ESQUISTOSSOMOSE, UMA DOENÇA NO CONTEXTO DA SAÚDE

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ESQUISTOSSOMOSE, UMA DOENÇA NO CONTEXTO DA SAÚDE PÚBLICA
BRASILEIRA.
Josiane Freitas*
Juliana Carvalho*
Luís Carlos*
Márcia Alves*
Silvania da Silva*
Flávia Vanessa Lara**
Vilmar de Carvalho Vilaça**
Renata Mônica Amaral**
RESUMO
A esquistossomose é uma doença infecciosa causada por parasitos do gênero
Schistosoma. Sua transmissão ocorre de forma ativa, em meio aquático. A doença
pode ser assintomática inicialmente, apresentando posteriormente sintomas, que
dependerão da carga parasitária e do local atingido pelo parasito. É uma doença
endêmica, presente em 52 países, atingindo 19 Estados brasileiros, apresentando
maior incidência nos estados do Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Minas Gerais,
Bahia, Paraíba e Espírito Santo. Sua difusão e ocorrência estão ligadas à
precariedade e/ou ausência de saneamento básico. O diagnóstico, juntamente com
as medidas profiláticas e o controle epidemiológico, são extremamente importantes
para o tratamento desta parasitose.
PALAVRAS-CHAVE: Esquistossomose; Epidemiologia; Diagnóstico; Tratamento
ABSTRACT
Schistosomiasis is an infectious disease caused by parasites of the genus
Schistosoma. Its transmission occurs actively in the aquatic environment. In
beginning, the disease can be asymptomatic, presenting symptoms later, that
depend on the parasitic load and the hit place. It is an endemic disease, present in
52 countries, comprehending 19 Brazilian States, presenting greater incidence in the
States of Alagoas, Pernambuco, Sergipe, Bahia, Minas Gerais, Paraíba and Espírito
Santo. Its distribution and occurrence are associated with precariousness and/or
absence of essential sanitation. The diagnosis, jointly with prophylactic measures
*Acadêmico do 3º período do curso de graduação de Farmácia da Nova Faculdade.
**Professores do curso de farmácia da Nova Faculdade.
1
and epidemiological control, are extremely important to the treatment of this
parasitosis.
KEYWORDS: Schistosomiasi:, Epidemiolog;, Diagnostic; Treatment
INTRODUÇÃO
existência dos caramujos do gênero
Atualmente no Brasil, cerca de 25
Biomphalaria,
milhões de pessoas estão expostas ao
hospedeiros intermediários, onde o
risco de contrair a esquistossomose,
verme desenvolve uma etapa de seu
estimando-se que já existam 6 milhões
ciclo. Existem no Brasil, três espécies
de casos de indivíduos infectados.
do caramujo: Biomphalaria glabrata, B.
Como parasitose que afeta o homem,
tenagophilae
ocupa o segundo lugar em importância
espécies variam de acordo com a
e
região do país. (MIN. DA SAÚDE,
repercussão
socioeconômica
B.
estes
são
straminea.
os
As
2005)
(GENTILE, 2010).
A
pois
esquistossomose
mansônica
é
Além da existência deste molusco, é
decorrente de uma infecção causada
necessário
pelo
ambientais apropriadas para o seu
Schistosoma
espécie
presente
americano.
A
conhecida
como
mansoni,
no
doença
única
continente
também
barriga
é
d’água,
que
hajam
desenvolvimento,
condições
como
pH,
temperatura e luminosidade hídrica.
Encontrando
essas
condições
xistosa ou xistose, esquistossomíase e
favoráveis, o S. mansoni completa seu
doença
ciclo
do
caramujo
(VRANJAC,
em
80
dias,
aproximadamente. (VRANJAC, 2007)
2007).
O
biológico
agente
esquistossomose
etiológico
da
Como o caramujo Biomphalaria é um
mansônica
foi
hospedeiro intermediário, o S. mansoni
introduzido no Brasil na época do
utiliza
tráfico
africanos,
reservatórios. O homem é o principal
estabelecendo-se aqui por encontrar
reservatório, mas pode-se encontrá-lo
seu hospedeiro intermediário
ainda
de
escravos
– o
outros
em
mamíferos
roedores
como
selvagens,
molusco do gênero Biomphalaria, e ter
primatas, marsupiais, camundongos e
um clima favorável (SOUZA, 2011).
hamster, cães, gado, búfalo, porcos,
Para que ocorra a transmissão da
ovelhas e cabras. Atentando-se para
esquistossomose,
um fato importante de que o S.
exige-se
a
pré-
2
mansoni desenvolve a doença apenas
quase sempre resultam em óbito
no homem (SOUZA, 2011).
(VRANJAC, 2007).
As manifestações da esquistossomose
No caso da neuroesquistossomose, ou
são graves, porém na maioria das
esquistossomose
vezes inicia-se assintomática.
ocorrência é devida a uma migração
A gravidade da doença depende da
errônea dos ovos de S. mansoni, esta
carga parasitária adquirida no contato
é a forma mais grave e incapacitante
com o ambiente hídrico contaminado.
dessa infecção (VRANJAC, 2007).
Podendo apresentar duas fases, a
aguda e a crônica. (VRANJAC, 2007)
medular
Biologia
A fase aguda apresenta-se de uma
O
forma mais leve com diarréia, febre,
trematódeo
cefaleia,
Schistosomatidae,
outros
sudorese,
sintomas.
astenia
E,
às
entre
vezes,
sua
S.
mansoni
é
um
digenético,
Schistosoma.
platelminto
da
família
do
Tem
gênero
como
principal
manifestações de hipersensibilidade
característica o dimorfismo sexual.
como urticária, prurido generalizado,
Possui várias formas e estágios de
edema de face e placas eritematosas
desenvolvimento – vermes adultos
podem ocorrer. Já em quadros mais
(macho e fêmea), ovos, miracídio,
graves, pacientes podem desenvolver
esporocisto,
icterícia, coma e abdômen agudo –
esquistossômulos. (NEVES, 2005)
fase
Os vermes adultos do S. mansoni,
aguda
toxêmica
(VRANJAC,
cercária
e
2007).
vivem no sistema porta hepático do
Na fase crônica, o quadro clínico varia
homem. Após a maturação, os vermes
entre
migram
a
ausência
hemodinâmica
de
alterações
até formas severas
para
hemorroidárias
as
vênulas
superiores
ramificações
pulmonar,
inferior. Os vermes podem ainda, ser
cianótica,
veia
nas
com hipertensão portal, hipertensão
síndrome
da
e
mesentérica
glomerulopatias e a forma nervosa– a
encontrados
em
neuroesquistossomose, de instalação
importantes
como
rápida com paraplegia. A principal
pâncreas e bexiga (NEVES, 2005).
complicação
Todas
desta
fase
é
a
essas
outros
órgãos
pulmão,
possibilidades
baço,
de
hipertensão portal, caracterizada por
migração do verme pelo organismo
hemorragia,
ascite,
humano,
insuficiência
hepática
edema
severa,
e
que
por apresentar diferentes
formas morfológicas e ainda possuir
duas etapas distintas de evolução em
migram para a corrente sanguínea e
hospedeiros diferentes, tornam o ciclo
logo depois se inicia a postura dos
biológico
ovos na submucosa dos vasos de
do
S.
mansoni
muito
complexo. (SOUZA, 2011)
menor calibre e veia mesentérica
inferior. Cada fêmea em sua postura
Ciclo Biológico
põe
No ciclo evolutivo, o parasito muda da
fase assexuada para a fase sexuada,
por isso a necessidade de mais de um
hospedeiro (SOUZA, 2011).
de vida livre aquática, que se alternam
com a fase parasitária. Em condições
favoráveis para sua evolução, o ciclo
biológico é concluído em no máximo
de 80 dias (SOUZA, 2011). A partir da
penetração da cercária até o encontro
dos ovos no meio ambiente decorre
um período de 40 dias. No caramujo, o
processo é idêntico ao do homem,
levando 40 dias para retornar à vida
aquática (NEVES, 2005).
Os machos do S. mansoni possuem
uma coloração esbranquiçada, medem
cerca de 1 cm de comprimento, sua
é
foliácea,
possuem
média
400
ovos
por
dia(SOUZA, 2011).
Os ovos apresentam uma espícula
lateral característica, uma membrana
dupla contendo em seu interior um
Na fase larvária, existem duas formas
forma
em
canal
ginecóforo, onde a fêmea se acopla e
ocorre a fecundação (SOUZA, 2011).
As fêmeas do S. mansoni possuem
uma coloração mais escura, medem
cerca de 1,2 a 1,6 cm de comprimento,
são cilíndricas e mais finas e longas
que o macho. As fêmeas quando
fecundadas ou acopladas ao macho
embrião
(NEVES,
2005).
Quando
estão no tecido levam em média 7 dias
para se tornarem maduros e dentro de
seu interior contém um miracídio. Da
submucosa vênular chegam à luz
intestinal, em aproximadamente 20
dias. Alguns fatores podem interferir
para que os ovos possam passar pela
membrana intestinal, tais como a
reação
inflamatória
imunossuprimidos,
acúmulo
de
em
animais
ocorrendo
ovos
nas
o
paredes
intestinais; a pressão dos ovos sobre
as paredes vasculares; as enzimas
proteolíticas produzidas pelo miracídio,
que
lesam
os
tecidos;
o
adelgaçamento dos vasos, provocados
pela presença do casal na luz do vaso;
a
perfuração
do
vaso
vênular
debilitada, causada pelos fatores já
citados,
causando
a
descamação
epitelial com a passagem do bolo fecal
(NEVES, 2005). Após essa migração,
os ovos chegam ao meio ambiente,
onde
ao
atingirem
a
água
os
enzimas estomacais quando chegarem
miracídios são liberados.
ao estômago, e as que penetrarem na
O miracídio formado, presente na
mucosa
água, penetra o molusco do gênero
normalmente (SOUZA, 2011).
Biomphalaria, onde se desenvolverão.
Depois da penetração pela pele do
Esse processo ocorre em um tempo
homem, a cercária sem a cauda,
médio de 10 a 15 minutos. Quando o
passa por uma nova transformação,
miracídio penetra no molusco ele
denominando-se
perde seus cílios se transformando em
que por um período de 24 horas se
esporocisto primário. Este origina um
adaptam às condições fisiológicas do
esporocisto secundário, que migra
meio interno e migram pelos tecidos,
para
do
caindo
se
passando
as
glândulas
molusco.
Os
reproduzem
digestivas
esporocistos
por
divisão
binária,
como
bucal
na
se
desenvolverão
esquistossômulos,
circulação
por
órgãos
coração,
sanguínea,
importantes
pulmões,
sistema
reprodução assexuada, que geram
porta-hepático e veias mesentéricas
várias larvas – as cercárias, elas
inferiores onde finalmente alcançam as
possuem ventosa oral e ventral e uma
alças intestinais do sigmóide e reto
cauda bifurcada. Um miracídio pode
(SOUZA, 2011).
gerar
Quando entram no sistema porta
mais
de
100.000
cercárias
(SOUZA, 2011).
hepático,
O molusco se rompe e libera as
alimentam
formas larvárias. Estas ao atingirem a
unissexuadas - macho e fêmea. Isso
água,
acontece
em
temperatura
quente
e
os
esquistossômulos
e
desenvolvem
25
dias
da
transformando-se
em
penetração,
cercárias,
vermes adultos. (NEVES, 2005)
possuem
uma
formas
depois
ambiente luminoso se transformam em
que
se
sobrevida pequena em meio aquático.
Os primeiros ovos serão vistos nas
Ao penetrar na pele do homem, ficam
fezes cerca de 40 dias após a infecção
aderidas entre os folículos pilosos com
do hospedeiro (SOUZA, 2011).
o auxílio de suas duas ventosas e com
seus movimentos ativos concluem a
A esquistossomose é decorrente da
penetração, perdendo a sua cauda.
As cercárias que por ventura, forem
ingeridas
serão
com
água
destruídas
pela
contaminada,
ação
Imunopatologia
das
resposta inflamatória granulomatosa
que ocorre em torno dos ovos vivos do
parasito. Os antígenos liberados pelos
ovos induzem a resposta imunológica
Quando os esquistossômulos passam
humoral
os
pelos pulmões, causam focos de
reação
arteriolite, artrite e necrose, podendo
e
elementos
celular,
que
que
formam
são
a
granulomatosa (SOUZA, 2011).
também
A patogênese depende da interação
infiltração de neutrófilos, linfócitos e
humano e helminto. Durante as etapas
eosinófilos (SOUZA, 2011).
do ciclo biológico do S. mansoni nos
Na fase aguda, notam-se duas etapas
diferentes
evolutivas a pré-patente, antes da
passam
tecidos,
por
os
diversas
helmintos
etapas
de
causar
hepatite
aguda,
oviposição e a pós-patente, após
alterações morfológicas e bioquímicas
oviposição (NEVES, 2005).
o que atrapalha o sistema imunológico,
-Forma pré-patente: são detectados
do hospedeiro, impedindo a atuação
níveis
contra o helminto e ativando
os
fatores de necrose tumoral e de
mecanismos
interleucinas produzidos pelas células
complexos
e
imunológicos (SOUZA, 2011).
plasmáticos
considerados
mononucleares (NEVES, 2005).
do
-Forma pós-patente: há um predomínio
organismo nas primeiras 12 horas
na resposta imune do tipo Th1, sendo
após a penetração das cercárias é
substituída por Th2 (SOUZA, 2011).
quando se observa uma inflamação
A patogênese mais importante da
dérmica e subdérmica, originando a
esquistossomose é a formação de
dermatite cercariana, onde se pode
granuloma
destruir um número significativo de
hepática peri-portal. A superpopulação
cercárias. Na passagem do helminto
linfocitária
pela derme e epiderme, ocorre uma
inflamatória e fibrocítica em diversos
reação de hipersensibilidade do tipo
tipos de tecidos.
imediato, com a ativação de vários
Os antígenos solúveis induzem a
componentes da resposta imune inata
mobilização
(SOUZA, 2011).
eosinófilos, linfócitos e plasmócitos
Em dois dias há a produção de
sendo mediado por células CD4+, Th1,
citocinas e no local da lesão de
Th2 e linfócitos TCD8+ (SOUZA, 2011).
quimiocinas. Depois de quatro dias,
Os macrófagos se posicionam em
pode-se
torno dos ovos, formando massas
A
primeira
linha
observar
de
a
defesa
produção
de
linfócitos TCD4+ e interferon gama
(SOUZA, 2011).
sinciciais
hepático
induz
dos
e
a
a
fibrose
resposta
macrófagos,
multinucleadas,
onde
algumas dessas se transformam em
- Presença de cercárias: apresentam
fibroblastos (SOUZA, 2011).
uma
Um
mecanismo
fisiopatológico
doença
imunoinflamatória
de
conhecida como dermatite cercariana
grande importância diz respeito à
ou dermatite do nadador, ocorrendo
reação antígeno/anticorpo, que podem
quando as cercárias do S. mansoni
atingir
penetram
elevados
níveis
de
na
pele
do
imunocomplexos circulantes, passíveis
(TRANQUILLINI,
de
uma sensação de comichão, erupção
deposição
nos
vasos
renais
2011),
homem
causando
(SOUZA, 2011).
urticariforme e dentro de 24 horas
O S. mansoni é considerado um
causa
helminto extremamente adaptável ao
pápulas
homem, onde se desenvolve e evolui
Esquistossômulos: ao serem levados
conseguindo
dos
para os pulmões, depois de duas
(SOUZA,
semanas são encontrados nos vasos
mecanismos
“escapar”
de
defesa
2011).
eritema,
e
edema,
dor
pequenas
(NEVES,
2005).
do fígado e logo em seguida no
sistema
Patogenis
porta
hepático
(NEVES,
2005). Nessa fase pode ocorrer febre,
Está associada a vários fatores, como:
aumento
cepa do parasito, carga parasitária,
pulmonares (SOUZA, 2011).
idade, estado nutricional e resposta
- Vermes Adultos: Os vermes vivos
imunitária (NEVES, 2005). As formas
não causam lesão no tecido, já os
hepatoesplênicas
vermes mortos podem causar lesões
pulmonares
e
são
as
formas
frequentes
em
no
fígado,
do
baço
onde
os
e
sintomas
vermes
são
população onde a incidência de ovos
arrastados pela circulação porta. Os
encontrado nas fezes é muito elevada.
vermes adultos espoliam o hospedeiro
As alterações cutâneas e hepáticas
por possuírem um alto metabolismo
são
(NEVES, 2005).
respostas
imunológicas
do
paciente, quando em contato com os
- Ovos: são elementos fundamentais
esquistossômulos e os ovos (SOUZA,
na patogenia da esquistossomose. Um
2011).
número pequeno de ovos consegue
ser
atingir a luz intestinal e as lesões são
observadas, dependendo da forma
mínimas e podem ter reparações
morfológica atuante, podendo causar
rápidas (NEVES, 2005). Mas quando
várias reações, tais como:
em grande número, podem causar
Outras
alterações
podem
hemorragias, edema da submucosa,
-
entre outras lesões teciduais. Os ovos
mucossanguinolenta, dor abdominal e
que não conseguem atingir a luz
tenesmo, quando mais grave pode
intestinal ficam então nas paredes dos
haver fibrose na alça retossigmóide
tecidos
dos
diminuindo as ondas peristálticas e
miracídios, e devido à pressão da
constantes constipações. A maioria
corrente sanguínea, são carregados
dos casos crônicos são benignos, com
da circulação mesentérica até o fígado
predominância
(SOUZA, 2011). Os ovos que atingem
nodulares, sendo que os pacientes
o fígado causam lesões nos tecidos
sentem
causando
passagem dos ovos causa diarréia
causando
mais
a
morte
doenças
graves
(SOUZA, 2011).
Intestino:
apresenta
de
dores
diarréia
granulomas
abdominais.
mucossanguinolenta,
E
a
provocando
hemorragias e edema (NEVES, 2005).
-
Esquistossomose aguda
-Fase Pré-postural: é uma fase de
sintomatologia variada, nesse período
há pacientes assintomáticos, outros
sentem mal-estar, febre, problemas
pulmonares,
dores
desconforto
abdominal
musculares,
e
hepatite
aguda (NEVES, 2005).
- Fase aguda: ocorre em torno de 120
dias após a infecção, havendo uma
disseminação dos ovos com deposição
na parede intestinal, causando uma
enterocolite aguda. E no fígado, causa
formação de granulomas, como a
evolução é lenta, pode evoluir para a
esquistossomose crônica levando a
morte (NEVES, 2005).
Fígado:
algumas
alterações
hepáticas iniciam-se na oviposição,
que dependendo do número de ovos
podem agravar o quadro evolutivo. O
fígado, que no início se apresentava
aumentado, com o avanço das lesões
se mostra com volume menor e
fibrótico. A hipertensão portal ocorre
devido
ao
grande
número
de
granulomas hepáticos, que causam
endoflebite aguda e fibrose peri-portal,
que provoca obstrução dos ramos
intra-hepáticos (NEVES, 2005).
-Esplenomegalia:
ocorre
uma
hiperplasia no tecido reticular e do
elemento
do
sistema
fagocitário,
provocada
fenômeno
imunoalérgico
monocítico
por
um
(NEVES,
Esquistossomose crônica
2005).
Pode apresentar grandes variações
-Varizes: a obstrução da circulação
clínicas:
portal pode levar a formação de
varizes esofagiana, que quando se
esteanoses ou vegetações tumorais,
rompem provocam hemorragias sendo
as quais crescem à luz intestinal.
fatal (NEVES, 2005).
(SOUZA, 2011)
-Ascite (Barriga D’água): é encontrado
nas formas hepatoesplênicas mais
graves
decorrentes
hemodinâmicas
de
e
alterações
hipertensão
-Pulmões: são notadas duas formas
distintas de acometimentos vasculares
a
hipertensiva
e
a
cianótica. A hipertensiva se caracteriza
por dispneia de esforço, palpitações,
tosse seca com dor torácica, astenia
ou fadiga extrema, emagrecimento
rápido,
anorexia
e
sinais
de
insuficiência cardíaca. Já a cianótica
possui o pior prognóstico, apresentase com cianose geralmente discreta.
-Rins: caracterizada pela nefropatia
esquistossomática,
que
é
comprometimento renal mais frequente
na forma hepatoesplênica da doença.
pode
ser
classificada
como
incipiante, síndrome edemigênica e
síndrome
acompanha
ectópica mais frequente e mais grave.
os
nefrótica.
vários
Geralmente
graus
de
insuficiência renal. (NEVES, 2005)
ovos
possam
dos ovos através da rede arterial como
consequência
da
presença
de
anastomoses
arteriovenosas.
O
segundo mecanismo, diz respeito à
migração
de
ovos,
e
o
terceiro
mecanismo é a oviposição após a
migração
anômala
dos
helmintos
(PIMENTA, 2010).
quadro
clínico
dependerá
da
localização dos ovos, frequentemente
encontram-se
sinais
neurológicos
comprometendo
e
sintomas
a
medula espinhal toracolombar com
quadro de mielite transversa (SOUZA,
2012).
A doença manifesta-se com uma
tríade: dor lombar, alteração da força
e/ou
sensibilidade
e
Forma Pseudoneuplásica
(SOUZA, 2011)
Forma tumoral ou pseudoneoplásica é
Diagnóstico
como tipos únicos ou múltiplos de
no
mecanismo refere-se à embolização
inferiores
bastante rara. Podem apresentar-se
localizar-se
sistema nervoso central. O primeiro
O
(NEVES, 2005)
Ela
A neuroesquistossomose é a forma
Existindo três mecanismos pelos quais
(NEVES, 2005).
pulmonares,
Formas Ectópicas
dos
membros
distúrbios
urinários.
Para o diagnóstico clínico deve-se
complexidade
observar
2005).
a
fase
da
doença,
a
(NEVES,
-
origem, hábitos e contato com água,
Indireta:
mas
porém há demora nos resultados, por
exame
laboratorial
é
de
exame
anamnese detalhada do paciente, sua
o
Reação
do
possui
Imunofluorescência
boa
sensibilidade,
responsável pelo diagnóstico final.
isso essa técnica é pouco utilizada.
Podem
- Método Imunoenzimático ou ELISA: é
ser
empregados
diversos
exames e métodos:
um dos métodos imunológicos de
-Exame de fezes: é o exame de
melhor diagnóstico para as doenças
primeira escolha, no método de Kato-
infecciosas e parasitárias (REY, 2010).
Katz, que permite avaliar a carga
- Ultrassom Convencional ou Doppler:
parasitária
é utilizado para a avaliação ecográfica
no
paciente.
(FARIAS,
2011)
do fígado, baço e sistema vascular,
- Biópsia: é um método que causa
além fornecer aspectos da circulação
desconforto ao paciente, não sendo
portal. (AZEREDO, 2010)
recomendada
para
diagnóstico
exclusivo da esquistossomose, só é
realizada para pesquisa de ovos nos
tecidos hepáticos (SOUZA, 2012).
-
Métodos
Imunológicos
Indiretos:
medem a resposta imunológica do
Tratamento
O
tratamento
farmacológico
da
esquistossomose se dá por meio dos
fármacos Oxamniquina e Praziquantel.
(VITORINO, 2012)
paciente, frente aos antígenos do
OXAMNIQUINA
parasito. Esse método pode liberar um
A Oxamniquina é um derivado da
exame falso-positivo, devido a reações
tetrahidroquinolina que apresenta o
cruzadas (CIMERMAN, 2008).
grupo
- Reação Intradérmica: teste alérgico,
sendo que o mecanismo de ação se
para hipersensibilidade do tipo I, que é
baseia no efeito anticolinérgico, o qual
baseado na pápula formada na derme
aumenta a motilidade do parasito,
após a inoculação intradérmica do
como também a inibição de sínteses
antígeno.
de ácidos nucléicos.
- Reação de Fixação do Complemento:
tem alta sensibilidade, porém esta
técnica não é utilizada devido à
químico
aminoalquiltolueno,
Fórmula química: C14H21N3O3
Fórmula Estrutural:
Posologia:
-Uso
em
Adultos:
A
posologia
recomendada é de 15 mg/kg de peso
corporal, administrados em dose oral
Fórmula Estrutural da Oxamniquina. Google image, 2012
única, após a refeição (VITORINO,
2012). O número recomendado de
Nome do Composto:
cápsulas é a seguinte: Até 33 quilos,
{2-[(isopropilamino) metil] 7-nitro-1, 2,
3, 4-tetrahidro-5-quinolinil} metanol.
tomar 2 cápsulas; de 34 a 50 quilos,
tomar 3 cápsulas; 51 a 66 tomar 4
Formas farmacêuticas e
cápsulas; 67 a 83 quilos, tomar 5
apresentações:
cápsulas e entre 84 a 100, tomar 6
-Oxamniquina
cápsulas:
em
cápsulas (ANVISA, 2012).
embalagem contendo 6 cápsulas de
-Uso
250 mg.
recomendada para crianças abaixo de
-Oxamniquina
suspensão
oral:
em
em
Crianças:
A
posologia
12 anos é de 20 mg/kg de peso
embalagem contendo 1 frasco com 12
corporal,
mL com conta-gotas.
doses de 10 mg/kg em um único dia,
em
duas
com intervalo de 4 horas entre as
Composição:
-Cápsulas:
administrados
Cada
cápsula
de
doses (VITORINO, 2012).
Oxamniquina contém o equivalente a
Propriedades Farmacocinéticas
250 mg de oxamniquina. Excipientes:
A oxamniquina é bem absorvida após
lactose monoidratada, amido de milho,
administração oral. As concentrações
estearato de magnésio, laurilsulfato de
plasmáticas em humanos alcançam o
sódio.
pico
-Suspensão
oral:
suspensão
oral
Cada
de
mL
da
Oxamniquina
após
1
administração,
à
1,5
com
horas
da
meia-vida
plasmática de 1 a 2,5 horas. É
contém o equivalente a 50 mg de
amplamente
oxamniquina.
ágar,
metabólitos ácidos inativos, que são
sacarose, glicerol, solução de sorbitol
excretados abundantemente na urina
70%, sacarina sódica, cloreto de sódio,
(ANVISA, 2012).
essência
Excipientes:
creme
de
caramelo,
polissorbato 80, essência de banana,
essência de cola e água purificada.
transformada
em
PRAZIQUANTEL
O Praziquantel é um fármaco antihelmíntico antiparasitário que atua
contra o gênero do Schistosoma.
dose única de 60mg/kg, fracionada em
Pertence
duas tomadas.
ao
grupo
isoquinolino-pirazino
químico
(VITORINO,
2012). Excipientes: amido de milho,
celulose,
estearato
de
magnésio,
laurilsulfato de sódio e polividona.
Fórmula química: C19H24N2O2
Propriedades Farmacocinéticas
O Praziquantel é bem absorvido após
administração oral e quando ingerido
com as refeições. Seu pico plasmático
é alcançado de 1 a 3 horas após sua
administração.
Sua
meia
vida
plasmática oscila entre 1 e 1,5 horas,
Fórmula estrutural:
sendo que a maior parte é eliminada
pela urina em 24 horas (P.R. VADEMÉCUM, 2005).
Atuação: O fármaco atua nas formas
jovens
do
parasito,
interferindo
principalmente em seu tegumento,
lesando-o e expondo assim antígenos
alvos da resposta imune. A droga atua
ainda, aumentando a permeabilidade
Fórmula Estrutural do Praziquantel. Google image, 2012
da membrana ao cálcio, o que causa
contração e paralisia da musculatura
Nome do composto:
desses parasitos (VITORINO, 2012).
2(ciclohexilcarbonil)-1, 2, 3, 6, 7 H b-
Os efeitos neuromusculares levam a
hexaidro-4H-pirazino[2,1-a]isoquinolin-
uma
4-ona.
espasmódica,
Formas Farmacêuticas de
apresentação:
maior
motilidade
e
causando
paralisia
o
desprendimento e desintegração dos
parasitos no intestino.
- 12 comprimidos de 150 mg
CONCLUSÃO
- 50 comprimidos de 500 mg.
Diante de tantos dados e informações
Posologia:
pré-existentes
Dose oral diária de 50 mg/Kg por três
esquistossomose, é possível perceber
dias consecutivos. E, para crianças
a importância dessa parasitose e a
sobre
a
grande preocupação da Saúde Pública
em
buscar
meios
para
a
sua
Mas
esse
esforço
deve
ser
eliminação.
generalizado, com o empenho de
Podemos perceber essa preocupação
municípios na criação de programas
pública por meio de novos projetos e
de controle à doença, integrando a
investimentos
comunidade,
que
estão
sendo
gerando
mobilização
realizados para combater as doenças
coletiva. (OTENIO, 2010)
negligenciadas, dentre as quais a
Contudo,
esquistossomose está incluída.
buscarão respostas sobre métodos
O
governo
está
aumentando
a
o
futuro
combinados
das
de
pesquisas
controle
das
produção de medicamentos, fazendo
transmissões (ANDRADE, 2002). Pois
novas
esse é o ideal a ser alcançado, por
parcerias
com
laboratórios
públicos e privados para dar uma
interromper
melhor assistência aos pacientes com
parasito. Mas até ser atingido esse
estas doenças.
ideal, não podemos esquecermo-nos
Além dos investimentos em pesquisas,
da enorme contribuição fornecida pelo
o governo desenvolve ações para a
diagnóstico preciso e o tratamento
eliminação
esquistossomose,
disponível e adequado nessa busca do
implantando medidas de prevenção,
controle da endemia e morbidade da
controle e acesso a medicamentos.
esquistossomose. (COSTA, 2011)
da
Articulando com essas ações um
trabalho
de
conscientização
e
o
ciclo
evolutivo
do
REFERÊNCIAS: (...)
educação da população de baixa
renda
e
áreas
endêmicas,
e
ANDRADE,
Zilton
A.
A
investimentos no saneamento básico.
Esquistossomose no Brasil após
Desde 2011, o governo comprometeu-
Quase um Século de Pesquisas.
se
da
Revista da Sociedade Brasileira de
Assembleia
Medicina Tropical 35(5): 509-513, set-
onde
out, 2002.
com
a
eliminação
esquistossomose,
Mundial
da
na
Saúde,
foi
classificada como essencial que as
metas
internacionais
estejam
alinhadas com o esforço do Brasil para
enfrentar essa realidade. (BARBOSA,
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