíaco.
Palavras Chave: dionisíaco, “grande estilo”, transvaloração.
O DESMANTELAMENTO DA TRAGÉDIA GREGA PELO SOCRATISMO
Nilson Rodrigo da Silva.
A presente comunicação tem por objetivo uma breve reflexão acerca da destruição da tragédia grega com o advento do
racionalismo socrático-platônico. Em O Nascimento da Tragédia, o filósofo Friedrich Nietzsche (1844—1900), ao iniciar sua
investigação, encontra em Eurípedes o primeiro desvio que comprometeria toda tragédia, por má interpretação do poeta ocorre
uma mudança na arte grega: primeiramente, por sua proscrição ao coro, composto agora por enredos dialógicos onde tudo deve ser
cognoscível; segundo, por inserir em suas peças personagens cotidianas, o espectador foi levado à cena deixando de lado a
sabedoria trágica e o próprio Dionísio. O erro do poeta, apontado pelo filósofo, foi o de tentar combater o espírito trágico por um
drama de viés antimusical e inartístico. Consequentemente, essa foi a possibilidade para que o racionalismo começasse a
ramificar-se. O estopim da ruína trágica, apresentado por Nietzsche, foi Sócrates, personagem platônica que condena a arte trágica
em prol de sua cura, a racionalidade. Sócrates sobrepõe a transposição Dionisíaca da arte trágica — cujo reflexo é a união entre o
impulso Apolíneo e o Dionisíaco — por um pretenso conhecimento dialético, o qual guiará os homens à verdade, ao bem e à
felicidade. No entanto com o endeusamento da individuação pela racionalidade, a arte-trágica, que não possuía meta ou dever
racional, deixa de apresentar-se como o “rompimento” da individuação, que restaurava o sentimento de unidade em relação ao
mundo. Tendo, assim, a arte sucumbindo a uma cristalização pela racionalidade apregoada pelo picaresco Sócrates, ela perdeu
todo seu caráter de união com o Uno-primordial. O dialético voltou-se contra a sabedoria trágica condenando-a por ser um gênero
irracional, ininteligível. Por isso, o filósofo alemão considera Sócrates antiateniense, desmantelador da cultura trágica. Destarte, o
que propomos é a problematização do apontamento nietzschiano ao problema surgido com a cultura socrático-platônica pela
imposição de uma filosofia teórica que limitou a vivência trágica do vir-a-ser experimentada pelos antigos.
Palavras Chave: Tragédia; Nietzsche; Sócrates; Dionisíaco; Apolíneo;
Área: Estética
O ESCRITOR COMO REPRESENTANTE
Cleonice Alves Lopes Flois.
O modo de pensar a arte e a literatura têm grande relevância para o pensamento social das mesmas na contemporaneidade e o
escritor precisa sentir-se livre para abordar a temática social nas suas obras de forma a produzir uma literatura engajada.
Palavras Chave: Arte; Literatura; Escritor; Temática social.
QUADRA DOS ESQUECIDOS: ANÁLISE SOBRE A “QUADRA 27” DO CEMITÉRIO MUNICIPAL CRISTO REI DE
TOLEDO – PR
Jéssica Dal Piva.
Nesta análise pretendo apresentar alguns aspectos simbólicos evidenciados a partir das reformas realizadas na primeira década do
século XXI no Cemitério Municipal Cristo Rei, localizado na Avenida Maripá, no Município de Toledo, no Paraná. Durante a
reforma novos elementos foram inseridos e outros mantidos e valorizados. Nesta comunicação proponho analisar a “Quadra 27” na
qual estão enterrados aqueles que morreram dos anos de 1953 até 1972. Estes mortos foram homenageados através da
identificação dos seus nomes e da colocação de placas no corredor principal do cemitério. A maioria dos homenageados são
infantos. A homenagem acontece ao longo do corredor principal representada também pelos “Arcos da Vida” que são pilares de
tamanhos irregulares, representando a variação da vida e a longevidade de cada uma delas. A observação empírica do cemitério, a
análise de documentos e as entrevistas que realizamos nos levam a afirmar que durante a reforma houve um trabalho de
valorização da memória dos pioneiros, colonizadores da localidade.
Palavras Chave: Cemitério; Quadra 27; Arcos da Vida
Área: Ética
A EXISTÊNCIA SERIAL COMO RELAÇÃO HUMANA FUNDAMENTAL EM JEAN-PAUL SARTRE
Aline Ibaldo Gonçalves.
Na Crítica da Razão Dialética, Sartre afirma que no campo prático-inerte, a base das relações com os outros é a serialidade. Este é
um grupo formado por indivíduos em situação comum, mas que estão unidos pela exterioridade. É uma existência serial na medida
em que é apenas um número, substituível. Sartre desenvolve a série como uma das primeiras formas de sociabilidade fundamental
em que as consciências vivem em um estado de justaposição e de separação. Na serialidade, encontramos indivíduos
condicionados por um objeto material, como no exemplo que Sartre dá de uma situação vivenciada por indivíduos que se
aglomeram em um ponto de ônibus aguardando o mesmo. Embora próximos uns dos outros, eles mantém sua solidão. Todavia, há
uma reciprocidade condicionada pela materialidade. A ação passiva de um objeto prático inerte, no caso o ônibus, faz com que
exista uma totalidade, pois os indivíduos têm interesses e atitudes idênticas. Cada um é produzido pelo conjunto social como unido
aos outros. Desse modo, há uma relação de interioridade, pois cada um deles só pode se tornar determinado indivíduo da série, em
relação a seu vizinho. No entanto, Sartre identifica essa relação como falsamente recíproca. Na série, a práxis livre não é assumida
pelo indivíduo, pois este realiza no cotidiano a relação de solidão, de reciprocidade e de unificação pelo exterior que caracteriza,
por exemplo, os citadinos de uma grande cidade na medida em que se encontram reunidos, sem serem integrados pelo trabalho,
pela luta ou por qualquer outra atividade, em um grupo organização que lhes seja comum. Assim, Sartre caracteriza o Coletivo
como o ser da sociedade no nível do campo prático-inerte. Os coletivos são uma pluralidade de consciências solitárias sem
distinção que faz delas uma totalidade. Essas consciências se organizam em uma união no qual o vínculo é o condicionamento
delas à materialidade. Em suma, a relação humana fundamental é a serialidade, ou seja, uma pluralidade de solidões, um
ajuntamento provisório e contingente que expressa uma massificação do conjunto social. Desse modo, Sartre coloca nessas
práticas seriais o fundamento de toda sociabilidade.
Palavras Chave: Sartre – Serialidade – Outro – Coletivo
A RELAÇÃO EU-OUTRO E A QUESTÃO DA ALTERIDADE
Elizabeth Fortecki; Vanessa Furtado Fontana.
Resumo não informado pelo autor.
Palavras Chave: Alteridade; Ética; Sartre; Eu-Outro; Liberdade.
AGOSTINHO ENTRE A FÉ E A DÚVIDA: UMA BREVE ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO CETICISMO NO
PENSAMENTO AGOSTINIANO
Elissa Gabriela Fernandes Sanches.
Agostinho de Hipona foi uma figura intrigante. Constantemente imerso nas águas de seus questionamentos, nem mesmo a fé cristã
foi suficiente para, ao menos, acalmar sua inquietante alma. As respostas precisavam ser encontradas, e sua busca, em grande parte
de sua vida, pode ser vista como uma jornada orientada em direção à verdade. Mas, Agostinho acreditava mesmo existir uma
verdade? Esta é uma pergunta que torna visível os rastros de um pensamento que oscilava entre um velado ceticismo e um exposto
- e aparente - dogmatismo. Ora, se atentarmos, em linhas gerais, para a cobertura teológica que constitui o discurso agostiniano,
podemos avaliar que suas palavras são superficialmente preenchidas por certezas, a ponto de sustentarem diversos dogmas da
doutrina cristã. Porém, esta é uma ilusão pois, logo após a sua conversão o autor demonstra suas intenções: "[...] qualquer que seja
o modo de ser da sabedoria humana, percebo que ainda não a conheço. [...] Todavia, [...] nem por isso julgo dever desesperar de
um dia, no futuro, poder alcançá-la", em seguida ele complementa: "Não há dúvida de que são dois os fatores que nos impelem ao
aprendizado, a saber, a força da autoridade e a força da razão. Para mim, portanto, é coisa sumamente certa que jamais devo me
afastar da autoridade de Cristo [...] Mas esta deve ser perseguida usando de uma razão subtilíssima" (AGOSTINHO. Contra os
Acadêmicos, III, 20, 43). Podemos avaliar neste trecho o método epistemológico de Agostinho que consiste em perseguir a
sabedoria, buscar a verdade, através do uso da razão, o que implicava em abrir-se para as questões que lhe provocariam. O bispo
conhecia muito bem a angústia da dúvida e, em vários textos, ele desnuda o seu sofrimento por não conseguir se contentar com
simples respostas, sempre se engajando em novas indagações. Ele entendia que não se tratava de uma mera curiosidade, a
considerando uma tentação, pois ser curioso implica conferir ao conhecimento um fim último (AGOSTINHO. Confissões, X, 35).
A vontade de sua alma estava sempre orientada à verdade, à procura por conhecer as coisas em sua forma mais profunda, não
apenas por saber - o que incorreria, neste caso, em se contentar com as soluções mais básicas. Será que Agostinho alcançou, em
Área: Ética
algum momento, a ataraxia, a tranquilidade de sua alma? Interpelemos o pensamento agostiniano e perceberemos que não. Uma
das fortes demonstrações disto é a escrita de sua obra "Retratações" (Retractationes, 426/427 d.C.), na qual corrige diversos pontos
que ele mesmo afirmou durante a sua vida, bem como esclarece outros, reafirmando-os. Deste modo, pretendemos expor um
pensamento continuamente perturbado por reflexões e pelo interrogar-se de si próprio (a quaestio mihi factus sum, a questão que
me tornei para mim mesmo. AUGUSTINI. Confessionum, X, xxxiii, 50), pela constante e quase infinita revisão de si mesmo. Esta
exposição nos conduzirá à pergunta: era Agostinho, afinal, um cético? Este é o problema central de nossa investigação.
Palavras Chave: ceticismo; Agostinho; busca da verdade; dogmatismo.
APENAS UMA REFLEXÃO ACERCA DA IDEIA DE DIGNIDADE HUMANA
Marilda Pereira dos Santos.
Levantar questões é mesmo a principal tarefa da filosofia. Nesse sentido, o foco deste trabalho encontra-se na questão de
investigar a ideia de dignidade da pessoa humana, fornecer variantes interpretativas.Na abordagem do presente texto se orienta
pelo objetivo de compreender o pensamento kantiano que aparece como decisivo na formulação dos conceitos de justiça, de
liberdade e de igualdade. Nesses pontos concentra-se a esta abordagem crítica, que propõe duas interpretações específicas:
primeiro, vem analisar o desenvolvimento da sua Ética fundada sobre a autonomia da razão transcendental, ou seja, da
possibilidade da razão prática enquanto faculdade de princípios a priori; segundo, vem defender sua teoria moral, que busca fixar o
princípio supremo da moralidade, princípio que contribui para explicitar a noção de dignidade humana e da exigência do bem
supremo como ideal de vida racional de toda humanidade.
Palavras Chave: Bem supremo; Dignidade Humana; Moralidade
ÉTICA X MORAL: UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE ESPINOSA
Elvio Camilo Crestani.
Esta comunicação consiste em uma introdução ao pensamento de Baruch Espinosa (1632-1677) feita a partir do livro Espinosa:
Filosofia Prática (2002) de Gilles Deleuze. A pesquisa está orientada pela pergunta: como se constitui a complexa noção de Ética
em Espinosa e o que a difere da Moral? Após expor o cenário histórico (sobretudo político e religioso) que aflorou o pensamento
de Espinosa, objetivamos apresentar, de acordo com a interpretação de Deleuze, como se constitui a definição de Ética, e qual a
sua relação com a Moral. A partir disso, buscaremos reforçar a hipótese de que, em Espinosa, a Ética se difere radicalmente da
Moral e, por essa razão, mostraremos os motivos pelos quais ambas não devem se confundir, pois nascem de impressões
diferentes. Para tanto, faremos um apanhado histórico, evidenciando o modo diferenciado, usado por Espinosa, de caracterizar
Deus, procurando entender, pela orientação de Deleuze, quais reflexos seus pensamentos tiveram na sociedade, e sob quais
acusações o filósofo foi excomungado. A aproximação de sua forma de perceber e pensar o corpo de uma maneira tão importante
quanto à alma, assim como dos argumentos de que a consciência é uma ilusão, nos transporta para a sua estrutura lógica da Ética, e
estabelece uma ligação íntima com o pensamento de Espinosa de que tudo está conectado a tudo. O mundo nos premia com
diversas oportunidades de relações, e nossa alegria ou tristeza em relação a elas tem um papel fundamental para compreender a
Ética, sobretudo em sua diferença com a Moral, a qual é sustentada por nossas ilusões que não nos permitem enxergar os eventos
em seu ineditismo, causa de um perigoso conforto e subordinação que nos leva a acreditar em leis que não entendemos, mas que
juramos conhecer. Em vista disso, por fim, afirmaremos que a compreensão da Ética, para Baruch Espinosa, exige uma sequência
de relações entre conceitos que precisam ser estudados, com uma meditação gradual, a fim de despertar a reflexão sobre nossos
costumes e leis, além de valorizar a nossa relação com o próprio mundo.
Palavras Chave: Ética; Moral; Consciência; Alegria; Tristeza.
Área: Ética
FILOSOFIA COMO INSÔNIA
Pedro Gambim.
A comunicação apresenta considerações em torno da questão o que é filosofia, a partir da entrevista de LEVINAS, intitulada
D'utilité des insomnies.Questionado sobre o que diria a um jovem que lhe pedisse uma definição de filosofia, responde LEVINAS:
“Eu lhe diria que a filosofia permite ao homem se interrogar a respeito do que diz e sobre o que se diz ao pensar. Não se deixar
embalar ou embriagar pelo ritmo das palavras e das generalidades que elas designam, mas abrir-se a unicidadede do único neste
real, ou seja, à unicidade de outrem. (...) Falar verdadeiramente, não como se canta, se despertar, se desiludir, se desfazer de
refrãos. (...) Filosofia como insônia, como novo despertar em meio a evidências que já marcam o despertar, mas que são, ainda ou
sempre, sonhos.” Questionado se “é importante ter insônias”, responde:”O despertar, creio eu, é o próprio do homem. Busca, pelo
desperto, de um novo desembriagamento, mais profundo, filosófico. É precisamente o reencontro com o outro homem que nos
chama a despertar, mas também os textos que saíram das conversas entre Sócrates e seu interrlocuutores.”Filosofia como insônia!
Modo inusitado de se falar da atividade filosófica. No entanto, é um modo de pensar o que a atividade filosófica exige daquele
que, genuinamente, a ela se dedica. Resposta do filósofo que, como afirma Maurice BLANCHOT, recoloca em questão “nossos
modos de pensar e até mesmo a nossa reverência fácíl pela ontologia”, nos convocando a “tornar-nos responsáveis pelo que ela,
essencialmmente, é”, apresentando “um novo ponto de partida e um salto que ela e nós mesmos somos exortados a realizar”.
LEVINAS fala do que a atividade filosófica – o filosofar – possibilita. Não apresnta uma definição de fillosofia. Fala da filosofia
como insônia para descrever uma nova modalidade e um novo ponto de partida necessário ao filosofar que não o da “reverência
fácil pela ontologia”, mas o da “grande experiência”, ou do “grande acontecimento” do abrir-se a unicidade de Outrem.
Relacionada ao filosofar, esta noção compreende dois significados. Ambos designam uma “vigilância situada aquém da
consciência”. CALIN & SEBBAH, no Le vocabulaire de Lévinas, distinguem a significação ontológica, como vigilância do ser
anônimo - “um vigiar que nem é consciência de si, nem atenção ao objeto”, da significação ética, como despertar do eu a Outrem.
Na leitura ontológica, a insônia é descrita como o fenômeno de uma vigília sem objetivo e sem objeto, como “um despertar para o
nada”. Em sua significação ética, é o “próprio despertar do eu para Outrem, como “despertar-se sem cessar” de sua identidade e de
sua presença a si” na impossibilidade de “não estar atento a Outrem”. O eu como responsável por Outrem, “eu sem eu”,
responsável por “aquele a quem se tem de responder sem dele esperar resposta”, pois “o Outro não responde”. Em síntese, é em
sua significância ética, como despertar do eu ao Bem além do ser, ao “outramente que ser”, que se instaura a significância da
atividade filosófica. Filosofar! É preciso!
Palavras Chave: Insônia; Despertar; Outrem.
FILOSOFIA E CINEMA: A ÉTICA SOCRÁTICA VISTA POR MEIO DA ANÁLISE DE FILMES
Luiza Fernanda Kozaen Souza.
Este artigo é resultado de pesquisas vinculadas ao projeto de extensão Filosofia e Cinema no IF, promovido pelo Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. O projeto tem como objetivo o estudo de textos filosóficos e sua exemplificação por
meio de filmes, além da reflexão para escrita dos textos e artigos. Ademais, o projeto pretende levar discussões com base em
conceitos da história da filosofia para áreas de vulnerabilidade social do município de Goioerê. Este artigo busca analisar cenas
específicas de dois filmes sob a luz da questão ética em Sócrates. Os filmes são “O Doador de Memórias” (2014), de Phillip Noyce
(1950) e “Fahrenheit 451”, de François Truffaut (1932-1984). Para tanto, no primeiro momento far-se-á uma breve explanação do
enredo dos filmes, destacando as cenas propícias para o debate com a filosofia de Sócrates. No segundo momento, dar-se-á uma
breve contextualização da ética socrática e destacar-se-á o conceito de areté enquanto conhecimento. Por fim, explorar-se-á a
junção dos enredos com os conceitos filosóficos. À guisa de conclusão, mostrar-se-á como a filosofia está presente rotineiramente
na vida das pessoas, por mais que de maneira sutil, e isso será ressaltado por uma breve discussão da ontologia do cinema feita a
partir de André Bazin (1918-1958). A pretensão é de também discutir a importância da filosofia e do cinema para que se abram
novas possibilidades de observar o mundo cotidiano.
Palavras Chave: O doador de memórias; Fahrenheit 451; Ética Socrática.
Área: Ética
O COMBATE ENTRE ÉTICA E MORAL EM GILLES DELEUZE
Adriana Muniz Dias.
O trabalho a ser apresentado mostrará como Gilles Deleuze lida com a ética e a moral. Para tanto, faremos uma aproximação da
moral com a doença. A moral é doença porque ela põe a vida para servir a um único modo de existência, lhe tira a potência e a
impede de ser guiada por forças que possibilitem a criação de novos modos. Mostrar-se-á que a tendência de uma filosofia
tradicional, do tipo racionalista, colabora com essa moral, pois ao buscar padrões de universalização para os modos de existência,
impede a diferença e com isso, limita o poder de criação, de produção da vida. Contrariamente, apresentaremos uma ética da
experimentação, potencializadora da vida. Diferentemente da moral, ela permite o surgimento de novos modos de existência, abre
possibilidades para criação de modos próprios para produzir subjetivação e com isso permite que também se produza regras
facultativas que poderão guiar o modo de existência desejado. Mostrar-se-á que a ética, como experimentação, torna a vida
produtora de realidades e de diferentes modos de existência, afirmativos da vida, podendo ser pensada como uma saúde.
Palavras Chave: ética; experimentação; combate; moral
O COMPORTAMENTO LINGUISTICO E AS ATITUDES REATIVAS
Cecilia Noemí Rearte Terrosa.
Em Liberdade e ressentimento (1962), Peter Strawson explica como é que atribuímos responsabilidade a um sujeito moral. Desde
a linguagem natural e o senso comum, parte da descrição do que é realmente manter relações interpessoais comuns, desde as mais
íntimas às mais casuais, como participantes de um interesse comum; como membros da mesma família, como colegas; como
amigos; como amantes; como partes fortuitas de uma enorme gama de transações e encontros. O seu modelo explicativo
caracteriza-se pela realização de um giro na perspectiva da abordagem do sujeito moral. Ele considera a valoração moral a partir
das atitudes, sentimento e reações das partes ofendidas ou beneficiadas. Assim, o ressentimento, a gratidão, o perdão, os
sentimentos feridos e a importância que damos às atitudes e intenções que em relação a nós têm as outras pessoas com as
estabelecemos transações recíprocas, são as figuras centrais, a partir das quais Strawson procura dar conta da atribuição de
responsabilidade moral. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é expor a função que, como padrões de comportamento
lingüístico, desempenham as atitudes reativas na sua explicação de como é que realmente realizamos a atribuição moral.
Palavras Chave: Atribuição moral; Comportamento lingüístico; Atitudes reativas; Sujeito moral; Relações interpessoais.
PRIMATAS E FILÓSOFOS: CONVERGÊNCIAS ENTRE ÉTICA E ETOLOGIA
Anna Maria Lorenzoni.
Talvez questões morais não sejam objeto de estudo exclusivo da filosofia. Inspirados em algumas das provocações do
primatologista holandês Frans de Waal, nossa apresentação refletirá sobre o sentido ou pertinência que certas questões da ética
tradicional – compreendida, aqui, como disciplina filosófica – possuem quando comparadas às descobertas de estudos
comportamentais recentes de primatas humanos e não-humanos. Considerando o alerta de John Searle a respeito dos basic facts e
do desafio de conciliarmos alguns dos conhecimentos que possuímos sobre estrutura básica do universo com algumas das
concepções filosóficas consolidadas ao longo de séculos, tentaremos contextualizar os obstáculos práticos e conceituais a serem
superados para uma aproximação entre duas áreas acadêmicas que possuem questões motivadoras semelhantes, mas métodos de
pesquisa tão diversos. Apoiando-nos em uma perspectiva evolucionista, tentaremos justificar esse tipo de abordagem considerando
que nossa espécie não deu saltos evolutivamente qualitativos com relação aos demais grandes símios, de modo que nosso
comportamento refletiria uma continuidade de algo rudimentar que se manifesta, mesmo que de maneira apenas incipiente, em
nossos parentes próximos. Assumir tal postura implicaria reconsiderar o uso, muitas vezes irrefletido, de termos caros ao
vocabulário filosófico, como “livre arbítrio”, “autonomia”, “racionalidade” e “responsabilidade”, e esclarecer algumas noções
básicas sobre seleção natural de modo que tal reconsideração não incinda, como diz de Waal, em uma bad biology.
Palavras Chave: basic facts; evolução; filosofia; moral; natureza.
Área: Ética
RICARDO REIS E O EPICURISMO: UMA APROXIMAÇÃO
Henrique Zanelato.
Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa, é famoso, entre outras coisas, pela criação de heterônimos. Um
heterônimo, diferentemente de um pseudônimo, não é apenas um nome falso usado para esconder a verdadeira identidade de um
escritor, mas trata-se de um escritor fictício, com características e personalidade próprias. O presente trabalho tem a intenção de
tentar uma aproximação entre a poesia de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, com a filosofia da escola epicurista,
principalmente em relação ao agir com vistas à tranquilidade. Considerado o mais clássico de todos os heterônimos pessoanos,
Ricardo Reis aponta para uma sabedoria voltada para o viver tranquilo, buscando a renúncia de certos elementos que,
possivelmente, resultariam em preocupações. Amores, ideais, aspirações: para tudo isso o poeta sugere abstenção. Nessa
perspectiva, cremos ser possível uma leitura de sua poesia à luz de uma interpretação da filosofia de Epicuro, visto que toda a sua
escola professou, como meio para o alcance da tranquilidade (ataraxia) e da felicidade (eudaimonia), uma doutrina de renúncia a
qualquer coisa que não fosse estritamente necessária à vida. Além disso, o posicionamento de ambos frente ao inevitável é
semelhante. A temor da morte, por exemplo, tema amplamente discutido pelas filosofias antigas, ocupa também os versos de Reis.
Como Epicuro e seus seguidores, o heterônimo ensina que qualquer esforço e preocupação com a morte se faz inútil, pelo fato de
que nem os deuses podem nos livrar de semelhante destino.
Palavras Chave: Fernando Pessoa; Ricardo Reis; Epicurismo; Eudaimonia
SARTRE: ENGAJAMENTO E LIBERDADE
Vanessa Furtado Fontana.
O presente trabalho fala da obra literária As moscas para destacar os conceitos de engajamento, ma-fé e projeto na perspectiva
histórica ao qual se encontrava o fílósofo. Trata-se do modo como Sartre pensa a história e os acontecimentos da guerra em sua
época. Em termos históricos, trata-se de uma obra de resistência ao nazismo, em especial ao governo da capital da França instalado
em Vicky em 1940 pelo Marechal Philiphe Pétain que introduz a prática totalitária e antissemita de Hitler. A hierarquia da igreja
católica foi o maior sustentáculo do regime de Pétain. Ela exige não a luta concreta, mas o aprendizado com as culpas passadas.
Nesse clima hostil de regime político autoritário somado aos limites morais impostos pela religião, Sartre se vê na missão de tentar
retirar o determinismo da moral, como faz em O existencialismo é um humanismo, e ao mesmo tempo mostrar um caminho moral
que exige a responsabilidade, muito mais que as concepção cristã de culpa e resignação, e mesmo distante da concepção grega de
destino presente no teatro trágico. Esta fase da literatura de Sartre é conhecida como literatura engajada, diferente da literatura de
“A Náusea” de 1938, com o texto As moscas Sartre retoma os acontecimentos históricos a sua volta deixando de lado a
preocupação estética da filosofia do absurdo da existência. Certamente, o existencialismo é a chave de leitura de toda obra
sartreana, mas a busca pela temática da guerra e a posição engajada de Sartre refletem a preocupação do filosófico com o seu
tempo. A situação é o conjunto de condições, barreiras e circunstâncias impostas pelo mundo aos nossos projetos. Diante da guerra
como barreira do projeto, é preciso mostrar que a liberdade não deixou a existência por causa da invasão alemã. Tentar entender o
significado da liberdade em meio a guerra, e como o filosofo entende tal acontecimento é ponto chave das explanações sobre a
obra sartreana referida.
Palavras Chave: Engajamento; situação; projeto, história, liberdade
SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL NA CONTEMPORANEIDADE: POR UMA ÉTICA COM BASE OBJETIVA
Solange de Moraes Dejeanne.
A questão da fundamentação da moral na contemporaneidade se apresenta como alternativa a quem se recusa a aceitar o niilismo
moral, isto é, a negação da existência de todo valor moral objetivo. Nesse sentido, o próprio relativismo cultural, entre outros, se
apresenta na atualidade como um desafio para a Ética, especialmente para a Ética filosófica. Pois, parece ser o caso que o
relativismo cultural tem conduzido pessoas de todos os níveis de formação ao subjetivismo em ética, e, por fim, às posições céticas
com relação à possibilidade de se reconhecer qualquer valor ou normas morais objetivamente válidas. Ora, se é difícil refutar o
subjetivismo ético, especialmente em questões muito pessoais como, por exemplo, no caso do aborto, ou da opção sexual por
pessoas do mesmo sexo, é forçoso reconhecer que o âmbito da moral não se restringe a tais questões. Há muitos casos em que
ninguém poderá sustentar, pelo menos não de modo coerente, uma posição niilista, isto é, negar “a existência do certo e do errado”
em termos de ação. Assim, à Ética filosófica compete, primeiramente, circunscrever o âmbito dos fenômenos morais, e, em
Área: Ética
seguida, ocupar-se com a justificação de normas morais objetivamente válidas. Em vista dessas considerações, trata-se nesse
trabalho de apresentar como alternativa ao subjetivismo e ceticismo moral, uma vez mais, o pensamento ético dos representantes
da Ética do Discurso, notadamente de Jürgen Habermas. Contudo, não se trata propriamente da parte construtiva das considerações
de Habermas, ou seja, de sua proposta de fundamentação de uma ética do discurso. O trabalho atém-se às suas considerações
propedêuticas à questão, àquelas (considerações) nas quais o filósofo defende a abordagem cognitivista da ética. Não obstante,
desde já deve ser clara à adesão à perspectiva cognitivista-universalista do autor. À pergunta: por que ainda insistir em uma ética
universalista? a resposta seria a seguinte: a ética universalista é entendida aqui como uma perspectiva crítica que justamente nos
permite “ir além” das morais positivas, superando todo tipo de particularismo. Em tempos de globalização, a qual produz certa
homogeneização na sociedade, mas, provoca, ao mesmo tempo, fortes resistências de grupos em defesa de sua própria identidade
cultural, nada mais urgente que um “lugar” para mediar as relações entre os indivíduos de diferentes culturas, com diferentes
ethos. Ora, esse lugar só pode ser um ponto de vista fora de qualquer moral positiva. Entende-se assim que é da própria
necessidade de afirmação das morais positivas que surge a ideia de uma moral crítica, universalista, na medida em que só por uma
perspectiva ética universalista é possível a superação dos particularismos morais, que não podem por si mesmos oferecer um
critério para resolver conflitos e dilemas morais do cotidiano.
Palavras Chave: Relativismo Cultural; Subjetivismo Ético; Ética Cognitivista; Ética Universalista; Ação Comunicativa.
Área: Filosofia da Educação/Ensino de Filosofia
A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA POLÍTICA DO JOVEM: UMA RELEITURA DO MITO DA CAVERNA DE
PLATÃO
Paulo Henrique Gonçalves.
O presente trabalho com o título: A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA POLÍTICA DO JOVEM: UMA RELEITURA DO
MITO DA CAVERNA DE PLATÃO é uma exigência do cumprimento das atividades do Programa de Desenvolvimento
Educacional - PDE/2016 e será executado no ano de 2017 através do Projeto de Intervenção Pedagógica. Este Projeto será
realizado com os alunos do 3º ano da Formação de Docentes do Colégio Barão do Rio Branco de Foz do Iguaçu, sobre o Conteúdo
Estruturante: Filosofia Política, mais precisamente o estudo da Filosofia Política de Platão através da utilização do texto clássico
“Alegoria da Caverna”, apresentado no Livro VII da “A República” de Platão. Observa-se atualmente, um desinteresse e
descompromisso do aluno quanto as questões políticas que o afetam. Espera-se contribuir para a formação da consciência política
e estimular a participação enquanto prática social transformadora, desenvolvendo o espírito crítico e a reflexão filosófica acerca da
relação do Mito da Caverna com as questões históricas da vida cotidiana. Possibilitando a produção de materiais audiovisuais que
apresentam uma releitura do Mito da Caverna a partir da sua realidade.
Palavras Chave: Filosofia, Mito da Caverna, Platão, Política.
FOUCAULT E O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO
DANIEL SALÉSIO VANDRESEN.
O objetivo dessa apresentação é tematizar o ensino de filosofia no Ensino Médio Técnico, tendo como questão norteadora: o que
se deve fazer no ensino de filosofia atualmente? A partir do referencial teórico de Michel Foucault, problematizando por meio dos
conceitos da ontologia do presente e da estética da existência, não se pretende investigar o ensino de filosofia pelo seu método ou
seu conteúdo, mas como atitude crítica. Entende-se atitude crítica como um modo de relação com a atualidade em que o indivíduo,
por meio de uma escolha voluntária, assume como uma tarefa de resistência que se produz em cada maneira de pensar, sentir e
agir. Essa tarefa para Foucault, por um lado, deve ser entendida resgatando o que os gregos chamavam de êthos, um modo de ser
em que o indivíduo através da prática do cuidado de si (Epimeleia heautou) conduz e transforma a sua vida para melhor enfrentar
os acontecimentos do cotidiano; por outro lado, essa tarefa assume com Kant na modernidade, a partir da questão da Aufklärung,
como uma crítica constante sobre nós mesmos. Foucault denomina essa tarefa como uma ontologia histórica de nós mesmos, que
se realiza através de um êthos filosófico que promove uma crítica do que dizemos, pensamos e fazemos. No entanto, essa crítica
deve ser entendida não somente como diagnóstico do que somos, mas como transformação do que podemos ser. A filosofia é para
Foucault um trabalho sobre si mesmo, para tornar-se diferente do que se é, espaço de liberdade que se realiza por meio do êthos.
Deste modo, a filosofia deve proporcionar que essas duas tarefas, ontologia histórica de nós mesmos e a criação de modos de
existência diversos, não como duas atitudes pensadas independentes, mas que se realizam ao mesmo tempo como uma criação
livre de si mesmo. Nesse exercício, o conceito de experiência funciona como articulador de uma prática de liberdade, que por meio
de experiências singulares confronta o prazer fugidio das circunstâncias e possibilita vivências inusitadas. Sendo que, um modo de
pensar a diferenciação ética é compreendendo a vida como uma existência errante. Para Foucault, o erro não deve ser considerado
como um atraso, mas como uma dimensão peculiar da vida. A partir desse referencial teórico, o ensino de filosofia no Ensino
Médio Técnico, por meio da atitude crítica se realiza como o lugar de duas tarefas: por um lado, realiza um diagnóstico da
atualidade (Aufklärung) problematizando o saber objetivo, que se manifesta principalmente no saber científico e tecnológico e, por
outro, questionando o modo como fazemos a experiência de nós mesmos como forma de resistência ao assujeitamento da vida
promovido pelo empobrecimento da experiência moderna. Enfim, trata-se de fazer do ensino de filosofia como lugar de conflito
entre duas interpretações da técnica: uma objetivista, que funciona como um poder biotécnico, ou seja, um poder que controla a
vida por procedimentos técnicos; e a outra, uma técnica autêntica, como fazer humano que realiza uma arte da existência, que
Foucault chama de tékhne toû bíou (técnica da vida).
Palavras Chave: Ensino de filosofia; Experiência; Cuidado de si
O QUE SE TRABALHA SOBRE SI MESMO QUANDO SE ESTÁ A FILOSOFAR?
Jose Carlos Mendonca.
Tomando por base alguns elementos conceituais desenvolvidos na pesquisa do doutorado, bem como servindo-me das referências
da própria experiência do ensino de filosofia quando do ofício de professor, o que proponho com este trabalho é trazer para o
centro da discussão sobre o ensino de filosofia um aspecto, tão caro à prática escolar hodierna, que é ressaltado por Wittgenstein
Área: Filosofia da Educação/Ensino de Filosofia
acerca da filosofia em seus escritos - qual seja, a "filosofia é uma atividade de trabalho sobre si mesmo" - o qual se faz
fundamental para a compreensão da dimensão formativa de qualquer prática que se proponha educativa, principalmente quando a
atividade em questão é a filosófica. Contudo, não se atendo à problemática wittgensteiniana em si, tomo sua proposição à luz da
problemática elucidada por Michel Foucault e Pierre Hadot, cuja essência consiste em condicionar o sentido formativo da filosofia
à função ética. Esse movimento sobre o sentido do filosofar torna-se significativo porque à filosofia é dada uma função para além
de um mero ato cognitivo. Ao contrário, 'fundada' em uma função ética a natureza educativa da atividade faz remeter o "ensino de
filosofia" ao desafio de pensar-se como uma prática vinculada à "arte de (aprender a) viver". É em razão dessa inversão de valores
que se torna relevante a problemática em questão, a qual pode ser traduzida pela seguinte questão: se a filosofia é atividade de
"trabalho sobre si mesmo", o que é que se trabalha sobre si quando se está a filosofar? De modo pontual, o que busco é
problematizar a atividade filosófica do ensino de filosofia a partir deste desafio ético lançado ao fazer filosófico tanto pela
proposta filosófica de Foucault quanto pela wittgensteiniana, os quais trazem à tona um sentido outro ao modo como a filosofia
deva se caracterizar principalmente quando vinculada ao papel educativo - modo em que se apresenta como que, no mínimo, um
“dispositivo” potencializador de movimentos éticos do “sujeito” sobre si mesmo -, cujo processo filosófico se mostra não como
uma proposta epistemológica, mas, antes, vincula-se a uma experiência do "sujeito-que-vive" sobre a própria condição moral, a
este movimento que diz respeito ao como "tal sujeito" se constitui e mantém relação (de si) para consigo e com outrem quando de
sua constituição nos atos de vida. Pautado então por tal ‘giro formativo’, o que intento é tomar o próprio Wittgenstein como
referência para mostrar como, doravante, a atividade filosófica assume esse caráter ético, para o qual fim o sentido do ensino não
se restringe ao trabalho que visa mover o 'sujeito' ao redor do discursivo estritamente conceitual; mas, ao contrário, acaba por
atrelar-se à maneira de viver que se põe em questão, de modo a denotar uma prática ético-pedagógica que, caracterizada como
“exercício” e “maneira de viver que cuida”, se prenda à ação vinculada às necessidades da “primeira pessoa” cuja essência não é
outra que operar a transformação de si, tal como ocorre no contexto da prática de si enfatizada por Foucault como "ética da prática
de si como prática de liberdade".
Palavras Chave: Filosofia; Ensino de filosofia; Experiência-formativa
ROUSSEAU, MUITO ALÉM DO CONTRATO
Mirela Teresinha Bandeira Silva Moraes.
Do Contrato Social e Emílio ou da Educação são duas das obras mais famosas de Jean-Jacques Rousseau. A pesquisa cotejante das
páginas de ambas associada à leitura de outros textos do autor revela a singularidade e coerência de seu pensamento bem como a
estreita ligação entre os conceitos de educação, conhecimento e cidadania. Para além destes dois clássicos, outras obras abordam
questões que fazem pensar que para Rousseau a educação é um projeto que se dá como um longo processo envolvendo concepções
políticas, éticas e estéticas. Posteriormente, o reflexo deste processo se faz sentir na sociedade. A preocupação com a educação,
desde cedo, ocupa lugar privilegiado na filosofia rousseaniana. No Discurso de 1749 já possível perceber a inquietação do autor
com temas relativos ao ensino e sua repercussão social. A crítica ao conhecimento supérfluo e superficial é uma constante em toda
a obra assinada por Rousseau. Seus textos, sobre diversos assuntos, são independentes uns em relação aos outros, mas mostram
certa correlação quando o assunto é o vínculo entre educação e sociedade. Para ele há uma conexão entre educação, sociedade e
conhecimento que afeta diretamente o desempenho do papel do cidadão. Ao mesmo tempo em que está atento ao que acontece em
sua época, este genebrino sabe que tem um legado a deixar para o futuro, talvez por isso, tantos anos depois, seu pensamento
continua atual e relevante para o homem do século XXI.
Palavras Chave: Rousseau; educação; Emílio; cidadania.
TEETETO: A MAIÊUTICA ALÉM DA ARTE
Amaury Antonio Meller Filho; Jose Francisco de Assis Dias.
A obra Teeteto de Platão (428/427-348/347 a.C) foi escrita quando o mesmo tinha aproximadamente 60 anos, numa fase
considerada de maturidade e trata sobre a teoria do conhecimento. Em Teeteto, Platão descreve a maiêutica como o parto das
ideias, através da investigação. Para que se tenha o resultado esperado pela sua arte, Platão descreve na obra, diversas
considerações importantes, necessárias para a busca do conhecimento, tais como: predicados necessários para o aluno, predicados
necessários para o professor, ambiente propício de aprendizagem e a técnica do aprendizado. É possível identificar todas essas
questões no processo de ensino-aprendizagem contemporâneo. Inicialmente, os predicados necessários para que o aluno tenha
Área: Filosofia da Educação/Ensino de Filosofia
aprendizagem: em sua obra, Platão exalta as condições favoráveis que Teeteto tem para a busca do conhecimento, tais como:
facilidade de aprendizagem, entendimento rápido, valentia, vivacidade, entendimento rápido, boa memória, sem acesso de cólera,
segurança e doçura. Demonstrando que o aluno tem que se preparar para que consiga aprofundar sua investigação, a fim de obter o
verdadeiro conhecimento; algo que fique registrado em sua alma, não algo superficial. Na obra, Platão destaca os predicados
importantes para que o professor consiga partejar o conhecimento, que são: humildade para estimular a participação do aprendiz,
profissionalismo, conhecimento de seus alunos, ter postura crítica a fim de direcionar os alunos em prol da aprendizagem
verdadeira, ter compromisso com a verdade, conhecer seu papel no processo de aprendizagem e ter paixão pela profissão. O
ambiente também tem papel fundamental na busca do conhecimento, onde é necessário que o mesmo não iniba a exposição do
aluno e professor, que seja aberto à crítica e no estímulo da autonomia, que seja propício para questionamentos e dúvidas, que seja
um ambiente amigo entre aluno e professor, proporcionando a sinergia necessária para a busca do conhecimento. E para que a
maiêutica aconteça é necessária uma investigação profunda e não superficial, comparada às dores do parto, algo que crie angústia
por parte do aluno, em busca das soluções, que realmente proporcione uma mudança interna e não superficial. É necessário a
confiança do professor no aluno e que o mesmo observe o conhecimento de vários ângulos sem imposições. A prática é
fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, buscando dar a mesma oportunidade a todos, dando maior atenção aos mais
fracos. Ter foco na aprendizagem e contextualizando o conteúdo, buscando a perfeição e não a quantidade. Conhecer o contexto e
não somente as partes. Essas questões apresentadas por Platão na obra Teeteto são contemporâneas a partir do momento que fazem
parte das discussões atuais por parte dos pensadores da educação, que buscam melhorias no ensino-aprendizagem e seu estudo se
torna necessário para todos aqueles que buscam compreender a teoria do conhecimento.
Palavras Chave: Teeteto; Conhecimento; Aprendizagem
Área: Filosofia Política
A CONCEPÇÃO DE NATUREZA PARA MARCUSE
Cleberson Odair Leonhardt.
Entre as investigações do filósofo frankfurtiano, uma frase que nos instiga a reflexão trata da natureza como potencial para a
mudança, e mudança qualitativa, conforme Marcuse insiste em enfatizar. Na obra “Contra Revolução e Revolta” ele afirma que a
natureza espera a revolução. Aspira a mudança de nossa sociedade e de nossa espécie, aspira uma evolução qualitativa. Entretanto,
essa proposição não nos pode estagnar como a “teleologia” da natureza político-social do homem pensado por Kant em “Ideia de
uma história universal com um propósito cosmopolita”. Não caminhamos inexoravelmente à um propósito político universal
qualitativamente melhorado. Pelo menos é o que parece gritar em nossos ouvidos o contexto contemporâneo de guerras, ameaças
bélicas estratosféricas, exploração da natureza e do homem (que também é natureza). Se a natureza está ameaçada de permanecer
como a conhecemos, ela também aponta saídas e pode ser aliada no processo de mudança qualitativa, ela também anseia por esta
mudança. A indagação pertinente então é como “explorar” mais este potencial da natureza e de como as ideias de Marcuse podem
ser vieses importantes para estas respostas. Marcuse afirmou insistentemente na relação da natureza com o processo
revolucionário, várias de suas obras abordam essa relação, inclusive em Eros e Civilização, pois trata-se da mais pura natureza
intrínseca humana que é alvo de análise, mas também de debate com o psicanalista Freud. Em Contra revolução e Revolta dedica o
segundo capítulo ao papel da natureza na revolução ao tratar da história humana e de sua relação com a natureza e de como com o
iluminismo e com o culto a racionalidade essa relação passou a ser visualizada exclusivamente como expropriação da natureza
externa para uso humano e domínio da razão sobre a natureza interna para superação instintiva. Dentre outros temas, o filósofo
também se ocupou em pensar o conjunto social contemporâneo. Para tanto, produziu outras obras onde aponta para os potenciais
grupos de negação capazes de iniciarem processos de mudança. As obras “Ideologia da sociedade industrial” e “Um ensaio para a
libertação” concentram seus esforços em apontar os potenciais dessas mudanças qualitativas, que necessariamente envolvem a
mudança com que o ser humano se relaciona com a natureza interna e externa. E sobretudo em sua obra mais conhecida “Eros e
civilização” oferece uma alternativa para a interpretação e problematização das relações psíquicas (natureza interna) para a
mudança social, na medida em que as categorias políticas estão também para a lógica de uma “psicanálise materialista”.
Acreditamos que tratar dessa concepção política da natureza permite uma interpretação singular do panorama de mudança
humano-social qualitativa. Propor a noção da Natureza como potencial para a mudança está em consonância com a concepção
filosófica de Marcuse e dos pensadores da Escola de Frankfurt e com a própria relação que eles propõem entre teoria crítica e a
realidade. A relação do homem com a natureza, na medida em que produz e controla seu sistema social hegemônico, está também
produzindo sua existência. É nesse sentido que achamos justificável a tentativa de traçar novas relações homem-natureza.
Palavras Chave: Natureza; Mudança Qualitativa; Teoria crítica.
A DEMOCRACIA COMO ORIGEM DA TIRANIA
Bernardo Alfredo Mayta Sakamoto.
Pretendemos ressaltar como Platão na República, no processo da decomposição da polis justa, expõe a forma tirânica surgindo do
governo democrático. Platão apontava que a democracia mostrava-se perigosa quando condenou Sócrates, o pensador que
interrogava procurando certezas. No livro oitavo da República descreve-se o governo da democracia, que em sua fase tardia iguala
os cidadãos com a mais completa liberdade. Aqui a inclusão é vigente em sua máxima expressão e quase não existem diferenças
entre os homens, todos possuem direitos até os animais, é a fase da anarquia. Nestas condições de completa liberdade, igualdade e
direitos dos cidadãos surge o governo tirânico. Os cidadãos são manipulados por alguns homens injustos que não visam o bem
comum, mas que se interessam pelo próprio ganho, mentindo e sendo capazes de utilizar todo tipo de violência para governar.
Palavras Chave: Filosofia política; formas de governo; Platão
A DESIGUALDADE SOCIAL EM ROUSSEAU E MARX
Gilmar Derengoski.
Ao abordarmos o tema desigualdade social é evidente que tal fator tem relação direta com questões relacionadas ao poder – a lei
do mais forte. Historicamente destacamos a desigualdade como oriunda das capacidades físicas e intelectuais dos indivíduos que
ao desenvolverem-se em determinado contexto acabavam por se sobressair perante aos outros, seja na caça, nas relações sexuais e
até mesmo no controle dos demais, porém, conforme a humanidade foi se desenvolvendo, principalmente em questões mercantis,
as formas de desigualdades ganharam novos contornos, muito mais profundos e contundentes tendo seu ápice na consolidação do
Área: Filosofia Política
sistema de produção capitalista. Os filósofos Jean-Jacques Rousseau e Karl Marx proporcionaram em suas obras contribuições
significativas para que fosse possível compreendermos adequadamente as origens e a consolidação da desigualdade social
enquanto fenômeno social. Para Rousseau a desigualdade social é oriunda de duas vertentes: física ou natural como apresentado
em sua obra “Discursos sobre a origem e os fundamentos da desigualdade social entre os homens”, a física diz respeito a questões
do próprio corpo como saúde, força e idade, já a natural (moral ou política) apresenta-se como uma espécie de convenção
autorizada e consentida pela maioria das pessoas, como se a forma com que a sociedade está estruturada fosse natural e não pode
ser mudada. Já para Marx a desigualdade realmente predominante tem relação com a divisão de classes, divisão essa que mantem a
riqueza nas mãos de poucos, possibilitando o controle da grande maioria dos indivíduos que possui apenas a sua força de trabalho
como meio de subsistência, tornando a desigualdade um processo cíclico e constante. A partir disso, objetivamos neste trabalho
analisar detalhadamente os conceitos de desigualdade social em cada autor, buscando evidenciar se existe alguma relação entre
eles, analisaremos também o grau de relevância entre esses conceitos, pois sabemos que as análises realizadas pelos autores são
distintas, desenvolvidas em cenários diferentes, possibilitando assim uma definição mais clara do termo desigualdade social.
Palavras Chave: Desigualdade, social, conceito.
A DESOBEDIÊNCIA CIVIL: “UMA LIBERDADE PERIGOSA A UMA SERVIDÃO PACÍFICA” NO SOCIUS
CAPITALISTA
Paulo Roberto Schneider.
A G. Deleuze e F. Guattari e a pergunta “como haver entre as pessoas um laço revolucionário que mobilize ...o desejo, sem que
deixe encerrá-lo em estruturas codificadas ou axiomatizadas...?” (2010), lhes responderia: a desobediência civil. Essa é uma
“forma revolucionária” ou modo que possa romper com as axiomáticas da ordem no capitalismo e que mantém a passagem de
fluxos descodificados, positivos e revolucionários sem fazer reterritorialização/recodificação. A axiomática do Estado é contestada
pela desobediência, levando a um processo amiúde de desterritorialização dos códigos pelos fluxos, especialmente porque o que se
pretende é a modificação na ordenação que se coloca. M. Gandhi (1869-1948 em suas campanhas de 1930, seguido por M.
McLuther King Jr. (1929-1968) no movimento dos direitos civis norte-americanos na década de 1960, são dois exemplos clássicos
de desobediência civil que podem ser considerados fluxos dentre os tantos que o socius capitalista tentará organizar depois de
relevantes efeitos no seu interior. Destaco um caso recente que se aproxima da categoria (que assim chamamos) “ataque ao
capitalismo financeiro”: o ataque operado por Eric Durán às instituições financeiras, na Espanha, em 2008. No caso Durán e suas
ações de enfrentamento ao capital financeiro, a desobediência civil tem características de um agenciamento coletivo e, no tecido
social, esse fluxo foi estancado por dois motivos principais: primeiro, denunciar o sistema financeiro como insustentável e,
segundo, que é possível a desobediência, a coragem, de modo que forme um agenciamento coletivo financeiro como um modus de
resistência que afronta o capitalismo financeiro.
Palavras Chave: Axiomatização. Capitalismo. Desobediência Civil.
A IMPORTÂNCIA DO CONFLITO NA POLÍTICA DE MAQUIAVEL E DE RANCIÈRE
Valmir Gonçalez dos Santos.
O presente trabalho tem o intuito de analisar a importância do conflito nas teorias políticas de dois grandes filósofos. O primeiro
um dos grandes pensadores, talvez o primeiro dos modernos, que modifica o pensar político tradicional apresentado até ali,
Maquiavel. Suas principais obras trabalhadas aqui serão O Príncipe e Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. A partir
destas, poder-se-á perceber a importância do conflito para a edificação de uma república. O segundo, um filósofo contemporâneo,
ainda marginal nas leituras acadêmicas, Rancière. As principais obras de Rancière analisadas aqui serão O Desentendimento e O
Dissenso. Nosso objetivo aqui é o de pensar a importância do conflito para o desenvolvimento da política; Mostrar que ele possui
um papel importantíssimo tanto na política de Maquiavel quanto na política de Rancière, apesar de cada um tratar conforme suas
características. Começaremos a analisar o papel que o conflito tem na política de Maquiavel, tal como discorrer sobre os seus
desdobramentos. Após isso analisar-se-á o papel do conflito na política de Rancière. Tomaremos de inicio a interpretação de uma
mesma passagem e analisaremos sob a ótica dos dois filósofos. O exemplo do Monte Aventino.
Palavras Chave: Conflito; Maquiavel; Rancière.
Área: Filosofia Política
A PROBLEMÁTICA DA EMANCIPAÇÃO CAMPESINA NO ETHOS DO SEGURADO ESPECIAL, A PARTIR DA
FILOSOFIA DE JÜRGEN HABERMAS
Edmar Adolpho Kliemann; Kátia Rocha Salomão.
O segurado especial, definido pelo direito brasileiro como o pequeno agricultor que trabalha em regime de economia familiar, traz
em seu bojo uma categoria laboral e cultural muito particular dentro do Brasil, o camponês. Tal categoria, entretanto, vem sendo
ameaçada de extinção devido à violência do monopólio latifundiário na economia. Buscar-se-á, neste sucinto artigo, desenvolver a
analise da categoria do assegurado especial, com base nos estudos de Jürgen Habermas na seara da emancipação social. Por isso, a
especulação apresentada irá explorar fundamentos na teoria de Habermas, a respeito dessa situação de crise da vida rural e da
sobrevivência da cultura campesina: a mesma vem sendo esfacelada pela colonização a razão instrumental no mundo da vida desse
campesino. Ele, o campesino, não consegue ser autogerador de sua autonomia diante da fragmentação de seu discurso de luta, que
não existe mais - por isso a necessidade de nossas bases jurídicas e filosóficas. Seu discurso, que em outrora era legítimo, parece
perder força diante da consequente colonização sistêmica, isto é, da agroindústria na medida em que ganha força, monopoliza
estrategicamente o sistema. Nesse sentido, as garantias constitucionais tornam-se apenas precárias alternativas paliativas, ou ainda,
surgem como o engodo, como a pílula de farinha para tais enfermos.
Palavras Chave: Segurado Especial; Jürgen Habermas; Emancipação Social.
AS COMUNIDADES PRIMITIVAS, A LEGITIMAÇÃO DAS DESIGUALDADES NO PACTO INJUSTO E O PERCURSO
AO PACTO SOCIAL DE ROUSSEAU
Giovani Luiz Zimmermann Junior.
Na passagem do estado de isolamento para o estado de convivência entre os homens, causado por catástrofes naturais aconteceria
uma mudança na ordem das coisas e no próprio indivíduo. Essa nova “maneira de viver” implicaria em novas formas de criação,
legitimação e extensão dos laços sociais. Essas primeiras associações humanas foram uma resposta a alguma necessidade ou
interesse comum, tais como: segurança ou abrigo. No interior das primeiras associações humanas, o bem e o mal passaram a
constituir-se como uma demanda social cotidiana e problemática.Para o autor a degeneração do homem aconteceu quando pelo
hábito de fazerem comparações, os homens gradativamente adquiriram a ideia de consideração entre eles movidos pela vaidade, a
bondade desinteressada que havia no estado de natureza, passou a desaparecer gradativamente na sociedade nascente. Abafando a
piedade natural e desprezando a voz interior da consciência, quase apagada da “justiça”, tornaram-se avarentos, ambiciosos, cruéis
e maus. O chamado “direito do mais forte” inicia conflitos generalizados, combates contínuos e assassinatos. Foi então que os
ricos propuseram uma falsa paz, a manutenção da vida ao mais fraco através de seus enganos maliciosos, dando ao mais fraco uma
falsa liberdade, baseada no pacto injusto, que beneficia a proteção das propriedades dos que a possuem, e a vida e a segurança
daqueles que nada tem. Tudo isso funciona como ponto de partida para uma suposição de Rousseau em seus raciocínios
hipotéticos, isto é, como um problema inicial que deverá ser solucionado. Um poder precisa ser criado para que a situação se
estabilize e todos vivam tranquilamente. É necessário que esse poder seja verdadeiramente legítimo, garanta a felicidade e a
liberdade do homem, atributos de sua natureza que ficaram comprometidos na vida das sociedades primitivas. O primeiro passo
para a reconstrução da sociedade é que cada um aliene sua força e seu poder individuais à sociedade como um todo. O pacto social
rousseauniano supõe um processo que garante a segurança do indivíduo ao privilegiar a comunidade. Uma sociedade política,
regida por leis e fundada em um acordo universal e invariável, que beneficia a todos igualmente, organizado com base em deveres
mútuos, privilegiando a vontade coletiva. Por meio de uma modificação na sociedade, o homem pode aproximar-se daquilo que
ele era, no estado original: feliz, simples, livre, igual com seus semelhantes e autônomo.
Palavras Chave: Rousseau; Pacto Social; Contrato; Propriedade Privada; Política; Desigualdades
CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO, PATOLOGIA DO PODER E BIOPOLÍTICA
José Eduardo Pimentel Filho.
Esta proposta surgiu da interseção de dois textos. O artigo: "O sujeito e o poder" (1982) de Michel Foucault e o livro-relato de
Primo Levi: "É isto um homem?" (1947). No artigo de Foucault encontramos um alerta contra aquilo que ele intitulou de
"patologias do poder", que seriam as práticas e os acontecimentos nos quais o poder se tornaria excessivo sobre os sujeitos;
Foucault exemplifica tais patologias como o fascismo, nazismo e stalinismo. Já Primo Levi (judeu italiano), em seu livro, relata a
experiência de ter sobrevivido aos campos de concentração nazistas. Esses dois textos já serviriam, separadamente, como alertas
aos riscos da história se repetir nessas tragédias fascistas. Porém, conjuntamente, eles alertam para um risco talvez ainda mais
Área: Filosofia Política
presente e silencioso que a simples repetição da tragédia (aliás, mais presente por ser mais silencioso). Eles revelam uma estratégia
de governo (micropatológico) que diluiria o regime do campo de concentração como modelo para instituições sociais,
independentemente da sociedade ser explicitamente fascista ou não. Em outras palavras, quer dizer que devemos estar atentos pois
o nazismo jamais se repetirá com o nome de "nazismo". Pois será o modelo ou o regime, e não a bandeira, aquilo que nos
informará a patologia do poder. Para ilustrar o que dizemos, notemos um capítulo em especial do "É isto um homem", aquele no
qual Primo Levi relata sua ida à enfermaria do campo. Deveria ser, no mínimo, incomodo à compreensão humana conceber que a
poucos quilómetros das câmaras de gás os nazistas mantinham uma enfermaria para os "internos". Num primeiro momento Primo
Levi chega a especular que talvez aquele lugar exista para os presos que, assim como ele, são "os judeus economicamente úteis".
Mas essa perspectiva é rapidamente descartada, e em sua falta de resposta, Levi imagina que tal enfermaria seja apenas mais uma
dessas coisas que os SS fizeram "para rir dos judeus". Mas onde o escritor italiano não encontra resposta, o filósofo francês parece
nos auxiliar; os nazistas não eram monstros irracionais, eles replicaram nos campos um microcosmos social, com valores sociais.
Isto é, mesmo que previamente todos ali soubessem que estariam condenados a morte, ainda assim, a eles era imposto um regime
cerrado de higiene, de disciplina, de trabalho (mais como fator moral, que como fator econômico). Os nazistas que matavam os
judeus em nome de uma "vida [biológica] pura", replicavam nos campos o valor moral da vida. Em uma palavra, é isto que
Foucault chamaria de "biolpolítica". Em nome da "vida" deter o poder de tirar a vida. Esta fórmula parece contraditória, no
entanto, seria a primeira chave para entendermos a contradição que é uma enfermaria no mesmo espaço da câmara de gás. Por fim,
esta apresentação ainda adentrará numa última provocação: até que ponto a pequena enfermaria no campo de concentração não
representa simbolicamente os pequenos campos em nossas "enfermarias" socais (as escolas, prisões, hospitais e outros regimes
concentratórios)? Até que ponto a contradição não está dentro e fora dos muros dos campos?
Palavras Chave: Biopolítica; concentração; campo; poder; patológico.
FIM DO ESTADO: UMA TESE EM EXTINÇÃO?
Mario Cesar de Mello Pinheiro.
A tese da extinção do Estado na sociedade futura é uma ideia que percorre o conjunto da obra de Karl Marx, desde a sua juventude
até os textos da maturidade, seja ele compreendido como um “produto da alienação humana”, seja como um “instrumento de
coerção da classe dominante”.Observa-se que Marx, e também seu colaborador e amigo Friedrich Engels, procura estabelecer uma
relação direta entre a origem do Estado e a sua finalidade, entre a sua gênese e a sua ontologia, entre suas causas e suas funções.
Será que o papel do Estado na sociedade moderna pode ser reduzido à sua gênese histórica? Será que o Estado, no curso de seu
desenvolvimento, não se transformou, deixando de ser, apenas, um instrumento de dominação de classe?Sem pretender discutir a
existência ou não de uma teoria marxista do Estado, este trabalho, sem maiores pretensões, busca questionar o postulado marxista
da extinção do Estado na sociedade sem classes, ainda que sob uma ótica que tem no marxismo sua principal referência.
Palavras Chave: ESTADO - GÊNESE - ONTOLOGIA - CLASSE DOMINANTE - LUTA DE CLASSES - SOCIEDADE
CIVIL - ALIENAÇÃO
FOUCAULT: ANALÍTICA DO PODER E ESTADO
Fabio Batista.
O objetivo da presente comunicação é explicitar a relação entre a analítica do poder e o Estado em Foucault. Analítica que supõe
não “o” poder enquanto uma coisa ou algo que se tem ou não tem, um atributo com um local e uma direção, mas aquilo que deve
ser pensado em seu caráter relacional, que funciona em rede e permeia todo o campo social de forma capilar. Embora essa
perspectiva foucaultiana tenha posto de lado o Estado – ou ao menos diminuindo sua importância no campo da filosofia política-, a
recorrência ao termo é notória: medicina de Estado; estatização do biológico; racismo de Estado; Estado como forma moderna do
poder pastoral; razão de Estado. Desse modo vale perguntar: se Foucault procurou neutralizar a função do Estado quando de suas
investigações sobre disciplina, biopoder, poder pastoral por que por vezes ele reaparece? Isto porque o Estado tomado em sua
complexidade, e não apenas como um universal, pode ter sua importância para as analítica do poder, na medida em que
implementou uma medicina para o seu fortalecimento, ou na medida em que é uma das vias a partir da qual se pôde implementar
técnicas de totalização e individualização. Portanto, perguntar pelo lugar do Estado no pensamento foucaultiano é questionar uma
suposta evidência, que teria nascido, sobretudo a partir de Vigiar e punir - e cursos contemporâneos ao livro - sobre a irrelevância
que ele teria para Foucault. A hipótese é: na trajetória da analítica do poder Foucault procurou pensar i) de que forma as
tecnologias de poder se articulam com o Estado; ii) e ainda de que modo o Estado se apropria delas e as põem a funcionar iii) e
Área: Filosofia Política
que tipo de racionalidade política o sustenta.
Palavras Chave: Analítica do poder; Estado; tecnologias de poder; racionalidade política.
LUKÁCS E A POLÍTICA: INTRODUÇÃO A UM DEBATE CONTEMPORÂNEO
Bruno Gonçalves da Paixão.
A presente proposta de comunicação tem como objetivo discutir qual seria a função social da política na obra tardia do filósofo
húngaro György Lukács. Tal categoria, que comparece de forma mais sistematizada nos capítulos da Ideologia e da Alienação, é
interpretada predominantemente pelos comentadores de Lukács como uma relação social universal, no sentido de possuir inerência
ao ser social, ou seja, de se fazer presente em todas as sociabilidades humanas. A partir desse entendimento a categoria da política
em Lukács não diferiria em nada em relação a milenar máxima aristotélica do zoon politikon, mas em contrapartida criaria no
mínimo uma tensão com a tese marxiana do fim da política. Nesse sentido a hipótese levantada nesse projeto vai propor um
entendimento diametralmente oposto ao apresentado acima. Será defendida a tese de que, na obra de maturidade de Lukács, a
universalidade da política diz respeito à extensão e profundidade do alcance da práxis política; que essa, diferentemente da
universalidade da linguagem, não é espontânea e nem perene. Para isso pretende-se mostrar que a política está vinculada à
ideologia estrita, que por sua vez surge a partir do aparecimento da sociedade de classes, ganhando assim uma função social
alienante, a força social usurpada da sociedade em forma de força política.
Palavras Chave: Política; Ideologia; Alienação
MAQUIAVEL E OS HUMORES: A FUNDAMENTAÇÃO DE GRANDES E POVO EM O PRÍNCIPE
Robson Alan da Rocha.
Eis um dos textos mais discutidos e controversos da história: O Príncipe. Esta é uma das mais importantes obras da história da
filosofia, e sem que nos deixemos levar pelo senso comum, é válido examiná-la. A teoria dos humores, dentro da filosofia política
moderna é uma interpretação inovadora. Considerar os efeitos da política a partir da tensão e não a partir da harmonia ressalta um
pensamento político também inovador, característica de Maquiavel. Porém, ao interpretarmos este texto, é comum incorrermos a
alguns enganos. O objetivo, neste momento, explorar um dos aspectos que frequentemente causa confusão. Em todos os lugares,
conforme aponta Maquiavel (O Príncipe, IX) "Existem duas tendências diversas", ou "humores". A Estes humores Maquiavel
denomina grandes e povo. Segundo ele, estas duas categorias políticas estão constantemente divididas. Isto se dá na medida em
que, ao que este trecho da obra indica, os interesses destes humores são divergentes. Aqui é que se encontra o cerne da questão.
Tomando o aspecto que tenho por alvo, existe uma diferenciação fundamental entre esses grupos. A causa frequente de
incoerência está aí. Grandes e povo estão irreversivelmente divididos pelos seus desejos. O fato é que "o povo não deseja ser
governado nem oprimido pelos grandes e estes desejam governar e oprimir o povo" (O Príncipe, IX). É desta diferenciação que
surgem os humores. Não por poucas vezes estes dois grupos são tomados por aspectos socioeconômicos. Este, porém, é um
engano. Outro autor ainda afirma: O que diferencia grandes e povo “não é o que tenham por fortuna, por seus costumes, ou por sua
função um estatuto distinto associado a interesses específicos e divergentes" (LEFORT, 1972, p.382), mas de fato o "choque de
dois apetites". Maquiavel os diferencia pelos seus interesses (oprimir e não ser oprimido), e não por qualquer questão de outra
natureza, portanto seria inválido equiparar grandes e povo a ricos e pobres, patrícios e plebeus ou algo semelhante. É certo que em
determinados momentos da história os humores foram incorporados em classes sociais, como na Roma Republicana, acima
representada por grupos sociais de seu tempo, porém, este aspecto de classes é variável de acordo com o contexto, mas a
terminologia de grandes e povo permanece ao longo da história. Todo este argumento remonta à importância dos humores na ação
conflituosa da qual decorre a liberdade e demais desdobramentos políticos. Enfim, julgo válido ressaltar esta nuance, pois é de fato
algo determinante na obra de Maquiavel e relevante na história do pensamento político. Se o próprio autor julgou tais coisas
relevantes o bastante para serem escritas não seria menos importante ponderá-las.
Palavras Chave: Humores; Política; Grandes; Povo; Categorias.
Área: Filosofia Política
MONTAIGNE E A ATARAXIA: O CÉTICO NA GUERRA
Gerson Lucas Padilha de Lima.
Como pode um filósofo pirrônico, no meioda guerra falar em ataraxia? Como aponta Conceição (2014), no ceticismo, há vários
conceitos importantes para a compreensão de sua filosofia: zetésis, diaphonia, isosthenia, epokhé, ataraxia e eudaimonia. Tais
termos constituem o cerne de todo pensamento cético e são familiares a Montaigne. Não é possível aqui nos adentrarmos em todos
esses conceitos. Devido à sua centralidade, fixemo-nos apenas na epokhé em sua relação com a ataraxia. A epokhé é uma
consequência da incapacidade de decisão racional a favor de um lado ou outro da questão. É uma atitude de não aceitar nem negar
determinada tese, em virtude do igual peso das razões opostas. Não é a aplicação da epokhé que mostra a universal contradição;
antes, é a constatação da diaphonia das opiniões que leva à suspensão cética do juízo. A suspensão do juízo, por sua vez, traz
consigo a ataraxia, ou a imperturbabilidade da alma. A epokhé cética leva-nos a um profundo respeito por tudo aquilo que é
variável nas partes. Esta valorização do variável e do diverso tem consequências no domínio político. Montaigne faz do povo
objeto de reflexão; assim, na maturidade do terceiro livro dos Ensaios, elege os trabalhadores simples como modelos vivos de
ataraxia, dos quais admira as provas de firmeza de ânimo (mais do que as dos estoicos) e os quais não têm dor senão nas horas que
as têm. Mas, como compreender o emprego do conceito cético de ataraxia, retoricamente projetado na figura do trabalhador
braçal? Eva (2007) responde que embora seja possível reconhecer aí uma espécie de deslocamento temático relativamente ao
pirronismo antigo [...] importa ressaltar que não parece haver nenhuma incompatibilidade entre o tema da ataraxia – considerada
estritamente do ponto de vista da tranquilidade intelectual – e esse reconhecimento de um fator mais urgente de perturbação nas
guerras civis (EVA, 2007). Sua opção, portanto, é pelos trabalhadores e pelo bem público, ou, mais precisamente, pela ataraxia
social. Em outras palavras, da mesma forma como as exigências externas impõem a conveniência da preservação de certos
dogmas, o ideal pirrônico da ataraxia deve abrir espaço a outro conceito de tranquilidade, agora não mais de ordem estritamente
pessoal e filosófica, mas diretamente da paz pública, visto que, como as partes do tecido social não têm a certeza da posse da
verdade, admitem a divergência e a contestação, sem a autofagia social.
Palavras Chave: Montaigne, ceticismo, Ataraxia, Gueera.
O MÉTODO GENÉTICO EM HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU
Fabio Antonio da Silva.
O presente trabalho, resultado de parte de minha pesquisa sobre a obra de Jean-Jaques Rousseau, sobretudo naquilo que tenho
entendido como “o método genético” desse autor, procura trazer à baila dois métodos contratualistas que precedem aquele exposto
pelo genebrino no Contract Social de 1762, qual sejam, o de Thomas Hobbes em seu Leviatan de 1651 e o de John Locke em Two
Treatises of Government de 1681. O quadro comparativo que proponho aqui, antes de esgotar os nuances dos sistemas políticos
apregoados pelos autores ingleses, pretende expor a particular originalidade da história hipotética de Rousseau, a qual já se fazia
presente em seus Discours (que precedem o Contract).
Palavras Chave: Hobbes; Locke; Rousseau; Gênese; História
O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA REDUÇÃO DAS INJUSTIÇAS SOCIAIS: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA
RAWLSIANA DA JUSTIÇA PARA SE PENSAR AS MUDANÇAS PROPOSTAS NO BRASIL HOJE
Nelsi Kistemacher Welter.
Nossa comunicação pretende abordar alguns aspectos da teoria da justiça como equidade e as contribuições do pensamento de
John Rawls para refletirmos sobre o problema da pobreza e o papel da educação e das políticas sociais na redução da pobreza e na
garantia de outros direitos essenciais aos cidadãos. Para tanto, desenvolveremos brevemente os princípios rawlsianos de justiça e a
ideia de bens primários, procurando identificar elementos que contribuam para o debate em torno de tais questões. Em seguida,
procuraremos identificar de que modo a Constituição Brasileira de 1988 aborda a temática da desigualdade e da pobreza, além de
buscar compreender o papel do Estado em relação aos direitos sociais dos cidadãos, sobretudo o direito de acesso à educação. Por
fim, pretendemos relacionar tais aspectos com as mudanças atuais que vem sendo propostas no país, mais especificamente, a MP
746/2016, que propõe uma reforma ao ensino médio e a PEC 241/2016 (PEC 55 no Senado Federal), buscando compreender o
papel dessas medidas no que diz respeito à justiça social, por exemplo, promovendo a inclusão daqueles que estão excluídos do
sistema de ensino hoje (no que diz respeito à MP 746) e se as injustiças sociais serão reduzidas ou ampliadas com a aprovação da
PEC.
Área: Filosofia Política
Palavras Chave: Educação; Justiça Social; Equidade; Reforma Ensino Médio; Constituição
O PREÇO DO AMANHÃ: CAPITALISMO DARWINISTA E MARXISMO
Evânio Márlon Guerrezi.
Pretendemos com essa pesquisa, apresentar aquilo que pode ser compreendido como a perspectiva darwinista do capitalismo e os
seus equívocos teóricos afirmados por certa corrente marxista. Para tanto, tomaremos como referência e material didático a obra
cinematográfica O preço do amanhã. Apesar de sua forte concepção comercial, o longa-metragem tenta, de maneira interessante,
evidenciar a perspectiva marxista de expropriação da força de trabalho da classe proletária no sistema de produção capitalista,
retratando uma sociedade ficcional e aparentemente futurística em que a modificação genética tornou os grandes capitalistas
imortais, enquanto os trabalhadores se esforçam para viver um dia após o outro. Paralelamente, também nos apresenta à
justificativa de que essa expropriação, levada a cabo pela classe burguesa, se encontra aparentemente legitimada por conta do que
se convencionou chamar de capitalismo darwinista, ou seja, o direito à exploração por conta dos mais aptos. Como referencial
teórico para a discussão, usaremos O capital de Marx, abordando as noções de valor de uso e de troca, a fim de mostrar como suas
relações com a produção e circulação de mercadorias podem levar ao acúmulo de capital e a extração de mais-valia da classe
trabalhadora. Além disso, utilizaremos o artigo de Anton Pannekoek, Marxismo e darwinismo. Nele, o autor aborda as diferentes
perspectivas geradas a partir do entrecruzamento entre marxismo e darwinismo, tendo, contudo, como um de seus principais
objetivos, a revogação do darwinismo como teoria passível de ser usada para a legitimação da sociedade capitalista e o indivíduo
capitalista.
Palavras Chave: Marxismo; Darwinismo capitalista; Luta de classes.
OS DESAFIOS DA BILDUNG SOB O OLHAR DE NIETZSCHE E RINGER: POSSÍVEIS APROXIMAÇÕES ENTRE O
FILISTEU DA CULTURA E OS MANDARINS ALEMÃES
Abraão Lincoln Ferreira Costa.
A presente pesquisa tem por tarefa realizar uma aproximação entre as obras de Fritz K. Ringer, O declínio dos mandarins alemães
e a conferência de Nietzsche Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino, juntamente com a sua terceira extemporânea,
Schopenhauer educador. Em linhas gerais, a proposta tende analisar a época compreendida a partir da metade do século XIX
verificando-se os efeitos advindos do processo de industrialização tardia ocorrido na Alemanha, o que, por efeito, teria levado ao
desencadeamento do processo de extinção da Bildung (Cultivo/Formação), enquanto propósito do vir-a-ser. Nesse sentido,
pretendo mostrar que a análise de Ringer acerca do declínio dos mandarins alemães corrobora as denúncias apresentadas por
Nietzsche acerca do problema da criação do filisteu da cultura. Problema, que segundo o filósofo alemão teve início a partir da
existência de duas correntes complementares e ao mesmo tempo deletérias e antinaturais: sendo uma em defesa da máxima
extensão da cultura e a outra a favor da redução da mesma a uma simples função de subserviência ao Estado. Depreendemos que
para esses autores, consequentemente, a educação tornar-se-ia uma questão de interesses burocráticos, devido o advento da vida
moderna, logo, os efeitos do progresso da universalização da cultura promovido pela intervenção do Estado, teria gerado o
desalinhamento da formação (Bildung) e da cultura de tipo superior (Cultur).
Palavras Chave: Alemanha, Bildung, Mandarim, Nietzsche e Ringer.
Área: Filosofia Política
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL: DO PLANO NACIONAL DE CULTURA ÀS (MICRO) AÇÕES
DESCENTRALIZADAS.
Alessandro Antonio da Silva.
O objetivo desta comunicação é fazer uma análise do PNC - Plano Nacional de Cultura - tendo em vista detectar alguns motivos
que tem impedido este plano de estabelecer uma politica cultural no país. Com o apoio de algumas obras de Michel Foucault (1926
– 1984), especialmente o seu Curso de Biopolítica; e de Pascal Gielen (1970) acerca do Fundamentalismo da Criatividade; a tese
parte da noção de governamentalidade e da análise do fortalecimento das relações entre economia e politica para buscar
compreender os problemas envolvidos, não apenas na constituição do PNC, mas nos contextos neoliberais que o engendram (e que
dele emergem). Além disso, são citados autores que analisam a história da politica cultural e da economia da cultura no Brasil. O
corpus da pesquisa reune também algumas ações culturais propostas fora do eixo das grandes cidades brasileiras (sobretudo Rio de
Janeiro e São Paulo), onde a situação apresenta-se ainda mais difícil (noroeste e oeste do Paraná). O resultado esperado é o
levantamento de problemas que tem impedido a construção de uma politica cultural nacional, agindo em diversas frentes que
envolvem redes de comunicação, de economia e de politica, promovendo efeitos de dessubjetivação e tanatopolitica ao invés de
politicas para a vida.
Palavras Chave: cultural; Plano Nacional de Cultura; trabalho; biopolítica.
POVO EM MAQUIAVEL: FIGURA UNA E HOMOGÊNEA OU PLURAL? UMA TENTATIVA DE APROXIMAÇÃO À
IDEIA DE POVO EM MAQUIAVEL
José Luiz Ames.
Na presente comunicação pretendemos operar uma aproximação conceitual à ideia de povo no pensamento de Maquiavel. A
hipótese que orientará nossa exposição será a de que povo em Maquiavel é uma noção de natureza polimórfica, o que torna
equivocada toda tentativa de fixar-lhe uma identidade definida e única. Para o desenvolvimento desta ideia, iniciaremos pela
caracterização de uma tipologia das interpretações contemporâneas da ideia de povo em Maquiavel. Mostraremos que é possível
identificar três distintas perspectivas: elitista, republicano-institucionalista e populista. O dado comum que subjaz às três
abordagens, apesar de profundamente diferenciadas entre si, é o fato de que todas oferecem concepções inerentemente estáticas do
lugar do povo na obra de Maquiavel. Significa dizer: as três distintas abordagens têm em comum o fato de entenderem que
Maquiavel trata a ideia de povo de um modo constante e uniforme. Contra este entendimento, caracterizaremos duas interpretações
alternativas, uma de Maurício Suchowlanski, um comentador argentino radicado nos EUA e outra de Stefano Visentin, um
intérprete italiano. Apesar de os dois comentadores terem em comum sua oposição à interpretação contemporânea de que em
Maquiavel se faria presente uma ideia homogênea de povo, encaminham sua interpretação alternativa desde perspectivas bem
distintas. Enquanto Suchowlanski procura mostrar que se fazem presentes distintas ideias de povo em Maquiavel seguindo uma
perspectiva histórica da sua produção intelectual, Visentin mostra que a ideia de povo em Maquiavel varia conforme as
conjunturas históricas concretas nas quais ele aparece. Como conclusão, mostraremos os avanços e limites destas duas
perspectivas de análise.
Palavras Chave: Maquiavel, povo, conflito
PRINCIPADOS E REPÚBLICAS: A PREOCUPAÇÃO POLÍTICA DE MAQUIAVEL
Fabiana de Jesús Benetti.
O pensamento político de Maquiavel é geralmente pensado a partir da antinomia principado e república. Embora reconheçamos as
diferenças que carregam cada uma destas formas políticas e concordemos com a preferência republicana de Maquiavel
compreendemos o autor como um pensador da vida política, seja qual for a forma que lhe é impressa. Nesta perspectiva, pensamos
que há pontos de convergência que nos permitem pensar sua unidade de pensamento político, tal é o caso da dinâmica da política
que se inscreve por meio do conflito político e dos diferentes desejos que estão na base do conflito: desejo dos grandes de dominar
e o desejo do povo de não ser dominado. Este trabalho tem o objetivo de apresentar as principais recepções do pensamento político
de Maquiavel e pensar sua teoria como uma preocupação com a política, independente das formas em que o Estado se apresente.
Palavras Chave: Principado, República, Maquiavel
Área: Filosofia Política
SENTIDO DA POLÍTICA E LIBERDADE EM HANNAH ARENDT
Ricardo Pietrowski Ferreira.
Este presente trabalho pretende demonstrar qual o sentido da política e da liberdade no pensamento da autora Hannah Arendt. Para
tanto, busca-se fazer o paralelo da noção de política-liberdade que autora traça a partir de uma retomada do conceito aristotélico de
que a liberdade é a razão de ser da política. O intuito da autora era defender a dignidade da política, e este retorno a esta dignidade
é justamente o papel da liberdade em relação à política. Concluindo o pensamento, será necessário passar também pela noção de
discurso e ação, que para autora são fundamentais para o entendimento sobre a liberdade.
Palavras Chave: Política, Liberdade, Discurso e Ação, Hannah Arendt
SER E PARECER: OCULTAÇÃO DA REALIDADE NA FILOSOFIA DE ROUSSEAU
Caio Cezar Pontim Scholz.
Pode-se afirmar que o pensamento filosófico construído por Rousseau tem como princípio fundamental a passagem do estado de
natureza para o estado social. Para a compreensão desses elementos, se faz necessário investigar, nesse contexto de transição de
cenários, uma problemática essencial, isto é, a questão a respeito da dualidade Ser e Parecer, que, nessa filosofia com aspecto ético
e político, está intimamente ligada ao processo de ocultação da realidade. Desse modo, para o fim de explorar a presença, a
composição e as influências desse dualismo, tanto na obra quanto na vida de Rousseau, dirigem-se as pretensões deste estudo.
Nessa direção, transitar-se-á por algumas das principais obras filosóficas e relatos autobiográficos do filósofo, bem como por
interpretações de autores como Bento Prado e Starobinski.
Palavras Chave: Ser; Parecer; Realidade; Ética; Política.
Área: História da Filosofia Antiga e Medieval
AS RATIONES SEMINALES NA CRIAÇÃO: O TEMPO NAS CONFISSÕES DE AGOSTINHO
Thiago Augusto Zanardi; Bernardo Alfredo Mayta Sakamoto.
Este estudo tem como objetivo principal abordar a importância dos estudos feitos por Santo Agostinho (354-430), expostos nas
Confissões e no Comentário ao Gênesis, sobre as Razões Seminais. O problema que responde Agostinho, aos maniqueus, é acerca
da criação que pode expressar-se assim: Como um Deus "eterno" e todo poderoso pode criar tudo ex nihilo, do nada, fazendo uso
do "tempo em apenas sete dias", como relatado no livro bíblico do Gênesis? Esta questão que parece óbvia exige um esforço
intelectual filosófico-teológico que Agostinho enfrentou e buscou responder. O problema do tempo, o que é o tempo?, é
encontrado ao longo de toda a história da Filosofia, até os contemporâneos como Heiddeger em sua obra Ser e Tempo aborda este
problema, ainda na ciência, Einstein com a Teoria da Relatividade encontra a dimensão temporal. Santo Agostinho responde a este
problema baseando-se no relato da criação do Gênesis com a expressão de Deus: "Faça-se", e com a palavra coeterna, num só
instante, todas as criaturas existem. A hipótese das Razões Seminais serve, para Agostinho, explicar os sete dias da criação.
Analogamente ao semeador, Deus semeou todas as espécies num momento, mas algumas sementes germinam mais rapidamente
que outras. Isto explica, segundo Agostinho, a temporalidade divina expressada na Bíblia. O bispo de Hipona apresenta as
Rationes Seminales para explicar com coerência, uma aparente contradição na criação entre tempo e eternidade no livro bíblico do
Gênesis. Conclui-se que a criação ex nihilo de Deus se deu, num instante mas, em três etapas sucessivas: matéria informe, forma
da matéria e as Razões Seminais. Ainda explica Agostinho que, pelas Razões Seminais, Deus criou suas criaturas completas como
anjos, terra e ar; e outras, que ainda estão incompletas e ocultas aos olhos e, que de tempos em tempos, estas espécies evoluem até
surgir novas espécies.
Palavras Chave: Santo Agostinho; Razões seminais; Temporalidade; Ex nihilo.
FILOSOFIA E POESIA: ALBERTO CAEIRO E O PIRRONISMO
Charles Eriberto Wengrat Pichler.
O intuito do seguinte texto é buscar uma aproximação entre a poesia do heterônimo pessoano Alberto Caeiro e o ceticismo da
vertente pirrônica. A tentativa, ou melhor, a possibilidade de relação, concentrar-se-á unicamente na ataraxia pirrônica; ou seja, se
Alberto Caeiro poderia ser visto como o agir que a atitude pirrônica desencadearia – em relação ao que viria após o aceite do
daquilo que aparece. No entanto, sem deixar de lado o discurso teórico, tanto de Caeiro como do ceticismo, concentrar-nos-emos,
também, em pontuar diferenças entre ambos os âmbitos, como, por exemplo, o fato de Caeiro se apresentar, aparentemente, como
um cético, não pirrônico, mas acadêmico, que nega um sentido por trás daquilo que aparece. Por fim, trar-se-á para a discussão a
posição de uma “não filosofia” do neopirrônico brasileiro Oswaldo Porchat, buscando, de algum modo, certa concatenação entre
esta posição e a “filosofia dos sentidos”, de Caeiro.
Palavras Chave: Alberto Caeiro; Ceticismo; Pirronismo; Poesia.
PIRRONISMO E AKATALEPSIA
Anderson Lucas dos Santos Pereira.
O pirrônico exige que a linguagem revele com sinceridade o pensamento, ainda que reconheça a incapacidade de a linguagem
dizer o ser. Além dos escritos demolidores de Sexto Empírico, Diógenes Laércio continua exercendo considerável influência sobre
a interpretação do ceticismo. Discorrendo sobre o pirronismo, Laércio considera-o o mais nobre filosofar, por ter inventado em seu
modo de vida os estados de akatalepsía (inapreensibilidade das coisas) e de epokhé (suspensão de juízo). Sendo assim, nada dizia
ser nem belo, nem feio, nem justo, nem injusto, mas igualmente, sobre todas as coisas, afirmava nada ser em verdade, mas todos
os homens agirem segundo a convenção e o costume; pois cada coisa não é mais isso que aquilo. Mas, se o cético acadêmico é
aquele que se cansou da busca pela verdade, o pirrônico está incansavelmente no encalço dela. Zétesis é um conceito central da
filosofia pirrônica que indica a busca incessante da aletheia e da certeza, sem que jamais se tenha a segurança de atingi-la, ou de
não atingi-la. Conforme Pirro, não encontramos o ser, mas o aparecer. A filosofia clássica distingue entre o aparecer e o ser,
transpondo metafisicamente a distinção corriqueira entre as aparências enganosas das coisas e sua manifestação ordinária. A
filosofia clássica privilegiou o ser como necessário e estável, desqualificando o aparecer porque instável e contingente. Pirro, ao
contrário, volta do ser às aparências, negando decididamente que exista ser – e, portanto, que seja possível qualquer juízo sobre o
ser – e reconhecendo, consequentemente, apenas o aparecer.
Área: História da Filosofia Antiga e Medieval
Palavras Chave: Ceticismo; Pirronismo; Ser; Conhecimento.
Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea
CONSIDERAÇÕES SOBRE O IDEALISMO TRANSCENDENTAL KANTIANO A FUNÇÃO DO EU PENSO COMO
PANO DE FUNDO DE UM IDEALISMO TRANSCENDENTAL
Neuton Vitor Ozorio Avila.
A comunicação visa apresentar o esboço de um projeto que pretende analisar as implicações da função do eu penso na raiz do
debate sobre o idealismo transcendental postulado na Crítica Da Razão Pura de Kant. Este estudo investiga, fundamentalmente, a
Estética Transcendental e o capítulo da Analítica Transcendental, constante da Lógica Transcendental, com atenção especial à
Dedução Transcendental. A filosofia no tempo de Kant acontecia por um viés gnosiológico, entretanto, no pano de fundo do
debate sobre o conhecimento, se mantém como característica comum a existência de dois pólos distintos que convergiriam para a
configuração da experiência. Tanto na visada Racionalista, como na visada Empirista, o mundo é entendido sempre como um fora
de si. Embora a razão se relacione com este, essa relação é desigual, pois, na medida em que o conhecimento deva ser algo
objetivo, o próprio esclarecimento sobre o sujeito deverá estar subordinado a esse modelo epistêmico objetivo que configura os
dados de experiência. Essa contenda na modernidade sobre a possibilidade do conhecimento permite a separação entre razão e
mundo e faz com que estas instâncias passem a ser compreendidas como sujeito e objeto: subjectum indicando aquilo que subsiste,
ou seja, o fundamento e objectum se referindo àquilo que está colocado diante de um sujeito. Portanto, mundo passa a ser
concebido como um âmbito que se divide em duas esferas: a da subjetividade frente à objetividade. O problema a ser superado por
uma crítica seria esta fenda aberta entre o mundo objetivo acessado pelos sentidos (empirismo) e a Razão como estrutura lógica
conceitual que mantém o mundo (racionalismo). Kant propõe, portanto, a tarefa de superar esta situação pelo próprio exercício
crítico da Razão Pura. Tarefa que ele próprio caracterizou como uma revolução copernicana. De acordo com tal revolução, antes
de um conhecimento ser proposto é necessário uma crítica a esse instrumental arquitetônico que já estaria sempre pressuposto no
ato de conhecer. Portanto, é preciso que se compreenda primeiro as condições de possibilidades para o conhecimento e os limites
deste ôrganon pelo qual o conhecimento se dá. Assim, a crítica precede ao problema do conhecimento. Antes de buscar a validade
de um conhecimento, se faz necessário uma crítica dos elementos que constituem as condições de possibilidade de sua objetivação.
Neste aspecto, o conceito de limite do conhecimento é de fundamental importância para o projeto kantiano, pois postula a ideia de
um “conhecimento possível” e não de um conhecimento real. O real apresentaria antes uma possibilidade e não um absoluto no
pensamento de Kant, consequentemente, sua teoria pode ser caracterizada como idealismo, porém não um idealismo material, mas
antes um idealismo transcendental. A unidade da experiência não mais se encontraria na ordem dos fatos ou na substancialidade de
um sujeito representador, mas em seu caráter apriorístico, em sua configuração transcendental. A função do eu penso, como
apercepção transcendental, pretende apresentar aquela unidade não-substancial e não-factual da experiência, superando as esferas
transcendentes da Razão e do mundo, do sujeito e do objeto.
Palavras Chave: Idealismo; Idealismo transcendental; Apercepção; Apercepção Transcendental; Sujeito; Kant.
A CRÍTICA DO JOVEM NIETZSCHE À EDUCAÇÃO DE SUA ÉPOCA: A FORMAÇÃO ERUDITA E A DO GÊNIO
Vanessa Henning.
Ao percorrer os escritos de Nietzsche acerca da educação é possível perceber o papel que a educação executa na formação dos
indivíduos. Isto porque ela tanto pode promover o surgimento de um homem decadente, o erudito, como também a formação do
homem superior, o qual Nietzsche denomina de Gênio. Nesses escritos, é possível ver que o processo de formação está atrelado
aos valores da cultura presente. O que Nietzsche busca é apresentar as críticas à cultura de sua época, que visa a uma educação
utilitária cuja formação é promover indivíduos que estejam a serviço do Estado. Por outro lado, o filósofo propõe uma formação
que proporcione o reconhecimento dos instintos e das forças humanas. É analisando esse tipo de postura diante do mundo, que
Nietzsche vê o exemplo de homem superior em Schopenhauer, por sua postura e pensamento intempestivos frente à cultura da
época. Este trabalho mostrará como Nietzsche pensa a educação moderna e como essa formação propicia o surgimento do tipo de
homem decadente, o erudito. Além disto, o intuito aqui é também mostrar o porquê de Nietzsche encontrar em Schopenhauer um
exemplo de formação superior, isto é, uma educação libertadora em que o homem possa assumir todos os seus impulsos e suas
forças. O filósofo propõe a partir disto, um tipo de cultura cujo pensamento esteja em afinidade com uma vida afirmadora de si
mesma e não uma cultura que privilegie uma vida submersa em ideais que provocam a evasão do homem de si.
Palavras Chave: Educação; Estado; Erudito; Schopenhauer; Gênio
Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea
A QUESTÃO DA TÉCNICA: POR ONDE ANDA SUA DIMENSÃO FORMATIVA?
Bruno Pedroso Lima Silva; Rosana Silva de Moura.
Quero propor a discussão, partindo de Heidegger, da questão da técnica, entendendo-a como central e primordial para
compreender o esquecimento do ser na modernidade. Investigar a técnica, da techné grega à técnica moderna e a sua entificação
como tecnologia, significa realmente questionar, escrutinar. Questionar é finalidade e é uma metodologia. O questionamento vai
além da contemplação fenomenológica, no sentido de construir, pela linguagem, um relacionamento livre com o tema. Aristóteles
propôs a existência de quatro formas de causalidade para a poiesis – material, formal, final (o fim do produto, sua razão de ser) e a
eficiente (o princípio, o efeito). Questiono, com Heidegger, o obscurecimento da causa final, na técnica moderna, em favor da
causa eficiente. Não importa mais o fim, o por que da produção. Importa o efeito, seu uso, sua instrumentalidade. A intenção é
criar esse campo de tensão, abrir mais ramificações da discussão, partindo do ponto central de Heidegger: a técnica moderna foge
da essência da techné e cria o perigo extremo, a partir da armadilha da disponibilidade. A essência da técnica não pode ser nada de
técnico, é uma questão filosófica. A determinação corrente da técnica, a sua representação presente, não corresponde à sua
essência. A determinação instrumental da técnica - que a confunde com a atividade prática do homem – só explica, domina.
Funciona e demonstra. Não reflete. Heidegger expressa o sentido reflexivo da técnica na filosofia grega como a causalidade do
“responder e dever”. O produto nasce com um dever a priori, e deve, por isso, responder a esta questão ou reflexão anterior. O
produto carrega a responsabilidade de um dever, de uma razão para ser pensado e produzido. Heidegger parece dizer que a
essência da técnica está efetivamente na techné. O decisivo não é o fazer, e sim o desencobrir. A reflexão anterior da techné –
esquecida pela técnica moderna e por sua tecnologia - o projetar, o dever e a responsabilidade do produtor com o produto não
poderiam ser pensadas como a dimensão política da techné? E essa reflexão não exigiria uma formação que pense a partir desse
dever e responsabilidade? Os gregos a pensaram como paideia. E nós? Perdemos a finalidade política do fazer? Heidegger propõe,
como ponto de partida, o olhar atento à arte. Em seus escritos, busca em Holderlin e Goethe princípios para ver arte na técnica, e
assim, buscar ver o que pode salvar. Techné tornou-se ars. Arte e técnica são conceitos historicamente próximos, quase sinônimos.
A filosofia moderna os segmenta. Fundamento do perigo! Será a arte que fará brilhar o poder salvador dentro da própria armação
tecnológica? Será possível olhar para a techné e ver, na técnica moderna, um brilho do que salva? Será possível ver crescendo, na
técnica moderna, alguma dimensão política e formativa que existia na techné?
Palavras Chave: técnica, educação, esquecimento, política.
AS INFLUÊNCIAS DE KANT SOBRE HEIDEGGER E O PENSAMENTO QUE TRATA DO ESPAÇO
Maria Lucivane de Oliveira Morais.
A comunicação a ser apresentada tem como objetivo geral demonstrar as influências de Kant sobre Heidegger ao produzir a obra
Ser e Tempo publicada em 1927 que dentre outras discussões, tratou do espaço. Será apresentada a discussão proposta pelo
modelo kantiano de pensamento no qual o espaço emerge como estando “dentro” do homem em sua faculdade cognitiva, como
forma pura da sensibilidade a priori. Em seguida, demonstrar-se-á como Heidegger promoveu a releitura de tais análises, tratandoas a partir de conceitos ontológicos que permitiram delinear uma nova compreensão existencial do espaço como o campo de jogo
do ser-no-mundo que somos e este ser-no-mundo como o ente que se lança para múltiplas possibilidades do seu existir. Para tanto,
serão apresentadas considerações dispostas nos §. 22, 23 e 24 de Ser e tempo, assim como, as justificativas que puseram a
problemática espacial como uma das preocupações traçadas por Kant na Crítica da razão pura cuja primeira edição ocorreu no ano
de 1781.
Palavras Chave: kANT. HEIDEGGER. ESPAÇO.
AS PAIXÕES EM HOBBES
Lucas Antonio Vogel; Fabio Antonio da Silva.
Pretende-se com esta comunicação, expor a problemática das paixões humanas do ponto de vista hobbesiano, sobretudo
priorizando o capítulo VI do Leviatã; parte desta obra que, a exemplo dos onze capítulos iniciais - como afirma Hélio Alexandre
da Silva (2009) - é vilipendiado pela grande maioria dos estudos sobre a mais conhecida obra de Thomas Hobbes. É precisamente
nesse recorte do texto de Hobbes no qual ele afirma a existência de dois movimentos animais, os involuntários: que não dependem
da imaginação; e os voluntários: que dependem da imaginação (bem distinta, para Hobbes, da sensação como lemos nos capítulos
I e II). O filósofo inglês, dito mecanicista, concebe o homem como análogo ao relógio; com sua cadeia de engrenagens em que
Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea
uma aciona a outra como numa rede de causas e efeitos. Assim, partindo dessa distinção inicial, Hobbes afirma que o apetite, ou
desejo, denota a aproximação do objeto visado, já a aversão denota o afastamento do objeto. Em uma cadeia lógica de causas e
efeitos, o filósofo conceberá analogamente as paixões do amor e do ódio, salvo que desejo e aversão indicam a ausência do objeto,
ao passo que amor e ódio indicarão a presença do mesmo. Disso o filósofo deduz ainda a paixão do desprezo ou indiferença, que
consiste no sentimento atribuído aos objetos que nem amamos e nem odiamos. Para Hobbes o corpo do homem sempre está se
modificando, e, com isso, sempre os seus apetites e aversões estarão se modificando durante a vida, ainda que nunca de forma
universal em todos os homens. Neste sentido os objetos do apetite, ou desejo, são o “bom”, o objeto do ódio ou aversão será
chamado “mau” e aquele que se torna indigno para nós chamaremos de “desprezível”, não existindo, portanto, uma regra comum
de bem ou mal que será extraída dos objetos, pois é algo subjetivo, e, em certa medida, particular de cada um, assim como
suscetível à mudança. Quando fala em sensações, o que está dentro de nós, Hobbes infere, são movimentos que são provocados
pela ação dos objetos externos. Assim, para a vista temos a luz e a cor, para o ouvido temos o som, para o olfato temos o cheiro,
etc. Percebemos desse modo que quando a ação do objeto acaba se prolongando o movimento ou o esforço se tornam um apetite
ou aversão em relação ao objeto e a sensação do movimento será a perturbação do espírito. Os prazeres que sentimos derivam da
sensação de um objeto presente, o que chamamos de objeto dos sentidos, já quando temos a expectativa do fim de algo, e isso
acaba agradando ou desagradando os sentidos, são os prazeres do espírito, que chamamos de alegria, de forma contrária, o
desprazer das sensações será a dor que ao final chamaremos tristeza. Nos interessa, em nossa comunicação, explorar as nuances
dessa concepção mecanicista das paixões humanas.
Palavras Chave: Hobbes; Paixões; Amor; Ódio.
GENEALOGIA DO ETHOS EM SARTRE: IMPLICAÇÕES DO ATUALISMO ONTO-FENOMENOLÓGICO NA
LITERATURA E DRAMATURGIA.
Ricardo Fabricio Feltrin.
O objetivo da atual pesquisa alicerça-se na problemática do devir em termos éticos na filosofia sartriana; dando ênfase aos escritos
literários, pois compõem a perspectiva de situação ao transitar entre o perfil fictício e a práxis. Neste mesclar de roteiros, entre
literatura e dramaturgia, intenciona-se “desvendar” a trajetória à questão da ética, já que nos escritos de natureza filosófica a
abordagem restringe-se, inúmeras vezes, ao âmbito promissivo. A ética representa a atuação aglutinada num certo tipo de
engajamento originário na inter-relação, pois, a consciência, sendo vazia, está lançada-no-mundo e é parte dele na coletividade.
Somos responsáveis, na subjetividade e alteridade, porque cada indivíduo é a representação total de sua época, vive a sociedade
inteira e a produz a partir de suas escolhas. Assim, se a subjetividade é possível, é um fenômeno evanescente, dissipa-se na sua
objetividade no mundo e no seu atualismo. Tão logo, o âmbito do ethos, vertido no engajamento só poderia se dar,
hipoteticamente, a partir da contribuição de Sartre na produção literário-dramatúrgica.
Palavras Chave: Ética; Engajamento; Situação; Literatura.
MERLEAU-PONTY, ALBERTO CAEIRO E A ETERNA NOVIDADE DO MUNDO.
Bruna Barbosa Retameiro.
O presente artigo tem como intuito aproximar a proposta do filósofo Maurice Merleau-Ponty, quando este nos fala de uma
fenomenologia da percepção, de um retorno a um mundo em estado “selvagem”, da poesia bucólica de Alberto Caeiro, um dos
heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. A percepção é um dos temas centrais da filosofia de Merleau-Ponty, e este,
contrariamente às teorias clássicas sobre o conhecimento, nos fala de uma percepção que não se resume em uma interpretação do
mundo percebido, pois, para ele, a natureza não depende de que a vejamos, para existir. O mundo existe, antes de qualquer
introspecção que façamos sobre ele; estamos no mundo, ele é parte de nós e não algo que está fora, a percepção é uma relação do
sujeito com o mundo. Assim como Merleau-Ponty, Caeiro, em seus poemas, escreve sobre a sua crença no mundo e sua descrença
no pensamento, na civilização, no grande enaltecer da razão. Para Caeiro, o mundo deve ser vivido e sentido, pensar sobre ele seria
algo semelhante a uma doença nos olhos. O mote para pensarmos sobre uma aproximação entre a filosofia da percepção de
Merleau-Ponty e a poesia de Alberto Caeiro está justamente nessa busca por um mundo em seu sentido originário, desnudo das
interpretações que lhe impomos. Caeiro era um homem do campo, e, em suas poesias, fala da inocência que o homem perdeu, da
necessidade de olhar para o mundo estando sempre atentos às suas novidades, de não perdermos o encanto diante da natureza, de
não trocarmos o mundo por sua significação. Ambos (o filósofo e o poeta) anseiam por uma percepção de mundo que se baste no
mundo, sem a necessidade de algo metafísico para justificá-lo. Para fazer essa aproximação, relacionaremos a filosofia de
Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea
Merleau-Ponty a alguns poemas de Caeiro, que parecem ilustrar, em versos, aquilo que o filósofo descrevia ao falar de seus
anseios por uma fenomenologia da percepção e o retorno a um mundo que antecede a reflexão.
Palavras Chave: Merleau-Ponty; Alberto Caeiro; Percepção; Mundo percebido.
MONTAIGNE E O PROBLEMA DOS USOS DA IMAGINAÇÃO
Mateus Masiero.
Michel de Montaigne trata da questão da imaginação por diversas vezes ao longo de seus Ensaios. Seguindo um topos de sua
época, o filósofo francês reflete acerca dos obstáculos que os homens frequentemente interpõe em suas próprias vidas devido ao
uso dessa faculdade que lhes é única: a capacidade de imaginar. Ao criar em suas mentes fantasias dos mais variados tipos, os
homens acabam por se enredar em si mesmos, vítimas de problemas imaginários, ou de superstição. No entanto, Montaigne
pondera que a capacidade de imaginar possui também um aspecto positivo, desde que bem direcionada; essa suscetibilidade em ser
afetado por meio da imaginação pode ser explorada com finalidades benéficas, visando, por exemplo, o regramento moral do
indivíduo. Percebe-se, portanto, uma ambiguidade por parte de Montaigne no que se refere ao juízo valorativo que atribui aos usos
da imaginação: por vezes os condena, por vezes os enaltece, de acordo com o modo como tal faculdade é explorada. Nesse
sentido, o objetivo da presente comunicação será evidenciar tal ambiguidade, ressaltando quais elementos levam o filósofo, de
modo geral, a julgar de modo positivo ou negativo os usos da imaginação.
Palavras Chave: Imaginação; Ensaios de Montaigne; Ética renascentista
NOTAS SOBRE A NOÇÃO DE SITUAÇÃO EM GABRIEL MARCEL
Paulo Alexandre Marcelino Malafaia.
Este estudo procura deslindar a noção de situação em face à antropologia filosófica de Gabriel Marcel (1889-1973). A partir dela,
perceber-se-á que a situação humana é, fundamentalmente, a de um ser-em-situação. Isso, no entanto, exigirá que se investigue o
estabelecimento desta noção central se erige em uma espécie de tensão entre a ideia de uma universalidade da condição humana e
a singularidade advinda da necessidade de se filosofar desde a existência. Deste modo, perscrutar-se-á alguns dos textos do autor
em que não apenas esta tensão é mais evidente, senão que também aqueles em que ele se coloca em diálogo com outros autores
e/ou concepções filosóficas.
Palavras Chave: Gabriel Marcel; ser-em-situação; antropologia filosófica; metafísica; existência.
O CETICISMO ACADÊMICO DE SIMON FOUCHER: MÉTODO E VERDADE NA BUSCA DA VERDADE
Joël Boudreault.
Resumo não informado pelo autor.
Palavras Chave: Ceticismo; cartesianismo; Foucher; verdade; dúvida; Malebranche
Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea
O CONCEITO DE LIVRE-ARBÍTRIO: UM PARALELO ENTRE AS FILOSOFIAS DE NIETZSCHE E SARTRE
Cristiane Picinini.
Neste artigo pretendemos apresentar, especificamente, sobre a teoria de livre-arbítrio a partir da concepção de Friedrich Nietzsche,
que nega esse conceito, nega o determinismo e é a favor do destino, ou seja, acreditar em destino significa aceitar-se plenamente; o
livre-arbítrio é para ele, a expressão do estado de prazer por parte daquele que quer. Somos apenas uma fatalidade, um acaso que
luta por mais potência, e por sermos uma fatalidade, negamos a responsabilidade de Deus por nossa existência. Esse conceito não
passa de um artifício dos teólogos para nos tornar responsáveis por nossas ações. Nem a sociedade, nem a estrutura familiar, são
responsáveis por nossa existência, ou pelas nossas livres escolhas, o que reina é um pedaço do destino que pertence ao todo. Nos
preocuparemos também, em mostrar um contraponto que se sustenta muito bem no existencialismo sartriano: a ideia de liberdade
– que, para o francês, é a condição de nossa existência, somos um projeto lançado no mundo, que somente depois de sua existência
constrói sua essência, ou seja, começa a fazer escolhas e a se tornar o único responsável por elas e por suas consequências, a única
alternativa desta teoria é escolher, e dela não se pode fugir. Somos, portanto, a relação consciência-objeto, não há destino, como
em Nietzsche, há um projeto lançado no mundo que é unicamente responsável por suas ações e delas não pode não-ser. O que
ambos os filósofos têm em comum é a negação de Deus, ou de qualquer instancia superior que seja responsável por nossa
existência.
Palavras Chave: livre-arbítrio; responsabilidade; existência.
ORDEM DAS RAZÕES EM DESCARTES
Cesar Augusto Battisti.
Muito embora os termos “ordem” e “razão”, em seus diferentes sentidos, sejam de uso frequente nas obras cartesianas, a expressão
“ordem das razões” tem ocorrência raríssima. Rigorosamente falando, Descartes a utiliza uma ou duas vezes, talvez três, sendo
inegável a sua ocorrência em uma carta a Mersenne, de 24 de dezembro de 1640 (?) (AT III, 266), e na tradução francesa da carta
de apresentação das Meditações aos membros da Faculdade de Teologia de Paris (AT IX, 6), ao passo que, em outras ocasiões, ela
pode no máximo ser apenas aferida contextualmente. A expressão, por outro lado, especialmente famosa a partir da obra de
Gueroult, tem sido utilizada abundantemente, pelo menos no Brasil, como forma de caracterizar o “percurso metodológico”
efetivado por Descartes em sua principal obra filosófica. Ainda que não haja dúvidas sobre a importância ou talvez mesmo sobre a
necessidade de se compreender as Meditações segundo o movimento sucessivo de cada meditação e de seus passos, disso não se
segue que a expressão consiga reter a riqueza do que seja o estilo meditativo de Descartes e a dinâmica reflexivo-metodológica por
meio da qual a obra se constitui. Dentre as dificuldades que se podem levantar, a primeira delas diz respeito ao uso comum e com
sentido abrangente que, em geral, Descartes faz desses termos, por mais que o discurso cartesiano das Meditações se caracterize
por sua forma argumentativa rigorosa e conceitualmente acurada. Além disso, e acima de tudo, trata-se de saber o que devemos
compreender por ordem, em seu sentido fundamental e filosoficamente preciso, para podermos determinar o seu lugar dentro do
âmbito metodológico: a caracterização cartesiana dessa noção nos indica que devamos lhe atribuir uma função importante, mas
específica e limitada; além disso, a tarefa de ordenar parece pressupor a disponibilização das coisas a serem ordenadas, o ato
epistemicamente distinto e anterior de “pô-las à mão” de quem as ordena; é de se supor, portanto, que a noção de “ordem” não
possa dar conta de todas as dimensões que configuram o que se entende por “método”. Por sua vez, “razões” é um termo que, por
si só, tem sentido incompleto; e, portanto, é preciso se perguntar pelo seu complemento: trata-se de razões que estejam a serviço
do quê? Não existem simplesmente razões nem podem ser elas ordenadas por elas mesmas, mas apenas em função ou a partir de
outra coisa. Talvez seja por isso que Gueroult tenha transformado sua “ordem das razões” em uma “ordem das verdades”, o que a
nosso ver acaba por comprometer o que há de mais singular no estilo filosófico das Meditações e o que é mais precioso para a
metodologia cartesiana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAM, C. & TANNERY, P. (ed.). Oeuvres de Descartes. Paris:
Vrin/Centre National du Livre, 1996. 11 v. (AT). DESCARTES, R. Meditações; Objeções e Respostas. Tradução de J. Guinsburg
e de B. Prado Júnior. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os pensadores). GUEROULT, M. 1953. Descartes selon l’ordre des
raisons. Paris: Aubier-Montaigne. 2 v.
Palavras Chave: Descartes, Ordem das razões; Método nas Meditações.
Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea
SARTRE: LITERATURA E REFLEXIVIDADE
Tiago Soares dos Santos.
A proposta desse trabalho é estudar o processo de transição da consciência irrefletida à reflexiva, considerando que a mudança de
um modo de consciência a outro pode ser mediado pela literatura. Essa intermediação ocorre quando o autor engajado e situado
decide revelar o modo como percebe o mundo. O leitor vê, tanto o mundo quanto a si mesmo por meio dos signos, como reflexos
e, ao não aceitar aquilo que vê, projeta-se na construção de si e do mundo. O projeto do autor e as conjecturas do leitor
arremessam-lhes responsabilidades naquilo que se tornam e fazem do mundo. Acredita-se que nos escritos literários e teatrais essa
transição do irrefletido ao refletido ocorre nas construções apresentações de seus personagens historicamente situados. Antoine
Roquentin, de A Náusea, descobre-se como um ser em construção, que não se define a não ser enquanto falta de definição.
Palavras Chave: existencialismo; literatura; irreflexão; reflexão.
TEMPORALIDADE DO PROGRESSO: TRADIÇÃO E MEMÓRIA EM KANT E BENJAMIN
Everaldo Vanderlei de Oliveira.
Trata-se de expor as relações entre Benjamin e Kant, desde o ponto de vista da filosofia da história, em especial, sob o foco
determinado pelos problemas da transmissibilidade histórico-cultural. Ao contínuo temporal, em Kant, corresponde o contínuo da
história (e da transmissibilidade cultural) e, como complemento necessário, o progresso como sua direção e sentido. Em Benjamin,
modo inverso, a assunção da temporalidade descontínua reposiciona o mesmo conjunto, revisitando as possibilidades da memória
(e da rememoração), bem como o questionamento dos limites do conceito de progresso. Neste caso, e não apenas para contraste,
ganha relevância a concepção do presente como esperança do passado, confrontando-se, em Kant, com o progresso como
esperança no futuro. No entrecruzamento destes elementos, sobressai o modo como concebem a lugar da tradição e da memória
históricas, a partir do que projetam distintas tarefas para compreensão e ação no presente. Sobressai igualmente, o quanto
configura-se, para cada época, e também para o presente, o aspecto de luta para determinar o lugar e a significação da tradição e da
rememoração históricas.
Área: Metafísica
A CRÍTICA DE HEIDEGGER AO EXISTENCIALISMO DE SARTRE: UMA LEITURA DA CARTA SOBRE O
HUMANISMO
Thayla Magally Gevehr.
Embora o propósito da Carta sobre o Humanismo, de Heidegger, fosse o de responder a questão que Beaufret dirigiu ao filósofo, a
saber “como tornar a dar sentido à palavra humanismo?” (HEIDEGGER, 1979, p. 150), nela, Heidegger também se posiciona
firmemente contra as teses defendida pelo existencialismo sartreano. Sartre, em O existencialismo é um humanismo, afirma que
seu projeto filosófico é o mesmo que o de Heidegger, pois ambos compreendem o ente que somos como aquele que é livre de toda
e qualquer determinação, como um a se fazer. Por isso, com sua máxima “a existência precede a essência” (SARTRE, 2010, p.
23), Sartre pretendeu em seu texto mostrar como a liberdade do homem, princípio do existencialismo, pode ser um humanismo.
Contra ao que o filósofo francês defende em seu texto, Heidegger afirma que a compreensão de Sartre está errada, já em que em
Ser e Tempo, no parágrafo 9, ele disse exatamente o contrário sobre o ente que somos. Ali, a existência não precede a essência,
como quis o filósofo francês, mas, ao contrário, “a essência do homem reside em sua existência” (2011, p.85). Nosso objetivo,
então, diante do que aqui foi posto é compreender em que consiste a crítica heideggeriana ao existencialismo de Sartre e em que
residiria a diferença entre os dois modos de compreensão desse ente que somos.
Palavras Chave: Heidegger. Sartre. Existência. Humanismo.
A METÁFORA DA “CARNE” E O INCONSCIENTE PSICANALÍTICO NA OBRA DE MERLEAU-PONTY
Litiara Kohl Dors.
Este trabalho pretende tecer aproximações entre a metáfora da “carne”, desenvolvida pelo filósofo Maurice Merleau-Ponty, e a
teoria do inconsciente de Freud. Sabe-se que há profundos distanciamentos entre a psicanálise e a fenomenologia; contudo,
Merleau-Ponty se apresenta como um importante interlocutor e simpatizante da obra freudiana, sobretudo porque se propõe
apresentar novos contornos à compreensão da consciência tal qual prevalecera até então, ou seja; firmemente ancorada nos
pressupostos cartesianos da primazia da razão. Recusando-se a compartilhar da visão dualista que contrapunha corpo e espírito,
interior e exterior, homem e mundo; o filósofo se propõe lançar as bases para aquilo que chamou de nova ontologia, ou ontologia
da “carne” considerando que, para além das dicotomias, há a prevalência de um espaço dialético, e rompendo, portanto, com as
limitações ou fronteiras rígidas entre as relações estabelecidas pelo homem e o mundo. É neste contexto que a psicanálise encontra
ressonância no pensamento de Merleau-Ponty, especialmente porque Freud, ao propor a teoria do inconsciente, mostra que a razão
não pode mais ser compreendida como fonte suprema do conhecimento, uma vez que, o pensamento pode também ser expresso a
partir de outra via, uma espécie de “desrazão” ou mecanismo inconsciente. Aos olhos de Merleau-Ponty, a psicanálise, ao observar
que o corpo é dotado de sentidos, devolve a este elemento relegado ao segundo plano pela tradição cartesiana, o seu estatuto mais
original. Ora, tanto para filósofo como para o psicanalista, não há mais sobreposição entre corpo e consciência, uma vez que
ambos participam dessa mesma teia de significações que é a experiência. A metáfora da “carne” aponta para a perspectiva de que
não há dicotomia entre homem e mundo, e que, embora haja discrepâncias, interioridade e exterioridade, são constituídas pelo
mesmo estofo ou “tecido”; esse aspecto “carnal” é o que permite a comunhão entre sujeito e objeto, fazendo, inclusive, que tais
conceitos se dissipem no interior da fenomenologia merleau-pontyana. Embora o filósofo francês tenha proposto lançar uma nova
ótica ao pensamento freudiano, é partindo dessas considerações iniciais que o inconsciente irá, ao longo da obra de Merleau-Ponty,
adquirir novos aspectos, assemelhando-se à ideia proposta pela metáfora da “carne”.
Palavras Chave: Inconsciente; Freud; Merleau-Ponty; Fenomenologia; Psicanálise
A NATUREZA DO SER EM LEIBNIZ: INDIVIDUALIDADE E MULTIPLICIDADE
João Antonio Ferrer Guimarães.
Pretendemos, neste trabalho, investigar a noção leibniziana de substância, conceito que, para o filósofo, constitui a chave de toda
verdadeira filosofia. Sua noção de substância – fundamento de sua metafísica – pretende superar as duas noções clássicas
desenvolvidas por Aristóteles e Descartes; com maior ênfase, sua concepção de substância rompe com a noção mecanicista
cartesiana privilegiando uma noção dinâmica do Ser. Em Leibniz, o conceito de substância, no entanto, comporta um aparente
paradoxo: na natureza do ente real coexistem unidade e multiplicidade, simultaneamente. A solução do paradoxo implicado na
oposição clássica uno-múltiplo enfatiza a transformação sofrida pela noção fundamental de seu sistema de metafísica, constituindo
assim a essência de sua compreensão de Ser como força dinâmica. A chave para tal compreensão, encontra-se na noção de
Mônada. Enquanto substâncias simples, Mônadas não têm partes. O que não tem partes constitui uma unidade; Mônadas, no
Área: Metafísica
entanto, apresentam qualidades, determinações internas que especificam sua unidade, bem como sua natureza única; desde logo
percebemos que, se assim não fosse – se cada Mônada não ostentasse uma identidade única –, não poderíamos distinguir uma
Mônada de outra. Da distinção, fortalecida por suas qualidades e determinações, obtemos a multiplicidade de Ser; à vista disso, o
real comporta infinitas substâncias individuais. Segundo o princípio da identidade dos indiscerníveis, cada ente real mantém sua
identidade única ao mesmo tempo em que espelha, como totalidade, a realidade de todas as outras substâncias através da
multiplicidade de suas propriedades. Deste modo, a Mônada, unidade substancial, átomo metafísico, simples e indivisível só pode
ser compreendida, em sua essência, como multiplicidade intrínseca à unidade. Esta realidade complexa, e ao mesmo tempo
simples, expressa um universo dotado de total inteligibilidade. A máxima racionalidade desse universo é traduzida em seu sistema
da harmonia que, por fim, dá sentido à Monadologia.
Palavras Chave: Ontologia; Substância; Mônada; Unidade; Totalidade; Harmonia.
A POSIÇÃO DO HOMEM NO COSMOS: A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE SCHELER
Leila Rosibeli Klaus.
As perguntas que perfazem o conteúdo da obra A Posição do Homem no Cosmos desenvolvem-se em um contexto europeu dos
anos vinte, ou seja, após a Primeira Grande Guerra e em plena revolução industrial. Em um cenário de economia e política
instáveis, com o capitalismo em ascensão e disputando espaço com o socialismo e o comunismo, via-se a identidade humana
particularmente abalada. Aqui o homem não possui autoconsciência e seu ser está sem fundamento e sem rumo. Já não há mais
eidos, nem télos, nem razão como alicerce do pensar e do agir. A partir deste cenário conturbado, a Antropologia Filosófica
pergunta-se: o que é o homem?; qual é a sua essência?; perante a ciência em voga, a filosofia ainda nos forneceria algum tipo de
saber? Estas questões apresentam-se de modo particularmente necessário tendo em vista o contexto político e social. No entanto,
juntamente a este contexto, mas no âmbito do conhecimento, a ciência encontra-se em plena expansão, o que acarreta uma
racionalização empírica no pensamento e, consequentemente, um problema de fundamentação da filosofia, principalmente no
âmbito metafísico. Nos anos vinte, precisamente, no ano de 1928, quando Scheler escreveu APHC, as ciências estavam no seu
auge, entre elas a medicina, a biologia, a psicologia, a sociologia e a antropologia. O que havia em comum entre todas elas, era a
preocupação com a essência do homem. Assim, já que os interesses se fundiam e a fim de não disputar com as ciências empíricas,
Scheler apoia, justamente, no conhecimento naturalizado da biologia, da psicologia e da sociologia, a constituição da sua
Antropologia Filosófica. Apoiado em um diálogo com tais ciências, o filósofo pretende desenvolver uma antropologia com status
filosófico, ou seja, compreender o homem natural no interior de uma ontologia. Deste modo, as questões acerca do que é o
homem, qual sua essência e qual tipo de saber a filosofia ainda poderia nos conceder, poderiam ser assumidas aqui com rigor.
Assim, o objetivo é analisar os três primeiros capítulos da obra supracitada para explorar os conceitos básicos da estrutura da vida
até alcançar a “posição peculiar” na qual encontra-se a essência do homem.
Palavras Chave: Antropologia Filosófica; Metafísica; Espírito; Homem; Essência.
A POSTURA SOCRÁTICA FRENTE AO ETERNO RETORNO DE NIETZSCHE
Douglas Meneghatti.
A questão socrática está paradoxalmente presente em todo corpus da obra nietzschiana, o grande herói dos diálogos platônicos é
apresentado por Nietzsche como o responsável pelo declínio da tragédia grega, pela inserção da dialética e da consciência moral,
enfim, pela geração do homem teórico enquanto protótipo metafísico que se difundiria pela história do Ocidente. Porém, a
perspectiva se inverte quando Sócrates é incluído dentre os “espíritos livres” e lembrado pela maneira peculiar de educar os jovens
atenienses, aporia que alimenta o paradoxo da questão socrática em Nietzsche e na própria História da Filosofia. Deixando de lado
os diversos embates travados por Nietzsche contra e pró Sócrates, que aparecem em cerca de 320 menções diretas à Sócrates ao
longo dos textos de Nietzsche, nos deteremos a dois aforismos em particular (§ 340 e § 341), a fim de levantar o teor desse grande
duelo, numa perspectiva que levará em consideração qual seria a postura socrática diante da temática do eterno retorno, construída
por Nietzsche como símbolo da altivez vital. O desejo pela afirmação do eterno retorno constitui a mais altiva vitalidade, ansiar
pela eternidade é querer a vida em toda a conjuntura passada e presente. Nietzsche faz do eterno retorno um momento ímpar de
seu pensamento, pelo qual a vida é afirmada incondicionalmente. Nesse viés, através de uma análise do § 340 da obra Die
fröhliche Wissenschaft (A gaia ciência), colocamos Sócrates frente a “aparição do demônio”, com o intuito de pensar a decadência
vital oriunda da negação socrática da vida terrena, constatada a partir de sua certeza na superioridade e imortalidade da alma, que o
Área: Metafísica
leva a uma interpretação negativa do corpo e das suas pulsões. Na sequência, no § 341, Nietzsche aborda sobre o eterno retorno,
no parágrafo intitulado O maior dos pesos. Chama a atenção o fato de que, no § 340, é apresentada a morbidez vital de Sócrates
que sofreu com a vida, e, logo em seguida, no § 341, aparece a provocação do demônio que convida para a eternidade da vida. A
partir disso, o trabalho busca responder as seguintes questões: Estaria Nietzsche inferindo a Sócrates o maior dos pesos frente a
sua morbidez vital? Seria Sócrates o símbolo máximo do pavor e ranger de dentes frente ao demônio?
Palavras Chave: Decadência; Vida; Eternidade.
A VERDADE EM ALÉM DE BEM E MAL: O PRECONCEITO DOS FILÓSOFOS
Danilo Fernando Miner de Oliveira.
Nietzsche apresenta no primeiro capítulo de Além de bem e maldenominado os preconceitos dos filósofosa exaltação do conceito
de verdade por diversos pensadores da filosofia. A crítica se direciona ao paradigma enrijecido de que a verdade se encontra num
domínio restrito e não pode estar presente em outras formas de manifestação que fazem parte dos diversos impulsos disso que
denominamos vida. Logo, estreitar a atividade filosófica para a busca da verdade consiste em uma parcialidade que se traduz em
uma limitação das expressões de vida. Além disso, Nietzsche se pergunta: qual parte de nós nos conduz para a verdade? Por que a
verdade e não a falsidade? Por que ela deve pertencer exclusivamente a um único domínio ideal, isto é, o da razão? Assim,
Nietzsche anuncia sua tese de que as perspectivas que determinam que o verdadeiro está associado ao correto, bom e belo,
enquanto a falsidade está acompanhada do incorreto, mau e disforme consiste em determinações dualistas da realidade, fortemente
enraizadas na cultura moderna, que se apoiam, em última instância, em um preconceito moral.
Palavras Chave: Preconceito; Verdade; Metafísica
ACERCA DO INSTANTE E DE UMA "ANTROPOLOGIA"KIERKEGAARDINA NA OBRA O CONCEITO DE
ANGÚSTIA
Cleyton Francisco Oliveira Araújo.
O instante é apropriação existencial, uma interação com o tempo presentificado em suas ações. O ato de presentificar o tempo é a
forma de o homem, utilizando uma figura poética de Kierkegaard (2010), “tentar parar o tempo”. Isso é, essencialmente, dialético,
paradoxal e impossível empiricamente! Mesmo assim, contudo, tal pensamento filosófico é importante e esclarecedor para
designar e também para definir o homem em sua interação existencial consigo, na sua relação com o tempo, o que equivale à sua
relação concreta com a vida.O instante é o presente, o átomo da eternidade, onde a progressão quantitativa é suspensa, ou seja, o
decorrer “infinito” do tempo mensurado em anos, minutos e segundos é negligenciado ou deixado em segundo plano. A vida é
presentificada e imortalizada na experiência singular de tornar-se vida, concreta e experienciada em sua plenitude. Isso ocorre via
a ação ou o salto qualitativo; salto que realça, em absoluto, o imperativo do presente. Nesse salto, o homem dá-se ou torna-se
síntese entre o temporal e o eterno na medida em que ele experiência a temporalidade como instante, vivendo e concretizando-se
como eterno. O instante, para o homem, é uma experiência que ocorre ou se apresenta a ele como possibilidade, que pode ser
efetivada ou não. O instante e a eternidade não são imanentes ao homem, mas é sempre uma possibilidade ou angústia diante do
tempo, da vida – uma possibilidade que pode ser efetivada pelo salto qualitativo.
Palavras Chave: Instante: Eterno: Tempo: Subjetividade: Angústia: Pecado
CARACTERÍSTICAS DO PENSAR NA OBRA A VIDA DO ESPÍRITO DE HANNAH ARENDT
Ana Claudia Barbosa Nunes.
Os homens e animais pertencem ao mundo, são considerados sujeitos e objetos, ao mesmo tempo que estão percebendo o que está
no mundo, também são percebidos, desse modo o homem é ser e aparecer. O que diferencia o homem dos animais é que o homem
possui atividades espirituais, as atividades espirituais são diferentes contudo sua semelhança está na retirada do mundo. No
decorrer da história da filosofia, os filósofos defendiam a existência de dois mundos; o mundo das aparências dos sentidos, sendo a
Área: Metafísica
cópia do mundo ideal, porém no mundo ideal, que se encontra a verdade. Para Hannah Arendt não existe dois planos de realidade,
o homem é pertencente ao mundo das aparências, a atividade espiritual o pensar, que antes era visto como pura contemplação, para
filósofa é uma atividade espiritual. Todo homem possui essa atividade espiritual, "[...]todo pensamento deriva da experiência[..]"
(ARENDT, 1992, p.68), ainda que o despertar do pensar ocorra por meio das experiências vividas pelo homem, no entanto não é
condicionado pelas experiências. Essa atividade espiritual realiza-se em "O pensamento retira-se – radicalmente e por sua própria
conta – deste mundo [...]” (ARENDT, 1992, p. 44), pensar é retirar- se do mundo, deslocar- se do mundo do sensível, porém o
pensar não está em outro mundo, pensar é uma atividade espiritual invisível, não está em um mundo. Para fomentar a retirada do
mundo é necessário a imaginação, " A imaginação, portanto, que transforma um objeto visível em uma imagem invisível, apta a
ser guardada no espírito[...]"(ARENDT,1992, p.61), essa imagem invisível faz com que o que encontra-se ausente torna-se
presente no espírito. Pensamento é uma atividade espiritual em que cada espirito dialoga consigo mesmo, não é possível saber se
um indivíduo pensou a menos que ele expresse seu pensamento por meio da linguagem [...] a linguagem, o único meio no qual o
invisível pode tornar-se manifesto em um mundo de aparências [...] (ARENDT, 1992, P. 86), no dialogo consigo mesmo ainda que
o pensamento é sem som, possui nesse dialogo uma natureza linguística, quando é exercido o discurso para os outros é aplicado a
linguagem. Através da linguagem o indivíduo comunica seu pensamento aos demais, manifestando sua atividade espiritual.
Palavras Chave: Arendt; Espírito; Atividade espiritual; Pensar.
CORPO EM NIETZSCHE: UMA LEITURA DA SEÇÃO “DOS DESPREZADORES DO CORPO”.
Thalita Schuh Venancio da Costa.
Neste trabalho analisaremos a seção “Dos desprezadores do corpo”, presente na obra Assim falou Zaratustra, do filósofo Friedrich
Nietzsche. Em nossa análise acerca dessa seção consideramos presente um duplo movimento do filosofo: um de crítica à tradição e
outro de interpretação e configuração conceitual. O dualismo corpo-alma presente na tradição metafisica busca uma natureza
humana fundamentada da ideia de alma, razão ou consciência. Nietzsche, divergente a esse sentido de natureza humana parece
conceber a alma ou a consciência como um produto da transformação do organismo e como uma pequena parte dos processos
fisiológicos e corporais do ser humano. Sendo assim, os conceitos norteadores da tradição filosófica como alma, consciência,
conhecimento, etc., são interpretados como sintomas do biológico e dependentes de impulsos inconscientes. No caso da seção
“Dos desprezadores do corpo”, de um modo geral, parece ser possível interpretar o corpo como ponto de partida para a afirmação
da vida, por se constituir não só como parte do próprio ser, mas, primordialmente, por ser a partir dele que surgem os pensamentos
e os sentimentos, e cuja vontade reúne e coordena a multiplicidade de impulsos, instintos, desejos e inclinações do ser humano, e é
nesse sentido que ao renunciar o dualismo corpo-alma, Nietzsche expande a noção de corpo (leib, selbst e grande razão) para
compreendê-lo como uma disposição hierárquica de forças para além da matéria, mas que reúne também aquilo que se chama
espírito, alma ou mesmo razão. Esses conceitos são agora tomados não só como constituintes do corpo, mas principalmente no
corpo.
Palavras Chave: Corpo; selbst; grande razão; alma; tradição; vida.
DASEINSANÁLISE: POSSIBILIDADES PARA A PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA EM BASES EXISTENCIAIS.
Luiz Henrique Birck.
DASEINSANÁLISE: POSSIBILIDADES PARA A PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA EM BASES EXISTENCIAIS. Nome:
Luiz Henrique Birck Universidade do Oeste do Paraná Orientador: Roberto Saraiva Kahlmeyer-Mertens luizhenriquebirck@gmail.
com RESUMO Este trabalho tem a intenção de estudar a proposta da daseinsanálise como uma psicologia fenomenológica em
bases existenciais, no qual indica as possibilidades de mostrar o existir humano fora da visão do sujeito empírico e fora da relação
entre sujeito e objeto. A daseinsanálise visa trabalhar os modos nos quais ela lida com a experiência humana e uma nova
concepção de homem. Esta investigação inicia com a importância do pensamento do filósofo Martin Heidegger principalmente em
sua obra “Ser e Tempo (1927)” onde mostra uma densa teoria acerca da analítica do dasein. As possibilidades de se pensar uma
psicologia fenomenológica em bases existências, ou seja, neste caso a daseinsanálise, se expande com o interesse demonstrado
pelos psiquiatras Ludwig Binswanger e Medard Boss, principalmente pelo contato de Boss e Heidegger onde foram responsáveis
por contemplar discussões posteriores em uma série de filósofos, médicos e psicólogos. Elaborando uma série de seminários
intitulado “Seminários de Zollikon (1959-1969) onde Heidegger pôde levar sua analítica do dasein a médicos e psiquiatras, o que
por sua vez parece ser o intento de ir além das discussões filosóficas da analítica do dasein em direção as ciências ônticas.
Área: Metafísica
PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Daseinsanálise; Psicologia; Fenomenologia; REFERÊNCIAS DASTUR, F & CABESTAN, F.
DASEINSANÁLISE: FENOMENOLOGIA E PSICANÁLISE. 1ª ed. Rio de Janeiro: Via Verita, 2015. FEIJOO, Ana Maria
Lopez Calvo de. A existência para além do sujeito. Rio de Janeiro: Edições IFEM: Via Verita, 2011. FEIJOO, Ana Maria Lopez
Calve de & LESSA, Maria Bernadete Medeiros Fernandes. Fenomenologia e Práticas Clínicas. Rio de Janeiro: Edições IFEM: Via
Verita, 2014. HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon. Petrópolis-RJ: 2ªed. Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária
São Francisco, 2009. ___________________. Ser e Tempo. Petrópolis-RJ: 8ª ed. Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária
São Francisco, 2013. LUIJPEN, W. A. Introdução à Fenomenologia Existencial. São Paulo: EPU; EdUSP, 1973 STEIN, Ernildo.
Analítica Existencial e Psicanálise: Freud, Biswanger, Lacan, Boss – Conferências. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012.
Palavras Chave: Filosofia; Daseinsanálise; Psicologia; Fenomenologia
DOIS MODOS DE PENSAR A VERDADE: COMO ADEQUAÇÃO E DESVELAMENTO
Luana Borges Giacomini.
O propósito deste trabalho é investigar de que modo temos em Heidegger a verdade pensada de modo originário (desvelamento), e
em Kant uma verdade que ainda reside no modo tradicional de pensar, isto é, a verdade no âmbito derivado (adequação). Pensar a
verdade originariamente é pensar a estrutura primária que é o ente que nós mesmos somos: o ser-aí (Dasein). É pensar a estrutura
prévia a toda “relação” que o ser-aí mantém com o mundo, isto é, aquilo que instaura, que é possibilidade de tal. Procuraremos
mostrar de que modo em Kant, ainda há uma ingenuidade fenomenológica (não ter em vista a diferença ontológica – ser não é
ente), na medida em que, o criticista ainda transita num âmbito subjetivo, e que este, segundo nosso fenomenologo é posterior ao
acontecimento da abertura (verdade originária) e por isso, derivado. Portanto, devemos enfatizar de que modo verdade e
subjetividade estão implicadas no pensamento de Kant, para num momento posterior trazer à luz o modo originário de pensar o
verdadeiro.
Palavras Chave: verdade; desvelamento; ser-aí
ENSAIO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE VERDADE E ILUSÃO EM KANT E NIETZSCHE
Italo Ariel Zanelato.
Ao buscar em Kant a clara definição de transcendental, este trabalho retoma os passos do filósofo, para posteriormente ater o
estudo em fundamentar a teoria de que a dialética, localizada na segunda parte da Lógica Transcendental, compõem a critica que
ele chama de hiperfísico do intelecto, revela ao homem o que está escondido por trás das aparências e, como o homem se engana
ao tentar ultrapassar os limites do fenômeno. Perguntando como se dá a metafísica. Lembrando que Dialética carrega dois lados de
uma mesma moeda, o Nôumeno e o Fenômeno. De fato, parecerá ao leitor algo simples, mas ao longo do estudo tentaremos
demonstrar que estes dois conceitos constituem nada mais que duas formas de ilusão. No entanto, o trabalho árduo se fará por
meio de Schopenhauer e Nietzsche, onde aquele não concorda com a referência de que a essência (coisa-em-si) do mundo esteja
de fato atrelada com a musica como Schopenhauer afirma. Nietzsche divide sua interpretação em uma duplicidade fundamental
que segue em O Nascimento da Tragédia, o apolíneo e o dionisíaco, como dupla significação schopenhaueriana do mundo como
vontade e representação. Esse estudo permeará estes três filósofos alemães e tentará sanar estas questões. Indo além até o ponto em
que os conceitos fiquem claros e ao menos não reste, aparentemente, dúvidas. Será uma longa jornada iniciada no transcendental
kantiano até a conceituação de Apolo e Dionísio como impulsos, na tentativa de solução dos problemas encetados em Kant e
prolongados por Schopenhauer sob a ótica nietzschiana.
Palavras Chave: Kant; Nietzsche; Schopenhauer; Ilusão; Verdade
Área: Metafísica
ESBOÇO PARA UMA INTERPRETAÇÃO DA FILOSOFIA TRANSCENDENTAL KANTIANA COMO ONTOLOGIA
Luis Cesar Yanzer Portela.
O propósito do trabalho é apresentar, em forma de esboço, um programa de pesquisa que exponha os elementos que permitam
defender a interpretação de que a Crítica da Razão Pura é uma obra de metafísica em sentido crítico, vale dizer, enquanto
efetivação da filosofia transcendental concebida, por sua vez, como ontologia do objeto em geral de intuição sensível.
Complementarmente, o trabalho mostrará que e em que sentido tal ontologia não é apresentada integralmente na CRP.
Dividiremos o trabalho em três partes, cada qual com propósito específico. Em primeiro lugar, trata-se de expor a tese central do
trabalho, a saber, que e em que sentido, para Kant, a CRP se constitui em efetivação da filosofia transcendental como ontologia.
Sustentaremos que CRP adquire seu caráter de filosofia transcendental e de ontologia ao ocupar-se com aquisição do
conhecimento de (1) que certas representações (intuições e conceitos) são possíveis unicamente a priori e (2) de como são
referidas a priori à determinação de objetos em geral que possam vir a ser dados como objetos de intuição sensível. Isto significa
dizer que a filosofia transcendental, concebida como ontologia (em sentido renovado perante o da tradição) ocupa-se com o
estabelecimento de um sistema de conceitos (em sentido lato, o que inclui as representações denominadas conceitos puros, bem
como as intuições a priori) que são as condições elementares para apresentação de um sistema de princípios que, na forma de
juízos sintéticos a priori, estabelecerão o modo como aqueles são referidos e aplicados ao conhecimento de objetos em geral
passíveis de serem dados aos sentidos e justificados pela experiência. Isto implica que Kant, na CRP, conceba que a filosofia
transcendental como ontologia é efetivada na Estética Transcendental e na Analítica Transcendental. Feito isso, mostraremos que e
em que sentido tal efetivação da filosofia transcendental como ontologia não é ainda completa, mas apresenta-se como
propedêutica a primeira parte da Metafísica da Natureza, a qual lhe garantirá o caráter de completude. Esta se ocupará com a
aquisição de outro tipo de conhecimento, que se constitui na apresentação das definições das doze categorias deduzidas na
Analítica dos Conceitos da CRP, consideradas como predicados ontológicos, no desdobramento desses predicados em predicáveis,
bem como na apresentação de suas definições. Essa complementação, buscaremos mostrar, realizar-se-á por ocasião da tentativa
operada por Kant de apresentar a mencionada Metafísica da Natureza, no Opus Postumum. Até aqui, o trabalho se ocupa
prioritariamente de uma compreensão possível da filosofia transcendental kantiana como ontologia. Na segunda e terceira seções
do trabalho tratar-se-á, pois, da demonstração da legitimidade e efetuação do apresentado na primeira parte do trabalho. A segunda
parte apresentará os elementos que permitem mostrar como, nas seções da CRP denominadas Estética Transcendental e Analítica
Transcendental, Kant efetivamente desenvolve a ideia da filosofia transcendental como ontologia. Trata-se agora de reconstruir os
passos argumentativos kantianos, com o fito de ressaltar elementos formais a priori da sensibilidade e do entendimento, quais
sejam as formas das intuições, os conceitos puros do entendimento, os esquemas transcendentais, deixando ver como implicam a
formulação de um sistema de princípios, que na forma de juízos sintéticos a priori, estabelecerão que e como objetos em geral
podem vir a ser dados e conhecidos como objetos em geral de intuição sensível, bem como qual a relação que que devem manter
uns para com os outros. A investigação a ser encetada na terceira parte do trabalho visa ao modo como, no Opus Postumus, são
definidas as doze categorias do entendimento da CRP enquanto predicados ontológicos; como desses predicados podem ser
extraídos predicáveis via a composição dos predicados (categorias); por fim, como é possível apresentar uma tábua desses
predicáveis e suas definições. Assim, apresentadas todas as condições necessárias à completude ulterior da filosofia transcendental
como ontologia, conforme o sentido restrito e propedêutico sustentado na CRP, pretendemos, por fim, chegar a uma apresentação
esquemática da inteira filosofia transcendental kantiana como ontologia. Pretendemos, de modo mais amplo, sugerir que a
clarificação da completude possível da filosofia transcendental kantiana e de seu caráter ontológico permitem visualizar a
superação efetiva da “velha ontologia”, que se ocupava com as determinações dos entes enquanto entes, ou, nas palavras de Kant,
com as coisas em geral em si mesmas.
FILOSOFIA E CINEMA
Maria Luiza Santos do Amaral.
O artigo é resultado da pesquisa realizada com o projeto de extensão nomeado Filosofia e Cinema no IF, oferecido pelo Instituto
Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. O projeto visa apresentar conceitos filosóficos por meio de filmes
selecionados, para exibi-los à comunidade externa que apresenta vulnerabilidade social. É realizada a seleção de um filme cujo
enredo seja propício para a exploração de um ou mais conceitos presentes na história da filosofia. Em seguida, estudam-se os
conceitos que o filme pode representar e tudo é debatido pelo grupo. Depois de feitas as relações julgadas pertinentes, o filme é
exibido em instituições de bairros carentes de cultura em nosso município. A pesquisa tem o intuito de estabelecer uma analogia
entre a gnosiologia em Platão, presente na Alegoria da Caverna, excerto da obra A república, com o filme “Fahrenheit 451”
(1966), dirigido por François Truffaut (1932-1984). A metodologia é dividida em três etapas: primeiro, faz-se um resumo do
enredo do filme. Em seguida, discute-se os quatro momentos da teoria platônica, envolvendo o Mito da Caverna. Por fim,
abordam-se as duas fontes de pesquisa em conjunto, analisando e explicando as cenas principais do filme que se fazem análogas à
Área: Metafísica
teoria. Conclui-se o artigo com a hipótese de que discutir a filosofia por meio de obras filmográficas facilita o entendimento dos
conceitos filosóficos e ajuda a incorporá-los em nosso cotidiano.
Palavras Chave: Filme Fahrenheit 451; Alegoria da caverna em Platão; Filosofia e Cinema.
FILOSOFIA E CINEMA: UMA ANÁLISE DO FILME “O DOADOR DE MEMÓRIAS” A PARTIR DA ALEGORIA DA
CAVERNA, DE PLATÃO: ASPECTOS GNOSIOLÓGICOS
Laura Beatris da Silva.
O artigo é um escrito incentivado pelo projeto de extensão Filosofia e Cinema no IF do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Paraná. O projeto tem como propósito estimular os estudantes à leitura e reflexão de textos filosóficos, além da
apresentação dessas obras ao público externo ao campus, principalmente nos locais em que é possível perceber uma
vulnerabilidade social. Este artigo tem como objetivo explicar didaticamente a teoria do conhecimento platônico a partir do mito
da caverna, exemplificando-o no filme intitulado “O doador de memórias” (2014), dirigido por Phillip Noyce. A metodologia é a
seguinte: inicialmente apresentar-se-á um breve relato do filme, não se preocupando, nesse momento, com as pontualidades das
cenas. Em seguida, explanar-se-á o mito da caverna, de Platão, apresentando as etapas do conhecimento humano, que iniciam pela
Doxa () e podem chegar à Episteme (). Feito isso, analisar-se-á o enredo do filme com base nos conceitos adquiridos
com o estudo da alegoria da caverna, ilustrando, com cenas pontuais do filme, as etapas do conhecimento antes explicadas. A
guisa de conclusão, enumerar-se-ão os pontos positivos que as relações entre cinema e filosofia podem trazer quando trabalhadas
concomitantemente em estudos introdutórios em filosofia.
Palavras Chave: Alegoria ou mito da caverna, de Platão; O doador de memórias; Cinema e filosofia; projeto de extensão.
FILOSOFIA: CONTEÚDOS OU ATITUDES? UMA MEDITAÇÃO A PARTIR DE HEIDEGGER.
Andressa dos Santos Cizini.
Heidegger indica em sua preleção Introdução à filosofia (1930) uma investigação acerca do ser em relação com o
filosofar/filosofia e também com a história desse ser, na qual predomina um estudo dirigido em face à ideia de ontologia. No
decorrer da sua investigação, Heidegger afirma que a princípio a introdução proporciona uma noção de estarmos “fora” da
filosofia, de tal modo que conduziria a total desconexão com a mesma. Mas essa afirmação não procede. Para o filósofo, mesmo
não possuindo uma compreensão abrangente da filosofia, não estamos totalmente a par dela, pois a filosofia é algo que nos
pertence e é o que há de essencial ao homem. Essa noção do ser está ligada a diferença ontológica que o ser tem perante aos
demais entes. O ente, a qual nos caracteriza o caráter essencial de humano, se chama ser-aí (Dasein). Essa noção tem relação direta
ao modo de ser do homem no mundo, que proporciona ligação à filosofia. Desse modo, Heidegger propõe explicitamente que: “ser
homem já significa filosofar” (HEIDEGGER, 2008, p. 3). A filosofia só é possível ao homem, ele é o único ente capaz de
filosofar. Sendo a filosofia o que é de essencial ao homem, não cabem aos demais entes o ato do filosofar, por ser uma atividade
de um ente finito, capaz de compreender os fenômenos do mundo. Partindo dos argumentos citados acima, podemos notar que,
além de ter como essencial o filosofar, é necessário se deixar introduzir pela filosofia, por isso é preciso entender como colocar
esse filosofar em prática. Esta explicação do filósofo parte da noção que em primeiro momento ela (filosofia) se encontra
dormindo em nós, sendo assim, o papel da introdução à filosofia é direcionar o ser ao campo de possibilidades filosóficas, fazendo
assim, despertar o filosofar da maneira mais livre possível, a fim de que a mesma se torne a principal atitude do presente instante
que se vincula com nossa existência. É esta atitude que irá colocar a filosofia em curso. É necessário reconhecer que essas
questões são de grande importância para a filosofia, exatamente por proporcionar uma investigação acerca do ser em relação com
o filosofar e também com a história desse ser. Devido a isso, a proposta inicial é abordar as relações do ser referente à filosofia, a
fim de ressaltar a importância da atitude do ser-aí no seu momento presente, que faz acontecer e despertar o filosofar que se
encontra dormindo em cada ser.
Palavras Chave: Ser-aí; Filosofia; Heidegger; Filosofar.
Área: Metafísica
NIETZSCHE E A CIÊNCIA EM O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA
Neomar Sandro Mignoni.
Trata-se de uma leitura acerca de O Nascimento da tragédia (1872) de Friedrich Nietzsche, na qual pretende-se explorar, a partir
das noções de apolíneo e dionisíaco, enquanto impulsos sustentadoras da tragédia grega antiga, a concepção teórica de mundo
oriunda da concepção socrática de mundo. Seguindo a própria argumentação do filósofo procura-se distinguir as noções de
apolíneo e dionisíaco procurando evidenciar que a morte da tragédia provocada pelo Sócrates moribundo reflete diretamente nas
noções de racionalidade e otimismo lógico daí advindas.
Palavras Chave: Ciência, Apolíneo, Dionisíaco, Arte trágica, Sócrates
O CETICISMO MONTAIGNIANO NA REFORMA PROTESTANTE: QUAL É O CRITÉRIO DO CRITÉRIO?
José Luiz Giombelli Mariani.
A crise intelectual provocada pela Reforma coincide historicamente com a redescoberta e a retomada do interesse pelos
argumentos dos antigos céticos gregos, com vista à sua aplicação nos conflitos Ou seja, inserindo-se na discussão sobre o
problema de se encontrar um critério de verdade no Renascimento, Popkin escreve que uma das principais vias por meio das quais
as posições céticas penetraram no pensamento do final do Renascimento foi uma disputa central na Reforma, a disputa acerca do
que seria padrão correto do conhecimento religioso, o que era chamado de ‘a regra da fé’. Este argumento levantava um dos
problemas clássicos dos pirrônicos gregos, o problema do critério de verdade (POPKIN, 2000). Na perspectiva de Montaigne, no
interior das divergências religiosas entre os cristãos acerca do critério para o estabelecimento da verdade da fé, cada parte tem a
presunção e a vaidade de se considerar a verdadeira, porque julga ter um critério de verdade indiscutível. Se estivéssemos de posse
de um critério de verdade, poderíamos encontrar as premissas de um sistema metafísico de conhecimento verdadeiro, o que, por
sua vez, nos fornece os fundamentos de um sistema físico de conhecimento verdadeiro. Mas é com isso, exatamente, que
Montaigne não concorda. Frente a isso, católicos e protestantes tinham as mesmas dificuldades em relação a estabelecer a verdade
indiscutível. Montaigne demole tanto a pretensão de verdade absoluta dos católicos quanto a dos protestantes. Em Montaigne não
há algo como uma verdade inaugural, um ponto inicial porque todo critério requer outro critério ad infinitum.
Palavras Chave: Montaigne, ceticismo, Reforma, epoché.
O CUIDADO COMO ESTRUTURA PRÉVIA DO SER-AÍ
Katyana Martins Weyh.
O presente trabalho pretende abordar o conceito de cuidado como estrutura originária do ser-aí, na filosofia de Martin Heidegger
(1889-1976). A investigação deste tema é orientada a partir do problema: como a estrutura ontológico-existencial do cuidado está
relacionada ao modo de ser do ser-aí? Diante deste, nosso principal objetivo é determinar qual a “relação” que a estrutura
ontológico-existencial do cuidado tem com o ser-aí, alem de compreender o cuidado por meio de sua tríplice estruturação:
existencialidade, facticidade e queda (decadência). A partir disso, buscaremos validar a hipótese de que o cuidado é um existencial
que se apresenta como a “essência” da existência do ser-aí. Assim, na fenomenologia heideggeriana, o conceito de cuidado é
compreendido como uma estrutura existencial (ontológica) do ser-aí, capaz de articular os seus demais existenciais constitutivos.
Desse modo, entendemos o cuidado como o modo de ser ontológico-existencial do ser-aí, ou seja, o ser-aí em seu existir é
essencialmente um cuidar, o cuidado. Em vista disso, buscaremos sustentar que o cuidado é um conceito central em Ser e Tempo
(2002) e encontra-se articulado com outros conceitos fundamentais da fenomenologia heideggeriana, como é o caso da angústia
(tonalidade afetiva fundamental), propriedade e impropriedade.
Palavras Chave: Heidegger; Ser-aí; Cuidado; Existencial; Fenomenologia;
Área: Metafísica
O SER-AÍ DE DESCARTES
Geder Paulo Friedrich Cominetti.
Heidegger parece insistir, em mais de uma obra, que os problemas filosóficos devem ser deixados de lado e que é tempo de se
pensar em questões filosóficas. A diferença entre ambos é que aos problemas bastam o estudo e a dedicação a um ou outro sistema
filosófico; já a questão se debruça sob as fendas do pensamento humano e repropõe a maneira de pensar o mundo e as coisas.
Embora essa tenha sido a proposta cartesiana, Heidegger encontra na filosofia do pensador francês vestígios inconfundíveis de
uma tradição que insistiu em ver o sujeito por seu "exterior". Heidegger acusa Descartes - embora lhe resguarde todos os méritos
de alguém digno de nota - de insistir em ver na "essência" do homem um quê de fixo, de imutável. Descartes parece apenas
recauchutar a maneira de pensar da Grécia antiga, pois mantém em seu sistema a noção de substância, apenas dando-lhe uma nova
"roupagem". O homem não é mais visto como animal racional, mas sim como uma mistura entre corpo e alma. Ocorre que o
homem racional aristotélico, diz Heidegger, não é o homem racional do medievo. Os conceitos de alma e espírito não traduzem
fielmente o que o berço grego entendia como . Para Heidegger, a concepção de "alma" em Descartes remete a um "centro de
atos" cujo cerne é algo de imutável, assim como para os pensadores medievais. Nada mais distante que a concepção de Ser-aí
heideggeriana, que sequer se serve do conceito de "ato". Para Heidegger, o Ser-aí não está descolado do mundo e não se pode
reduzir a realidade aos conceitos de matéria ou imatéria. Se o Ser-aí pode ser elucubrado, então o é a partir de sua experiência mais
originária, isto é, na vida fática. Embora o Ser-Aí se mostre como sempre como um ente, este nada tem de imutável. O que
permanece aí não é um "centro de atos", mas uma transcendência que revela múltiplos sentidos, sendo cada sentido atribuído a
uma ocasião do Ser-aí. O artigo que apresentaremos investiga a possibilidade de se ver o "eu meditante" de Descartes como um
Ser-aí heideggeriano. Para tanto, precisaremos desenvolver a noção de "mundo" em Heidegger e levantar as pistas que apontam à
possibilidade do questionamento. Dentre elas estão o fato de Descartes não se utilizar do termo "sujeito" em sua obra, o fato de ele
determinar um sentido preciso ao "eu meditante" e o fato de ele reservar o conceito de substância apenas a Deus. Se o "eu
meditante" de Descartes se enquadrar aos moldes do Ser-aí de Heidegger, ter-se-á não apenas uma nova interpretação do cogito
cartesiano, mas sim um grande esclarecimento acerca dos principais conceitos heideggerianos.
Palavras Chave: A noção de Sujeito em Descartes; A noção de Ser-Aí em Heidegger; Hermenêutica da facticidade.
O SUMO BEM DE KANT: UM ARGUMENTO TEOLÓGICO MORAL FILOSÓFICO, TEOLÓGICO BÍBLICO
CRISTÃO OU GREGO PAGÃO ESTOICO?
Vanessa Brun Bicalho.
A proposta da Segunda Crítica, em solucionar os “problemas da razão” pela evidência da consciência do incondicionalmente
prático (Faktum der Vernunft), como fundamento da lei moral e da possibilidade da razão pura pela ideia de Liberdade, não
resolve todos os problemas daquele domínio inteligível da razão. Ao admitir um fim último como objeto da lei moral, Kant recai
num novo e difícil problema: o Sumo Bem, como objeto resultante da ligação sintética a priori entre virtude e felicidade. Esta
dificuldade, no entanto, não se apresenta isoladamente, Kant precisará recorrer aos postulados da Razão Pura Prática, já que sem
uma justificativa a tais postulados, Sumo Bem, Liberdade e Lei Moral revelam-se como promessas completamente vazias. Para
fugir do desmoronamento daquele projeto de se pensar uma Filosofia Prática (que sob o conceito de liberdade é) concebida como a
pedra angular de todo o edifício de um sistema da razão pura, Kant recorre a um argumento, diria inusitado, de uma teologia moral
pensada em consonância com (i) argumentos puramente racionais - filosóficos, (ii) propósitos religiosos e (iii) releituras estoicas.
Palavras Chave: Kant, estoicismo, sumo bem.
OS GRAUS DO AMOR NO BANQUETE DE PLATÃO
Kimberly Dinnebier Bandeca; Luciano Carlos Utteich.
O presente trabalho tem por objetivo explanar o conceito de Amor tal como exposto por Diotima no diálogo O Banquete, de
Platão, visando distingui-lo em cada uma de suas gradações. Tomaremos a vida da personagem Sidarta, do livro Sidarta, de
Hermann Hesse, para propor uma consonância das fases de vida da mesma com alguns dos degraus do amor apresentados por
Diotima. Diante disso, nosso principal objetivo é determinar quais são as possíveis relações das gradações do Amor com as
experiências de vida da personagem Sidarta. Desse modo, em uma visão que toma o conceito geral de amor como uma eterna falta,
apresentada ainda na obra O Banquete, tomamos a busca iniciática da personagem Sidarta, que por meio de seu sentimento de
carecer sempre do que não se tem, age em busca de uma unidade e plenitude do ser. Esta unidade e plenitude que almeja a
personagem pode relacionar-se com o sétimo e último grau do amor tipo por Platão, a saber, a possibilidade de contemplar o Belo
Área: Metafísica
em si, sem máscaras, o real. Poderemos ver então se a personagem Sidarta passará ou não por todos os degraus do amor
explicitados em O Banquete.
Palavras Chave: Amor; Hesse; Plenitude
OS MODOS DO TEMPO E A TEMPORALIDADE ORIGINÁRIA EM HEIDEGGER
Neusa Maria Rudek Onate.
A existência humana (não no sentido antropológico ou psicológico) não é uma mera projeção temporal, isto é, a estrutura temporal
do ser-humano é a própria unificação das modalidades temporais. As modalidades ou modos temporais, segundo Heidegger, são
caracterizados por três distintos conceitos de tempo: temporalidade originária, tempo do mundo e o tempo vulgar. “Tempo não
possui o tipo de ser de alguma outra coisa, mas ao contrário se temporaliza (Zeitligt). O temporalizador (Zeitligen) constitui sua
temporalidade (Zeitlichkeit)” (HEIDEGGER, 1976, p. 410). Dizer que o tempo se temporaliza, significa dizer que o tempo funda a
si mesmo segundo distintos modos; tempo não é um ser, tempo é a própria condição de possibilidade. “[...] não apenas o tempo
gera modos de si mesmo, com características próprias e modificáveis, como estes modos são produzidos a partir de modificações e
complexificações nas estruturas dos modos temporais mais básicos” (REIS, 2005, p. 108). A estrutura temporal explicita o
significado de interpretação, ou seja, é a elaboração de uma compreensão, pois possibilita a compreensão do ser do ser-humano e
qualquer modalidade de ser, por isso Heidegger a define como a perspectiva de projeção que viabiliza a compreensão de qualquer
modo de ser possível. Heidegger apresenta em Ser e tempo as relações de modificação estrutural dos três modos do tempo, que
são: a temporalidade originária, o tempo do mundo e o tempo vulgar. O tempo que se pretende abordar aqui é a temporalidade
originária. A temporalidade originária não é um tempo interno ou subjetivo, e muito menos uma sequência serial, portanto, é
completamente distinta do tempo que compreendemos como interno e que deriva de uma consciência. A temporalidade originária
não é uma estrutura da percepção e tampouco uma estrutura que organiza as representações, não é o tempo relativo de Einstein,
nem o tempo da Natureza desenvolvido por Aristóteles, não é o tempo cíclico do relógio. " ‘O tempo’ não é subsistente nem no
‘sujeito’ nem no ‘objeto’, não está ‘dentro’ nem ‘fora’, mas ‘é’ ‘anterior’ a toda subjetividade e objetividade, porque ele representa
a própria condição de possibilidade para este ‘anterior’" (HEIDEGGER,1986, p. 419). A temporalidade originária não pode ser
expressa em termos seriais ou sequenciais. A temporalidade originária é uma multiplicidade unificada de momentos estruturais
denominada como “ekstases”. Em O conceito de tempo (2008), Heidegger explica que os ekstases temporais (multiplicidade
unificada de momentos estruturais) são identificados pelos termos usuais: passado (Gewesenheit), presente (Gegenwart) e futuro
(Zukunft), contudo, não se pode compreender estes termos em sentido usual, pois os ekstases não são sequenciais, assim como a
temporalidade originária não o é. O sentido usual de passado, presente e futuro indica uma relação de antes, durante e depois,
portanto, uma sequencialidade que não pode ser atribuída aos ekstases. A caracterização apropriada para a temporalidade
originária é ekstática, ou seja, horizontal e finita. Ela é temporalização de si mesma porque se temporaliza pela unificação dos
momentos ekstáticos. Expor o essencial de tais ekstases e de seus vínculos instauradores, é o que se almeja neste trabalho.
Palavras Chave: Heidegger; Modos do Tempo; Temporalidade Originária.
PROPRIEDADE E SER-PARA-A-MORTE UM DIÁLOGO ENTRE SER E TEMPO E A MONTANHA MÁGICA
Suellen Dantas Godoi.
Nosso propósito é aproximar duas obras alemãs dos anos 1920: A Montanha Mágica (1924), de Thomas Mann, e Ser e Tempo
(1927), de Martin Heidegger. Há muitos pontos de encontro entre a analítica do Dasein e a história do protagonista Hans Castorp
em sua estada nos Alpes suíços. Neste trabalho, indicaremos apenas eixos gerais de intersecção. Apesar da proximidade temporal
das publicações, cercadas pelo mesmo cenário político dos anos 1920, restringir-nos-emos à narrativa da vida do jovem
hamburguês – “que nos parece em alto grau digna de ser relatada” (MANN, 1980, p. 9). Sobre ela, faremos incidir a analítica
heideggeriana do Dasein, notadamente sua unidade como ser-para-a-morte e o modo como, a partir dessa constituição existencial
do "ente que somos", abre-se o sentido próprio de temporalidade. A interpretação projeta uma resolução quanto ao tema da
propriedade, em Ser e Tempo. Estará em jogo a análise da experiência de Hans Castorp sobre existência e tempo, sob o que
Heidegger nomeia "decadência" (peculiar à "cotidianidade mediana"), bem como a passagem dessa interpretação da existência
"impessoalmente" experimentada rumo à exposição do "poder-ser mais próprio", assumindo a estranheza da Angústia e
antecipando a morte como possibilidade privilegiada. Nossa tarefa é mostrar como se dá semelhante comportamento para com a
morte, se o Dasein é ontologicamente articulado em um "mundo" e compreende a existência desde o Impessoal. Em A Montanha
Área: Metafísica
Mágica, a via que escolhemos para mostrar como a decadência fecha o Dasein para seu si-mesmo próprio será a da observação do
modo de vida dos pensionistas no sanatório Berghof, inclusive o “novato” Hans Castorp. Distantes das ocupações a que estavam
acostumados na planície, quase apátridas, distantes das raízes de toda e qualquer segurança cotidiana, os hóspedes são levados a se
familiarizarem com a “não-familiarização” da montanha. No sanatório, a contagem do tempo é irrelevante, faltam caracteres que
identifiquem a sucessão dos dias – só há neve. As unidades cronológicas de medida são alargadas e estendidas; a menor unidade é
a semana. Nada pode perturbar a “tão confortável e tão bem regulamentada vida do Berghof, de curso monótono em seus estreitos
limites” (MANN, 1980, p. 233) – nem doença e morte, tão recorrentes. Nesse vale, “onde os mortos levam uma existência irreal,
desprovida de sentido”, só há os que “caíram muito baixo” (MANN, 1980, p. 70). A partir desse cenário, exporemos a
autointerpretação ontológica do Dasein no modo do Impessoal, procurando indicar como apenas desde esse solo pode encontrar-se
ou perder-se. Será especialmente relevante contrapor o “exitus”, interpretação do ser-para-o-fim cotidiano imperante no Berghof,
ao conceito existencial de morte, possibilidade mais própria e irremissível do Dasein. Por meio das relações entre o protagonista e
as personagens Settembrini, Chauchat e Ziemssen, ilustraremos os fenômenos de apelo da consciência, angústia, cuidado, morte e
temporalidade, centrais na analítica do Dasein. A pergunta norteadora deste escrito será assim formulada: É a realidade do tempo
aberta somente ali onde a decisão sobre quem somos é possível para além da resposta fundada “neste mundo e nesse eu aí
presentes”?
Palavras Chave: Heidegger; Mann; Ser-para-a-morte; Propriedade;
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