Universidade Federal da Bahia Escola de Medicina Veterinária Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos COMPARAÇÃO DE UM ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO PARA DIAGNÓSTICO DA ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA (CAE) COM OUTRAS TÉCNICAS SOROLÓGICAS E PCR. Julianna Alves Torres Salvador – Bahia 2008 ii JULIANNA ALVES TORRES COMPARAÇÃO DE UM ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO PARA DIAGNÓSTICO DA ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA (CAE) COM OUTRAS TÉCNICAS SOROLÓGICAS E PCR. Dissertação apresentada à Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do título de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos, na área de Saúde Animal. Orientador(a): Prof. Dra. Sílvia Inês Sardi Co-orientador: Dr. Gúbio Soares Campos Salvador – Bahia 2008 iii FICHA CATALOGRÁFICA Torres, Julianna Alves. Comparação de um ensaio imunoenzimático para diagnóstico da artriteencefalite caprina (CAE) com outras técnicas sorológicas e PCR. - Salvador: Bahia., 2008, 94 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia, 2008. Professor Orientador – Profa. Dra. Sílvia Inês Sardi Palavras-chave - diagnóstico, CAEV,ELISA, IDGA, PCR. iv COMPARAÇÃO DE UM ENSAIO IMUNOENZIMÁTICO PARA DIAGNÓSTICO DA ARTRITE-ENCEFALITE CAPRINA (CAE) COM OUTRAS TÉCNICAS SOROLÓGICAS E PCR. JULIANNA ALVES TORRES Dissertação defendida e aprovada para obtenção do grau de Mestre em Ciência Animal nos Trópicos Salvador, 31 de julho de 2008 Comissão Examinadora: ____________________________________________________ Profa. Dra. Sílvia Inês Sardi - UFBA Orientador ____________________________________________________ Profa. Dra. Lília Ferreira de Moura Costa – UFBA ____________________________________________________ Prof. Dr.Carlos Roberto Franke – UFBA v Dedico este trabalho: A pessoa mais alto astral que conheço, mais versátil e inteligente: Minha querida mãe Margarida. Minha fonte de inspiração, de amor e de novas perspectivas. Amo-te incondicionalmente sempre. AGRADECIMENTOS vi AGRADECIMENTOS A Deus, pai amado, todo poderoso. Obrigada por tudo, sei que estais presente em todos os momentos. Sempre que encontrava obstáculos, pensava em Ti e eras Tu que me guiava. Minha amada mãe Margarida, a quem devo todo otimismo e coragem. Suas palavras e conselhos...seu colo....seu amor. Obrigada, sua energia é sempre positiva. A meu pai Adelino pelo orgulho que sentes de mim e pelo amor. Sua disciplina e ensinamentos me fizeram a pessoa que sou hoje. Aos meus queridos irmãos Marcelo e Lula, obrigado pela torcida e carinho. A Lucas (Meu Preto), não tenho palavras para agradecer.... seu apoio foi sempre incondicional e tenho certeza que quantos degraus eu quiser subir, você estará lá sempre para me apoiar. Amo-te demais, muito obrigada pela paciência. A minha orientadora Profa. Sílvia Sardi por sua confiança, disciplina, orientação incansável, amizade e pelas oportunidades de crescimento profissional. Sempre um exemplo de dignidade e amor à pesquisa. Ao meu co-orientador Gúbio Campos, pelo incentivo a pesquisa, conhecimento, orientação e amizade. Aos grandes amigos conquistados no laboratório de virologia: Camila, amiga de todas as horas, me passou todos os primeiros passos da pesquisa; Michael, um amigo que sempre tem palavras de incentivo; Dellane, pelo carinho, paciência...., Margareth, Isa, Tereza, Déa, Pati... enfim agradeço a todos vocês amigos pelo apoio e amizade fundamentais para a realização desse trabalho, sem falar nos tantos momentos de descontração, não menos importantes. A minha amiga Candanga Débora Matias por ter dado o primeiro impulso para realização desse trabalho, por ter virado a noite me ajudando a preparar a apresentação, obrigada por estar em minha vida, pelo carinho e apoio. vii Aos novos amigos conquistados no Instituto de Ciências da saúde (ICS) pelo prazer de encontrá-los todos os dias e pelo carinho que têm por mim. Em especial a amiga Fúlvia Campos, pelo auxílio e acolhida. A Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB) por ter nos ajudado com as colheitas das amostras. A Bahia é quase um país e sem o apoio da equipe técnica da ADAB ficaria impossível. Agradeço em especial a Dr. Antônio Maia, por sempre estar nos apoiando a ajudando e a Dr. Paulo (ADAB - Feira de Santana) por sempre ser solícito nas colheitas, pela paciência e pela amizade. A Fundação de Amparo a pesquisa da Bahia (FAPESB) pela bolsa de estudos concedida durante o curso de mestrado. A professora Thereza Calmon pela colaboração essencial na estatística deste trabalho. Ao curso de Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos e todos os seus professores, funcionários e amigos conquistados que nos proporcionaram inesquecíveis momentos de prazer em busca do conhecimento. A todos os professores do Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos da Escola de Medicina Veterinária da UFBA, em especial ao professor Joselito Nunes Costa, que me encaminhou para o laboratório de virologia onde pude alcançar novos horizontes. Aos proprietários de caprinos que gentilmente permitiram que realizássemos as colheitas. Aos caprinos, animais que servem como meio de subsistência para muitas pessoas no nosso Nordeste e é por eles que estamos desenvolvendo todo esse trabalho. A todos aqueles que participaram de alguma forma deste trabalho e sonho. Agora se torna realidade e eu só tenho a agradecer. viii "Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”. (Mahatma Gandhi) ix ÍNDICE Páginas LISTA DE FIGURAS xi LISTA DE TABELAS xii LISTA DE ABREVIATURAS xiii RESUMO xv SUMARY xvi 1. INTRODUÇÃO GERAL 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. VÍRUS DA ARTRITE – ENCEFALITE CAPRINA 2.1.1. CLASSIFICAÇÃO 2.1.2. CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS 2.1.3. CICLO DE REPLICAÇÃO VIRAL 2.1.4. CÉLULAS HOSPEDEIRAS DO VÍRUS 2.1.5. PATOGENIA 2.1.6. ASPECTOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS A) Forma artrítica B) Forma mamítica C) Forma encefálica D) Forma respiratória 2.1.7. TRANSMISSÃO A) contato direto B) leite C) transmissão vertical D) transmissão sexual 2.1.8. ASPECTOS IMUNOLÓGICOS 2.1.8.1. Resposta imune de células B e imunopatologia 2.1.8.2. Resposta imune de células T e imunopatologia 2.1.9. DIAGNÓSTICO 2.1.9.1. Clínico 2.1.9.2. laboratorial A) Detecção sorológica 1) Imunodifusão em gel de agarose (IDGA) 2) Técnica imunoenzimática – enzime-linked immunsorbent assay (ELISA) 3) Outras provas sorológicas – Western – Blot (WB) e Imunofluorescência indireta (IFI) B) Detecção do vírus ou componentes virais 1) Isolamento viral em cultivo de células 2) Detecção do ácido nucléico viral 1 3 3 3 3 5 8 9 11 11 12 13 13 14 15 15 16 17 18 18 19 20 20 21 21 22 22 24 25 25 26 x 2.1.10. SITUAÇÃO NO BRASIL 3. ARTIGO CIENTÍFICO I 3.1. INTRODUÇÃO 3.2. MATERIAIS E MÉTODOS 3.3. RESULTADOS 3.4. DISCUSSÃO 3.5. CONCLUSÕES 3.6. AGRADECIMENTOS 3.7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 27 30 32 34 48 61 67 68 69 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 72 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 74 6. ANEXOS 83 xi LISTA DE FIGURAS xi Página 5 FIGURA 1 Representação esquemática da estrutura dos Retrovírus. FIGURA 2 Ciclo de replicação dos Retrovirus. 7 FIGURA 3 Rebanho caprino acometido pela CAE com manifestação clínica de 12 artrite FIGURA 4 Perfil eletroforético das proteínas virais do CAEV 49 FIGURA 5 Imunofluorescência Indireta 54 FIGURA 6 Western-Bloting 56 FIGURA 7 PCR 58 xii LISTA DE TABELAS xii Página TABELA 1 Municípios do Estado da Bahia onde foram coletadas amostras 38 TABELA 2 Comparação dos resultados obtidos em amostras de soros pelas 51 técnicas IDGA e ELISA indireto. TABELA 3 Acompanhamento de uma propriedade de caprinos no Estado da 52 Bahia pelo período de 2 anos. TABELA 4 Comparação dos resultados obtidos IDGA / ELISA / PCR 60 xiii LISTA DE ABREVIATURAS CAE = artrite-encefalite caprina CAEV = vírus da artrite-encefalite caprina DAB = 3’3’ Diaminobenzidine DNA = ácido desoxiribonucléico ELISA = enzime linked immunosorbent assay Env = envelope FITC = Isotiocianato de Fluoresceína IDGA = Imunodifusão em Gel de Agarose gp = glicoproteína HIV = vírus da imunodeficiência humana HTLV – III = vírus linfotrópico T humano tipo III IFI = Imunofluorescência Indireta IFN = interferon LV = lentivirus LVPR = Lentivírus de pequenos ruminantes µg = micrograma µl = microlitro MEM – G = meio essencial mínimo – glasgow MVV = Maedi Visna Vírus MSC = membrana sinovial caprina OIE = Organização Internacional de Epizootias IL = interleucina PBS = salina tamponada com fosfato PBS – L = PBS leite 5% PBS – T = PBS-Tween 0,05% PEG = polietilenoglicol PCR = reação em cadeia de polimerase xiv PM = peso molecular Pol = polimerase RNA = ácido ribonucléico SDS = dodecil sulfato de sódio SFB = soro fetal bovino SHC = soro hiperimune de coelho SRD = sem raça definida SU = proteína de superfície TMB = 3,3’ ,5,5’-tetramethylbenidine TR = transcriptase reversa TM = proteína transmembrana WB = Western – Bloting xv TORRES, J.A. Comparação de um ensaio imunoenzimático para diagnóstico da artriteencefalite caprina (CAE) com outras técnicas sorológicas e PCR. 94 p. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) – Escola de Medicina Veterinária, Universidade Federal da Bahia, 2008. RESUMO O vírus da Artrite-Encefalite Caprina (CAEV), pertence a família Retroviridae e causa uma doença severa e progressiva caracterizada pelas manifestações clinicas de encefalomielite, mastite, pneumonia e artrite. A resposta de anticorpos nos animais é lenta e a soroconversão pode ocorrer vários meses após a infecção. O diagnóstico pode ser baseado na detecção de anticorpos contra o vírus através das técnicas de Imunodifusão em gel de agarose (IDGA) e Enzime liked immunosorbent assay (ELISA). O objetivo desse trabalho foi padronizar um teste imunoenzomático (ELISA) para detecção de anticorpos contra o CAEV, assim como comparar com as técnicas sorológicas como IDGA, Imunofluorescência Indireta (IFI) e Western-Bloting (WB) e com a técnica de detecção do DNA viral Polymerase Chain Reaction (PCR). Para esse trabalho foram coletadas amostras de soro (n=343) e amostras de leite (n=40) de caprinos no Estado da Bahia. A técnica de ELISA indireto detectou 21% (72/343) enquanto a técnica de IDGA detectou 8,75% (30/343) de animais soropositivos para o CAEV. Na técnica de IFI foi mostrado reatividade contra o antígeno viral através de uma forte fluorescência citoplasmática nas células infectadas testadas com soros positivos por ELISA, e na técnica WB foi mostrada reatividade das proteínas virais utilizando soros caprinos. A técnica de PCR foi realizada com amostras de leite soropositivas e soronegativas por ELISA, detectando 26 (65%) das amostras de soro positivas. Os resultados encontrados neste trabalho de comparação das técnicas de IDGA, ELISA, IFI, WB e PCR foram de fundamental importância para determinação da especificidade e sensibilidade do teste ELISA como uma opção de melhor sensibilidade e processamento de um maior número de amostras como prova diagnóstica para o CAEV. Palavras Chave: ELISA, caprinos, diagnóstico, CAEV, IDGA, PCR. xvi TORRES, J.A. Comparação de um ensaio imunoenzimático para diagnóstico da artriteencefalite caprina (CAE) com outras técnicas sorológicas e PCR. Comparison of an enzyme immunoassay for the diagnosis of arthritis encephalitis goats (CAE) with other serological techniques and PCR. Salvador, Bahia 94p. Dissertation (Master’s degree) – Veterinary Medicine School Federal University of Bahia, 2008. SUMMARY The virus of caprine arthritis-encephalitis (CAEV), belongs to the Retroviridae family and cause a severe and gradual illness characterized by the clinical manifestations of encefalomielite, mastitis, pneumonia and artrithis. The reply of antibodies in the animals she is slow and the seroconvertion the infection can occur some months after. The diagnosis can be based on the detention of antibodies against the virus through the techniques of Imunodifusion in agarose gel (IDAG) and Enzime liked immunosorbent assay (ELISA). The objective of this work was performed an imunoenzimatic test (ELISA) for detention of antibodies for the CAEV, as well as comparing with serological techniques IDGA, Indirect Immunofluorescence (IFI) and Westernblot (WB) and with the technique of detention of the viral DNA Polymerase Chain Reaction (PCR). For this work samples of soros (n=343) and milk samples had been collected (n=40). The indirect technique of ELISA detected 21% (72/343) while the IDGA technique detected 8.75% (30/343) of soropositivos animals for the CAEV. In the IFI technique reactivity against the viral antigen through one strong cytoplasmic fluorescence in the tested infection cells with positive soros for ELISA was shown, and in technique WB reactivity of proteins was shown capsizes using soros goat. The PCR technique was carried through with seropositives and seronegatives milk samples for ELISA having detected 26 (65%) positive samples. The results found in this work with the techniques of IDGA, ELISA, IFI, WB and PCR had been of basic importance for determination of the specificity and sensitivity of test ELISA as an option of better sensitivity and processing of a bigger number of samples as diagnostic test for the CAEV. Keywords: ELISA, goats, diagnosis, CAEV, IDGA, PCR. 1 1. INTRODUÇÃO GERAL O vírus da artrite-encefalite caprina (CAEV) pertence à família Retroviridae, gênero Lentivirus. É um patógeno que causa uma doença severa e progressiva em caprinos determinando importantes perdas econômicas decorrentes da morte de animais jovens, diminuição da produção láctea e perda de peso. As manifestações clínicas desta doença são encefalomielite, artrite, pneumonia intersticial e mastite ( PHELPS & SMITH, 1993; CALLADO et al., 2001). A artrite-encefalite caprina (CAE) é uma doença infecciosa específica dos caprinos, caracterizando-se por um longo período de incubação com uma evolução clínica lenta e progressiva (HUSO et al., 1988; FRANKE, 1998). A via mais comum de transmissão do vírus é a ingestão do colostro ou leite de fêmeas infectadas. O vírus também pode ser transmitido por via materno – fetal ou durante o parto, fômites, saliva, urina, fezes e/ou secreções respiratórias (EAST et al., 1993; GUEDES et al., 2001). Os lentivirus de pequenos ruminantes (LVPR) têm sido notificados em diversos países, principalmente onde a ovinocaprinocultura é mais tecnificada (CALLADO, et al., 2001). Programas para o controle e erradicação do vírus precisam de testes diagnósticos sensíveis e específicos. A prova utilizada como referência no diagnóstico da infecção é a imunodifusão em gel de agarose (IDGA). Este teste sorológico é pouco sensível para detectar animais com baixos títulos de anticorpos, facilitando a permanência de animais 2 falso-negativos no rebanho. Além disso, certo número de animais podem apresentar soroconversão tardia ou ainda, reações intermitentes de soropositividade e soronegatividade (EAST et al., 1993; PHELPS & SMITH, 1993; HANSON et al., 1996). Entretanto, a IDGA até o momento é o teste de referência nacional para detecção de animais infectados pela CAE (OIE, 2008). Diante da significativa importância da ovinocaprinocultura, e os potenciais efeitos negativos da infecção pelo CAEV no custo, controle, e restrições comerciais, este trabalho visa avaliar um teste imunoenzimático (ELISA) para diagnóstico da CAE, como uma técnica sorológica alternativa à IDGA. 3 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 VÍRUS DA ARTRITE - ENCEFALITE CAPRINA 2.1.1 CLASSIFICAÇÃO O CAEV pertence à família Retroviridae e ao gênero Lentivirus. Este vírus se caracteriza por causar doenças degenerativas crônicas, com períodos de incubação relativamente longos, persistência e replicação viral na presença de imunidade específica. Neste gênero, encontramos outros vírus de importância para animais domésticos, entre eles o vírus Maedi-Visna de ovinos, o vírus da anemia infecciosa eqüina, o vírus da imunodeficiênica bovina e felina e no homem, o vírus relacionado à síndrome de imunodeficiência adquirida (HIV) (NARAYAN et al., 1980; GOFF, 2006). 2.1.2 CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS Os Lentivírus apresentam-se como vírions envelopados de 80 a 100 nm de diâmetro contendo duas moléculas idênticas de ácido ribonucléico (RNA), um capsídeo de simetria icosaédrica recoberto por um envelope viral, no qual se projetam as glicoproteínas. Apresentam uma grande quantidade de ácido siálico na superfície do vírus, o qual protege a proteína viral da digestão das proteases e de uma rápida neutralização viral por anticorpos (HUSO et al., 1988; GOFF, 2006). 4 Estudos filogenéticos realizados com amostras de Lentivírus de pequenos ruminantes (LVPR) indicam que esses vírus devem ser considerados como quasispécies virais (compartilham características genéticas, morfológicas e patológicas) e que tem a capacidade de infectar tanto ovinos quanto caprinos (PASICK, 1998; LIMA et al., 2004). Pyper et al. (1986), demonstraram que há uma relação genética entre o vírus da MaediVisna, CAEV, e o vírus linfotrópico T humano tipo III – HTLV III (agente etiológico que causa síndrome de deficiência imune), existindo uma correlação nas propriedades biológicas destas viroses humanas e de animais. O genoma dos Retrovírus apresenta alguns aspectos característicos, como: RNA diplóide, um RNA transportador específico, cuja função é de iniciador da replicação, além da capacidade de sintetizar uma enzima exclusiva dos Retrovírus, a transcriptase reversa (TR) que atua como ácido desoxiribonucléico (DNA) polimerase RNA dependente. O gen que compõe o genoma dos Retrovirus são basicamente três: o gene gag que codifica uma poliproteína que é subseqüentemente clivada para formar as proteínas da matriz, do capsídeo e a ligada ao ácido nucléico; gene pol que codifica as enzimas TR e a Integrase (IN); e o gene env que codifica as duas glicoproteínas do envelope viral (glicoproteínas de superfície - SU e transmembranar - TM) (MURPHY et al., 1999; GOFF, 2006). Adicionalmente aos genes gag, env e pol, que são comuns a todos os retrovírus, os vírus pertencentes ao gênero Lentivirus codificam vários outros genes, referidos como gens acessórios. Esses incluem o gene tat, que codifica um potente transativador que associado a fatores da célula infectada aprimora a eficiência da transcrição pela RNA polimerase celular; o gene rev, que codifica a proteína que é envolvida na transcrição do 5 RNA viral e seu transporte do núcleo para o citoplasma, corrigindo RNAm na tradução; o gene nef, que é essencial para replicação do vírus em macrófagos, regula a expressão de CD4 e IL-2 e pode também alterar o estado de ativação de células alvo in vivo; e o gene vif, que esta associado com a infectividade viral (MURPHY et al., 1999). Figura 1. Representação esquemática da estrutura dos Retrovírus. (GOFF, 2006) 2.1.3 CICLO DE REPLICAÇÃO VIRAL O ciclo de replicação do CAEV começa ligando as glicoproteínas de superfície (gp 135) com células receptoras susceptíveis, como as da linhagem monócito/macrofágo. Ligado ao receptor da célula hospedeira, o complexo vírus-receptor é internalizado por fusão resultando na penetração do vírus no citoplasma celular. Em alguns casos foi mostrado que a entrada do vírus pode ser também por endocitose celular (HARKISS & 6 WATT, 1990; HULLINGER et al. 1993; MURPHY, et al., 1999; GOFF, 2006). A disseminação da infecção celular “in vitro” pode também ocorrer via contato célulacélula, através da fusão celular induzida pelo vírus. Embora ambos os mecanismos citados para entrada do vírus na célula possam ocorrer, a transmissão do vírus através da fusão célula – célula tem indicativo de ser mais importante “in vivo” (HARKISS & WATT, 1990; MURPHY, et al., 1999; GOFF, 2006). Em estudos realizados por Zink et al., (1990) foi observado que o CAEV pode passar diretamente de macrófagos infectados produtivos para células não infectadas por fusão celular não sendo necessários receptores virais específicos. A possibilidade de penetração dos lentivírus em células infectadas tanto por endocitose mediada por receptores específicos como também por fusão, pode permitir um tropismo mais amplo de células hospedeiras. Após entrada do vírus no citoplasma da célula, a enzima transcriptase reversa (TR) copia o ácido ribonucléico (RNA) viral sintetizando um ácido desoxiribonucléico (DNA) de fita dupla. O capsídeo é removido e o DNA viral é transportado ao núcleo, onde, enzimas especializadas, inserem, randomicamente, este DNA viral no genoma da célula hospedeira, compondo o “provírus”. Este, uma vez integrado ao DNA celular é estável, e durante a replicação celular é transmitido à progênie como parte do genoma celular (GOFF, 2006). Na forma provírus, o vírus pode permanecer latente por meses ou anos (HARKISS & WATT, 1990). Em condições adequadas à replicação, o DNA proviral é transcrito em RNA genômico viral e RNA mensageiro, este último é traduzido nos ribossomos para a 7 síntese de proteínas virais. O RNA genômico viral e as proteínas estruturais são montadas dentro da célula e a partícula viral recém formada “brota” através da membrana celular. O vírus liberado no fluído extracelular é capaz de infectar outras células para iniciar um novo ciclo viral (HARKISS & WATT, 1990; MURPHY,et al., 1999; GOFF, 2006). Figura 2. Ciclo de replicação dos Retrovirus (GOFF, 2006) Muitos Retrovírus replicam-se apenas em células em divisão, incluindo os do gênero Lentivirus. Esses causam morte celular, formação de sincícios e apoptoses. Diversos mecanismos possíveis existem pelos quais a infecção com Retrovírus pode levar à destruição celular: (1) morte celular mediada pelo sistema imune; (2) toxicidade direta por produtos dos genes virais; (3) replicação intensiva do vírus levando a uma opressão das funções necessárias à sobrevivência celular e (4) os efeitos indiretos dos produtos dos 8 genes virais nas interações celulares necessárias as suas funções e sobrevivência. Entretanto, existem certas condições em que a replicação viral pode acontecer sem uma significativa destruição de células infectadas (MURPHY,et al., 1999). Ravazzolo, et al. (2006) encontraram que os orgãos alvos do CAEV como a glândula mamária, articulações e pulmão são importantes reservatórios do vírus, e que células do leite e da glândula mamária são sítios proeminentes de replicação viral. Essa replicação dos retrovírus é acompanhada por uma alta freqüência de mutação - de 10-4 a 10-5 de progênie viral por ciclo de replicação, o que sugere freqüentes erros pela TR (MURPHY,et al., 1999). 2.1.4 CÉLULAS HOSPEDEIRAS DO VÍRUS As células da linhagem monócito/macrófago são as principais células hospedeiras do CAEV “in vivo”, e é nestas células que o vírus persiste por toda vida do animal. A replicação viral é dependente do nível de maturação/diferenciação da célula monocítica (PHELPS & SMITH, 1993; MURPHY et al., 1999). Os monócitos suportam os estágios iniciais de replicação viral, entretanto, a replicação somente se completa quando as células maturam para macrófagos, e enquanto a montagem do vírion acontece intracelularmente em vacúolos citoplasmáticos, não é visível nenhuma alteração celular Esse fenômeno, conhecido como restrição da replicação, permite ao vírus permanecer nos monócitos por períodos prolongados e indetectável para o sistema imune (GENDELMAN et al., 1986; ZINK et al, 1987; 9 MURPHY et al., 1999). Os macrófagos são a principal fonte do vírus em animais experimental ou naturalmente infectados (NARAYAN et al,. 1982). A susceptibilidade de células epiteliais de diferentes órgãos ao CAEV foi demonstrada tanto “in vitro”, como “in vivo”, determinando um amplo tropismo desse vírus (LAMARA et al., 2001). O RNA viral do CAEV foi detectado em células semelhantes a macrófagos no pulmão, fígado, baço, linfonodos, nas células de revestimento das veias do cérebro e sinoviais, células epiteliais das criptas intestinais, túbulos renais e folículos tireoidianos (ZINK et al, 1990). Também se demonstrou que as células epiteliais da glândula mamária, células da granulosa derivadas dos ovários e células epiteliais do oviduto são susceptíveis a infecção “in vitro” (PHELPS & SMITH, 1993; LAMARA et al., 2001; LAMARA et al., 2002; FIENI et al., 2003) Essas células da granulosa derivadas de ovários podem servir como reservatório durante a fase sub-clínica da infecção (LAMARA et al., 2001). 2.1.5 PATOGENIA Os vírus da família Retroviridae, gênero Lentivírus, caracterizam-se por um longo período de incubação, por isso a denominação de slow vírus (GOFF, 2006). Vários meses podem passar entre a infecção e a detecção de anticorpos para o vírus. Essa variação para produção de anticorpos em cabras naturalmente infectadas ainda não esta bem estudada e não há nenhuma correlação entre sintomas clínicos e padrão de produção de anticorpos (HANSON et al., 1996). Porém, sabe-se que existe uma associação entre carga viral e severidade das lesões causadas pelo CAEV (RAVAZZOLO et al., 2006). 10 O CAEV infecta monócitos e macrófagos, induzindo a infecção persistente, apesar da produção de anticorpos pelo hospedeiro. Como mecanismos de persistência viral propostos, incluem-se a presença do próvirus DNA; replicação viral que aguarda a diferenciação de monócitos em macrófagos nos tecidos; baixa concentração de anticorpos neutralizantes e mutação viral de genes env que ocorre durante o processo de replicação devido à falha da TR em corrigir as novas seqüências nucleotídicas resultando em variabilidade genética e escape ao sistema imune (REILLY et al., 2004). Fatores quimiotáticos produzidos em tecidos inflamados recrutam macrófagos (alguns podem estar carreando o genoma viral) para áreas de inflamação afetadas como cérebro, medula espinhal, glândula mamária e membrana sinovial. Isso aumenta á carga viral em tecidos inflamados (ZINK et al, 1990). Os macrófagos infectados pelo CAEV estimulam de forma anormal os linfócitos, induzindo a uma hiper-proliferação e reatividade linfocitária inespecífica, o que justifica os danos imuno-mediados que caracterizam a evolução das lentiviroses clássicas. No caso da CAE, esses danos vão se localizar nas articulações nos animais adultos e no sistema nervoso central, nos animais jovens (GARCIA, 1993). Segundo Ravazzolo et al. (2006), os LVPR não causam imunodeficiência como as outras lentiviroses, tais como: vírus da imunodeficiência humana (HIV), vírus da imunodeficiência dos macacos (SIV) e vírus da imunodeficiência felina (FIV), pelo fato de infectar principalmente monócitos-macrófagos e não linfócitos. Os nódulos linfáticos são uma importante reserva do CAEV, entretanto, com replicação viral moderada em 11 relação ao que se é relatada para lentiviroses em primatas. Os mais preferidos locais de replicação deste vírus são as glândulas mamárias e células do leite. Além desses, os monócitos infectados ao migrarem do sangue para os pulmões se diferenciam em macrófagos, sendo crucial para replicação viral ocorrer neste órgão. 2.1.6 ASPECTOS CLÍNICOS E PATOLÓGICOS A CAE é uma enfermidade que se caracteriza por uma paralisia ascendente afebril em cabritos, e por sinovite e artrite crônica em animais adultos (GARCIA, 1993). A grande maioria dos animais infectados permanece assintomática (REILLY, et al., 2004), porém dependendo do vírus e de fatores genéticos do hospedeiro, aproximadamente um terço dos animais infectados com os LVPR pode desenvolver sintomas clínicos da doença tais como artrite (que é a manifestação clínica mais importante em caprinos), mastite, pneumonia e mais raramente encefalite (RAVAZZOLO, et al., 2006). A) Forma Artrítica Essa manifestação clínica geralmente acomete cabras adultas, com mais de um ano de idade. A articulação do carpo esta freqüentemente envolvida com os sinais clínicos de distensão da cápsula articular com variáveis níveis de manqueira (PHELPS & SMITH, 1993; FRANKE, 1998). No estágio inicial, a tumefação articular pode ser intermitente e a claudicação mínima (REILLY et al., 2004). Animais com artrite apresentam altos títulos de anticorpos especialmente para epítopos das glicoproteínas do envelope viral (BERTONI et al., 1994). 12 A evolução da doença é variável; alguns animais vão definhando após alguns anos e outros permanecem inalteráveis durante vários anos. Á medida que a doença evolui, os animais tornam-se claudicantes ou se posicionam em decúbito e se debilitam (REILLY et al.,2004). Um agravamento de artrite em cabras ocorre, geralmente, a partir da terceira lactação (FRANKE, 1998). FIGURA 3. Rebanho caprino acometido pela CAE com manifestação clínica de artrite (Jornal A TARDE – Rural – 26/04/1999) B) Forma Mamítica O mecanismo de diminuição na produção de leite induzida pelo CAEV é desconhecido. Mudanças histológicas têm sido detectadas nos úberes de cabras infectadas com o CAEV, sugerindo que podem causar mastite intersticial (SMITH & CUTLIP, 1988). 13 Essa forma clínica caracteriza-se por: a) mamite intersticial, provocando o endurecimento e a atrofia da glândula mamária atingida; b) mamite difusa, que acontece por ocasião do parto que leva ao rápido descarte dos animais em propriedades de leite pela baixa rentabilidade; e c) mamite nodular, que é uma forma crônica, o leite tem aspecto normal, mas tem sua produção progressivamente reduzida e há presença de nódulos na glândula mamária. O leite de cabra infectada não apresenta alterações visíveis, porém podem surgir problemas na sua industrialização, como a formação insuficiente de coalho (FRANKE, 1998). C) Forma Encefálica A forma neurológica da enfermidade acomete cabritos com 1 a 4 meses de idade e, ocasionalmente, adultos. Os sinais clínicos incluem ataxia secundária e paresia que evolui para tetraplegia. À medida que a doença evolui os cabritos tornam-se cegos, apresentam rotação e desvio da cabeça, paralisia facial e opistótono (PHELPS & SMITH, 1993; FRANKE, 1998; REILLY, et al., 2004). D) Forma Respiratória O CAEV causa uma pneumonia intersticial em cabritos e em caprinos adultos infectados. A doença provoca uma pneumonia crônica, perda de peso e dispnéia (REILLY, et al., 2004). Essa pneumonia intersticial pode evoluir para pneumonia broncointersticial, provavelmente pela invasão pulmonar por agentes bacterianos secundários (SERAKIDES et al., 1996). 14 2.1.7 TRANSMISSÃO Estudar a transmissão do vírus é importante para o delineamento eficiente de medidas de controle e possível erradicação. A transmissão dos LVPR ocorre principalmente pela ingestão de colostro e leite de fêmeas infectadas e por via respiratória, mais comum em períodos de confinamento. Porém, o vírus tem se mantido, por anos, em rebanhos submetidos a rígidos programas de controle da CAE. O sêmen para inseminação artificial e a transferência de embrião representam o menor risco para a transmissão dos LVPR (ANDRIOLI, et al, 2006). A doença causada pelo CAEV pode levar vários meses, às vezes anos, para se manifestar. Os animais que estão nessa condição, os portadores saudáveis, representam um importante elo na transmissão da doença, pois aparentemente sadios, estão eliminando vírus e infectando outros animais (GARCIA, 1993). Sendo assim, as cabras infectadas de forma persistente atuam como reservatório e fonte de infecção do CAEV. A transmissão ocorre por meio de secreções ou excreções ricas em células infectadas do sistema monócito-fagocitário, principalmente macrófagos. Estudos iniciais sugeriram que as LVPR eram patógenos específico, MV para ovinos e CAE para caprinos, mas, atualmente, há hipóteses da transmissão natural de ovinos para caprinos e vice-versa em criações conjuntas onde é usado leite de cabra ou lactosoros, na alimentação de ovinos (COSTA, et al., 2007). 15 A) Contato Direto O contato direto entre os animais, bem como toda a forma de contato indireto com os líquidos corporais (principalmente o sangue), também são importantes meios de transmissão do vírus (FRANKE, 1998). Assim, agulhas, tatuadores e aplicadores de brincos, entre outros, podem atuar no contágio da CAE (GARCIA, 1993). A transmissão horizontal se dá eficientemente em locais com alta densidade de caprinos, através de fezes, saliva e urina (EAST et al., 1993; PHELPS, SMITH, 1993). A via aerógena pode ser uma provável rota de infecção para o CAEV já que apresentou imunomarcação positiva em macrófagos alveolares em inoculação experimental por via intranasal (GUEDES et al., 2001). B) Leite A via mais comum de transmissão do CAEV é a ingestão de monócitos/macrófagos infectados presentes no leite ou colostro de animais com a CAE (FRANKE, 1998; MASSELLI-LAKHAL et al., 1999; REILLY et al., 2004). Através de pesquisas foi demonstrado que somente uma exposição oral do vírus no leite contendo 2 x 107 DICT50/ml resultou na infecção dos animais. A transmissão do vírus através da ordenha mecânica também tem sido demonstrada sugerindo que as máquinas utilizadas para ordenhar os animais podem servir como reservatório de leite contaminado, e um possível mecanismo de abrigar o vírus na glândula mamária. A infecção experimental 16 através de uma infusão mamária de 2 x 107 DICT50/ml do CAEV resultou na soroconversão de 100% das fêmeas soronegativas (EAST et al., 1993). A inoculação intra-mamária de células halogênicas infectadas com o CAEV em qualquer período do ciclo de lactação conduz a infecção generalizada. As células infectadas são detectadas mais rapidamente no leite de cabras infectadas, antes mesmo do aparecimento de anticorpos específicos (LERONDELLE, et al. 1995). C) Transmissão Vertical A transmissão vertical da CAE, não é completamente compreendida. A infecção da fêmea positiva para o embrião ou feto necessita ser investigada. Estudos demonstraram que cabritos, filhos de mães soropositivas nascidos através de cesárea tornaram-se soropositivos apesar de separados, e de não ingerir o colostro. A cirurgia eliminou a possibilidade de transmissão durante a passagem do cabrito no canal do parto e o contato com secreções maternas, sugerindo assim que a transmissão do vírus pode ter sido transplacentária (ADAMS et al., 1983). Em um estudo realizado por Fieni et al. (2003), foi demonstrado que a presença de células infectadas pelo CAEV no útero e oviduto sugerem uma potencial forma de transmissão vertical para o embrião ou feto. Porém sabe-se que, a placenta cotiledonária das fêmeas caprinas não permite o contato do feto com o sangue materno, mas pode existir uma transferência de células durante um processo inflamatório local, o qual pode acontecer durante a infecção viral. Blacklaws et al. (2004) afirmam que a infecção 17 transplacentária pode ocorrer em torno de 5-10% e que tem uma contribuição relativa na transmissão da enfermidade. D) Transmissão Sexual A detecção do CAEV no sêmen de células livres como em células infectadas, sugerem a possibilidade de transmissão sexual. Essa observação sugere a preocupação com a reprodução natural e assistida com sêmen de machos soropositivos (TRAVASSOS et al., 1999; PINHEIRO et al., 2001). O sêmen de animais infectados pode abrigar o vírus, porém não há transmissão demonstrada por essa rota. Não existe nenhum estudo sobre a transmissão do vírus das fêmeas para os machos (BLACKLAWS et al. 2004). Andrioli et al., (2006) observaram que a transmissão de LVPR pelo sêmen de reprodutores é potencializada pela presença de inflamações testiculares e pelo fato do sêmen criopreservado conter o lentivírus caprino (LVC) na forma infectante. A comprovação da presença do lentivírus no sêmen reforça a possibilidade de transmissão de LVC pela via sexual. 2.1.8 ASPECTOS IMUNOLÓGICOS 2.1.8.1 Resposta imune de células B e Imunopatologia A resposta de anticorpos contra o CAEV em animais infectados é direcionada para várias proteínas virais e em particular para as glicoproteínas do envelope (KNOWLES et 18 al., 1990). Esse reconhecimento do sistema imune pelos epítopos na superfície dos patógenos fornece ao hospedeiro a chave para o início da eliminação microbiana (FINLAY & McFADDEN, 2006). A resposta de anticorpos contra as glicoproteínas do envelope esta associada com artrite severa, já que os anticorpos geram mecanismos imunopatológicos que contribuem à doença induzida pelo vírus (KNOWLES et al., 1990). A velocidade de soroconversão em animais naturalmente infectados pode abranger uma ampla gama de algumas semanas a vários meses, portanto às vezes se torna difícil o sorodiagnóstico dessas infecções (RIMSTAD et al, 1993). Huso et al. (1988) mostraram que a superfície externa das partículas infecciosas do CAEV recoberta com ácido siálico confere um notável grau de resistência para neutralização por anticorpos facilitando o escape viral à resposta imune humoral. O papel dos anticorpos no controle de infecções por LVPR é controverso (Mc GUIRE et al., 1988). Variantes de escape do CAEV resistentes à neutralização têm sido detectadas em cabras infectadas, sugerindo que os anticorpos impõem uma forte pressão seletiva no vírus (ELLIS et al., 1987; CHEVEERS et al., 1993). A recorrente estimulação antigênica causada pelo aparecimento de variantes resistentes a neutralização mostrou estar associado à severidade dos sintomas clínicos nas articulações (CHEVEERS et al., 1991; BERTONI, 2007). Em uma investigação feita por Ellis (1990) com cabras clinicamente afetadas com CAE não foi encontrada associação aparente entre os níveis de anticorpos e a proporção 19 de leucócitos do sangue periférico (PLB) infectados, indicando que a resposta imune não é importante na regulação da infecção persistente. 2.1.8.2 Resposta imune de células T e Imunopatologia A resposta imune celular contra o CAEV conduz à infiltração mononuclear de vários tecidos do organismo, em particular para articulação do joelho (LECHNER et al.,1997). Na infecção pelo CAEV o número de monócitos é reduzido (JOLLY, et al., 1997) e a qualidade da resposta de células T helper pode ser afetada (PERRY, et al., 1995). A resposta celular T CD4 tipo 2 (Th2) para antígeno env é caracterizada por uma resposta interleucina 4 (IL4) dominante e uma reduzida expressão de interferon gama (IFNγ) segundo o descrito em cabras infectadas que tiverem o desenvolvimento do processo de artrite clínica. Inversamente, animais infectados e assintomáticos, mostraram uma forte resposta IFNγ sobre estimulação antigênica env, demonstrando o efeito benéfico da resposta de linfócitos T helper 1 (Th1) no controle da carga viral (CHEEVERS et al., 1997). Células T CD8 + têm sido detectadas em cabras e ovelhas infectadas e são consideradas importantes para o sucesso no controle da carga viral de animais persistentemente infectados (LICHTENSTEINGER et al., 1993; BIRD et al., 1993; BLACKLAWS et al., 1994; BLACKLAWS et al., 1995). Da mesma forma, foi observado que em indivíduos infectados com HIV1 referidos como controladores de HIV (HIC), o controle da replicação viral tem sido associado com uma resposta de célula T CD8 específica, caracterizada por um fenótipo HLA – DR alto e CD – 38 baixo. Os 20 indivíduos HIC têm alta freqüência de células T CD8 específicas para HIV secretando IFNγ ( SÁEZ-CIRON et al, 2007). LECHNER et al. (1997) concluíram que na infecção pelo CAEV, macrófagos infectados respondem diferentemente de células não infectadas para estímulos exógenos, sugerindo que esse vírus pode modular as funções acessórias desses macrófagos, como mudar o padrão de expressão de citocinas ou a resposta imune antiviral in vivo. 2.1.9 DIAGNÓSTICO 2.1.9.1 Clínico Devido ao quadro clínico variável e o constante desenvolvimento sub-clínico da doença, não se recomenda o diagnóstico clínico como suficiente para sustentar um diagnóstico definitivo da CAE. Além disso, o manejo extensivo ou semi-extensivo possivelmente contribui para redução na incidência de alterações detectáveis ao exame clínico geral (COSTA, et al., 2007). A manifestação clínica mais freqüente é a artrite, atingindo principalmente a articulação carpo-metacarpiana (joelho) e por isso foi proposto o desenvolvimento de um índice clínico. O cálculo deste índice consiste na diferenciação entre a medida da circunferência do “joelho mais grosso” e da “canela mais fina” (metacarpo). Quando o resultado dessa medida é igual ou superior a 7 cm, considera-se como artrite positiva (FRANKE, 1998). Entretanto a artrite pode ser causada por outros agentes infecciosos 21 como por exemplo, o Mycoplasma e fatores nutricionais e/ou traumáticos (GARCIA, 1993; FRANKE, 1998). 2.1.9.2 Laboratorial A) Detecção Sorológica O diagnóstico sorológico visa detectar a presença de anticorpos em animais infectados, entretanto, a avaliação sorológica deve ser feita com cautela já que um resultado negativo pode ser um falso negativo, pela possibilidade de soroconversão tardia ou baixas concentrações de anticorpos no sangue (FRANKE, 1998). No diagnóstico sorológico da infecção para LV, deve-se considerar a existência da “janela imunológica” (período entre a infecção e soroconversão) e a possibilidade de sororeação intermitente (HANSON et al., 1996). 1) Imunodifusão em gel de agarose (IDGA) O teste sorológico mais empregado e oficialmente reconhecido em vários países para o CAEV, inclusive no Brasil é a IDGA ((FRANKE, 1998). Este teste baseia-se na difusão do antígeno e anticorpo no gel de agarose, onde a reação antígeno-anticorpo é visível a olho nu pela formação de uma linha de precipitação no gel. 22 Para Abreu et al. (1998), na prova de diagnóstico para o CAEV, o antígeno recomendável é a glicoproteína (gp 135) e nucleoproteína viral (p28). Pode também ser utilizado o antígeno do vírus Maedi-Visna (MVV) (um Lentivírus de morfologia e bioquímica similar ao CAEV). Na prática são utilizados os antígenos virais de MVV e de CAEV (KNOWELES et al., 1994), já que na reação antigênica cruzada entre os isolados do CAEV e MVV existe envolvimento das principais proteínas e glicoproteínas associadas ao vírion. Sendo assim, os antígenos de MVV que alcançam altos títulos in vitro podem então ser utilizados para detectar anticorpos específicos para LVPR tanto em ovinos como em caprinos (REISCHAK et al., 2002). 2) Técnica Imunoenzimática - Enzime-linked immunsorbent assay (ELISA) Na atualidade existem vários tipos de ensaios imunoenzimáticos desenvolvidos para pesquisa de anticorpos contra o CAEV utilizando diferentes antígenos, entre eles está: 1) núcleoproteína do capsídeo p28 e proteína de transmembrana viral p40 do CAEV (CLAVIJO & THORSEN, 1995); 2) combinação da maior proteína do capsídeo p25 de MVV e um peptídeo derivado de região imunodominante da proteína de transmembrana viral a gp46 (SAMAN et al., 1999); 3) antígeno protéico total do CAEV (SIMARD et al., 2001); 4) proteínas recombinantes internas e de transmembrana como p17 e p18 (BABA et al., 2000), 5) como também glicoproteínas de superfície (SU) (HERRMANN et al., 2003 a; HERRMANN et al., 2003 b). Foi relatado por Wojciech & Michal (2001), que a aplicação de testes sorológicos como ELISA e métodos de biologia molecular dão um resultado seguro ao diagnóstico da 23 CAE. A combinação de ELISA e PCR parece ser uma boa opção diagnóstica, pois o PCR parece ser capaz de identificar animais infectados antes da fase de soroconversão, mas na infecção pós-fase de soroconversão é geralmente menos sensível que as técnicas de ELISA, devido à baixa carga viral nesta fase ou também pela falha da PCR de detectar todas as variedades de LVPR (ANDRÉS et al.; 2005; LACERENZA et al., 2006). Após infecção experimental, o teste ELISA pode detectar soroconversão em um estágio precoce comparado ao teste IDGA (SAMAN et al., 1999). A técnica de ELISA se baseia no uso de antígeno, anticorpos e de antiimunoglobulinas marcadas com uma enzima, apresentando tanto atividade imunológica quanto enzimática. Existem vários tipos de ELISA que podem ser aplicados com técnica diagnostica que são: ELISA direto, ELISA indireto, ELISA sanduíche e o ELISA competitivo. Esta é uma técnica de grande sensibilidade, especificidade e uso de rotina, permitindo o processamento e automação de um grande número de amostras em menor tempo. Destaca-se ainda como ferramenta indispensável em levantamentos epidemiológicos e no diagnóstico sorológico de várias infecções virais (HECKERT et al., 1992) Apresenta como desvantagem a possibilidade de resultados falsos positivos, podendo ainda estes serem minimizados pela utilização de reagentes imunológicos mais sensíveis, como os anticorpos monoclonais. (SOUZA, et al., 1999). 3) Outras provas sorológicas - Western-Blot (WB) e Imunofluorescência Indireta (IFI) Para verificar a presença de anticorpos contra as principais proteínas virais, tem-se recomendado à técnica de WB (HARKISS, WATT, 1990). Essa técnica é uma ferramenta 24 de êxito que para sua execução é necessário a prévia separação das proteínas virais por eletroforese em gel de poliacrilamida sulfato dodecil de sódio (SDS), e em seguida transferência para uma membrana sob ação de corrente eletroforética (MADRUGA et al., 2001; KURIEN & SCOFIELD, 2003). Simard et al. (2001), usando a técnica WB e soro policlonal de cabras infectadas com o CAEV, detectou pelo menos três grandes proteínas virais imunogênicas com antígeno precipitado com polietilenoglicol (PEG), representando provavelmente a proteína do envelope trans-membrana (40 kDa), a proteína do capsídeo (28 kDa) e outra proteína viral menor (p15). Outro teste sorológico desenvolvido foi o da IFI, que em condições experimentais tem apresentado potencial como teste alternativo e complementar ao diagnóstico da CAE, além de recomendado pela OIE no diagnóstico da infecção (REISCHAH et al., 2002). Os ensaios de IFI consistem em tornar visível a reação antígeno/anticorpo por meio de uma anti-imunoglobulina marcada com fluorocromos (MADRUGA, et al., 2001). Em resultados obtidos com outro LV, o HIV, foi evidenciado que a técnica de IFI para o diagnóstico sorológico da infecção oferece sensibilidade e especificidade equivalentes ao teste WB, sendo superior a este no que diz respeito a facilidade realização, rapidez e custo. Porém, apesar de sua vasta utilização na pesquisa de anticorpos para diversos agentes virais, são escassos os registros de emprego da IFI em estudos com LV animais (REISCHAH et al., 2002). 25 B) Detecção do vírus ou componentes virais 1) Isolamento viral em cultivos de células O isolamento viral a partir de células do sangue e tecidos do organismo se torna uma alternativa para o diagnóstico dos Lentivírus. Para o isolamento do CAEV, obtêm-se células mononucleares do sangue periférico. Os monócitos infectados são então cocultivados em células susceptíveis, como as da membrana sinovial caprina (MSC), a fim de obter a infecção “in-vitro”. O vírus infecta as células da MSC, que tipicamente formam abundantes estruturas sinciciais (15 dias após a infecção). Este efeito citopático, entretanto, não é especifico para os LV, e pode ocorrer em vários outros vírus (TIGRE et al., 2002). O isolamento do vírus em cultivos celulares é uma técnica diagnóstica sensível e demonstra a presença do vírus. Entretanto, é um diagnóstico demorado e, bastante dispendioso, por isso não é indicado para diagnóstico de rotina (OIE, 2008). Apesar de dispor de uma linhagem de células permissíveis à infecção, como as TIGEF (TEIXEIRA et al., 1997), estas são menos susceptíveis a infecção viral que o cultivo primário de MSC. 2) Detecção do ácido nucléico viral A detecção do ácido nucléico do CAEV baseia-se na detecção do vírus como provírus (DNA proviral) integrado ao genoma celular ou como vírus livre (RNA). A metodologia utilizada é a técnica de biologia molecular baseada na reação em cadeia de 26 polimerase (PCR) que é uma importante ferramenta para o diagnóstico de outras infecções virais (HARKISS & WATT, 1990; TIGRE et al., 2002). A PCR é um método diagnóstico que combina sensibilidade e especificidade, capaz de identificar animais em estágios recentes da infecção ou que ainda não soroconverteram (TIGRE et al., 2002; REILLY et al., 2004). A especificidade da PCR é importante desde que caprinos podem ser infectados com outros LV antigenicamente realcionados como o MVV. Esta técnica é capaz de detectar animais infectados que ainda não soroconverteram. Tigre et al. (2002), utilizando a técnica de PCR com células mononucleares do sangue periférico (CMSP) e células do leite detectaram em animais soronegativos a presença de DNA viral, sugerindo que o tempo entre o início da infecção e o aparecimento de sintomas é variável Este estudo também foi o primeiro isolamento do CAEV na Bahia. A técnica pode ser aplicada com sucesso ao diagnóstico da infecção pelo CAEV principalmente, devido as características da infecção viral, resolvendo o problema da permanência de animais falso-negativos no rebanho em decorrência de baixos títulos de anticorpos , reações intermitentes de soropositividade e soroconversão tardia (PHELPS & SMITH, 1993; CLAVIJO & THORSEN, 1995; EAST et al., 1993; HANSON et al., 1996). Em comparação ao isolamento viral, Andrioli et al. (2006) mostraram que a PCR foi superior na identificação de animais positivos. 27 A PCR é um método rápido, sensível e específico que detecta seqüências específicas do ácido nucléico viral, apesar de que o êxito na amplificação, provavelmente depende da quantidade de células infectadas. Esta técnica tem como desvantagem, não ser plausível de usar como rotina diagnóstica, para um grande número de amostras devido ao alto custo de equipamentos e reagentes (HARKISS & WATT, 1990; CLAVIJO & THORSEN, 1995). 2.1.10 SITUAÇÃO NO BRASIL Os LVPR encontram-se difundidos mundialmente, sendo mais prevalentes em países europeus (França, Suíça, Alemanha, Holanda, Inglaterra) e da América do Norte (Estados Unidos e Canadá) com sistemas intensivos de produção caprina e ovina (ROWE & EAST, 1997; CONCHA – BERMEJILLO, 1997). Até o desenvolvimento da caprinocultura leiteira nacional, quadros clínicos sugestivos de CAE não haviam sido descritos no Brasil. A importação de caprinos por diversos estados seguido da movimentação interna entre os mesmos pode ter servido como vias de contaminação dos plantéis. No Brasil, a infecção por LV em caprinos tem sido relatada em diversos rebanhos, sendo primeiramente detectada no Rio Grande do Sul em 1986 (MOOJEN et al., 1986). Entretanto, em um inquérito sorológico realizado no Rio de Janeiro, o CAEV já estava presente no país desde 1982 (CUNHA & NASCIMENTO, 1995). 28 Em 1989 foi descrito o primeiro isolamento do vírus no Brasil, que ocorreu no Rio Grande do Sul, a partir de MSC de um animal clinicamente e sorologicamente positivo à infecção por LVPR (HOTZEL et al., 1993). TIGRE et al. (2002) descreveram o primeiro isolamento viral do estado da Bahia, realizado através do cultivo de macrófagos e cultivos primários de células de membrana sinovial. A presença de animais sorologicamente positivos para o CAEV foi também relatada em diversos estados brasileiros, como na Bahia (FITTERMAN, 1988; ASSIS & GOUVEIA, 1994; ALMEIDA et al. 2001; EDELWEIS et al., 2001), São Paulo (GARCIA et al., 1992), Pernambuco (SARAIVA NETO et al.,1995), Minas Gerais (ASSIS & GOUVEIA, 1994), Ceará (ASSIS & GOUVEIA, 1994; PINHEIRO et al., 2001) e outros estados. A ausência de dados sobre a ocorrência do CAEV tem limitado a implantação de medidas profiláticas importantes para desenvolver um plano de controle desta doença já instalada nos rebanhos caprinos brasileiros (PINHEIRO et al., 2001). Por enquanto o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, através do Programa Nacional de Sanidade de Caprinos e Ovinos (PNSCO), está atuando no controle e erradicação do CAEV, estabelecendo no artigo 24, o uso da Imunodifusão em Gel de Agarose (IDGA) como teste de rotina para o diagnóstico da Artrite Encefalite Caprina. 30 3. ARTIGO CIENTÍFICO I Comparação de um ensaio imunoenzimático para diagnóstico da artrite-encefalite caprina (CAE) com outras técnicas sorológicas e PCR. Comparison of an enzyme immunoassay for the diagnosis of arthritis encephalitis goats (CAE) with other serological techniques and PCR. 1 TORRES, Julianna Alves; 2SARDI, Sílvia Inês; 3 CAMPOS, Gúbio Soares; 4 BRANDÃO, Camila Fonseca Lopes; 5 FREITAS, Michael Menezes. 1 2 Aluna de pós-graduação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos – UFBA); Prof(a). Dr(a). Escola de Medicina Veterinária – UFBA; 3 Professor Dr.- Instituto de Ciências da Saúde - UFBA; 4 Aluna de pós-graduação (Mestrado em Imunologia UFBA); 5 Aluno de pós-graduação (Mestrado em Imunologia - UFBA). E-mail: [email protected] RESUMO O vírus da Artrite-encefalite caprina (CAEV) é um Retrovírus classificado como Lentivírus, que causa uma doença severa e progressiva caracterizada por manifestações clínicas como encefalomielite, mastite, pneumonia e artrite. A resposta imune humoral é lenta e a soroconversão pode ocorrer vários meses após a infecção. O diagnóstico é baseado na detecção de anticorpos contra o vírus através da Imunodifusão em Gel de Agarose (IDGA), técnica sorológica de referência para CAEV. O objetivo deste trabalho foi padronizar um teste imunoenzimático (ELISA) para detecção de anticorpos para o CAEV. O ELISA foi comparado a outras técnicas sorológicas como IDGA, Imunofluorescência Indireta (IFI) e Western – Bloting (WB). Amostras de soros (n=343) de caprinos saudáveis entre 1 e 4 anos foram submetidas às técnicas de ELISA, IDGA, IFI e WB, e para detecção do provirus DNA de CAEV, amostras de leite (n=40) desses animais foram submetidas à reação em cadeia de polimerase (PCR). O ELISA mostrou alta sensibilidade, detectando 21% (72/343) de animais positivos, enquanto a técnica IDGA detectou somente 8,75% (30/343) de animais positivos para infecção pelo CAEV. IFI e WB mostraram boa correlação com a técnica ELISA, e o PCR detectou o provirus em amostras de leite de caprinos soropositivos pelo teste ELISA. Os resultados deste trabalho sugerem que o teste ELISA padronizado poderia ser uma ferramenta útil na detecção precoce da infecção pelo CAEV com maior sensibilidade que o teste IDGA. Palavras-Chave: Diagnóstico, caprinos, CAEV, ELISA, PCR 31 SUMMARY Caprine Arthritis-Encephalitis virus (CAEV) is a Retrovírus classified as a lentivirus, cause severe and chronicle illness characterized by clinical manifestations of encephalomyelitis, mastitis, pneumonia and arthritis. The humoral response in animals is slow and the seroconvertion can be several months after the infection. The diagnosis is based on the detection of antibodies against the virus by Immunodifusion in agarose gel (IDAG) a serological reference technique for CAEV. The objective of this work was performed an enzymatic linked immunosorbent assay (ELISA) test to detect antibodies against CAEV. The ELISA test was compared to others serological techniques IDAG, Indirect Immunofluorescence (IFI) and Western-blot (WB). Serum samples (n=343) from healthy goats between 1 and 4 years old were submitted to ELISA, IDAG, IFI and WB techniques and Polymerase Chain Reaction (PCR) these animals were submitted in order to detect DNA CAEV provirus, milk samples (n=40). The ELISA show a high sensivity detecting 21% (72/343) of positives animals meanwhile IDGA technique detected only 8.75% (30/343) positives animals to CAEV infection. IFI and WB showed good correlation with ELISA technique and PCR detected the provirus in the milk samples from seropositives goats by ELISA test. The results of this work suggest that the ELISA test performed here could be a helpful tool to detect animals in the early period of CAEV infection with higher sensivity than IDAG test. Keywords: CAEV; Diagnosis; ELISA; Goats, PCR 32 3.1. INTRODUÇÃO A Artrite-encefalite Caprina (CAE) é uma doença progressiva e debilitante, causada por um vírus da família Retroviridae, gênero Lentivírus, com distribuição mundial que acomete primariamente caprinos. Este vírus causa artrite progressiva crônica, mastite, pneumonia intersticial em caprinos adultos e encefalomielite em caprinos jovens (CALLADO et al., 2001; GOFF, 2006). A transmissão do vírus ocorre principalmente através da ingestão de colostro e leite (TRAVASSOS et al., 1999) e o aparecimento dos sinais clínicos nos animais infectados leva meses até alguns anos, persistindo o vírus no organismo pela vida inteira. Além disso, certo número de animais pode apresentar soroconversão tardia ou ainda, reações intermitentes de soropostividade e soronegatividade (EAST, et al., 1993; HANSON, et al., 1996). A detecção precoce destes animais infectados e sua segregação e/ou erradicação do rebanho é a prática mais eficiente para limitar a disseminação do vírus. A prova utilizada como referência no diagnóstico da infecção é a Imunodifusão em Gel de Agarose (IDGA). Este é um teste sorológico que detecta anticorpos para CAEV, mas é pouco sensível para animais com baixo título de anticorpos, o que facilita a permanência de falso-negativos nos rebanhos. Por isto, testes sorológicos mais sensíveis devem ser utilizados, entre eles o enzyme linked immunosorbent assay (ELISA). Outras técnicas sorológicas que apresentam potencial como testes alternativos e complementares ao diagnóstico do CAEV são as técnicas de Western-blot (WB) e Imunofluorescência indireta (IFI). 33 Tendo em vista a importância da caprinocultura na economia da região nordeste e a ação desta enfermidade nos rebanhos caprinos, este trabalho teve como objetivo padronizar uma técnica imunoenzimática - enzime linked immunosorbent assay (ELISA) para detecção de anticorpos contra o CAEV e comparar este teste com outras técnicas para detecção de anticorpos como IDGA (técnica de referência nacional para CAEV), WB, IFI. 34 3.2. MATERIAIS E MÉTODOS 1. CULTIVO CELULAR DE MEMBRANA SINOVIAL DE CABRA (MSC) Os cultivos de membrana sinovial, utilizados para replicação viral, foram obtidos a partir do explante das membranas sinoviais da articulação intercarpial de ambos os membros anteriores de cabritos, recém nascidos, negativos para CAEV pelo teste de PCR. A técnica utilizada para obtenção dos cultivos primários seguiu o protocolo anteriormente descrito por Abreu et al. (1998). Após a remoção dos tecidos periarticulares, as cavidades articulares foram abertas, e as membranas sinoviais delicadamente dissecadas, umedecidas com Meio Essencial Mínimo – Glasgow (MEMG) e seccionadas em fragmentos de aproximadamente 1,0 mm os quais foram distribuídos em garrafas para o cultivo de células (25 cm³) e incubadas a 37 ºC. Após 30 minutos, foram adicionados 2,0 ml de MEM-G suplementado com 10% de soro fetal bovino (SFB) inativado (GIBCO BRL) 100 UI penicilina G sódica, 100 µg/ml sulfato de estreptomicina e 0,25 µg/ml de anfotericina B (FUNGIZONE-GIBCO BRL). Após 15 a 20 dias de incubação, os explantes e as monocamadas foram tripsinizadas (Tripsina 1:250 GIBCO) e subcultivadas para a obtenção de monocamadas celulares. 35 2. VÍRUS O CAEV utilizado foi a cepa DECENTE (isolamento de campo – TIGRE et al., 2002). Para a replicação viral foram utilizados cultivos de MSC mantendo a monocamanda infectada incubada a 37 ºC com MEM-G e 2% de SFB até o aparecimento do efeito viral (7 – 15 dias). Os cultivos de MSC infectados foram congelados/descongelados e centrifugados a 10000rpm durante 30 minutos, 4ºC. Após esta centrifugação o sobrenadante viral assim obtido, foi adicionado polietilenoglicol 8000 (PEG 8000, Sigma) 8% (p/v) e cloreto de sódio a 2,3% (NaCl, Sigma), para concentração e ultracentrifugação do vírus segundo citado por Fontes et al, (2005). O pellet obtido foi ressuspenso em uma solução NET (1% do volume inicial) e congelado a -70 ºC até seu uso. 3. OBTENÇÃO DE SORO HIPERIMUNE DE COELHO (SHC) Para a produção de soro hiperimune para o CAEV, imunizou-se coelhos New Zeland adultos. O vírus concentrado e ultracentrifugado foi inoculado em quatro doses de 50µg a cada 20 dias, emulsificado com 500µl de adjuvante completo de Freund (Sigma) na primeira imunização (inoculação intramuscular) e nas subseqüentes com adjuvante incompleto de Freund (Sigma) (inoculação subcutânea). Para diminuir reações inespecíficas foi realizada a imunoadsorção do soro hiperimune com células de MSC ( pellet celular) a 4ºC por toda a noite, centrifugando a 3000 rpm por 10 minutos. Esse procedimento foi repetido 3 vezes, coletando-se apenas o sobrenadante. 36 3.1. Caracterização do Soro Hiperimune de Coelho A) Eletrotransferência das Proteínas Virais: WESTERN - BLOT A reatividade do soro hiperimune de coelho contra as proteínas virais do CAEV foi determinada através de Western-blot. Inicialmente as amostras de MSC infectadas e sem infectadas (17,5 µg de proteína/poço) foram diluídas em tampão denaturante Laemmli (glicerol 20%; SDS 4%; 10% 2-mercaptoetanol; 0,125M Tris HCl; azul de bromofenol 0,004%; pH 6,8) e levadas a 100°C durante 3 minutos em banho-maria. A corrida eletroforética das proteínas virais se realizou durante 2,5 horas a 100 volts em gel de poliacrilamida (SDS - PAGE) 10%. Em seguida as proteínas foram eletrotransferidas a uma membrana de nitrocelulose segundo o método de Burnett (1981), utilizando uma cuba de transferência com buffer Glicina 192 mM, Tris 25 mM e Metanol 20%, a 100 volts durante 1 hora.A verificação da eletrotransferência se realizou com a técnica de coloração de vermelho de Ponceau 10%. Tiras de membrana de nitrocelulose foram bloqueadas para evitar sítios livres de reação com uma solução de leite em pó desnatado 5% em solução tamponada com fosfato (PBS – 137mM NaCl; 10mM fosfato; 2,7mM KCl; pH 7,4) (PBS-L) durante 1:30 hora a temperatura ambiente. Posteriormente, as tiras de MSC infectadas e não infectadas (controle) foram enfrentadas, individualmente, com soro hiperimune de coelho (diluído 1:50). Após incubação durante 1 hora a 37°C, as tiras foram lavadas 3 37 vezes com uma solução de PBS-Tween 20 (PBS-T 0,05%) e incubadas novamente, durante 1 hora a 37°C, com um anticorpo anti-IgG de coelho marcado com Peroxidase (Sigma), diluído 1:500 em solução de PBS-L. Em seguida, foram feitas outras 3 lavagens com PBS-T 0,05%. A revelação foi feita com uma solução com o substrato 3’3’ Diaminobenzidine (DAB) (10mg/10ml PBS) na presença de peróxido de hidrogênio (10µl). A reação foi interrompida com sucessivas lavagens com água destilada. B) Imunofluorescência Indireta (IFI) Culturas de células de MSC foram cultivadas em tubos com lamínulas de vidro e após 24 horas infectadas com o CAEV. Posterior às 72 horas da infecção, as lamínulas com células infectadas foram fixadas em acetona –20 º C e utilizadas para a técnica de Imunofluorescência indireta. Esta técnica consistiu em incubar estas lamínulas com o soro hiperimune de coelho (1:50) em câmara úmida durante 1 hora a 37 ºC. Posteriormente foram lavadas 3 vezes com solução PBS, cada lavagem de 10 minutos, e enfrentadas com imunoglobulina anti-IgG de coelho FITC (Sigma) 1:50 e incubadas a 37ºC por 1 hora. O procedimento de lavagem foi repetido e em seguida as lamínulas foram lavadas com uma solução de Evans (0,1%) durante 3 minutos e montadas em lâminas com glicerina diluída 50% em solução de PBS e observadas no microscópio de fluorescência para visualizar a presença de células com uma coloração verde fluorescente (reação positiva). 38 4. DESENHO EXPERIMENTAL A) Animais Na realização destes experimentos foram utilizados caprinos (n=343), machos e fêmeas, como idade entre 1 e 4 anos, das raças Anglonubiana, Saanen, Pardo-alpino e sem raça definida (SRD), sem antecedentes da doença e aparentemente saudáveis. Destes animais coletaram-se amostras de soro e leite. Estes animais provinham de quatorze (14) propriedades, situadas nos municípios de Camaçari, Bomfim de Feira, Feira de Santana, Guanambi, Central, Ipirá, Baixa Grande e Itaberaba, do estado da Bahia (Tabela 1). Município Quantidade de animais Município Quantidade de animais Camaçari 14 animais Guanambi 25 animais Camaçari 2 8 animais Central 1 4 animais Bonfim de Feira 31 animais Central 2 8 animais Feira de Santana 1 21 animais Ipirá 1 21 animais Feira de Santana 2 20 animais Ipirá 2 20 animais Feira de Santana 3 30 animais Baixa Grande 98 animais Feira de Santana 4 31 animais Itaberaba 12 animais TOTAL 155 animais TOTAL 188 animais Tabela 1. Municípios do Estado da Bahia onde foram coletadas amostras de sangue e leite de 14 propriedades de criação de caprinos 39 B) Colheita de Amostras 1) Soro Foram coletadas amostras de sangue por punção da veia jugular para obtenção de soro (n = 343). Posteriormente cada soro foi centrifugado a 2000 rpm durante 5 minutos, e transferido para um tubo tipo eppendorff para ser congelado (-20 ºC) até o momento do seu uso. Estes soros foram submetidos às técnicas de referência de IDGA, ELISA indireto, IFI e WB para determinação de anticorpos para CAEV. 2). Leite Foram coletadas amostras de leite de fêmeas (n=40) soropositivas e soronegativas pela técnica IDGA. O volume coletado (30 ml) de cada amostra de leite foi conservado em frascos estéreis a 4ºC até o processamento para posterior extração do DNA viral. Esta colheita foi realizada por ordenha manual. 5. DETECÇÃO DE ANTICORPOS PARA O CAEV 40 5.1 ELISA indireto A) Produção de Antígeno Viral Após a infecção das células de MSC em garrafas tipo ROUX e o aparecimento do efeito citopático, os cultivos foram congelados (-20 ºC) (rompimento celular e liberação do vírus). Em seguida, esses cultivos foram descongelados e o material foi centrifugado a 10000 rpm durante 30 minutos. Após a centrifugação, o sobrenadante foi coletado para novas infecções e o pellet de células infectadas foi ressuspenso em solução PBS (proporção de 1:10 do volume inicial) para ser utilizado como antígeno viral. O mesmo procedimento foi realizado para MSC sem infectar. B) Antígeno Viral 1. Tratamento do Antígeno Viral com Dodecil sulfato de Sódio (SDS) O antígeno viral foi tratado com dodecil sulfato de sodio (SDS) a uma concentração final de 0,1% (v/v) de SDS. Após 10 minutos com tratamento de SDS e homogeneizações frequentes, o material foi centrifugado por 15 minutos a 10000 g e o sobrenadante resultante utilizado como antígeno viral para o teste ELISA . 41 2. Titulação do Antígeno Viral Para determinar a diluição de uso do antígeno viral, uma placa de poliestireno de 96 poços (NUNC-MAXISORP TM) foi sensibilizada com diluições seriadas deste antigeno em tampão carbonato-bicarbonato (Na2CO3 1,7g/l, NaHCO3 2,86g/l) 0,05M pH 9,6. A placa sensibilizada foi incubada a 4ºC toda a noite. Passado esse período, os poços foram lavados 5 vezes com uma solução de PBS-T 0,05%, e incubados novamente, durante 1 hora e 30 min. a 37°C, com solução de PBS leite (PBS-L) para fazer o bloqueio de sítios livres reativos. Em seguida, foram adicionados aos poços soro hiperimune de coelho na diluição de 1:2000 em solução de PBS-L e a placa foi novamente incubada pó 1 hora e 30 min. a 37ºC. Passado esse período, os poços foram lavados como citado anteriormente e incubados novamente, durante 1 hora a 37°C, com anticorpo anti-IgG de coelho (1:5000) marcado com peroxidase (Sigma). A revelação da reação foi feita com o substrato de TMB (3,3’ ,5,5’-tetramethylbenidine) e após 10 min foi utilizado o ácido fluorídrico 0,125% para parar a reação e realizada a leitura da densidade óptica a 630nm. A diluição de uso foi estabelecida em 1/50, correspondendo a uma concentração protéica de aproximadamente 3 µg/poço. 3. Determinação de Concentração Protéica – Método de Lowry A dosagem de proteína do antígeno viral para o ELISA indireto foi estimada utilizando um kit comercial baseado no método de Lowry (BIORAD) seguindo as indicações do fabricante. De acordo com esse método, foi obtida uma concentração protéica de 1,6mg/ml. 42 B) Padrão Eletroforético das Proteínas Virais As amostras de vírus foram submetidas à eletroforese pela técnica de SDS-PAGE (LAEMMLI, 1970) em gel poliacrilamida de gradiente 5-15% para visualização das proteínas do CAEV. O peso molecular das proteínas virais foi calculado usando-se o RF (Distância em centímetros de migração da proteína a partir do gel de corrida / distância da migração do corante Coomassie blue a partir do gel de corrida) (GARFIN, 1990). D) Detecção Sorológica de anticorpos pelo Teste Imunoenzimático (ELISA indireto) O teste ELISA indireto utilizado foi modificado de um procedimento previamente descrito por Schalie et al. (1994). A placa de poliestireno de 96 poços (NUNC-MAXISORP TM) foi sensibilizada com o antigeno viral tratado com 0,1% SDS na concentração protéica de 3,0µg/100µl (poço) em tampão carbonato-bicarbonato pH 9,6, e com células de MSC sem infectar, também na concentração protéica de 3,0µg/100µl (poço) . A placa foi incubada toda a noite a 4º C. Passado esse período, os poços foram lavados 5 vezes com uma solução de PBS-T 0,05%. Posteriormente foi adicionada uma solução de PBS-L para o bloqueio de sítios livres reativos e incubados novamente, durante 1 hora e 30 min. a 37°C. Em seguida, foram adicionados aos poços os soros testes dos animais na diluição de 1:100 em solução de PBS-L 43 + 0,3% Tween 20, e a placa foi incubada toda a noite 4ºC. Passado esse período, os poços foram lavados como citado anteriormente e incubados novamente, durante 1 hora a 37°C, com anticorpo anti-IgG de cabra marcado com peroxidase (Sigma), na diluição de 1:15.000 em PBS-L+ 0,3% Tween 20. Os poços foram de lavados como mencionado anteriormente. A revelação da reação foi feita com o substrato de TMB (3,3’ ,5,5’-tetramethylbenidine) em presença de H2 O2 (10ml/3μl) e após 30 min foi utilizado o ácido fluorídrico 0,125% para parar a reação e realizada a leitura da densidade óptica (D.O.) a 630nm. O resultado foi dado pela diferença em densidade óptica: D.O.final = D.O.soro com células de MSC infectadas com CAEV – D.O. soro com células de MSC sem infectar. O método de curva roc utilizando programa Med Calc calculou o cut-off ou valor de corte da técnica ELISA o qual foi determinado como 0,209. Valores iguais ou acima deste foram considerados como soros positivos. (Apêndice 2 – resultados obtidos pela técnica ELISA indireto). E) Detecção precoce de anticorpos pelo método de ELISA indireto. Em um rebanho caprino situado no município de Feira de Santana – BA, 13 animais foram acompanhados sorologicamente pelos testes IDGA e ELISA por um período de dois anos, sendo realizada até 3 colheitas de soro em intervalos de 10 e 11 meses. 44 5.2. Detecção Sorológica de anticorpos por Imunodifusão em Gel de Agarose (IDGA) O teste sorológico de IDGA foi realizado com um kit de uso comercial (Biovetech®) seguindo-se as orientações do fabricante. Este teste utiliza um antígeno específico do CAEV, a proteína do capsídeo ( p28). A primeira leitura foi feita às 24 horas, e após 48 horas realizou-se a leitura confirmatória. A interpretação dos resultados é feita verificando a presença e a identidade das linhas de precipitação (continuidade ou não de linhas entre soro reagente e soro teste). 5.3 Detecção de Anticorpos para o CAEV pela Técnica de Imunofluorescência Indireta (IFI) Utilizando a técnica de IFI já descrita para o SHC, os soros caprinos foram incubados na diluição de 1:5 nas lamínulas de células infectadas e enfrentados com um imunoglobulina anti-IgG de cabra marcado com Isotiocianato de Fluoresceína (FITC Sigma), na diluição de 1:300. 5.4. Detecção de Anticorpos para o Vírus da CAE pela Técnica de Western Blot (WB) Utilizando a técnica de Western – blot já descrita para SHC, foram avaliadas a reatividade dos soros de caprinos infectados contra as proteínas virais do CAEV. As proteínas virais foram fracionadas por eletroforese em gel de SDS-poliacrilamida. Os 45 soros caprinos foram diluídos em 1:5 em solução PBS-L e foram posteriormente enfrentados com imunoglobulina anti-espécie (caprina) conjugada com peroxidase na diluição de 1:500 em solução PBS-L. 6. DETECÇÃO DO CAEV Double nested PCR (dn - PCR) em amostras de leite A) Processamento das amostras de leite As amostras de leite (n=40) foram processadas para obtenção da fração celular. Esta fração foi obtida através da centrifugação do leite a 4000 rpm por 15 minutos a 10ºC. Posteriormente, com uma espátula estéril, retirou-se a camada de gordura e desprezou-se o sobrenadante. Cuidadosamente, o precipitado foi lavado com solução de PBS estéril, repetindo o processo por 4 vezes, a fim de se retirar o excesso de gordura. Após a lavagem o precipitado foi ressuspenso em 0,8ml de solução PBS, transferido para tubos estéreis e congelado -20ºC até o momento da extração do DNA. B) Extração de DNA A extração do DNA foi realizada como o “kit” (QIAamp – QIAGEN) seguindo o protocolo do fabricante. 46 C) Amplificação do DNA viral – dn - PCR Após a extração de DNA de células do leite, a reação de PCR segue segundo Travassos et al, 1999 e Tigre et al., 2003. Utilizando dois pares de primers para env e pol. Os fragmentos de DNA de 175 pb e 350 pb, correspondendo respectivamente às regiões pol e env, foram co-amplificadas pela técnica de double nested - PCR. Os primers externos (P1) utilizados foram: 5374 e 5376 para a região pol, e 99001 e 5086 para a região env. Os primers internos (P2) utilizados foram: 5375 e 5377 para a região pol e 99006 e 99008 para a região env. As reações de amplificação para ambos os primers foram realizadas em um único tubo (dn - PCR) em um termociclador Gene Amp OCR System 2400 (Perkin Elmer). Durante o primeiro ciclo de amplificação 20 µl do DNA genômico foi adicionada à mistura para a reação de 50 µl, contendo 10mM de Tris HCl, pH8.3, 50mM KCl, 2mM MgCl2, dNTP (200mM cada dATP, dCTP, dGTP, dTTP), P1 (100ng cada) e 1U Taq DNA polimerase (GIBCO BRL). O primeiro ciclo da amplificação consistiu de 5 minutos a 95ºC, 35 ciclos a 92ºC por 40 segundos para desnaturação, 56ºC por 50 segundos para anelação e 72ºC por 1 minuto para extensão. No final foi feita uma etapa de extensão a 72ºC por 4 minutos. Uma alíquota de 10 ul do produto deste primeiro ciclo foi novamente amplificada em um 2º ciclo mantendo-se as mesmas concentrações dos reagentes e alterando os primers (P2). No segundo ciclo mantiveram-se as condições de desnaturação e foram alteradas as etapas de anelamento para 60ºC por 40 segundos e extensão para 72 ºC por 50 segundos. Um controle positivo (vírus cepa CAE - Decente) foi adicionado a cada grupo de amostras testadas. Os produtos amplificados (5 µl) foram separados por eletroforese em gel de Agarose a 1% juntamente com marcadores de peso molecular (100kb DNA ladder-GIBCO). Os 47 géis foram tratados com Brometo de Etídio (1mg/ml) durante 15 minutos, e visualizados por transluminação com luz ultravioleta. 7. ANÁLISE ESTATÍSTICA O teste Qui-quadrado (SPSS13.0 versão Windows) foi utilizado para avaliar a correlação e o índice kappa foi usado para analisar a concordância entre as técnicas ELISA, IDGA, IFI, WB e PCR (THRUSFIELD, 1995). 48 3.3. RESULTADOS 3.3.1 Padrão eletroforético das proteínas virais Na Figura 4 observa-se o padrão eletroforético das proteínas virais de CAEV. O vírus concentrado e ultracentrifugado (Linha 2) mostra um padrão eletroforético de proteínas com pesos moleculares (PM) aproximados entre 97 e 30. Destas deve-se destacar o grupo de proteínas com PM de 28, 34, 46 e 55. Ao comparar este padrão com o perfil protéico do MSC infectadas com CAEV, mostra-se que este último tem um perfil similar, mas com uma massa protéica maior (Linha 4). Observa-se a presença de algumas proteínas, possivelmente proteínas de origem viral, que não estão no perfil de proteínas de MSC sem infectar (linha 5). Por outro lado, ao analisar o padrão eletroforético do vírus utilizado como antígeno viral no ELISA observamos que o tratamento realizado com SDS 0,1% não altera praticamente o perfil protéico do vírus (Linhas 3 e 4). As proteínas virais de antígeno viral tratado e sem tratar permanecem sem alteração evidente, entretanto foi escolhido utilizar este tratamento com SDS 0,1% porque obteve-se uma melhora significativa no sinal antígeno viral/antígeno celular. 49 97 \66 55 Kd 46 Kd 45 35 Kd 30 28 Kd 20 1 2 3 4 5 Figura 4. Perfil eletroforético das proteínas virais do CAEV. Eletroforese em gel de poliacrilamida de gradiente (5 - 15%) na presença de SDS (SDS - PAGE) das proteínas do CAEV e coloração de Comassie Blue. 1) Marcador de peso molecular (Amershan); 2) CAEV Ultracentrifugado; 3) Células MSC infectadas tratadas com SDS; 4) Células MSC infectadas sem tratamento com SDS; 5) Célula MSC sem infectar. Os pesos moleculares das proteínas virais foram calculados usando-se o RF (distância de centímetros de migração da proteína a partir do gel de corrida / distância da migração do corante Comassie blue a paritr do gel de corrida). 50 3.3.2 Detecção de anticorpos para CAEV A) Técnica de IDGA Com os resultados obtidos através da reação de IDGA para detecção de anticorpos contra o CAEV, observou-se que das 343 amostras analisadas por esta técnica, 30 (8,75%) foram positivas e 313 (91,25%) foram negativas. Estes animais apresentavam-se clinicamente sadios e sem sintomatologia característica da doença. B) Técnica imunenzimática: ELISA indireto Pelos resultados obtidos através da técnica ELISA indireto para detecção de anticorpos anti – CAEV, pode-se observar que das 343 amostras analisadas por esta técnica, 72 (21 %) foram positivas e 271 (79%) foram negativas. C) Comparação dos resultados obtidos através da técnica imunoenzimática – ELISA e IDGA A técnica ELISA indireto mostrou uma maior sensibilidade a respeito da técnica de referencia atual: IDGA (Tabela 2). O número de soros positivos para o CAEV detectados pela técnica ELISA foi maior (72/313) que o detectado pela técnica de referência IDGA (30/313). Teve uma divergência nestes resultados onde 8 amostras foram positivas pela técnica IDGA e negativas pelo teste ELISA. 51 Ao ser comparado o teste ELISA indireto com o padrão ouro para CAEV, a técnica de IDGA, o teste ELISA apresentou uma diferença significativa com a IDGA (x2; p < 0,05), mostrando 73,3% de sensibilidade e 84% de especificidade com índice fraco de concordância entre as técnicas (índice Kappa = 0,35). IDGA + - TOTAL ELISA + 22 50 72 ELISA - 8 263 271 TOTAL 30 313 343 Tabela 2. Comparação dos resultados obtidos em amostras de soros pelas técnicas IDGA e ELISA indireto. Os resultados foram expressos como positivos (+) e negativos (-). (sensibilidade 73,3%; especificidade 84%, índice Kappa = 0,35, fraca concordância entre as técnicas). D) Detecção precoce de anticorpos pelo método de ELISA indireto. Na Tabela 3 mostra-se o acompanhamento de um rebanho caprino no município de Feira de Santana – BA pelo período de dois anos (com até 3 colheitas de soro em intervalos de 10 e 11 meses). Nos 13 caprinos avaliados durante este período de colheita, nos animais A, B, C, E, G foi possível à detecção precoce de anticorpos pelo teste ELISA. A soroconversão nestes animais segundo a técnica de IDGA aconteceu nos animais C, E, G quase um ano depois e nos animais A e B não foi possível detectar a soroconversão pela IDGA durante este período de tempo. 52 ANIMAIS DATA COLHEITA IDGA ELISA A 08/09/2005 - + 17/07/2006 - + 08/09/2005 - + 17/07/2006 - + 08/09/2005 - + 17/07/2006 - + 20/06/2007 + + 08/09/2005 - - 17/07/2006 - - 08/09/2005 - - 17/07/2006 - + 20/06/2007 + + 17/07/2006 - - 20/06/2007 - - 17/07/2006 - + 20/06/2007 + + 17/07/2006 - - 20/06/2007 - - B C D E F G H I 17/07/2006 - - 20/06/2007 + + 17/07/2006 - - 20/06/2007 - - 17/07/2006 - - 20/06/2007 - - L 17/07/2006 - - 20/06/2007 - - M 17/07/2006 - - 20/06/2007 - - J K Tabela 3. Acompanhamento sorológico de 13 caprinos de uma mesma propriedade pelo período de 2 anos, Bahia Os resultados foram expressos como positivos (+) e negativos (-). E) Imunofluorescência Indireta No teste IFI foram avaliadas 11 amostras de soros negativos ou positivos pelas técnicas IDGA e ELISA indireto (Figura 5). Observou-se que 9 amostras (81,8%) foram positivas e 1 negativa (9,09%) pelas técnicas IDGA, ELISA e IFI demonstrando alta correlação entre os resultados das técnicas. Apenas em um animal foi detectado anticorpos para o CAEV por IFI e não foi detectado pelas técnicas IDGA e ELISA. 53 A sensibilidade do teste IFI foi de 100% e a especificidade de 50%, apresentando um índice bom de concordância com o teste ELISA (índice Kappa = 0,62). 54 1 3 2 4 Figura 5. Imunofluorescência Indireta (IFI). (1) Células de MSC infectadas em presença de soro caprino positivo; (2) Células de MSC sem infectar com soro caprino positivo; (3) Células de MSC infectadas em presença de soro hiperimune de coelho (SHC); (4) Células de MSC sem infectar com SHC. As setas indicam células positivas. Aumento das figuras 400x. 55 F) Western – Blot Amostras de soros (n=13) foram submetidas a técnica de WB, IDGA e ELISA. Destas amostras, 10 foram concordantes nas três técnicas, 2 foram positivas para WB e IDGA e 1 apenas por WB. A sensibilidade do teste WB foi de 100% e a especificidade de 57,1%, apresentando índice moderado de concordância com o teste ELISA (índice Kappa = 0,55). Na Figura 6 observa-se o padrão protéico viral reconhecido pelos soros caprinos. A maioria dos soros possuíam este padrão de resposta para as proteínas de peso molecular entre 28 kDa (proteína do capsídeo) e 97 kDa. O soro hiperimune de coelho (SHC) teve um padrão de resposta ligeiramente diferente, considerando que este animal foi hiperimunizado, onde se destacam as proteínas de 46 e 55 kDa possivelmente precursoras de proteínas virais e uma proteína de alto PM acima de 97 kDa (glicoproteina 130 kDa). Uma proteína viral de peso molecular aproximado de 28 kDa (proteína do capsídeo) observa-se também neste perfil protéico, Observou-se, ainda, que o SHC reagiu com algumas proteínas celulares. 56 1 2 97 97 66 45 30 20 A B Figura 6. Western-blot. Identificação de proteínas do CAEV por anticorpos policlonais de caprinos e SHC. (A) 1. Reatividade do soro caprino contra proteínas de células MSC infectadas; 2. Ausência de reação do soro caprino contra proteínas de células MSC sem infectar; (B) 1.Reação do soro hiperimune de coelho (SHC) contra proteínas de células MSC infectadas; 2. Reação do soro hiperimune contra proteínas de células MSC sem infectar. O marcador de peso molecular está indicado a esquerda de cada figura e as setas a direita indicam posição das proteínas detectadas no WB. 57 3.3.3 Detecção do vírus pela técnica de dn PCR As amostras foram consideradas positivas quando uma ou duas seqüências alvo, pol (175pb) e/ou env (350pb), foram amplificadas. A. Detecção do provírus no leite: Utilizando a técnica de PCR foram avaliadas 40 amostras de leite que tinham sido soronegativas e soropositivas pelas técnicas IDGA e ELISA indireto. Observou-se que foi detectada a presença do vírus em 26 delas (65%), enquanto que 14 amostras (35%) foram negativas. 58 1 2 3 4 5 6 7 Figura 7. PCR. Representação de resultados do dn-PCR para detecção do CAEV em amostras de leite caprino. 1) controle negativo; 5) controle positivo; 2, 3, 4, 6, 7) amostras positivas para CAEV. 59 3.3.4 Comparações dos resultados obtidos através da técnica imunoenzimática – ELISA / PCR Ao analisar comparativamente os resultados do ELISA indireto e PCR (Tabela 4), observa-se que do total de 25 amostras soropositivas, 18 delas (80%) eram portadoras do vírus nas células do leite, confirmando a especificidade dos resultados. Nas amostras restantes soropositivas (n=7) não foi possível à detecção viral, provavelmente uma carga viral menor impossibilitou a detecção do vírus nos animais. Por outro lado, amostras soronegativas (n = 8) tiveram detecção viral positiva, o que condiz com a vantagem do uso do PCR para detectar precocemente portadores sadios soronegativos. Desta forma quando comparou-se a técnica ELISA e PCR utilizando Quiquadrado, constatou-se que não houve diferença significativa entre elas (x2 ; p > 0,05), tendo um índice de concordância pobre (índice Kappa = 0,15). Na tabela 4 estão expressos os resultados comparativos das técnicas IDGA, ELISA e PCR separados por grupos. No grupo 1 estão os resultados positivos por todas as 3 técnicas; No grupo 2 estão os resultados negativos por todas as 3 técnicas; No grupo 3 estão os resultados soronegativos por IDGA e positivos por ELISA e PCR; No grupo 4 estão os resultados negativos por IDGA e PCR e positivos pela técnica ELISA; E no grupo 5 estão os resultados soronegativos por IDGA e ELISA e positivos por PCR. 60 Tabela 4. Comparação dos resultados obtidos com amostras pareadas de soro e leite de caprinos fêmeas sorologicamente positivas e negativas entre as técnicas IDGA, ELISA indireto e PCR. Grupo 1 Grupo 2 Animais IDGA ELISA PCR Animais IDGA ELISA PCR 1 + + + 1 - - - 2 + + + 2 - - - 3 + + + 3 - - - 4 + + + 4 - - - 5 + + + 5 - - - 6 + + + 6 - - - 7 + + + 7 - - - 8 + + + 9 + + + 10 + + + Grupo 3 11 + + + Animais IDGA ELISA PCR 12 + + + 1 - + + 13 + + + 2 - + + 14 + + + 3 - + + 4 - + + Grupo 4 Grupo 5 Animais IDGA ELISA PCR - 1 - - + + - 2 - - + - + - 3 - - + 4 - + - 4 - - + 5 - + - 5 - - + 6 - + - 6 - - + 7 - + - 7 - - + 8 - - + Animais IDGA ELISA PCR 1 + + 2 - 3 Os resultados foram expressos como positivos (+) e negativos (-). (índice Kappa = 0,15, pobre de concordância) 61 3.4. DISCUSSÃO O diagnóstico sorológico de animais infectados pelo CAEV é difícil considerando que alguns animais podem apresentar baixos títulos de anticorpos, soroconversão tardia, ou ainda reações intermitentes de soropositividade e soronegatividade, exigindo-se assim provas sensíveis. (EAST et al., 1993; PHELPS & SMITH, 1993; CLAVIJO & THORSEN, 1995; HANSON et al., 1996;). A IDGA técnica de referência para o diagnóstico do CAEV, é uma prova de baixa sensibilidade, mas é um teste amplamente utilizado no diagnóstico de infecções por este Lentivírus (KNOWLES et al., 1994; ABREU et al., 1998). O CAEV tem várias vias de transmissão sendo as principais o colostro ou leite de fêmeas infectadas, e sua disseminação acontece facilmente no rebanho. Por isto, diagnosticar e separar os animais infectados é uma das ferramentas para erradicação do vírus no plantel (CALLADO et al., 2001). Assim, a utilização de provas sorológicas mais sensíveis para detecção de anticorpos, como o teste imunoenzimático – ELISA seria de valor particular na identificação precoce de animais infectados ou com baixos títulos de anticorpos. Neste trabalho as amostras foram inicialmente processadas pela técnica de IDGA, mostrando um índice baixo de animais positivos. Esta baixa soroprevalência já foi citada por outros autores em alguns levantamentos sorológicos realizado na Bahia (Almeida et al., 2001 e Edelweis et al., 2001) citando variações dentro de 13 a 24% de prevalência de infecção. Os animais aqui avaliados estavam aparentemente sadios e não 62 possuíam sintomatologia evidente. A maioria das propriedades em que foram feitas as colheitas eram de rebanhos de corte. Os animais nestes rebanhos têm um curto tempo de permanência na propriedade e por conseqüência menor tempo para detectar a soroconversão. Entretanto, Adams et al (1984) explica que em rebanhos leiteiros o número de animais soropositivos para CAEV é mais alto pelas condições de manejo ou práticas aplicadas neste tipo de rebanho como a maior permanência do animal na propriedade, cabras e cabritos juntos, etc. A técnica sorológica IDGA permite detectar rapidamente os animais infectados. O Ministério da Agricultura em seu plano nacional de vigilância e controle das lentiviroses de pequenos ruminantes, artigo 24, recomenda como teste oficial para o diagnóstico da CAEV em laboratórios credenciados o teste IDGA, entretanto, este diagnóstico sorológico facilita presença de animais falso-negativos no rebanho. Considerando a importância da identificação precoce de animais infectados, a técnica de ELISA indireto poderia ser uma alternativa à atual. O teste ELISA permite processar um grande número de amostras e a sensibilidade e especificidade do teste depende da qualidade do antígeno. De acordo com a Organização Mundial de Epizootias (OIE), a produção de preparações de antígenos de qualidade satisfatória tem limitado a aplicação de rotina do teste ELISA para o diagnóstico do CAEV. Neste trabalho, o antígeno utilizado permitiu detectar anticorpos para CAEV em animais soronegativos ou com baixos títulos de anticorpos para serem detectados pelo IDGA. Uma técnica de baixa sensibilidade como esta última, dificulta a identificação desses animais (HARKISS & WATT, 1990). Esta baixa sensibilidade 63 pode ser explicada pelos mecanismos de interação antígeno – anticorpo que acontece durante esta reação. Enquanto os testes imunoenzimáticos requerem a interação de apenas um epítopo por anticorpo para obter um resultado positivo, o teste de IDGA requer a interação de vários epítopos por reação. Além disso, alterações antigênicas nas proteínas e glicoproteínas também podem influenciar a sensibilidade do teste (CELER JR. et al., 1998; REISCHAK et al., 2002). Os valores de sensibilidade e especificidade obtidos no presente estudo, para o ELISA (73,3% e 84% respectivamente), foram semelhantes com os referidos por Castro et al. (1999) com uma sensibilidade 54,2% e especificidade 100%, utilizando um antígeno produzido a partir do sobrenadante de células de MSC inoculadas com cepa Cork -CAEV. O antígeno viral utilizado neste trabalho foi obtido diretamente de células infectadas e foi tratado com SDS visando melhorar a exposição dos epítopos das proteínas virais, o qual justificaria a maior sensibilidade comparada a Castro et al. (1999). Este tratamento do antígeno com um detergente iônico (SDS) foi também utilizado com êxito por Simard et al. (2001) para produção de antígeno total de CAEV. Como foi observado aqui, este tratamento com SDS não altera aparentemente o perfil protéico do antígeno viral, conservando suas principais proteínas virais. A confiabilidade e especificidade na detecção precoce de animais infectados pela técnica de ELISA foram confirmadas também na técnica de PCR onde foi detectado o provírus de CAEV em amostras de células do leite de animais soropositivos. Alguns autores têm citado que em certas ocasiões apesar de resultados positivos por ELISA não se detecta a presença do vírus. Este fato pode ser explicado por: (a) baixo número de 64 cópias do DNA proviral integrado às células do sangue; (b) número de células do sangue infectadas na amostra, insuficiente para detecção do vírus; (c) baixa carga viral no sangue de animais aparentemente saudáveis. A este respeito é importante salientar que outros Lentivírus, como o vírus da imunodeficiência humana (HIV), replicam-se em linfócitos, entretanto o CAEV replica-se em monócitos, sendo que estes constituem apenas 10% da população leucocitária e normalmente apenas 0,1% estão infectados (REDDY et al., 1993, RUTKOSKI et al., 2001). O diagnóstico de infecções que apresentam intermitência de soroconversão ou baixa resposta humoral como as causadas pelo CAEV, precisariam utilizar técnicas mais sensíveis minimizando a possibilidade de resultados falso-negativos. A sensibilidade do teste na detecção precoce da infecção foi demonstrado neste trabalho ao acompanhar uma propriedade de caprinos pelo período de 2 anos utilizando as técnicas IDGA e ELISA. Nessa propriedade constatou-se que este último teste detectou precocemente a infecção em 5 animais soronegativos pelo IDGA. Estes animais chegaram a soroconverter após 1 ano. Portanto, este estudo indicaria que o ELISA indireto pode ter um papel importante na detecção precoce de animais infectados, favorecendo o controle e erradicação do CAEV em rebanhos infectados. A detecção precoce constatada pelo teste ELISA tem uma importância significativa, pois se considerarmos que se essa propriedade fosse acompanhada apenas pelo teste IDGA, ficariam mais animais como falso-negativos no rebanho, aumentando a disseminação do vírus e dificultando a erradicação deste no rebanho. 65 Dentre os outros testes sorológicos analisados, apesar do pequeno número de amostras avaliadas, as técnicas IFI e WB foram altamente correlacionadas ao teste ELISA. Estes testes complementares podem ser também empregados no diagnóstico, a exemplo do HIV, onde o WB ou IFI são utilizados como testes confirmatórios para amostras de soros classificados como reagentes ou indeterminados por testes imunoenzimáticos (MACHADO & COSTA, 1999; REISCHAK et al., 2002). A correta determinação do estado de infecção do animal no caso dos Lentivirus é complexa. Normalmente requer a combinação de testes de diagnóstico ou colheita de amostras sorológicas durante um período de tempo para descartar a positividade do animal (MOREIRA et al., 2005). Embora o teste ELISA seja de alta eficiência, fácil, rápido e de baixo custo, a técnica de PCR seria indicada na fase prévia a soroconversão. Portanto a combinação da sorologia com um teste de detecção do vírus seria o mais indicado para otimizar o diagnóstico dos Lentivirus (ANDRÉS et al., 2005). Estes resultados mostram que foi padronizado um teste imunoenzimático – ELISA indireto de fácil execução, custo baixo de produção, e com uma sensibilidade superior a IDGA (principalmente na detecção precoce da infecção), com resultados similares às técnicas sorológicas de IFI e WB, e a detecção do DNA viral pela técnica de PCR. Portanto o ELISA indireto poderia representar uma importante ferramenta diagnóstica na detecção precoce de animais infectados. Contudo, são necessários estudos complementares, com valor amostral maior, para tornar viável a execução da técnica diagnóstica, visando principalmente às vantagens apresentadas como processamento de um grande número de amostras, alta sensibilidade da técnica e bem-estar animal por promover melhor controle da infecção. 66 Concluiu-se então que o uso de pellet ou concentrado de células da MSC infectadas pode ser utilizado como antígeno viral na detecção de anticorpos contra o vírus da CAE; O teste imunoenzimático ELISA indireto foi mais sensível que a técnica IDGA; O teste ELISA indireto detectou precocemente a infecção viral em amostras soronegativos por IDGA; O teste imunoenzimático ELISA indireto mostrou concordância de resultados com os testes IFI e WB e que uma alternativa para detecção precoce do vírus pode ser o uso da técnica de PCR em animais soronegativos. 67 3.5. CONCLUSÕES 1) O uso de pellet ou concentrado de células da MSC infectadas pode ser utilizado como antígeno viral na detecção de anticorpos contra o vírus da CAE. 2) O teste imunoenzimático ELISA indireto foi mais sensível que a técnica IDGA. . 3) O teste ELISA indireto detectou precocemente a infecção viral em amostras soronegativos por IDGA. 4) O teste imunoenzimático ELISA indireto mostrou concordância de resultados com os testes IFI e WB. 5) Uma alternativa de detecção precoce do vírus pode ser o uso da técnica de PCR em animais soronegativos. 68 3.6. AGRADECIMENTOS A Agência Estadual de defesa agropecuária da Bahia (ADAB) por ter nos ajudado com as colheitas das amostras e a Fundação de amparo à pesquisa da Bahia (FAPESB) pela bolsa concedida durante o desenvolvimento deste trabalho. 69 3.6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, S.R.O.; CASTRO, R.S.; NASCIMENTO, S.A.; SOUZA, M.G. 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Essa técnica permitiria identificar animais infectados com baixos títulos de anticorpos que possivelmente não seriam detectados por provas menos sensíveis como o teste IDGA permanecendo como falso negativos no rebanho. Neste trabalho foi detectado quase o dobro do número de animais infectados pelo teste ELISA quando comparado ao teste IDGA. Foi possível também identificar precocemente animais infectados através do teste ELISA. Em uma propriedade de criação de caprinos que foi acompanhada por 2 anos, verificou-se que aproximadamente 45% dos animais soronegativos pelo teste IDGA, se apresentavam soropositivos pelo teste ELISA. Sendo assim, mesmo apresentando intermitência de soroconversão, a infecção foi mais precocemente detectada. 72 73 O teste ELISA padronizado ao ser comparado com os testes sorológicos WB e IFI para detecção de anticorpos, teve concordância com os resultados encontrados nestas técnicas, o que fortaleceria a sensibilidade da técnica imunoenzimática. Foi possível também comparar o teste ELISA com a técnica de detecção do DNA viral, PCR, confirmando em animais sorologicamente positivos a detecção do vírus. É importante ressaltar que o uso células da MSC infectadas como antígeno viral poderia ser utilizado na detecção de anticorpos para o CAEV. Neste trabalho este antígeno usado no teste ELISA indireto apresentou valor na indicação precoce de animais infectados e soronegativos por técnicas sorológicas menos sensíveis. Por fim considera-se que animais com baixa carga viral podem ser portadores do vírus e fontes de infecção de doenças infecciosas em um rebanho se não forem usadas técnicas diagnósticas sensíveis. O teste ELISA então se apresenta como importante ferramenta na prevenção e controle da CAE pela possibilidade de identificação precoce de animais infectados. 73 74 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABREU, S.R.O.; CASTRO, R.S.; NASCIMENTO, S.A.; SOUZA, M.G. Produção de antígeno nucleoproteíco do vírus da artrite-encefalite caprina e comparação com o do vírus Maedi-Visna para utilização em teste de imunodifusão em Agar gel. Pesq. Vet. Brás. v.18, n.2,p.57-60, 1998. ADAMS, D.S.; KLEVJER-ANDERSON, P.; CARLSON, J.L.; McGUIRE, T.C.; GORHAM, J.R. Transmission and control of caprine arthritis-encephalitis virus. Am. J. Vet. Res., v.44, p.1670 – 1675, 1983. ALMEIDA, M.G.A.R.; ANUNCIAÇÃO, A.V.M.; FIGUEREDO, A.; MARTINEZ, T.C.N.; LABORDA, S.S. Dados sorológicos sobre a presença e distribuição da artriteencefalite caprina (CAE) no Estado da Bahia, Brasil. Rev. Bras. Saúde Prod. An., 1(3), p. 78 – 83, 2001. ANDRÉS, D. De; KLEIN, D.; WATT, N.J.; BERRIATUA, E.; TORTEINSDOTTIR, S.;BLACKLAWS, B. A.; HARKISS, G.D.; Diagnostics tests for small ruminant lentiviruses. Veterinary Microbiology, v.107, p. 49-62, 2005. ANDRIOLI, A.; GOUVEIA, A.M.G.; MARTINS, A.S.; PINHEIRO, R.R.; SANTOS, D.O. Fatores de risco na transmissão do lentivírus caprino pelo sêmen. 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Pathogenesis of caprine arthritis-encephalitis virus. Cellular localization of viral transcripts in tissue of infected goats. Am. J. Pathol., v.136, n.4, p.843-854, 1990. 83 APÊNDICE 1 - LOCALIZAÇÃO DAS PROPRIEDADES DE CRIAÇÃO DE CAPRINOS PARTICIPANTES DA PESQUISA Município Quantidade de animais Município Quantidade de animais · Camaçari 14 animais · Guanambi 25 animais · Camaçari 2 8 animais · Central 1 4 animais · Bonfim de Feira 31 animais Central 2 8 animais · Feira de Santana 1 21 animais · Ipirá 1 21 animais · Feira de Santana 2 20 animais · Ipirá 2 20 animais · Feira de Santana 3 30 animais · Baixa Grande 98 animais · Feira de Santana 4 31 animais · Itaberaba 12 animais 84 APÊNDICE 2 – RESULTADOS OBTIDOS PELA TÉCNICA ELISA indireto COM 343 SOROS CAPRINOS UTILIZANDO COMO ANTÍGENO CÉLULAS DE MSC INFECTADAS COM CAEV E CÉLULAS DE MSC NORMAIS. SORO 2 6 7 8 9 10 11 12 13 14 16 A B C 17 19 23 24 26 28 30 31 61 62 64 65 72 81 101 102 103 104 105 106 107 108 109 110 111 112 113 114 115 116 117 118 119 120 121 IDGA 2 2 2 1 2 2 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 MSC infectada 0,377 0,291 0,223 0,421 0,183 0,285 0,393 0,324 0,282 0,334 0,271 0,278 0,235 0,218 0,273 0,354 0,316 0,284 0,325 0,427 0,377 0,275 0,265 0,568 0,303 0,226 0,277 0,269 0,275 0,434 0,276 0,61 0,239 0,359 0,36 0,286 0,248 0,194 0,25 0,383 0,661 0,428 0,418 0,401 0,375 0,293 0,296 0,287 0,281 MSC 0,227 0,159 0,198 0,21 0,102 0,24 0,16 0,158 0,255 0,187 0,241 0,229 0,12 0,183 0,215 0,226 0,272 0,266 0,235 0,227 0,223 0,191 0,178 0,137 0,159 0,124 0,173 0,193 0,193 0,162 0,171 0,243 0,165 0,15 0,162 0,174 0,144 0,113 0,169 0,188 0,329 0,268 0,274 0,256 0,209 0,203 0,154 0,197 0,209 RESULTADO 0,15 0,132 0,025 0,211 0,081 0,045 0,233 0,166 0,027 0,147 0,03 0,049 0,115 0,035 0,058 0,128 0,044 0,018 0,09 0,2 0,154 0,084 0,087 0,431 0,144 0,102 0,104 0,076 0,082 0,272 0,105 0,367 0,074 0,209 0,198 0,112 0,104 0,081 0,081 0,195 0,332 0,16 0,144 0,145 0,166 0,09 0,142 0,09 0,072 85 SORO 122 123 124 125 126 127 128 129 130 131 132 133 134 135 136 137 138 139 140 141 142 143 144 145 146 147 148 149 150 151 152 153 154 155 156 157 158 159 160 161 162 163 164 165 166 167 168 169 170 171 172 173 174 IDGA 2 2 2 2 2 1 2 2 2 2 2 2 1 2 2 2 2 1 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 MSC infectada 0,349 0,325 0,303 0,229 0,59 0,51 0,467 0,352 0,451 0,405 0,282 0,551 0,582 0,376 0,417 0,393 0,391 0,618 0,498 0,422 0,44 0,411 0,385 0,554 0,42 0,431 0,376 0,56 0,559 0,38 0,414 0,361 0,635 0,46 0,296 0,236 0,367 0,663 0,297 0,453 0,35 0,468 0,425 0,454 0,396 0,319 0,321 0,466 0,344 0,266 0,342 0,26 0,246 MSC 0,209 0,207 0,239 0,152 0,184 0,218 0,205 0,277 0,336 0,284 0,224 0,255 0,247 0,303 0,309 0,233 0,23 0,266 0,226 0,347 0,193 0,197 0,299 0,195 0,286 0,288 0,27 0,248 0,213 0,243 0,266 0,234 0,262 0,32 0,239 0,186 0,265 0,27 0,234 0,255 0,262 0,232 0,253 0,21 0,271 0,228 0,251 0,285 0,256 0,223 0,27 0,194 0,206 RESULTADO 0,14 0,118 0,064 0,077 0,406 0,292 0,262 0,075 0,115 0,121 0,058 0,296 0,335 0,073 0,108 0,16 0,161 0,352 0,272 0,075 0,247 0,214 0,086 0,359 0,134 0,143 0,106 0,312 0,346 0,137 0,148 0,127 0,373 0,14 0,057 0,05 0,102 0,393 0,063 0,198 0,088 0,236 0,172 0,244 0,125 0,091 0,07 0,181 0,088 0,043 0,072 0,066 0,04 86 SORO 175 176 177 178 179 180 181 182 183 184 185 186 187 188 189 190 191 192 193 194 195 196 197 198 198' 199 200 201 202 203 204 205 206 207 208 209 210 211 212 213 214 215 216 217 218 219 220 221 222 223 224 225 226 IDGA 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 MSC infectada 0,392 0,285 0,377 0,294 0,322 0,333 0,31 0,411 0,321 0,346 0,333 0,231 0,375 0,387 0,61 0,395 0,426 0,344 0,431 0,638 0,465 0,404 0,337 0,271 0,342 0,368 0,251 0,401 0,26 0,398 0,359 0,298 0,305 0,261 0,321 0,35 0,367 0,36 0,23 0,255 0,305 0,291 0,323 0,247 0,299 0,322 0,236 0,289 0,2 0,214 0,281 0,339 0,305 MSC 0,226 0,225 0,204 0,224 0,199 0,248 0,205 0,226 0,281 0,249 0,189 0,169 0,211 0,236 0,31 0,271 0,298 0,222 0,339 0,333 0,259 0,269 0,28 0,238 0,227 0,257 0,202 0,262 0,177 0,236 0,288 0,201 0,274 0,182 0,233 0,227 0,239 0,246 0,179 0,203 0,184 0,229 0,2 0,208 0,183 0,281 0,208 0,224 0,155 0,173 0,271 0,204 0,234 RESULTADO 0,166 0,06 0,173 0,07 0,123 0,085 0,105 0,185 0,04 0,097 0,144 0,062 0,164 0,151 0,3 0,124 0,128 0,122 0,092 0,305 0,206 0,135 0,057 0,033 0,115 0,111 0,049 0,139 0,083 0,162 0,071 0,097 0,031 0,079 0,088 0,123 0,128 0,114 0,051 0,052 0,121 0,062 0,123 0,039 0,116 0,041 0,028 0,065 0,045 0,041 0,01 0,135 0,071 87 SORO 227 228 229 230 231 232 233 234 235 236 237 238 239 240 241 242 243 244 245 246 247 248 249 250 251 252 253 254 255 256 257 258 259 260 270 271 272 273 274 275 276 277 278 279 280 281 282 283 284 285 286 287 288 IDGA 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 1 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 MSC infectada 0,314 0,306 0,266 0,4 0,367 0,386 0,488 0,421 0,305 0,469 0,356 0,355 0,429 0,434 0,475 0,471 0,425 0,398 0,361 0,315 0,332 0,44 0,281 0,355 0,286 0,356 0,5 0,667 0,32 0,363 0,55 0,416 0,532 0,275 0,351 0,306 0,538 0,306 0,392 0,392 0,298 0,332 0,339 0,329 0,368 0,337 0,45 0,473 0,451 0,441 0,395 0,373 0,618 MSC 0,26 0,27 0,223 0,299 0,276 0,341 0,291 0,247 0,235 0,269 0,245 0,209 0,231 0,214 0,217 0,267 0,231 0,202 0,256 0,248 0,255 0,262 0,215 0,187 0,185 0,192 0,194 0,218 0,183 0,169 0,208 0,266 0,209 0,191 0,202 0,2 0,326 0,212 0,263 0,287 0,18 0,208 0,231 0,194 0,151 0,165 0,234 0,197 0,151 0,113 0,189 0,183 0,219 RESULTADO 0,054 0,036 0,043 0,101 0,091 0,045 0,197 0,174 0,07 0,2 0,111 0,146 0,198 0,22 0,258 0,204 0,194 0,196 0,105 0,067 0,077 0,178 0,066 0,168 0,101 0,164 0,306 0,449 0,137 0,194 0,342 0,15 0,323 0,084 0,149 0,106 0,212 0,094 0,129 0,105 0,118 0,124 0,108 0,135 0,217 0,172 0,216 0,276 0,3 0,328 0,206 0,19 0,399 88 SORO 289 290 291 292 293 294 295 296 297 298 299 300 301 302 303 304 305 306 307 308 309 310 311 312 313 314 315 316 317 318 319 320 321 322 323 324 325 326 327 328 329 330 331 332 333 334 335 336 337 338 339 340 341 IDGA 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 MSC infectada 0,505 0,6 0,346 0,28 0,331 0,281 0,565 0,488 0,239 0,407 0,281 0,376 0,375 0,282 0,309 0,333 0,316 0,356 0,513 0,441 0,306 0,306 0,481 0,391 0,277 0,352 0,339 0,383 0,415 0,283 0,318 0,333 0,364 0,449 0,381 0,32 0,374 0,387 0,259 0,265 0,484 0,298 0,263 0,327 0,357 0,317 0,378 0,434 0,442 0,378 0,418 0,46 0,276 MSC 0,131 0,224 0,209 0,181 0,161 0,139 0,164 0,21 0,178 0,186 0,207 0,311 0,197 0,18 0,186 0,214 0,173 0,204 0,233 0,237 0,191 0,18 0,263 0,237 0,162 0,198 0,171 0,225 0,251 0,161 0,209 0,227 0,209 0,267 0,233 0,195 0,197 0,16 0,172 0,193 0,168 0,165 0,141 0,163 0,198 0,181 0,178 0,135 0,217 0,228 0,165 0,233 0,143 RESULTADO 0,374 0,376 0,137 0,099 0,17 0,142 0,401 0,278 0,061 0,221 0,074 0,065 0,178 0,102 0,123 0,119 0,143 0,152 0,28 0,204 0,115 0,126 0,218 0,154 0,115 0,154 0,168 0,158 0,164 0,122 0,109 0,106 0,155 0,182 0,148 0,125 0,177 0,227 0,087 0,072 0,316 0,133 0,122 0,164 0,159 0,136 0,2 0,299 0,225 0,15 0,253 0,227 0,133 89 SORO 342 343 344 345 346 347 348 349 350 351 352 353 354 355 356 357 358 359 360 361 362 363 364 365 366 367 368 369 370 371 372 373 374 375 376 377 378 379 380 381 382 383 384 385 386 387 388 389 390 391 392 393 394 IDGA 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 2 1 2 2 2 1 2 2 1 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 2 MSC infectada 0,505 0,394 0,457 0,375 0,345 0,364 0,212 0,291 0,296 0,398 0,298 0,349 0,254 0,325 0,355 0,287 0,329 0,44 0,281 0,301 0,445 0,263 0,318 0,316 0,546 0,39 0,319 0,414 0,212 0,511 0,305 0,225 0,283 0,214 0,262 0,267 0,441 0,197 0,282 0,316 0,199 0,213 0,223 0,261 0,246 0,217 0,238 0,206 0,261 0,264 0,216 0,212 0,264 MSC 0,203 0,181 0,253 0,209 0,176 0,197 0,127 0,153 0,199 0,191 0,2 0,245 0,231 0,138 0,189 0,161 0,19 0,159 0,122 0,184 0,193 0,148 0,196 0,18 0,181 0,212 0,308 0,182 0,198 0,152 0,191 0,165 0,139 0,185 0,198 0,23 0,119 0,178 0,16 0,115 0,215 0,141 0,202 0,174 0,177 0,178 0,176 0,147 0,181 0,167 0,178 0,176 0,201 RESULTADO 0,302 0,213 0,204 0,166 0,169 0,167 0,085 0,138 0,097 0,207 0,098 0,104 0,023 0,187 0,166 0,126 0,139 0,281 0,159 0,117 0,252 0,115 0,122 0,136 0,365 0,178 0,011 0,232 0,014 0,359 0,114 0,06 0,144 0,029 0,064 0,037 0,322 0,019 0,122 0,201 -0,016 0,072 0,021 0,087 0,069 0,039 0,062 0,059 0,08 0,097 0,038 0,036 0,063 90 SORO 395 396 397 398 66M 7M 30M 37M 38M 78M 67M 75M 73M 3M 79M 17 61 1M 82M 52M 53M 54M 55M 56M 57M 58M 59M 60M 9 IDGA 2 2 2 2 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1 1 2 2 1 1 2 2 2 2 2 2 2 2 1 2 MSC infectada 0,14 0,25 0,276 0,316 0,559 0,135 0,276 0,282 0,268 0,463 0,477 0,449 0,432 0,558 0,562 0,273 0,265 0,434 0,429 0,451 0,439 0,425 0,261 0,274 0,261 0,405 0,198 0,528 0,143 MSC 0,142 0,215 0,24 0,178 0,113 0,154 0,216 0,157 0,173 0,153 0,163 0,126 0,108 0,122 0,134 0,215 0,178 0,194 0,218 0,159 0,167 0,154 0,144 0,189 0,17 0,159 0,161 0,172 0,119 RESULTADO -0,002 0,035 0,036 0,138 0,446 -0,019 0,06 0,125 0,095 0,31 0,314 0,323 0,324 0,436 0,428 0,058 0,087 0,24 0,211 0,292 0,272 0,271 0,117 0,085 0,091 0,246 0,037 0,356 0,024 As amostras testadas por IDGA foram consideradas como positivas (1) e negativas (2). O cut-off ou ponto de corte do teste ELISA foi 0,209 da diferença de MSC infectada e MSC sem infectar. 91 APÊNDICE 3 - COLHEITA DE SANGUE E LEITE DE CAPRINOS 92 APÊNDICE 4 – FIGURAS ELISA INDIRETO E IDGA A 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 B C D E F G H ELISA INDIRETO. As placas foram sensibilizadas com células de MSC infectadas tratadas com 0,1% de SDS (3µg/poço) (poços ímpares) e células de MSC sem infectar (3µg/poço)(poços pares). Acresccentaram-se os soros-testes de caprinos na diluição de 1:100, em ambos os poços. Imunoglobulina anti- IgG de cabra marcada com peroxidade foi usada como conjugado. A reação foi revelada com uma solução de TMB e a leitura foi feita após 30 minutos em leitor de densidade óptica a 630nm. Figura esquemática do teste de Imunodifusão em Gel de Agarose (Fonte: Caprine arthritis-encephalitis / Ovine Progressive Pneumonia vírus antibody test kit (“Veterinary Diagnostic Technology”, Wheat Ridge, EUA)). As reações antigeno-anticorpo são visualizadas como linhas de precipitação no gel de agarose 93 APÊNDICE 5 – RESULTADOS OBTIDOS COM AS TÉCNICAS IDGA E ELISA INDIRETO IDGA 8,75% AMOSTRAS POSITIVAS 91,25% AMOSTRAS NEGATIVAS Resultados obtidos através da técnica IDGA para detecção de anticorpos para CAEV em 343 soros caprinos no estado da Bahia. ELISA INDIRETO AMOSTRAS POSITIVAS 21% 79% AMOSTRAS NEGATIVAS Resultados obtidos através da técnica ELISA indireto para detecção de anticorpos para o CAEV em 343 soros caprinos no estado da Bahia. 94 APÊNDICE 6 – RESULTADOS OBTIDOS COM AS TÉCNICAS IFI E PCR IFI AMOSTRAS NEGATIVAS 9,09% 81,8% AMOSTRAS POSITIVAS Resultados obtidos através da técnica IFI para detecção de anticorpos contra o CAEV em 11 amostras de soros caprinos, Bahia. PCR AMOSTRAS NEGATIVAS 35% 65% AMOSTRAS POSITIVAS Resultados obtidos através da técnica de dn PCR para detecção do DNA viral do CAEV em 40 amostras de leite.