Teoria e Práticas Pedagógicas

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Campus de Marília
Programa de Pós-Graduação em Educação
PROVA DISSERTATIVA – PROCESSO SELETIVO 2015
Linha 3 - TEORIA E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Da leitura dos excertos abaixo transcritos (traduções de Vygotski (2000) feitas
especificamente para a finalidade de elaboração das provas), redija sua dissertação conforme a
questão proposta ao final das citações.
“Cabe dizer, em geral, que as relações entre as funções psíquicas superiores foram antes relações
reais entre os homens. Me relaciono comigo mesmo como as pessoas se relacionam comigo. Da
mesma forma que o pensamento verbal equivale a transferir a linguagem ao interior do indivíduo, da
mesma forma que a reflexão é a internalização da discussão, assim também psiquicamente a função
da palavra, segundo Janet, só pode explicar-se se recorremos a um sistema mais amplo que o próprio
homem. A Psicologia primária das funções da palavra é uma função social, e se quisermos saber
como funciona a palavra na conduta do indivíduo, devemos analisar, antes de tudo, qual foi sua
função anterior no comportamento social dos homens.” (VYGOTSKI, 2000, p. 147).
“A linguagem, não obstante, é a função central das relações sociais e da conduta cultural da
personalidade. Por isso, a história da personalidade particularmente instrutiva e a passagem de
funções sociais a individuais, de fora para dentro, se manifestam aqui com especial evidência. [...]
Se olharmos para os meios de relação social, veremos que também os nexos humanos podem ser
duplos. Há entre os homens relações diretas e mediadoras. As diretas se baseiam na formas
instintivas, de movimentos e ações expressivas. [...] Toda a história das primeiras formas de contato
social na criança está repleta de exemplos [...]: o contato se estabelece por meio do grito, de
tentativas de segurar o outro pela manga, de olhares.
Em um nível mais superior do desenvolvimento aparecem as relações mediadas dos homens, cujo
traço fundamental é o signo graças ao qual se estabelece a comunicação.” (VYGOTSKI, 2000, p. 148).
“Cabe dizer, portanto, que passamos a ser nós mesmos através dos outros; esta regra não se refere
unicamente à personalidade em seu conjunto, mas à história de cada função isolada. Nisso funda-se
a essência do processo de desenvolvimento cultural expresso de forma puramente lógica. A
personalidade vem a ser para si o que é em si, através do que significa para os demais. Este é o
processo de formação da personalidade.” (VYGOTSKI, 2000, p. 149).
“Falamos apenas através de determinados gêneros do discurso, isto é, todos os nossos enunciados
possuem formas relativamente estáveis e típicas de construção do todo. Dispomos de um rico
repertório de gêneros de discurso orais (e escritos). [...] Esses gêneros do discurso nos são dados
quase da mesma forma que nos é dada a língua materna, a qual dominamos livremente até
começarmos o estudo teórico da gramática. A língua materna - sua composição vocabular e sua
estrutura gramatical – não chega ao nosso conhecimento a partir de dicionários e gramáticas mas de
enunciações concretas que nós mesmos ouvimos e nós mesmos reproduzimos na comunicação
discursiva viva com as pessoas que nos rodeiam.” (BAKHTIN, 2003, p. 282-283, grifos no original).
“[...] A diversidade desses gêneros é determinada pelo fato de que eles são diferentes em função da
situação, da posição social e das relações pessoais de reciprocidade entre os participantes da
comunicação [...].” (BAKHTIN, 2003, p. 283).
“Os significados lexicográficos neutros das palavras da língua asseguram para ela a identidade e a
compreensão mútua de todos os seus falantes, contudo o emprego das palavras na comunicação
discursiva viva sempre é de índole individual-contextual. Por isso pode-se dizer que qualquer palavra
existe para o falante em três aspectos: como palavra da língua neutra e não pertencente a ninguém;
como palavra alheia dos outros, cheia de ecos de outros enunciados; e, por último, como a minha
palavra, porque, uma vez que eu opero com ela em uma situação determinada, com uma intenção
discursiva determinada, ela já está compenetrada da minha expressão. Nos dois aspectos finais, a
palavra é expressiva mas essa expressão, reiteramos, não pertence à própria palavra: ela nasce no
ponto do contato da palavra com a realidade concreta e nas condições de uma situação real, contato
esse que é realizado pelo enunciado individual. [...]” (BAKHTIN, 2003, p. 294, grifos no original).
“[...] a experiência discursiva individual de qualquer pessoa se forma e se desenvolve em uma
interação constante e contínua com os enunciados individuais dos outros. Em certo sentido, essa
experiência pode ser caracterizada como processo de assimilação - mais ou menos criador – das
palavras do outro (e não das palavras da língua). Nosso discurso, isto é, todos os nossos enunciados
(inclusive as obras criadas) é pleno de palavras dos outros, de um grau vário de alteridade ou de
assimilabilidade, de um grau vário de aperceptibilidade e de relevância. Essas palavras dos outros
trazem consigo a sua expressão, o seu tom valorativo que assimilamos, reelaboramos, e
reacentuamos. [...]” (BAKHTIN, 2003, p. 294-295, grifos no original).
Elabore sua dissertação tendo como foco o papel da escola no ensino da linguagem verbal (levando
em consideração as ideias de Bakhtin (2003) acerca da natureza dos enunciados discursivos), de
modo que a instituição escolar possa contribuir para o desenvolvimento da personalidade do
educando (nos moldes como Vygotski (2000) o concebe).
- Dê um título a seu texto.
- Deixe claro, logo de início, qual é a ideia que vai defender.
- Elabore suas argumentações a partir das ideias trazidas pelas citações.
Referências
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: ______ BAKHTIN, M. Estética da criação Verbal. São Paulo:
Martins Fontes, 2003, p. 261-306.
VYGOTSKI, L. S. Génesis de las funciones psíquicas superiores. In: VYGOTSKI, L. S. Obras escogidas.
2.ed. Madrid: Visor, 2000, v.3, p. 139-168.
Boa prova!
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