ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO LEITEIRA

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO
DE 9 A 12 DE OUTUBRO
ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA PRODUÇÃO LEITEIRA DE
ALAGOAS: CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA DE LATICÍNIOS NO
SEMIÁRIDO
NADSON ALEXANDRE VASCONCELOS JÚIOR1
Resumo: A pesquisa investiga a organização espacial do setor lácteo, no semiárido alagoano,
considerando o período entre 1942 e 2012, sob a perspectiva teórica de combinações geográficas e
formação socioespacial. A cadeia de laticínios do semiárido de Alagoas organizou-se ao longo da
história estimulada pelo processo de urbanização, incorporando a especialização da bovinocultura
leiteira, infraestrutura urbana e tecnologia industrial, até consolidar a criação do polo da bacia leiteira
do estado. Entretanto, em 2010, a média dos índices de população urbana, IDHM, mortalidade
infantil, GINI e pobreza dos 17 municípios da região do polo leiteiro, apresentaram índices inferiores
aos de Alagoas, do Nordeste e do Brasil. A situação social da população alagoana, desde 1991,
obteve discretas melhorias, graças aos investimentos federais, porém, destacou-se em 2012 com os
piores índices socioeconômicos do País.
Palavras-chave: Alagoas; cadeia de laticínios; bacia leiteira.
Abstract: The research investigates the spatial organization of the dairy sector, in Alagoas semiarid
region, considering the period between 1942 and 2012, under the theoretical perspective of
geographical and socio-training combinations. The chain of Alagoas semiarid dairy was organized
throughout history stimulated by the urbanization process, incorporating the expertise of dairy cattle,
urban infrastructure and industrial technology, to consolidate the creation of pole of the state dairy
region. However, in 2010, the average urban population ratios, IDHM, infant mortality, Gini and
poverty of the 17 municipalities of the dairy polar region showed lower rates to those of Alagoas,
Northeast and Brazil. The social situation of Alagoas population since 1991, got slight improvements,
thanks to federal investments, however, stood out in 2012 with the worst socioeconomic indicators in
the country.
Key-words: Alagoas (Brazil); dairy chain; dairy basin.
1 – Introdução
O presente trabalho analisa a organização espacial da cadeia de laticínio do
semiárido alagoano, destacando os investimentos de infraestrutura urbana e a
incorporação tecnológica, que estruturaram a região da bacia leiteira, até a criação
do polo leiteiro do estado. Em sequência, avaliam-se as condições socioeconômicas
dos 17 municípios que compõem a região do polo da bacia leiteira de Alagoas.
A pesquisa está em desenvolvimento, a partir do conceitual teórico e
metodológico
do
materialismo
histórico-dialético,
através
das
teorias
de
combinações geográficas (CHOLLEY, 1964a; 1964b) e formação socioespacial
1
- Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Alagoas. Sob
orientação da Profa. Dra. Marta da Silveira Luedemann.
E-mail de contato: [email protected]
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(SANTOS, 1977). O estudo desenvolveu-se através do levantamento bibliográfico e
estatístico, realizado em instituições e sites governamentais. No primeiro semestre
de 2014, foram realizadas visitas e entrevistas na zona rural e em fábricas do setor
alimentício de Alagoas, para auxiliarem também nas discussões realizadas a seguir.
2 – Organização espacial do polo leiteiro no semiárido de Alagoas
A combinação produtiva da cadeia de laticínios do semiárido alagoano2
evoluiu no decorrer da história, estruturando-se através da convergência de
combinações geográficas, ligadas às condições físicas dos climas, rios, relevos,
solos etc.; condições biológicas dos tipos de bovinos, vegetações, leites etc.; e das
condições humanas, associadas aos investimentos tecnológicos – estatais e
privados, que possibilitaram a organização espacial do polo da bacia leiteira.
As atividades econômicas distribuem-se a partir da estrutura técnico-produtiva
expressa geograficamente no espaço, produzido historicamente (SANTOS, 1977, p.
82, 87). Portanto, as sociedades conseguem superar as adversidades, encontradas
no povoamento de uma região, ao longo da história, através da convergência das
combinações geográficas, considerando o estágio técnico e os fatores naturais que
configuram a base da produção econômica (CHOLLEY, 1964a, p. 141, 142).
Os 17 municípios da região do polo leiteiro, se distribuíram entre as
mesorregiões do Sertão e Agreste do semiárido alagoano do Nordeste, que segundo
Ab’Sáber (1999, p. 7, 10, 32) é caracterizada por uma combinação de fatores
ambientais, com baixos níveis de umidade, escassez de chuvas, precipitações
anuais desreguladas, carência hídrica, solos pobres – salinos e carbonáticos, rios
intermitentes, vegetação arbustiva-arbórea quase totalmente caducifólia – com
folhas miúdas e hastes espinhentas adaptadas aos efeitos da evapotranspiração.
2.1. Formação da bacia leiteira alagoana
A pecuária bovina iniciou-se no Brasil com os portugueses, no início da
colonização, com a importação de bovinos vacum e cavalar (SODRÉ, 1976, p. 122).
2
O termo combinação produtiva da cadeia de laticínios do semiárido de Alagoas, é sugerido a partir
do estudo da teoria de combinações geográficas de André Cholley (1964), para caracterizar o
processo de organização espacial do setor lácteo no semiárido alagoano.
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O gado introduzido nas capitânias hereditárias, geralmente era importado das ilhas
portuguesas do Atlântico, especialmente de Cabo Verde (VIANNA, 1967, p. 228).
Durante o período colonial a pecuária semiextensiva desenvolveu-se como
economia secundária, atendendo especialmente a monocultura canavieira e a
mineração. A cultura bovina gerou o povoamento das áreas de caatinga do Nordeste
(HOLANDA, 2008, p. 244, 245), através do avanço dos vaqueiros tangedores e
currais sobre as savanas do semiárido alagoano, na segunda metade do século XVI,
habitadas pelos índios nômades tapuai-kariri (LINDOSO, 2011, p. 19-24).
O cultivo de cana-de-açúcar e a pecuária semiextensiva se consolidaram
como as principais atividades econômicas do Sul da capitânia pernambucana (LIMA,
1992a, p. 35-46). A pecuária bovina leiteira, introduzida pelos colonizadores nas
primeiras décadas do século XVI (MADALENA, 2001, p. 75), desenvolveu-se nas
fazendas alagoanas como atividade de subsistência. O leite abastecia o consumo
familiar, através do seu consumo in natura ou com a fabricação de coalhada, queijos
etc. (CARVALHO, 1982, p. 128) e servia ao padrão alimentar europeu.
Na década de 1630, começou a ocupação holandesa na Capitânia de
Pernambuco, expandindo-se por boa parte do Nordeste, durante 24 anos,
estimulando o comércio e a urbanização. Nesse período, em 1636, surgiram os
primeiros municípios (distritos na época) no território da atual Alagoas: Porto Calvo,
Alagoas (Marechal Deodoro) e Penedo. Os holandeses acentuaram a produção de
açúcar no Sul da capitânia e, expandiram a pecuária para abastecimento interno
(LIMA, 1992, p. 71, 95, 99).
Em 1651, após a queda do domínio holandês, a economia pecuarista do
interior de Alagoas obteve avanços com os criadores baianos Ávilas, iniciadas na
região encachoeirada de Paulo Afonso. Entre 1658 e 1660, um grupo de
pecuaristas, ligados a esses criadores, receberam doações de terras e sesmarias
em áreas semiáridas (entre Alagoas e Pernambuco) banhadas pelos rios Capiá,
Tibiri, Traipu, Ipanema e São Francisco (LIMA, 1992, p. 74, 75).
A coroa portuguesa, através de uma Carta Régia, decretou em 1701 que os
rebanhos bovinos se afastassem 10 léguas do litoral e, se fixassem nas áreas da
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caatinga sertaneja pela cana-de-açúcar – esta, por sua vez, fixou-se nas terras
orientais do Nordeste, para atender o mercado externo (HOLANDA, 2008, p. 247).
Até meados do século XIX, a pecuária leiteira brasileira desenvolveu-se como
economia de subsistência, mantendo-se com poucas vacas de baixa produtividade
(MADALENA, 2001, p. 75). No final deste século, a bovinocultura de Alagoas ainda
era desenvolvida sem noção de veterinária, sendo praticada na área estabelecida
pela coroa portuguesa. Além disso, os animais sofriam com doenças e, os criadores
não sabiam cruzá-los para melhorar a produtividade (CARVALHO, 1982, p. 130).
Os investimentos governamentais, para atender a população do Nordeste
seco, giraram em torno de ações isoladas até o final do Período Imperial, no século
XIX, quando se iniciou as discursões e elaborações de políticas para o semiárido. As
obras iniciais contemplaram a construção de açudes próximos às cidades
sertanejas, em montantes de várzeas irrigáveis e nos boqueirões – os reservatórios,
porém, eram falhos na capacidade de abastecimento (AB’ SÁBER, 2008, p. 99).
O processo de construção dos açudes foi possível graças aos investimentos
realizados na construção das ferrovias e, com os gastos estatais na expansão da
rede rodoviária. A infraestrutura de transportes montada possibilitou a conexão de
quase todos os sertões do Nordeste seco (AB’SÁBER, 2008, p. 99). Desde o
período colonial, os meios transportes dinamizaram as cidades, organizando o
processo de urbanização de Alagoas, que ocorreu em três fases: a da navegação
fluvial e marítima, a das ferrovias e a das rodovias (CORREA, 1994, p. 2-9).
A rede de transporte ferroviário e, principalmente o sistema rodoviário,
desempenham um papel fundamental na organização regional, através do processo
de urbanização e das relações comerciais. Portanto, as regiões são organismos
vivos e evolutivos, criadas pela sociedade (GEORGE, et al, 1966, p. 285-298).
2.2. Industrialização e especialização produtiva da bacia leiteira de
Alagoas
Nas primeiras décadas do século XX, Delmiro Gouveia realizou avanços na
atividade pecuarista do Nordeste, na região de Paulo Afonso, ligadas a ampliação no
uso da palma forrageira, no melhoramento produtivo da pecuária leiteira – através
da introdução do gado holandês (ROCHA, 1963, p. 100). Suas ações também
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contemplaram a construção da primeira hidroelétrica e das estradas de rodagem, até
Santana do Ipanema, ligando os municípios de Água Branca, Palmeira dos Índios,
Quebrangulo, Garanhuns e Bom Conselho. Entretanto, na década de 1930, a
bovinocultura alagoana ainda era realizada com técnicas do período colonial
(COSTA apud CARVALHO, 1982, p. 132; LIMA, 1992, p. 139).
As novas combinações geográficas3 (CHOLLEY, 1964a), associadas ao
melhoramento genético e alimentar dos animais, a incorporação de máquinas e, o
aumento da urbanização geraram a industrialização do setor lácteo da região da
bacia leiteira, na década de 1940, durante o fim da crise capitalista internacional.
Em 1942, foi criada a primeira indústria e cooperativa de laticínios, na região
da bacia leiteira, no município de Pão-de-açúcar. No entanto, sua instalação
aconteceu com mais do dobro do valor necessário, tendo adquirido máquinas velhas
e ultrapassadas. As fábricas com melhor tecnologia e produção, criadas durante
essa década, abasteciam-se com o leite de gado holandês puro e mestiço (com
nelore), ordenhado duas vezes ao dia, sendo criado em regime de semiestabulação, alimentado com palma forrageira e caroço de algodão, dando uma
média diária de 8 litros. Contudo, os laticínios enfrentavam problemas estruturais,
tecnológicos, hídricos e sanitários; tal situação não impedia algumas empresas de
comercializarem seus produtos nos estados vizinhos (ANDRADE, 1990, p. 100-141).
Ainda na década de 1940, após a Segunda Guerra Mundial, o processo de
urbanização de Alagoas incorporou as rodovias, que aumentaram a ligação do
estado com o Nordeste e, estabeleceu contatos diretos com os grandes centros
urbanos do Sudeste, Rio de janeiro e São Paulo. Nesse período, a antiga cidade
‘ponta de trilhos’, Palmeira dos índios4, ampliou a sua rede rodoviária, exercendo a
função de capital do Agreste e porta do Sertão (CORREA, 1994, p. 7).
A cidade estrutura a vida regional, através das combinações geográficas
(CHOLLEY, 1964b, p. 274). Portanto, a região organiza-se em torno de um recorte
3
As combinações geográficas nascem, evoluem e morem de acordo com as condições ambientais e
sociais de cada região (CHOLLEY, 1964a, p. 143). Portanto, “cada combinação de forma espacial e
de técnicas correspondentes constitui o atributo produtivo de um espaço, sua virtualidade e sua
limitação. A função da forma espacial depende da redistribuição, a cada momento histórico”
(SANTOS, 1977, p. 89).
4
A mais antiga cidade da região da bacia leiteira, segundo o PNUD (s/d), fundada em 1835.
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espacial polarizado, de acordo com condições naturais e históricas; sendo definida
essencialmente pela: organização em torno de um ou mais centros urbanos dotados
de certa autonomia, as condições socioeconômicas existentes entre seus habitantes
e, a integração funcional com a economia global (GEORGE, et al, 1966, p. 284-288).
Entre 1951 e 1956, a cidade de Palmeira dos Índios recebeu uma nova
rodovia, a BR-316, que ampliou o contato e a comercialização dos produtos entre
Agreste e o Sertão alagoano, com a capital (LIMA, 1992, p. 147). Durante essa
década, muitos produtores da bacia leiteira destacaram-se com a maior
produtividade por vaca do país. Entretanto, os fazendeiros não utilizavam todo o seu
potencial, pois boa parte deles não achava utilidade para o leite produzido. Mesmo
diante dessa situação, os investimentos produtivos continuaram, com a compra de
gado reprodutor holandês e, no aumento da área plantada de palma forrageira,
através de investimentos do Governo Federal5 (ANDRADE, 1990, p. 76, 77, 100).
Na década de 1960, as cidades de Palmeira dos Índios e Santana do
Ipanema desempenhavam funções urbanas importantes, através da distribuição de
produtos entre alguns municípios agrestinos e sertanejos de Alagoas (CORREA,
1994, p. 7-9). Diante do processo de urbanização, a Companhia de Eletricidade de
Alagoas (Ceal), fundada em 1961, em convênio com o Governo Federal,
promoveram importantes investimentos na eletrificação dos municípios da região da
bacia leiteira, entre 1961 e 1963 (LIMA, 1965, p. 275-279).
No âmbito do Nordeste, durante as décadas de 1960 e 1970, os laticínios
ampliaram o desempenho técnico, com máquinas e equipamentos importados.
Entretanto, a maioria das empresas enfrentavam problemas ligados à insuficiência
em investimentos, escassez de matéria-prima na entressafra, concorrência
comercial, edificações inadequadas etc. (LIMA, et al, 1975, p. 383, 402, 441).
Entre 1971 e 1978, a região da bacia leiteira do semiárido alagoano
permaneceu recebendo importantes investimentos rodoviários. As obras foram
5
Entre 1950 e 1960, os laticínios do Nordeste usavam tecnologia variável. As indústrias que
possuíam um razoável capital financeiro disputavam a comercialização de seus produtos com as
pequenas fábricas artesanais, detentoras de um baixo poder de competição. Ao logo dessas décadas
Alagoas perdeu 11 laticínios, dos 32 que possuía (IBE-DECEN apud LIMA, et al, 1975, p. 381, 382,
384). Em 1965 e 1966, os laticínios da região da bacia leiteira alagoana sofriam com os baixos preços
do leite, ausência de financiamentos, falta de higiene, deficiência técnica e hídrica etc. Diante dessa
situação, a maioria dos produtores realizava uma ordenha por dia (ANDRADE, 1990, p. 142-152).
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fundamentais para dinamizar as relações com as cidades e os centros comerciais da
época (LIMA, 1992, p. 148). Durante as décadas de 1970 e 1980, a bacia leiteira
atingiu seu auge, chegando a ser a mais produtiva do Nordeste6 (BNB, s/d).
No início da década de 1990, a tecnologia industrial dos laticínios brasileiros
concentrava-se nas grandes empresas, com poucas fábricas produzindo leite longa
vida (MADALENA, 2001, p. 79, 80). Nesse período, o setor lácteo sofreu mudanças
inesperadas, ligadas ao fim do tabelamento do preço do leite, a internacionalização
da economia, o surgimento do Mercosul (GOUVEIA; PRADO; CARNEIRO, 2000, p.
16, 20), e a estabilização do preço da moeda, em 1996, que manteve as altas
importações, ampliou a competição na compra e venda do leite e derivados, reduziu
os lucros, aumentou os custos produtivos etc. (MADALENA, 2001, p. 81).
As políticas realizadas, durante a década de 1990, inibiram os investimentos
econômicos industriais, regionais e nacionais (CARVALHO, 2012, p. 64). No
entanto, a produção leiteira de Alagoas atingiu o seu auge produtivo em 19977,
ultrapassando a média brasileira, mesmo tendo muitas indústrias com baixo nível
técnico e, sem controle sanitário do leite produzido nas fazendas. Das 49 fábricas do
estado, as que conseguiam disputar mercado com as multinacionais eram apenas
os laticínios São Domingos, a nível regional, e a Valedourado S/A, a nível regional e
nacional (IBGE-SIDRA, s/d; GOUVEIA; PRADO; CARNEIRO, 2000, p. 9, 20, 40, 41).
A cadeia de laticínio do estado foi fortalecida, em 2001, com a criação da
Cooperativa de Produtores de Leite de Alagoas (CPLA), que buscou melhorar os
rendimentos e aumentar a integração no processo produtivo, dos pequenos e
médios produtores de leite e, das pequenas indústrias (MONTEIRO, 2012, p. 25).
Entre 1998 e 2003, o Banco do Nordeste financiou a criação do polo da bacia
leiteira, em uma área de 5.053,2 km², objetivando o desenvolvimento regional, em
6
Na década de 1970, as regiões produtoras das bacias leiteiras nordestinas, localizavam-se nos
centros urbanos, pela acessibilidade dos serviços. O gradual melhoramento das rodovias e da
tecnologia dos transportes possibilitou a captação da matéria-prima em áreas distanciadas,
favorecendo a localização das indústrias diante do mercado consumidor (LIMA, 1975, p. 387).
7
Um ano antes, em 1996, os 11 municípios da bacia leiteira, tiveram o maior número de vacas
ordenhadas, entre o período de 1974 e 2009, apresentando um aumento de 221% (com 70.803
vacas), em relação ao ano de 1974 (com 22.080 vacas). O município de Batalha concentrou o maior
rebanho da região, com 23.122 vacas, no ano de 1996, (com 30,62% do total) (IBGE-SIDRA, s/d).
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17 municípios do semiárido alagoanos, com condições naturais e potencialidades
socioeconômicas parecidas (CARNEIRO, 2005, p. 13, 62, 88; BNB, s/d).
No ano de 2005, o semiárido do país foi redelimitado pelos antigos 1.031
municípios, mais 102, totalizando 1.133 municípios, com uma área de 969.589,4
km². Na nova demarcação, feita pelo Ministério da Integração Nacional, Alagoas
passou a ter 38 municípios, três a mais do que na antiga área estabelecida pela
Sudene. A redemarcação do semiárido pretendeu estimular a economia e, diminuir
as desigualdades regionais, com políticas de crédito e benefícios fiscais. Além disso,
os produtores do Pronaf tinham à disposição crédito com juros de 1% ao ano, com
prazo de pagamento de até 10 anos e 3 anos de carência (MI, 2005, p. 1-6).
Os dados do Censo agropecuário do IBGE, para Alagoas, revelam que o
efetivo de bovinos (corte e leite) aumentaram 71,61%, de 1970 para 19958, enquanto
que a produção de leite bovino in natura aumentou 338,03% - associados ao
aumento da urbanização. Entre 1995 e 2006, porém, os bovinos apresentaram
quedas de 8,48% nos rebanhos (corte e leite) e 7,70% na produção de leiteira,
decorrentes de mais um período de seca. Observar a figura 1.
1200000
Quantidade
1000000
800000
600000
400000
200000
0
1970
1975
1980
1985
1995
2006
Bovinos (Cabecas)
483180
639596
829232
755992
968462
886244
Leite de vaca (Mil litros)
38876
62781
87804
110022
188172
173681
Figura 01 – Bovinocultura em Alagoas – 1970 - 2006
Fonte dos dados: IBGE/SIDRA/ Censo Agropecuário – Acessado em abril de 2013.
Elaborado pelo autor
O Governo Federal criou o Programa de Aceleramento do Crescimento
(PAC), em 2007, objetivando estimular a economia, através de investimentos em
infraestrutura urbana e serviços básicos. O estado de Alagoas, até o ano de 2010,
8
Entre esses períodos, porém, em 1985 os rebanhos diminuíram, por causa de uma seca.
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recebeu do PAC 1 cerca de R$ 13 bilhões, investidos em obras de infraestrutura de
transporte, habitação, abastecimento hídrico e elétrico etc. (SENAI, s/d, p. 31-34).
Os indicadores sociais alagoanos tiveram discretas melhorias, entre 1991 e
2010, graças aos investimentos federais. Em 2010, a média dos índices de
população urbana, IDHM, mortalidade infantil, GINI e pobreza, correspondente a
uma população de 330.308 habitantes, dos 17 municípios da região deprimida9 do
polo leiteiro, foram piores do que os indicadores de Alagoas, do Nordeste e do Brasil
(PNUD, s/d). A situação social dos municípios da bacia leiteira possui relação direta
com a condição política coronelista e latifundiária da região, estruturada no
paternalismo dos maiores fazendeiros produtores de leite (MDA, 2011, p. 19, 20).
Em 2012, a bacia leiteira alagoana era constituída por 11 municípios: Batalha,
Belo Monte, Cacimbinhas, Jacaré dos Homens, Jaramataia, Major Isidoro, Minador
do Negrão, Monteirópolis, Olho D’Água das Flores, Palestina e Pão de Açúcar
(MDA, 2011, p. 17); desses, 10 municípios, exceto Palestina, mais Dois Riachos,
Estrela de Alagoas, Igaci, Olivença, Palmeira dos Índios, Santana do Ipanema e São
José da Tapera formavam o polo leiteiro de Alagoas (BNB, s/d). Observar a figura 2.
Figura 02 – Municípios que compõem a bacia leiteira e o polo leiteiro do Estado de Alagoas - 2012
Fonte dos dados: MDA (2011) e BNB (s/d) – Acessado em abril de 2013
Organização feita pelo autor
9
Região com condições de desenvolver-se, entretanto, ela é inferiorizada pelas insuficientes políticas
governamentais (George, et al, 1966, p. 324).
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A média do valor adicionado dos 17 municípios da região deprimida do polo
da bacia leiteira atingiu, no ano de 2012, R$ 1.680.240 bilhão de reais (desse valor,
foram gerados 8,15% pelas atividades agropecuárias, 14,73% pela indústria e
77,13% pelo setor de serviços) enquanto que o estado atingiu R$ 26.374.919 bilhões
de reais. O PIB total dos municípios do polo leiteiro alcançou R$ 1.781.544, ou seja,
6,03% dos R$ 29.544.708 do PIB de Alagoas (SEPLANDE, s/d).
Endividado desde o início da década de 1990, o Estado de Alagoas não
possuía condições financeiras para investir em obras de infraestrutura, em 2012,
sendo inteiramente dependente das verbas federais10. Os investimentos do Governo
Federal em Alagoas, entre 2011 e 2014, através do PAC 2, foi orçado em torno de
R$ 958,90 bilhões de reais, para a continuação e implantação das obras, com
destaque
para
a
rede
de
transportes,
esgotamento
sanitário,
programas
habitacionais, abastecimento elétrico e recursos hídricos – esses últimos,
objetivando combater a seca, através de poços, cisternas, adutoras e do canal do
Sertão, beneficiando cerca de 237 mil pessoas, apenas com a adutora da bacia
leiteira (SENAI, s/d, p. 31; SEPLANDE, 2014, p. 37).
3 – Considerações finais
Em 2012, a produtividade das vacas do polo da bacia leiteira, superava a
media do país. Entretanto, poucas fazendas ordenhavam mecanicamente os
animais. Os cerca de 2.500 produtores dessa região, abasteciam as capitais do
Nordeste e algumas do Sudeste com os derivados lácteos, gerando em Alagoas
cerca de 25.000 empregos diretos (BNB, s/d). Muitos pequenos produtores eram
auxiliados com políticas federais, como a do Programa do Leite, que comprava o
leite, para distribui-lo entre as famílias carentes alagoanas (MONTEIRO, 2012, p.25).
Durante esse ano, o setor lácteo do semiárido alagoano sofreu perdas
produtivas, por causa dos efeitos da seca (MONTEIRO, 2012, p. 25). Situação
comprovada no início de 2013, com a pesquisa de campo no laticínio Valedourado
S/A, um dos mais produtivos, localizado no município de Palmeira dos Índios-AL.
10
A dívida pública com a União, iniciada em 1989 pelo governo estadual, através da isenção de
impostos aos usineiros, impossibilitou o Estado de financiar e administrar suas obras infraestrutura
(CARVALHO, 2012, p. 8, 9, 48, 49).
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Mesmo com os problemas econômicos e climáticos enfrentados pela cadeia
de laticínios de Alagoas, em 2012, o setor lácteo destacou-se em segundo lugar, no
ramo agroindustrial, perdendo espaço somente para o setor sucroalcooleiro.
Os índices sociais, apresentados pelos 17 municípios da região deprimida do
polo leiteiro e, pelo restante de Alagoas, possui relação direta com o seu modelo
econômico agrário predominante. Os aspectos semifeudais, herdados do período
colonial, refletem-se na condição socioeconômica da população. O atraso crônico da
economia só será vencido se forem superados os maiores problemas: a falta de
polos dinâmicos, a ausência de um mercado interno e, as dificuldades financeiras
(CARVALHO, 2012, p. 9, 23; GUIMARÃES, 1989, p. 202, 203; PNUD, s/d).
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