II CONGRESSO DE INOVAÇÃO E METODOLOGIAS DE ENSINO 1 Recursos Educacionais CONSTRUÇÃO DE MODELOS DIDÁTICOS PARA ESTUDO DO DESENVOLVIMENTO EMBRIONÁRIO HUMANO Amanda Aparecida Figueiredo Carvalho Faculdade de Farmácia – UFMG [email protected] Ana Lúcia Andrade Santos Faculdade de Farmácia – UFMG [email protected] Isabela Moreira Gondim Faculdade de Farmácia – UFMG [email protected] Raphael Bruno dos Reis Jorge Faculdade de Farmácia – UFMG [email protected] Cristiane Alves da Silva Menezes Faculdade de Farmácia - UFMG [email protected] Resumo: Ao longo do desenvolvimento embrionário humano ocorrem modificações morfológicas e moleculares. A compreensão das diferentes fases embrionárias que são acompanhadas de mudanças morfológicas é dificultada por falta de modelos tridimensionais que representem as várias fases da evolução intrauterina. Modelos de gesso são excelentes recursos didáticos. Porém, na Faculdade de Farmácia da UFMG não possuímos tais modelos, cujo alto custo, dificulta sua aquisição. Assim, tornou-se necessária a confecção de modelos com materiais de baixo custo. O objetivo desse estudo foi criar modelos de biscuit que representassem os gametas, o zigoto e suas modificações até a segunda semana de desenvolvimento. Esse trabalho foi desenvolvido pelos alunos que cursavam a disciplina “Biologia do desenvolvimento humano e exames laboratoriais da gestante” e apresentado ao final da mesma. Os modelos criados foram pintados, montados em suportes de MDF, legendados e, por sua qualidade e clareza, incorporados ao acervo da disciplina do curso de Biomedicina. Palavras-chave: Material didático, modelos em biscuit, desenvolvimento embrionário humano. 1. INTRODUÇÃO O estudo do desenvolvimento embrionário humano relaciona-se à compreensão das diferentes modificações sofridas pelo zigoto até alcançar o estágio de embrião, e deste, até o estágio fetal. Ao longo deste desenvolvimento, as modificações morfológicas e moleculares sofridas por este organismo são alvo do estudo da disciplina optativa “Desenvolvimento Embrionário e Exames Laboratoriais da Gestante” (ACT074) do curso de Biomedicina. A compreensão das diferentes fases embrionárias que são acompanhadas de mudanças morfológicas é dificultada por falta de modelos tridimensionais que representem as várias fases da evolução ontogênica intrauterina. Modelos de gesso são reconhecidamente um excelente recurso didático, porém, o alto custo desses modelos, inviabilizam sua aquisição (PEROTTA et al.2004, FREITAS et al.2008). Desta forma, para aliar uma parte prática á teoria ministrada, tornou-se necessária à confecção de modelos com materiais de baixo custo. Dentro desse contexto a proposta de criação de modelos foi lançada aos alunos que estavam cursando a disciplina ACT074. Conjuntamente, professora e alunos decidiram quais modelos seriam confeccionados – gametas, zigoto, primeira e segunda semanas de desenvolvimento. Os alunos propuseram o uso de biscuit e produção de modelos 2D. Esta metodologia já foi utilizada anteriormente para produção de peças anatômicas (SILVA et al., 2014). Para a construção dos modelos, os alunos consultaram livros de embriologia e busca na internet. Essa pesquisa serviu também de reforço aos assuntos discutidos em aula teórica. A pesquisa associada à construção dos modelos estimulou os discentes a assumirem o papel de ator principal no processo do ensino – aprendizagem. Acreditamos que a criação de um acervo de modelos sobre os eventos que ocorrem durante o desenvolvimento humano, bem como a confecção de um material didático complementar que auxilie e facilite a compreensão do conteúdo prático da disciplina, beneficiou tanto os alunos diretamente envolvidos neste projeto, como os próximos alunos que cursarão a disciplina utilizando como ferramenta de aprendizagem esses 2 modelos recém-criados. Além disso, vislumbramos a expansão desse trabalho para outras disciplinas em que a visualização celular seja importante. 3 2. REFERENCIAL TEÓRICO Os estudos sobre o desenvolvimento humano são complexos, pela limitação da visualização de modificações que ocorrem dentro do útero materno e pela necessidade de se interpretar essas modificações de forma tridimensional (PEROTTA et al., 2004). Adicionalmente, o tema apresenta estruturas microscópicas que requerem observação indireta e que envolvem alterações dinâmicas no desenvolvimento do embrião (AVERSI-FERREIRA et al., 2012). Devido a essas restrições, o estudo dessa área fica, muitas vezes, limitado a aulas teóricas (SANTOS et al., 2004). Para solucionar as dificuldades visuais de se compreender o desenvolvimento humano, são utilizados modelos de material didático que facilitam a compreensão desse tema. Existem modelos tridimensionais que representam as modificações ontogênicas. Esse material é constituído por modelos de gesso ou de plástico. Porém, estes modelos apresentam custo elevado e desgaste com a manipulação. Como método alternativo, alguns professores tem incluído a construção de modelos por estudantes durante as aulas (FERRAZ & TERRAZAN, 2003). O resultado observado é que essa construção ajuda os estudantes a aprender o conteúdo apresentado durante a disciplina (AVERSIFERREIRA et al., 2008). O uso de metodologias ativas de ensino aprendizagem (MAEA) traz o estudante para o papel central da discussão, em que ele irá construir seu conhecimento e o professor terá papel de orientá-lo nesse processo (MELO & SANT’ANA, 2012). Dentro disso, a proposta do trabalho foi à confecção de modelos representativos das alterações sofridas pelo zigoto até a segunda semana de desenvolvimento. O biscuit, material utilizado, apresenta baixo custo, é maleável e de fácil manipulação. Os modelos criados foram pintados para estimular visualmente o aluno o que facilita a consolidação do conhecimento. Os modelos produzidos farão parte do acervo da disciplina ACT074 e servirá como recurso didático complementar para as próximas turmas. Acreditamos que este trabalho contribuiu e continuará contribuindo para o processo ensino – aprendizagem, reforçando a teoria, uma vez que para confeccionar esses modelos os alunos buscaram referências em livros didáticos para representar de maneira fiel às alterações sofridas pelo embrião da fecundação até a segunda semana de gestação, incluindo a sua implantação no endométrio. 3. MATERIAIS E MÉTODOS A atividade foi desenvolvida por acadêmicos, como parte do conteúdo da disciplina “Desenvolvimento Embrionário e Exames Laboratoriais da Gestante” (ACT074) do curso de Biomedicina. O trabalho iniciou-se com a definição de quais etapas do desenvolvimento embrionário seriam representadas, chegando-se ao consenso de que seriam representadas as etapas da fecundação à segunda semana de desenvolvimento. Após o estabelecimento de quais modelos seriam construídos, os alunos fizeram uma revisão teórica buscando imagens detalhadas e representativas das fases a serem representadas. Essa pesquisa contou com o uso dos livros texto (Embriologia Básica, Embriologia Médica) indicados na bibliografia da disciplina e disponíveis na biblioteca da Faculdade de Farmácia. Os materiais utilizados foram: massa de biscuit comercial, tinta para colorir a massa de biscuit, pincéis, cola e peças de MDF para afixar os modelos (Figura 1). 4 5 Figura 1: Materiais utilizados para confecção dos modelos embrionários. O material utilizado constituiu-se de: massa de biscuit comercial, tinta para colorir a massa de biscuit, pincéis, cola e peças de MDF para afixar os modelos. Os alunos fizeram os modelos conjuntamente. Os modelos construídos foram apresentados pelos alunos ao final da disciplina (Figura 2). (A) (B) (C) Figura 2: Modelo de implantação inicial. Construção do modelo de implantação inicial (A). Modelo de implantação inicial finalizado sem pintura (B). Modelo de implantação inicial finalizado, pintado e preparado para adição de legendas (C). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS A compreensão das diferentes fases embrionárias que são acompanhadas de mudanças morfológicas é dificultada pela falta de modelos tridimensionais de baixo custo que facilitem o entendimento desse processo dinâmico. Apesar da existência de modelos comerciais, os mesmos tem custo elevado e, além disso, são facilmente desgastados pelas manipulações constantes pelos alunos. A confecção de modelos pelos discentes, utilizando material de baixo custo, favorece o processo de aprendizagem através da sua motivação além de despertar a criatividade dos mesmos (ARAÚJO JUNIOR et al, 2014). O material usado, biscuit, é bastante maleável e prático para se moldar. Os modelos de gametas, zigoto e fases de blastocistos implantados ou não, foram representadas com detalhes e montadas em placas de MDF. Cada modelo recebeu uma legenda baseada nas cores utilizadas o que permitirá a fácil utilização por outros alunos e a fixação de conceitos. Os discentes relataram com entusiasmo a confecção dos modelos, o aprendizado que tiveram durante a confecção dos mesmos uma vez que o livro texto era sempre consultado para produzir com fidelidade estruturas embrionárias. Todos os modelos desenvolvidos foram incorporados ao recém-construído acervo da disciplina ACT074 para utilização futura em novas turmas de Biomedicina. Pela positividade da experiência, acreditamos que metodologias de ensino mais dinâmicas despertam nos alunos interesse pela disciplina além de favorecerem um ambiente propício para a criatividade e aprendizagem, levando os discentes a desenvolverem o papel de protagonistas na construção do saber (MONTES E SOUZA, 2010). Neste trabalho, demonstramos ser possível a construção de modelos embriológicos de baixo custo, iniciamos o acervo para estudo do desenvolvimento humanos na Faculdade de Farmácia da UFMG e, principalmente, aliando a teoria e a prática, pudemos favorecer o processo de ensino-aprendizagem. Dada à positividade da experiência, pretendemos expandi-la para outras disciplinas. 6 5. REFERÊNCIAS 1. ARAÚJO JUNIOR et al. Desafio anatômico: uma metodologia capaz de auxiliar no aprendizado de anatomia humana. Medicina (Ribeirão Preto), v. 47, v. 1, p. 62-8, 2014. 2. AVERSI-FERREIRA et al. Teaching Embryology Using Models Construction in Practical Classes. Int. J. Morphol, 30(1):188-195, 2012. 3. FERRAZ, D. F.; TERRAZAN, E. A. Uso espontâneo de analogias por professores de biologia e o uso sistematizado de analogias: que relação?. Ciência &Educação, 9:213-27, 2003. 4. FREITAS, L.A.M. et al. Construção de modelos embriológicos com material reciclável para uso didático. Biosci. J., Uberlândia, v. 24, n. 1, p. 91-97, Jan./Mar. 2008 5. MELO, B. C.; SANT’ANA, G. A prática da metodologia ativa: compreensão dos discentes enquanto autores do processo ensino-aprendizagem. Comunicação em Ciências da Saúde, v. 23, n. 4, p. 327-339, 2012. 6. MONTES, M. A. A.; SOUZA, C. T. V. Estratégia de ensino-aprendizagem de anatomia humana para acadêmicos de medicina. Ciências & Cognição, v. 15. n. 3, p. 2-12, 2010. 7. MOORE, Keith. L.; PERSAUD,T. V. N. Embriologia básica. 7. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.365 p. 8. PEROTTA, B. et al. Demonstração prática do desenvolvimento pulmonar humano. Arq. Apadec, Maringá, v. 8, supl. 2, p. 14, out. 2004. 9. SADLER, T.W. Embriologia Médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2016. 348 p 10. SILVA, A. A. et. al. O uso do biscuit como ferramenta complementar ao ensino de anatomia humana: um relato de extensão universitária. Revista Ciência em Extensão, v. 10, n. 2, p. 47-54, 2014. 7