RETRATO DO QUADRO SÓCIO-ESPACIAL E DA QUALIDADE DE VIDA NA CIDADE DE UBERLÂNDIA Lara Nunes Giffoni Graduanda do Curso de Geografia Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Andréia Alves de Carvalho Vasconcelos Graduanda do Curso de Geografia Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Joene Conceição da Costa Graduanda do Curso de Geografia Instituto de Geografia – Universidade Federal de Uberlândia [email protected] Introdução O processo de urbanização é um processo que ocorre em escala global. Entretanto, o meio ambiente e a qualidade de vida das populações vem sendo afetada pelos problemas e riscos que acompanham essas mudanças. Devido à intensificação desse processo, a população tem seus espaços urbanos deteriorados e serviços prestados com má qualidade, o que repercute na vida desses cidadãos. Com o espaço urbano crescendo cada vez mais, as áreas verdes vão desaparecendo, juntamente com a diminuição da qualidade de vida. Uma das causas para o aparecimento de tais problemas é a falta de planejamento urbano, destes destacamos: zoneamento e regulamentação irregular do espaço, condições precárias de salubridade (ausência de coleta seletiva, redes de esgoto, etc.), e insuficiência de infra-estruturas e equipamentos. Outros também foram constatados como: exclusão social, inacessibilidade, difícil acesso a bens e serviços, insegurança e degradação ambiental. O presente trabalho teve como objetivo o entendimento e a análise da qualidade de vida na cidade de Uberlândia que considerou aspectos da paisagem e da dinâmica social no urbano, assim como a relação entre os condicionantes urbanos e os aqueles que praticam o ato. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 A metodologia que empregamos abrangeu pesquisas bibliográficas, trabalho de campo, registros fotográficos e entrevistas feitas com a população. Resultados Existem alguns exemplos na cidade de Uberlândia, de projetos e programas que incentivam e colaboram para qualidade de vida. Um deles é o Clube Escola de Xadrez de Uberlândia, instituição sem fins lucrativos que em parceria com a Prefeitura Municipal da cidade realiza projetos sociais de relevada importância, e fornecem o espaço de lazer para os habitantes, que possuem livre acesso ao local durante seu horário de funcionamento. Fundado em 1992, o Clube se localiza em um chalé cedido pela prefeitura, na Praça Sérgio Pacheco, área central da cidade. A infra-estrutura em estilo europeu, e o espaço altamente arborizado, colaboram para que este, segundo o Xadrez Real, seja considerado um dos clubes de xadrez mais belos do país. São oferecidos, cursos, palestras, oficinas e torneios para toda a comunidade, além do espaço que possibilita acesso para portadores de deficiência física, e que conta com infra-estruturas como mesas, tabuleiros e cronômetros. Como no caso do município Uberlândia, considerada uma cidade média com uma população de entorno de 600 mil habitantes (IBGE, 2009), precisa para o bem-estar estar de seus habitantes de áreas verdes que tenham uma infra-estrutura adequada para atender as necessidades desses cidadãos, não somente para a preservação dessas áreas, como também para o lazer e recreação da população, uma vez que esses lugares fazem com que a qualidade de vida seja melhor, tanto pela prática de exercícios, como espaços para se relaxar da dinâmica do cotidiano. Outro exemplo é o Programa Vida Ativa, realizado pela Prefeitura Municipal de Uberlândia com o objetivo de incentivar a população a fazer atividades físicas, e conscientizar sobre a importância de uma boa alimentação e hábitos saudáveis. O projeto atua desde 2005, em diversos locais da cidade, como praças e parques, e a população recebe gratuitamente orientação de profissionais sobre avaliação corporal, orientação nutricional, dicas sobre atividades físicas e aferição de pressão arterial. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 Além de fatores como zoneamento, equipamentos urbanos, infra-estrutura e saneamento, existem algumas características do ambiente que colaboram para a qualidade do espaço urbano. A arborização que promove certo conforto térmico, calçadas largas, acessibilidade, e paisagens livres de poluição visual são alguns fatores que promovem um ambiente agradável. Nesse sentido, podemos notar que quanto mais conseguimos nos aproximar das condições ditas naturais, a qualidade de vida será melhor tanto quanto será melhor a qualidade ambiental. Como afirma NUCCI (1999), a cobertura vegetal, como um elemento díspar de outros que é oferecido no meio físico da cidade, se correlaciona com o bem-estar psicológico e com os aspectos culturais. Um exemplo é a Avenida João Pinheiro localizada no centro da cidade, que possui canteiros de flores em suas calçadas largas e pavimentadas com sinalização especial para deficientes visuais. Ainda em suas esquinas, existem rampas para a circulação de deficientes físicos, e faixas de pedestres. Pela avenida, são distribuídos bolsões com bancos em que o pedestre pode descansar, e ainda usufruir de equipamentos, como telefones públicos e lixeiras. Em contrapartida, algumas avenidas e ruas da cidade são pobres em arborização e acessibilidade, com pouca ou nenhuma existência de rampas, faixas de pedestre, e sinalização. Estas em sua maioria estão localizadas em bairros periféricos. Na cidade, os vazios urbanos também se tornaram um problema, pois acabam sendo utilizados como depósito de lixo, e resíduos da construção civil. Estes terrenos vazios localizados em meio aos bairros atraem animais e podem colaborar para a propagação de algumas doenças. Também são locais que se tornam perigosos devido à falta de infra-estrutura, como iluminação, baixa circulação de pessoas e dificuldade de policiamento. Segundo Milton Santos (1993), o aumento da crise que se dá no âmbito urbano faz com que a população muitas vezes não tenha um acesso aos empregos dos quais necessitam, aos bens e serviços que são essenciais para uma boa qualidade de vida. “A cidade em si, como relação social e como materialidade, torna-se criadora da pobreza” (Santos, 1993). Assim como afirma Pizzol: Os problemas que as cidades enfrentam a partir de um determinado estágio de crescimento são bem conhecidos, como o déficit habitacional, a poluição do ar, das águas e visual, carência de infra-estrutura básica, Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 dificuldades de locomoção, e conseqüentemente, diminuição da qualidade de vida dos os habitantes. (PIZZOL, 2006, p. 1). Alguns resultados obtidos através das entrevistas e do campo realizado nos mostram um quadro de como anda a qualidade de vida em Uberlândia. Em geral, as condições são favoráveis, uma vez que a maioria das pessoas apontou como boa às condições de seu bairro e os serviços oferecidos pela cidade. Podemos notar que essas pessoas que consideraram boa sua condição, são aquelas que se encontram mais perto do centro da cidade, ou seja, em áreas não tão afastadas onde os serviços prestados e as condições são mais precárias. Em nossa entrevista consideramos aspectos como o coleta de lixo, transporte público, saúde pública, educação pública, condições das moradias do bairro, fornecimento de água e energia elétrica, segurança pública, espaços públicos para lazer (praças), geração de emprego na cidade em geral e poluição. Nas entrevistas realizadas na cidade, usamos como critério que o entrevistado fosse residente na cidade. Por conseguinte, aplicamos 71 entrevistas abrangendo os mais variados bairros. Em níveis que variavam entre ótimo, bom, regular, ruim e péssimo, as pessoas avaliaram os aspectos propostos com os seguintes resultados registrados abaixo, como listados na tabela dos resultados das entrevistas. Tabe la – Re sultados das e ntre vistas Coleta de lixo Transporte Público Saúde Pública Educação Pública Moradia Serviços Públicos Segurança Espaços Públicos Geração de Emprego Poluição Ótimo % 23,94 14,08 5,63 7,04 16,90 21,12 7,04 7,04 9,85 2,81 Bom % 43,66 22,54 22,53 40,84 47,88 59,15 26,76 30,98 32,39 28,16 Regular % 23,94 26,76 29,57 35,21 21,12 14,08 29,57 16,90 29,57 23,94 Ruim % 5,64 21,13 18,30 5,63 5,63 1,40 9,85 9,85 9,85 12,67 Péssimo % 2,83 15,49 22,53 8,45 7,04 4,22 26,76 33,80 16,90 29,57 Não opinou % 1,40 2,83 1,40 1,40 1,40 2,83 A coleta de lixo, juntamente com o saneamento básico, foi uma questão abordada para avaliar, principalmente, os bairros periféricos que recebem diminuta atenção, assim, constatou-se, em sua maioria, como sendo bom esse aspecto, entretanto as pessoas que Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 avaliaram com notas negativas são aquelas que moram em bairros mais afastados, nos quais a coleta de lixo muitas vezes deixa a desejar, como a falta de cuidado do próprio morador ao colocar seu lixo para ser recolhido fazendo isso de maneira indevida até aos garis que deixam lixo para trás e por acaso acabam sujando as ruas e calçadas, queixa registrada por alguns moradores de bairros como São Jorge, São Gabriel, Santo Inácio, Custódio Pereira, Planalto, Luizote, Morumbi, Seringueiras, etc. O transporte público, considerado um dos melhores do país, ainda enfrenta algumas queixas de moradores de bairros afastados, pois o número de linhas são menores e o intervalo de passagem entre um ônibus e outro é maior, fazendo com que essas pessoas passem muito tempo a espera do transporte, essa espera chegando até ser de uma hora em alguns locais. Alguns desses transtornos provocados pela demora e pela reduzida quantidade de ônibus em determinados bairros, afeta moradores do Planalto, Patrimônio, Jaraguá, Jardim Brasília, Granada, Aclimação, São Jorge, São Gabriel, Jardim das Palmeiras, Tubalina, Tocantins, Pampulha, Luizote, Seringueiras, Mansour, Granada, etc. Em bairros centrais, como o Vigilato Pereira e Fundinho, o transporte foi considerado ótimo e bom. A saúde pública teve níveis proporcionais, menos na avaliação do ótimo, pois só atingiu 5,63 %. Essa variação se deve ao atendimento em realizados primeiramente nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde), posteriormente encaminhados principalmente para as UAIs (Unidade de Atendimento Integrado), já que não tem em todos os bairros somente nos bairros Pampulha, Tibery, Planalto, Luizote, Roosevelt, Martins, Morumbi (pronto atendimento) e São Jorge. Muitas vezes aqueles que necessitam do serviço precisam ir até um local mais distante em busca de atendimento e quando chega ao local encontra filas, demora no atendimento, falta de médicos entre outros empecilhos que prejudicam esse cuidado as pessoas que necessitam do serviço público de saúde. Mesmo quando você chega a uma UAI corre-se o risco de não ser atendido e ter que procurar outro local, essa procura por atendimento em outro local é muita das vezes sugeridos pelos próprios funcionários das UAIs. Alguns locais cujos moradores se queixaram muito da saúde foram nos bairros Liberdade, Planalto, Shopping Park, São Jorge, Tubalina, Jardim Aurora, Jardim Aurora II, Aclimação, Bom Jesus, Jardim Brasília, Jardim das Palmeiras, Jaraguá, Pampulha, Martins, Jardim Ipanema I, Morada Nova, Granada, Tocantins, etc. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 Importante instituição é a escola, que foi considerada boa com 40,84 %. Fazendo-se notar que a qualidade na educação vem melhorando substancialmente, assim como o número de escolas e vagas para atender ao máximo as crianças em idade para ir à escola. Entretanto, foram considerados negativos as escolas nos bairros Jaraguá, Jardim das Palmeiras, Esperança, Tubalina, Bom Jesus, São Jorge, Jardim Botânico, Chácaras Tubalina, Morumbi, etc. Embora nem todos os entrevistados mandassem seus filhos para a escola do bairro, muitas vezes pela falta de vagas ou pelas condições mesmo da escola, buscando um lugar melhor para a educação dos filhos. A questão da moradia em geral do bairro foi um dos aspectos pesquisados que mais recebeu avaliações positivas, sendo em sua maioria boa as questões relacionadas a esse quesito pelos moradores dos bairros entrevistados. Porém, em alguns lugares a situação registrada não foi a mesma, assim como nos bairros Shopping Park, Tubalina, São Jorge, São Gabriel, Esperança, Luizote, Morumbi, Seringueiras, Pampulha, Tocantins, etc. A moradia é o lugar de descanso e abrigo dos cidadãos ao final do dia. Os serviços públicos fornecidos pelo município como água e energia elétrica receberam muitas avaliações positivas, mostrando que esses serviços estão chegando a população, contudo alguns problemas foram constatados fazendo com que a avaliação tivesse também muitos votos no regular, já que alguns problemas apontados pelos moradores foram interrompimento de energia sem aviso prévio, por longos períodos, para conserto da rede elétrica, interrompimento do fornecimento de água para o conserto de algum vazamento ou troca e manutenção das redes de água. A segurança também teve muitas avaliações negativas, assim como avaliações positivas. A falta de segurança e do policiamento em alguns locais são alguns dos problemas apontados pelos entrevistados, fato que atinge o Jardim Aurora II, Tubalina, São Jorge, Shopping Park, São Gabriel, Jardim Brasília, Esperança, Jaraguá, Tibery, Liberdade, Santa Mônica, Morada Nova, Jardim Botânico, Luizote, Morumbi, Seringueiras, Umuarama, etc. O maior número de avaliações negativas ficou com os espaços públicos de lazer com 33,80%. Demonstra como são mínimas as preocupações com esse aspecto do bem-estar do cidadão, já que a praça é lugar de se reunir com os amigos e onde as crianças poderiam brincar. Não é o que se relata, pois em alguns bairros praça não existe, pode até constar no mapa, mas quando a realidade é avistada somente se enxerga um terreno sem nada, nenhuma Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 infra-estrutura, nada. Alguns dos bairros que possuem praças, estas muitas vezes se encontra em péssimas situações, vitimas das depredações e lugar de venda e consumo de drogas. Essa situação foi relatada nos bairros Liberdade, Maravilha, Custódio Pereira, Planalto, Tubalina, Patrimônio, Jaraguá, Jardim das Palmeiras, Esperança, Granada, Aclimação, São Jorge, São Gabriel, Shopping Park, Morada Nova, Santa Mônica, Jardim Botânico, Morumbi, etc. Em Uberlândia existem dois parques principais, Parque do Sabiá e o Parque Victório Siquierolli que possuem quadras, piscinas, etc. e atividades voltadas para a educação ambiental, respectivamente. Em relação à geração de emprego na cidade, as avaliações foram equilibradas, mas muitas dos entrevistados relataram que emprego tem muito, mas o que falta são pessoas com qualificação para esses empregos. Movendo o fator falta de emprego para o fator falta de qualificação, como sendo o ponto principal pelo desemprego de algumas pessoas, muitas vezes sem qualificação para arrumar um emprego. Muitos consideraram baixos os níveis de poluição, tanto do ar, quanto da água e visual. E outros consideraram altas essas mesmas taxas. Mostrando disparidades, tanto nos conceitos quando na forma de ver essa realidade e a pouca atenção e crédito dispensados a esses assuntos. A questão dos lixos nas ruas foi um fator apontado como poluente e também a poluição do ar foi a mais comentada. Referências BORJA, Patrícia Campos. Metodologia para a avaliação da qualidade ambiental urbana em nível local. Disponível em: <http://www.bvsde.paho.org/bvsaidis/impactos/peru/braiaa222.pdf>, acesso em 14/06/2010. DEUS, Leonardo Rodrigo de. O estatuto da cidade e a organização urbana local. Uberlândia: Universidade Federal de Uberlândia, 2003. 73 p. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades, 2009. 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