Relatório Do Grupo De Saúde Indígena Nossa primeira visita foi ao Centro de Saúde da Família. Fomos e voltamos de ônibus para conhecer a rotina da maioria dos usuários que frequentam o local. Chegando lá, fomos recebidos pela enfermeira coordenadora da unidade que nos apresentou o posto e as atividades que são realizadas no local. Como chovia não foi possível acompanhar as visitas domiciliares das ACS’s, mas pudemos conversar com elas e entender um pouco da importância e das dificuldades do trabalho, tanto na rua como no relacionamento com os demais funcionários da unidade. Conversamos com o NASF (Núcleo de Apoio a Saúde da Família) esse núcleo é composto por um profissional de Educação Física, uma Nutricionista, uma Assistente Social, um Psicólogo e um Fisioterapeuta. Eles trabalham em conjunto para dar apoio ao Centro de Saúde, auxiliando nos atendimentos e em grupos de necessidades. Há pouco tempo desenvolveram um grupo de desenvolvimento humano (GDH), sendo compartilhado problemas com outras pessoas, para que possam olhar para si mesmo e resolverem as suas dificuldades internas. O C.S.F. Sul, conta também com uma farmácia de Referência, que atendem à sete Unidades da região sul do município de Chapecó. Nesta trabalham, a farmacêutica, duas técnicas de enfermagem como atendente e uma estagiária do curso de farmácia. São distribuídos medicamentos de uso contínuo, benzodiazepínicos entre outros, que estão relacionados na lista de medicamentos da rede SUS. A Farmacêutica trabalha também com os processos Judiciais de medicamentos do município e região. O armazenamento e o acondicionado são organizados conforme a necessidade de cada medicamento. O estoque no momento da vivência estava razoável, pois segundo a responsável as licitações iniciam-se após o carnaval e assim esperavam que dentro de pouco tempo voltassem a trabalhar com um número normal de medicações para a distribuição aos usuários. Há também uma preocupação com o uso contínuo de certas medicações que vem sendo substituídas na medida do possível por similares, para alternar o tratamento dos pacientes. Na falta de medicamentos nesta farmácia, os pacientes são orientados e encaminhados para a farmácia central com um bilhete assinado e carimbado pela farmacêutica responsável indicando o nome do paciente, a medicação e a quantidade a ser entregue ao mesmo. Fomos bem recebidos em todos os ambientes e pudemos perceber um pouco sobre a realidade de cada um dos profissionais da atenção básica. Percebemos que eles trabalham com amor, gostam do que fazem, mas em alguns momentos também percebemos que eles estão desgastados, seja pela burocracia, seja pela dificuldade de relacionamento entre os profissionais que atuam no posto. Este fato é um ponto a ser melhorado, pois isso acaba minando a vontade de estar ali e realizar a importante função que todos têm para a comunidade. Na terça-feira pela manhã fomos visitar a Aldeia Condá localizada no interior de Chapecó-SC. Nesta visita foi possível conhecer a Unidade Básica de Saúde (UBS) situada na própria aldeia. O cacique nos levou até o local, onde estava um enfermeiro, um médico, uma dentista, agentes comunitários de saúde e uma auxiliar de dentista. Satisfatoriamente, os agentes comunitários e a auxiliar de dentista são indígenas e moradores da própria aldeia. Desta forma, inicialmente, fomos recepcionados e ouvimos sobre o funcionamento desta unidade básica. O enfermeiro e o médico nos explicaram como seus respectivos trabalhos se procedem, nos elucidando que esta UBS realiza o trabalho da mesma forma que as outras. Assim, nela acontecem os atendimentos médicos, também são realizados preventivos e acompanhamento das gestantes indígenas. A dentista vai até o local duas vezes por semana para fazer os seus atendimentos odontológicos. Foi-nos explicado que quando há a necessidade de outro profissional de saúde realizar algum trabalho com algum indígena, este último é encaminhado para uma unidade da cidade. Existe um carro oferecido pela SESAI que está à disposição 24 horas para que se possam levar os pacientes até a cidade. Em relação aos medicamentos, o enfermeiro nos informou que existe uma carência de remédios na unidade, mas que sempre fazem o possível para que seja fornecido aos indígenas o que for necessário. Informaram-nos ainda que, no momento, estavam realizando visitas domiciliares para os recadastramentos e também para acompanhamento dos tratamentos. Após a conversa, foi-nos permitido visitar a UBS por dentro, assim, conhecemos a sala dos medicamentos, a sala da criança, a sala dos procedimentos médicos e do enfermeiro e a sala da dentista. Foi possível notar algumas dificuldades e necessidades de equipamentos e espaço para um melhor atendimento dos colaboradores, contudo, ao que possuem, são muito organizados para que os indígenas possam ter uma melhor qualidade de vida, promovendo ações de recuperação e proteção da saúde do mesmo. Na tarde do dia 16/02 visitamos o polo administrativo da Secretaria Especial da Saúde Indígena (SESAI), que, junto ao SUS, promove atenção à saúde e educação indígena. O polo da SESAI de Chapecó é responsável pela parte administrativa, armazenamento de medicamentos e materiais que serão destinados às áreas indígenas. Nessa base também abriga informações de saúde das aldeias (doenças, epidemiologia), junto com a organização de campanhas de vacinação. Cerca de 1400 pessoas são assistidas pela SESAI da região, divididas em quatro aldeias: Toldo Chimbangue e sua vertente Toldo Guarani, Kondá e Toldo Pinhal. Durante a vivência no Hospital da Criança, o grupo foi informado sobre o funcionamento desde a entrada dos pacientes, conhecendo todos os setores e locais de procedimento. Há um tempo atrás, o mesmo era tido como uma ala infantil do Hospital Regional, agora é considerado como referência tratando-se de saúde infantil. Contudo, pode ser afirmado que nesse ambiente os profissionais possuem um bom relacionamento interpessoal, consequentemente, oferecendo um ótimo atendimento, seguindo as políticas do Sistema Único de Saúde, entre elas a Política Nacional de Humanização, que muito contribui para que se tenha a prestação de um serviço de excelência. Na quinta-feira de manhã fomos visitar a Casa de Passagem João Piltz localizada do centro de Chapecó – SC. Na visita fomos recebidos pela assistente social, pela coordenadora e pela enfermeira. Inicialmente fomos encaminhados para uma sala para que pudéssemos conversar. As colaboradoras nos explicaram que a Casa de Passagem anteriormente era um albergue onde as pessoas iriam somente para dormir e não havia atendimento técnico. Em 2013, a mesma teve que se adaptar e se organizar como Casa de Passagem. Segundo elas, a casa é administrada pela Ação Social Diocesana e funciona 24 horas. O atendimento é feito a população em situação de rua, migrantes e pacientes oncológicos que estão em tratamento, sendo que a idade varia entre 18 a 59 anos, no entanto, famílias também são atendidas. Os mesmos permanecem na casa em torno de 30 a 60 dias, porém, caso exista a necessidade, é possível ficar por mais tempo. Na casa trabalham 16 colaboradores entre psicóloga, enfermeira, assistente social, cuidadoras, monitores, vigias, cozinheiras, entre outros. A Casa realiza um trabalho de proteção social de alta complexidade, pois trabalha com acolhimento. O atendimento técnico é realizado pelas profissionais e são organizados em equipe, desta forma, são realizadas escutas qualificadas, orientações, trabalhos em grupo, etc. Em relação à população indígena, os mesmo são recebidos na casa e, segundo as colaboradas, geralmente vão somente para se alimentar, porém, muitos dormem na casa também. Estes são provenientes de outras cidades e vem para a região para comercializar seu artesanato. Na conversa também foi abordada a questão da invisibilidade e o acesso aos direitos destas pessoas que se encontram em situação desfavorável. Após a conversa, foi permitido que visitássemos a casa. A mesma é divida para que comporte os pacientes oncológicos e a população em situação de rua. Nossa última visita foi ao projeto Fitoterápicos Rosa. Fomos conhecer o trabalho de quem promove a saúde de uma maneira mais holística, atuando tanto no tratamento curativo como preventivo através da manipulação de plantas medicinais. Mais uma vez encontramos um ambiente receptível, que conta com o envolvimento de muitas pessoas da comunidade para a manipulação e preparo dos “remédios”. Participamos do preparo de sal de ervas, de comprimidos e da destilação de plantas coletadas antes da nossa chegada ao local. Era um dia de mutirão que reuniu vários integrantes da comunidade local para realização das diversas tarefas. Todos trabalham gratuitamente nesse dia. Os “remédios” também são distribuídos gratuitamente conforme a necessidade das pessoas que os procuram. Na nossa visão, um ponto a ser melhorado é o fraco vínculo do trabalho realizado no Projeto, e desse tipo de abordagem, com o SUS. As práticas complementares poderiam ser mais exploradas concomitantemente com o trabalho realizado tanto na atenção básica como em hospitais, sem o intuito de substituir, mas complementando o tratamento, especialmente pela capacidade de despertar novas formas de enxergar o processo de tratamento.