“O pequeno rei e a estrela” (Edições Salesianas: Cdr Pa 5) Texto da montagem 1. Título 2. Magos Poucos sabem que todos os anos há um Rei Mago a quem aparece a estrela. Deve seguí-la, a fim de encontrar o mistério do Natal, precisamente como fizeram os três Magos há dois mil anos em Belém. 3. Pequeno Rei em casa Este ano toca ao Pequeno Rei. Está muito preocupado, porque sabe que no ano anterior o Rei Mago tinha sido capturado por alguns guerrilheiros; e o anterior se tinha perdido. 4. Olha para o céu Passa as noites frias de Novembro a espreitar o céu. Cada vez que vê alguma luz especial, o seu coração bate mais forte. A maior parte das vezes eram luzes de aviões que aterravam no aeroporto ali próximo. 5. Caixa com o dom Como os Magos, também o Pequeno Rei prepara o dom a oferecer. O seu dom era um formidável e flamejante rubi vermelho como o fogo. 6. Pequeno Rei e patrão Entretanto, o Pequeno Rei continua a exercer a sua profissão. Mas perde noites a olhar para o céu. Só que o seu patrão, homem severo e exigente, não o deixa dormir no trabalho. 7. Aparece a estrela Finalmente, numa terceira noite de Dezembro, a ansiada Estrela resplandece brilhante no céu. Então o Pequeno Rei corre a buscar o seu dom. Tira o carro da garagem e parte atrás da estrela. 8. Carro na estrada A Estrela deixa no céu um raio de luz e o Pequeno Rei segue-a fascinado. Interroga-se: “Serei o único a ver a Estrela? E será que os outros também a vêem? Mas hoje as pessoas andam apressadas e com pouca vontade de olhar para as estrelas!” 9. Nos semáforos Ao quarto semáforo, Pequeno Rei perde de vista a Estrela. Pára, espreita pela janela. Imediatamente sente gritar pelas costas: — Andas ou não andas? De que é que esperas? — Procuro a estrela. — Estás louco! Vai à fava tu e a tua estrela! Mexe-te! 10. Carro avariado Passados alguns quilómetros, Pequeno Rei volta a encontrar a Estrela e o seu coração ilumina-se de esperança. Atravessa países, cidades, rios, desertos... Mas num triste dia o automóvel teve uma grande avaria e exala o último suspiro. 11. Pequeno Rei na ponte Pequeno Rei não perde a coragem e prossegue o caminho a pé. Corre atrás da Estrela, mas esta anda mais depressa. Por isso, suspirando, vê a estrela a desaparecer no horizonte. Mas nem sequer desta vez perde o ânimo. 12. País estranho Caminhando, chega a um país estranho onde todos tinham medo. Muitos traziam máscaras antigás. Pelas estradas circulam carros armados e nos céus aviões da força aérea. Pergunta: — Vistes uma Estrela mais luminosa que as outras? Alguns respondem: — Nós não podemos olhar para as estrelas, porque há noite não saímos, temos medo! 13. Pequeno Rei interroga as pessoas Pequeno Rei continua a caminhar pelos países e cidades. A todas as pessoas que encontrava, perguntava: — Vistes uma grande e esplêndida Estrela? Quase todos abanam a cabeça a dizer que não. Alguns brincalhões respondem: — Se queres, dou-te uma martelada e verás milhares de estrelas! 14. Com rapazinho Um rapazinho diz-lhe: — Não vês que há estrelas por toda a parte? Pequeno Rei olha à sua volta e vê, efectivamente, milhares de estrelas de plástico e de papel penduradas nos enfeites das ruas e nas montras. Tinha-se esquecido que as pessoas festejam o Natal com estrelas fingidas, porque não são capazes de encontrar as verdadeiras. 15. Com crianças Pergunta a algumas crianças que estão a comprar as figuras para o presépio: — Vistes uma grande Estrela? Responde uma menina de tranças compridas: — Sim. Está na estante mais alta. Custa 500$00. — Mas eu falava de uma Estrela verdadeira, a Estrela de Natal! — Essa não serve para o presépio! 16. No bosque O Pequeno Rei disse para si: “Até as crianças fazem o presépio só para se divertirem!”. Sai da cidade e caminha através de prados e bosques. Está terrivelmente cansado e cada passo exige um horrível esforço. Finalmente, vê uma luz que sai de uma casinha de pedra e madeira. 17. Entra numa casa O Pequeno Rei bate à porta e pede hospitalidade. Diz-lhe um homem com um tom gentil e cordial: — Entra! E oferece-lhe um prato de sopa fumegante para ganhar forças e roupa para se agasalhar. O sorriso e a gentileza do homem encorajam o Pequeno Rei. 18. À mesa Diz-lhe: — Sabes que tenho de encontrar a minha Estrela. Tenho de anunciar o Natal e faltam já poucos dias! Suspirando amargamente, responde o homem: — Também eu há tempos procurava a Estrela. Agora já não. Não serve para nada. Esquece-a: não vale a pena. O Pequeno Rei espanta-se com aquelas palavras, mas decide que tinha de encontrar a Estrela. 19. Vê de novo a Estrela Agradece e parte. Lá fora é imediatamente envolvido por uma luz fulgurante. A Estrela está ali à sua espera. O Pequeno Rei retoma as forças, enquanto uma grande felicidade o inunda da cabeça aos pés. Agora sabe que poderá levar a termo a sua missão. 20. A Estrela pousa sobre os prédios Segue a Estrela, que pára na periferia de uma cidade, num prédio como tantos outros, com muitas antenas de televisão no telhado. O Pequeno Rei pensa: “O Natal é certamente aqui”. Prepara o seu dom e entra na porta principal. 21. Criança nas escadas Imediatamente, ouve a voz de uma criança: — Odeio-te! Não te falarei mais! É uma menina que está a sair, batendo com a porta e se senta num degrau da escada. Está amuada e com vontade de chorar. 22. Os três na escada Pouco depois, a porta abre-se lentamente. Sai uma criança com um grande e saboroso bolo na mão. Senta-se ao lado da menina. Pequeno Rei observa. A criança suplica: — Helena, perdoas-me? — Não, não posso. 23. Menino e menina Replica a criança: — Recorda-te que está a chegar o Natal. Jesus vem para trazer ao coração das pessoas mais amor e mais coragem para perdoar. Se não perdoas, não podes ter um Natal feliz! A menina levantou a cabeça e sorri: — Está bem, vou perdoar-te. Então a criança propõe: — Queres metade do meu bolo? 24. Pequeno Rei dá-lhe o presente A Estrela no céu resplandece com mais fulgor. O Pequeno Rei percebe que é o sinal. Aproximase das duas crianças e, sorrindo, diz: — Graças a vós, nesta casa há Natal. Porque Natal é Amor. E entrega-lhes o seu precioso dom. Apresentação da montagem aos animadores Esta montagem tem como fundo o relato dos magos. Recorrendo à imaginação, fala-se de um Rei que todos os anos, pelo Natal, tem de entregar um presente. Associada, está a perspectiva que as pessoas têm do Natal como tempo de presentes. O personagem central é o Pequeno Rei. É um homem vulgar, igual a tantos outros. Um homem comum que mais parece um não-herói. É “pequeno” quando todos os heróis costumam ser grandes. É um homem profundamente apaixonado pela sua missão. Ao ponto de não poucas vezes aparecer como “fora-de-moda”, como alguém que navega contra a corrente. Um homem que quer viver de acordo com o espírito do Natal apesar de todas as dificuldades, apesar de todas as incompreensões. É um homem diferente. Diferente porque sente dentro de si uma missão imperiosa, enquanto a maioria das pessoas reduz a sua vida a coisas banais. Diferente porque entende o Natal como realidade viva e interpelante enquanto a maioria reduz o Natal a uma festa de consumo. Um dos atractivos desta montagem é a constante tensão entre, por um lado, o imaginário do Natal, a sua positividade, a sua dimensão “utópica”, e, por outro, o confronto com uma série de realidades contemporâneas que não é habitual estarem relacionadas com o Natal. Patrões, trânsito, má-educação, poluição, violência, tensões familiares... são temas que habitualmente não aparecem no imaginário natalício. Mas precisamente por isso esta montagem é uma tão extraordinária abordagem ao Natal. Se o Natal é a festa da Incarnação, se é a comemoração do encontro de Deus com o concreto da nossa humanidade, então, qualquer reflexão sobre o Natal deve medir-se pela sua capacidade de colocar em confronto a mediocridade da nossa realidade concreta com a explosão de amor, gratuidade e “utopia” (“utopia” quer dizer “lugar que não existe”; a nossa tarefa é transformar o “Natal utopia” em “topia”, isto é, realidade bem presente no nosso quotidiano) que é o Natal.