O USO DO BISCUIT COMO INSTRUMENTO PARA A PRÁTICA NO ENSINO DA NEUROANATOMIA Mayra Aparecida Côrtes1, Flávio Cesar Vieira Valentim2, Ricardo Sirotheau Gonzaga Jacob3, Lohan Affonso da Silva Campos3 Resumo Atualmente, percebe-se uma busca por métodos e inovações no ensino da neuroanatomia. A utilização da massa de biscuit para a construção de modelos anatômicos é uma opção versátil, de baixo custo. Buscou-se construir peças sintéticas a partir do biscuit, que representassem de uma forma clara e materializada, uma ideia ou conceito, tornando-o assimilável. Optamos pela construção das vias de conexão entre a medula espinhal e o encéfalo, vias ascendentes e descendentes além das Lâminas de Rexed. A atividade foi desenvolvida por acadêmicos, onde foi realizada uma revisão teórica de todo o conteúdo, seguido pela escolha das imagens e as divisões dos grupos. Posteriormente a criação das peças, os trabalhos foram apresentados. Os modelos desenvolvidos a partir do biscuit, pelos discentes, contribuem de maneira hábil, atuando como uma ferramenta alternativa para o ensino da neuroananatomia e enriquecendo o acervo de peças sintéticas do laboratório de Anatomia Humana da instituição. Introdução Atualmente, percebe-se uma busca por métodos e inovações no ensino da neuroanatomia, visando suprir as dificuldades de aprendizagem dos acadêmicos visto que esta disciplina, quando pautada apenas pelas metodologias tradicionais de ensino, torna-se cansativa e desestimulante, o que influi no processo de ensino-aprendizagem do discente, interferindo na formação de profissionais criativos e críticos. 1 O uso de cadáveres, de difícil obtenção, necessário às aulas práticas, apresenta alguns problemas tais como: conservação e local de acondicionamento, quantidade insuficiente de cadáveres, dissecação inadequada e degradação das peças anatômicas devido à constante manipulação. 2,3 Sendo assim, é notório o interesse por novas metodologias que possibilitem o estudo macroscópico de estruturas delicadas e que não possuem representações sintéticas.7 Dentre essas estruturas podemos citar as vias de conexão, que conduzem informações da 1 medula espinhal para o encéfalo, e que são definidas como um grupamento de fibras nervosas. Essas estruturas não estão disponíveis para o estudo macro assim como as Lâminas de Rexed, na substância cinzenta da medula espinhal.4,5,6 Com toda essa problemática permeando o estudo da neuroanatomia, tem-se buscado alternativas que contornem esses obstáculos estreitando a relação entre o ensino e a aprendizagem. Portanto, a criação de novas metodologias para o ensino de tal disciplina é extremamente necessária, principalmente metodologias que coloquem o aluno como um sujeito ativo neste processo, oportunizando a edificação de sua realidade, criando significados, responsabilidades e comprometimento adquirindo conhecimentos que poderão intervir na qualidade de vida e saúde da população.7 Na literatura há relatos do uso do biscuit para a confecção de células, de ligamentos articulares onde se pode obter uma reprodução clara e precisa dos elementos simulados. Portanto, buscou-se construir peças sintéticas a partir do biscuit, que representassem estruturas não disponibilizadas macroscopicamente, aproximando a teoria da prática e estimulando o aluno a adotar uma postura central no processo do ensino – aprendizagem. Referencial Teórico A complexidade do organismo humano torna o ensino daneuroanatomia um desafio, especificamente para os cursos de graduação na área da saúde.1 Esta busca pela informação tanto visual como textual sobre a estrutura do corpo humano é feita por meio de livros texto, atlas, peças sintéticas e principalmente por métodos de dissecação de peças cadavéricas formolizadas.8 Infelizmente o estudo da neuroanatomia lida com alguns fatores que interferem no processo de aprendizagem dos alunos, mesmo com a criação de programas de doação voluntária de corpos, o uso de peças cadavéricas durante as aulas práticas, vem diminuindo significativamente, em decorrência da redução crescente do número de cadáveres não reclamados, cedidos para o ensino e para a pesquisa.4 Há ainda o percalço para visualizar estruturas abstrusas do corpo humano, como as grandes vias de projeção ascendente e descendente (compostas por axônios de neurônios situados na substância cinzenta da medula espinhal) responsáveis pela comunicação entre estruturas como a medula espinhal e o encéfalo.4, 5 2 Essas fibras, presentes na substância branca da medula espinhal, agrupam-se em tratos e fascículos, formando as vias, responsáveis pelas conexões entre essa estrutura e centros superiores e apresentando como função a condução de impulsos nervosos. Essas estruturas estão agrupadas, sem uma delimitação precisa entre elas. Não há a presença de um septo dividindo-as, dispondo-se lado a lado com as fibras do trato vizinho.5,6 Outro conteúdo onde se estuda a teoria e a prática macroscópica não possui representação é a disposição dos neurônios da substância cinzenta da medula espinhal. Esta região apresenta lâminas dispostas de forma regular, mas não visível macroscopicamente.6 Além do quadro apresentado acima, a utilização de modelos anatômicos sintéticos, esbarra no alto custo financeiro das mesmas e também na burocracia para aquisição por meio das licitações para as universidades públicas. Estes fatores arrolados a dificuldade específica da disciplina desafia o professor a dinamizar o processo pedagógico facilitando a aprendizagem.4 Metodologias ativas de ensino-aprendizagem possibilitam aos discentes ocupar o lugar de sujeito na construção do conhecimento enquanto o professor exerce um papel de facilitar e orientar esse processo.9 A utilização da massa de biscuit para a construção de modelos anatômicos é uma opção versátil, pois agrega além da ótima representatividade, facilidade de acesso e baixo custo. A utilização de cores na confecção das peças estimula visualmente o aluno, facilitando o processo de consolidação da memorização dessas estruturas, portanto contribui como recurso didático complementar. A exposição prática destes materiais é visto como uma nova forma de expor conteúdos limitados, que apresentam caráter teórico,sendo caracterizado apenas pela transmissão de conhecimento, o que gera desinteresse e dificulta a compreensão do conteúdo ministrado.10 Logo a proposta deste trabalho foi de facilitar o processo ensino – aprendizagem, aproximando a teoria com o re-conhecimento cognitivo do mesmo com o desenvolvimento de peças feitas a partir do biscuit, e que representasse de uma forma clara e materializada, uma ideia ou conceito, tornando-o assimilável. Neste trabalho optamos pela construção das estruturas que compõe as vias de conexão entre a medula espinhal e o encéfalo, vias ascendentes e descendentes, ampliando também o acervo anatômico do laboratório de anatomia. Ao confeccionar o modelo, o aluno precisa ter o conhecimento preciso acerca do conteúdo buscando representar fidedignamente a realidade.11 3 Materiais e métodos A atividade foi desenvolvida por acadêmicos, como parte do conteúdo da disciplina de neuroanatomia. O trabalho iniciou-se com uma revisão teórica de todo o conteúdo relacionado a atividade a ser desenvolvida. Foi realizada uma busca aos livros-atlas de neuroanatomia/anatomia humana no acervo bibliotecário da instituição, a fim de escolhermos imagens que ilustrasse as grandes vias aferentes e eferentes. Após a escolha das imagens os alunos foram divididos em grupos onde cada grupo ficou responsável pela confecção de uma das grandes vias seja aferente ou eferente. Os materiais utilizados foram: massa de biscuit comercial, tinta para colorir a massa de biscuit, cola e peças de compensado para afixar os moldes da medula espinhal, encéfalo e as representações dos tratos, todos feitos a partir da massa de biscuit. Os alunos após o preparo do material fizeram a apresentação das peças confeccionadas. Considerações Apesar do grande número de peças sintéticas disponíveis para comercialização, modelos anatômicos que representem as conexões existentes entre a medula e centros superiores não estão disponíveis para aquisição, por meio da instituição de ensino. As peças anatômicas existentes, que representam estruturas do sistema nervoso, geralmente possuem custos elevados, não representando com fidedignidade a realidade. Ao confeccionar peças sintéticas, a partir de materiais de baixo custo, o discente participa ativamente do processo de aprendizagem, tornando-se motivado e permitindo que a aula seja dinâmica, despertando a criatividade e habilidade nos alunos.11 A massa de biscuit, de fácil manuseio,proporciona praticidade para a confecção das estruturas, permitindo reparos em caso de erros na execução do trabalho além do baixo custo apresentado. As estruturas foram representadas em tamanhos maiores facilitando o entendimento e a relação entre as estruturas presentes em cada peça. Dessa forma, o conhecimento não foi construído somente de forma passiva, havendo uma rica interação entre o indivíduo e a estrutura a ser construída.11 A utilização de metodologias ativas em anatomia humana possui um grande potencial como ferramenta no processo ensino-aprendizagem. A prática dessas 4 metodologias pode favorecer uma motivação no discente ao possibilitar a vivência do mesmo ao perceber que ele é construtor ativo neste processo.12 Durante a apresentação foi possível verificar o grau de comprometimento e conhecimento relacionado às características peculiares de cada estrutura focando a importância do aluno como ser ativo na construção de seu próprio conhecimento. A busca pela relação entre conteúdos didáticos e motivação dos discentes pode favorecer tanto o ensino como a aprendizagem. De acordo com a literatura, o modelo de ensino utilizado para transmitir a informação, onde o professor é protagonista, deve-se transformar no modelo pedagógico que privilegie e coloque o aluno como ator na construção do seu próprio conhecimento e o professor como facilitador, a estimular constantemente a aprendizagem significativa.13 Os discentes mostraram-se entusiasmados, correlacionando a literatura com os modelos desenvolvidos pelos mesmos durante a fase de desenvolvimento do trabalho e posteriormente a ele, questionando a dificuldade em se encontrar imagens claras nos livros atlas de neuroanatomia sobre as vias extrapiramidais, levando-os a uma reflexão crítica sobre os materiais disponíveis para estudo, referentes ao conteúdo abordado na metodologia apresentada. Essas novas metodologias ativas são fundamentadas na concepção pedagógica crítico-reflexiva, permitindo que o discente faça uma leitura sobre o conteúdo apresentado, sobre seu papel nos diferentes campos dos saberes e cenários de aprendizagem além de instigar a criatividade frente a diversas problemáticas e principalmente, que promovam a liberdade no processo de pensar.14 Alguns modelos desenvolvidos foram selecionados e fazem parte do acervo de peças do laboratório da instituição onde foi realizada a atividade proposta, sendo utilizadas nos demais cursos da área da saúde. Portanto, a disciplina de neuroanatomia, vista como uma disciplina complexa, que possui alguns percalços na sua prática, necessita de metodologias dinamizadas, ativas que despertem no aluno a capacidade crítica, reflexiva, e que instiguem nesses discentes a vontade e a capacidade de atuarem como protagonistas no processo de ensino-aprendizagem. Os modelos desenvolvidos a partir do biscuit, pelos discentes, contribuem de maneira hábil, atuando como uma ferramenta alternativa para o ensino da neuroananatomia. 5 Referências Bibliográficas 1. SILVA, M. S. L.; MACHADO, H. A.; BIAZUSSI, H. M. Produção de material didático alternativo para aula prática de anatomia humana. In: VII CONNEPI, 2012, Palmas. Anais eletrônicos... Palmas: IFTO, 2012. Disponível em: <http://propi.ifto.edu.br/ocs/index.php/connepi/vii/paper/viewFile/4211/1560>. Acesso em: 17 jun. 2015. 2. PIAZZA, B. A.; CHASSOT, A. I. Anatomia Humana, uma disciplina que causa evasão e exclusão: quando a hipótese principal não se confirma. Ciência em Movimento, ano XIV, nº 28, 2011/2. 3. SILVA, A. V.; JUNIOR-AGUIAR, O.; CESPEDES, I. C. O ser humano em sua dimensão biológica: metodologias ativas de ensino e de avaliação na graduação em saúde em um contexto interprofissional. In: PBL 2010 CONGRESSO INTERNACIONAL, 2010, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 2010. 4. QUEIROZ, C. A. 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