Área: CV MANIFESTAÇÕES RESPIRATÓRIAS DAS MICOSES. ESTUDO EM POPULAÇÃO COM PNEUMOPATIA NO ESTADO DO PIAUÍ. Monalisa Cavalcante de Carvalho (PIBIC/UFPI); Viriato Campelo (orientador, Departamento de Parasitologia e Microbiologia/CCS/UFPI) 1. INTRODUÇÃO Conceitua-se como micose pulmonar toda infecção causada por fungo que se expressa com manifestações pulmonares. No Brasil, as micoses que causam manifestações pulmonares crônicas ou que se associam a pneumopatias crônicas de etiologia variada são: coccidioidomicose, paracoccidioidomicose, aspergilose, histoplasmose e criptococose (TARANTINO, 2002). O diagnóstico laboratorial pode ser realizado através da pesquisa do microrganismo ou pela busca de resposta específica do hospedeiro ao fungo. No entanto, cabe ressaltar que a interpretação dos achados laboratoriais deve ser feita à luz da história clínico-epidemiológica. A triagem soromicológica, a histopatologia e o resultado do exame microscópico direto orientarão a correta interpretação dos achados laboratoriais e a decisão terapêutica inicial (SEVERO, 1986). A ocorrência de micoses sistêmicas no nosso meio carece de estudos que possam retratar, indicadores epidemiológicos, que se agrava pelo fato de as micoses pulmonares não serem de notificação compulsória (DEUS FILHO, 2007). Portanto, o objetivo do estudo foi traçar o perfil epidemiológico dos pacientes com micoses pulmonares atendidos em um serviço público de Pneumologia em Teresina-PI. 2. METODOLOGIA Tratou-se de um estudo transversal e quantitativo em pacientes com diagnóstico de micoses pulmonares na Clínica de Pneumologia Sanitária do Hospital Getúlio Vargas entre agosto de 2006 e dezembro de 2012. Os dados foram coletados a partir da revisão de prontuários que se encontram nos arquivos do Ambulatório do Hospital Getúlio Vargas de Teresina – PI (SAME) e que foram transcritos em protocolos com variáveis padronizadas. As variáveis utilizadas foram as relacionadas à identificação dos pacientes (sexo, idade, escolaridade, naturalidade) e aos aspectos clínicos e do diagnóstico (queixa principal, forma clínica, meios diagnósticos, ocupação/ramo de atividade) Foram selecionados todos os pacientes atendidos na Clínica de Pneumologia Sanitária do Hospital Getúlio Vargas (CP/HGV), em Teresina/PI, referenciados para esclarecimento diagnóstico de pneumopatias agudas ou crônicas, no período compreendido entre agosto de 2006 e dezembro de 2012. Foram inclusos no estudo todos os casos diagnosticados de micoses pulmonares na Clínica de Pneumologia Sanitária do Hospital Getúlio Vargas, no período de agosto de 2006 a dezembro de 2012. Foram excluídos do estudo os seguintes casos: · Casos diagnosticados de outras afecções pulmonares · Casos suspeitos de micoses pulmonares, mas não diagnosticados. · Casos diagnosticados de micoses pulmonares, fora do período delimitado. Os resultados estão apresentados em tabelas e figuras e para tal foi criado um banco de dados no Software EpiInfo 3.5.3. Foram realizadas tabelas de frequências simples e médias. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram diagnosticados 58 pacientes com micose sistêmica. Das manifestações pulmonares causadas por fungos a mais prevalente foi a coccidioidomicose (48,3%), seguida por paracoccidioidomicose (31,0%), criptococose (13,9%), adiaspiromicose e aspergilose (1,7% cada). 3.1. COCCIDIOIDOMICOSE Entre os pacientes com diagnóstico de coccidioidomicose, 21 (77,8%) tinham sido expostos recentemente à atividade de risco de caçar e desentocar tatus; 96,4% eram do sexo masculino. A idade variou de 16 a 66 anos, com média de 35,1 anos. Ocorreram 24 casos em pacientes procedentes do estado do Piauí e 4 do estado do Maranhão. O mês de maior freqüência da micose foi agosto, seguido dos meses de novembro e dezembro. Os principais sintomas e sinais em pacientes foram: febre (82,1%) e tosse (60,7%) foram os sintomas mais frequentes, associadas a dispneia em 42,9 %, adinamia e dor pleurítica em 39,3%. A alteração radiológica mais freqüente foram opacidades nodulares difusas (67,9%), seguida de consolidação alveolar (17,9%). O achado tomográfico mais freqüente foi a existência de nódulos difusos, presentes em 50,0 % dos casos. 3.2. PARACOCCIDIOIDOMICOSE (PCM) Dos 18 pacientes com PCM, 88,9% eram do sexo masculino; a idade média foi de 44,2 anos com extremos de 13 e 68 anos. Catorze eram lavradores (77,8%) e um operador de usina de ouro. Do total de casos, só 3 pacientes eram caçadores de tatu costumazes (16,7 %). Dos pacientes acometidos de PCM, 7 eram procedentes do estado do Maranhão, 7 do estado do Pará e 4 do estado do Piauí. Apesar de haverem pacientes oriundos do estado do Piauí, não foi identificado nenhum caso de PCM autóctone, já que todos tinham praticado atividades de risco em locais onde a ocorrência de PCM é comum. Todos os pacientes eram sintomáticos com queixas respiratórias crônicas; 3 deles haviam feito tratamento prévio para tuberculose (TB). O quadro clínico teve como sintomas e sinais mais frequentes: tosse (55,6%); febre, dispneia e emagrecimento (50,0%). Além disso, foram detectadas 7 lesões extrapulmonares em seis pacientes distintos, sendo o local mais comum na língua (16,7%). O padrão radiológico mais freqüente foi a presença de consolidação alveolar, em 38,9% dos casos. A TC evidenciou a presença de nódulos difusos em 22,2% dos casos. 4.3. CRIPTOCOCOSE As manifestações pulmonares da criptococose têm sido raramente evidenciadas, embora a porta de entrada da doença seja respiratória. Dos pacientes, 62,5% eram do sexo masculino; a idade média foi de 54,1 anos com extremos de 39 e 72 anos, todos procedentes do estado do Piauí, 50% tiveram contato com pássaros antes de contrair a doença e apenas um (12,5%) era imunodeprimido. Os sintomas e/ou sinais mais freqüentes foram: tosse (55,6%); febre, dispneia e emagrecimento (50,0%). O padrão radiológico mais freqüente foi a presença de opacidades nodulares, em 50,0% dos casos. A TC evidenciou a presença de nódulos difusos em 50,0% dos casos. A pesquisa de fungos no lavado brônquico foi positiva em 12,5% dos casos e a biópsia do pulmão foi positiva para a doença em 75% dos casos estudados. 4.4. HISTOPLASMOSE Foram identificados dois pacientes, todos no ano de 2011 e procedentes de Balsas/MA. Os sintomas e/ou sinais mais freqüentes foram febre e dor torácica (100%) e o padrão radiográfico de ambos os casos foi nodular e difuso bilateral com predomínio em bases. 4.5. ASPERGILOSE Um caso, em abril de 2008. Paciente oriundo de Teresina/PI, 62 anos, com tratamento prévio para TB em 2002 e em 2008, com quadro de hemoptise. O RX de tórax evidenciou a presença de “bola fúngica” em lobo superior do pulmão esquerdo. 4.6. ADIASPIROMICOSE Um caso de adiaspiromicose foi diagnosticado em paciente oriundo de Agricolândia/PI. Os principais sintomas foram tosse, dispneia e febre. O padrão radiológico era micronodular difuso com consolidações em bases pulmonares. O diagnóstico foi firmado por biópsia pulmonar a céu aberto. 4. CONCLUSÃO Foi possível traçar o perfil epidemiológico das micoses pulmonares atendidas em um serviço público do estado do Piauí. Os resultados do presente estudo indicam que as micoses sistêmicas devem ser incluídas no diagnóstico diferencial das pneumopatias de etiologia incerta na região Nordeste, especialmente a coccidioidomicose. APOIO FINANCEIRO: UFPI REFERÊNCIAS TARANTINO, AB et al. Micoses pulmonares. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. SEVERO, LC. Colheita e transporte do espécime clínico para exame micológico. Rev AMIRGS, Porto Alegre, v. 30, n. 1, 1986. DEUS FILHO, A. Manifestações respiratórias das micoses: estudo em população com pneumopatia no estado do Piauí. 143 f. Tese (Doutorada). Instituto Osvaldo Cruz (Fiocruz), 2007. “Palavras-chave:” Micose pulmonar. Pneumopatia. Manifestações respiratórias