Propriedades mecânicas e testes in vitro de filmes PVA-Própolis para uso em curativos. Renata N. Oliveira1,2*, Regis Rouze2, Bríd Quilty2, Garrett B. McGuinness2, Gloria D.A. Soares3, Rossana M.S.M. Thiré1 *[email protected], bolsista de doutorado do CNPq 1Laboratório de Biopolímeros, PEMM-COPPE-UFRJ, CP 68505, 21941-972, Rio de Janeiro, RJ 2Dublin 3Laboratorio City University, DCU, Glasnevin, D.9, Dublin, Ireland de Biomineralização, ICB-UFRJ, 21941-901, Rio de Janeiro, RJ Resumo Hidrogéis de PVA transparentes, que intumesçam em meios aquosos e com resistência mecânica suficiente, são bem estabelecidos para tratamento de feridas. Entretanto, essas membranas não apresentam efeito bactericida. A adição de própolis às membranas poderia preencher essa lacuna. O presente trabalho refere-se ao preparo de membranas de PVA-Própolis e à caracterização das mesmas. Todas as amostras intumesceram ~300% e apresentaram degradação entre 10-18% após imersão em PBS por 4 dias a 37°C. As amostras PVA-própolis liberaram ~12µg de própolis após 1h e foram mais resistentes mecanicamente que as amostras de PVA puro. Embora as amostras não sejam bactericidas, são barreira à penetração de bactérias. Palavras-chave: hidrogéis, PVA, própolis, ferida. Introdução Materiais e métodos Hidrogéis são redes poliméricas tridimensionais reticuladas, de polímeros hidrofílicos que intumescem em contato com meios aquosos mantendo a integridade estrutural.1 Hidrogéis de poliálcool vinílico - PVA têm sido usados no tratamento de feridas, uma vez que esses géis são biocompatíveis, biodegradáveis e transparentes, o que permite acompanhar o tratamento sem necessidade de frequente remoção dos mesmos (poderia causar danos a pele neoformada). Hidrogéis de PVA podem ser reticulados por criogelificação (reticulação física) apresentando resistência mecânica adequada para curativos, a qual deve ser no mínimo 0,13MPa.2 Em adição, são superabsorventes, ou seja, há manutenção de ambiente úmido, favorecendo o processo de cura.3 Entretanto, feridas são locais em que a presença de bactérias é recorrente, havendo chance de infecção. A incorporação de antibiótico às membranas de PVA poderia unir as propriedades dessas membranas ao efeito bactericida. Própolis, antibiótico natural à base de cera de abelhas, é comumente adquirido como solução alcoólica, que poderia ser incorporada aos géis de PVA. Vale ressaltar que a concentração mínima inibitória (MIC) de própolis para bactérias seria ~36µg/ml.4 O objetivo do presente trabalho foi o preparo e caracterização de hidrogéis de PVA-Própolis. Solução aquosa 10%PVA foi preparada (90°C, 4h, agitação mecânica), adicionou-se a quantidade adequada de própolis, (temperatura ambiente, agitação): 0, 1,5ml (180mg) ou 3,0ml (360mg) por placa (ϕ150mm) contendo 20ml da solução final. As amostras foram criogelificadas (12h a -18°C, seguido de 5 ciclos de: 30 min a temperatura ambiente/1h a -18°C) seguido de secagem. As amostras foram analisadas em quintuplicata via ensaio de intumescimento/degradação de acordo com a norma ISO 10993-5 por 4 dias a 37°C, sendo as amostras pesadas em intervalos regulares e após secagem. Obteve-se a quantificação de própolis liberado para o meio por espectroscopia UV-Vis e difração de raios-X foi usada para caracterização microestrutural. As propriedades mecânicas foram obtidas via ensaio de tração das amostras intumescidas. A análise estatística dos resultados obtidos utilizou 1wayANOVA e teste de Tukey. O ensaio bacteriológico foi realizado com as amostras intumescidas em placa de Agar, utilizando E. coli, gram (+) e S. aureus, gram (-). Para o ensaio de permeabilidade microbiana cobriu-se tubos de ensaio, contendo meio de crescimento, com as membranas por 1 mês. Utilizou-se o tubo aberto como controle positivo e o tubo lacrado como controle negativo. Painel PEMM 2013 – 04 e 05 de novembro de 2013 Resultados e discussão Tabela 1 - Resultados dos testes mecânico e in vitro. PVA 1,5 3,0 Intumescimento G.I.E. Deg. (%) (%) 339±41 11±4 312±18 16±2 310±32 18±5 Lib. 1h (µg) 0 11,9±0,9 13,5±0,6 Prop. Mecânicas E σF (kPa) (MPa) 0,3±1,4 1,8±1,4 3,7±1,4 6,7±3,4 3,5±1,5 5,7±3,0 No difratograma, Figura 1, observa-se um aumento da intensidade do pico de cristalinidade do PVA nas amostras com própolis. A adição de 1,5ml de própolis acarretou considerável aumento do pico de cristalinidade do PVA sendo observada apenas uma fase. A adição de 3ml de própolis acarretou diminuição do pico do PVA, se comparado com a géis contendo 1,5ml Própolis, e outro pico (2 = 11,5°) foi observado, provável separação de fase (PVA e própolis). O modulo elástico (E), bem como a tensão na ruptura (σF) das amostras com própolis foram significativamente superiores àqueles das amostras de PVA. Entretanto, não houve diferença relevante entre valores de σF e de E das amostras contendo 1,5ml e 3ml de própolis. Uma vez que a presença de própolis favorece a cristalização do polímero, as propriedades mecânicas também são favorecidas. Testes bacteriológicos qualitativos revelaram a ausência de halo de inibição nas placas de Agar para todas as composições, Figura 2. Embora as amostras não apresentem efeito bactericida, a assepsia da ferida poderia ser prévia à aplicação do curativo, sendo relevante o teste de penetração microbiana. O teste mostrou que todas as membranas são barreira a bactérias tanto gram (-) quanto gram (+). Painel PEMM 2013 – 04 e 05 de novembro de 2013 3ml Intensity Nas amostras intumescidas por 4 dias, observou-se que as mesmas atingiam o grau de intumescimento no equilíbrio (G.I.E.) em 1 dia, Tabela 1. A análise estatística (não mostrada) revelou que o grau de intumescimento no equilíbrio, bem como a degradação (Deg.), estão na mesma faixa para todas as composições. Através da análise de UVVis do meio de intumescimento foi possível atestar um pico de liberação após 1h de imersão, após a qual a liberação é praticamente nula. A análise estatística do máximo de própolis liberado (Lib.), ~12µg em 1h (valor inferior ao MIC), mostrou que a liberação das amostras contendo própolis foi significativamente maior que das amostras de PVA, como esperado, e que não houve diferença significativa entre a liberação nas amostras PVAprópolis. 1,5ml PVA 10 20 30 40 50 60 70 80 2 (°) Figura 1 - Difratograma das amostras de PVA e PVAprópolis. Figura 2 - (a) Placa de Agar - S. Aureus (b) ensaio de penetração microbiana. Conclusões Todas as amostras intumescem na mesma faixa, ~300%, e apresentam degradação entre 10-18%. As amostras contendo própolis apresentaram liberação "instantânea" (~12µg na primeira hora seguido de liberação praticamente nula). Em adição, a presença de própolis favorece a cristalização do polímero, o que justifica a melhoria das propriedades mecânicas do PVA na presença do fármaco. Embora não tenha sido observada ação bactericida, todas as membranas funcionam como barreira à penetração microbiana. Para efeito bactericida, provavelmente a incorporação de maior quantidade de própolis poderia ser eficaz, uma vez que os géis são efetivos na liberação do fármaco. Agradecimentos Agradecimentos a: CNPq, CAPES e FAPERJ. Referências [1] N.A. Peppas, P. Bures, W. Leobandung, H. Ichikawa, Eur. J. Pharm. Biopharm. 50 (2000) 27. [2] B. Singh, L. Pal, J. Mech. Behav. Biomed. Mat. 9 (2012) 9. [3] M. Kokabi, M. Sirousazar, Z.M. Hassan, Eur. Polym. 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