A FUNCIONALIDADE DO JOELHO COM ARTROSE Tânia Machado Matias¹; Msc. Ralph Fernando Rosas² Introdução: A artrose é uma doença de caráter inflamatório e degenerativo das articulações, marcada pelo desgaste das cartilagens que revestem as extremidades ósseas, causando dor e podendo levar a deformidades. Objetivo: Analisar o treino marcha na função dos joelhos com artrose. Materiais e Métodos: A população/amostra foi composta de um homem com diagnóstico de OA de joelho. Foi feito uma consulta inicial de avaliação, 10 consultas de um programa de treinamento e 1 consulta final de reavaliação. Foi usada a EVA para medir a dor e o questionário WOMAC, validado para a população brasileira. O programa consistiu em 40 minutos de esteira, sendo 10 para aquecimento e desaceleração ao fim. Resultados: A dor inicial era 1 e na reavaliação era 0,5 à EVA, resultando em uma melhora de 50%. Ao WOMAC, registrou-se uma pontuação de 1478 à avaliação e a pontuação de 464 à reavaliação; resultando em uma melhora de 68%. Conclusão: O exercício físico na esteira, em forma de caminhada, melhorou a dor da gonartrose no caso estudado. Recomenda-se realizar um estudo experimental que alcance amostra paramétricas para maior validade interna e posteriormente externa. Palavras-chaves: Osteoartrose, Exercício, Estudo de casos. 1 Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Unisul. Bolsista do artigo 170. E-mail: [email protected] 2 Professor do Curso de Fisioterapia da Unisul. E-mail: [email protected] Introdução A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a osteoartrose (OA) seja a causa de deficiência física em cerca de 10% da população acima de 60 anos. É a forma mais comum de artrite e se apresenta como a primeira causa de deficiência física crônica, acometendo mais frequentemente, joelhos e quadris (SHARMA; KAPPOR, 2006). Estudos radiológicos demonstraram que a prevalência da OA gira em torno de 5% em indivíduos com menos de 30 anos e, atinge 70% a 80% daqueles com mais de 65 anos. A incidência desta patologia aumenta com a idade, estimando-se atingir 85% da população até os 64 anos sendo que, aos 85 anos é ela universal (OMS, 2010). As articulações dos membros inferiores exercem papel importante na marcha humana e sabe-se que estão sujeitas a contínua sobrecarga imposta pela marcha. O estudo da marcha apresenta-se como uma ferramenta fundamental na tentativa de esclarecimento da relação existente entre os fatores biomecânicos na fisiopatologia da AO (SANTOS, 2010). Em função das incapacidades provocadas pela OA, a preocupação em relação à capacidade funcional vem emergindo como novo destaque para a estimativa da saúde desse segmento etário (RICCI;KUBOTA;CORDEIRO, 2005). Diversos fatores podem influenciar na capacidade funcional de indivíduos com OA de joelho, levando ao comprometimento funcional da capacidade para subir escadas, transpor obstáculos, levantar de cadeiras, ficar em péconfortavelmente e até mesmo andar. Esses comprometimentos, além de prejuízos aos cuidados domésticos, podem resultar em redução da aptidão física, aumento de comorbidades cardiovasculares e depressão (MARX et al., 2006). A mudança de direção ao se mover de frente para trás pode esta inserida na nossa rotina diária. Em atividades simples como sentar-se em uma cadeira, atravessar uma rua movimentada, afastar-se de algo, nas mudanças de direção da marcha, ao afastar-se de uma pessoa com quem se está conversando. Com o avanço da idade, a locomoção para trás pode tornar-se mais difícil de ser realizada prejudicando as atividades citadas anteriormente (MORAES, 1999). Diante disto, os estudos do andar para frente e para trás oferecem um potencial importante para expandir o entendimento das estratégias de controle do comportamento locomotor humano (PAULA, MAUERBER, COZZANI, 2006). Em um estudo controlado randomizado, participaram 25 pacientes com acidente vascular cerebral, alocados aleatoriamente em dois grupos, controle (n=12) e experimental (n=13). Ambos os grupos participaram de um programa de treinamento convencional de 40 minutos, três vezes por semana, durante três semanas. Sendo que o grupo experimental recebeu 30 minutos adicionais de treinamento de marcha para trás. O grupo experimental mostrou melhores resultados na velocidade de marcha, comprimento do passo e índice de simetria comparado ao grupo controle (YANG, YEA -RU, et al., 2005) O treino de marcha para trás pode ser benéfico não apenas para indivíduos após acidente vascular encefálico, mas seus benefícios podem estender-se a outras populações. Os estímulos proprioceptivos da marcha para trás, são diferentes daqueles obtidos com a marcha para frente e a musculatura envolvida trabalha de forma diferente da marcha tradicional para frente. Dessa forma, surge um problema: o treino de marcha melhora a dor e a função dos joelhos com artrose? Como mencionado, a prevalência de OA é alta na população acima de 60 anos e certamente um grande número de pessoas da nossa região da Amurel tem dor e disfunção decorrentes desta doença. Esta pesquisa conduzirá a um maior entendimento da inter-relação entre o papel do treino de marcha e as consequências da OA, buscando assim respostas e clareando para a ciência e até a sociedade se esse método de tratamento realmente pode ser uma ferramenta que os fisioterapeutas poderão usar no tratamento desta doença. Espera-se também que a pesquisa possa de alguma maneira impulsionar o uso do treino de marcha nos consultórios e outros locais de atendimento dos fisioterapeutas da região, ou no mínimo embutir essa ideia nos futuros profissionais que ainda estão em nossas fileiras tendo aula na Universidade. Tendo como objetivo Geral, analisar o treino marcha na função dos joelhos com artrose e como objetivos específicos, analisar a função dos joelhos com artrose ao questionário WOMAC (Western Ontário and McMaster Universities OA Index) antes e após a intervenção; analisar a dor dos joelhos com artrose antes e após a intervenção. Metodologia Este estudo é do tipo estudo de casos. Este estudo foi realizado na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade do Sul de Santa Catarina (CEFU). A pesquisa foi enviada para apreciação do Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Plataforma Brasil (RES. 466/2012). Todos os participantes serão informados sobre os procedimentos da pesquisa e assinarão um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A população/amostrafoi composta de um homem com diagnóstico de OA de joelho na lista de espera da CEFU. O paciente preencheu os seguintes critérios: → Inclusão: dor e/ou rigidez articular no joelho há pelo menos seis meses na posição em pé, dor e/ou rigidez articular e/ou crepitação articular durante movimentação passiva, edema crônico e sinais radiográficos de degeneração articular (portanto devem possuir r-x dos joelhos). → Exclusão: não apresentar afecção reumática sistêmica do tipo fibromialgia, gota, pseudogota, espondilite anquilosante e artrite reumatoide; cirurgias prévias dos membros inferiores nos últimos 4 anos, fazer uso de muletas ou bengalas para deambulação, índice de massa corporal que não seja grau III (obeso) ou apresentar condições que limitem ou incapacitem a realização das atividades propostas. Foi feito uma consulta inicial de avaliação, 10 consultas de um programa de treinamento e 1 consulta final de reavaliação. Foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados: esteira de rolagem da marca Embreex modelo 553SX para realizar o programa de treinamento, escala visual analógica (EVA) de dez centímetros para medir a dor, uma ficha de avaliação (descritas abaixo) e o questionário WOMAC, validado para a população brasileira (BELLAMY et al., 1998; FERNANDES, 2003). A EVA é uma linha reta e seu ponto inicial é representado por 0 cm o qual identifica que o indivíduo não apresenta dor ou nenhuma dificuldade nas AVDs e o ponto final por 10 cm quantifica a pior dor possível e a pior dificuldade possível (ou seja, não realizável). Será pedido à paciente para que a mesma faça um traço nessa linha no valor que corresponda à sua dor no dia da avaliação e da reavaliação (após 10 consultas). A ficha de avaliação contém itens relacionados a dados pessoais do paciente, como nome, gênero, data de nascimento, altura, peso e telefone para contato. O tópico avaliação abrangeu: queixa principal (para saber se a paciente tinha dor, edema, crepitação), história da moléstia atual (para saber a quanto tempo a paciente tinha os sinais e sintomas referidos: presença ou ausência de dor, rigidez ou edema), sinais radiográficos (examinados ao r-x) e doenças associadas (para saber se a paciente tinha as doenças reumáticas citadas nos critérios de exclusão). O questionário WOMAC, validado para a população brasileira, é composto por 3 domínios: dor (5 questões), rigidez articular (2 questões) e atividade física (17 questões), cujas questões devem ser respondidas de acordo com a percepção de dor, rigidez articular e nível de atividade física (funcionalidade) percebidas pelo voluntário nas últimas 72 horas. Os escores do WOMAC são apresentados em escala tipo Likert, na qual cada questão recebe um escore que varia de 0 a 4, distribuído da seguinte forma: nenhuma = 0; pouca = 1; moderada = 2; intensa = 3; muito intensa = 4 (BELLAMY et al., 1998; FERNANDES, 2003). Foi realizado um programa de treinamento de marcha de 10 consultas, com uma frequência semanal de três por semana com duração de 40 minutos, realizado sempre no horário de 18h00min (para minimizar possíveis alterações circadianas). Realizar-se-á marcha para frente na esteira citada. O paciente realizou o treinamento em velocidade confortável, escolhida pelas mesmas. Durante o treinamento, os sinais vitais foram aferidos. Os dados obtidos foram analisados por intermédio de estatística descritiva permitindo a análise do comportamento das respostas dos sujeitos da pesquisa com relação às variáveis analisadas. O programa a ser utilizado para a análise estatística será o StatSoftStatistica® v.10.0. Resultados A escala EVA inicial foi de 1 e na reavaliação, foi de 0,5, um equivalente a 50% de melhora. O questionário WOMAC registrou-se uma pontuação de 1478 à avaliação e na reavaliação foi de 464, constatando 68% de melhora. Na Tabela 1, encontram-se os valores de dor à EVA, referindo-se a possibilidade de dor nas últimas 72 horas. Tabela 1 – Descrição dos resultados para local da dor e a porcentagem de melhora. AVALIAÇÃO REAVALIAÇÃO % 1 0,5 50 1478 464 68 Dor WOMAC Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014). O paciente apresentou dor à EVA de 1 (um) cm à avaliação. Após as 10 (dez) consultas de exercício físico na esteira o mesmo apresentou dor à EVA de 0,5 (meio) cm à reavaliação; tal como se vê no gráfico abaixo. Gráfico 1 –Dor à EVA. . Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014). O paciente apresentou o escore do questionário WOMAC à avaliação de 1478. Após as 10 (dez) consultas de exercício físico na esteira o mesmo apresentou um escore de 464 à reavaliação; tal como se vê no gráfico abaixo. Gráfico 2 – Questionário WOMAC. Fonte: dados coletados pelo pesquisador (2014). Discussão Os resultados obtidos no presente estudo de caso demonstram presença de dor nos joelhos por gonartrose bilateral, impedindo a realização de várias atividades realizadas pelo paciente no dia-a-dia. As características da dor que predominaram foram: crepitação, fisgada, profunda e suportável, não havendo outras complicações e dores por outros membros do corpo, acrescentando então a tese de Santos (2010), que a sintomatologia da OA engloba dor, rigidez articular, deformidade e progressiva perda de função. Sendo a dor o principal sintoma da osteoartrose e esta piora com o movimento e ao final do dia, porém, em estágios mais avançados da doença, pode desenvolver-se ao repouso e durante a noite, podendo sucumbir em graves limitações funcionais e declínio da qualidade de vida dos idosos. O quadro clínico citado corresponde ao do paciente estudado. Segundo Santos (2010) ainda, a dor tem inicialmente caráter protocinético, evoluindo para dor aos movimentos e ao repouso, juntamente com a dor outros sintomas predominantes estão presentes, como edema, crepitação articular de instalação usualmente insidiosa com sinais flogísticos habitualmente leves, limitação funcional da amplitude de movimento articular que pode originar-se de uma contratura muscular, distensão da cápsula articular, inflamação, presença de corpos estranhos intra articular, deformidades com incongruência na superfície articular ou até por atitude antálgica. De acordo com estudos realizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), nos dias de hoje, entre as principais causas de incapacidade e de afastamento do trabalho, estão as doenças músculo esqueléticas como a OSTEOARTROSE, a OSTEOPOROSE e a LOMBALGIA, são as grandes responsáveis pelos maiores gastos em saúde pública. Os gastos, não apenas são quanto ao tratamento medicamentoso, mas sim, quanto a todas as ações impostas, corroborando com o presente estudo onde a gonartrose afeta direta e indiretamente o paciente em estudo. Em janeiro de 2000, na sede da OMS , em Genebra na Suíça , foi formalmente lançada a "Década do Osso e da Articulação - Movimento Articular 2000/2010", cujas principais finalidades são: Aumentar a conscientização da crescente importância das doenças músculo esqueléticas; Estimular a participação responsável dos pacientes em parceria com os profissionais de saúde , no contexto do seu tratamento; Promover a prevenção quanto ao surgimento e/ou agravamento das Doenças Músculo Esqueléticas através do conhecimento da doença; Aprofundar o estudo e o conhecimento através de pesquisa , a fim de melhorar o tratamento. Conclusão Enfatiza-se a importância da realização de mais estudos na área, como a coleta de dados mais específicos sobre a dor, com um número maior de indivíduos participantes, e que se possa acompanhar o quadro álgico de cada indivíduo, perdurando durante o tempo necessário para que se avalie a evolução e compreenda melhor a cura/prevenção da osteoartrose. Referências Sharma L, Kappor D. Epidemiology of Osteoarthritis In: Moskowitz, Altman RD, Hochberg MC, Osteoarthritis: Diagnosis And Medical Surgical Management. 4º ed. USA: Lippincott Williams & Wilkins, 2006. Organização Mundial da Saúde (2000-2010). Década do Osso e da Articulação Movimento Articular 2000/2010. Genebra: OMS. Santos DM. Análise Cinemática da Marcha em Indivíduos com Osteoartrose de Joelho. 2010. 133f. [Dissertação de Mestrado] Ciências do Movimento Humano. Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis (SC), 2010. Ricci NA, Kubota MT, Cordeiro RC. Concordância de observações sobre a capacidade funcional de idosos em assistência domiciliar. R. Saúde Públ. 2005;39(4):655-62. Marx, FC, et al. Tradução e validação cultural do questionário algofuncional de Lequesne para osteoartrite de joelhos e quadris para a língua portuguesa. R. bras. Reumatol. 2006;46(4):253-60. Moraes R. 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