Resumos do Evento XXI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea XXISimp Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE Campus de Toledo Toledo, PR 2016 Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem A FÍSICA CONTEMPORÂNEA POR GASTON BACHELARD, MAX PLANCK E NIELS BOHR David Velanes de Araújo. As descobertas que ocorreram na Física, no início do século XX, são apontadas por filósofos e cientistas como um marco de mudanças epistemológicas. Gaston Bachelard, filósofo francês, apresentou em seu conjunto de obras epistemológicas os impactos dessas descobertas como fatos que instituíram uma nova época de pensamento, a saber, um novo espírito científico. Entre os cientistas deste mesmo século, pode-se citar Max Planck e Niels Bohr como autores que perceberam as novidades trazidas pela física da qual eles mesmo foram protagonistas. Efetivamente, tais descobertas, como por exemplo, o quantium elementar de ação, a Teoria da Relatividade, e as partículas mais diminutas dos átomos (corpúsculos), contribuíram para uma mudança acerca da representação de mundo da qual fornecia a física clássica. Esta é apresentada por Max Planck como uma ciência onde os conceitos do qual se utilizava para representar o mundo tinham como ponto de partida as percepções sensoriais. Na perspectiva de Max Planck e de Gaston Bachelard, a física contemporânea se trata de uma ciência que rompeu nitidamente com a experiência comum. Esta ideia bachelardiana se refere às noções ingênuas que se derivavam da experiência sensível e que tinha como ponto de partida a vida corriqueira, porque o conhecimento científico se encontrava intrinsecamente ligado ao senso comum. Parece que ambos os autores concordam que a física clássica se sustentava em bases simplistas, mas que romperam com essas bases na época contemporânea. Gaston Bachelard ressaltou de maneira semelhante às ideias de Niels Bohr em relação à atomística contemporânea, isto é, de que as concepções contemporâneas de investigações acerca da natureza dos átomos não tem nenhuma correlação histórica. A atomística contemporânea se trata, com efeito, de um fato totalmente inédito na física. Conforme Bohr e Bachelard, as noções realistas da física clássica, oriundas das percepções sensíveis, não podem servir para as explicações contemporâneas sobre as propriedades dos átomos. A nova Física se sustenta em um novo espírito científico, que estabelece o modelo teórico-matemático como ponto de partida para a experiência, e não mais a observação imediata acerca do fenômeno. O objetivo deste trabalho é discutir junto a Gaston Bachelard, Max Planck e Niels Bohr, algumas considerações acerca das características da nova Física, que está precisamente na desvinculação do caráter sensualista nesta ciência. Sustentar-se-á que esta ciência rompeu com os conceitos e intuições que tinha como ponto de partida o mundo sensível ao estabelecerem um novo tipo de realidade científica própria do século XX. Palavras Chave: Bachelard; Física; Epistemologia; Planck; Bohr. A SUBJETIVIDADE NA ACEITAÇÃO DE TEORIAS CIENTÍFICAS Murilo Morato Santos. Resumo não informado pelo autor. Palavras Chave: Filosofia da ciência; Teorias da aceitação; Teoria científica A TEORIA DOS ATOS DE FALA EM AUSTIN Luiz Claudio Inocêncio. [email protected] RESUMO O tema proposto para essa apresentação refere-se as conferências de John Langshaw Austin na obra “Quando dizer é fazer: palavras e ações”. Aonde Austin reelabora de forma abrangente a análise da linguagem. Nessa abordagem serão analisados A teoria dos Atos de Fala, assim Austin irá se confrontar com a tradição refutando algumas formas de se conceber o processo analítico. E a partir desse confronto irá propor uma nova maneira de analise da linguagem pautada na ação, ou seja, a linguagem será analisada dentro de um determinado contexto social, o sujeito interagindo com o meio social. O que permeia todo esse novo horizonte não é mais somente uma analise semântica entre sentido e referência, que produz uma verdade ou falsidade. Mas para alem disso, outros elementos passam á ser considerados importantes, o sujeito, á fala, as convenções, o meio aonde o ato de fala está sendo empregado em um determinado contexto. Nesse novo horizonte é que Austin irá introduzir a distinção das dimensões dos atos de fala, locução, ilocução e perlocução. Assim o sujeito passa a ter um papel importante nesse contexto ao qual ele se encontra inserido. E a partir desse processo de investigação nos é propiciado novos elementos para uma nova forma de abordagem da linguagem através do agir em um contexto social. Nesse sentido a ação aparece como elemento central para compreender esse novo processo na presente obra de Austin. REFERÊNCIAS AUSTIN, Jonh Langshaw; Quando dizer é fazer; palavras e ação. Tradução de Danilo Marcondes de Souza Filho\ Porto Alegre: Artes Médicas; 1990. Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem Palavras Chave: Linguagem; Locução; Ilocução; Perlocução; AS CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO, SUJEITO E SOCIEDADE: UMA DISCUSSÃO EPISTEMOLÓGICA Veronice Alves de Souza. Esse trabalho foi desenvolvido com o intuito de apresentar uma discussão teórica no XXI Simpósio de Filosofia Moderna e Contemporânea da UNIOESTE - Campus Toledo, uma “conversa” aguçada entre as três grandes matrizes teóricas de todos os tempos: o positivismo, a fenomenologia e o materialismo histórico. Não temos pretensão alguma em esgotar o assunto, ou apresentar soluções para tais questionamentos, porém buscaremos, dentro da apresentação das abordagens específicas de cada teoria tornar mais compreensível as concepções de Educação, Sujeito e Sociedade; objetos centrais dos debates no campo da pesquisa em Educação. De maneira simples procuraremos apresentar os conceitos elementares de cada matriz epistemológica procurando contribuir com as discussões acerca da realidade que cerca os saberes no campo da educação. Os principais autores que traremos à discussão são: na vertente positivista, Augusto Comte e Émile Durkheim; na fenomenologia, George Simmel e Max Weber; no Materialismo Histórico Karl Marx & Engels e István Meszáros. A título de conclusão podemos apresentar que, se o processo de produção do conhecimento está relacionado ao conhecimento das ciências, suas mudanças, seus objetivos e objetos nos desdobramentos sociais que os questionamentos da vida foram se estabelecendo historicamente entre os homens; um posicionamento emerge de forma elementar: quanto mais condições de apreensão da realidade, através do conhecimento das relações humanas no desenvolvimento da vida em sociedade, mais condições teremos de conhecer a realidade tal qual ela está constituída. Palavras Chave: Epistemologia, Positivismo, Fenomenologia e Materialismo Histórico Dialético AS CONTRIBUIÇÕES DE CARL MITCHAM PARA A FILOSOFIA DA TECNOLOGIA Alexandre Klock Ernzen. O livro de Carl Mitcham Thinking Through Technology foi escrito para ser uma introdução crítica à filosofia da tecnologia, disciplina relativamente nova para as ciências humanas. Mitcham, que já foi presidente da Society for Philosophy of Technology (SPT), é um dos autores renomados desta “disciplina”. O livro, de caráter introdutório, apresenta uma leitura não linear da filosofia tecnologia que extrapola os limites de uma simples introdução rumo à uma obra completa por suas importantes contribuições. Ela nos dá uma visão panorâmica geral de toda a filosofia da tecnologia e se torna forte aliada dos pesquisadores devido à sua rica quantidade de informações. O livro é dividido metodologicamente em duas partes, cada uma delas com suas peculiaridades. Ao pensar “por entre” a tecnologia, em um movimento de passagem da própria tecnologia para a filosofia, o autor pretende mostrar que, muito embora a filosofia não seja natureza tecnológica, ela pode ser um elo de ligação com a tecnologia para uma possível análise mais ampla. Esta análise não pode ser realizada, no entanto, com elementos tecnológicos. A possibilidade de analisar a tecnologia por um viés “não-tecnológico” torna-se uma via interessante. A primeira mudança significativa é que o próprio conceito de tecnologia muda, pois, inclusive sistemas teóricos serão considerados “tecnológicos”. A conclusão do livro é fantástica já em seu título, “Continuando a pensar sobre tecnologia”. A ideia central do livro foi “pensar sobre tecnologia, por meio de uma via que não exclui o discurso da engenharia”. Os estudos de filosofia e tecnologia são necessários para fazer evidente uma “guerra” entre duas áreas distintas que debatem o mesmo assunto. Tanto filosofia quanto engenharia podem falar sobre “tecnologia”, apesar que, segundo Mitcham, a primeira possui melhores condições de contribuir com a segunda, dada sua natureza teórica, muito embora os exemplos e as contribuições dos engenheiros sejam importantes e não devem ser tomadas como dadas. O que se pretende aqui é não é desmerecer a EPT (Engineering Philosophy of Technology), ao contrário, é demonstrar que HPT (Humanities Philosophy of Technology) objetiva tomar a tecnologia seriamente através do discurso da filosofia, tornando a análise profunda e séria. Isto significa tratar da tecnologia por completo, ou seja, experiência e prática aliada à teoria. É importante destacar que se pode falar de tecnologia de várias formas. A filosofia pode ser a ponte que pode ligar a filosofia da tecnologia das humanidades com a filosofia da tecnologia das engenharias. Apenas a filosofia da tecnologia é transformada em estudos de filosofia e tecnologia e pode realizar totalmente este ideal de entendimento da tecnologia. Segundo Mitcham, o que é preciso é mais conhecimento sobre ciência e tecnologia e suas relações sociais assim que as pessoas podem agir mais efetivamente para realizar seus fins. “Os problemas da tecnologia serão resolvidos não com menos tecnologia, mas com mais e melhores tecnologias”. PALAVRAS-CHAVE (entre 3 e 6): Resumo; Felicidade; Normas e exemplos; (Palavras-chave separadas por ponto-e-virgula.) REFERÊNCIAS MITCHAM, Karl. Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem Thinking Through Technology: the path between engenieering and philosophy. Chicago: Chicago Press: 1994. ATIVIDADES PRÁTICAS NO ENSINO DE HISTORIA: DISCUTINDO EXPERIENCIAS E POSSIBILIDADES Victor Antonio Melo Silva; Vinicius Boaretto Kaefer. O presente trabalho tem como objetivo apresentar resultados e reflexões desenvolvidas no grupo de estudos do projeto PIBID – História da Universidade Estadual do Oeste do Paraná 2014/2016, campus de Marechal Cândido Rondon, orientado pela Profª. Drª. Aparecida Darc de Souza. Dentre os trabalhos desenvolvidos destacamos a atividade prática realizada na oficina de Antiguidade Clássica – Eixo: Democracia Ateniense, aplicada no dia 25 de agosto de 2016 com a turma do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Marechal Rondon, na cidade de Marechal Candido Rondon PR. O projeto Pibid tem como base o método dialógico de Paulo Freire no qual o aluno é encarado como um sujeito histórico portador de uma visão de mundo e carregado de experiências individuais e coletivas de sua realidade. Para esta análise utilizamos a categoria experiência evidenciada por Thompson em sua obra A miséria da teoria ou um planetário de erros (1981). Iremos discutir com mais ênfase a atividade prática onde foi realizada uma representação da assembleia democrática ateniense (Eclésia), na forma de um jogo narrativo. Temos como objetivos debater esta experiência e apontar limites e possibilidades no que diz respeito a elaboração e aplicação de atividades práticas no ensino de História, utilizando elementos lúdicos e trabalhando a realidade vivida pelos alunos dentro da atividade. Palavras Chave: Atividade Prática; Ensino de História; Experiência. O PROBLEMA SEMÂNTICO NA FILOSOFIA DA MENTE DE PAUL M. CHURCHLAND Robson Martins do Amaral. Esse trabalho propõe um estudo do chamado "Problema Semântico", como é conhecida na Filosofia da Mente a dificuldade em precisar o processo de significação dos estados mentais. Partindo da multiplicidade das questões filosóficas ligadas ao problema da mente, a motivação inicial que levou a escolha desse tema em específico está ligada diretamente ao trabalho do filósofo canadense Paul M. Churchland, o qual analisa o "Problema Semântico", entre outras questões relacionadas, em seu livro "Matter and Consciousness: A Contemporary lntroduction to the Philosophy of Mind" de 1984. Entendendo a semântica como o estudo do significado das palavras e de sua evolução histórica ou, em um sentido mais específico, das relações das palavras com os objetos que designam, o estudo da semântica pode ser tratado, assim, tanto do ponto de vista filosófico - que centraliza principalmente a análise das relações entre as palavras e seus objetos, e na determinação de conceitos tais como significado, nominação, literalidade e verdade, como do ponto de vista linguístico - que se ocupa da problemática das relações entre pensamento, linguagem e significado, e almeja designar o papel da semântica enquanto elemento linguístico. Num primeiro momento, é importante entender a relação que o autor faz, em sua Filosofia da Mente, entre o problema semântico e o chamado problema ontológico, pois os dois problemas estão estreitamente associados. O primeiro problema refere-se à questão de onde os termos que utilizamos frequentemente para representar os estados mentais alcançam o seu significado. Enquanto o segundo problema é uma questão sobre quais coisas de fato existem e qual a sua natureza essencial (no que se refere à mente, consciência, alma, etc). Feito isso, nos colocamos diante de uma das questões fundamentais do "Problema Semântico": a ostensão interior. Essa é a descrição do processo de introdução de um termo, ou expressão, no vocabulário de alguém a qual Churchland chama "concepção-padrão" e que, segundo nosso autor, não pode ser uma explicação completa da significação dos predicados psicológicos, pois muitos estados mentais, dirá ele, não apresentam nenhum caráter qualitativo e entre os estados mentais que estão relacionados aos qualias (qualidades subjetivas das experiências mentais conscientes) nem todos os tipos tem um quale uniforme. Outro ponto levantado pelo autor são as definições operacionais (estruturas por meio das quais poderia ser explicitado o significado dos termos mentais) ponto esse que parte do behaviorismo filosófico (positivismo lógico) o qual não seria uma teoria sobre o que são os estados mentais em sua natureza interior, mas sim um princípio de como averiguar ou entender o vocabulário que usamos para falar sobre eles. Além disso, o "Problema Semântico" nos leva a chamada teoria da "rede de leis", segundo a qual, os termos teóricos extraem seu significado de definições explícitas e isoladas que estabelecem as condições necessárias e suficientes para a sua aplicação. Palavras Chave: Paul Churchland - Semântico - Área: Epistemologia/Filosofia da Ciência/Filosofia da Mente/Filosofia da Linguagem REFUTAÇÃO KANTIANA DO IDEALISMO PROBLEMÁTICO DE DESCARTES Juliana Gilo Tiberio. A presente comunicação tem por objetivo expor o argumento kantiano da Refutação do Idealismo. Na estratégia desse argumento Kant mostra que a experiência interior, aquela em que o idealismo material cartesiano se assenta e sobre a qual, em seguida, se apoia para desenvolver a hipótese cética a propósito do mundo exterior – é impossível sem a experiência exterior. Na situação de responder, mediante um modelo rigoroso de prova, à questão da existência das coisas exteriores à consciência, Descartes admitiu haver somente “[...] uma fortíssima inclinação para crer que elas [as ideias das coisas exteriores e corporais] me são enviadas pelas coisas corporais ou partem destas [...]”(Meditações Metafísicas, VI, parágrafo 30, p. 143). O levantamento dessa suspeita aparece, segundo Kant, como o falso problema do “mundo exterior” e como um escândalo da Filosofia. Na medida em que a experiência interna (intuição temporal) só pode ocorrer a partir da experiência externa (intuição espacial), a tentativa de defender a realidade (externa) de nossas representações fenomênicas só a título de “crença” mostra quanto o argumento cético se baseia num idealismo sonhador (problemático). A possibilidade de a intuição de um objeto se dar fora de nós (espaço) está intrínseca e constitutivamente ligada à possibilidade de intuir algo na nossa mente (tempo). O conhecimento objetivo de algo tem seu começo pela intuição empírica (fenômeno), isto é, no espaço, sem cujo conteúdo não haveria nada para a mente “pensar” ou mesmo “determinar”. Alicerçado o caráter real dos objetos em nossa capacidade de sermos afetados, a omissão cética da dimensão espacial (forma pura do espaço ou sentido externo, como denomina Kant) torna impossível toda tentativa de fazer juízos sobre qualquer objeto. A principal fonte na CPR para resolver ou dissolver esse falso problema, Kant a exibe como a Estética transcendental da CRP. Acompanharemos seus principais passos argumentativos, na demonstração de que tanto o espaço quanto o tempo são formas puras a priori do sujeito, só em virtude do qual o conhecimento objetivo se torna possível para nós. PALAVRAS-CHAVE: Refutação do Idealismo, sentido externo/interno, espaço, tempo. REFERÊNCIAS KANT, IMMANUEL. Crítica da Razão Pura. Trad: Fernando C. Mattos. 4º Ed – Editora Vozes, 2012. KLOTZ, HANS C. A Refutação do Idealismo: Problema, Objetivo e Resultado do Argumento Kantiano. Universidade Federal de Goiás. In: KLEIN, Joel T. (Org.) Comentários às obras de Kant: Crítica da Razão Pura. Florianópolis: NEFIPO, 2012, pp. 415-434. Disponível online (10/10/2016): http://www.nefipo.ufsc. br/files/2012/11/comentarios1.pdf Palavras Chave: Refutação do Idealismo, sentido externo/interno, espaço, tempo. SOBRE A QUESTÃO DA AUTONOMIA DA CIÊNCIA Douglas Antonio Bassani. Esta análise procura analisar filosoficamente as formas de autonomia da ciência, começando pela proposta de Galileu Galilei no século 17, passando pela concepção de autonomia do final da segunda guerra mundial com Vannevar Bush e pela concepção defendida no início da década de 70 com a autonomia neoliberal. O tema se mostra pertinente filosoficamente, uma vez que trata do desenvolvimento histórico da ciência e mapeia o debate filosófico da autonomia da mesma, apontando para a importância de destacar os valores cognitivos do "fazer" científico, reduzindo as chamadas "pressões externas" ou "interferências externas" no desenvolvimento das pesquisas científicas. Podemos dizer que a autonomia da ciência começou a ser seriamente debatida na filosofia a partir da questão sobre "Fatos e Valores" no início do século 17. Nessa época o debate era de que a ciência deveria preservar os valores cognitivos e desprezar valores sociais, ideológicos, religiosos, financeiros, etc., que pudessem persuadir o cientista a tomar essa atitude ou aquela a partir desses últimos. Galileu entendia que desenvolver as teorias científicas era uma tarefa que exigia atenção aos fatos da experiência, compreensão dos mesmos e estabelecimento de um arcabouço teórico que pudesse dar conta de descrever algum fenômeno novo. Em algumas obras de Galileu aparece a reivindicação de uma ciência autônoma, livre das pressões sociais ou de interferências da Igreja nos seus resultados, ou seja, os resultados obtidos pela ciência deveriam preservar a autonomia da razão do cientista, e não ser submetido a uma espécie de "tribunal" que julgasse o que poderia ou não ser publicado e divulgado. Mais do que isso, onde o "tribunal" determinasse qual pesquisa deveria ser feita e qual deveria ser abandonada. Mostraremos que a autonomia para a ciência reivindicada por Galileu perdurou durante um tempo, mas que após a segunda guerra mundial duas outras formas de autonomia da ciência surgiram. O debate sobre essa questão e as principais diferenças entre as diferentes formas de autonomia da ciência será o objetivo da exposição. Palavras Chave: Autonomia da Ciência; Galileu Galilei; Vannevar Bush. Área: Estética A DISTINÇÃO ENTRE PROSA E POESIA EM SARTRE Fernando Alves Silva Neto. O presente texto possui como objetivo apresentar a diferença entre prosa e poesia em Sartre, a partir da leitura da obra Que é Literatura?. Com isso, pretendemos reconstruir a argumentação sartreana a respeito da poesia, que diz respeito a mesma não pertencer as artes-significantes, assim, não podendo ser caracterizada como uma arte engajada. Já que, para Sartre, a finalidade da poesia se encontra na contemplação, pois cria para si uma realidade “mística”, na qual a fala deve ser seguir de encontro com o poema, pois ele deve ser o primeiro motor da fala, ou seja, aquele que proporciona o movimento da fala. Por esse motivo a poesia visa uma finalidade diferente da prosa, uma vez que a finalidade da prosa é a comunicação, em Sartre, as palavras não são entidades abstratas que representam algo, mas são frutos de uma atividade natural do homem, visto que não há linguagem pura que possua um sentido completamente contemplativo, já que a linguagem advém do sujeito que a profere como uma ação comunicativa, e por ser comunicativa torna-se uma arte engajada. Portanto, para que possamos alcançar a compreensão da “finalidade” de cada arte, para assim entender como é estabelecida a distinção entre prosa e poesia, nossa investigação se voltará também artigos de Situações I, nos quais Sartre já havia realizado comentários sobre a poesia, e neles exposto a situação da poesia da poesia no século XX. Palavras Chave: engajamento; fenomenologia; literatura. KANT E OS QUATRO MOMENTOS DO JUÍZO ESTÉTICO NA ANALÍTICA DO BELO Tamara Havana dos Reis Pasqualatto. Kant estabelece a “Analítica do belo” com base no fio condutor dos seguintes momentos – que seguem claramente a divisão estabelecida na tábua das categorias: qualidade, quantidade, relação e modalidade, obtendo assim uma quadrupla determinação do belo. No primeiro momento Kant analisa o desinteresse, no segundo, a universalidade subjetiva, no terceiro, a finalidade sem fim, e por último, no quarto momento, a necessidade exemplar. A tese principal do primeiro momento é o desinteresse, característico do juízo de gosto. Assim, para saber se uma obra é bela, no juízo de gosto não pode estar presente nem o mínimo interesse pela existência do objeto e tal juízo tem que ser proferido de modo absolutamente imparcial. No segundo momento do juízo de gosto temos que: embora o ajuizamento de uma coisa como feia ou bela seja realizado sem conceitos objetivos, ele pode ser, segundo a quantidade universalmente válido. Se o momento anterior concluiu que o belo é um objeto da complacência independente de todo interesse, disso decorre que a complacência não se funda sobre qualquer inclinação do sujeito e por isso não é possível descobrir nenhuma condição privada como fundamento da mesma, mas ao contrário, a complacência deve ser fundada naquilo em que um sujeito também pode pressupor em todo outro. O terceiro momento do juízo de gosto trata da relação dos fins que é considerada neste juízo. Ele inicia com uma definição a partir da qual é possível concluir que: fim é um conceito ou representação que precede o objeto e que essa relação existente entre o conceito e o objeto é entendida como uma causalidade, visto isso, a “finalidade” consistiria justamente nessa relação de causalidade entre um conceito e seu objeto. O último momento, segundo a modalidade da complacência no objeto tem por principal tema a busca de um sentido comum como condição da necessidade a que pretende um juízo de gosto. É possível admitir com razão a pressuposição de um sentido comum pois se um conhecimento pode comunicar-se universalmente, então também o pode o estado de ânimo que o acompanha, pois, como já foi dito, a comunicabilidade universal de um sentimento pressupõe um sentido comum e este sentido comum é o efeito que se origina do jogo livre de nossas faculdades de conhecimento. Assim, conclui-se a analítica do belo com a resolução de que o belo é o que é conhecido sem conceito como objeto de uma complacência necessária. Palavras Chave: Kant; Estética; Belo NIETZSCHE E O "GRANDE ESTILO" EM CREPÚSCULO DOS ÍDOLOS Ramon Corrêa da Costa. O “grande estilo” é, sem dúvida alguma, uma noção de legítima importância para o legado nietzschiano. Ciente dessa importância, acreditamos que tal noção merece pesquisas mais detidas, como a que ora aqui empreendemos. Desenvolvida ao longo da vida produtiva de Nietzsche, como podemos notar nas recorrentes referências em várias de suas obras, a temática do “grande estilo” encontra-se em grande parte inserida no contexto da chamada filosofia madura do filósofo e, portanto, se relaciona a outros conceitos do período de tal forma que para ser melhor compreendida se faz necessário investigá-la na relação com eles, sobretudo aqueles decorrentes do projeto filosófico de maturidade, nomeadamente às noções de décadence, transvaloração de todos os Área: Estética valores, vontade de potência, sabedoria trágica, dionisíaco, e é desta forma que buscamos proceder no andamento de nossas investigações. Tal fato nos dá uma ideia da abrangência e complexidade do problema em questão. Assim, propomos, primeiramente, tematizar o problema caracterizando de forma introdutória os possíveis sentidos de “grande estilo” para, a partir daí, tentar relacioná-lo a outros elementos teórico-especulativos. Acreditamos que uma análise mais detida na obra Crepúsculo dos Ídolos é fundamental, pois além desta noção ser um elemento fundamental para os propósitos do último Nietzsche, com destaque a transvaloração, é onde possivelmente encontramos a definição mais acabada do “grande estilo”. A referida obra nietzschiana, que tem como bojo o diagnóstico de uma situação de decadência da cultura moderna, lança o convite a um “esforço de guerra”, uma luta a ser travada ante o que está posto: os valores da décadence. Nietzsche, assim, assume essa “missão” acenando para a possibilidade de uma saída do estado decadente e, nesta direção, aponta para determinados “tipos” de constituição “saudável”, “homens de força”, “robustos”, que nos dão indicativos ao conceito de “grande estilo”. Assim sendo, nossa proposta de pesquisa, de nos ocupar com a investigação dos possíveis significados de “grande estilo”, nos permitiu, ao mesmo tempo, e intencionalmente, refazer o caminho diacrônico desta noção. Portanto, para além da pesquisa no Crepúsculo, trouxemos à baila alguns elementos da primeira estética nietzschiana, principalmente o conceito de dionisíaco, tese fundamental e herança maior de O Nascimento da Tragédia, que constituirão a base para modificações posteriores. Neste contexto, o retorno a essas teses no período final da filosofia nietzschiana, acabaram, entre outras coisas, por destacar uma importante mudança de perspectiva em relação aos gregos, onde a sabedoria trágica ali celebrada será entendida por Nietzsche a partir da compreensão da força do deus Dioniso, agora, diferentemente de como era entendido na primeira estética nietzschiana, é concebida como “afirmação integral” de tudo o que existe. Aqui nos foi irresistível a intenção de uma tentativa de aproximação do “grande estilo” com o “dionisíaco”. Assim, o problema em questão é baseado em uma tentativa de mostrar que alguns dos elementos principais da estética juvenil de Nietzsche se conservam na maturidade e, assim procedendo, buscaremos argumentar que o “grande estilo” pode ser entendido como uma espécie de (re-)encontro com o dionisíaco. Palavras Chave: dionisíaco, “grande estilo”, transvaloração. O DESMANTELAMENTO DA TRAGÉDIA GREGA PELO SOCRATISMO Nilson Rodrigo da Silva. A presente comunicação tem por objetivo uma breve reflexão acerca da destruição da tragédia grega com o advento do racionalismo socrático-platônico. Em O Nascimento da Tragédia, o filósofo Friedrich Nietzsche (1844—1900), ao iniciar sua investigação, encontra em Eurípedes o primeiro desvio que comprometeria toda tragédia, por má interpretação do poeta ocorre uma mudança na arte grega: primeiramente, por sua proscrição ao coro, composto agora por enredos dialógicos onde tudo deve ser cognoscível; segundo, por inserir em suas peças personagens cotidianas, o espectador foi levado à cena deixando de lado a sabedoria trágica e o próprio Dionísio. O erro do poeta, apontado pelo filósofo, foi o de tentar combater o espírito trágico por um drama de viés antimusical e inartístico. Consequentemente, essa foi a possibilidade para que o racionalismo começasse a ramificar-se. O estopim da ruína trágica, apresentado por Nietzsche, foi Sócrates, personagem platônica que condena a arte trágica em prol de sua cura, a racionalidade. Sócrates sobrepõe a transposição Dionisíaca da arte trágica — cujo reflexo é a união entre o impulso Apolíneo e o Dionisíaco — por um pretenso conhecimento dialético, o qual guiará os homens à verdade, ao bem e à felicidade. No entanto com o endeusamento da individuação pela racionalidade, a arte-trágica, que não possuía meta ou dever racional, deixa de apresentar-se como o “rompimento” da individuação, que restaurava o sentimento de unidade em relação ao mundo. Tendo, assim, a arte sucumbindo a uma cristalização pela racionalidade apregoada pelo picaresco Sócrates, ela perdeu todo seu caráter de união com o Uno-primordial. O dialético voltou-se contra a sabedoria trágica condenando-a por ser um gênero irracional, ininteligível. Por isso, o filósofo alemão considera Sócrates antiateniense, desmantelador da cultura trágica. Destarte, o que propomos é a problematização do apontamento nietzschiano ao problema surgido com a cultura socrático-platônica pela imposição de uma filosofia teórica que limitou a vivência trágica do vir-a-ser experimentada pelos antigos. Palavras Chave: Tragédia; Nietzsche; Sócrates; Dionisíaco; Apolíneo; Área: Estética O ESCRITOR COMO REPRESENTANTE Cleonice Alves Lopes Flois. O modo de pensar a arte e a literatura têm grande relevância para o pensamento social das mesmas na contemporaneidade e o escritor precisa sentir-se livre para abordar a temática social nas suas obras de forma a produzir uma literatura engajada. Palavras Chave: Arte; Literatura; Escritor; Temática social. QUADRA DOS ESQUECIDOS: ANÁLISE SOBRE A “QUADRA 27” DO CEMITÉRIO MUNICIPAL CRISTO REI DE TOLEDO – PR Jéssica Dal Piva. Nesta análise pretendo apresentar alguns aspectos simbólicos evidenciados a partir das reformas realizadas na primeira década do século XXI no Cemitério Municipal Cristo Rei, localizado na Avenida Maripá, no Município de Toledo, no Paraná. Durante a reforma novos elementos foram inseridos e outros mantidos e valorizados. Nesta comunicação proponho analisar a “Quadra 27” na qual estão enterrados aqueles que morreram dos anos de 1953 até 1972. Estes mortos foram homenageados através da identificação dos seus nomes e da colocação de placas no corredor principal do cemitério. A maioria dos homenageados são infantos. A homenagem acontece ao longo do corredor principal representada também pelos “Arcos da Vida” que são pilares de tamanhos irregulares, representando a variação da vida e a longevidade de cada uma delas. A observação empírica do cemitério, a análise de documentos e as entrevistas que realizamos nos levam a afirmar que durante a reforma houve um trabalho de valorização da memória dos pioneiros, colonizadores da localidade. Palavras Chave: Cemitério; Quadra 27; Arcos da Vida Área: Ética A EXISTÊNCIA SERIAL COMO RELAÇÃO HUMANA FUNDAMENTAL EM JEAN-PAUL SARTRE Aline Ibaldo Gonçalves. Na Crítica da Razão Dialética, Sartre afirma que no campo prático-inerte, a base das relações com os outros é a serialidade. Este é um grupo formado por indivíduos em situação comum, mas que estão unidos pela exterioridade. É uma existência serial na medida em que é apenas um número, substituível. Sartre desenvolve a série como uma das primeiras formas de sociabilidade fundamental em que as consciências vivem em um estado de justaposição e de separação. Na serialidade, encontramos indivíduos condicionados por um objeto material, como no exemplo que Sartre dá de uma situação vivenciada por indivíduos que se aglomeram em um ponto de ônibus aguardando o mesmo. Embora próximos uns dos outros, eles mantém sua solidão. Todavia, há uma reciprocidade condicionada pela materialidade. A ação passiva de um objeto prático inerte, no caso o ônibus, faz com que exista uma totalidade, pois os indivíduos têm interesses e atitudes idênticas. Cada um é produzido pelo conjunto social como unido aos outros. Desse modo, há uma relação de interioridade, pois cada um deles só pode se tornar determinado indivíduo da série, em relação a seu vizinho. No entanto, Sartre identifica essa relação como falsamente recíproca. Na série, a práxis livre não é assumida pelo indivíduo, pois este realiza no cotidiano a relação de solidão, de reciprocidade e de unificação pelo exterior que caracteriza, por exemplo, os citadinos de uma grande cidade na medida em que se encontram reunidos, sem serem integrados pelo trabalho, pela luta ou por qualquer outra atividade, em um grupo organização que lhes seja comum. Assim, Sartre caracteriza o Coletivo como o ser da sociedade no nível do campo prático-inerte. Os coletivos são uma pluralidade de consciências solitárias sem distinção que faz delas uma totalidade. Essas consciências se organizam em uma união no qual o vínculo é o condicionamento delas à materialidade. Em suma, a relação humana fundamental é a serialidade, ou seja, uma pluralidade de solidões, um ajuntamento provisório e contingente que expressa uma massificação do conjunto social. Desse modo, Sartre coloca nessas práticas seriais o fundamento de toda sociabilidade. Palavras Chave: Sartre – Serialidade – Outro – Coletivo A RELAÇÃO EU-OUTRO E A QUESTÃO DA ALTERIDADE Elizabeth Fortecki; Vanessa Furtado Fontana. Resumo não informado pelo autor. Palavras Chave: Alteridade; Ética; Sartre; Eu-Outro; Liberdade. AGOSTINHO ENTRE A FÉ E A DÚVIDA: UMA BREVE ANÁLISE DA INFLUÊNCIA DO CETICISMO NO PENSAMENTO AGOSTINIANO Elissa Gabriela Fernandes Sanches. Agostinho de Hipona foi uma figura intrigante. Constantemente imerso nas águas de seus questionamentos, nem mesmo a fé cristã foi suficiente para, ao menos, acalmar sua inquietante alma. As respostas precisavam ser encontradas, e sua busca, em grande parte de sua vida, pode ser vista como uma jornada orientada em direção à verdade. Mas, Agostinho acreditava mesmo existir uma verdade? Esta é uma pergunta que torna visível os rastros de um pensamento que oscilava entre um velado ceticismo e um exposto - e aparente - dogmatismo. Ora, se atentarmos, em linhas gerais, para a cobertura teológica que constitui o discurso agostiniano, podemos avaliar que suas palavras são superficialmente preenchidas por certezas, a ponto de sustentarem diversos dogmas da doutrina cristã. Porém, esta é uma ilusão pois, logo após a sua conversão o autor demonstra suas intenções: "[...] qualquer que seja o modo de ser da sabedoria humana, percebo que ainda não a conheço. [...] Todavia, [...] nem por isso julgo dever desesperar de um dia, no futuro, poder alcançá-la", em seguida ele complementa: "Não há dúvida de que são dois os fatores que nos impelem ao aprendizado, a saber, a força da autoridade e a força da razão. Para mim, portanto, é coisa sumamente certa que jamais devo me afastar da autoridade de Cristo [...] Mas esta deve ser perseguida usando de uma razão subtilíssima" (AGOSTINHO. Contra os Acadêmicos, III, 20, 43). Podemos avaliar neste trecho o método epistemológico de Agostinho que consiste em perseguir a sabedoria, buscar a verdade, através do uso da razão, o que implicava em abrir-se para as questões que lhe provocariam. O bispo conhecia muito bem a angústia da dúvida e, em vários textos, ele desnuda o seu sofrimento por não conseguir se contentar com simples respostas, sempre se engajando em novas indagações. Ele entendia que não se tratava de uma mera curiosidade, a considerando uma tentação, pois ser curioso implica conferir ao conhecimento um fim último (AGOSTINHO. Confissões, X, 35). A vontade de sua alma estava sempre orientada à verdade, à procura por conhecer as coisas em sua forma mais profunda, não apenas por saber - o que incorreria, neste caso, em se contentar com as soluções mais básicas. Será que Agostinho alcançou, em Área: Ética algum momento, a ataraxia, a tranquilidade de sua alma? Interpelemos o pensamento agostiniano e perceberemos que não. Uma das fortes demonstrações disto é a escrita de sua obra "Retratações" (Retractationes, 426/427 d.C.), na qual corrige diversos pontos que ele mesmo afirmou durante a sua vida, bem como esclarece outros, reafirmando-os. Deste modo, pretendemos expor um pensamento continuamente perturbado por reflexões e pelo interrogar-se de si próprio (a quaestio mihi factus sum, a questão que me tornei para mim mesmo. AUGUSTINI. Confessionum, X, xxxiii, 50), pela constante e quase infinita revisão de si mesmo. Esta exposição nos conduzirá à pergunta: era Agostinho, afinal, um cético? Este é o problema central de nossa investigação. Palavras Chave: ceticismo; Agostinho; busca da verdade; dogmatismo. APENAS UMA REFLEXÃO ACERCA DA IDEIA DE DIGNIDADE HUMANA Marilda Pereira dos Santos. Levantar questões é mesmo a principal tarefa da filosofia. Nesse sentido, o foco deste trabalho encontra-se na questão de investigar a ideia de dignidade da pessoa humana, fornecer variantes interpretativas.Na abordagem do presente texto se orienta pelo objetivo de compreender o pensamento kantiano que aparece como decisivo na formulação dos conceitos de justiça, de liberdade e de igualdade. Nesses pontos concentra-se a esta abordagem crítica, que propõe duas interpretações específicas: primeiro, vem analisar o desenvolvimento da sua Ética fundada sobre a autonomia da razão transcendental, ou seja, da possibilidade da razão prática enquanto faculdade de princípios a priori; segundo, vem defender sua teoria moral, que busca fixar o princípio supremo da moralidade, princípio que contribui para explicitar a noção de dignidade humana e da exigência do bem supremo como ideal de vida racional de toda humanidade. Palavras Chave: Bem supremo; Dignidade Humana; Moralidade ÉTICA X MORAL: UMA INTRODUÇÃO AO PENSAMENTO DE ESPINOSA Elvio Camilo Crestani. Esta comunicação consiste em uma introdução ao pensamento de Baruch Espinosa (1632-1677) feita a partir do livro Espinosa: Filosofia Prática (2002) de Gilles Deleuze. A pesquisa está orientada pela pergunta: como se constitui a complexa noção de Ética em Espinosa e o que a difere da Moral? Após expor o cenário histórico (sobretudo político e religioso) que aflorou o pensamento de Espinosa, objetivamos apresentar, de acordo com a interpretação de Deleuze, como se constitui a definição de Ética, e qual a sua relação com a Moral. A partir disso, buscaremos reforçar a hipótese de que, em Espinosa, a Ética se difere radicalmente da Moral e, por essa razão, mostraremos os motivos pelos quais ambas não devem se confundir, pois nascem de impressões diferentes. Para tanto, faremos um apanhado histórico, evidenciando o modo diferenciado, usado por Espinosa, de caracterizar Deus, procurando entender, pela orientação de Deleuze, quais reflexos seus pensamentos tiveram na sociedade, e sob quais acusações o filósofo foi excomungado. A aproximação de sua forma de perceber e pensar o corpo de uma maneira tão importante quanto à alma, assim como dos argumentos de que a consciência é uma ilusão, nos transporta para a sua estrutura lógica da Ética, e estabelece uma ligação íntima com o pensamento de Espinosa de que tudo está conectado a tudo. O mundo nos premia com diversas oportunidades de relações, e nossa alegria ou tristeza em relação a elas tem um papel fundamental para compreender a Ética, sobretudo em sua diferença com a Moral, a qual é sustentada por nossas ilusões que não nos permitem enxergar os eventos em seu ineditismo, causa de um perigoso conforto e subordinação que nos leva a acreditar em leis que não entendemos, mas que juramos conhecer. Em vista disso, por fim, afirmaremos que a compreensão da Ética, para Baruch Espinosa, exige uma sequência de relações entre conceitos que precisam ser estudados, com uma meditação gradual, a fim de despertar a reflexão sobre nossos costumes e leis, além de valorizar a nossa relação com o próprio mundo. Palavras Chave: Ética; Moral; Consciência; Alegria; Tristeza. Área: Ética FILOSOFIA COMO INSÔNIA Pedro Gambim. A comunicação apresenta considerações em torno da questão o que é filosofia, a partir da entrevista de LEVINAS, intitulada D'utilité des insomnies.Questionado sobre o que diria a um jovem que lhe pedisse uma definição de filosofia, responde LEVINAS: “Eu lhe diria que a filosofia permite ao homem se interrogar a respeito do que diz e sobre o que se diz ao pensar. Não se deixar embalar ou embriagar pelo ritmo das palavras e das generalidades que elas designam, mas abrir-se a unicidadede do único neste real, ou seja, à unicidade de outrem. (...) Falar verdadeiramente, não como se canta, se despertar, se desiludir, se desfazer de refrãos. (...) Filosofia como insônia, como novo despertar em meio a evidências que já marcam o despertar, mas que são, ainda ou sempre, sonhos.” Questionado se “é importante ter insônias”, responde:”O despertar, creio eu, é o próprio do homem. Busca, pelo desperto, de um novo desembriagamento, mais profundo, filosófico. É precisamente o reencontro com o outro homem que nos chama a despertar, mas também os textos que saíram das conversas entre Sócrates e seu interrlocuutores.”Filosofia como insônia! Modo inusitado de se falar da atividade filosófica. No entanto, é um modo de pensar o que a atividade filosófica exige daquele que, genuinamente, a ela se dedica. Resposta do filósofo que, como afirma Maurice BLANCHOT, recoloca em questão “nossos modos de pensar e até mesmo a nossa reverência fácíl pela ontologia”, nos convocando a “tornar-nos responsáveis pelo que ela, essencialmmente, é”, apresentando “um novo ponto de partida e um salto que ela e nós mesmos somos exortados a realizar”. LEVINAS fala do que a atividade filosófica – o filosofar – possibilita. Não apresnta uma definição de fillosofia. Fala da filosofia como insônia para descrever uma nova modalidade e um novo ponto de partida necessário ao filosofar que não o da “reverência fácil pela ontologia”, mas o da “grande experiência”, ou do “grande acontecimento” do abrir-se a unicidade de Outrem. Relacionada ao filosofar, esta noção compreende dois significados. Ambos designam uma “vigilância situada aquém da consciência”. CALIN & SEBBAH, no Le vocabulaire de Lévinas, distinguem a significação ontológica, como vigilância do ser anônimo - “um vigiar que nem é consciência de si, nem atenção ao objeto”, da significação ética, como despertar do eu a Outrem. Na leitura ontológica, a insônia é descrita como o fenômeno de uma vigília sem objetivo e sem objeto, como “um despertar para o nada”. Em sua significação ética, é o “próprio despertar do eu para Outrem, como “despertar-se sem cessar” de sua identidade e de sua presença a si” na impossibilidade de “não estar atento a Outrem”. O eu como responsável por Outrem, “eu sem eu”, responsável por “aquele a quem se tem de responder sem dele esperar resposta”, pois “o Outro não responde”. Em síntese, é em sua significância ética, como despertar do eu ao Bem além do ser, ao “outramente que ser”, que se instaura a significância da atividade filosófica. Filosofar! É preciso! Palavras Chave: Insônia; Despertar; Outrem. FILOSOFIA E CINEMA: A ÉTICA SOCRÁTICA VISTA POR MEIO DA ANÁLISE DE FILMES Luiza Fernanda Kozaen Souza. Este artigo é resultado de pesquisas vinculadas ao projeto de extensão Filosofia e Cinema no IF, promovido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. O projeto tem como objetivo o estudo de textos filosóficos e sua exemplificação por meio de filmes, além da reflexão para escrita dos textos e artigos. Ademais, o projeto pretende levar discussões com base em conceitos da história da filosofia para áreas de vulnerabilidade social do município de Goioerê. Este artigo busca analisar cenas específicas de dois filmes sob a luz da questão ética em Sócrates. Os filmes são “O Doador de Memórias” (2014), de Phillip Noyce (1950) e “Fahrenheit 451”, de François Truffaut (1932-1984). Para tanto, no primeiro momento far-se-á uma breve explanação do enredo dos filmes, destacando as cenas propícias para o debate com a filosofia de Sócrates. No segundo momento, dar-se-á uma breve contextualização da ética socrática e destacar-se-á o conceito de areté enquanto conhecimento. Por fim, explorar-se-á a junção dos enredos com os conceitos filosóficos. À guisa de conclusão, mostrar-se-á como a filosofia está presente rotineiramente na vida das pessoas, por mais que de maneira sutil, e isso será ressaltado por uma breve discussão da ontologia do cinema feita a partir de André Bazin (1918-1958). A pretensão é de também discutir a importância da filosofia e do cinema para que se abram novas possibilidades de observar o mundo cotidiano. Palavras Chave: O doador de memórias; Fahrenheit 451; Ética Socrática. Área: Ética O COMBATE ENTRE ÉTICA E MORAL EM GILLES DELEUZE Adriana Muniz Dias. O trabalho a ser apresentado mostrará como Gilles Deleuze lida com a ética e a moral. Para tanto, faremos uma aproximação da moral com a doença. A moral é doença porque ela põe a vida para servir a um único modo de existência, lhe tira a potência e a impede de ser guiada por forças que possibilitem a criação de novos modos. Mostrar-se-á que a tendência de uma filosofia tradicional, do tipo racionalista, colabora com essa moral, pois ao buscar padrões de universalização para os modos de existência, impede a diferença e com isso, limita o poder de criação, de produção da vida. Contrariamente, apresentaremos uma ética da experimentação, potencializadora da vida. Diferentemente da moral, ela permite o surgimento de novos modos de existência, abre possibilidades para criação de modos próprios para produzir subjetivação e com isso permite que também se produza regras facultativas que poderão guiar o modo de existência desejado. Mostrar-se-á que a ética, como experimentação, torna a vida produtora de realidades e de diferentes modos de existência, afirmativos da vida, podendo ser pensada como uma saúde. Palavras Chave: ética; experimentação; combate; moral O COMPORTAMENTO LINGUISTICO E AS ATITUDES REATIVAS Cecilia Noemí Rearte Terrosa. Em Liberdade e ressentimento (1962), Peter Strawson explica como é que atribuímos responsabilidade a um sujeito moral. Desde a linguagem natural e o senso comum, parte da descrição do que é realmente manter relações interpessoais comuns, desde as mais íntimas às mais casuais, como participantes de um interesse comum; como membros da mesma família, como colegas; como amigos; como amantes; como partes fortuitas de uma enorme gama de transações e encontros. O seu modelo explicativo caracteriza-se pela realização de um giro na perspectiva da abordagem do sujeito moral. Ele considera a valoração moral a partir das atitudes, sentimento e reações das partes ofendidas ou beneficiadas. Assim, o ressentimento, a gratidão, o perdão, os sentimentos feridos e a importância que damos às atitudes e intenções que em relação a nós têm as outras pessoas com as estabelecemos transações recíprocas, são as figuras centrais, a partir das quais Strawson procura dar conta da atribuição de responsabilidade moral. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é expor a função que, como padrões de comportamento lingüístico, desempenham as atitudes reativas na sua explicação de como é que realmente realizamos a atribuição moral. Palavras Chave: Atribuição moral; Comportamento lingüístico; Atitudes reativas; Sujeito moral; Relações interpessoais. PRIMATAS E FILÓSOFOS: CONVERGÊNCIAS ENTRE ÉTICA E ETOLOGIA Anna Maria Lorenzoni. Talvez questões morais não sejam objeto de estudo exclusivo da filosofia. Inspirados em algumas das provocações do primatologista holandês Frans de Waal, nossa apresentação refletirá sobre o sentido ou pertinência que certas questões da ética tradicional – compreendida, aqui, como disciplina filosófica – possuem quando comparadas às descobertas de estudos comportamentais recentes de primatas humanos e não-humanos. Considerando o alerta de John Searle a respeito dos basic facts e do desafio de conciliarmos alguns dos conhecimentos que possuímos sobre estrutura básica do universo com algumas das concepções filosóficas consolidadas ao longo de séculos, tentaremos contextualizar os obstáculos práticos e conceituais a serem superados para uma aproximação entre duas áreas acadêmicas que possuem questões motivadoras semelhantes, mas métodos de pesquisa tão diversos. Apoiando-nos em uma perspectiva evolucionista, tentaremos justificar esse tipo de abordagem considerando que nossa espécie não deu saltos evolutivamente qualitativos com relação aos demais grandes símios, de modo que nosso comportamento refletiria uma continuidade de algo rudimentar que se manifesta, mesmo que de maneira apenas incipiente, em nossos parentes próximos. Assumir tal postura implicaria reconsiderar o uso, muitas vezes irrefletido, de termos caros ao vocabulário filosófico, como “livre arbítrio”, “autonomia”, “racionalidade” e “responsabilidade”, e esclarecer algumas noções básicas sobre seleção natural de modo que tal reconsideração não incinda, como diz de Waal, em uma bad biology. Palavras Chave: basic facts; evolução; filosofia; moral; natureza. Área: Ética RICARDO REIS E O EPICURISMO: UMA APROXIMAÇÃO Henrique Zanelato. Fernando Pessoa, um dos maiores poetas da língua portuguesa, é famoso, entre outras coisas, pela criação de heterônimos. Um heterônimo, diferentemente de um pseudônimo, não é apenas um nome falso usado para esconder a verdadeira identidade de um escritor, mas trata-se de um escritor fictício, com características e personalidade próprias. O presente trabalho tem a intenção de tentar uma aproximação entre a poesia de Ricardo Reis, heterônimo de Fernando Pessoa, com a filosofia da escola epicurista, principalmente em relação ao agir com vistas à tranquilidade. Considerado o mais clássico de todos os heterônimos pessoanos, Ricardo Reis aponta para uma sabedoria voltada para o viver tranquilo, buscando a renúncia de certos elementos que, possivelmente, resultariam em preocupações. Amores, ideais, aspirações: para tudo isso o poeta sugere abstenção. Nessa perspectiva, cremos ser possível uma leitura de sua poesia à luz de uma interpretação da filosofia de Epicuro, visto que toda a sua escola professou, como meio para o alcance da tranquilidade (ataraxia) e da felicidade (eudaimonia), uma doutrina de renúncia a qualquer coisa que não fosse estritamente necessária à vida. Além disso, o posicionamento de ambos frente ao inevitável é semelhante. A temor da morte, por exemplo, tema amplamente discutido pelas filosofias antigas, ocupa também os versos de Reis. Como Epicuro e seus seguidores, o heterônimo ensina que qualquer esforço e preocupação com a morte se faz inútil, pelo fato de que nem os deuses podem nos livrar de semelhante destino. Palavras Chave: Fernando Pessoa; Ricardo Reis; Epicurismo; Eudaimonia SARTRE: ENGAJAMENTO E LIBERDADE Vanessa Furtado Fontana. O presente trabalho fala da obra literária As moscas para destacar os conceitos de engajamento, ma-fé e projeto na perspectiva histórica ao qual se encontrava o fílósofo. Trata-se do modo como Sartre pensa a história e os acontecimentos da guerra em sua época. Em termos históricos, trata-se de uma obra de resistência ao nazismo, em especial ao governo da capital da França instalado em Vicky em 1940 pelo Marechal Philiphe Pétain que introduz a prática totalitária e antissemita de Hitler. A hierarquia da igreja católica foi o maior sustentáculo do regime de Pétain. Ela exige não a luta concreta, mas o aprendizado com as culpas passadas. Nesse clima hostil de regime político autoritário somado aos limites morais impostos pela religião, Sartre se vê na missão de tentar retirar o determinismo da moral, como faz em O existencialismo é um humanismo, e ao mesmo tempo mostrar um caminho moral que exige a responsabilidade, muito mais que as concepção cristã de culpa e resignação, e mesmo distante da concepção grega de destino presente no teatro trágico. Esta fase da literatura de Sartre é conhecida como literatura engajada, diferente da literatura de “A Náusea” de 1938, com o texto As moscas Sartre retoma os acontecimentos históricos a sua volta deixando de lado a preocupação estética da filosofia do absurdo da existência. Certamente, o existencialismo é a chave de leitura de toda obra sartreana, mas a busca pela temática da guerra e a posição engajada de Sartre refletem a preocupação do filosófico com o seu tempo. A situação é o conjunto de condições, barreiras e circunstâncias impostas pelo mundo aos nossos projetos. Diante da guerra como barreira do projeto, é preciso mostrar que a liberdade não deixou a existência por causa da invasão alemã. Tentar entender o significado da liberdade em meio a guerra, e como o filosofo entende tal acontecimento é ponto chave das explanações sobre a obra sartreana referida. Palavras Chave: Engajamento; situação; projeto, história, liberdade SOBRE A FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL NA CONTEMPORANEIDADE: POR UMA ÉTICA COM BASE OBJETIVA Solange de Moraes Dejeanne. A questão da fundamentação da moral na contemporaneidade se apresenta como alternativa a quem se recusa a aceitar o niilismo moral, isto é, a negação da existência de todo valor moral objetivo. Nesse sentido, o próprio relativismo cultural, entre outros, se apresenta na atualidade como um desafio para a Ética, especialmente para a Ética filosófica. Pois, parece ser o caso que o relativismo cultural tem conduzido pessoas de todos os níveis de formação ao subjetivismo em ética, e, por fim, às posições céticas com relação à possibilidade de se reconhecer qualquer valor ou normas morais objetivamente válidas. Ora, se é difícil refutar o subjetivismo ético, especialmente em questões muito pessoais como, por exemplo, no caso do aborto, ou da opção sexual por pessoas do mesmo sexo, é forçoso reconhecer que o âmbito da moral não se restringe a tais questões. Há muitos casos em que ninguém poderá sustentar, pelo menos não de modo coerente, uma posição niilista, isto é, negar “a existência do certo e do errado” em termos de ação. Assim, à Ética filosófica compete, primeiramente, circunscrever o âmbito dos fenômenos morais, e, em Área: Ética seguida, ocupar-se com a justificação de normas morais objetivamente válidas. Em vista dessas considerações, trata-se nesse trabalho de apresentar como alternativa ao subjetivismo e ceticismo moral, uma vez mais, o pensamento ético dos representantes da Ética do Discurso, notadamente de Jürgen Habermas. Contudo, não se trata propriamente da parte construtiva das considerações de Habermas, ou seja, de sua proposta de fundamentação de uma ética do discurso. O trabalho atém-se às suas considerações propedêuticas à questão, àquelas (considerações) nas quais o filósofo defende a abordagem cognitivista da ética. Não obstante, desde já deve ser clara à adesão à perspectiva cognitivista-universalista do autor. À pergunta: por que ainda insistir em uma ética universalista? a resposta seria a seguinte: a ética universalista é entendida aqui como uma perspectiva crítica que justamente nos permite “ir além” das morais positivas, superando todo tipo de particularismo. Em tempos de globalização, a qual produz certa homogeneização na sociedade, mas, provoca, ao mesmo tempo, fortes resistências de grupos em defesa de sua própria identidade cultural, nada mais urgente que um “lugar” para mediar as relações entre os indivíduos de diferentes culturas, com diferentes ethos. Ora, esse lugar só pode ser um ponto de vista fora de qualquer moral positiva. Entende-se assim que é da própria necessidade de afirmação das morais positivas que surge a ideia de uma moral crítica, universalista, na medida em que só por uma perspectiva ética universalista é possível a superação dos particularismos morais, que não podem por si mesmos oferecer um critério para resolver conflitos e dilemas morais do cotidiano. Palavras Chave: Relativismo Cultural; Subjetivismo Ético; Ética Cognitivista; Ética Universalista; Ação Comunicativa. Área: Filosofia da Educação/Ensino de Filosofia A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA POLÍTICA DO JOVEM: UMA RELEITURA DO MITO DA CAVERNA DE PLATÃO Paulo Henrique Gonçalves. O presente trabalho com o título: A IMPORTÂNCIA DA CONSCIÊNCIA POLÍTICA DO JOVEM: UMA RELEITURA DO MITO DA CAVERNA DE PLATÃO é uma exigência do cumprimento das atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE/2016 e será executado no ano de 2017 através do Projeto de Intervenção Pedagógica. Este Projeto será realizado com os alunos do 3º ano da Formação de Docentes do Colégio Barão do Rio Branco de Foz do Iguaçu, sobre o Conteúdo Estruturante: Filosofia Política, mais precisamente o estudo da Filosofia Política de Platão através da utilização do texto clássico “Alegoria da Caverna”, apresentado no Livro VII da “A República” de Platão. Observa-se atualmente, um desinteresse e descompromisso do aluno quanto as questões políticas que o afetam. Espera-se contribuir para a formação da consciência política e estimular a participação enquanto prática social transformadora, desenvolvendo o espírito crítico e a reflexão filosófica acerca da relação do Mito da Caverna com as questões históricas da vida cotidiana. Possibilitando a produção de materiais audiovisuais que apresentam uma releitura do Mito da Caverna a partir da sua realidade. Palavras Chave: Filosofia, Mito da Caverna, Platão, Política. FOUCAULT E O ENSINO DE FILOSOFIA NO ENSINO MÉDIO TÉCNICO DANIEL SALÉSIO VANDRESEN. O objetivo dessa apresentação é tematizar o ensino de filosofia no Ensino Médio Técnico, tendo como questão norteadora: o que se deve fazer no ensino de filosofia atualmente? A partir do referencial teórico de Michel Foucault, problematizando por meio dos conceitos da ontologia do presente e da estética da existência, não se pretende investigar o ensino de filosofia pelo seu método ou seu conteúdo, mas como atitude crítica. Entende-se atitude crítica como um modo de relação com a atualidade em que o indivíduo, por meio de uma escolha voluntária, assume como uma tarefa de resistência que se produz em cada maneira de pensar, sentir e agir. Essa tarefa para Foucault, por um lado, deve ser entendida resgatando o que os gregos chamavam de êthos, um modo de ser em que o indivíduo através da prática do cuidado de si (Epimeleia heautou) conduz e transforma a sua vida para melhor enfrentar os acontecimentos do cotidiano; por outro lado, essa tarefa assume com Kant na modernidade, a partir da questão da Aufklärung, como uma crítica constante sobre nós mesmos. Foucault denomina essa tarefa como uma ontologia histórica de nós mesmos, que se realiza através de um êthos filosófico que promove uma crítica do que dizemos, pensamos e fazemos. No entanto, essa crítica deve ser entendida não somente como diagnóstico do que somos, mas como transformação do que podemos ser. A filosofia é para Foucault um trabalho sobre si mesmo, para tornar-se diferente do que se é, espaço de liberdade que se realiza por meio do êthos. Deste modo, a filosofia deve proporcionar que essas duas tarefas, ontologia histórica de nós mesmos e a criação de modos de existência diversos, não como duas atitudes pensadas independentes, mas que se realizam ao mesmo tempo como uma criação livre de si mesmo. Nesse exercício, o conceito de experiência funciona como articulador de uma prática de liberdade, que por meio de experiências singulares confronta o prazer fugidio das circunstâncias e possibilita vivências inusitadas. Sendo que, um modo de pensar a diferenciação ética é compreendendo a vida como uma existência errante. Para Foucault, o erro não deve ser considerado como um atraso, mas como uma dimensão peculiar da vida. A partir desse referencial teórico, o ensino de filosofia no Ensino Médio Técnico, por meio da atitude crítica se realiza como o lugar de duas tarefas: por um lado, realiza um diagnóstico da atualidade (Aufklärung) problematizando o saber objetivo, que se manifesta principalmente no saber científico e tecnológico e, por outro, questionando o modo como fazemos a experiência de nós mesmos como forma de resistência ao assujeitamento da vida promovido pelo empobrecimento da experiência moderna. Enfim, trata-se de fazer do ensino de filosofia como lugar de conflito entre duas interpretações da técnica: uma objetivista, que funciona como um poder biotécnico, ou seja, um poder que controla a vida por procedimentos técnicos; e a outra, uma técnica autêntica, como fazer humano que realiza uma arte da existência, que Foucault chama de tékhne toû bíou (técnica da vida). Palavras Chave: Ensino de filosofia; Experiência; Cuidado de si O QUE SE TRABALHA SOBRE SI MESMO QUANDO SE ESTÁ A FILOSOFAR? Jose Carlos Mendonca. Tomando por base alguns elementos conceituais desenvolvidos na pesquisa do doutorado, bem como servindo-me das referências da própria experiência do ensino de filosofia quando do ofício de professor, o que proponho com este trabalho é trazer para o centro da discussão sobre o ensino de filosofia um aspecto, tão caro à prática escolar hodierna, que é ressaltado por Wittgenstein Área: Filosofia da Educação/Ensino de Filosofia acerca da filosofia em seus escritos - qual seja, a "filosofia é uma atividade de trabalho sobre si mesmo" - o qual se faz fundamental para a compreensão da dimensão formativa de qualquer prática que se proponha educativa, principalmente quando a atividade em questão é a filosófica. Contudo, não se atendo à problemática wittgensteiniana em si, tomo sua proposição à luz da problemática elucidada por Michel Foucault e Pierre Hadot, cuja essência consiste em condicionar o sentido formativo da filosofia à função ética. Esse movimento sobre o sentido do filosofar torna-se significativo porque à filosofia é dada uma função para além de um mero ato cognitivo. Ao contrário, 'fundada' em uma função ética a natureza educativa da atividade faz remeter o "ensino de filosofia" ao desafio de pensar-se como uma prática vinculada à "arte de (aprender a) viver". É em razão dessa inversão de valores que se torna relevante a problemática em questão, a qual pode ser traduzida pela seguinte questão: se a filosofia é atividade de "trabalho sobre si mesmo", o que é que se trabalha sobre si quando se está a filosofar? De modo pontual, o que busco é problematizar a atividade filosófica do ensino de filosofia a partir deste desafio ético lançado ao fazer filosófico tanto pela proposta filosófica de Foucault quanto pela wittgensteiniana, os quais trazem à tona um sentido outro ao modo como a filosofia deva se caracterizar principalmente quando vinculada ao papel educativo - modo em que se apresenta como que, no mínimo, um “dispositivo” potencializador de movimentos éticos do “sujeito” sobre si mesmo -, cujo processo filosófico se mostra não como uma proposta epistemológica, mas, antes, vincula-se a uma experiência do "sujeito-que-vive" sobre a própria condição moral, a este movimento que diz respeito ao como "tal sujeito" se constitui e mantém relação (de si) para consigo e com outrem quando de sua constituição nos atos de vida. Pautado então por tal ‘giro formativo’, o que intento é tomar o próprio Wittgenstein como referência para mostrar como, doravante, a atividade filosófica assume esse caráter ético, para o qual fim o sentido do ensino não se restringe ao trabalho que visa mover o 'sujeito' ao redor do discursivo estritamente conceitual; mas, ao contrário, acaba por atrelar-se à maneira de viver que se põe em questão, de modo a denotar uma prática ético-pedagógica que, caracterizada como “exercício” e “maneira de viver que cuida”, se prenda à ação vinculada às necessidades da “primeira pessoa” cuja essência não é outra que operar a transformação de si, tal como ocorre no contexto da prática de si enfatizada por Foucault como "ética da prática de si como prática de liberdade". Palavras Chave: Filosofia; Ensino de filosofia; Experiência-formativa ROUSSEAU, MUITO ALÉM DO CONTRATO Mirela Teresinha Bandeira Silva Moraes. Do Contrato Social e Emílio ou da Educação são duas das obras mais famosas de Jean-Jacques Rousseau. A pesquisa cotejante das páginas de ambas associada à leitura de outros textos do autor revela a singularidade e coerência de seu pensamento bem como a estreita ligação entre os conceitos de educação, conhecimento e cidadania. Para além destes dois clássicos, outras obras abordam questões que fazem pensar que para Rousseau a educação é um projeto que se dá como um longo processo envolvendo concepções políticas, éticas e estéticas. Posteriormente, o reflexo deste processo se faz sentir na sociedade. A preocupação com a educação, desde cedo, ocupa lugar privilegiado na filosofia rousseaniana. No Discurso de 1749 já possível perceber a inquietação do autor com temas relativos ao ensino e sua repercussão social. A crítica ao conhecimento supérfluo e superficial é uma constante em toda a obra assinada por Rousseau. Seus textos, sobre diversos assuntos, são independentes uns em relação aos outros, mas mostram certa correlação quando o assunto é o vínculo entre educação e sociedade. Para ele há uma conexão entre educação, sociedade e conhecimento que afeta diretamente o desempenho do papel do cidadão. Ao mesmo tempo em que está atento ao que acontece em sua época, este genebrino sabe que tem um legado a deixar para o futuro, talvez por isso, tantos anos depois, seu pensamento continua atual e relevante para o homem do século XXI. Palavras Chave: Rousseau; educação; Emílio; cidadania. TEETETO: A MAIÊUTICA ALÉM DA ARTE Amaury Antonio Meller Filho; Jose Francisco de Assis Dias. A obra Teeteto de Platão (428/427-348/347 a.C) foi escrita quando o mesmo tinha aproximadamente 60 anos, numa fase considerada de maturidade e trata sobre a teoria do conhecimento. Em Teeteto, Platão descreve a maiêutica como o parto das ideias, através da investigação. Para que se tenha o resultado esperado pela sua arte, Platão descreve na obra, diversas considerações importantes, necessárias para a busca do conhecimento, tais como: predicados necessários para o aluno, predicados necessários para o professor, ambiente propício de aprendizagem e a técnica do aprendizado. É possível identificar todas essas questões no processo de ensino-aprendizagem contemporâneo. Inicialmente, os predicados necessários para que o aluno tenha Área: Filosofia da Educação/Ensino de Filosofia aprendizagem: em sua obra, Platão exalta as condições favoráveis que Teeteto tem para a busca do conhecimento, tais como: facilidade de aprendizagem, entendimento rápido, valentia, vivacidade, entendimento rápido, boa memória, sem acesso de cólera, segurança e doçura. Demonstrando que o aluno tem que se preparar para que consiga aprofundar sua investigação, a fim de obter o verdadeiro conhecimento; algo que fique registrado em sua alma, não algo superficial. Na obra, Platão destaca os predicados importantes para que o professor consiga partejar o conhecimento, que são: humildade para estimular a participação do aprendiz, profissionalismo, conhecimento de seus alunos, ter postura crítica a fim de direcionar os alunos em prol da aprendizagem verdadeira, ter compromisso com a verdade, conhecer seu papel no processo de aprendizagem e ter paixão pela profissão. O ambiente também tem papel fundamental na busca do conhecimento, onde é necessário que o mesmo não iniba a exposição do aluno e professor, que seja aberto à crítica e no estímulo da autonomia, que seja propício para questionamentos e dúvidas, que seja um ambiente amigo entre aluno e professor, proporcionando a sinergia necessária para a busca do conhecimento. E para que a maiêutica aconteça é necessária uma investigação profunda e não superficial, comparada às dores do parto, algo que crie angústia por parte do aluno, em busca das soluções, que realmente proporcione uma mudança interna e não superficial. É necessário a confiança do professor no aluno e que o mesmo observe o conhecimento de vários ângulos sem imposições. A prática é fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, buscando dar a mesma oportunidade a todos, dando maior atenção aos mais fracos. Ter foco na aprendizagem e contextualizando o conteúdo, buscando a perfeição e não a quantidade. Conhecer o contexto e não somente as partes. Essas questões apresentadas por Platão na obra Teeteto são contemporâneas a partir do momento que fazem parte das discussões atuais por parte dos pensadores da educação, que buscam melhorias no ensino-aprendizagem e seu estudo se torna necessário para todos aqueles que buscam compreender a teoria do conhecimento. Palavras Chave: Teeteto; Conhecimento; Aprendizagem Área: Filosofia Política A CONCEPÇÃO DE NATUREZA PARA MARCUSE Cleberson Odair Leonhardt. Entre as investigações do filósofo frankfurtiano, uma frase que nos instiga a reflexão trata da natureza como potencial para a mudança, e mudança qualitativa, conforme Marcuse insiste em enfatizar. Na obra “Contra Revolução e Revolta” ele afirma que a natureza espera a revolução. Aspira a mudança de nossa sociedade e de nossa espécie, aspira uma evolução qualitativa. Entretanto, essa proposição não nos pode estagnar como a “teleologia” da natureza político-social do homem pensado por Kant em “Ideia de uma história universal com um propósito cosmopolita”. Não caminhamos inexoravelmente à um propósito político universal qualitativamente melhorado. Pelo menos é o que parece gritar em nossos ouvidos o contexto contemporâneo de guerras, ameaças bélicas estratosféricas, exploração da natureza e do homem (que também é natureza). Se a natureza está ameaçada de permanecer como a conhecemos, ela também aponta saídas e pode ser aliada no processo de mudança qualitativa, ela também anseia por esta mudança. A indagação pertinente então é como “explorar” mais este potencial da natureza e de como as ideias de Marcuse podem ser vieses importantes para estas respostas. Marcuse afirmou insistentemente na relação da natureza com o processo revolucionário, várias de suas obras abordam essa relação, inclusive em Eros e Civilização, pois trata-se da mais pura natureza intrínseca humana que é alvo de análise, mas também de debate com o psicanalista Freud. Em Contra revolução e Revolta dedica o segundo capítulo ao papel da natureza na revolução ao tratar da história humana e de sua relação com a natureza e de como com o iluminismo e com o culto a racionalidade essa relação passou a ser visualizada exclusivamente como expropriação da natureza externa para uso humano e domínio da razão sobre a natureza interna para superação instintiva. Dentre outros temas, o filósofo também se ocupou em pensar o conjunto social contemporâneo. Para tanto, produziu outras obras onde aponta para os potenciais grupos de negação capazes de iniciarem processos de mudança. As obras “Ideologia da sociedade industrial” e “Um ensaio para a libertação” concentram seus esforços em apontar os potenciais dessas mudanças qualitativas, que necessariamente envolvem a mudança com que o ser humano se relaciona com a natureza interna e externa. E sobretudo em sua obra mais conhecida “Eros e civilização” oferece uma alternativa para a interpretação e problematização das relações psíquicas (natureza interna) para a mudança social, na medida em que as categorias políticas estão também para a lógica de uma “psicanálise materialista”. Acreditamos que tratar dessa concepção política da natureza permite uma interpretação singular do panorama de mudança humano-social qualitativa. Propor a noção da Natureza como potencial para a mudança está em consonância com a concepção filosófica de Marcuse e dos pensadores da Escola de Frankfurt e com a própria relação que eles propõem entre teoria crítica e a realidade. A relação do homem com a natureza, na medida em que produz e controla seu sistema social hegemônico, está também produzindo sua existência. É nesse sentido que achamos justificável a tentativa de traçar novas relações homem-natureza. Palavras Chave: Natureza; Mudança Qualitativa; Teoria crítica. A DEMOCRACIA COMO ORIGEM DA TIRANIA Bernardo Alfredo Mayta Sakamoto. Pretendemos ressaltar como Platão na República, no processo da decomposição da polis justa, expõe a forma tirânica surgindo do governo democrático. Platão apontava que a democracia mostrava-se perigosa quando condenou Sócrates, o pensador que interrogava procurando certezas. No livro oitavo da República descreve-se o governo da democracia, que em sua fase tardia iguala os cidadãos com a mais completa liberdade. Aqui a inclusão é vigente em sua máxima expressão e quase não existem diferenças entre os homens, todos possuem direitos até os animais, é a fase da anarquia. Nestas condições de completa liberdade, igualdade e direitos dos cidadãos surge o governo tirânico. Os cidadãos são manipulados por alguns homens injustos que não visam o bem comum, mas que se interessam pelo próprio ganho, mentindo e sendo capazes de utilizar todo tipo de violência para governar. Palavras Chave: Filosofia política; formas de governo; Platão A DESIGUALDADE SOCIAL EM ROUSSEAU E MARX Gilmar Derengoski. Ao abordarmos o tema desigualdade social é evidente que tal fator tem relação direta com questões relacionadas ao poder – a lei do mais forte. Historicamente destacamos a desigualdade como oriunda das capacidades físicas e intelectuais dos indivíduos que ao desenvolverem-se em determinado contexto acabavam por se sobressair perante aos outros, seja na caça, nas relações sexuais e até mesmo no controle dos demais, porém, conforme a humanidade foi se desenvolvendo, principalmente em questões mercantis, as formas de desigualdades ganharam novos contornos, muito mais profundos e contundentes tendo seu ápice na consolidação do Área: Filosofia Política sistema de produção capitalista. Os filósofos Jean-Jacques Rousseau e Karl Marx proporcionaram em suas obras contribuições significativas para que fosse possível compreendermos adequadamente as origens e a consolidação da desigualdade social enquanto fenômeno social. Para Rousseau a desigualdade social é oriunda de duas vertentes: física ou natural como apresentado em sua obra “Discursos sobre a origem e os fundamentos da desigualdade social entre os homens”, a física diz respeito a questões do próprio corpo como saúde, força e idade, já a natural (moral ou política) apresenta-se como uma espécie de convenção autorizada e consentida pela maioria das pessoas, como se a forma com que a sociedade está estruturada fosse natural e não pode ser mudada. Já para Marx a desigualdade realmente predominante tem relação com a divisão de classes, divisão essa que mantem a riqueza nas mãos de poucos, possibilitando o controle da grande maioria dos indivíduos que possui apenas a sua força de trabalho como meio de subsistência, tornando a desigualdade um processo cíclico e constante. A partir disso, objetivamos neste trabalho analisar detalhadamente os conceitos de desigualdade social em cada autor, buscando evidenciar se existe alguma relação entre eles, analisaremos também o grau de relevância entre esses conceitos, pois sabemos que as análises realizadas pelos autores são distintas, desenvolvidas em cenários diferentes, possibilitando assim uma definição mais clara do termo desigualdade social. Palavras Chave: Desigualdade, social, conceito. A DESOBEDIÊNCIA CIVIL: “UMA LIBERDADE PERIGOSA A UMA SERVIDÃO PACÍFICA” NO SOCIUS CAPITALISTA Paulo Roberto Schneider. A G. Deleuze e F. Guattari e a pergunta “como haver entre as pessoas um laço revolucionário que mobilize ...o desejo, sem que deixe encerrá-lo em estruturas codificadas ou axiomatizadas...?” (2010), lhes responderia: a desobediência civil. Essa é uma “forma revolucionária” ou modo que possa romper com as axiomáticas da ordem no capitalismo e que mantém a passagem de fluxos descodificados, positivos e revolucionários sem fazer reterritorialização/recodificação. A axiomática do Estado é contestada pela desobediência, levando a um processo amiúde de desterritorialização dos códigos pelos fluxos, especialmente porque o que se pretende é a modificação na ordenação que se coloca. M. Gandhi (1869-1948 em suas campanhas de 1930, seguido por M. McLuther King Jr. (1929-1968) no movimento dos direitos civis norte-americanos na década de 1960, são dois exemplos clássicos de desobediência civil que podem ser considerados fluxos dentre os tantos que o socius capitalista tentará organizar depois de relevantes efeitos no seu interior. Destaco um caso recente que se aproxima da categoria (que assim chamamos) “ataque ao capitalismo financeiro”: o ataque operado por Eric Durán às instituições financeiras, na Espanha, em 2008. No caso Durán e suas ações de enfrentamento ao capital financeiro, a desobediência civil tem características de um agenciamento coletivo e, no tecido social, esse fluxo foi estancado por dois motivos principais: primeiro, denunciar o sistema financeiro como insustentável e, segundo, que é possível a desobediência, a coragem, de modo que forme um agenciamento coletivo financeiro como um modus de resistência que afronta o capitalismo financeiro. Palavras Chave: Axiomatização. Capitalismo. Desobediência Civil. A IMPORTÂNCIA DO CONFLITO NA POLÍTICA DE MAQUIAVEL E DE RANCIÈRE Valmir Gonçalez dos Santos. O presente trabalho tem o intuito de analisar a importância do conflito nas teorias políticas de dois grandes filósofos. O primeiro um dos grandes pensadores, talvez o primeiro dos modernos, que modifica o pensar político tradicional apresentado até ali, Maquiavel. Suas principais obras trabalhadas aqui serão O Príncipe e Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio. A partir destas, poder-se-á perceber a importância do conflito para a edificação de uma república. O segundo, um filósofo contemporâneo, ainda marginal nas leituras acadêmicas, Rancière. As principais obras de Rancière analisadas aqui serão O Desentendimento e O Dissenso. Nosso objetivo aqui é o de pensar a importância do conflito para o desenvolvimento da política; Mostrar que ele possui um papel importantíssimo tanto na política de Maquiavel quanto na política de Rancière, apesar de cada um tratar conforme suas características. Começaremos a analisar o papel que o conflito tem na política de Maquiavel, tal como discorrer sobre os seus desdobramentos. Após isso analisar-se-á o papel do conflito na política de Rancière. Tomaremos de inicio a interpretação de uma mesma passagem e analisaremos sob a ótica dos dois filósofos. O exemplo do Monte Aventino. Palavras Chave: Conflito; Maquiavel; Rancière. Área: Filosofia Política A PROBLEMÁTICA DA EMANCIPAÇÃO CAMPESINA NO ETHOS DO SEGURADO ESPECIAL, A PARTIR DA FILOSOFIA DE JÜRGEN HABERMAS Edmar Adolpho Kliemann; Kátia Rocha Salomão. O segurado especial, definido pelo direito brasileiro como o pequeno agricultor que trabalha em regime de economia familiar, traz em seu bojo uma categoria laboral e cultural muito particular dentro do Brasil, o camponês. Tal categoria, entretanto, vem sendo ameaçada de extinção devido à violência do monopólio latifundiário na economia. Buscar-se-á, neste sucinto artigo, desenvolver a analise da categoria do assegurado especial, com base nos estudos de Jürgen Habermas na seara da emancipação social. Por isso, a especulação apresentada irá explorar fundamentos na teoria de Habermas, a respeito dessa situação de crise da vida rural e da sobrevivência da cultura campesina: a mesma vem sendo esfacelada pela colonização a razão instrumental no mundo da vida desse campesino. Ele, o campesino, não consegue ser autogerador de sua autonomia diante da fragmentação de seu discurso de luta, que não existe mais - por isso a necessidade de nossas bases jurídicas e filosóficas. Seu discurso, que em outrora era legítimo, parece perder força diante da consequente colonização sistêmica, isto é, da agroindústria na medida em que ganha força, monopoliza estrategicamente o sistema. Nesse sentido, as garantias constitucionais tornam-se apenas precárias alternativas paliativas, ou ainda, surgem como o engodo, como a pílula de farinha para tais enfermos. Palavras Chave: Segurado Especial; Jürgen Habermas; Emancipação Social. AS COMUNIDADES PRIMITIVAS, A LEGITIMAÇÃO DAS DESIGUALDADES NO PACTO INJUSTO E O PERCURSO AO PACTO SOCIAL DE ROUSSEAU Giovani Luiz Zimmermann Junior. Na passagem do estado de isolamento para o estado de convivência entre os homens, causado por catástrofes naturais aconteceria uma mudança na ordem das coisas e no próprio indivíduo. Essa nova “maneira de viver” implicaria em novas formas de criação, legitimação e extensão dos laços sociais. Essas primeiras associações humanas foram uma resposta a alguma necessidade ou interesse comum, tais como: segurança ou abrigo. No interior das primeiras associações humanas, o bem e o mal passaram a constituir-se como uma demanda social cotidiana e problemática.Para o autor a degeneração do homem aconteceu quando pelo hábito de fazerem comparações, os homens gradativamente adquiriram a ideia de consideração entre eles movidos pela vaidade, a bondade desinteressada que havia no estado de natureza, passou a desaparecer gradativamente na sociedade nascente. Abafando a piedade natural e desprezando a voz interior da consciência, quase apagada da “justiça”, tornaram-se avarentos, ambiciosos, cruéis e maus. O chamado “direito do mais forte” inicia conflitos generalizados, combates contínuos e assassinatos. Foi então que os ricos propuseram uma falsa paz, a manutenção da vida ao mais fraco através de seus enganos maliciosos, dando ao mais fraco uma falsa liberdade, baseada no pacto injusto, que beneficia a proteção das propriedades dos que a possuem, e a vida e a segurança daqueles que nada tem. Tudo isso funciona como ponto de partida para uma suposição de Rousseau em seus raciocínios hipotéticos, isto é, como um problema inicial que deverá ser solucionado. Um poder precisa ser criado para que a situação se estabilize e todos vivam tranquilamente. É necessário que esse poder seja verdadeiramente legítimo, garanta a felicidade e a liberdade do homem, atributos de sua natureza que ficaram comprometidos na vida das sociedades primitivas. O primeiro passo para a reconstrução da sociedade é que cada um aliene sua força e seu poder individuais à sociedade como um todo. O pacto social rousseauniano supõe um processo que garante a segurança do indivíduo ao privilegiar a comunidade. Uma sociedade política, regida por leis e fundada em um acordo universal e invariável, que beneficia a todos igualmente, organizado com base em deveres mútuos, privilegiando a vontade coletiva. Por meio de uma modificação na sociedade, o homem pode aproximar-se daquilo que ele era, no estado original: feliz, simples, livre, igual com seus semelhantes e autônomo. Palavras Chave: Rousseau; Pacto Social; Contrato; Propriedade Privada; Política; Desigualdades CAMPOS DE CONCENTRAÇÃO, PATOLOGIA DO PODER E BIOPOLÍTICA José Eduardo Pimentel Filho. Esta proposta surgiu da interseção de dois textos. O artigo: "O sujeito e o poder" (1982) de Michel Foucault e o livro-relato de Primo Levi: "É isto um homem?" (1947). No artigo de Foucault encontramos um alerta contra aquilo que ele intitulou de "patologias do poder", que seriam as práticas e os acontecimentos nos quais o poder se tornaria excessivo sobre os sujeitos; Foucault exemplifica tais patologias como o fascismo, nazismo e stalinismo. Já Primo Levi (judeu italiano), em seu livro, relata a experiência de ter sobrevivido aos campos de concentração nazistas. Esses dois textos já serviriam, separadamente, como alertas aos riscos da história se repetir nessas tragédias fascistas. Porém, conjuntamente, eles alertam para um risco talvez ainda mais Área: Filosofia Política presente e silencioso que a simples repetição da tragédia (aliás, mais presente por ser mais silencioso). Eles revelam uma estratégia de governo (micropatológico) que diluiria o regime do campo de concentração como modelo para instituições sociais, independentemente da sociedade ser explicitamente fascista ou não. Em outras palavras, quer dizer que devemos estar atentos pois o nazismo jamais se repetirá com o nome de "nazismo". Pois será o modelo ou o regime, e não a bandeira, aquilo que nos informará a patologia do poder. Para ilustrar o que dizemos, notemos um capítulo em especial do "É isto um homem", aquele no qual Primo Levi relata sua ida à enfermaria do campo. Deveria ser, no mínimo, incomodo à compreensão humana conceber que a poucos quilómetros das câmaras de gás os nazistas mantinham uma enfermaria para os "internos". Num primeiro momento Primo Levi chega a especular que talvez aquele lugar exista para os presos que, assim como ele, são "os judeus economicamente úteis". Mas essa perspectiva é rapidamente descartada, e em sua falta de resposta, Levi imagina que tal enfermaria seja apenas mais uma dessas coisas que os SS fizeram "para rir dos judeus". Mas onde o escritor italiano não encontra resposta, o filósofo francês parece nos auxiliar; os nazistas não eram monstros irracionais, eles replicaram nos campos um microcosmos social, com valores sociais. Isto é, mesmo que previamente todos ali soubessem que estariam condenados a morte, ainda assim, a eles era imposto um regime cerrado de higiene, de disciplina, de trabalho (mais como fator moral, que como fator econômico). Os nazistas que matavam os judeus em nome de uma "vida [biológica] pura", replicavam nos campos o valor moral da vida. Em uma palavra, é isto que Foucault chamaria de "biolpolítica". Em nome da "vida" deter o poder de tirar a vida. Esta fórmula parece contraditória, no entanto, seria a primeira chave para entendermos a contradição que é uma enfermaria no mesmo espaço da câmara de gás. Por fim, esta apresentação ainda adentrará numa última provocação: até que ponto a pequena enfermaria no campo de concentração não representa simbolicamente os pequenos campos em nossas "enfermarias" socais (as escolas, prisões, hospitais e outros regimes concentratórios)? Até que ponto a contradição não está dentro e fora dos muros dos campos? Palavras Chave: Biopolítica; concentração; campo; poder; patológico. FIM DO ESTADO: UMA TESE EM EXTINÇÃO? Mario Cesar de Mello Pinheiro. A tese da extinção do Estado na sociedade futura é uma ideia que percorre o conjunto da obra de Karl Marx, desde a sua juventude até os textos da maturidade, seja ele compreendido como um “produto da alienação humana”, seja como um “instrumento de coerção da classe dominante”.Observa-se que Marx, e também seu colaborador e amigo Friedrich Engels, procura estabelecer uma relação direta entre a origem do Estado e a sua finalidade, entre a sua gênese e a sua ontologia, entre suas causas e suas funções. Será que o papel do Estado na sociedade moderna pode ser reduzido à sua gênese histórica? Será que o Estado, no curso de seu desenvolvimento, não se transformou, deixando de ser, apenas, um instrumento de dominação de classe?Sem pretender discutir a existência ou não de uma teoria marxista do Estado, este trabalho, sem maiores pretensões, busca questionar o postulado marxista da extinção do Estado na sociedade sem classes, ainda que sob uma ótica que tem no marxismo sua principal referência. Palavras Chave: ESTADO - GÊNESE - ONTOLOGIA - CLASSE DOMINANTE - LUTA DE CLASSES - SOCIEDADE CIVIL - ALIENAÇÃO FOUCAULT: ANALÍTICA DO PODER E ESTADO Fabio Batista. O objetivo da presente comunicação é explicitar a relação entre a analítica do poder e o Estado em Foucault. Analítica que supõe não “o” poder enquanto uma coisa ou algo que se tem ou não tem, um atributo com um local e uma direção, mas aquilo que deve ser pensado em seu caráter relacional, que funciona em rede e permeia todo o campo social de forma capilar. Embora essa perspectiva foucaultiana tenha posto de lado o Estado – ou ao menos diminuindo sua importância no campo da filosofia política-, a recorrência ao termo é notória: medicina de Estado; estatização do biológico; racismo de Estado; Estado como forma moderna do poder pastoral; razão de Estado. Desse modo vale perguntar: se Foucault procurou neutralizar a função do Estado quando de suas investigações sobre disciplina, biopoder, poder pastoral por que por vezes ele reaparece? Isto porque o Estado tomado em sua complexidade, e não apenas como um universal, pode ter sua importância para as analítica do poder, na medida em que implementou uma medicina para o seu fortalecimento, ou na medida em que é uma das vias a partir da qual se pôde implementar técnicas de totalização e individualização. Portanto, perguntar pelo lugar do Estado no pensamento foucaultiano é questionar uma suposta evidência, que teria nascido, sobretudo a partir de Vigiar e punir - e cursos contemporâneos ao livro - sobre a irrelevância que ele teria para Foucault. A hipótese é: na trajetória da analítica do poder Foucault procurou pensar i) de que forma as tecnologias de poder se articulam com o Estado; ii) e ainda de que modo o Estado se apropria delas e as põem a funcionar iii) e Área: Filosofia Política que tipo de racionalidade política o sustenta. Palavras Chave: Analítica do poder; Estado; tecnologias de poder; racionalidade política. LUKÁCS E A POLÍTICA: INTRODUÇÃO A UM DEBATE CONTEMPORÂNEO Bruno Gonçalves da Paixão. A presente proposta de comunicação tem como objetivo discutir qual seria a função social da política na obra tardia do filósofo húngaro György Lukács. Tal categoria, que comparece de forma mais sistematizada nos capítulos da Ideologia e da Alienação, é interpretada predominantemente pelos comentadores de Lukács como uma relação social universal, no sentido de possuir inerência ao ser social, ou seja, de se fazer presente em todas as sociabilidades humanas. A partir desse entendimento a categoria da política em Lukács não diferiria em nada em relação a milenar máxima aristotélica do zoon politikon, mas em contrapartida criaria no mínimo uma tensão com a tese marxiana do fim da política. Nesse sentido a hipótese levantada nesse projeto vai propor um entendimento diametralmente oposto ao apresentado acima. Será defendida a tese de que, na obra de maturidade de Lukács, a universalidade da política diz respeito à extensão e profundidade do alcance da práxis política; que essa, diferentemente da universalidade da linguagem, não é espontânea e nem perene. Para isso pretende-se mostrar que a política está vinculada à ideologia estrita, que por sua vez surge a partir do aparecimento da sociedade de classes, ganhando assim uma função social alienante, a força social usurpada da sociedade em forma de força política. Palavras Chave: Política; Ideologia; Alienação MAQUIAVEL E OS HUMORES: A FUNDAMENTAÇÃO DE GRANDES E POVO EM O PRÍNCIPE Robson Alan da Rocha. Eis um dos textos mais discutidos e controversos da história: O Príncipe. Esta é uma das mais importantes obras da história da filosofia, e sem que nos deixemos levar pelo senso comum, é válido examiná-la. A teoria dos humores, dentro da filosofia política moderna é uma interpretação inovadora. Considerar os efeitos da política a partir da tensão e não a partir da harmonia ressalta um pensamento político também inovador, característica de Maquiavel. Porém, ao interpretarmos este texto, é comum incorrermos a alguns enganos. O objetivo, neste momento, explorar um dos aspectos que frequentemente causa confusão. Em todos os lugares, conforme aponta Maquiavel (O Príncipe, IX) "Existem duas tendências diversas", ou "humores". A Estes humores Maquiavel denomina grandes e povo. Segundo ele, estas duas categorias políticas estão constantemente divididas. Isto se dá na medida em que, ao que este trecho da obra indica, os interesses destes humores são divergentes. Aqui é que se encontra o cerne da questão. Tomando o aspecto que tenho por alvo, existe uma diferenciação fundamental entre esses grupos. A causa frequente de incoerência está aí. Grandes e povo estão irreversivelmente divididos pelos seus desejos. O fato é que "o povo não deseja ser governado nem oprimido pelos grandes e estes desejam governar e oprimir o povo" (O Príncipe, IX). É desta diferenciação que surgem os humores. Não por poucas vezes estes dois grupos são tomados por aspectos socioeconômicos. Este, porém, é um engano. Outro autor ainda afirma: O que diferencia grandes e povo “não é o que tenham por fortuna, por seus costumes, ou por sua função um estatuto distinto associado a interesses específicos e divergentes" (LEFORT, 1972, p.382), mas de fato o "choque de dois apetites". Maquiavel os diferencia pelos seus interesses (oprimir e não ser oprimido), e não por qualquer questão de outra natureza, portanto seria inválido equiparar grandes e povo a ricos e pobres, patrícios e plebeus ou algo semelhante. É certo que em determinados momentos da história os humores foram incorporados em classes sociais, como na Roma Republicana, acima representada por grupos sociais de seu tempo, porém, este aspecto de classes é variável de acordo com o contexto, mas a terminologia de grandes e povo permanece ao longo da história. Todo este argumento remonta à importância dos humores na ação conflituosa da qual decorre a liberdade e demais desdobramentos políticos. Enfim, julgo válido ressaltar esta nuance, pois é de fato algo determinante na obra de Maquiavel e relevante na história do pensamento político. Se o próprio autor julgou tais coisas relevantes o bastante para serem escritas não seria menos importante ponderá-las. Palavras Chave: Humores; Política; Grandes; Povo; Categorias. Área: Filosofia Política MONTAIGNE E A ATARAXIA: O CÉTICO NA GUERRA Gerson Lucas Padilha de Lima. Como pode um filósofo pirrônico, no meioda guerra falar em ataraxia? Como aponta Conceição (2014), no ceticismo, há vários conceitos importantes para a compreensão de sua filosofia: zetésis, diaphonia, isosthenia, epokhé, ataraxia e eudaimonia. Tais termos constituem o cerne de todo pensamento cético e são familiares a Montaigne. Não é possível aqui nos adentrarmos em todos esses conceitos. Devido à sua centralidade, fixemo-nos apenas na epokhé em sua relação com a ataraxia. A epokhé é uma consequência da incapacidade de decisão racional a favor de um lado ou outro da questão. É uma atitude de não aceitar nem negar determinada tese, em virtude do igual peso das razões opostas. Não é a aplicação da epokhé que mostra a universal contradição; antes, é a constatação da diaphonia das opiniões que leva à suspensão cética do juízo. A suspensão do juízo, por sua vez, traz consigo a ataraxia, ou a imperturbabilidade da alma. A epokhé cética leva-nos a um profundo respeito por tudo aquilo que é variável nas partes. Esta valorização do variável e do diverso tem consequências no domínio político. Montaigne faz do povo objeto de reflexão; assim, na maturidade do terceiro livro dos Ensaios, elege os trabalhadores simples como modelos vivos de ataraxia, dos quais admira as provas de firmeza de ânimo (mais do que as dos estoicos) e os quais não têm dor senão nas horas que as têm. Mas, como compreender o emprego do conceito cético de ataraxia, retoricamente projetado na figura do trabalhador braçal? Eva (2007) responde que embora seja possível reconhecer aí uma espécie de deslocamento temático relativamente ao pirronismo antigo [...] importa ressaltar que não parece haver nenhuma incompatibilidade entre o tema da ataraxia – considerada estritamente do ponto de vista da tranquilidade intelectual – e esse reconhecimento de um fator mais urgente de perturbação nas guerras civis (EVA, 2007). Sua opção, portanto, é pelos trabalhadores e pelo bem público, ou, mais precisamente, pela ataraxia social. Em outras palavras, da mesma forma como as exigências externas impõem a conveniência da preservação de certos dogmas, o ideal pirrônico da ataraxia deve abrir espaço a outro conceito de tranquilidade, agora não mais de ordem estritamente pessoal e filosófica, mas diretamente da paz pública, visto que, como as partes do tecido social não têm a certeza da posse da verdade, admitem a divergência e a contestação, sem a autofagia social. Palavras Chave: Montaigne, ceticismo, Ataraxia, Gueera. O MÉTODO GENÉTICO EM HOBBES, LOCKE E ROUSSEAU Fabio Antonio da Silva. O presente trabalho, resultado de parte de minha pesquisa sobre a obra de Jean-Jaques Rousseau, sobretudo naquilo que tenho entendido como “o método genético” desse autor, procura trazer à baila dois métodos contratualistas que precedem aquele exposto pelo genebrino no Contract Social de 1762, qual sejam, o de Thomas Hobbes em seu Leviatan de 1651 e o de John Locke em Two Treatises of Government de 1681. O quadro comparativo que proponho aqui, antes de esgotar os nuances dos sistemas políticos apregoados pelos autores ingleses, pretende expor a particular originalidade da história hipotética de Rousseau, a qual já se fazia presente em seus Discours (que precedem o Contract). Palavras Chave: Hobbes; Locke; Rousseau; Gênese; História O PAPEL DA EDUCAÇÃO NA REDUÇÃO DAS INJUSTIÇAS SOCIAIS: CONTRIBUIÇÕES DA TEORIA RAWLSIANA DA JUSTIÇA PARA SE PENSAR AS MUDANÇAS PROPOSTAS NO BRASIL HOJE Nelsi Kistemacher Welter. Nossa comunicação pretende abordar alguns aspectos da teoria da justiça como equidade e as contribuições do pensamento de John Rawls para refletirmos sobre o problema da pobreza e o papel da educação e das políticas sociais na redução da pobreza e na garantia de outros direitos essenciais aos cidadãos. Para tanto, desenvolveremos brevemente os princípios rawlsianos de justiça e a ideia de bens primários, procurando identificar elementos que contribuam para o debate em torno de tais questões. Em seguida, procuraremos identificar de que modo a Constituição Brasileira de 1988 aborda a temática da desigualdade e da pobreza, além de buscar compreender o papel do Estado em relação aos direitos sociais dos cidadãos, sobretudo o direito de acesso à educação. Por fim, pretendemos relacionar tais aspectos com as mudanças atuais que vem sendo propostas no país, mais especificamente, a MP 746/2016, que propõe uma reforma ao ensino médio e a PEC 241/2016 (PEC 55 no Senado Federal), buscando compreender o papel dessas medidas no que diz respeito à justiça social, por exemplo, promovendo a inclusão daqueles que estão excluídos do sistema de ensino hoje (no que diz respeito à MP 746) e se as injustiças sociais serão reduzidas ou ampliadas com a aprovação da PEC. Área: Filosofia Política Palavras Chave: Educação; Justiça Social; Equidade; Reforma Ensino Médio; Constituição O PREÇO DO AMANHÃ: CAPITALISMO DARWINISTA E MARXISMO Evânio Márlon Guerrezi. Pretendemos com essa pesquisa, apresentar aquilo que pode ser compreendido como a perspectiva darwinista do capitalismo e os seus equívocos teóricos afirmados por certa corrente marxista. Para tanto, tomaremos como referência e material didático a obra cinematográfica O preço do amanhã. Apesar de sua forte concepção comercial, o longa-metragem tenta, de maneira interessante, evidenciar a perspectiva marxista de expropriação da força de trabalho da classe proletária no sistema de produção capitalista, retratando uma sociedade ficcional e aparentemente futurística em que a modificação genética tornou os grandes capitalistas imortais, enquanto os trabalhadores se esforçam para viver um dia após o outro. Paralelamente, também nos apresenta à justificativa de que essa expropriação, levada a cabo pela classe burguesa, se encontra aparentemente legitimada por conta do que se convencionou chamar de capitalismo darwinista, ou seja, o direito à exploração por conta dos mais aptos. Como referencial teórico para a discussão, usaremos O capital de Marx, abordando as noções de valor de uso e de troca, a fim de mostrar como suas relações com a produção e circulação de mercadorias podem levar ao acúmulo de capital e a extração de mais-valia da classe trabalhadora. Além disso, utilizaremos o artigo de Anton Pannekoek, Marxismo e darwinismo. Nele, o autor aborda as diferentes perspectivas geradas a partir do entrecruzamento entre marxismo e darwinismo, tendo, contudo, como um de seus principais objetivos, a revogação do darwinismo como teoria passível de ser usada para a legitimação da sociedade capitalista e o indivíduo capitalista. Palavras Chave: Marxismo; Darwinismo capitalista; Luta de classes. OS DESAFIOS DA BILDUNG SOB O OLHAR DE NIETZSCHE E RINGER: POSSÍVEIS APROXIMAÇÕES ENTRE O FILISTEU DA CULTURA E OS MANDARINS ALEMÃES Abraão Lincoln Ferreira Costa. A presente pesquisa tem por tarefa realizar uma aproximação entre as obras de Fritz K. Ringer, O declínio dos mandarins alemães e a conferência de Nietzsche Sobre o futuro dos nossos estabelecimentos de ensino, juntamente com a sua terceira extemporânea, Schopenhauer educador. Em linhas gerais, a proposta tende analisar a época compreendida a partir da metade do século XIX verificando-se os efeitos advindos do processo de industrialização tardia ocorrido na Alemanha, o que, por efeito, teria levado ao desencadeamento do processo de extinção da Bildung (Cultivo/Formação), enquanto propósito do vir-a-ser. Nesse sentido, pretendo mostrar que a análise de Ringer acerca do declínio dos mandarins alemães corrobora as denúncias apresentadas por Nietzsche acerca do problema da criação do filisteu da cultura. Problema, que segundo o filósofo alemão teve início a partir da existência de duas correntes complementares e ao mesmo tempo deletérias e antinaturais: sendo uma em defesa da máxima extensão da cultura e a outra a favor da redução da mesma a uma simples função de subserviência ao Estado. Depreendemos que para esses autores, consequentemente, a educação tornar-se-ia uma questão de interesses burocráticos, devido o advento da vida moderna, logo, os efeitos do progresso da universalização da cultura promovido pela intervenção do Estado, teria gerado o desalinhamento da formação (Bildung) e da cultura de tipo superior (Cultur). Palavras Chave: Alemanha, Bildung, Mandarim, Nietzsche e Ringer. Área: Filosofia Política POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL: DO PLANO NACIONAL DE CULTURA ÀS (MICRO) AÇÕES DESCENTRALIZADAS. Alessandro Antonio da Silva. O objetivo desta comunicação é fazer uma análise do PNC - Plano Nacional de Cultura - tendo em vista detectar alguns motivos que tem impedido este plano de estabelecer uma politica cultural no país. Com o apoio de algumas obras de Michel Foucault (1926 – 1984), especialmente o seu Curso de Biopolítica; e de Pascal Gielen (1970) acerca do Fundamentalismo da Criatividade; a tese parte da noção de governamentalidade e da análise do fortalecimento das relações entre economia e politica para buscar compreender os problemas envolvidos, não apenas na constituição do PNC, mas nos contextos neoliberais que o engendram (e que dele emergem). Além disso, são citados autores que analisam a história da politica cultural e da economia da cultura no Brasil. O corpus da pesquisa reune também algumas ações culturais propostas fora do eixo das grandes cidades brasileiras (sobretudo Rio de Janeiro e São Paulo), onde a situação apresenta-se ainda mais difícil (noroeste e oeste do Paraná). O resultado esperado é o levantamento de problemas que tem impedido a construção de uma politica cultural nacional, agindo em diversas frentes que envolvem redes de comunicação, de economia e de politica, promovendo efeitos de dessubjetivação e tanatopolitica ao invés de politicas para a vida. Palavras Chave: cultural; Plano Nacional de Cultura; trabalho; biopolítica. POVO EM MAQUIAVEL: FIGURA UNA E HOMOGÊNEA OU PLURAL? UMA TENTATIVA DE APROXIMAÇÃO À IDEIA DE POVO EM MAQUIAVEL José Luiz Ames. Na presente comunicação pretendemos operar uma aproximação conceitual à ideia de povo no pensamento de Maquiavel. A hipótese que orientará nossa exposição será a de que povo em Maquiavel é uma noção de natureza polimórfica, o que torna equivocada toda tentativa de fixar-lhe uma identidade definida e única. Para o desenvolvimento desta ideia, iniciaremos pela caracterização de uma tipologia das interpretações contemporâneas da ideia de povo em Maquiavel. Mostraremos que é possível identificar três distintas perspectivas: elitista, republicano-institucionalista e populista. O dado comum que subjaz às três abordagens, apesar de profundamente diferenciadas entre si, é o fato de que todas oferecem concepções inerentemente estáticas do lugar do povo na obra de Maquiavel. Significa dizer: as três distintas abordagens têm em comum o fato de entenderem que Maquiavel trata a ideia de povo de um modo constante e uniforme. Contra este entendimento, caracterizaremos duas interpretações alternativas, uma de Maurício Suchowlanski, um comentador argentino radicado nos EUA e outra de Stefano Visentin, um intérprete italiano. Apesar de os dois comentadores terem em comum sua oposição à interpretação contemporânea de que em Maquiavel se faria presente uma ideia homogênea de povo, encaminham sua interpretação alternativa desde perspectivas bem distintas. Enquanto Suchowlanski procura mostrar que se fazem presentes distintas ideias de povo em Maquiavel seguindo uma perspectiva histórica da sua produção intelectual, Visentin mostra que a ideia de povo em Maquiavel varia conforme as conjunturas históricas concretas nas quais ele aparece. Como conclusão, mostraremos os avanços e limites destas duas perspectivas de análise. Palavras Chave: Maquiavel, povo, conflito PRINCIPADOS E REPÚBLICAS: A PREOCUPAÇÃO POLÍTICA DE MAQUIAVEL Fabiana de Jesús Benetti. O pensamento político de Maquiavel é geralmente pensado a partir da antinomia principado e república. Embora reconheçamos as diferenças que carregam cada uma destas formas políticas e concordemos com a preferência republicana de Maquiavel compreendemos o autor como um pensador da vida política, seja qual for a forma que lhe é impressa. Nesta perspectiva, pensamos que há pontos de convergência que nos permitem pensar sua unidade de pensamento político, tal é o caso da dinâmica da política que se inscreve por meio do conflito político e dos diferentes desejos que estão na base do conflito: desejo dos grandes de dominar e o desejo do povo de não ser dominado. Este trabalho tem o objetivo de apresentar as principais recepções do pensamento político de Maquiavel e pensar sua teoria como uma preocupação com a política, independente das formas em que o Estado se apresente. Palavras Chave: Principado, República, Maquiavel Área: Filosofia Política SENTIDO DA POLÍTICA E LIBERDADE EM HANNAH ARENDT Ricardo Pietrowski Ferreira. Este presente trabalho pretende demonstrar qual o sentido da política e da liberdade no pensamento da autora Hannah Arendt. Para tanto, busca-se fazer o paralelo da noção de política-liberdade que autora traça a partir de uma retomada do conceito aristotélico de que a liberdade é a razão de ser da política. O intuito da autora era defender a dignidade da política, e este retorno a esta dignidade é justamente o papel da liberdade em relação à política. Concluindo o pensamento, será necessário passar também pela noção de discurso e ação, que para autora são fundamentais para o entendimento sobre a liberdade. Palavras Chave: Política, Liberdade, Discurso e Ação, Hannah Arendt SER E PARECER: OCULTAÇÃO DA REALIDADE NA FILOSOFIA DE ROUSSEAU Caio Cezar Pontim Scholz. Pode-se afirmar que o pensamento filosófico construído por Rousseau tem como princípio fundamental a passagem do estado de natureza para o estado social. Para a compreensão desses elementos, se faz necessário investigar, nesse contexto de transição de cenários, uma problemática essencial, isto é, a questão a respeito da dualidade Ser e Parecer, que, nessa filosofia com aspecto ético e político, está intimamente ligada ao processo de ocultação da realidade. Desse modo, para o fim de explorar a presença, a composição e as influências desse dualismo, tanto na obra quanto na vida de Rousseau, dirigem-se as pretensões deste estudo. Nessa direção, transitar-se-á por algumas das principais obras filosóficas e relatos autobiográficos do filósofo, bem como por interpretações de autores como Bento Prado e Starobinski. Palavras Chave: Ser; Parecer; Realidade; Ética; Política. Área: História da Filosofia Antiga e Medieval AS RATIONES SEMINALES NA CRIAÇÃO: O TEMPO NAS CONFISSÕES DE AGOSTINHO Thiago Augusto Zanardi; Bernardo Alfredo Mayta Sakamoto. Este estudo tem como objetivo principal abordar a importância dos estudos feitos por Santo Agostinho (354-430), expostos nas Confissões e no Comentário ao Gênesis, sobre as Razões Seminais. O problema que responde Agostinho, aos maniqueus, é acerca da criação que pode expressar-se assim: Como um Deus "eterno" e todo poderoso pode criar tudo ex nihilo, do nada, fazendo uso do "tempo em apenas sete dias", como relatado no livro bíblico do Gênesis? Esta questão que parece óbvia exige um esforço intelectual filosófico-teológico que Agostinho enfrentou e buscou responder. O problema do tempo, o que é o tempo?, é encontrado ao longo de toda a história da Filosofia, até os contemporâneos como Heiddeger em sua obra Ser e Tempo aborda este problema, ainda na ciência, Einstein com a Teoria da Relatividade encontra a dimensão temporal. Santo Agostinho responde a este problema baseando-se no relato da criação do Gênesis com a expressão de Deus: "Faça-se", e com a palavra coeterna, num só instante, todas as criaturas existem. A hipótese das Razões Seminais serve, para Agostinho, explicar os sete dias da criação. Analogamente ao semeador, Deus semeou todas as espécies num momento, mas algumas sementes germinam mais rapidamente que outras. Isto explica, segundo Agostinho, a temporalidade divina expressada na Bíblia. O bispo de Hipona apresenta as Rationes Seminales para explicar com coerência, uma aparente contradição na criação entre tempo e eternidade no livro bíblico do Gênesis. Conclui-se que a criação ex nihilo de Deus se deu, num instante mas, em três etapas sucessivas: matéria informe, forma da matéria e as Razões Seminais. Ainda explica Agostinho que, pelas Razões Seminais, Deus criou suas criaturas completas como anjos, terra e ar; e outras, que ainda estão incompletas e ocultas aos olhos e, que de tempos em tempos, estas espécies evoluem até surgir novas espécies. Palavras Chave: Santo Agostinho; Razões seminais; Temporalidade; Ex nihilo. FILOSOFIA E POESIA: ALBERTO CAEIRO E O PIRRONISMO Charles Eriberto Wengrat Pichler. O intuito do seguinte texto é buscar uma aproximação entre a poesia do heterônimo pessoano Alberto Caeiro e o ceticismo da vertente pirrônica. A tentativa, ou melhor, a possibilidade de relação, concentrar-se-á unicamente na ataraxia pirrônica; ou seja, se Alberto Caeiro poderia ser visto como o agir que a atitude pirrônica desencadearia – em relação ao que viria após o aceite do daquilo que aparece. No entanto, sem deixar de lado o discurso teórico, tanto de Caeiro como do ceticismo, concentrar-nos-emos, também, em pontuar diferenças entre ambos os âmbitos, como, por exemplo, o fato de Caeiro se apresentar, aparentemente, como um cético, não pirrônico, mas acadêmico, que nega um sentido por trás daquilo que aparece. Por fim, trar-se-á para a discussão a posição de uma “não filosofia” do neopirrônico brasileiro Oswaldo Porchat, buscando, de algum modo, certa concatenação entre esta posição e a “filosofia dos sentidos”, de Caeiro. Palavras Chave: Alberto Caeiro; Ceticismo; Pirronismo; Poesia. PIRRONISMO E AKATALEPSIA Anderson Lucas dos Santos Pereira. O pirrônico exige que a linguagem revele com sinceridade o pensamento, ainda que reconheça a incapacidade de a linguagem dizer o ser. Além dos escritos demolidores de Sexto Empírico, Diógenes Laércio continua exercendo considerável influência sobre a interpretação do ceticismo. Discorrendo sobre o pirronismo, Laércio considera-o o mais nobre filosofar, por ter inventado em seu modo de vida os estados de akatalepsía (inapreensibilidade das coisas) e de epokhé (suspensão de juízo). Sendo assim, nada dizia ser nem belo, nem feio, nem justo, nem injusto, mas igualmente, sobre todas as coisas, afirmava nada ser em verdade, mas todos os homens agirem segundo a convenção e o costume; pois cada coisa não é mais isso que aquilo. Mas, se o cético acadêmico é aquele que se cansou da busca pela verdade, o pirrônico está incansavelmente no encalço dela. Zétesis é um conceito central da filosofia pirrônica que indica a busca incessante da aletheia e da certeza, sem que jamais se tenha a segurança de atingi-la, ou de não atingi-la. Conforme Pirro, não encontramos o ser, mas o aparecer. A filosofia clássica distingue entre o aparecer e o ser, transpondo metafisicamente a distinção corriqueira entre as aparências enganosas das coisas e sua manifestação ordinária. A filosofia clássica privilegiou o ser como necessário e estável, desqualificando o aparecer porque instável e contingente. Pirro, ao contrário, volta do ser às aparências, negando decididamente que exista ser – e, portanto, que seja possível qualquer juízo sobre o ser – e reconhecendo, consequentemente, apenas o aparecer. Área: História da Filosofia Antiga e Medieval Palavras Chave: Ceticismo; Pirronismo; Ser; Conhecimento. Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea CONSIDERAÇÕES SOBRE O IDEALISMO TRANSCENDENTAL KANTIANO A FUNÇÃO DO EU PENSO COMO PANO DE FUNDO DE UM IDEALISMO TRANSCENDENTAL Neuton Vitor Ozorio Avila. A comunicação visa apresentar o esboço de um projeto que pretende analisar as implicações da função do eu penso na raiz do debate sobre o idealismo transcendental postulado na Crítica Da Razão Pura de Kant. Este estudo investiga, fundamentalmente, a Estética Transcendental e o capítulo da Analítica Transcendental, constante da Lógica Transcendental, com atenção especial à Dedução Transcendental. A filosofia no tempo de Kant acontecia por um viés gnosiológico, entretanto, no pano de fundo do debate sobre o conhecimento, se mantém como característica comum a existência de dois pólos distintos que convergiriam para a configuração da experiência. Tanto na visada Racionalista, como na visada Empirista, o mundo é entendido sempre como um fora de si. Embora a razão se relacione com este, essa relação é desigual, pois, na medida em que o conhecimento deva ser algo objetivo, o próprio esclarecimento sobre o sujeito deverá estar subordinado a esse modelo epistêmico objetivo que configura os dados de experiência. Essa contenda na modernidade sobre a possibilidade do conhecimento permite a separação entre razão e mundo e faz com que estas instâncias passem a ser compreendidas como sujeito e objeto: subjectum indicando aquilo que subsiste, ou seja, o fundamento e objectum se referindo àquilo que está colocado diante de um sujeito. Portanto, mundo passa a ser concebido como um âmbito que se divide em duas esferas: a da subjetividade frente à objetividade. O problema a ser superado por uma crítica seria esta fenda aberta entre o mundo objetivo acessado pelos sentidos (empirismo) e a Razão como estrutura lógica conceitual que mantém o mundo (racionalismo). Kant propõe, portanto, a tarefa de superar esta situação pelo próprio exercício crítico da Razão Pura. Tarefa que ele próprio caracterizou como uma revolução copernicana. De acordo com tal revolução, antes de um conhecimento ser proposto é necessário uma crítica a esse instrumental arquitetônico que já estaria sempre pressuposto no ato de conhecer. Portanto, é preciso que se compreenda primeiro as condições de possibilidades para o conhecimento e os limites deste ôrganon pelo qual o conhecimento se dá. Assim, a crítica precede ao problema do conhecimento. Antes de buscar a validade de um conhecimento, se faz necessário uma crítica dos elementos que constituem as condições de possibilidade de sua objetivação. Neste aspecto, o conceito de limite do conhecimento é de fundamental importância para o projeto kantiano, pois postula a ideia de um “conhecimento possível” e não de um conhecimento real. O real apresentaria antes uma possibilidade e não um absoluto no pensamento de Kant, consequentemente, sua teoria pode ser caracterizada como idealismo, porém não um idealismo material, mas antes um idealismo transcendental. A unidade da experiência não mais se encontraria na ordem dos fatos ou na substancialidade de um sujeito representador, mas em seu caráter apriorístico, em sua configuração transcendental. A função do eu penso, como apercepção transcendental, pretende apresentar aquela unidade não-substancial e não-factual da experiência, superando as esferas transcendentes da Razão e do mundo, do sujeito e do objeto. Palavras Chave: Idealismo; Idealismo transcendental; Apercepção; Apercepção Transcendental; Sujeito; Kant. A CRÍTICA DO JOVEM NIETZSCHE À EDUCAÇÃO DE SUA ÉPOCA: A FORMAÇÃO ERUDITA E A DO GÊNIO Vanessa Henning. Ao percorrer os escritos de Nietzsche acerca da educação é possível perceber o papel que a educação executa na formação dos indivíduos. Isto porque ela tanto pode promover o surgimento de um homem decadente, o erudito, como também a formação do homem superior, o qual Nietzsche denomina de Gênio. Nesses escritos, é possível ver que o processo de formação está atrelado aos valores da cultura presente. O que Nietzsche busca é apresentar as críticas à cultura de sua época, que visa a uma educação utilitária cuja formação é promover indivíduos que estejam a serviço do Estado. Por outro lado, o filósofo propõe uma formação que proporcione o reconhecimento dos instintos e das forças humanas. É analisando esse tipo de postura diante do mundo, que Nietzsche vê o exemplo de homem superior em Schopenhauer, por sua postura e pensamento intempestivos frente à cultura da época. Este trabalho mostrará como Nietzsche pensa a educação moderna e como essa formação propicia o surgimento do tipo de homem decadente, o erudito. Além disto, o intuito aqui é também mostrar o porquê de Nietzsche encontrar em Schopenhauer um exemplo de formação superior, isto é, uma educação libertadora em que o homem possa assumir todos os seus impulsos e suas forças. O filósofo propõe a partir disto, um tipo de cultura cujo pensamento esteja em afinidade com uma vida afirmadora de si mesma e não uma cultura que privilegie uma vida submersa em ideais que provocam a evasão do homem de si. Palavras Chave: Educação; Estado; Erudito; Schopenhauer; Gênio Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea A QUESTÃO DA TÉCNICA: POR ONDE ANDA SUA DIMENSÃO FORMATIVA? Bruno Pedroso Lima Silva; Rosana Silva de Moura. Quero propor a discussão, partindo de Heidegger, da questão da técnica, entendendo-a como central e primordial para compreender o esquecimento do ser na modernidade. Investigar a técnica, da techné grega à técnica moderna e a sua entificação como tecnologia, significa realmente questionar, escrutinar. Questionar é finalidade e é uma metodologia. O questionamento vai além da contemplação fenomenológica, no sentido de construir, pela linguagem, um relacionamento livre com o tema. Aristóteles propôs a existência de quatro formas de causalidade para a poiesis – material, formal, final (o fim do produto, sua razão de ser) e a eficiente (o princípio, o efeito). Questiono, com Heidegger, o obscurecimento da causa final, na técnica moderna, em favor da causa eficiente. Não importa mais o fim, o por que da produção. Importa o efeito, seu uso, sua instrumentalidade. A intenção é criar esse campo de tensão, abrir mais ramificações da discussão, partindo do ponto central de Heidegger: a técnica moderna foge da essência da techné e cria o perigo extremo, a partir da armadilha da disponibilidade. A essência da técnica não pode ser nada de técnico, é uma questão filosófica. A determinação corrente da técnica, a sua representação presente, não corresponde à sua essência. A determinação instrumental da técnica - que a confunde com a atividade prática do homem – só explica, domina. Funciona e demonstra. Não reflete. Heidegger expressa o sentido reflexivo da técnica na filosofia grega como a causalidade do “responder e dever”. O produto nasce com um dever a priori, e deve, por isso, responder a esta questão ou reflexão anterior. O produto carrega a responsabilidade de um dever, de uma razão para ser pensado e produzido. Heidegger parece dizer que a essência da técnica está efetivamente na techné. O decisivo não é o fazer, e sim o desencobrir. A reflexão anterior da techné – esquecida pela técnica moderna e por sua tecnologia - o projetar, o dever e a responsabilidade do produtor com o produto não poderiam ser pensadas como a dimensão política da techné? E essa reflexão não exigiria uma formação que pense a partir desse dever e responsabilidade? Os gregos a pensaram como paideia. E nós? Perdemos a finalidade política do fazer? Heidegger propõe, como ponto de partida, o olhar atento à arte. Em seus escritos, busca em Holderlin e Goethe princípios para ver arte na técnica, e assim, buscar ver o que pode salvar. Techné tornou-se ars. Arte e técnica são conceitos historicamente próximos, quase sinônimos. A filosofia moderna os segmenta. Fundamento do perigo! Será a arte que fará brilhar o poder salvador dentro da própria armação tecnológica? Será possível olhar para a techné e ver, na técnica moderna, um brilho do que salva? Será possível ver crescendo, na técnica moderna, alguma dimensão política e formativa que existia na techné? Palavras Chave: técnica, educação, esquecimento, política. AS INFLUÊNCIAS DE KANT SOBRE HEIDEGGER E O PENSAMENTO QUE TRATA DO ESPAÇO Maria Lucivane de Oliveira Morais. A comunicação a ser apresentada tem como objetivo geral demonstrar as influências de Kant sobre Heidegger ao produzir a obra Ser e Tempo publicada em 1927 que dentre outras discussões, tratou do espaço. Será apresentada a discussão proposta pelo modelo kantiano de pensamento no qual o espaço emerge como estando “dentro” do homem em sua faculdade cognitiva, como forma pura da sensibilidade a priori. Em seguida, demonstrar-se-á como Heidegger promoveu a releitura de tais análises, tratandoas a partir de conceitos ontológicos que permitiram delinear uma nova compreensão existencial do espaço como o campo de jogo do ser-no-mundo que somos e este ser-no-mundo como o ente que se lança para múltiplas possibilidades do seu existir. Para tanto, serão apresentadas considerações dispostas nos §. 22, 23 e 24 de Ser e tempo, assim como, as justificativas que puseram a problemática espacial como uma das preocupações traçadas por Kant na Crítica da razão pura cuja primeira edição ocorreu no ano de 1781. Palavras Chave: kANT. HEIDEGGER. ESPAÇO. AS PAIXÕES EM HOBBES Lucas Antonio Vogel; Fabio Antonio da Silva. Pretende-se com esta comunicação, expor a problemática das paixões humanas do ponto de vista hobbesiano, sobretudo priorizando o capítulo VI do Leviatã; parte desta obra que, a exemplo dos onze capítulos iniciais - como afirma Hélio Alexandre da Silva (2009) - é vilipendiado pela grande maioria dos estudos sobre a mais conhecida obra de Thomas Hobbes. É precisamente nesse recorte do texto de Hobbes no qual ele afirma a existência de dois movimentos animais, os involuntários: que não dependem da imaginação; e os voluntários: que dependem da imaginação (bem distinta, para Hobbes, da sensação como lemos nos capítulos I e II). O filósofo inglês, dito mecanicista, concebe o homem como análogo ao relógio; com sua cadeia de engrenagens em que Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea uma aciona a outra como numa rede de causas e efeitos. Assim, partindo dessa distinção inicial, Hobbes afirma que o apetite, ou desejo, denota a aproximação do objeto visado, já a aversão denota o afastamento do objeto. Em uma cadeia lógica de causas e efeitos, o filósofo conceberá analogamente as paixões do amor e do ódio, salvo que desejo e aversão indicam a ausência do objeto, ao passo que amor e ódio indicarão a presença do mesmo. Disso o filósofo deduz ainda a paixão do desprezo ou indiferença, que consiste no sentimento atribuído aos objetos que nem amamos e nem odiamos. Para Hobbes o corpo do homem sempre está se modificando, e, com isso, sempre os seus apetites e aversões estarão se modificando durante a vida, ainda que nunca de forma universal em todos os homens. Neste sentido os objetos do apetite, ou desejo, são o “bom”, o objeto do ódio ou aversão será chamado “mau” e aquele que se torna indigno para nós chamaremos de “desprezível”, não existindo, portanto, uma regra comum de bem ou mal que será extraída dos objetos, pois é algo subjetivo, e, em certa medida, particular de cada um, assim como suscetível à mudança. Quando fala em sensações, o que está dentro de nós, Hobbes infere, são movimentos que são provocados pela ação dos objetos externos. Assim, para a vista temos a luz e a cor, para o ouvido temos o som, para o olfato temos o cheiro, etc. Percebemos desse modo que quando a ação do objeto acaba se prolongando o movimento ou o esforço se tornam um apetite ou aversão em relação ao objeto e a sensação do movimento será a perturbação do espírito. Os prazeres que sentimos derivam da sensação de um objeto presente, o que chamamos de objeto dos sentidos, já quando temos a expectativa do fim de algo, e isso acaba agradando ou desagradando os sentidos, são os prazeres do espírito, que chamamos de alegria, de forma contrária, o desprazer das sensações será a dor que ao final chamaremos tristeza. Nos interessa, em nossa comunicação, explorar as nuances dessa concepção mecanicista das paixões humanas. Palavras Chave: Hobbes; Paixões; Amor; Ódio. GENEALOGIA DO ETHOS EM SARTRE: IMPLICAÇÕES DO ATUALISMO ONTO-FENOMENOLÓGICO NA LITERATURA E DRAMATURGIA. Ricardo Fabricio Feltrin. O objetivo da atual pesquisa alicerça-se na problemática do devir em termos éticos na filosofia sartriana; dando ênfase aos escritos literários, pois compõem a perspectiva de situação ao transitar entre o perfil fictício e a práxis. Neste mesclar de roteiros, entre literatura e dramaturgia, intenciona-se “desvendar” a trajetória à questão da ética, já que nos escritos de natureza filosófica a abordagem restringe-se, inúmeras vezes, ao âmbito promissivo. A ética representa a atuação aglutinada num certo tipo de engajamento originário na inter-relação, pois, a consciência, sendo vazia, está lançada-no-mundo e é parte dele na coletividade. Somos responsáveis, na subjetividade e alteridade, porque cada indivíduo é a representação total de sua época, vive a sociedade inteira e a produz a partir de suas escolhas. Assim, se a subjetividade é possível, é um fenômeno evanescente, dissipa-se na sua objetividade no mundo e no seu atualismo. Tão logo, o âmbito do ethos, vertido no engajamento só poderia se dar, hipoteticamente, a partir da contribuição de Sartre na produção literário-dramatúrgica. Palavras Chave: Ética; Engajamento; Situação; Literatura. MERLEAU-PONTY, ALBERTO CAEIRO E A ETERNA NOVIDADE DO MUNDO. Bruna Barbosa Retameiro. O presente artigo tem como intuito aproximar a proposta do filósofo Maurice Merleau-Ponty, quando este nos fala de uma fenomenologia da percepção, de um retorno a um mundo em estado “selvagem”, da poesia bucólica de Alberto Caeiro, um dos heterônimos do poeta português Fernando Pessoa. A percepção é um dos temas centrais da filosofia de Merleau-Ponty, e este, contrariamente às teorias clássicas sobre o conhecimento, nos fala de uma percepção que não se resume em uma interpretação do mundo percebido, pois, para ele, a natureza não depende de que a vejamos, para existir. O mundo existe, antes de qualquer introspecção que façamos sobre ele; estamos no mundo, ele é parte de nós e não algo que está fora, a percepção é uma relação do sujeito com o mundo. Assim como Merleau-Ponty, Caeiro, em seus poemas, escreve sobre a sua crença no mundo e sua descrença no pensamento, na civilização, no grande enaltecer da razão. Para Caeiro, o mundo deve ser vivido e sentido, pensar sobre ele seria algo semelhante a uma doença nos olhos. O mote para pensarmos sobre uma aproximação entre a filosofia da percepção de Merleau-Ponty e a poesia de Alberto Caeiro está justamente nessa busca por um mundo em seu sentido originário, desnudo das interpretações que lhe impomos. Caeiro era um homem do campo, e, em suas poesias, fala da inocência que o homem perdeu, da necessidade de olhar para o mundo estando sempre atentos às suas novidades, de não perdermos o encanto diante da natureza, de não trocarmos o mundo por sua significação. Ambos (o filósofo e o poeta) anseiam por uma percepção de mundo que se baste no mundo, sem a necessidade de algo metafísico para justificá-lo. Para fazer essa aproximação, relacionaremos a filosofia de Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea Merleau-Ponty a alguns poemas de Caeiro, que parecem ilustrar, em versos, aquilo que o filósofo descrevia ao falar de seus anseios por uma fenomenologia da percepção e o retorno a um mundo que antecede a reflexão. Palavras Chave: Merleau-Ponty; Alberto Caeiro; Percepção; Mundo percebido. MONTAIGNE E O PROBLEMA DOS USOS DA IMAGINAÇÃO Mateus Masiero. Michel de Montaigne trata da questão da imaginação por diversas vezes ao longo de seus Ensaios. Seguindo um topos de sua época, o filósofo francês reflete acerca dos obstáculos que os homens frequentemente interpõe em suas próprias vidas devido ao uso dessa faculdade que lhes é única: a capacidade de imaginar. Ao criar em suas mentes fantasias dos mais variados tipos, os homens acabam por se enredar em si mesmos, vítimas de problemas imaginários, ou de superstição. No entanto, Montaigne pondera que a capacidade de imaginar possui também um aspecto positivo, desde que bem direcionada; essa suscetibilidade em ser afetado por meio da imaginação pode ser explorada com finalidades benéficas, visando, por exemplo, o regramento moral do indivíduo. Percebe-se, portanto, uma ambiguidade por parte de Montaigne no que se refere ao juízo valorativo que atribui aos usos da imaginação: por vezes os condena, por vezes os enaltece, de acordo com o modo como tal faculdade é explorada. Nesse sentido, o objetivo da presente comunicação será evidenciar tal ambiguidade, ressaltando quais elementos levam o filósofo, de modo geral, a julgar de modo positivo ou negativo os usos da imaginação. Palavras Chave: Imaginação; Ensaios de Montaigne; Ética renascentista NOTAS SOBRE A NOÇÃO DE SITUAÇÃO EM GABRIEL MARCEL Paulo Alexandre Marcelino Malafaia. Este estudo procura deslindar a noção de situação em face à antropologia filosófica de Gabriel Marcel (1889-1973). A partir dela, perceber-se-á que a situação humana é, fundamentalmente, a de um ser-em-situação. Isso, no entanto, exigirá que se investigue o estabelecimento desta noção central se erige em uma espécie de tensão entre a ideia de uma universalidade da condição humana e a singularidade advinda da necessidade de se filosofar desde a existência. Deste modo, perscrutar-se-á alguns dos textos do autor em que não apenas esta tensão é mais evidente, senão que também aqueles em que ele se coloca em diálogo com outros autores e/ou concepções filosóficas. Palavras Chave: Gabriel Marcel; ser-em-situação; antropologia filosófica; metafísica; existência. O CETICISMO ACADÊMICO DE SIMON FOUCHER: MÉTODO E VERDADE NA BUSCA DA VERDADE Joël Boudreault. Resumo não informado pelo autor. Palavras Chave: Ceticismo; cartesianismo; Foucher; verdade; dúvida; Malebranche Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea O CONCEITO DE LIVRE-ARBÍTRIO: UM PARALELO ENTRE AS FILOSOFIAS DE NIETZSCHE E SARTRE Cristiane Picinini. Neste artigo pretendemos apresentar, especificamente, sobre a teoria de livre-arbítrio a partir da concepção de Friedrich Nietzsche, que nega esse conceito, nega o determinismo e é a favor do destino, ou seja, acreditar em destino significa aceitar-se plenamente; o livre-arbítrio é para ele, a expressão do estado de prazer por parte daquele que quer. Somos apenas uma fatalidade, um acaso que luta por mais potência, e por sermos uma fatalidade, negamos a responsabilidade de Deus por nossa existência. Esse conceito não passa de um artifício dos teólogos para nos tornar responsáveis por nossas ações. Nem a sociedade, nem a estrutura familiar, são responsáveis por nossa existência, ou pelas nossas livres escolhas, o que reina é um pedaço do destino que pertence ao todo. Nos preocuparemos também, em mostrar um contraponto que se sustenta muito bem no existencialismo sartriano: a ideia de liberdade – que, para o francês, é a condição de nossa existência, somos um projeto lançado no mundo, que somente depois de sua existência constrói sua essência, ou seja, começa a fazer escolhas e a se tornar o único responsável por elas e por suas consequências, a única alternativa desta teoria é escolher, e dela não se pode fugir. Somos, portanto, a relação consciência-objeto, não há destino, como em Nietzsche, há um projeto lançado no mundo que é unicamente responsável por suas ações e delas não pode não-ser. O que ambos os filósofos têm em comum é a negação de Deus, ou de qualquer instancia superior que seja responsável por nossa existência. Palavras Chave: livre-arbítrio; responsabilidade; existência. ORDEM DAS RAZÕES EM DESCARTES Cesar Augusto Battisti. Muito embora os termos “ordem” e “razão”, em seus diferentes sentidos, sejam de uso frequente nas obras cartesianas, a expressão “ordem das razões” tem ocorrência raríssima. Rigorosamente falando, Descartes a utiliza uma ou duas vezes, talvez três, sendo inegável a sua ocorrência em uma carta a Mersenne, de 24 de dezembro de 1640 (?) (AT III, 266), e na tradução francesa da carta de apresentação das Meditações aos membros da Faculdade de Teologia de Paris (AT IX, 6), ao passo que, em outras ocasiões, ela pode no máximo ser apenas aferida contextualmente. A expressão, por outro lado, especialmente famosa a partir da obra de Gueroult, tem sido utilizada abundantemente, pelo menos no Brasil, como forma de caracterizar o “percurso metodológico” efetivado por Descartes em sua principal obra filosófica. Ainda que não haja dúvidas sobre a importância ou talvez mesmo sobre a necessidade de se compreender as Meditações segundo o movimento sucessivo de cada meditação e de seus passos, disso não se segue que a expressão consiga reter a riqueza do que seja o estilo meditativo de Descartes e a dinâmica reflexivo-metodológica por meio da qual a obra se constitui. Dentre as dificuldades que se podem levantar, a primeira delas diz respeito ao uso comum e com sentido abrangente que, em geral, Descartes faz desses termos, por mais que o discurso cartesiano das Meditações se caracterize por sua forma argumentativa rigorosa e conceitualmente acurada. Além disso, e acima de tudo, trata-se de saber o que devemos compreender por ordem, em seu sentido fundamental e filosoficamente preciso, para podermos determinar o seu lugar dentro do âmbito metodológico: a caracterização cartesiana dessa noção nos indica que devamos lhe atribuir uma função importante, mas específica e limitada; além disso, a tarefa de ordenar parece pressupor a disponibilização das coisas a serem ordenadas, o ato epistemicamente distinto e anterior de “pô-las à mão” de quem as ordena; é de se supor, portanto, que a noção de “ordem” não possa dar conta de todas as dimensões que configuram o que se entende por “método”. Por sua vez, “razões” é um termo que, por si só, tem sentido incompleto; e, portanto, é preciso se perguntar pelo seu complemento: trata-se de razões que estejam a serviço do quê? Não existem simplesmente razões nem podem ser elas ordenadas por elas mesmas, mas apenas em função ou a partir de outra coisa. Talvez seja por isso que Gueroult tenha transformado sua “ordem das razões” em uma “ordem das verdades”, o que a nosso ver acaba por comprometer o que há de mais singular no estilo filosófico das Meditações e o que é mais precioso para a metodologia cartesiana. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ADAM, C. & TANNERY, P. (ed.). Oeuvres de Descartes. Paris: Vrin/Centre National du Livre, 1996. 11 v. (AT). DESCARTES, R. Meditações; Objeções e Respostas. Tradução de J. Guinsburg e de B. Prado Júnior. 3 ed. São Paulo: Abril Cultural, 1983. (Os pensadores). GUEROULT, M. 1953. Descartes selon l’ordre des raisons. Paris: Aubier-Montaigne. 2 v. Palavras Chave: Descartes, Ordem das razões; Método nas Meditações. Área: História da Filosofia Moderna e Contemporânea SARTRE: LITERATURA E REFLEXIVIDADE Tiago Soares dos Santos. A proposta desse trabalho é estudar o processo de transição da consciência irrefletida à reflexiva, considerando que a mudança de um modo de consciência a outro pode ser mediado pela literatura. Essa intermediação ocorre quando o autor engajado e situado decide revelar o modo como percebe o mundo. O leitor vê, tanto o mundo quanto a si mesmo por meio dos signos, como reflexos e, ao não aceitar aquilo que vê, projeta-se na construção de si e do mundo. O projeto do autor e as conjecturas do leitor arremessam-lhes responsabilidades naquilo que se tornam e fazem do mundo. Acredita-se que nos escritos literários e teatrais essa transição do irrefletido ao refletido ocorre nas construções apresentações de seus personagens historicamente situados. Antoine Roquentin, de A Náusea, descobre-se como um ser em construção, que não se define a não ser enquanto falta de definição. Palavras Chave: existencialismo; literatura; irreflexão; reflexão. TEMPORALIDADE DO PROGRESSO: TRADIÇÃO E MEMÓRIA EM KANT E BENJAMIN Everaldo Vanderlei de Oliveira. Trata-se de expor as relações entre Benjamin e Kant, desde o ponto de vista da filosofia da história, em especial, sob o foco determinado pelos problemas da transmissibilidade histórico-cultural. Ao contínuo temporal, em Kant, corresponde o contínuo da história (e da transmissibilidade cultural) e, como complemento necessário, o progresso como sua direção e sentido. Em Benjamin, modo inverso, a assunção da temporalidade descontínua reposiciona o mesmo conjunto, revisitando as possibilidades da memória (e da rememoração), bem como o questionamento dos limites do conceito de progresso. Neste caso, e não apenas para contraste, ganha relevância a concepção do presente como esperança do passado, confrontando-se, em Kant, com o progresso como esperança no futuro. No entrecruzamento destes elementos, sobressai o modo como concebem a lugar da tradição e da memória históricas, a partir do que projetam distintas tarefas para compreensão e ação no presente. Sobressai igualmente, o quanto configura-se, para cada época, e também para o presente, o aspecto de luta para determinar o lugar e a significação da tradição e da rememoração históricas. Área: Metafísica A CRÍTICA DE HEIDEGGER AO EXISTENCIALISMO DE SARTRE: UMA LEITURA DA CARTA SOBRE O HUMANISMO Thayla Magally Gevehr. Embora o propósito da Carta sobre o Humanismo, de Heidegger, fosse o de responder a questão que Beaufret dirigiu ao filósofo, a saber “como tornar a dar sentido à palavra humanismo?” (HEIDEGGER, 1979, p. 150), nela, Heidegger também se posiciona firmemente contra as teses defendida pelo existencialismo sartreano. Sartre, em O existencialismo é um humanismo, afirma que seu projeto filosófico é o mesmo que o de Heidegger, pois ambos compreendem o ente que somos como aquele que é livre de toda e qualquer determinação, como um a se fazer. Por isso, com sua máxima “a existência precede a essência” (SARTRE, 2010, p. 23), Sartre pretendeu em seu texto mostrar como a liberdade do homem, princípio do existencialismo, pode ser um humanismo. Contra ao que o filósofo francês defende em seu texto, Heidegger afirma que a compreensão de Sartre está errada, já em que em Ser e Tempo, no parágrafo 9, ele disse exatamente o contrário sobre o ente que somos. Ali, a existência não precede a essência, como quis o filósofo francês, mas, ao contrário, “a essência do homem reside em sua existência” (2011, p.85). Nosso objetivo, então, diante do que aqui foi posto é compreender em que consiste a crítica heideggeriana ao existencialismo de Sartre e em que residiria a diferença entre os dois modos de compreensão desse ente que somos. Palavras Chave: Heidegger. Sartre. Existência. Humanismo. A METÁFORA DA “CARNE” E O INCONSCIENTE PSICANALÍTICO NA OBRA DE MERLEAU-PONTY Litiara Kohl Dors. Este trabalho pretende tecer aproximações entre a metáfora da “carne”, desenvolvida pelo filósofo Maurice Merleau-Ponty, e a teoria do inconsciente de Freud. Sabe-se que há profundos distanciamentos entre a psicanálise e a fenomenologia; contudo, Merleau-Ponty se apresenta como um importante interlocutor e simpatizante da obra freudiana, sobretudo porque se propõe apresentar novos contornos à compreensão da consciência tal qual prevalecera até então, ou seja; firmemente ancorada nos pressupostos cartesianos da primazia da razão. Recusando-se a compartilhar da visão dualista que contrapunha corpo e espírito, interior e exterior, homem e mundo; o filósofo se propõe lançar as bases para aquilo que chamou de nova ontologia, ou ontologia da “carne” considerando que, para além das dicotomias, há a prevalência de um espaço dialético, e rompendo, portanto, com as limitações ou fronteiras rígidas entre as relações estabelecidas pelo homem e o mundo. É neste contexto que a psicanálise encontra ressonância no pensamento de Merleau-Ponty, especialmente porque Freud, ao propor a teoria do inconsciente, mostra que a razão não pode mais ser compreendida como fonte suprema do conhecimento, uma vez que, o pensamento pode também ser expresso a partir de outra via, uma espécie de “desrazão” ou mecanismo inconsciente. Aos olhos de Merleau-Ponty, a psicanálise, ao observar que o corpo é dotado de sentidos, devolve a este elemento relegado ao segundo plano pela tradição cartesiana, o seu estatuto mais original. Ora, tanto para filósofo como para o psicanalista, não há mais sobreposição entre corpo e consciência, uma vez que ambos participam dessa mesma teia de significações que é a experiência. A metáfora da “carne” aponta para a perspectiva de que não há dicotomia entre homem e mundo, e que, embora haja discrepâncias, interioridade e exterioridade, são constituídas pelo mesmo estofo ou “tecido”; esse aspecto “carnal” é o que permite a comunhão entre sujeito e objeto, fazendo, inclusive, que tais conceitos se dissipem no interior da fenomenologia merleau-pontyana. Embora o filósofo francês tenha proposto lançar uma nova ótica ao pensamento freudiano, é partindo dessas considerações iniciais que o inconsciente irá, ao longo da obra de Merleau-Ponty, adquirir novos aspectos, assemelhando-se à ideia proposta pela metáfora da “carne”. Palavras Chave: Inconsciente; Freud; Merleau-Ponty; Fenomenologia; Psicanálise A NATUREZA DO SER EM LEIBNIZ: INDIVIDUALIDADE E MULTIPLICIDADE João Antonio Ferrer Guimarães. Pretendemos, neste trabalho, investigar a noção leibniziana de substância, conceito que, para o filósofo, constitui a chave de toda verdadeira filosofia. Sua noção de substância – fundamento de sua metafísica – pretende superar as duas noções clássicas desenvolvidas por Aristóteles e Descartes; com maior ênfase, sua concepção de substância rompe com a noção mecanicista cartesiana privilegiando uma noção dinâmica do Ser. Em Leibniz, o conceito de substância, no entanto, comporta um aparente paradoxo: na natureza do ente real coexistem unidade e multiplicidade, simultaneamente. A solução do paradoxo implicado na oposição clássica uno-múltiplo enfatiza a transformação sofrida pela noção fundamental de seu sistema de metafísica, constituindo assim a essência de sua compreensão de Ser como força dinâmica. A chave para tal compreensão, encontra-se na noção de Mônada. Enquanto substâncias simples, Mônadas não têm partes. O que não tem partes constitui uma unidade; Mônadas, no Área: Metafísica entanto, apresentam qualidades, determinações internas que especificam sua unidade, bem como sua natureza única; desde logo percebemos que, se assim não fosse – se cada Mônada não ostentasse uma identidade única –, não poderíamos distinguir uma Mônada de outra. Da distinção, fortalecida por suas qualidades e determinações, obtemos a multiplicidade de Ser; à vista disso, o real comporta infinitas substâncias individuais. Segundo o princípio da identidade dos indiscerníveis, cada ente real mantém sua identidade única ao mesmo tempo em que espelha, como totalidade, a realidade de todas as outras substâncias através da multiplicidade de suas propriedades. Deste modo, a Mônada, unidade substancial, átomo metafísico, simples e indivisível só pode ser compreendida, em sua essência, como multiplicidade intrínseca à unidade. Esta realidade complexa, e ao mesmo tempo simples, expressa um universo dotado de total inteligibilidade. A máxima racionalidade desse universo é traduzida em seu sistema da harmonia que, por fim, dá sentido à Monadologia. Palavras Chave: Ontologia; Substância; Mônada; Unidade; Totalidade; Harmonia. A POSIÇÃO DO HOMEM NO COSMOS: A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DE SCHELER Leila Rosibeli Klaus. As perguntas que perfazem o conteúdo da obra A Posição do Homem no Cosmos desenvolvem-se em um contexto europeu dos anos vinte, ou seja, após a Primeira Grande Guerra e em plena revolução industrial. Em um cenário de economia e política instáveis, com o capitalismo em ascensão e disputando espaço com o socialismo e o comunismo, via-se a identidade humana particularmente abalada. Aqui o homem não possui autoconsciência e seu ser está sem fundamento e sem rumo. Já não há mais eidos, nem télos, nem razão como alicerce do pensar e do agir. A partir deste cenário conturbado, a Antropologia Filosófica pergunta-se: o que é o homem?; qual é a sua essência?; perante a ciência em voga, a filosofia ainda nos forneceria algum tipo de saber? Estas questões apresentam-se de modo particularmente necessário tendo em vista o contexto político e social. No entanto, juntamente a este contexto, mas no âmbito do conhecimento, a ciência encontra-se em plena expansão, o que acarreta uma racionalização empírica no pensamento e, consequentemente, um problema de fundamentação da filosofia, principalmente no âmbito metafísico. Nos anos vinte, precisamente, no ano de 1928, quando Scheler escreveu APHC, as ciências estavam no seu auge, entre elas a medicina, a biologia, a psicologia, a sociologia e a antropologia. O que havia em comum entre todas elas, era a preocupação com a essência do homem. Assim, já que os interesses se fundiam e a fim de não disputar com as ciências empíricas, Scheler apoia, justamente, no conhecimento naturalizado da biologia, da psicologia e da sociologia, a constituição da sua Antropologia Filosófica. Apoiado em um diálogo com tais ciências, o filósofo pretende desenvolver uma antropologia com status filosófico, ou seja, compreender o homem natural no interior de uma ontologia. Deste modo, as questões acerca do que é o homem, qual sua essência e qual tipo de saber a filosofia ainda poderia nos conceder, poderiam ser assumidas aqui com rigor. Assim, o objetivo é analisar os três primeiros capítulos da obra supracitada para explorar os conceitos básicos da estrutura da vida até alcançar a “posição peculiar” na qual encontra-se a essência do homem. Palavras Chave: Antropologia Filosófica; Metafísica; Espírito; Homem; Essência. A POSTURA SOCRÁTICA FRENTE AO ETERNO RETORNO DE NIETZSCHE Douglas Meneghatti. A questão socrática está paradoxalmente presente em todo corpus da obra nietzschiana, o grande herói dos diálogos platônicos é apresentado por Nietzsche como o responsável pelo declínio da tragédia grega, pela inserção da dialética e da consciência moral, enfim, pela geração do homem teórico enquanto protótipo metafísico que se difundiria pela história do Ocidente. Porém, a perspectiva se inverte quando Sócrates é incluído dentre os “espíritos livres” e lembrado pela maneira peculiar de educar os jovens atenienses, aporia que alimenta o paradoxo da questão socrática em Nietzsche e na própria História da Filosofia. Deixando de lado os diversos embates travados por Nietzsche contra e pró Sócrates, que aparecem em cerca de 320 menções diretas à Sócrates ao longo dos textos de Nietzsche, nos deteremos a dois aforismos em particular (§ 340 e § 341), a fim de levantar o teor desse grande duelo, numa perspectiva que levará em consideração qual seria a postura socrática diante da temática do eterno retorno, construída por Nietzsche como símbolo da altivez vital. O desejo pela afirmação do eterno retorno constitui a mais altiva vitalidade, ansiar pela eternidade é querer a vida em toda a conjuntura passada e presente. Nietzsche faz do eterno retorno um momento ímpar de seu pensamento, pelo qual a vida é afirmada incondicionalmente. Nesse viés, através de uma análise do § 340 da obra Die fröhliche Wissenschaft (A gaia ciência), colocamos Sócrates frente a “aparição do demônio”, com o intuito de pensar a decadência vital oriunda da negação socrática da vida terrena, constatada a partir de sua certeza na superioridade e imortalidade da alma, que o Área: Metafísica leva a uma interpretação negativa do corpo e das suas pulsões. Na sequência, no § 341, Nietzsche aborda sobre o eterno retorno, no parágrafo intitulado O maior dos pesos. Chama a atenção o fato de que, no § 340, é apresentada a morbidez vital de Sócrates que sofreu com a vida, e, logo em seguida, no § 341, aparece a provocação do demônio que convida para a eternidade da vida. A partir disso, o trabalho busca responder as seguintes questões: Estaria Nietzsche inferindo a Sócrates o maior dos pesos frente a sua morbidez vital? Seria Sócrates o símbolo máximo do pavor e ranger de dentes frente ao demônio? Palavras Chave: Decadência; Vida; Eternidade. A VERDADE EM ALÉM DE BEM E MAL: O PRECONCEITO DOS FILÓSOFOS Danilo Fernando Miner de Oliveira. Nietzsche apresenta no primeiro capítulo de Além de bem e maldenominado os preconceitos dos filósofosa exaltação do conceito de verdade por diversos pensadores da filosofia. A crítica se direciona ao paradigma enrijecido de que a verdade se encontra num domínio restrito e não pode estar presente em outras formas de manifestação que fazem parte dos diversos impulsos disso que denominamos vida. Logo, estreitar a atividade filosófica para a busca da verdade consiste em uma parcialidade que se traduz em uma limitação das expressões de vida. Além disso, Nietzsche se pergunta: qual parte de nós nos conduz para a verdade? Por que a verdade e não a falsidade? Por que ela deve pertencer exclusivamente a um único domínio ideal, isto é, o da razão? Assim, Nietzsche anuncia sua tese de que as perspectivas que determinam que o verdadeiro está associado ao correto, bom e belo, enquanto a falsidade está acompanhada do incorreto, mau e disforme consiste em determinações dualistas da realidade, fortemente enraizadas na cultura moderna, que se apoiam, em última instância, em um preconceito moral. Palavras Chave: Preconceito; Verdade; Metafísica ACERCA DO INSTANTE E DE UMA "ANTROPOLOGIA"KIERKEGAARDINA NA OBRA O CONCEITO DE ANGÚSTIA Cleyton Francisco Oliveira Araújo. O instante é apropriação existencial, uma interação com o tempo presentificado em suas ações. O ato de presentificar o tempo é a forma de o homem, utilizando uma figura poética de Kierkegaard (2010), “tentar parar o tempo”. Isso é, essencialmente, dialético, paradoxal e impossível empiricamente! Mesmo assim, contudo, tal pensamento filosófico é importante e esclarecedor para designar e também para definir o homem em sua interação existencial consigo, na sua relação com o tempo, o que equivale à sua relação concreta com a vida.O instante é o presente, o átomo da eternidade, onde a progressão quantitativa é suspensa, ou seja, o decorrer “infinito” do tempo mensurado em anos, minutos e segundos é negligenciado ou deixado em segundo plano. A vida é presentificada e imortalizada na experiência singular de tornar-se vida, concreta e experienciada em sua plenitude. Isso ocorre via a ação ou o salto qualitativo; salto que realça, em absoluto, o imperativo do presente. Nesse salto, o homem dá-se ou torna-se síntese entre o temporal e o eterno na medida em que ele experiência a temporalidade como instante, vivendo e concretizando-se como eterno. O instante, para o homem, é uma experiência que ocorre ou se apresenta a ele como possibilidade, que pode ser efetivada ou não. O instante e a eternidade não são imanentes ao homem, mas é sempre uma possibilidade ou angústia diante do tempo, da vida – uma possibilidade que pode ser efetivada pelo salto qualitativo. Palavras Chave: Instante: Eterno: Tempo: Subjetividade: Angústia: Pecado CARACTERÍSTICAS DO PENSAR NA OBRA A VIDA DO ESPÍRITO DE HANNAH ARENDT Ana Claudia Barbosa Nunes. Os homens e animais pertencem ao mundo, são considerados sujeitos e objetos, ao mesmo tempo que estão percebendo o que está no mundo, também são percebidos, desse modo o homem é ser e aparecer. O que diferencia o homem dos animais é que o homem possui atividades espirituais, as atividades espirituais são diferentes contudo sua semelhança está na retirada do mundo. No decorrer da história da filosofia, os filósofos defendiam a existência de dois mundos; o mundo das aparências dos sentidos, sendo a Área: Metafísica cópia do mundo ideal, porém no mundo ideal, que se encontra a verdade. Para Hannah Arendt não existe dois planos de realidade, o homem é pertencente ao mundo das aparências, a atividade espiritual o pensar, que antes era visto como pura contemplação, para filósofa é uma atividade espiritual. Todo homem possui essa atividade espiritual, "[...]todo pensamento deriva da experiência[..]" (ARENDT, 1992, p.68), ainda que o despertar do pensar ocorra por meio das experiências vividas pelo homem, no entanto não é condicionado pelas experiências. Essa atividade espiritual realiza-se em "O pensamento retira-se – radicalmente e por sua própria conta – deste mundo [...]” (ARENDT, 1992, p. 44), pensar é retirar- se do mundo, deslocar- se do mundo do sensível, porém o pensar não está em outro mundo, pensar é uma atividade espiritual invisível, não está em um mundo. Para fomentar a retirada do mundo é necessário a imaginação, " A imaginação, portanto, que transforma um objeto visível em uma imagem invisível, apta a ser guardada no espírito[...]"(ARENDT,1992, p.61), essa imagem invisível faz com que o que encontra-se ausente torna-se presente no espírito. Pensamento é uma atividade espiritual em que cada espirito dialoga consigo mesmo, não é possível saber se um indivíduo pensou a menos que ele expresse seu pensamento por meio da linguagem [...] a linguagem, o único meio no qual o invisível pode tornar-se manifesto em um mundo de aparências [...] (ARENDT, 1992, P. 86), no dialogo consigo mesmo ainda que o pensamento é sem som, possui nesse dialogo uma natureza linguística, quando é exercido o discurso para os outros é aplicado a linguagem. Através da linguagem o indivíduo comunica seu pensamento aos demais, manifestando sua atividade espiritual. Palavras Chave: Arendt; Espírito; Atividade espiritual; Pensar. CORPO EM NIETZSCHE: UMA LEITURA DA SEÇÃO “DOS DESPREZADORES DO CORPO”. Thalita Schuh Venancio da Costa. Neste trabalho analisaremos a seção “Dos desprezadores do corpo”, presente na obra Assim falou Zaratustra, do filósofo Friedrich Nietzsche. Em nossa análise acerca dessa seção consideramos presente um duplo movimento do filosofo: um de crítica à tradição e outro de interpretação e configuração conceitual. O dualismo corpo-alma presente na tradição metafisica busca uma natureza humana fundamentada da ideia de alma, razão ou consciência. Nietzsche, divergente a esse sentido de natureza humana parece conceber a alma ou a consciência como um produto da transformação do organismo e como uma pequena parte dos processos fisiológicos e corporais do ser humano. Sendo assim, os conceitos norteadores da tradição filosófica como alma, consciência, conhecimento, etc., são interpretados como sintomas do biológico e dependentes de impulsos inconscientes. No caso da seção “Dos desprezadores do corpo”, de um modo geral, parece ser possível interpretar o corpo como ponto de partida para a afirmação da vida, por se constituir não só como parte do próprio ser, mas, primordialmente, por ser a partir dele que surgem os pensamentos e os sentimentos, e cuja vontade reúne e coordena a multiplicidade de impulsos, instintos, desejos e inclinações do ser humano, e é nesse sentido que ao renunciar o dualismo corpo-alma, Nietzsche expande a noção de corpo (leib, selbst e grande razão) para compreendê-lo como uma disposição hierárquica de forças para além da matéria, mas que reúne também aquilo que se chama espírito, alma ou mesmo razão. Esses conceitos são agora tomados não só como constituintes do corpo, mas principalmente no corpo. Palavras Chave: Corpo; selbst; grande razão; alma; tradição; vida. DASEINSANÁLISE: POSSIBILIDADES PARA A PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA EM BASES EXISTENCIAIS. Luiz Henrique Birck. DASEINSANÁLISE: POSSIBILIDADES PARA A PSICOLOGIA FENOMENOLÓGICA EM BASES EXISTENCIAIS. Nome: Luiz Henrique Birck Universidade do Oeste do Paraná Orientador: Roberto Saraiva Kahlmeyer-Mertens luizhenriquebirck@gmail. com RESUMO Este trabalho tem a intenção de estudar a proposta da daseinsanálise como uma psicologia fenomenológica em bases existenciais, no qual indica as possibilidades de mostrar o existir humano fora da visão do sujeito empírico e fora da relação entre sujeito e objeto. A daseinsanálise visa trabalhar os modos nos quais ela lida com a experiência humana e uma nova concepção de homem. Esta investigação inicia com a importância do pensamento do filósofo Martin Heidegger principalmente em sua obra “Ser e Tempo (1927)” onde mostra uma densa teoria acerca da analítica do dasein. As possibilidades de se pensar uma psicologia fenomenológica em bases existências, ou seja, neste caso a daseinsanálise, se expande com o interesse demonstrado pelos psiquiatras Ludwig Binswanger e Medard Boss, principalmente pelo contato de Boss e Heidegger onde foram responsáveis por contemplar discussões posteriores em uma série de filósofos, médicos e psicólogos. Elaborando uma série de seminários intitulado “Seminários de Zollikon (1959-1969) onde Heidegger pôde levar sua analítica do dasein a médicos e psiquiatras, o que por sua vez parece ser o intento de ir além das discussões filosóficas da analítica do dasein em direção as ciências ônticas. Área: Metafísica PALAVRAS-CHAVE: Filosofia; Daseinsanálise; Psicologia; Fenomenologia; REFERÊNCIAS DASTUR, F & CABESTAN, F. DASEINSANÁLISE: FENOMENOLOGIA E PSICANÁLISE. 1ª ed. Rio de Janeiro: Via Verita, 2015. FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo de. A existência para além do sujeito. Rio de Janeiro: Edições IFEM: Via Verita, 2011. FEIJOO, Ana Maria Lopez Calve de & LESSA, Maria Bernadete Medeiros Fernandes. Fenomenologia e Práticas Clínicas. Rio de Janeiro: Edições IFEM: Via Verita, 2014. HEIDEGGER, Martin. Seminários de Zollikon. Petrópolis-RJ: 2ªed. Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2009. ___________________. Ser e Tempo. Petrópolis-RJ: 8ª ed. Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013. LUIJPEN, W. A. Introdução à Fenomenologia Existencial. São Paulo: EPU; EdUSP, 1973 STEIN, Ernildo. Analítica Existencial e Psicanálise: Freud, Biswanger, Lacan, Boss – Conferências. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012. Palavras Chave: Filosofia; Daseinsanálise; Psicologia; Fenomenologia DOIS MODOS DE PENSAR A VERDADE: COMO ADEQUAÇÃO E DESVELAMENTO Luana Borges Giacomini. O propósito deste trabalho é investigar de que modo temos em Heidegger a verdade pensada de modo originário (desvelamento), e em Kant uma verdade que ainda reside no modo tradicional de pensar, isto é, a verdade no âmbito derivado (adequação). Pensar a verdade originariamente é pensar a estrutura primária que é o ente que nós mesmos somos: o ser-aí (Dasein). É pensar a estrutura prévia a toda “relação” que o ser-aí mantém com o mundo, isto é, aquilo que instaura, que é possibilidade de tal. Procuraremos mostrar de que modo em Kant, ainda há uma ingenuidade fenomenológica (não ter em vista a diferença ontológica – ser não é ente), na medida em que, o criticista ainda transita num âmbito subjetivo, e que este, segundo nosso fenomenologo é posterior ao acontecimento da abertura (verdade originária) e por isso, derivado. Portanto, devemos enfatizar de que modo verdade e subjetividade estão implicadas no pensamento de Kant, para num momento posterior trazer à luz o modo originário de pensar o verdadeiro. Palavras Chave: verdade; desvelamento; ser-aí ENSAIO SOBRE AS CONCEPÇÕES DE VERDADE E ILUSÃO EM KANT E NIETZSCHE Italo Ariel Zanelato. Ao buscar em Kant a clara definição de transcendental, este trabalho retoma os passos do filósofo, para posteriormente ater o estudo em fundamentar a teoria de que a dialética, localizada na segunda parte da Lógica Transcendental, compõem a critica que ele chama de hiperfísico do intelecto, revela ao homem o que está escondido por trás das aparências e, como o homem se engana ao tentar ultrapassar os limites do fenômeno. Perguntando como se dá a metafísica. Lembrando que Dialética carrega dois lados de uma mesma moeda, o Nôumeno e o Fenômeno. De fato, parecerá ao leitor algo simples, mas ao longo do estudo tentaremos demonstrar que estes dois conceitos constituem nada mais que duas formas de ilusão. No entanto, o trabalho árduo se fará por meio de Schopenhauer e Nietzsche, onde aquele não concorda com a referência de que a essência (coisa-em-si) do mundo esteja de fato atrelada com a musica como Schopenhauer afirma. Nietzsche divide sua interpretação em uma duplicidade fundamental que segue em O Nascimento da Tragédia, o apolíneo e o dionisíaco, como dupla significação schopenhaueriana do mundo como vontade e representação. Esse estudo permeará estes três filósofos alemães e tentará sanar estas questões. Indo além até o ponto em que os conceitos fiquem claros e ao menos não reste, aparentemente, dúvidas. Será uma longa jornada iniciada no transcendental kantiano até a conceituação de Apolo e Dionísio como impulsos, na tentativa de solução dos problemas encetados em Kant e prolongados por Schopenhauer sob a ótica nietzschiana. Palavras Chave: Kant; Nietzsche; Schopenhauer; Ilusão; Verdade Área: Metafísica ESBOÇO PARA UMA INTERPRETAÇÃO DA FILOSOFIA TRANSCENDENTAL KANTIANA COMO ONTOLOGIA Luis Cesar Yanzer Portela. O propósito do trabalho é apresentar, em forma de esboço, um programa de pesquisa que exponha os elementos que permitam defender a interpretação de que a Crítica da Razão Pura é uma obra de metafísica em sentido crítico, vale dizer, enquanto efetivação da filosofia transcendental concebida, por sua vez, como ontologia do objeto em geral de intuição sensível. Complementarmente, o trabalho mostrará que e em que sentido tal ontologia não é apresentada integralmente na CRP. Dividiremos o trabalho em três partes, cada qual com propósito específico. Em primeiro lugar, trata-se de expor a tese central do trabalho, a saber, que e em que sentido, para Kant, a CRP se constitui em efetivação da filosofia transcendental como ontologia. Sustentaremos que CRP adquire seu caráter de filosofia transcendental e de ontologia ao ocupar-se com aquisição do conhecimento de (1) que certas representações (intuições e conceitos) são possíveis unicamente a priori e (2) de como são referidas a priori à determinação de objetos em geral que possam vir a ser dados como objetos de intuição sensível. Isto significa dizer que a filosofia transcendental, concebida como ontologia (em sentido renovado perante o da tradição) ocupa-se com o estabelecimento de um sistema de conceitos (em sentido lato, o que inclui as representações denominadas conceitos puros, bem como as intuições a priori) que são as condições elementares para apresentação de um sistema de princípios que, na forma de juízos sintéticos a priori, estabelecerão o modo como aqueles são referidos e aplicados ao conhecimento de objetos em geral passíveis de serem dados aos sentidos e justificados pela experiência. Isto implica que Kant, na CRP, conceba que a filosofia transcendental como ontologia é efetivada na Estética Transcendental e na Analítica Transcendental. Feito isso, mostraremos que e em que sentido tal efetivação da filosofia transcendental como ontologia não é ainda completa, mas apresenta-se como propedêutica a primeira parte da Metafísica da Natureza, a qual lhe garantirá o caráter de completude. Esta se ocupará com a aquisição de outro tipo de conhecimento, que se constitui na apresentação das definições das doze categorias deduzidas na Analítica dos Conceitos da CRP, consideradas como predicados ontológicos, no desdobramento desses predicados em predicáveis, bem como na apresentação de suas definições. Essa complementação, buscaremos mostrar, realizar-se-á por ocasião da tentativa operada por Kant de apresentar a mencionada Metafísica da Natureza, no Opus Postumum. Até aqui, o trabalho se ocupa prioritariamente de uma compreensão possível da filosofia transcendental kantiana como ontologia. Na segunda e terceira seções do trabalho tratar-se-á, pois, da demonstração da legitimidade e efetuação do apresentado na primeira parte do trabalho. A segunda parte apresentará os elementos que permitem mostrar como, nas seções da CRP denominadas Estética Transcendental e Analítica Transcendental, Kant efetivamente desenvolve a ideia da filosofia transcendental como ontologia. Trata-se agora de reconstruir os passos argumentativos kantianos, com o fito de ressaltar elementos formais a priori da sensibilidade e do entendimento, quais sejam as formas das intuições, os conceitos puros do entendimento, os esquemas transcendentais, deixando ver como implicam a formulação de um sistema de princípios, que na forma de juízos sintéticos a priori, estabelecerão que e como objetos em geral podem vir a ser dados e conhecidos como objetos em geral de intuição sensível, bem como qual a relação que que devem manter uns para com os outros. A investigação a ser encetada na terceira parte do trabalho visa ao modo como, no Opus Postumus, são definidas as doze categorias do entendimento da CRP enquanto predicados ontológicos; como desses predicados podem ser extraídos predicáveis via a composição dos predicados (categorias); por fim, como é possível apresentar uma tábua desses predicáveis e suas definições. Assim, apresentadas todas as condições necessárias à completude ulterior da filosofia transcendental como ontologia, conforme o sentido restrito e propedêutico sustentado na CRP, pretendemos, por fim, chegar a uma apresentação esquemática da inteira filosofia transcendental kantiana como ontologia. Pretendemos, de modo mais amplo, sugerir que a clarificação da completude possível da filosofia transcendental kantiana e de seu caráter ontológico permitem visualizar a superação efetiva da “velha ontologia”, que se ocupava com as determinações dos entes enquanto entes, ou, nas palavras de Kant, com as coisas em geral em si mesmas. FILOSOFIA E CINEMA Maria Luiza Santos do Amaral. O artigo é resultado da pesquisa realizada com o projeto de extensão nomeado Filosofia e Cinema no IF, oferecido pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. O projeto visa apresentar conceitos filosóficos por meio de filmes selecionados, para exibi-los à comunidade externa que apresenta vulnerabilidade social. É realizada a seleção de um filme cujo enredo seja propício para a exploração de um ou mais conceitos presentes na história da filosofia. Em seguida, estudam-se os conceitos que o filme pode representar e tudo é debatido pelo grupo. Depois de feitas as relações julgadas pertinentes, o filme é exibido em instituições de bairros carentes de cultura em nosso município. A pesquisa tem o intuito de estabelecer uma analogia entre a gnosiologia em Platão, presente na Alegoria da Caverna, excerto da obra A república, com o filme “Fahrenheit 451” (1966), dirigido por François Truffaut (1932-1984). A metodologia é dividida em três etapas: primeiro, faz-se um resumo do enredo do filme. Em seguida, discute-se os quatro momentos da teoria platônica, envolvendo o Mito da Caverna. Por fim, abordam-se as duas fontes de pesquisa em conjunto, analisando e explicando as cenas principais do filme que se fazem análogas à Área: Metafísica teoria. Conclui-se o artigo com a hipótese de que discutir a filosofia por meio de obras filmográficas facilita o entendimento dos conceitos filosóficos e ajuda a incorporá-los em nosso cotidiano. Palavras Chave: Filme Fahrenheit 451; Alegoria da caverna em Platão; Filosofia e Cinema. FILOSOFIA E CINEMA: UMA ANÁLISE DO FILME “O DOADOR DE MEMÓRIAS” A PARTIR DA ALEGORIA DA CAVERNA, DE PLATÃO: ASPECTOS GNOSIOLÓGICOS Laura Beatris da Silva. O artigo é um escrito incentivado pelo projeto de extensão Filosofia e Cinema no IF do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Paraná. O projeto tem como propósito estimular os estudantes à leitura e reflexão de textos filosóficos, além da apresentação dessas obras ao público externo ao campus, principalmente nos locais em que é possível perceber uma vulnerabilidade social. Este artigo tem como objetivo explicar didaticamente a teoria do conhecimento platônico a partir do mito da caverna, exemplificando-o no filme intitulado “O doador de memórias” (2014), dirigido por Phillip Noyce. A metodologia é a seguinte: inicialmente apresentar-se-á um breve relato do filme, não se preocupando, nesse momento, com as pontualidades das cenas. Em seguida, explanar-se-á o mito da caverna, de Platão, apresentando as etapas do conhecimento humano, que iniciam pela Doxa () e podem chegar à Episteme (). Feito isso, analisar-se-á o enredo do filme com base nos conceitos adquiridos com o estudo da alegoria da caverna, ilustrando, com cenas pontuais do filme, as etapas do conhecimento antes explicadas. A guisa de conclusão, enumerar-se-ão os pontos positivos que as relações entre cinema e filosofia podem trazer quando trabalhadas concomitantemente em estudos introdutórios em filosofia. Palavras Chave: Alegoria ou mito da caverna, de Platão; O doador de memórias; Cinema e filosofia; projeto de extensão. FILOSOFIA: CONTEÚDOS OU ATITUDES? UMA MEDITAÇÃO A PARTIR DE HEIDEGGER. Andressa dos Santos Cizini. Heidegger indica em sua preleção Introdução à filosofia (1930) uma investigação acerca do ser em relação com o filosofar/filosofia e também com a história desse ser, na qual predomina um estudo dirigido em face à ideia de ontologia. No decorrer da sua investigação, Heidegger afirma que a princípio a introdução proporciona uma noção de estarmos “fora” da filosofia, de tal modo que conduziria a total desconexão com a mesma. Mas essa afirmação não procede. Para o filósofo, mesmo não possuindo uma compreensão abrangente da filosofia, não estamos totalmente a par dela, pois a filosofia é algo que nos pertence e é o que há de essencial ao homem. Essa noção do ser está ligada a diferença ontológica que o ser tem perante aos demais entes. O ente, a qual nos caracteriza o caráter essencial de humano, se chama ser-aí (Dasein). Essa noção tem relação direta ao modo de ser do homem no mundo, que proporciona ligação à filosofia. Desse modo, Heidegger propõe explicitamente que: “ser homem já significa filosofar” (HEIDEGGER, 2008, p. 3). A filosofia só é possível ao homem, ele é o único ente capaz de filosofar. Sendo a filosofia o que é de essencial ao homem, não cabem aos demais entes o ato do filosofar, por ser uma atividade de um ente finito, capaz de compreender os fenômenos do mundo. Partindo dos argumentos citados acima, podemos notar que, além de ter como essencial o filosofar, é necessário se deixar introduzir pela filosofia, por isso é preciso entender como colocar esse filosofar em prática. Esta explicação do filósofo parte da noção que em primeiro momento ela (filosofia) se encontra dormindo em nós, sendo assim, o papel da introdução à filosofia é direcionar o ser ao campo de possibilidades filosóficas, fazendo assim, despertar o filosofar da maneira mais livre possível, a fim de que a mesma se torne a principal atitude do presente instante que se vincula com nossa existência. É esta atitude que irá colocar a filosofia em curso. É necessário reconhecer que essas questões são de grande importância para a filosofia, exatamente por proporcionar uma investigação acerca do ser em relação com o filosofar e também com a história desse ser. Devido a isso, a proposta inicial é abordar as relações do ser referente à filosofia, a fim de ressaltar a importância da atitude do ser-aí no seu momento presente, que faz acontecer e despertar o filosofar que se encontra dormindo em cada ser. Palavras Chave: Ser-aí; Filosofia; Heidegger; Filosofar. Área: Metafísica NIETZSCHE E A CIÊNCIA EM O NASCIMENTO DA TRAGÉDIA Neomar Sandro Mignoni. Trata-se de uma leitura acerca de O Nascimento da tragédia (1872) de Friedrich Nietzsche, na qual pretende-se explorar, a partir das noções de apolíneo e dionisíaco, enquanto impulsos sustentadoras da tragédia grega antiga, a concepção teórica de mundo oriunda da concepção socrática de mundo. Seguindo a própria argumentação do filósofo procura-se distinguir as noções de apolíneo e dionisíaco procurando evidenciar que a morte da tragédia provocada pelo Sócrates moribundo reflete diretamente nas noções de racionalidade e otimismo lógico daí advindas. Palavras Chave: Ciência, Apolíneo, Dionisíaco, Arte trágica, Sócrates O CETICISMO MONTAIGNIANO NA REFORMA PROTESTANTE: QUAL É O CRITÉRIO DO CRITÉRIO? José Luiz Giombelli Mariani. A crise intelectual provocada pela Reforma coincide historicamente com a redescoberta e a retomada do interesse pelos argumentos dos antigos céticos gregos, com vista à sua aplicação nos conflitos Ou seja, inserindo-se na discussão sobre o problema de se encontrar um critério de verdade no Renascimento, Popkin escreve que uma das principais vias por meio das quais as posições céticas penetraram no pensamento do final do Renascimento foi uma disputa central na Reforma, a disputa acerca do que seria padrão correto do conhecimento religioso, o que era chamado de ‘a regra da fé’. Este argumento levantava um dos problemas clássicos dos pirrônicos gregos, o problema do critério de verdade (POPKIN, 2000). Na perspectiva de Montaigne, no interior das divergências religiosas entre os cristãos acerca do critério para o estabelecimento da verdade da fé, cada parte tem a presunção e a vaidade de se considerar a verdadeira, porque julga ter um critério de verdade indiscutível. Se estivéssemos de posse de um critério de verdade, poderíamos encontrar as premissas de um sistema metafísico de conhecimento verdadeiro, o que, por sua vez, nos fornece os fundamentos de um sistema físico de conhecimento verdadeiro. Mas é com isso, exatamente, que Montaigne não concorda. Frente a isso, católicos e protestantes tinham as mesmas dificuldades em relação a estabelecer a verdade indiscutível. Montaigne demole tanto a pretensão de verdade absoluta dos católicos quanto a dos protestantes. Em Montaigne não há algo como uma verdade inaugural, um ponto inicial porque todo critério requer outro critério ad infinitum. Palavras Chave: Montaigne, ceticismo, Reforma, epoché. O CUIDADO COMO ESTRUTURA PRÉVIA DO SER-AÍ Katyana Martins Weyh. O presente trabalho pretende abordar o conceito de cuidado como estrutura originária do ser-aí, na filosofia de Martin Heidegger (1889-1976). A investigação deste tema é orientada a partir do problema: como a estrutura ontológico-existencial do cuidado está relacionada ao modo de ser do ser-aí? Diante deste, nosso principal objetivo é determinar qual a “relação” que a estrutura ontológico-existencial do cuidado tem com o ser-aí, alem de compreender o cuidado por meio de sua tríplice estruturação: existencialidade, facticidade e queda (decadência). A partir disso, buscaremos validar a hipótese de que o cuidado é um existencial que se apresenta como a “essência” da existência do ser-aí. Assim, na fenomenologia heideggeriana, o conceito de cuidado é compreendido como uma estrutura existencial (ontológica) do ser-aí, capaz de articular os seus demais existenciais constitutivos. Desse modo, entendemos o cuidado como o modo de ser ontológico-existencial do ser-aí, ou seja, o ser-aí em seu existir é essencialmente um cuidar, o cuidado. Em vista disso, buscaremos sustentar que o cuidado é um conceito central em Ser e Tempo (2002) e encontra-se articulado com outros conceitos fundamentais da fenomenologia heideggeriana, como é o caso da angústia (tonalidade afetiva fundamental), propriedade e impropriedade. Palavras Chave: Heidegger; Ser-aí; Cuidado; Existencial; Fenomenologia; Área: Metafísica O SER-AÍ DE DESCARTES Geder Paulo Friedrich Cominetti. Heidegger parece insistir, em mais de uma obra, que os problemas filosóficos devem ser deixados de lado e que é tempo de se pensar em questões filosóficas. A diferença entre ambos é que aos problemas bastam o estudo e a dedicação a um ou outro sistema filosófico; já a questão se debruça sob as fendas do pensamento humano e repropõe a maneira de pensar o mundo e as coisas. Embora essa tenha sido a proposta cartesiana, Heidegger encontra na filosofia do pensador francês vestígios inconfundíveis de uma tradição que insistiu em ver o sujeito por seu "exterior". Heidegger acusa Descartes - embora lhe resguarde todos os méritos de alguém digno de nota - de insistir em ver na "essência" do homem um quê de fixo, de imutável. Descartes parece apenas recauchutar a maneira de pensar da Grécia antiga, pois mantém em seu sistema a noção de substância, apenas dando-lhe uma nova "roupagem". O homem não é mais visto como animal racional, mas sim como uma mistura entre corpo e alma. Ocorre que o homem racional aristotélico, diz Heidegger, não é o homem racional do medievo. Os conceitos de alma e espírito não traduzem fielmente o que o berço grego entendia como . Para Heidegger, a concepção de "alma" em Descartes remete a um "centro de atos" cujo cerne é algo de imutável, assim como para os pensadores medievais. Nada mais distante que a concepção de Ser-aí heideggeriana, que sequer se serve do conceito de "ato". Para Heidegger, o Ser-aí não está descolado do mundo e não se pode reduzir a realidade aos conceitos de matéria ou imatéria. Se o Ser-aí pode ser elucubrado, então o é a partir de sua experiência mais originária, isto é, na vida fática. Embora o Ser-Aí se mostre como sempre como um ente, este nada tem de imutável. O que permanece aí não é um "centro de atos", mas uma transcendência que revela múltiplos sentidos, sendo cada sentido atribuído a uma ocasião do Ser-aí. O artigo que apresentaremos investiga a possibilidade de se ver o "eu meditante" de Descartes como um Ser-aí heideggeriano. Para tanto, precisaremos desenvolver a noção de "mundo" em Heidegger e levantar as pistas que apontam à possibilidade do questionamento. Dentre elas estão o fato de Descartes não se utilizar do termo "sujeito" em sua obra, o fato de ele determinar um sentido preciso ao "eu meditante" e o fato de ele reservar o conceito de substância apenas a Deus. Se o "eu meditante" de Descartes se enquadrar aos moldes do Ser-aí de Heidegger, ter-se-á não apenas uma nova interpretação do cogito cartesiano, mas sim um grande esclarecimento acerca dos principais conceitos heideggerianos. Palavras Chave: A noção de Sujeito em Descartes; A noção de Ser-Aí em Heidegger; Hermenêutica da facticidade. O SUMO BEM DE KANT: UM ARGUMENTO TEOLÓGICO MORAL FILOSÓFICO, TEOLÓGICO BÍBLICO CRISTÃO OU GREGO PAGÃO ESTOICO? Vanessa Brun Bicalho. A proposta da Segunda Crítica, em solucionar os “problemas da razão” pela evidência da consciência do incondicionalmente prático (Faktum der Vernunft), como fundamento da lei moral e da possibilidade da razão pura pela ideia de Liberdade, não resolve todos os problemas daquele domínio inteligível da razão. Ao admitir um fim último como objeto da lei moral, Kant recai num novo e difícil problema: o Sumo Bem, como objeto resultante da ligação sintética a priori entre virtude e felicidade. Esta dificuldade, no entanto, não se apresenta isoladamente, Kant precisará recorrer aos postulados da Razão Pura Prática, já que sem uma justificativa a tais postulados, Sumo Bem, Liberdade e Lei Moral revelam-se como promessas completamente vazias. Para fugir do desmoronamento daquele projeto de se pensar uma Filosofia Prática (que sob o conceito de liberdade é) concebida como a pedra angular de todo o edifício de um sistema da razão pura, Kant recorre a um argumento, diria inusitado, de uma teologia moral pensada em consonância com (i) argumentos puramente racionais - filosóficos, (ii) propósitos religiosos e (iii) releituras estoicas. Palavras Chave: Kant, estoicismo, sumo bem. OS GRAUS DO AMOR NO BANQUETE DE PLATÃO Kimberly Dinnebier Bandeca; Luciano Carlos Utteich. O presente trabalho tem por objetivo explanar o conceito de Amor tal como exposto por Diotima no diálogo O Banquete, de Platão, visando distingui-lo em cada uma de suas gradações. Tomaremos a vida da personagem Sidarta, do livro Sidarta, de Hermann Hesse, para propor uma consonância das fases de vida da mesma com alguns dos degraus do amor apresentados por Diotima. Diante disso, nosso principal objetivo é determinar quais são as possíveis relações das gradações do Amor com as experiências de vida da personagem Sidarta. Desse modo, em uma visão que toma o conceito geral de amor como uma eterna falta, apresentada ainda na obra O Banquete, tomamos a busca iniciática da personagem Sidarta, que por meio de seu sentimento de carecer sempre do que não se tem, age em busca de uma unidade e plenitude do ser. Esta unidade e plenitude que almeja a personagem pode relacionar-se com o sétimo e último grau do amor tipo por Platão, a saber, a possibilidade de contemplar o Belo Área: Metafísica em si, sem máscaras, o real. Poderemos ver então se a personagem Sidarta passará ou não por todos os degraus do amor explicitados em O Banquete. Palavras Chave: Amor; Hesse; Plenitude OS MODOS DO TEMPO E A TEMPORALIDADE ORIGINÁRIA EM HEIDEGGER Neusa Maria Rudek Onate. A existência humana (não no sentido antropológico ou psicológico) não é uma mera projeção temporal, isto é, a estrutura temporal do ser-humano é a própria unificação das modalidades temporais. As modalidades ou modos temporais, segundo Heidegger, são caracterizados por três distintos conceitos de tempo: temporalidade originária, tempo do mundo e o tempo vulgar. “Tempo não possui o tipo de ser de alguma outra coisa, mas ao contrário se temporaliza (Zeitligt). O temporalizador (Zeitligen) constitui sua temporalidade (Zeitlichkeit)” (HEIDEGGER, 1976, p. 410). Dizer que o tempo se temporaliza, significa dizer que o tempo funda a si mesmo segundo distintos modos; tempo não é um ser, tempo é a própria condição de possibilidade. “[...] não apenas o tempo gera modos de si mesmo, com características próprias e modificáveis, como estes modos são produzidos a partir de modificações e complexificações nas estruturas dos modos temporais mais básicos” (REIS, 2005, p. 108). A estrutura temporal explicita o significado de interpretação, ou seja, é a elaboração de uma compreensão, pois possibilita a compreensão do ser do ser-humano e qualquer modalidade de ser, por isso Heidegger a define como a perspectiva de projeção que viabiliza a compreensão de qualquer modo de ser possível. Heidegger apresenta em Ser e tempo as relações de modificação estrutural dos três modos do tempo, que são: a temporalidade originária, o tempo do mundo e o tempo vulgar. O tempo que se pretende abordar aqui é a temporalidade originária. A temporalidade originária não é um tempo interno ou subjetivo, e muito menos uma sequência serial, portanto, é completamente distinta do tempo que compreendemos como interno e que deriva de uma consciência. A temporalidade originária não é uma estrutura da percepção e tampouco uma estrutura que organiza as representações, não é o tempo relativo de Einstein, nem o tempo da Natureza desenvolvido por Aristóteles, não é o tempo cíclico do relógio. " ‘O tempo’ não é subsistente nem no ‘sujeito’ nem no ‘objeto’, não está ‘dentro’ nem ‘fora’, mas ‘é’ ‘anterior’ a toda subjetividade e objetividade, porque ele representa a própria condição de possibilidade para este ‘anterior’" (HEIDEGGER,1986, p. 419). A temporalidade originária não pode ser expressa em termos seriais ou sequenciais. A temporalidade originária é uma multiplicidade unificada de momentos estruturais denominada como “ekstases”. Em O conceito de tempo (2008), Heidegger explica que os ekstases temporais (multiplicidade unificada de momentos estruturais) são identificados pelos termos usuais: passado (Gewesenheit), presente (Gegenwart) e futuro (Zukunft), contudo, não se pode compreender estes termos em sentido usual, pois os ekstases não são sequenciais, assim como a temporalidade originária não o é. O sentido usual de passado, presente e futuro indica uma relação de antes, durante e depois, portanto, uma sequencialidade que não pode ser atribuída aos ekstases. A caracterização apropriada para a temporalidade originária é ekstática, ou seja, horizontal e finita. Ela é temporalização de si mesma porque se temporaliza pela unificação dos momentos ekstáticos. Expor o essencial de tais ekstases e de seus vínculos instauradores, é o que se almeja neste trabalho. Palavras Chave: Heidegger; Modos do Tempo; Temporalidade Originária. PROPRIEDADE E SER-PARA-A-MORTE UM DIÁLOGO ENTRE SER E TEMPO E A MONTANHA MÁGICA Suellen Dantas Godoi. Nosso propósito é aproximar duas obras alemãs dos anos 1920: A Montanha Mágica (1924), de Thomas Mann, e Ser e Tempo (1927), de Martin Heidegger. Há muitos pontos de encontro entre a analítica do Dasein e a história do protagonista Hans Castorp em sua estada nos Alpes suíços. Neste trabalho, indicaremos apenas eixos gerais de intersecção. Apesar da proximidade temporal das publicações, cercadas pelo mesmo cenário político dos anos 1920, restringir-nos-emos à narrativa da vida do jovem hamburguês – “que nos parece em alto grau digna de ser relatada” (MANN, 1980, p. 9). Sobre ela, faremos incidir a analítica heideggeriana do Dasein, notadamente sua unidade como ser-para-a-morte e o modo como, a partir dessa constituição existencial do "ente que somos", abre-se o sentido próprio de temporalidade. A interpretação projeta uma resolução quanto ao tema da propriedade, em Ser e Tempo. Estará em jogo a análise da experiência de Hans Castorp sobre existência e tempo, sob o que Heidegger nomeia "decadência" (peculiar à "cotidianidade mediana"), bem como a passagem dessa interpretação da existência "impessoalmente" experimentada rumo à exposição do "poder-ser mais próprio", assumindo a estranheza da Angústia e antecipando a morte como possibilidade privilegiada. Nossa tarefa é mostrar como se dá semelhante comportamento para com a morte, se o Dasein é ontologicamente articulado em um "mundo" e compreende a existência desde o Impessoal. Em A Montanha Área: Metafísica Mágica, a via que escolhemos para mostrar como a decadência fecha o Dasein para seu si-mesmo próprio será a da observação do modo de vida dos pensionistas no sanatório Berghof, inclusive o “novato” Hans Castorp. Distantes das ocupações a que estavam acostumados na planície, quase apátridas, distantes das raízes de toda e qualquer segurança cotidiana, os hóspedes são levados a se familiarizarem com a “não-familiarização” da montanha. No sanatório, a contagem do tempo é irrelevante, faltam caracteres que identifiquem a sucessão dos dias – só há neve. As unidades cronológicas de medida são alargadas e estendidas; a menor unidade é a semana. Nada pode perturbar a “tão confortável e tão bem regulamentada vida do Berghof, de curso monótono em seus estreitos limites” (MANN, 1980, p. 233) – nem doença e morte, tão recorrentes. Nesse vale, “onde os mortos levam uma existência irreal, desprovida de sentido”, só há os que “caíram muito baixo” (MANN, 1980, p. 70). A partir desse cenário, exporemos a autointerpretação ontológica do Dasein no modo do Impessoal, procurando indicar como apenas desde esse solo pode encontrar-se ou perder-se. Será especialmente relevante contrapor o “exitus”, interpretação do ser-para-o-fim cotidiano imperante no Berghof, ao conceito existencial de morte, possibilidade mais própria e irremissível do Dasein. Por meio das relações entre o protagonista e as personagens Settembrini, Chauchat e Ziemssen, ilustraremos os fenômenos de apelo da consciência, angústia, cuidado, morte e temporalidade, centrais na analítica do Dasein. A pergunta norteadora deste escrito será assim formulada: É a realidade do tempo aberta somente ali onde a decisão sobre quem somos é possível para além da resposta fundada “neste mundo e nesse eu aí presentes”? Palavras Chave: Heidegger; Mann; Ser-para-a-morte; Propriedade;