c e n t r o d e i n f o r m a ç ã o d o m e d i c a m e n t o ORDEM DOS FARMACÊUTICOS Importância terapêutica dos radiofármacos Os radiofármacos utilizados na prática clínica de Medicina Nuclear apresentam características de diagnóstico ou terapêutica. Um radiofármaco consiste na ligação de um componente radioactivo a um composto químico, tendo este último a capacidade de formar ligações covalentes. Este conjunto localiza-se no órgão alvo ou sistema de interesse, devido à biodistribuição natural do fármaco, não devendo desenvolver qualquer tipo de toxicidade ou reacção adversa. Os radiofármacos são administrados geralmente por via endovenosa, em quantidades da ordem dos microgramas. Os detectores de radiação avaliam a distribuição do material radioactivo no corpo humano, determinando a fixação e excreção deste a partir de um determinado órgão. A imagem cintigráfica possui a capacidade de revelar a radiação γ e X emitida pelo material radioactivo localizado no sistema biológico. A radiação γ é gerada durante a desintegração de um núcleo atómico instável, sendo de grande utilidade em diagnóstico. O tipo de radiação emitida e a velocidade à qual o núcleo se desintegra dependem do elemento radioactivo. O Tecnécio é um metal de transição, estando situado no grupo VII B da Tabela Periódica, localizado entre o Manganésio e o Rénio, apresentando estados de oxidação que variam entre (-1) e (+7). A sua forma metastável (99mTc) apresenta um tempo de semivida física (T 1⁄2 ) de 6,02 horas, com emissão de radiação γ de energia 140keV. Esta radiação apresenta poder penetrante suficiente para permitir que uma fracção razoável (30 a 50%) se liberte do corpo humano e seja captada pelo detector. A radiação que interactua é absorvida pelo detector, dando informação útil relativa à distribuição da actividade no doente. O pertecnetato de sódio (Na99mTcO4), como fonte de obtenção do 99mTc, provém directamente do gerador de Molibdénio/Tecnécio (99Mo/99mTc). O 99mTc é o elemento utilizado com maior frequência no diagnóstico em estudos de Medicina Nuclear. O 99mTcO4- possui características semelhantes ao Iodo, podendo ser administrado por via oral ou endovenosa. É concentrado selectivamente, mas não incorporado, na tiróide, glândulas salivares, estômago e plexo coróide. O seu desaparecimento do plasma ocorre como uma função multiexponencial após 15 a 20 minutos da sua administração, em que 50% é diluído nos espaços extravasculares. A quantidade que permanece irá desaparecer do plasma com uma vida média de cerca de 3 horas. Verifica-se que 20 a 30% da dose injectada é excretada lentamente nas fezes. O estômago é o maior órgão a captar, contendo 20 a 25% da dose injectada às 4 horas. O 99mTc é um elemento capaz de se ligar, de maneira covalente, a determinadas estruturas químicas possuindo grupos electrodadores. Sendo assim, este apresenta a capacidade de ligação efectiva a compostos químicos que apresentam determinado tropismo para órgãos ou sistemas orgânicos específicos. Por exemplo, os polifosfato, pirofosfato e difosfonato, marcados com 99m Tc, são os agentes diagnósticos de imagem mais utilizados. Após 15 a 20 minutos da sua administração endovenosa, cerca de 50 a 60% da dose injectada é localizada no esqueleto. A restante parte é distribuída pelos tecidos moles e plasma, com posterior excreção lenta na urina. Cerca de 20 a 30% da dose injectada é excretada ou captada pelos rins após 3 horas. O polifosfato apresenta clearance plasmática baixa, dando imagens de menor qualidade. Por outro lado, o metilenodifosfonato apresenta a clearance plasmática superior de todos estes compostos. Este apresenta uma fixação óssea electiva, rápida clearance sanguínea e aumento da captação óssea, evidenciando uma profusa eliminação urinária. Os análogos dos pirofosfatos apresentam fixação nos cristais de hidroxiapatite, possuindo um mecanismo de quimioadsorção. A cintigrafia osteoarticular é um método de elevada sensibilidade e precocidade na detecção das alterações fisiológicas no osso, causadas por traumatismo, isquémia, infecção e processos neoplásicos. Esta avalia a extensão, evolução ou remissão de processos patológicos e controlo pós-terapêutico. Este método permite correlacionar imagens cintigráficas com imagens de maior detalhe anatómico, como as obtidas com a radiologia convencional, TAC e ressonância magnética nuclear. A fixação dos fosfatos reflecte a actividade metabólica e a vascularização do tecido ósseo. O método possui como indicações clínicas o diagnóstico da doença metastática, com origem na próstata, mama, pulmão, rim e cólon, fracturas de stress, patológicas e radiologicamente ocul- Março/Abril 2003 Boletim do CIM Director: J. A. Aranda da Silva Boletim do CIM Março/Abril 2003 tas, próteses articulares, osteomielite, necrose avascular, doença de Legg-Calvé-Perthes, situações pós-traumáticas, corticoterapia, radioterapia, doença óssea metabólica, osteodistrofia renal, osteomalácia, algodistrofia simpática, artrites, doença de Paget e osteoartrofia hipertrófica pulmonar. A oncologia nuclear permite o estudo de neoplasias, através do uso de radiofármacos com metabolismo adequado, dando informação anatómica, fisiológica e metabólica do sistema biológico em estudo. O Gálio 67 permite o estadiamento clínico de neoplasias, avaliação da resposta terapêutica e caracterização da massa tumoral residual versus processo de fibrose. O Tálio 201 e o sestamibi marcado com Tecnécio permitem o estudo de adenomas paratiroideos e controlo pós-terapêutico de carcinomas da tiróide, assim como na avaliação de gliomas malignos, linfomas de pequeno grau de malignidade e, em mamocintigrafia, na detecção do carcinoma da mama. O metaiodobenzilguanetidina marcado com Iodo 123 compete com a norepinefrina no armazenamento intraneuronal, apresentando alguma fixação hepática, esplénica, pulmonar e a nível das glândulas supra-renais. Utiliza-se frequentemente no diagnóstico dos feocromocitomas, neuroblastomas, paragangliomas e quemodectomas. O pentatreótido, por seu lado, é um octo aminoácido análogo da somatostatina, podendo ser marcado com Indio111. A somatostatina apresenta-se geralmente elevada em tumores neuroendócrinos e noutros receptores, como no cérebro, pâncreas, tubo digestivo e células medulares da tiróide. Os difosfonatos marcados com Tecnécio e a fluordesoxiglicose marcada com Flúor18 (FDG-18) permitem o estadiamento tumoral, detecção de metástases e controlo pós-terapêutico. A tomografia de emissão por positrões apresenta a capacidade para medir a glicólise nos tecidos. Esta técnica possui elevada resolução de imagem sendo, no entanto, dispendiosa e difícil de obter. A FDG-18 fixa-se em determinado tipo de tumores malignos, como marcador não específico da elevada actividade metabólica na proliferação tecidular. Esta permite o estadiamento inicial do carcinoma do pulmão, linfomas, carcinomas do cólon e da tiróide. Este radiofármaco promove a avaliação do grau de malignidade correlacionando-o com a sua actividade glicolítica, nomeadamente nos astrocitomas, tumores da cabeça e pescoço. Permite a caracterização de nódulos solitários do pulmão, diagnóstico diferencial para pancreatite e carcinoma, acompanhamento terapêutico e pós-terapêutico de várias neoplasias, diagnóstico de recidivas ou metástases, localização de citostáticos e detecção de nódulos mamários. Esta técnica cintigráfica apresenta-se muito útil na detecção e caracterização de diferentes neoplasias e suas metástases, promovendo uma melhor capacidade de diagnóstico. Os anticorpos monoclonais e seus fragmentos apresentam elevada sensibilidade para diagnóstico de recidivas em carcinomas colo-rectais, localizados na pélvis ou em localização extra-hepática no abdómen, permitindo igualmente o tratamento em recidivas do carci- noma da próstata e tecidos moles. Verifica-se recentemente o desenvolvimento de anticorpos monoclonais para o carcinoma da mama e para o melanoma, assim como de fragmentos marcados com emissores β no tratamento de linfomas e leucemias. O maior problema no tratamento de doentes com administração interna de radionúclidos é o cálculo da dose de radiação que se pretende que atinja o alvo. O cálculo da dose de radiação requer rigor nas características físicas de decaimento do radionúclido e da sua distribuição no organismo. Torna-se por vezes difícil a administração da dose deste radiotraçador ao doente. O Estrôncio89 e Samário153 são emissores β que se localizam no osso, com captação em metástases osteoblásticas, promovendo a terapêutica paliativa com eficácia na diminuição da dor óssea após 1 a 4 semanas. No entanto, antes da sua administração deve excluir-se a possibilidade de compressão medular, fracturas patológicas e tumor dos tecidos moles com invasão óssea. Pode apresentar, porém, efeitos secundários, como a citopenia e aumento transitório das dores, entre os 10 a 14 dias iniciais. Na radioterapia metabólica utilizam-se geralmente etilésteres de ácidos gordos marcados com Iodo131, apresentando grande utilização no tratamento do hepatocarcinoma. Estes são frequentemente utilizados em tumores primários malignos do fígado. Verifica-se um enorme interesse pela comunidade científica e médica mundial, no sentido de desenvolvimento de radiofármacos com maior especificidade de ligação a receptores específicos, de maneira a permitir o diagnóstico e mesmo a terapêutica. Jorge Manuel Pereira Veiga Licenciado em Farmácia Licenciado em Bioquímica Especialista de Radiofarmácia Serviço de Farmácia e de Medicina Nuclear dos HUC Bibliografia • Da Silva F. J. R., Williams R. J. P. The Biological Chemistry of the Elements. The Inorganic Chemistry of Life. Oxford, Clarendon Press, 1991: 24-70. • Deutsch E., Libson K. Recent Advance in Technetium Chemistry, Bridging Inorganic and Nuclear Medicine. Comments Inorg Chem, 1984; 3: 83-103. • Bernier D. R., Christian P. E., Langan J. K. Nuclear Medicine, Technology and Techniques, 4thed, 1997. • Fogelman I., Maisey M. N., Clarke S. E. M. An Atlas of Clinical Nuclear Medicine. 2ªed. Martin Dunitz, 1998; 156-157; 298-305. • Rayudu G. V. S. Radiotracers for Medical Applications, Vol I, CRC Press, 1983. Entre os métodos hormonais de contracepção, os contraceptivos orais combinados (COC) são o método mais amplamente utilizado. São de uso simples, apresentam uma elevada eficácia quando correctamente utilizados e são de fácil reversibilidade. O seu perfil de segurança é bastante favorável, apesar de os COCs com progestagéneos chamados de 3.ª geração – desogestrel e gestodeno, apresentarem um risco superior, ainda que pequeno, de tromboembolismo venoso comparativamente aos com levonorgestrel. Apesar de os métodos contraceptivos actuais, nomeadamente os COCs, serem já bastante eficazes e seguros, existe ainda um número considerável de utilizadoras que tem dificuldade no cumprimento dos esquemas de administração ou que suspende a terapêutica por efeitos adversos, o que resulta em muitas gravidezes não planeadas. Daí a necessidade de se desenvolverem alternativas mais fáceis de utilizar, melhor toleradas e ainda mais eficazes. Alguns dos novos desenvolvimentos nesta área são de seguida descritos, não se pretendendo, contudo, um apanhado exaustivo, mas sim referir algumas das inovações mais relevantes. CONTRACEPTIVOS ORAIS Redução na dosagem. Alguns efeitos adversos dos COCs estão relacionados com a dose hormonal administrada, nomeadamente o risco de certos efeitos cardiovasculares, que é maior para maiores doses do estrogéneo. Tem havido, portanto, a tendência de reduzir as dosagens, de forma a melhorar a sua relação benefício-risco. Os COCs contendo 20 µg de etinilestradiol (EE), comercializados desde há alguns anos, parecem manter a eficácia contraceptiva de COCs com teor superior de estrogéneo, mas permitem um desenvolvimento folicular superior na semana de pausa. Assim, ao reduzir ainda mais a dose de EE, pode-se comprometer a eficácia contraceptiva, especialmente durante o intervalo de descanso, e o controle do ciclo, com maior incidência de hemorragias intermenstruais. Para obviar estes riscos, os novos COCs recentemente introduzidos, contendo 15 µg de EE e 60 µg de desogestrel (DSG), por comprimido, são administrados ao longo de 24 dias, seguindo-se 4 comprimidos de placebo. Ao aumentar o número de dias de toma, obtém-se uma inibição eficaz da ovulação, reduzindo a dose hormonal total. Ensaios efectuados indicam que este regime apresenta uma boa eficácia contraceptiva com um controle de ciclo razoável, mas inferior ao obtido com a administração de uma associação de 20 µg de EE e 150 µg de DSG. Novos progestagéneos. A drospirenona (DPR), recentemente introduzida numa associação de 3 mg com 30 µg de EE, é um derivado da espironolactona com actividade progestagénica, antiandrogénica e antimineralocorticóide. Este efeito poderia contrariar a retenção de fluidos secundária à toma de COCs. Esta associação foi avaliada em ensaios comparativos com um COC contendo 30 µg de EE e 150 µg de DSG. A eficácia contraceptiva e o controle do ciclo foram semelhantes nos 2 grupos, bem como o tipo e incidência dos principais efeitos adversos relatados. Parece ter efeitos mais benéficos no peso corporal, mas a relevância clínica deste facto não está estabelecida. Também produz efeitos positivos no acne e seborreia mas que parecem semelhantes, nos ensaios comparativos, aos do DSG e acetato de ciproterona. Quanto ao risco de tromboembolismo, os dados disponíveis são escassos. Segundo a Agência Holandesa do Medicamento, foram relatados a nível europeu cerca de 40 casos de tromboembolismo venoso, 2 deles fatais. Desconhece-se, contudo, a taxa de incidência, o que não permite avaliar o risco comparativo com outros COCs. A actividade antimineralocorticóide da DPR pode acarretar o risco de hipercaliémia. Num pequeno estudo envolvendo 40 mulheres, a caliémia foi semelhante nas que tomaram um COC contendo DPR ou levonorgestrel. Os dados são insuficientes para avaliar as consequências nos níveis de potássio, recomendando-se precaução no uso concomitante com inibidores da enzima de conversão da angiotensina, antagonistas dos receptores da angiotensina II, diuréticos poupadores de potássio, heparina ou anti-inflamatórios não esteróides. As restantes precauções, contra-indicações e interacções são semelhantes às dos outros COCs. O dienogest é um progestagéneo, derivado da 19-nortestosterona, com actividade antiandrogénica. É utilizado em associação com o EE, numa formulação contendo 30 µg deste e 2 mg daquele. Parece ter boa eficácia contraceptiva e efeitos benéficos em alterações da pele e cabelo relacionadas com androgéneos, mas os dados existentes sobre ele na literatura são escassos. Desogestrel em “minipílula”. Os COs contendo apenas progestagéneo, também chamados minipílulas, apresentam uma eficácia inferior aos COCs, com maior incidência de irregularidades menstruais. São úteis, contudo, em mulheres com contra-indicações aos estrogéneos ou durante a amamentação, já que não afectam a quantidade e qualidade do leite materno. Foi recentemente introduzido um CO contendo como único componente o DSG a 75 µg, de toma diária contínua. Devido à sua baixa actividade androgénica, foi possível utilizar uma dose suficientemente elevada para inibir eficazmente a ovulação sem o desenvolvimento de efeitos androgénicos. Apresentou, em ensaios clínicos, uma boa eficácia contraceptiva, semelhante à dos COCs. Provoca os efeitos adversos típicos dos progestagéneos, como alterações no padrão menstrual, mais frequentes nos primeiros meses, cefaleias, acne, mastalgia e náuseas. O DSG não parece afectar a quantidade e qualidade do leite materno e é excretado nele em pequena quantidade. A sua administração durante a amamentação não parece afectar o lactente de forma adversa, havendo, contudo, descrição de casos de aumento transitório do volume mamário. IMPLANTE DE PROGESTAGÉNEO Os implantes são bastante eficazes, com particular utilidade quando há dificuldade na adesão a outros métodos, ou quando se deseja uma longa duração de acção; os seus principais inconvenientes prendem-se com perturbações do ciclo menstrual e aumento do peso corporal. O mais recente desenvolvimento neste campo foi um implante subcutâneo contendo 68 mg de etonogestrel (ETNG), o metabolito activo do DSG, libertado ao longo de 3 anos. Actua inibindo a ovulação e a proliferação do endométrio, e aumentando a viscosidade do muco cervical. A inserção do implante deve ser feita na face interna superior do braço não dominante, dependendo a altura de inserção da situação clínica. Em diversos ensaios efectuados, a eficácia contraceptiva foi excelente, não tendo ocorrido gravidezes durante a sua Março/Abril 2003 Novidades em contracepção hormonal Boletim do CIM Março/Abril 2003 duração (entre 2 a 4 anos). Após a remoção do implante, as concentrações plasmáticas de ETNG descem abaixo do limite de detecção em cerca de uma semana e há retorno da ovulação dentro de algumas semanas na quase totalidade das mulheres. Os principais efeitos adversos relatados referem-se a alterações menstruais, tais como sangramentos mais frequentes, prolongados ou, pelo contrário, hemorragias menos frequentes ou amenorreia. Com excepção desta, a incidência dos outros efeitos diminuiu após o primeiro trimestre de utilização. Outros efeitos adversos comuns foram acne, dor mamária, cefaleias e aumento de peso (1,5-2% / ano), podendo também ocorrer efeitos locais relacionados com a inserção e remoção do implante. A taxa de libertação do ETNG vai diminuindo progressivamente ao longo dos 3 anos e receia-se que, em mulheres com maior peso corporal, exista uma diminuição de eficácia contraceptiva no 3.º ano de utilização, com necessidade de substituição precoce do implante. A inserção e remoção do implante são geralmente rápidas, com uma baixa incidência de complicações. DISPOSITIVO INTRAUTERINO COM LEVONORGESTREL O dispositivo intrauterino (DIU) contendo levonorgestrel (LNG) permite a libertação deste progestagéneo directamente no útero. Este DIU, em forma de T, incorpora um reservatório que contém 52 mg de LNG e permite a libertação de 20 µg por dia ao longo de 5 anos. O seu efeito contraceptivo é consequência da acção progestagénica, que impede a proliferação do endométrio, provoca o espessamento do muco cervical e, nalgumas mulheres, inibe a ovulação em alguns ciclos, bem como dos efeitos locais do próprio DIU, que desencadeia uma reacção inflamatória. Possui uma boa eficácia contraceptiva, comparável à dos DIUs com cobre e COCs. A fertilidade parece ser retomada de forma rápida e completa após a remoção. Nos primeiros meses de utilização é comum que a frequência de hemorragia aumente, com perdas intermenstruais e hemorragias prolongadas. Após alguns meses, as perdas menstruais diminuem e cerca de 20% das utilizadoras têm amenorreia, o que, por outro lado, constitui uma causa frequente de abandono do método. Os efeitos adversos hormonais, tais como acne, dor mamária, cefaleias, alterações do humor e quistos ováricos funcionais (que geralmente desaparecem espontaneamente), diminuem também após alguns meses. Este método poderá ser vantajoso em mulheres com hemorragias abundantes, uma vez que diminui significativamente as perdas menstruais. Este facto, juntamente com uma melhoria na dismenorreia e uma diminuição no risco de gravidez ectópica, constituem vantagens relativamente aos DIUs contendo cobre. SISTEMA TRANSDÉRMICO Este sistema, recentemente desenvolvido, aplicado semanalmente nas primeiras 3 semanas do ciclo, liberta diariamente 20 µg de EE e 150 µg de norelgestromin, o metabolito activo do progestagéneo norgestimato. Na 4.ª semana do ciclo o sistema não é aplicado, o que permite que ocorra uma hemorragia de privação. A sua colocação deve ser feita no abdómen, nádegas, tórax (excepto seios) ou zona posterior externa do braço. Este sistema transdérmico apresenta uma eficácia semelhante à dos COCs. De entre as gravidezes relatadas nos ensaios efectuados, um terço ocorreu em mulheres com um peso corporal superior a 90 kg, o que pode indicar uma menor eficácia contraceptiva nesta população. O seu perfil de segurança e efeitos adversos parecem ser semelhantes aos dos COCs combinados, com excepção de uma maior incidência de dismenorreia e mastalgia e de reacções no local de aplicação. Nos ensaios efectuados, cerca de 5 % dos dispositivos destacaram-se do local de aplicação e tiveram de ser substituídos; contudo, um estudo efectuado em diversas condições de humidade e temperatura demonstrou que o sistema possui uma boa adesividade. A aplicação semanal pode constituir uma vantagem deste novo método. ANEL VAGINAL A administração por via vaginal de um método hormonal de contracepção foi recentemente conseguida através da utilização de um anel vaginal contendo EE e ETNG. Este anel flexível permite a libertação, a taxa constante, de 15 µg de EE e 120 µg de ETNG por dia, ao longo de 3 semanas de utilização, seguidas por uma semana de pausa durante a qual ocorre a hemorragia de privação. O anel pode ser removido temporariamente por um período não superior a 3 horas, mas não requer remoção durante o coito. Um estudo efectuado em mais de 2000 mulheres demonstrou que este é um método eficaz e que proporciona um bom controle do ciclo, com uma baixa incidência de sangramentos irregulares. Os efeitos adversos mais frequentemente relatados foram cefaleias, vaginite, leucorreia, acontecimentos relacionados com o dispositivo e aumento de peso. Algumas mulheres tiveram alterações na citologia cervical para achados anormais; desconhece-se se estas alterações estarão associadas ao uso do anel, parecendo, contudo, improvável. A utilização desta via pode apresentar vantagens, tais como facilidade de inserção e remoção pela utilizadora, a utilização de doses hormonais inferiores às utilizadas por via oral e, no caso do presente método, a aplicação mensal, que pode facilitar a adesão. Ana Paula Mendes Bibliografia • Cerel-Suhl S., Yeager B. Am Fam Phys, 1999; 60: 2073-84. • Kubba A. et al. Lancet, 2000; 356: 1913-19. • Baird D., Glassier A. Br Med J, 1999; 319: 969-72. • British National Formulary. Number 43. London, British Medical Association and the Royal Pharmaceutical Society of Great Britain, 2002. • Martinez F. Circ Farm, 2002; 60(1): 26-34 • Sullivan H. et al. Fertil Steril, 1999; 72: 115-20. • Anon. Drug Ther Bull, 2002; 40(8): 57-59. • Anon. Rev Prescr, 2002; 22(229): 410-413. • Anon. 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