UNISAL Érika Penha DEPRESSÃO E EDUCAÇÃO: O TRABALHO

Propaganda
UNISAL
Érika Penha
DEPRESSÃO E EDUCAÇÃO: O TRABALHO DO SERVIÇO DE
PSICOLOGIA DO HOSPITAL SAMAM JUNTO ÀS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE
AMERICANA - SP
Americana
2010
UNISAL
Érika Penha
DEPRESSÃO E EDUCAÇÃO: O TRABALHO DO SERVIÇO DE
PSICOLOGIA DO HOSPITAL SAMAM JUNTO ÀS CRIANÇAS E
ADOLESCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE
AMERICANA - SP
Dissertação
apresentada
como
exigência parcial para obtenção do grau
de Mestre em Educação à Comissão
Julgadora
do
Unisal
Centro
Universitário Salesiano de São Paulo -,
sob a orientação do Prof. Dr. Marcos
Francisco Martins.
Americana
2010
P457d
Penha, Érika
Depressão e educação: o trabalho do serviço de
psicologia do hospital SAMAM junto às crianças e
adolescentes das escolas públicas do município de
Americana – SP / Érika Penha. – Americana: Centro
Universitário Salesiano de São Paulo, 2010.
87 f.
Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP.
Orientador: Profº Drº. Marcos Francisco Martins.
Inclui bibliografia.
1. Depressão. 2. Educação. 3. Orientação escolar.
4. Psicologia hospitalar. I. Título.
CDD – 616.8528
Catalogação elaborada por Terezinha Aparecida Galassi
Antonio
Bibliotecária do Centro UNISAL – UE – Americana – CRB8/2606
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________
Profº. Dr. Marcos Francisco Martins
UFSCar
_______________________________________________
Profª. Dra. Sueli Maria P. Caro
Unisal
________________________________________________
Profª. Dra. Viviane Melo de Mendonça
UFSCar
Agradecimentos
Primeiramente a Deus, que ilumina meus passos.
A minha mãe, que plantou a semente da educação da paciência.
Aos meus filhos Beatriz e Yonathan, por compreenderem os momentos de
ausência no decorrer desta pesquisa.
Aos diretores-clínicos e colaboradores do Hospital SAMAM.
Aos professores do mestrado em Educação do UNISAL, que proporcionaram o
conhecimento nesta jornada científica.
Ao meu orientador Prof. Dr. Marcos Francisco Martins, que brilhantemente me
conduziu na metodologia desta pesquisa.
RESUMO
Este trabalho tem como objetivo analisar as relações da depressão de crianças
e adolescentes no ambiente escolar. Da pesquisa realizada participaram 70
crianças com a idade de 6 a 16 anos, alunos de escolas públicas do município
de Americana, atendidas no Hospital SAMAM pelo Serviço de Psicologia. Este
Serviço hospitalar procura orientar pais e professores no convívio com as
crianças, com o intuito de minimizar o sofrimento delas. As crianças
encaminhadas ao Hospital pelas escolas apresentavam queixas de fortes dores
de cabeça, abdômen, náusea, dificuldade de concentração, recusa em ir à
escola, choro, irritação, nervosismo. Por meio de abordagem quantitativa e
qualitativa, a coleta de dados estruturou-se em dois momentos: no primeiro
realizou-se a pesquisa bibliográfica sobre a depressão de crianças e
adolescentes; no segundo, trabalhou-se com as informações obtidas nos
atendimentos das 70 crianças atendidas, juntamente com os dados obtidos
com os pais e professores sobre a depressão dessas crianças e adolescentes
e sua repercussão no ambiente escolar. Entre os resultados alcançados,
ressalta-se o que indica que a escola e os pais são peças-chave para o
tratamento da depressão de crianças e adolescentes.
Palavras-chave:
Hospitalar.
Depressão,
Educação, Orientação Escolar,
Psicologia
ABSTRACT
This work aims to analyze the relations of childish depression in scholar
environment. A research was done with 70 children, who were from 6 to 16
years old, and were also students of public schools from Americana city,
attended at Sammam Hospital, by the Psychology Service. This hospitalar
service aims to orient parents and teachers on how to deal with children, trying
to minimize the sufferings of these kids. The children who were sent to the
hospital by their schools complained of strong headaches, bellyaches, nausea,
concentration difficulties, irritation, crying, anxiety and they denyed to go to
school. By qualitative and quantitative approaches, the research for data was
structured in two phases: on the first one, a bibliographical research about
childish depression was done; on the second phase, the information which were
collected on the process of attending these 70 children were investigated, and
this investigation was linked to the information which were obtained with the
parents and teachers about the childish depression of these kids and its
repercussions on scholar environment. Ammong the reached results, it is
possible to highlight the one which indicates that the schools and parents are
indispensable for the treatment of childish depression.
Key-Words:
Psychology.
Depression,
Education,
Scholar
Orientation,
Hospitalar
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7
CAPÍTULO I - SOBRE A METODOLOGIA DA COLETA DE DADOS DA
PESQUISA ....................................................................................................... 11
1.1 A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 11
1.2 OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ................................................... 12
CAPÍTULO II - DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E SUAS
REPERCUSSÕES NA ESCOLA ...................................................................... 16
2.1 HISTÓRIA DA DEPRESSÃO ........................................................................... 16
2.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PROBLEMAS PSICOLÓGICOS NO
AMBIENTE ESCOLAR.......................................................................................... 25
CAPÍTULO III - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NAS
ESCOLAS PÚBLICAS DE AMERICANA – SP ................................................ 35
3.1 O SERVIÇO DE PSICOLOGIA DO HOSPITAL SAMAN......................................... 35
3.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA ........................................................................ 37
3.3 HISTÓRICO DOS ATENDIMENTOS DOS SUJEITOS DA PESQUISA. ....................... 39
CAPÍTULO IV - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E SUAS
REPERCUSSÕES NO AMBIENTE ESCOLAR................................................ 47
4.1 O TRATAMENTO DA DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES REALIZADO
PELO S.P.H.S ................................................................................................. 47
4.2 A REPERCUSSÃO DOS ATENDIMENTOS REALIZADOS NO AMBIENTE ESCOLAR ... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 66
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 68
APÊNDICE 1: ROTEIRO DA ANAMNESE INFANTIL ..................................... 70
APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIO PROFESSOR ............................................... 78
APÊNDICE 3: H.T.P. DE N° 43 ........................................................................ 80
APÊNDICE 4: H.T.P. DE N° 53 ........................................................................ 84
7
INTRODUÇÃO
A saúde mental é tão importante quanto à saúde física para o ser
humano, para que se possa ter uma vida saudável e equilibrada. Segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se que 300 milhões de pessoas
no mundo sofrem de depressão, sendo um terço de crianças e adolescentes
que adquirem este transtorno de humor, o que gera incapacidade na qualidade
de vida. O adulto começa a enfrentar problemas relacionados ao convívio
social, o trabalho fica prejudicado e, conseqüentemente, a vida familiar sofre
modificações. Em crianças o sofrimento ocasiona transtorno na vida familiar,
repercutindo em sua vida escolar.
De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID10), a
depressão causa diminuição da atividade por causa do estado emocional,
apatia, abatimento moral, falta de coragem para enfrentar a vida. E em
crianças, além desses, a irritação e o nervosismo.
Tentativas de estudar a depressão de crianças e adolescentes têm
surgido desde início do século XIX, atualmente não existem dúvidas quanto à
existência da depressão em crianças em idade escolar.
O referencial teórico no qual esses atendimentos psicológicos são
embasados é o fenomenológico e existencial, partindo da premissa de que o
ser
humano
é
sujeito
e
objeto
do
conhecimento
e
que
vivencia
intencionalmente sua existência, atribuindo-lhe sentido e significado. Heidegger
(2005) afirma que a essência da existência humana é existir em pluralidade
com suas percepções, sentimentos, pensamentos, e não em si mesma de
8
forma isolada, uma vez que pertence a um mundo em transformação
constante, portanto o homem está em constante transformação também.
O tema desta pesquisa refere-se às repercussões da depressão de
crianças e adolescentes no ambiente escolar. Avaliou-se como a criança se
comporta em sala de aula, segundo os dados coletados a partir de questionário
respondido pelos professores. Posteriormente, orientou-se a como “lidar” com
esta questão em sala de aula, concomitantemente com o tratamento de
psicoterapia realizado no Serviço de Psicologia do Hospital Saman (SPHS), e
com a orientação dos pais.
O que motivou esta pesquisa foi a minha prática como psicóloga no
Hospital Saman (SPMS), em Americana/SP, e uma considerável demanda que
o serviço de Psicologia deste Hospital tem recebido de encaminhamentos
escolares de crianças com sintomas de depressão de crianças e adolescentes,
bem como outros problemas psicológicos que prejudicam a aprendizagem
escolar.
O primeiro capítulo enfoca a metodologia e os instrumentos utilizados na
coleta de dados desta pesquisa. Apresentamos a bibliografia acerca dos
problemas
psicológicos,
Ansiedade,
Transtorno
dentre
de
eles
Pânico,
a
Hiperatividade,
Transtorno
Transtorno
de
Obsessivo-Compulsivo,
Transtorno Desafiador-Oposicionista, Transtorno de Conduta, que interferem
na aprendizagem escolar e a Depressão de crianças e adolescentes. Bem
como os primeiros procedimentos empregados no atendimento dos casos que
chegam ao SPHS.
No segundo capítulo apresentaremos, de forma sucinta, a história da
depressão e algumas interpretações históricas acerca desta questão, assim,
9
será possível ao leitor compreender o caminho percorrido por especialistas
mediante esse problema tão comum nos dias atuais. Discutiremos também
sobre as repercussões da depressão de crianças e adolescentes na escola
neste momento.
No terceiro capítulo apresentamos alguns dados sobre a estrutura física
e humana do Hospital Saman, bem como do SPHS. Apresentamos e
analisamos o perfil das crianças atendidas, sujeitos da pesquisa.
Neste
momento
também
apresentamos
relato
de
todos
os
encaminhamentos realizados pelas escolas, e como eles repercutiram no
ambiente escolar. Descrevemos como
ocorre o tratamento desde o
encaminhamento até o tratamento, contando com o auxílio dos pais e
professores a partir da orientação dada a ambos no decorrer do tratamento da
criança. Consideramos importante a descrição do teste casa-árvore-pessoa
(HTP), do inglês: House-Tree-Person, para elucidar o processo de avaliação e
diagnóstico dos casos que chegaram até nós no Serviço de Psicologia.
Descrevemos casos exemplares, desde a chegada ao Hospital Samam
até o retorno no que se refere ao comportamento da criança no ambiente
escolar elucidado pela escola.
O capítulo quatro traz a relação dos atendimentos realizados no
ambiente escolar com o relato dos resultados que a escola observou nos
alunos tratados.
Foi possível inferir, na conclusão, os limites e possibilidades deste
trabalho, que aponta pontos positivos e negativos observados nos processos
de atendimento. Um dos aspectos positivos apontados é que as crianças
tiveram significativas melhoras, a maioria já recebeu alta, e um dos pontos
10
negativos que observamos foi que, como o SPHS está sendo implantado, ele
sofre de algumas debilidades, como espaço físico, por exemplo, mas a partir de
março de 2010 este Serviço mudou de endereço e o espaço físico já está se
adequando à demanda e aos atendimentos.
Minha prática profissional tem demonstrado que o número de casos de
depressão de crianças e adolescentes vem aumentando proporcionalmente ao
crescimento demográfico, conseqüentemente, surgem problemas de natureza
humana, pois há um déficit na quantidade de especialista na área, como
também de recursos financeiros, para o atendimento adequado de todos os
casos que surgem, isto tendo em vista as complexas interações sociais e
familiares que repercutem no ambiente escolar.
Não há distinção da complexidade dos problemas relacionados à
depressão por classe social, gênero, religião, sexo, caráter geográfico, idade.
Crianças e adolescentes sofrem de problemas que fazem parte do universo
adulto e isso é cada vez mais preocupante.
O reflexo no ambiente escolar é parte integrante destas repercussões e
é clara a visualização de que somente com a interdisciplinaridade podemos
vislumbrar seres humanos mais preparados para enfrentar, infelizmente, o
inevitável: os problemas de ordem psicológica como é a depressão.
11
CAPÍTULO I - SOBRE A METODOLOGIA DA COLETA DE
DADOS DA PESQUISA
Para
que se torne
compreensível o caminho
percorrido para
a
concretização desta pesquisa é necessária a apresentação da metodologia
empregada na coleta de dados. Neste início esta apresentação será realizada
de forma breve, pois na própria descrição dos resultados da pesquisa, este
processo ficará bastante claro.
1.1 A pesquisa bibliográfica
O livro de referência para a depressão de crianças e adolescentes foi o
de Miller (2003). Ele guiou, forneceu informações e considerações acerca de
conceitos técnicos ao esclarecimento do estado da arte do tema depressão de
crianças e adolescentes. Sua abrangência e qualidade reconhecidas na área
muito
nos
ajudou
a
esclarecer
conceitos,
aspectos
técnicos
e
o
desenvolvimento futuro de nossa pesquisa de campo.
Phelan (2005) e Peres (2006) também figuram em bibliografias citadas
ao longo da dissertação, embasando pontos de vista e enriquecendo nosso
estudo.
Obras de referências, guia de doenças e outros trabalhos ao longo do
texto são citados, parametrizando dados e doenças dentro de padrões já
12
normalizados internacionalmente. Bases de dados nacionais e internacionais
de publicações periódicas também foram consultadas.
1.2 Os instrumentos de coleta de dados
Esta pesquisa é fruto da implantação do S.P.H.S. e os instrumentos
utilizados na coleta de dados fazem parte do dia-a-dia da instituição hospitalar.
O encaminhamento dos alunos ao SPHS é feito pela escola. Eles
chegam acompanhados pelos pais. A escola envia um relatório, no qual é
narrado como a criança se socializa em sala de aula, se existe alguma
dificuldade em seu aprendizado, como se comporta na escola, se realiza ou
não as tarefas escolares e, muitas vezes, relatam também sintomas físicos
como dores de cabeça, abdominais, náusea e vômito.
Após a leitura desse relatório de encaminhamento escolar, inicia-se a
primeira entrevista com os pais da criança.
A primeira entrevista é “semi-aberta” ou também chamada de “semidirigida”. Nela os pais têm a liberdade para expor os problemas da criança por
onde quiser e como preferir. Assim, o psicólogo analisa e observa o contexto
familiar em que a criança está inserida.
Na primeira entrevista a criança não está presente, somente os pais.
Esta condição é informada pela recepção do Hospital no momento em que se
marca o horário da entrevista; a recepcionista informa que a criança não
entrará na sessão.
13
Já que se refere a uma entrevista com os pais é importante a presença
de ambos, mas nem sempre isso ocorre, porque muitos pais são atualmente
separados
e,
assim,
ocorre
de
os
pais
preferirem
ser
atendidos
separadamente. E a ansiedade e/ou depressão são demonstradas na primeira
entrevista. Em muitos momentos têm-se a impressão de que, tanto quanto as
crianças e adolescentes, os pais também necessitam de psicoterapia.
A este respeito, Campos (1986) comenta:
Os primeiros sinais de ansiedade aparecem, normalmente, na
primeira entrevista, quando os pais começam a relatar a história do
filho [...]. Na primeira entrevista é importante registrar o que diz cada
um dos pais, como e quando o dizem, o que lembram e como fazem,
o que esquecem, de maneira a poder reconstruir posteriormente, com
a maior fidelidade possível, o diálogo e os elementos não verbais do
encontro. (p. 37)
Estas questões acima comentadas acerca da primeira entrevista são de
fundamental importância para a coleta de dados, pois observa-se como é a
dinâmica de família. E no caso do filho de pais separados, como a criança e
seus pais lidam com a distância, a separação, a perda.
Depois da primeira entrevista, marca-se uma segunda com os pais. Esta
é uma entrevista mais estruturada, que na psicologia é chamada de anamnese
infantil. Caracteriza-se por uma série de perguntas que abordam desde o
desenvolvimento gestacional, até como é o seu desenvolvimento físico, motor e
da linguagem, formando enfim um histórico médico e psicológico. É um relato
sobre a sequência de fatos importantes a respeito da situação atual, escolar e
pregressa da criança. É um instrumento muito valioso porque faz com que o
psicólogo conheça a história de vida e do desenvolvimento da criança.
14
Embora haja um roteiro orientador, as entrevistas são conduzidas com
naturalidade e de forma espontânea, criando um processo dinâmico, pois
estabelece a inter-relação entre o psicólogo e os pais da criança.
Quando encerra a anamnese infantil com os pais, passa-se a eles o
questionário a ser entregue ao professor da criança. Neste questionário o
psicólogo saberá diretamente do professor a queixa escolar, como a criança se
socializa com outros colegas, as dificuldades apresentadas na aprendizagem,
se chora sem motivo em sala de aula, enfim o questionário respondido pelo
próprio professor torna-se mais um instrumento utilizado como coleta de dados.
Ocasionalmente, muitos professores marcam horários e vão até o S.P.H.S.
entregar o questionário e falar com o psicólogo sobre determinada criança.
Segundo Groppo e Martins (2007) “[...] o questionário visa coletar dados
através de questões que facilitam o pesquisador na coleta de dados.” (p. 55) E
neste caso, aproxima a distância física entre o psicólogo-pesquisador e o
professor, pois há intermediários, e então os pais, muitas vezes, levam ao
S.P.H.S. relatos como: “trouxe meu filho porque a escola encaminhou”. Tais
relatos são muito comuns e eles demonstram o quanto as pessoas são
distantes uma das outras. E esta “distância” gera recorrentemente angústia,
depressões.
Terminadas as entrevistas e os questionamentos com pais e
professores, inicia o tratamento com a criança. E quando o psicólogo a recebe,
procura-se colocar em “suspenso” tudo o que sabe a seu respeito: suas
queixas escolares, sua história relatada pelos pais; conversa e, muitas vezes,
até brinca para conhecê-la melhor, pois toda relação necessita de um vínculo.
15
A criança mostra-se como é, a partir de sua essência, ou melhor, do que
guarda em si sem receios de admoestações de qualquer espécie.
Muitas vezes, há uma distância muito grande entre o que os pais, o
professor ou os familiares relatam da criança e o que é observado dela.
Levando em conta a individualidade e a singularidade de cada um, esta
primeira sessão com a criança é muito importante, pois cada um tem uma
história de vida e cada um tem um repertório de convivência e de relações
sociais.
De acordo com Dolto (1999),
Palavra, representação, desenho, mímica, modelagem, é isso que faz
a cultura, a literatura, a escultura, a música, a pintura, o desenho, a
dança - tudo isso são representações de desejos e não vivências no
corpo-a-corpo com o outro. (p. 27).
Assim a linguagem está expressa no brincar, no falar, no desenho, está
em tudo, pois tudo é linguagem. “As crianças sabem. Elas lhe contam através
dos desenhos, sem saber o que contam. Elas sabem inconscientemente. É
muito melhor que a coisa expressa com palavras” (DOLTO, 1999, p. 83).
Nunca cessa o conhecer o outro, de modo que a coleta de dados se dá
até no tratamento. E isso porque nele a criança expressa suas fobias, medos,
angústias e também suas alegrias, euforias no brincar, no falar, no dançar,
enfim estão em constante transformação. Assim, o processo de coleta de
dados nunca cessa, num processo psicoterápico, pois estamos em constantes
transformações é preciso continuar conhecendo e coletando dados durante o
tratamento e analisando as repercussões da depressão de crianças e
adolescentes no ambiente escolar.
16
CAPÍTULO II - DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
E SUAS REPERCUSSÕES NA ESCOLA
Neste capítulo abordaremos, além da história da depressão, tratada
brevemente a título de situação do problema na história, da repercussão que
este problema pode ter na vida escolar.
2.1 História da depressão
A depressão é atualmente uma doença ou transtorno que causa
incapacitação do homem no trabalho, na escola e na vida social. Constitui-se
em grande desafio para os profissionais da área da saúde. A estimativa atual
da O.M.S. é de que aproximadamente 340 milhões de pessoas no mundo
apresentam pelo menos um episódio depressivo ao longo da vida. Ela pode
afetar pessoas em qualquer fase da vida, inclusive na infância e na
adolescência, e evolui de forma crônica para, aproximadamente, 20% dos
indivíduos.
O humor deprimido é mencionado como uma sensação forte de tristeza
ou desesperança, como falta de coragem ou ainda uma angústia indescritível.
A diminuição ou falta de energia em 97% dos casos ou falta de motivação,
cansaço, fadiga ou preguiça exagerada que impossibilitam as atividades
domésticas, no trabalho e, no caso de crianças e adolescentes, na escola
(KAPLAN e SADOCK, 1993).
17
Provavelmente, a depressão é tão antiga quanto a humanidade, ou seja,
a tristeza acompanha o homem desde sua origem.
Na Antiguidade, ainda no século IV a.C., Hipócrates teria uma teoria ao
investigar esses sentimentos de angústia, solidão, denominada de Quatro
Humores. Segundo esta teoria o homem, para ter saúde, precisa estar em
equilíbrio, em harmonia com os Quatro Humores que são os seguintes: a bílis
negra, a bílis amarela, o sangue e a pituíta ou fleugma (muco secretado pela
membrana mucosa). A bílis negra é secretada pelo baço, já a bílis amarela é
secretada pelo fígado. O sangue é o responsável pelo bombeamento do
coração, e a pituíta ou fleugma é responsável pelo sistema respiratório.
Aristóteles escreve sobre a melancolia pela primeira vez em “A
Problemata 30”, texto no qual fala da relação entre a genialidade e a loucura. A
melancolia é vista como inata ao homem e surge, assim, a condição da
genialidade indispensável à criação, à filosofia, à arte, à literatura.
A este respeito, Peres (2006) comenta:
Uma ambigüidade se estabelece, pois, no uso da palavra melancolia:
por um lado um humor natural e não necessariamente patogênico e,
por outro lado, uma doença mental produzida por um excesso de
desequilíbrio dos humores. (PERES, 2006, p. 15).
Na Idade Média, a Igreja Católica identificava as pessoas melancólicas
ou com comportamentos diferenciados dos esperados como possuídos de
influências demoníacas, consideravam hereges e bruxos e muitos nessa época
foram mortos pela Santa Inquisição.
No final do século XVIII, Phillipe Pinel (1745-1826), médico responsável
pelo estudo das perturbações mentais na medicina, baseou-se, sobretudo na
observação clínica da melancolia, atual depressão, que era definida por uma
tristeza, abatimento e desgosto de viver.
18
No início do século XIX, chega ao fim a teoria dos humores de
Hipócrates e a designação de melancolia também cai por terra.
Em 1883, o psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926) escreve o
primeiro Compêndio de Psiquiatria, no qual a melancolia ou depressão recebeu
o nome de psicose maníaco-depressiva.
No final do século XIX, a Europa passou por transformações no modo de
vida, principalmente em conseqüência da Revolução Industrial. Palco de uma
aceleração do desenvolvimento industrial, desta forma surgem novas
condições de vida. Com a agitação dos grandes centros urbanos, a neurastenia
ganha a dimensão da “doença da modernidade”. Segundo a Classificação de
Transtornos Mentais da CID-10 (1993), a neurastenia é classificada como
transtorno de humor, isto é, como depressão.
Georg Beard (1839-1883) definiu a neurastenia como doença da vida
moderna, pois fatores sociais de diferentes modalidades podem ser
considerados fonte do adoecimento.
Jean Martin Charcot (1825-1893), um dos grandes nomes da neurologia
na Europa, questionou a maior incidência de neurastenia nas classes
trabalhadoras e elevou a noção de traumas como elemento entre os fatores
etiológicos. Após muito estudo e pesquisa, se junta a Charcot um dos seus
discípulos mais famosos, Sigmund Freud (1856-1939), nascendo a Psicanálise.
Freud comprova que os sintomas não tinham correspondentes orgânicos, e sim
psíquicos, emocionais.
Em O mal-estar na civilização (1930) Freud narra que a felicidade é
episódica e que a depressão é gerada por mudanças, enfatizando aspectos
sociais e econômicos responsáveis por elas. Surge, então, pela primeira vez a
19
palavra depressão para caracterizar a melancolia de algumas épocas e
neurastenia em outras.
Segundo Freud, a infelicidade é experimentada mais facilmente, pois
padecemos de três ameaças de sofrimento: nosso próprio corpo, que nos envia
sinais de alarme de dor e de angústia devido ao inevitável processo de
envelhecimento; o mundo externo, e o desgosto fruto das relações com outros
indivíduos.
Freud (1930) comenta:
Parece certo que nos sentimos confortáveis na civilização atual, mas
é muito difícil formar uma opinião sobre se, e em que grau os homens
de épocas anteriores se sentiram mais felizes, e sobre quais
condições culturais desempenham nessa questão. (FREUD, 1930, p.
95).
Freud nos chama a atenção para situação paradoxal de o próprio
homem ser responsável por criar situações que se revertam mais à frente em
mal-estar. O homem, por natureza, tem a tendência de criar situações que no
futuro sejam complicadas. De outra maneira: ou mudamos o nosso pensar e
agir ou adoecemos, ficando depressivos. Advoga a idéia já citada
anteriormente, considerando a depressão uma patologia das mudanças.
Do ponto de vista social e histórico, a depressão pode ser determinada
por grandes modificações,
como no pós-guerra, quando surgem as
infelicidades, as melancolias e as depressões.
Ainda nesta obra de 1930, Freud discute como a repressão coercitiva
imposta pela sociedade priva o sujeito de seu próprio desenvolvimento,
gerando uma angústia, a depressão. Pois, o instinto humano é, segundo ele,
naturalmente agressivo.
20
Já a história da depressão de crianças e adolescentes está cheia de
incompreensões. Os estudos sobre a depressão na infância e do adolescente
iniciaram-se em 1852, quando alguns pesquisadores acreditavam que os
sintomas são iguais aos dos adultos. Outros pesquisadores, por sua vez,
advogavam a idéia da não existência dos mesmos sintomas em crianças e
adultos.
De acordo com Barbosa e Lucena (1995), há a correlação entre
depressão de crianças e adolescentes e pais depressivos. Portanto, segundo
esses autores, filhos de pais depressivos muito provavelmente terão
depressão. “A família é um dos grandes fatores estressantes de Depressão de
crianças e adolescentes [...]” (BARBOSA e LUCENA, 1995, s/p).
Até a década de 1960, não se aceitava a idéia de que as crianças
ficassem deprimidas. O diagnóstico em adultos surgiu no final do século XIX,
com o surgimento da Psicologia.
A primeira e mais precisa pesquisa realizada acerca da depressão de
crianças e adolescentes ocorreu no final da década 1950, nos Estados Unidos,
desenvolvida pelo Dr. Leon Aytryn, pediatra que observou que as crianças
internadas em hospitais para a realização de cirurgia muitas vezes demonstram
tristeza e reclusão. Ele realizou diversas pesquisas e, por meio delas, concluía
que aproximadamente 50% das crianças vivenciavam sintomas de depressão,
incluindo tristeza, desamparo, irritabilidade, isolamento social, distúrbio do
sono, ansiedade de separação, evasão escolar ou recusa em ir à escola,
dificuldade de aprendizagem e desenvolvimento de fobias.
O trabalho do Dr. Aytryn foi de grande importância, pois provou que os
sintomas da depressão na infância eram iguais aos dos adultos.
21
Em
1970,
Warren
Weinberg
e
seus
colegas
colaboradores
desenvolveram os primeiros critérios para o diagnóstico da depressão em que
as diferenças de desenvolvimento entre crianças e adultos eram consideradas.
Antes de Weinberg, os pesquisadores dividiram-se em dois grupos
divergentes: um advogava a idéia de que a depressão em crianças era muito
parecida com aquela dos adultos, pois os sintomas eram considerados como
auto-imagem negativa, experienciavam abatimento, apatia, alterações no
apetite, o sono e reclusão social; o outro grupo acreditava que as crianças
portavam sintomas “encobertos”, que normalmente não eram observados na
depressão de adultos. Em crianças acreditava-se que a depressão era
encoberta por sintomas como mau humor, fobias escolares e rebeldias. E nos
adolescentes, era caracterizada por inquietação, tédio, delinqüência, agressão
e ansiedade. Este segundo grupo, o que defendia a “depressão encoberta”,
com o passar do tempo observou que a depressão na criança é igual ou
parecida com a do adulto. “Atualmente não se questiona o fato de que as
crianças podem ficar deprimidas e realmente ficam” (MILLER, 2003, p. 7).
Tradicionalmente o diagnóstico é orientado por duas formas:
1)
Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da
O.M.S., CID-10 (1992);
2)
Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais da
Associação Americana de Psiquiatria, DSM-IV (1994).
A Classificação Internacional de Doenças - C.I.D., formulada pela
O.M.S., define e classifica a depressão como um transtorno de humor, que
pode ser expresso segundo o quadro a seguir:
22
Quadro 1 – CLASSIFICAÇÃO DA DEPRESSÃO
Transtornos do Humor
Transtornos
Bipolares (mania ou
hipomania e
depressão bipolar)
Transtorno Depressivo
(depressão unipolar)
Distimia
Bipolar I
Bipolar II
Ciclotimi
a
Transtorno Depressivo Maior
(TDM)
Fonte: SENE-COSTA (1996, p. 42)
A depressão é diagnosticada a partir desses transtornos: o transtorno
depressivo é chamado também de Depressão Unipolar, pode ser um
Transtorno Depressivo Maior - T.D.M. ou Distimia; e o Transtorno Bipolar, que
é chamado também de Depressão Bipolar ou Episódio Maníaco, pode ser
Bipolar I ou Bipolar II ou ainda Ciclotimia. Portanto, há quatro tipos de
depressão: T.D.M., Distimia, Bipolar e Ciclotimia.
O T.D.M. afeta pessoas em qualquer fase da vida, inclusive na infância e
na adolescência. Tem a seguinte característica: ocorre no período mínimo de
duas semanas durante os quais há um humor deprimido ou perda no interesse
social. Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), o indivíduo
também deve experimentar pelo menos quatro sintomas para o diagnóstico da
T.D.M.:
23
→ 1- humor deprimido na maior parte do dia, com sintomas de choro,
sentimento de tristeza e vazio. Em criança e adolescente, observa-se humor
irritável;
→ 2- diminuição do interesse por atividades do dia a dia;
→ 3- perda ou ganho significativo de peso;
→ 4- insônia ou hipersonia (muito sono) quase todos os dias;
→ 5- agitação ou retardo psicomotor;
→ 6- fadiga ou perda de energia quase todos os dias;
→ 7- sentimento de inutilidade ou culpa (baixa auto-estima);
→ 8- capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou ainda
indecisão quase todos os dias; e,
→ 9- pensamento de morte.
Crianças com T.D.M. têm maior propensão ao choro, irritabilidade,
ansiedade, fobias, queixas de dores. As mais comuns são dores abdominais e
de cabeça, pois um número significativo de crianças encaminhadas por escolas
ao S.P.H.S, apresentavam queixas de dores no abdômen e na cabeça.
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-VI, é maior o número de meninas adolescentes de que em meninos
adolescentes. Já na menor idade a incidência é igual em meninas e meninos.
De acordo com Miller (2003), a depressão inicia-se por volta dos seis anos de
idade.
Não descartamos nesta pesquisa a hereditariedade, mas nos fixaremos
mais nas questões comportamentais, sociais, familiares, econômicas dessas
crianças com depressão de crianças e adolescentes.
24
Por sua vez, o Transtorno Distímico caracteriza-se pela predominância
do humor deprimido na maior parte do dia, por pelo menos dois anos. Em
crianças, o humor pode ser irritável em vez de deprimido, este aparece em
adultos e adolescentes.
Para
a
comprovação
do
diagnóstico,
segundo
a
Classificação
Internacional de Doenças (CID), é necessário apresentar dois ou mais dos
sintomas a seguir:
→ 1- irritação na maior parte do dia;
→ 2- diminuição no apetite;
→ 3- insônia ou hipertonia;
→ 4- baixa energia ou fadiga;
→ 5- fraca concentração; e,
→ 6- sentimento de desesperança.
A distimia é considerada, por alguns especialistas, como um subtipo
depressivo, pois é uma forma menos grave de T.D.M. A palavra distimia tem
origem grega e significa, etimologicamente, mal-humorado. É caracterizado por
um estado depressivo crônico (não tão intenso quanto o T.D.M.) por isso o seu
diagnóstico se dá após dois anos.
Os Transtornos Bipolares são caracterizados por mudanças, ora está
bem, ora fica deprimido, pois a alternância de humor é muito significativa.
Apresenta episódios de mania (euforia) que se alternam com episódios de
depressão.
Os sintomas podem se manifestar em qualquer fase da vida, embora
seja muito comum no início da adolescência. Os Transtornos Bipolares são
subdivididos em três tipos: Bipolar I, Bipolar II e Ciclotimia.
25
O Transtorno Bipolar I é caracterizado pela ocorrência de um ou mais
episódios maníacos acompanhados de um ou mais episódios depressivos. É
uma doença crônica e recorrente, na qual mais de 90% dos sujeitos que
tiveram algum episódio maníaco apresentarão outros episódios durante suas
vidas.
Já o Transtorno Bipolar II, caracteriza-se por um ou mais episódios
depressivos, não ocorrendo o episódio maníaco. E, por último, a Ciclotimia ou
Transtorno Ciclotímico é caracterizado por uma instabilidade de humor leve,
por isso o seu diagnóstico recorrentemente passa despercebido, e a pessoa é
vista como “temperamental”, “de lua”.
2.2 Algumas considerações sobre os problemas psicológicos no
ambiente escolar
Os problemas psicológicos na infância e na adolescência refletem-se no
ambiente escolar, dificultando a atenção e concentração do aluno em sala de
aula, mas antes de entrar nas questões relacionadas à depressão, farei uma
pequena definição de criança e adolescente.
Conforme a faixa etária, de acordo com o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) (2009), a pessoa é considerada criança até 12 anos
incompletos, e considera-se adolescente a que possui entre 12 e 18 anos de
idade. De acordo com Cordeiro (2007), no que se refere às características
gerais destas faixas etárias, há variações conforme o contexto, ou seja, há
diversidade na compreensão e experiência de infância e adolescência de
26
acordo com a cultura, pois se tratam de construções culturais e sociais. A
adolescência é um período da vida situada entre a infância a idade adulta, no
entendimento de Cordeiro (2007) esta é uma fase crucial para a formação da
identidade da pessoa. Quanto à infância, esta pode ser subdividida em
primeira, segunda e terceira infância. É entendida como uma fase em que
ocorre a socialização, quando se supera o egocentrismo.
De
acordo
com a
classificação
de
transtorno
mentais
e
de
comportamento da CID-10 Problemas psicológicos começam cedo no
desenvolvimento (usualmente nos primeiros cinco anos de vida), persistindo
através dos anos escolares (p. 256).
Dentre os problemas psicológicos, o que ocorre com maior incidência é
o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (T.D.A.H), pois,
aproximadamente 60% das crianças que foram encaminhadas ao serviço de
psicologia do Hospital
Samam (SPHS), no ano de 2009 apresentavam o
T.D.A.H. Outros problemas psicológicos que Reno cita como presentes no
ambiente escolar são: Transtorno Obsessivo-Compulsivo; Transtorno de
Pânico; Distúrbio Oposicionista-Desafiador; Distúrbio de Conduta.
Esses problemas psicológicos citados fazem parte da gama de
conseqüências da depressão, são como características dela. Todos serão
expostos a ela com certa brevidade, com exceção do T.D.A.
No ambiente escolar o professor de escola pública depara-se com uma
série de dificuldades. Entre elas a dificuldade de aprendizagem dos alunos,
problemas comportamentais desses alunos, entre outros.
O TDAH é uma doença que afeta de 3 a 5% da população escolar
infantil, comprometendo o desempenho, dificultando as relações interpessoais
27
e provocando baixa auto-estima (SMITH e STRICK, 2001). As crianças que
estão com este problema psicológico, são freqüentemente acusadas de “não
prestar atenção”, mas na verdade elas prestam atenção a tudo. Não
conseguem planejar, contudo, com antecedência, finalizar e organizar
respostas rápidas.
Na escola é que a criança hiperativa vai demonstrar as características
que definem a doença, como: dificuldade em se concentrar; não ficar envolvida
com uma atividade só; movimentar-se e conversar constantemente. Outro
sintoma é a impulsividade, comportamento que se caracteriza por não pensar
antes de agir, podendo provocar situações perigosas.
A classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10
apresenta
sintomas
que
caracterizam
o
TDAH,
são
eles:
atenção
comprometida; parece não ouvir quando se fala com ela; dificuldade em
organizar-se;
inquietação;
dificuldade
em
permanecer
sentada;
fala
excessivamente; agressividade; dificuldade na aprendizagem; problema de
sono; responde perguntas antes de serem formuladas; corre sem destino ou
sobe nas coisas excessivamente; dificuldade no relacionamento com colegas;
não tem noção do perigo.
Para se dar o diagnóstico de TDAH é necessário a presença de pelo
menos seis desses sintomas citados, com duração mínima de seis meses. A
hiperatividade é caracterizada pela inquietude e dificuldade de concentração;
geralmente quem primeiro observa esses sintomas é o professor em sala de
aula.
De acordo com Phelan (2005)
Se você maldosamente tentasse produzir um ambiente que deixasse
uma criança com TDAH louca todos os dias, provavelmente não
28
conseguiria investigar nada pior do que a escola. A escola exige que
o jovem não fique só. (p. 35)
Phelan (2005) argumenta que a escola não oferece alternativas que
estimule, que desperte o interesse dos jovens, que os levem a envolver-se com
as atividades, mas exige que os alunos não fiquem sem fazer nada, e se
concentre em temas que considera desinteressante.
O Serviço de Psicologia do Hospital Samam recebeu, no ano de 2009,
uma demanda grande de crianças de 6 a 16 anos com problemas psicológicos.
Os sintomas mais comuns eram o de falta de concentração em sala de aula,
agressividade, hiperatividade, problemas de sono e fala excessiva em sala de
aula. Segundo Phelan (2005), é no ambiente escolar que a criança com TDAH
fica mais irritada, pois no local escolar há regras, normas e criança com
hiperatividade não aceitam regras, é na escola que se convive socialmente, e
elas possuem baixa tolerância ao convívio social.
O tratamento dos problemas psicológicos na infância e na adolescência
com repercussão no ambiente escolar envolve pais e professores. No caso do
TDAH, as recomendações dadas aos pais pelo Serviço de Psicologia, é ter
coerência nas ações e atividade diárias propostas às crianças, como por
exemplo, colocar horário para todas as suas rotinas diárias; os pais necessitam
estar em intermediação constante com a escola; é sugerido que os pais
incentivem seus filhos quando estes agem de forma adequada, dando os
parabéns, orientamos que aprendam a reagir ao limites de seu filho de maneira
positiva; as regras devem ser claras e concisas.
As recomendações feitas pelo Serviço de Psicologia aos professores
das crianças atendidas com TDAH são para que o professor tenha um bom
relacionamento com o aluno, pois, desta forma, incentiva um comportamento
29
mais adequado; sempre elogiar as atividades que são relacionadas com
sucesso; propor atividades curtas ou intercaladas para que possam concluí-las
antes de se dispersarem e estabelecer limites claros e objetivos na realização
das atividades.
O trabalho coletivo entre pais, professores, psicólogos permitirá à
criança incluir uma rotina em seu cotidiano de forma organizada e planejada,
criando possibilidades de desenvolvimento, superando assim seus sintomas.
Outro problema psicológico, que repercute no ambiente escolar é o
transtorno
de
ansiedade.
É caracterizado
por
medo
e
insegurança,
acompanhados de sintomas físicos: dor de cabeça, dor de barriga, mãos e pés
gelados, falta de ar, boca seca.
De acordo com a CID-10, os sintomas são: sofrimento excessivo, sem
motivo aparente; medo de perder alguém ou algum objeto; cefaléia; dores
abdominais; náusea; vomito; fobias; dificuldade em dormir; insegurança.
Dentre os transtornos de ansiedade há a fobia; este quadro recebe o
nome de Transtorno Fóbico Ansioso, que é caracterizado pela presença de
medos anormais.
Quando exposta ao estímulo fóbico, seja uma situação ou objeto, a
criança sente-se mal com a presença desses sintomas físicos citados
anteriormente. As fobias mais comuns que foram observadas pelo Serviço de
Psicologia, foram as de pequenos animais, injeções, escuridão, monstros, ou
figuras de lendas urbanas.
O transtorno de ansiedade, muitas vezes é causado por medo. A pessoa
que o sente tem muita insegurança, desconforto, o que implica em sintomas
físicos, como: tonturas, falta de ar, falta de concentração, taquicardia, entre
30
outros sintomas conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID),
repercutindo na insegurança.
Outro problema psicológico, que está enquadrado dentre os transtornos
de ansiedade, é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (T.O.C.). Seu sintoma é o
medo excessivo, que gera uma relação funcional, a chamada compulsão. Os
sintomas mais comuns são: os de lavar as mãos repetidas vezes, por medo de
ser contaminado por algum germe, são caracterizados por compulsões de
verificação, repetição; essas compulsões podem ser chamadas por leigos de
tiques. Mas este problema psicológico gera muito sofrimento para a pessoa,
tornando-a uma pessoa muito vulnerável, insegura. É mais comum o
aparecimento na adolescência ou na vida adulta.
O Transtorno de Conduta e Comportamento Anti-social é outro problema
psicológico muito comum em crianças e adolescentes. Com bases em critérios
diagnóstico da CID-10, o Transtorno de Conduta é caracterizado pelo
comportamento anti-social, que muitas vezes violam as normas sociais. Os
sintomas são: freqüentemente persegue, ameaça ou intimida os outros;
freqüentemente inicia lutas corporais; foi cruel com as pessoas e já tentou ferilas fisicamente; crueldade com animais; submete alguém a atividade sexual
forçada; ateia fogo; mente e engana para obter ganhos naturais e foge de casa
sem avisar ninguém.
Este transtorno e comportamento anti-social são atribuídos, conforme e
Organização Mundial de Saúde (OMS), pela CID-10, a fatores ambientais e
sociais, pois sofreram privações afetivas. Do ponto de vista psicodinâmico,
estes comportamentos demonstram a falta gerada na privação afetiva.
31
Outro problema psicológico que repercute no ambiente escolar é o
Transtorno Desafiador Opositor (TDO), que consiste em comportamentos
desafiadores, contrariando aquilo que se pede ou se espera dela.
De acordo com Serra Pinheiro:
O transtorno de posição (TDO) é um transtorno disruptivo,
caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e
comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente com
adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta,
incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldades de
aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não
seguem as forma que eles desejam (PINHEIRO, 2004, p. 273).
Este transtorno é caracterizado pelo ato de desafiar, desobedecer e
provocar. É considerado um subtipo de Transtorno de Conduta.
Todos esses problemas psicológicos, assim como a depressão de
crianças e adolescentes, que será abordada no próximo item dificultam a
aprendizagem da criança no ambiente escolar.
Cabe ao médico e ao psicólogo diagnosticar a depressão a partir de uma
análise muito detalhada para não errar.
Os sintomas da depressão são, na maioria das vezes, observados na
escola. Os professores relatam desmotivação e preguiça, que muitas vezes
são sintomas da depressão de crianças e adolescentes.
A criança com depressão enfrenta dificuldades nas suas relações
familiares e principalmente dificuldade em sua aprendizagem escolar.
Miller (2003) fez uma lista dos sintomas da depressão em relação ao
desenvolvimento da criança:
Crianças com depressão apresentam os sintomas: tristeza,
negatividade, reclamação de tédio, falta de iniciativa; desobediência;
choram com freqüência, baixa auto-estima; incapacidade de prestar
atenção, lembrar ou tomar decisões, distraem-se facilmente,
esquecem o que estavam pensando, problemas de alimentação e
sono; urinam na cama; preocupação ou medo crônico; fala ou
32
movimentos corporais lentos; sintomas físicos como tontura, dor de
cabeça, dor abdominal, dor nos braços e pernas, ato de roer unhas,
raramente existe pensamentos sobre o suicídio. (MILLER, 2003, p.
34)
Já em um adolescente, os sintomas são tristeza persistente,
irritabilidade, negatividade; raiva; excesso de auto-crítica, baixa autoestima; incapacidade de concentrar-se, pensar ordinariamente, tomar
decisões, perda de interesse em atividade outrora prazerosa; pouca
energia, fadiga crônica; alteração no apetite, perda ou ganho de peso
flagrante; excesso de medo; interesse por temas relacionados à
morte em livros, músicas, desenhos; conversa repetidamente sobre a
morte, fascinação por armas, facas; planos ou tentativas suicidas;
sintomas físicos como tontura, dores de cabeça, abdominais, dores
nos braços e pernas por causa da tensão muscular, problemas
digestivos, exemplo: gastrite nervosa. (MILLER, 2003, p. 35).
As escolas podem se tornar os maiores aliados nos tratamentos da
depressão de crianças e adolescentes se o psicólogo, ao longo do tratamento,
orientar os pais e professores em como lidar com uma criança depressiva.
Os
encaminhamentos
escolares
são,
na
maioria
das
vezes,
acompanhados de relatos dos professores sobre algum ou alguns desses
sintomas. Os mais freqüentes relatados por professores ao S.P.H.S. foram:
dores de cabeça, dores abdominais, choros sem motivos, falta de
concentração, fadiga e irritabilidade.
Na escola, as crianças adolescentes depressivos podem acabar sendo
taxadas como quem tem níveis baixos de capacidade intelectual. Quase
sempre apresentam dificuldade de concentração, que leva ao desinteresse e
fracasso.
Corroborando, Ballone (2003) acrescenta que a depressão de crianças e
adolescentes é caracterizada pelos sintomas de irritabilidade, rebeldia, medo,
tique, problemas na escola, tais como falta de concentração, recusa em ir á
escola, problemas ou dificuldades de aprendizagem.
33
Portanto, a depressão de crianças e adolescentes acrescenta mais
problemas escolares. Referimos aqui à depressão de crianças e adolescentes,
mas os sintomas e diagnósticos são os mesmo que os adultos. O que ocorre
com a criança com a dificuldade de concentração na escola ocorre com o
adulto no trabalho.
Aos pais das crianças e adolescentes atendidos pelo serviço de
Psicologia do Hospital Saman (SPHS), são orientados sobre a importância de
estimular, encorajar sempre que a criança apresentar uma melhora no
aprendizado, pois a baixa auto-estima é um sintoma muito comum na
depressão de crianças e adolescentes.
Sem auto-estima, será difícil à criança e ao adolescente enfrentar seus
problemas educacionais; já a criança com auto-estima mantém uma estreita
relação com a motivação. A opinião que a criança tem de si mesma, diz Coll
(1995), está intimamente relacionado com sua capacidade de aprendizagem e
com seu rendimento escolar.
De acordo com Cruvinel (2003), as crianças e adolescentes com
depressão passam a ser vistas como agressivas agitadas, tímidas, preguiçosas
ou distraídas. Outras vezes pais e professores não dão a importância
necessária para o problema da criança alegando: “vai passar logo ou esta
querendo chamar atenção” (discurso dos pais e professores). Contudo, é
preciso levar a sério os sentimentos e sofrimentos da criança, pois elas não
sabem expressar e dizer, estou deprimido, angustiado, mas suas emoções são
tão intensas quanto às do adulto.
Muitos fracassos escolares em crianças e
relacionados a transtornos emocionais como a depressão.
adolescentes estão
34
No século passado, as causas dos fracassos escolares eram atribuídas
a fatores físicos; os testes de QI eram requisitos para classificação das
crianças que apresentavam problemas de aprendizagem e recebiam a
terminologia de “criança-problema”. Por volta da década 1930, há uma
mudança na concepção de fracassos escolares e eles deixam de serem
anomalias de ordem orgânicas, neurológicas (por isso que eram aplicados os
testes de QI), e passam a ser inspirados pela psicanálise, que busca no
ambiente sócio-familiar as causas dos problemas emocionais, assim como a
depressão (cf. PATTO, 1999).
Muitas crianças e adolescentes com problemas emocionais vivenciam
problemas sócio-familiares. Assim como no adulto, problemas sociais na
infância podem estar relacionados ao fracasso escolar.
Portanto, uma criança ou um adolescente com problemas escolares ou
fracassos
escolares
freqüentemente
apresenta
uma
dificuldade
de
comportamento. Assim, como o seu inverso também é verdadeiro, uma criança
com problemas emocionais, como a depressão também pode apresentar
dificuldades escolares, pois é uma via de mão dupla: o fracasso escolar gera
problemas emocionais, como a depressão, que, por sua vez, geram o fracasso
escolar.
Patto (1999) aponta para a necessidade de se quebrar o estigma de que
o fracasso é culpa do aluno ou de sua família, e alerta para proporção muito
maior dos determinantes institucionais e sociais na produção do fracasso
escolar do que problemas emocionais, orgânicos e neurológicos, rompendo,
portanto, com as visões psicologizantes, de carência cultural e das dificuldades
de aprendizagem.
35
CAPÍTULO III - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE AMERICANA –
SP
Neste tópico, será abordado, especificamente, o Serviço de Psicologia
do Hospital SAMAM, apresentando o histórico dos atendimentos e um breve
perfil dos atendidos por depressão que são encaminhados pelas escolas
públicas de Americana-SP.
3.1 O Serviço de Psicologia do Hospital Saman
O Hospital SAMAM, fundado em 1975, é um hospital particular. Sua
estrutura física é composta por um prédio de cinco andares; no térreo há a
recepção, o pronto-socorro, a sala de observação, refeitório, cozinha hospitalar
e consultórios, que são chamados ambulatórios; o Serviço de Psicologia tem
seu consultório próprio; no primeiro andar está localizado o Raio X, a farmácia,
laboratório, pediatria, sala de exames; no segundo andar fica o C.T.I. ou U.T.I.,
que possui quatro leitos, a administração e outras salas de exames; no terceiro
andar está a enfermaria, com aproximadamente 25 leitos; no quarto andar é a
lavanderia e outras salas administrativas. O trabalho destes profissionais é
multidisciplinar. O Serviço de Psicologia do Hospital Samam (SPHS) existe há
dois anos.
36
No S.P.H.S, as sessões com as crianças duram aproximadamente trinta
minutos. A demanda é grande, aproximadamente 100 pessoas passam por
atendimento psicológico, com sessões semanais. Neste último ano foram
atendidos 802 pacientes, sendo 222 adultos e 80 crianças pelo Serviço.
Dessas 80 crianças, 40 já pararam o tratamento e as outras 40 estão em
tratamento semanais ou quinzenais.
O S.P.H.S., desde julho de 2009, conta com as estagiárias do Centro
Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), curso de Psicologia, pois estão
realizando no Hospital estágios obrigatórios; cinco estagiárias acompanharam
semanalmente os atendimentos hospitalares, no total de 40 horas de estágio.
Portanto, o UNISAL, tem a partir desta data, convênio de estágio com o
Hospital Samam, e foi o S.P.H.S. que incentivou este convênio.
O S.P.H.S. surgiu como ambulatório que funcionava desta maneira: o
psiquiatra avaliava o paciente, medicava e encaminhava ao Serviço os
pacientes com o diagnóstico de esquizofrenia, depressão, transtornos de
ansiedade, entre outros; a partir dos encaminhamentos iniciavam-se os
atendimentos psicológicos, com atendimentos semanais ou quinzenais. No
início do ano de 2009, a psicologia hospitalar passou a existir no Hospital.
Nesses atendimentos, o psicólogo atende no pronto-socorro, U.T.I. e
enfermagem. É um trabalho de humanização da internação, com o objetivo de
minimizar as dores, as perdas que o paciente está vivenciando com a
internação.
Enfim, o Serviço de Psicologia é caracterizado pela Psicologia Hospitalar
e por atendimentos de psicoterapia. Este último é o atendimento que foi
realizado nos sujeitos desta pesquisa.
37
3.2 Os sujeitos da pesquisa
Os sujeitos desta pesquisa são 70 crianças e adolescentes de 6 a 16
anos, estudantes de escolas públicas no município de Americana, que foram
encaminhadas ao Serviço de Psicologia durante o ano de 2009.
Seguem abaixo as tabelas referentes ao perfil dos sujeitos desta
pesquisa.
A tabela 1 é a divisão pelo sexo das crianças e adolescentes que
participaram desta pesquisa:
Tabela 1: Gênero dos sujeitos atendidos pelo S.P.H.S.
Sexo
%
Masculino
55 %
Feminino
45 %
Total
100%
Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S.
Segundo esta pesquisa, a depressão afeta mais os meninos do que as
meninas. Diferente do que ocorre com adultos, a incidência é maior em
mulheres, de acordo com o D.S.M. - IV.
A tabela 2 divide o número de crianças que participaram desta pesquisa
e a maior incidência ocorre com crianças de 6 a 8 anos:
38
Tabela 2: Incidência da depressão nas idades entre 6 e 16 anos
Idade (anos)
%
6
25,7 %
7
10 %
8
14,3 %
9
10 %
10
8,5 %
11
7,3 %
12
5,8 %
13
7,1 %
14
5,7 %
15
0
16
5,8%
Total
100 %
Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S.
Observamos que a depressão se inicia com maior freqüência em
crianças que estão ingressando no ensino fundamental; aqui existe uma
mudança, a saída da pré-escola e o inicio das responsabilidades escolares. Há,
portanto, um stress que foi gerado por esta mudança. Pois, mudança de nível
escolar gera stress e irritação, podendo se tornar uma depressão de crianças e
adolescentes.
39
A partir das entrevistas, dos questionários com os pais e com os
professores, observamos o perfil das 70 crianças.
3.3 Histórico dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa.
As crianças que participaram desta pesquisa, totalizando 70, foram
selecionadas a partir de um critério: todas elas são estudantes de escolas
públicas de Americana. Além dessas crianças, 12 que estudam em escolas
particulares que não participaram da pesquisa, totalizando 82 crianças
atendidas no S.P.H.S., em 2009. A tabela 3 demonstra como surgiram os
encaminhamentos destas crianças.
Tabela 3: Origem do encaminhamento da criança ao S.P.H.S.
Encaminhamento realizado
Quantidade
Escola
46 crianças
Médico
16 crianças
Família
8 crianças
Total
70
Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S.
O S.P.H.S. recebe os encaminhamentos através da assistente social do
hospital. Como o convênio médico cobre o custo de duas sessões mensais por
40
conveniado, a demanda é muito grande, tanto que possui uma lista de espera.
Mas no máximo um mês é o período em que o paciente adulto ou criança
iniciará o tratamento.
As crianças passam pela assistente social, que realiza a triagem junto
com o histórico da família e com o encaminhamento da Secretaria da
Educação. Por dia, são atendidas aproximadamente 20 pacientes (adultos ou
crianças) pelo S.P.H.S.
A escola realiza um trabalho junto à Secretaria da Educação, por meio
de um relatório onde relata como esta criança está se desenvolvendo
cognitivamente, socialmente, emocionalmente, enfim todo o histórico desta
criança é encaminhado ao Serviço.
O corpo médico do Hospital, quando observa que a criança fisicamente
está bem, mas emocionalmente não, dirige-a ao S.P.H.S.
E também a própria família se observa a irritação sem motivo, o choro
sem explicação, a rebeldia, leva a criança à psicoterapia do S.P.H.S.
Nesta pesquisa, observou-se que é na escola que as crianças e
adolescentes apresentam os primeiros e mais significativos sintomas da
depressão e entre eles estão: falta de concentração, irritabilidade, dificuldade
de aprendizagem, assim como as dores de cabeça e abdominais.
Os sujeitos desta pesquisa, na maioria dos casos, apresentavam dores
de cabeça, náusea, até vômito e dores abdominais, portanto, este foi o sintoma
mais comum entre estas crianças e adolescentes.
Das 70 crianças atendidas pelo S.P.H.S., 30 ainda estão em
atendimento semanalmente, nove interromperam o tratamento, e o maior
motivo dado pelos pais à assistente social é que não tinham tempo para levar a
41
criança para o tratamento, e outro, por não terem muitas vezes dinheiro para
pagar o passe do ônibus para ir até o Hospital. E as outras 31 crianças e
adolescentes que foram acompanhados pelo S.P.H.S. no ano de 2009,
observou-se que as queixas foram superadas.
Após avaliarmos todas as 70 crianças que participam desta pesquisa, foi
realizado uma tabela acerca dos dados das crianças que foram encaminhadas
ao S.P.H.S no ano de 2009.
Segue a tabela citada:
Tabela 4: Dados das 70 crianças e adolescentes atendidos pelo S.P.H.S.
No.
Idade
Atend (anos)
Sexo
Forma
Encaminhamento
Histórico familiar de
depressão
1
2
6
14
M
M
Médico
Escola
Mãe depressiva
Pai ansioso
3
10
M
Escola
Mãe depressiva
4
8
F
Família
5
12
M
Escola
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe esquizofrênica
6
16
F
Médico (P.S.)
Nenhum transtorno
foi observado
7
16
F
Escola
8
8
F
Médico
Pai esquizofrênico
Mãe depressiva
Mãe depressiva
9
6
M
Escola
Mãe esquizofrênica
10
14
M
Escola
Mãe depressiva
11
7
F
Escola
12
6
M
Escola
13
9
M
Escola
14
7
M
Família
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe depressiva
15
8
M
Médico
16
7
M
Médico
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Sintomas e/ou queixas
Hiperativa, ansiosa, chora
Rebelde, obeso, dificuldade
socialização
Eplepsia, desatento, notas
baixas
Abuso sexual, problemas
de aprendizagem
Nervoso, desatento, medo,
ansioso
Abuso sexual padrasto,
dificuldades de
aprendizagem
Nervosa, explosiva,
dificuldade de aprendizagem
Enurese noturna,
ansiedade, insegura
Chora, irritação
Chora, notas baixas
Chora, dor de cabeça,
irritação
Dor de cabeça, nervosa,
não tem limites
Hiperativo, não tem limites
Não totalmente alfabetizada
Desatento na escola
Agitada, chora muito
42
17
10
F
Família
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe neurastênica
Insônia, agressiva
18
9
F
Médico
19
6
M
Família
20
6
F
Médico
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe depressiva
21
6
M
Médico
Mãe depressiva
Terror noturno
22
6
F
Escola
Mãe depressiva
Chora, agitada, emotiva
23
6
M
Escola + Médico
Mãe depressiva
Chora muito, não come
24
6
M
Escola
Mãe bipolar
25
6
M
Escola
Mãe depressiva
26
8
F
Escola
27
6
M
Escola
28
16
M
Escola + Médico
29
13
F
Médico
30
11
M
Médico
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe ansiosa
31
7
F
Escola
32
6
M
Escola
33
8
M
Escola
34
12
F
35
11
36
Ansiosa, nervosa, baixa
auto-estima
Chora muito, agitada
Dor de cabeça, chora
Afogou a irmã na banheira
duas vezes
Chora, bate muito nas
outras crianças
Dificuldade na
concentração, chora
Dificuldade de socialização
Dificuldade de
aprendizagem, chora
Dor de estomago
Enurese noturna
Ansiedade, choro, dor de
cabeça
Agressividade, violento
Médico
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe depressiva
M
Escola
Mãe depressiva
Baixo rendimento escolar
11
F
Escola
Mãe depressiva
Tímida, chora
37
12
F
Escola
38
13
F
Escola
39
6
M
Família
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe ansiosa
40
11
F
Escola
Mãe ansiosa
Recusa ir para escola
41
10
M
Família
Medo de tudo, choro
42
13
M
Escola
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Pânico, fobia social
Chora sem motivo
Baixa auto-estima
Baixa auto-estima
Não tem limites, choro, birra
Dificuldade de falar na
escola, timidez
43
43
10
M
Escola
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe depressiva
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Pai depressivo
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Pais viciados em
crack
Mãe ansiosa
44
45
10
13
F
F
Escola
Escola
46
16
F
Escola
47
48
6
8
M
F
Escola
Escola
49
9
M
Escola
50
10
M
Escola + Médico
51
13
F
Escola
52
8
F
Escola
53
7
F
Escola
54
9
M
Escola
55
6
F
Escola + Médico
56
9
M
Escola
57
9
F
Escola
58
6
M
Escola
59
14
F
Escola
60
6
M
Médico
61
8
F
Escola
62
12
M
Escola
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe ansiosa
63
8
M
Médico
Abuso sexual do pai
64
9
M
Família
65
8
M
Escola
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe depressiva
66
8
F
Família
67
19
F
68
69
7
11
M
M
Escola
Família
Escola
Médico
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Nenhum transtorno
foi observado
Mãe ansiosa
Nenhum transtorno
foi observado
+ Nenhum transtorno
foi observado
Adotivo
Nenhum transtorno
foi observado
Enxaqueca, fala demais na
escola
Auto-estima baixa, timidez
Briga muito na escola
Chora, rebeldia,
desanimada na escola
Recusa em ir a escola
Recusa em ir a escola
Chora muito, notas baixas
Chora, angustiada, não tem
vontade de viver
Notas baixas, mente, furta
Grita muito, fala muito na
aula
Dor de cabeça, chora na
escola
Distraído, desatento, chora
Vitiligo, ansiosa
Desatento, desinteresse na
aprendizagem
Furtos na escola, colegas a
isolam
Apanha muito dos colegas
Baixo rendimento escolar,
recusa em ir a escola
Chora, diz que ninguém
gosta dela
Baixo rendimento escolar,
recusa ir a escola
Ansiosa, não presta
atenção na aula
Regressão, fala
infantilizada, bate nos
amigos
Insegura, síndrome do
pânico
Distúrbio de conduta e
opositor
Pânico, terror noturno
Não respeita ninguém
Agressiva, nervosa, chora
Nervosa, chora, obesidade
44
70
7
F
Escola
Nenhum transtorno
foi observado
Não respeita ninguém, bate
Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S.
A numeração de 1 a 70 da tabela 4 ocorreu de forma aleatória e
somente existiu a tabulação de coleta de dados na realização desta pesquisa,
portanto esta numeração caracteriza-se por uma identificação que no próximo
capítulo desta pesquisa, serão anunciados alguns casos de atendimento
realizados S.P.H.S. Contudo, de forma geral, apresento os dados da tabela em
gráficos para possibilitar uma leitura mais clara e objetiva quanto à idade, forma
de encaminhamento, histórico familiar de depressão e principais queixas das
crianças e adolescentes atendidos.
45
46
47
CAPÍTULO IV - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES E SUAS REPERCUSSÕES NO AMBIENTE
ESCOLAR
O presente capítulo apresenta uma síntese sobre o tratamento à
depressão de crianças e adolescentes realizado pelo Serviço de Psicologia do
Hospital SAMAM, tomando como sujeitos de análise dois casos: os de nº 53 e
43 expostos na Tabela 4, e também uma análise sobre a repercussão que este
trabalho psicológico está tendo no ambiente escolar, o critério de seleção
desses dois sujeitos foi de modo aleatório.
4.1 O tratamento da depressão de crianças e adolescentes realizado pelo
S.P.H.S
O tratamento realizado pelo S.P.H.S. é caracterizado por sessões de
psicoterapia semanais de duração aproximada de trinta minutos para cada
paciente.
Os dados analisados são sexo, idade, religião, se a criança faz uso de
medicamento, por quem foi encaminhado até percorrer o caminho da escola
até chegar ao S.P.H.S.
Para melhor compreensão e entendimento de como são realizados os
tratamentos destas crianças, foram selecionados dois casos de depressão de
crianças e adolescentes desde sua chegada ao S.P.H.S. até a devolução de
relatórios escolares após o tratamento.
48
O primeiro caso é o de nº. 53 da Tabela 4: cursando a 2ª série do ensino
fundamental. É uma criança do sexo feminino, de sete anos de idade, cuja
família é de formação católica. O encaminhamento foi realizado pela escola, os
pais são casados, é filha única e seus sintomas, segundo relato da mãe, são:
dor de cabeça (já havia passado por consulta com neuropediatra do Hospital
Samam, cujo diagnóstico foi de enxaqueca); muitas vezes apresenta vômitos e
segundo a mãe tem medo de ir sozinha ao banheiro e chora com facilidade.
Para dormir é muito agitada e o pai relata que a noite coloca colchão ao
lado da cama da menina porque ela cai com freqüência.
A escola, por sua vez, relata que a criança tem ótima interação social,
fazendo amizades com facilidade. Em relação à aprendizagem da criança, a
professora relata: “[...] a aprendizagem da criança está em ritmo regular; o nível
alfabético e não ortográfico” (este relato chega ao psicólogo em forma de
relatório já na primeira sessão com os pais). Em outro momento, o relatório
narra: “[...] a criança comenta em sala de aula que tem medo da loira do
banheiro”, pois segundo a mãe no ano anterior foi trabalhado com as crianças
em sala de aula o tema de Lendas Urbanas e as crianças tinham como tarefa
pesquisar sobre estas lendas a qual foi identificada via Internet pelos pais e
narradas pela professora em sala de aula. A partir de então, passou a ter medo
de ir sozinha ao banheiro.
Esta criança mora com ambos os pais. O pai trabalha fora o dia todo, a
mãe é do lar. Na anamnese a mãe relata que na gestação da criança, teve
muita enxaqueca. Foi amamentada até os três anos de idade, tinha uma ótima
saúde, seu desenvolvimento psicomotor foi normal e, desde os dois anos de
49
idade, tornou-se muito agitada e chorava muito sem motivo e, quando
contrariada, ficava muito nervosa, gritava muito.
Entrou na escola com cinco anos de idade, na educação infantil, desde
quando reclama de dor de cabeça e às vezes vomita. Chorou muito no primeiro
mês de adaptação na escola. Antes disso ficava com a mãe o dia inteiro, em
casa.
Na primeira sessão da criança com a psicóloga foi aplicado o H.T.P
(House, Tree, People), os desenhos do teste encontram-se no apêndice 4
desta pesquisa.
A avaliação do H.T.P. é realizada a partir do desenho como instrumento
de diagnóstico da personalidade (BUCK, 2003). Esse teste, o HTP – casaárvore-pessoa – força o indivíduo a utilizar seus recursos psíquicos de forma
muito mais independente.
O teste HTP (casa-árvore-pessoa – House-Tree-Person), é um teste
projetivo que é administrado em clínicas e hospitais a crianças acima de seis
anos de idade, adolescentes e adultos. Seu tempo de realização é livre, mas
geralmente não ultrapassa a média de 30 a 90 minutos. O material utilizado é
uma folha sulfite “A4” em branco e lápis preto nº 2. Os desenhos são feitos à
mão livre, ou seja, sem réguas ou objetos que sirvam para auxiliar a realizá-lo.
De acordo com Buck (2003), o HTP, tem como objetivo obter
informações sobre como uma pessoa vivencia sua individualidade em relação a
outras pessoas, projetando elementos da personalidade e de áreas de
conflitos, identificados como avaliação ou diagnóstico. Ainda para o autor, os
“[...] desenhos também estimulam o estabelecimento de interesse, conforto e
confiança entre o psicólogo e o paciente” (p. 2). A avaliação clínica é pautada a
50
partir dos desenhos da casa e da árvore, pois é fundamentada na teoria
psicanalítica projetiva de imagem de si mesmo. O desenho da figura humana,
segundo Alves (apud WECHSLER, 2003), é um dos modelos mais usados por
psicólogos brasileiros.
Durante a aplicação do teste é solicitado o mínimo de três desenhos
(casa-árvore-pessoa), às vezes, após esses, é solicitado o desenho da família.
Então se inicia a fase do inquérito. Este consiste num roteiro padronizado de
perguntas que são feitas após a conclusão de cada desenho. Nesta etapa do
inquérito é extraído o maior número possível de informações e descrições
subjetivas.
Para Deleuze (1997) o devir não é imaginário, bem como uma viagem
não é real, o indivíduo faz do mínimo de um imaginário um devir. O desenho é
uma forma de linguagem por meio do qual o inconsciente também se
manifesta. Para Campos (1999), o desenho reflete uma impressão do todo do
indivíduo, como uma “gestalt” (do alemão: forma de ver o mundo).
No
primeiro
desenho
da
casa,
realizado
pela
criança
citada
anteriormente, apêndice 4 de nº 53, foi observado: inibição, introversão, pois
tem dificuldade de expressar seus sentimentos, a partir da localização no papel
de seu desenho, – no canto esquerdo – apresentando inibição, introversão
(CAMPOS, 1986, p. 36). No que diz respeito à pressão do lápis ao desenhar,
possui traços leves, o que é comum em pessoas deprimidas (idem). A
caracterização do traço é trêmulo, o que significa insegurança e esgotamento
nervoso (idem). O tamanho do desenho é normal, o que representa sua
inteligência e possui equilíbrio emocional (idem, p. 40). O desenho da janela da
casa apresenta grades, o que significa que ela se sente cercada de muita
51
proteção (CAMPOS, 1986, p. 44), cujo exagero gera insegurança e
sufocamento.
O desenho da árvore foi observado com o teste também. Notou-se
novamente desenho no canto esquerdo da folha, denotando timidez e
introversão (idem, p. 36). O tronco é mais longo e sobe até a copa, significando
imaturidade (idem, p. 52). A copa da árvore é esférica, que significa medo,
pânico, emotividade falta de concentração (idem, p. 57).
O desenho da figura humana foi representado com duas crianças. Uma
menina na posição horizontal, que segundo a criança era ela, e outra criança
no canto esquerdo e na vertical, sendo uma coleguinha da classe (idem, p. 75).
Após algumas sessões, a criança relata que uma coleguinha de classe a
assustava com a lenda urbana da “loira do banheiro”. Este teste HTP é um
teste projetivo, nele são projetadas suas emoções, medos de forma
inconsciente. Quando isso foi descoberto, conversamos com os pais, que
avisaram ao professor que determinada criança a estava assustando, e este
problema foi solucionado. Voltando ao desenho da figura humana, observou-se
desenhada de forma inclinada, representando para o seu psiquismo a
enxaqueca (idem).
Após o teste e com a entrevista de anamnese realizada com os pais,
realizou-se o diagnóstico da depressão de crianças e adolescentes. Em
seguida, iniciou-se o tratamento com a caixa lúdica, que tem como materiais:
bonecas de pano, lápis de cor, massinha, bichinhos de fazenda, carrinhos de
plástico.
A caixa-lúdica, figura abaixo, é o instrumento que o psicólogo utiliza
durante o atendimento com a criança, através da ludoterapia, que é um método
52
terapêutico usado nas sessões com crianças em que o psicólogo realiza o
atendimento de forma lúdica. Pois é brincando, por exemplo, com os bonecos
de pano que há na caixa lúdica, que as crianças projetam suas inseguranças,
problemas familiares, medos, etc. desta forma o psicólogo intervém durante as
sessões. Assim, orientam pais e professores de acordo com problemas
diagnosticados nesses atendimentos.
Figura 1: caixa lúdica
Fonte: Arquivo pessoal da autora
As sessões com a criança foram inter relacionadas com a orientação dos
pais e professor. Este veio ao hospital algumas vezes para receber orientação
do psicólogo sobre como lidar com a criança em sala de aula.
Após 07 meses de tratamento a criança não apresentava mais medo de
ir sozinha ao banheiro, não chorava com freqüência, estava menos ansiosa,
pois apresentava melhoras significativas. Sua mãe foi diagnosticada com tumor
53
no intestino grosso e, daí em diante, a criança passou a apresentar choro,
ansiedade, insegurança e começou a decair todo o avanço que havia adquirido
em sala de aula. Ela piorou na escola drasticamente quando a mãe ficou
internada no Hospital para a realização da cirurgia e depois quimioterapia. A
criança passou a não querer ir à escola, ficou agitada, voltou a ter dor de
cabeça. Enquanto a mãe estava internada, ficou na casa da avó paterna, não
tendo mais limites. Não obedecia a ninguém e começou a fazer “birras”. Com
esta piora significativa do comportamento da criança frente à doença da mãe, o
reflexo apareceu na escola. O trabalho do psicólogo junto com a escola se
intensificou. Foi necessária a ida do psicólogo à escola para conversar com o
professor e coordenador da criança. Segundo a professora, a criança passou a
não prestar atenção à aula, a partir daí houve a orientação da professora de
que esta criança estava com medo de “perder” a mãe. Este assunto passou a
ser falado tanto pela psicóloga como pela professora. Depois de um mês, ela
começou a apresentar melhoras no comportamento em sala de aula e na casa
da avó. Depois de dois meses, a mãe voltou para casa e foram trabalhadas
todas as questões com a criança a partir da ludoterapia, discutindo-se em
muitas sessões a questão da doença, da perda, da mudança, da dor, pois ela
estava vivenciando todas estas questões em sua vida.
Assim, o tratamento, como a história de vida da criança, sofre
oscilações; ora esta melhora, ora tem piora. Mas depois de um ano e um mês
de tratamento a criança não teve mais sintomas de depressão de crianças e
adolescentes. Dessa maneira, o diagnóstico assim como a pessoa, sofre
oscilações ou modificações, pois ora a criança está com depressão, ora não
tem depressão. Esta é uma das questões que o S.P.H.S. enfrenta com os
54
médicos do Hospital, pois para eles o diagnóstico é fechado, é depressivo.
Para o S.P.H.S. ele está depressivo, num dado momento, portanto, o
diagnóstico é aberto, sujeito a modificações.
A escola enviou, no final do ano de 2009, um relatório em que
apresentou que a referida paciente não apresentava mais insegurança, nem
medo, tampouco dor de cabeça. Faz amizades com mais segurança, está
menos tímida. Sua aprendizagem está melhor, assim como sua concentração.
O segundo caso a ser detalhado mais detidamente neste trabalho é o de
número 43, que se refere a um menino, cujos desenhos encontram-se no
apêndice três desta dissertação.
De acordo com o relato da professora, ele não conseguia concentrar-se
em sala de aula. Desatento e, quanto à organização do próprio material e das
atividades, não colocava as lições na ordem correta, chegava até a perdê-las.
Muito desinibido, gostava de falar coisas para a turma na sala rir e não
acompanha a tarefa em sala de aula porque contava histórias, especialmente
sobre tubarões, aos colegas de classe, dispersando a atenção de todos. Em
momentos isolados, envolvia-se em pequenas confusões com meninos ou
meninas fora da sala de aula.
Na entrevista com a mãe, é relatado que ele não tem limites, sendo
muito agitado, não a respeitando nem ao pai e, muito menos, ao professor.
Muitas vezes, o via chorando e a criança não dizia o porquê.
Em casa, segundo os pais, nunca quer entrar no banho e, quando entra,
demora muito a sair; o pai comenta que a criança desiste facilmente das
coisas, que joga tudo pelo chão, não tem organização, é teimoso e que tem
55
muito apego a objetos, não aceitando doações de seus brinquedos antigos
desde bebê.
Em outra entrevista somente com a mãe, esta relata que o pai da
criança tem dificuldade em se desfazer das coisas antigas, que é muito
impaciente com o filho, gritando muito com ele e que é perfeccionista. Desde
os cinco anos de idade, a criança sofria crises de dores de cabeça e em alguns
episódios foi necessário internação.
Na aplicação do teste psicológico HTP, antes de iniciar os testes, a
criança relata que a mãe é muito autoritária e que não permite que cometa
erros e comenta: “[...] ela é Hitler na versão mulher, ela me sufoca”.
Seus desenhos do teste encontram-se no apêndice quatro desta
pesquisa.
No desenho da casa, foi observado que ela é insegura, está passando
por um esgotamento nervoso e conflito. No lado esquerdo da parede da casa,
há um sombreamento, o que caracteriza traços de exibicionismo (CAMPOS,
1986, p. 38), gosta de chamar atenção, contar histórias, para na verdade
camuflar sua insegurança, gerando um conflito e um nervosismo. É como se
vivesse “atrás das cortinas” numa dissimulação, fazendo-se de “engraçadinha”
para esconder que sua fragilidade a faz sofrer, pois sua mãe diz a ela que deve
ser forte. Desenhar as janelas com grades significa sentir-se cercado
(CAMPOS, 1986, p. 44) e, como ela mesma diz, sufocada.
No desenho da árvore, observa-se que ela está levemente inclinada
para a direita, representando que a criança está presa ao passado (CAMPOS,
1986, p. 51), o que se percebe claramente no relato da mãe quando esta diz
que ele não se desprende de nenhum brinquedo antigo, remetendo-o ao
56
passado. Outra observação da inclinação à direita da árvore, diz respeito,
segundo a avaliação do teste, à impulsividade (CAMPOS, 1986, p. 51), pois ela
fala o que vem à cabeça, sem pensar. O desenho de um esquilo no galho
significa o sentimento de condenação (CAMPOS, 1986, p. 54); a mãe exerce
este papel com muita rigidez e exigência.
Já no desenho da figura humana, expressa o desejo de triunfar: ser o
“engraçadinho da classe” (CAMPOS, 1986, p. 75), o tronco da figura humana é
maior e desproporcional ao desenho (idem), representando desejo de força,
exibicionismo. O desenho dos olhos é oblíquo, o que significa depressão ou
fraco controle diante do meio (casa) em que vive (idem). O desenho tem ênfase
na orelha, o que representa que ela é muito resistente à autoridade. No boné, a
parte inferior está em negrito, significando dificuldade de aprendizagem (idem).
Após a análise deste teste, junto com a anamnese e entrevista com os
pais, observou-se que quando atribuída a ele a responsabilidade como ir à
escola, gera a dor de cabeça. A mãe exige que ele somente tenha conceitos
“A” nas disciplinas, do contrário, é punido com castigo, cobrando muito desta
criança e, por esse motivo, muitas vezes chora e não diz o porquê aos pais.
Conforme o procedimento rotineiro iniciou-se o tratamento. Observamos
que nesses dias ele reclamava de fortes dores de cabeça, logo pela manhã.
Foi encaminhado ao professor o questionário e este, na observação,
relata que nestes dias a mãe o pega na escola uma hora após sua saída, e a
criança fica na sala dos professores a esperando. Frente a este relato,
chamamos a mãe da criança no S.P.H.S. e pedimos a ela que arrumasse uma
maneira de buscá-lo mais cedo nestes dias. O problema foi solucionado.
57
O professor relatou também que no intervalo de aula ela ficava com a
mãe, que trabalha na escola, na sala dos professores e que esta trazia o
lanche e o almoço para ela. A professora relata também que a mãe da criança
não aceita críticas e nem opinião a respeito da criação de seu filho. Pedimos a
ela que mudasse a atitude de levar o lanche e o almoço e deixá-lo com as
crianças e não na sala de professores, no horário de intervalo. Observamos um
pouco de resistência, mas, após três semanas, a criança já estava no intervalo
com as outras crianças.
A criança diz: “não tenho tempo de brincar, minha mãe quer que eu seja
adulto”.
Em uma das sessões de orientação com a mãe ela chorou e afirmou que
é a culpada pelo que o filho vem passando; que no passado era noviça e
estudou em colégios católicos muito rígidos em São Paulo. Falamos a ela que
não devia se culpar, que somente deveria mudar seu modo de agir com o filho.
E de fato ela mudou muito e parou de “pressionar” e de exigir demais do filho e
as dores de cabeça e de barriga foram desaparecendo.
Após um ano e meio de psicoterapia, de orientação com os pais,
contando com a ajuda da escola, a criança não teve mais dores de cabeça, dor
de barriga, não chora mais sem motivo, começou a prestar atenção na aula,
não falava mais em sala de aula.
Na última sessão, ela e a mãe trouxeram uma carta da coordenadora da
escola ao S.P.H.S. que tratou do comportamento da criança, a qual melhorou
significativamente. Não se apresentava mais exibicionista, não dispersava a
classe com suas histórias e, por fim, não reclamava mais de dores de cabeça e
dores abdominais.
58
Nos dois atendimentos citados, as crianças receberam o diagnóstico de
depressão de crianças e adolescentes, mas a primeira criança apresentava
sintomas de medo, insegurança, choro, enquanto a segunda criança
apresentava o sintoma de nervosismo, agitação e exibicionismo, tendo apenas
em comum fortes dores de cabeça. Por isso o diagnóstico parece, aos pais e
professores, confusos.
4.2 A repercussão dos atendimentos realizados no ambiente escolar
Das 70 crianças atendidas pelo S.P.H.S., há 16 atendimentos no final do
tratamento (por meio de sessões de psicoterapia), os quais as escolas deram o
retorno de como estavam as crianças com o término das sessões.
Dois dos casos já foram citados no item anterior, que foram
respectivamente os casos de nº. 53 e 43 da tabela 7. Para os demais 16 casos,
serão apresentadas as repercussões no ambiente escolar após o tratamento.
O caso de atendimento de nº 4 é de uma menina de oito anos, da 2ª
série do ensino fundamental, que sofreu abuso sexual e, consequentemente,
apareceram sintomas depressivos. A criança recusava-se a ir à escola,
chorava muito, sentia dor de cabeça. Apresentava muita desconfiança e
insegurança, mas o tratamento durou nove meses e no final estava mais
segura, não chorava mais e gostava de ir à escola. De acordo com o professor,
seu rendimento escolar havia melhorado, assim como a concentração em sala
de aula e começou a participar de oficinas de jogos que foram incluídas nas
59
sessões de psicoterapia – que são caracterizadas por sessões individuais, com
as crianças e na orientação dos respectivos pais de acordo com o diagnóstico
e necessidades dos pequenos – e sugeridas pelo S.P.H.S. à escola para
melhor adaptação social do aluno que está sendo atendido. O mesmo
procedimento foi aplicado aos demais casos desta pesquisa.
O outro atendimento que houve repercussão significativa no ambiente
escolar é o de nº. 22. Uma menina de seis anos de idade que chorava e
recusava-se em ir à escola; era agitada e muito nervosa. Após as sessões de
psicoterapia, que durou cerca de seis meses, a escola encaminhou um relatório
onde relatou significativa melhora; a criança não chorava mais para ir à escola,
deixou de apresentar comportamentos agressivos (muitas vezes batia nos
colegas e gritava muito). Com o tratamento, observou-se através das
orientações com os pais, que o pai brigava muito com a mãe, pois o casal
estava passando por uma crise conjugal. Este casal foi encaminhado à
psicoterapia e, após algumas sessões, as brigas do casal diminuíram e,
conseqüentemente, a criança não apresentou mais irritação, agitação e
nervosismo. Na sala de aula, segundo o relatório enviado pela professora, não
batia mais nos colegas e estava mais tranqüila.
Já o atendimento de nº. 28 é de um menino de 16 anos de idade, o qual
apresentava sintomas de ânsia de vômito. Foram realizados vários exames
clínicos por meio dos quais os médicos diagnosticaram transtorno de
ansiedade e o encaminharam a psicoterapia. De acordo com as sessões de
psicoterapia a escola foi avisada e um dos relatórios da coordenação dizia que
ele não se concentrava em sala de aula, muitas vezes chorava na escola no
intervalo e apresentava dificuldade de aprendizagem. Após o tratamento, que
60
durou um ano e dois meses, ele apresentou uma melhora na aprendizagem,
conseguia se concentrar e não se queixava de ânsia de vômito, sintoma de
depressão.
O atendimento de nº. 38 é de uma menina de 13 anos de idade que
segundo a escola, era insegura; quando há atividades culturais e sociais como
jogos, brincadeiras, ficava isolada; tem a auto-estima baixa, muitas vezes
chorava na escola. Após as sessões de psicoterapia, observamos que o pai é
muito autoritário e por ser de uma família evangélica, a qual não permitia que
ela tivesse amigas, até na escola, que não fossem evangélicas. Chamamos os
pais e, após algumas orientações de como proceder em , o pai diminuiu a
exigência em relação à filha. E após três meses de tratamento ela começou a
se envolver nas atividades escolares, parou de chorar, as notas melhoraram,
recebendo alta do tratamento.
A criança, cujo atendimento é equivalente ao nº 10, é uma menina de 11
aos de idade que se recusava em ir à escola e a mãe já havia trocado de
escola várias vezes. Ela não tem limites, não obedece e não respeita ninguém.
Durante o tratamento ela agrediu a mãe e a avó, até o Conselho Tutelar foi
acionado pela escola. As sessões de psicoterapia duraram um ano e foi
observado ao longo deste que a mãe e o pai eram agressivos e usuários de
drogas. A mãe foi internada em clínica de recuperação e após o tratamento dos
pais, juntamente com o da criança, esta apresentou grandes avanços. Passou
a ir à escola e até gostava, estando menos agressiva. A escola encaminhou o
relatório agradecendo toda a equipe do Hospital Samam, inclusive o S.P.H.S.
que cuidou e tratou a criança e toda a família.
61
O atendimento de nº 49 é de um menino de nove anos de idade que
segundo o relatório do professor não conseguia prestar atenção na explicação,
que se distraia com facilidade, apresenta estar no “mundo da lua”, era
esquecido com oscilações no seu humor: ora chegava na escola alegre e ora
chora e que, em atuações em trabalho em grupo, ficava isolado e não
participava. Após seis meses de atendimento em sessões de psicoterapia, o
professor veio até o Hospital e disse pessoalmente à equipe que ele melhorou
em sala de aula no quesito concentração e não se dispersa com tanta
facilidade e mais, se tornou mais comunicativo.
A criança correspondente ao atendimento de nº 10 é um menino de 10
anos de idade, estudava na 4ª série do ensino fundamental. A escola informou
através de um relatório que ele em sala de aula não se concentra nas
atividades e que suas maiores dificuldades estavam na leitura e na escrita, nos
erros ortográficos. A mãe dele relatou que é um menino emotivo, que chora até
quando vê um morador de rua, e que todos os dias chora e diz que sente “um
aperto no peito” todo entardecer. Este é um caso específico de depressão
denominada angústia. Este sintoma relatado pela mãe é comum em adultos.
Após o atendimento em sessões de psicoterapia, que durou aproximadamente
11 meses, a escola envia outro relatório e disse que a aprendizagem melhorou
muito e que está mais seguro, presta mais atenção em sala de aula. A mãe
relata que não chora e não sente mais angústia ao entardecer.
O atendimento de nº 53 é de um menino de sete anos de idade, que
segundo relatório da escola, reclama quase todos os dias de dor de cabeça e
que era muito inseguro e chorava com frequência quando não conseguia
realizar ou finalizar as atividades realizadas em sala de aula. O atendimento
62
em sessões de psicoterapia iniciou e, por razões de doenças familiares, foi
interrompido algumas vezes, mas, após um ano, a escola enviou outro relatório
relatando a grande melhora no caso da insegurança e diminuição de dor de
cabeça. Quanto à aprendizagem, havia melhorado significativamente.
Já o atendimento de nº 56, de uma menina de seis anos de idade,
apresentava um quadro clínico de uma doença de pele que aparece em forma
de manchas brancas de fundo emocional, chamada de vitiligo. Na escola era
muito dispersa, não ficava quieta no lugar, saia de sua sala de aula e entrava
em outra sem autorização do professor. Após longo período de tratamento, de
quase dois anos, a criança não tinha mais vitiligo e sua ansiedade em sala de
aula, assim como sua hiperatividade havia melhorado. Mas até o presente
momento continua em acompanhamento psicológico.
A criança cujo atendimento é de nº 56, é de um menino de nove anos de
idade que, segundo a escola, era desatento e não apresentava motivação em
seu aprendizado. As sessões de psicoterapia duraram aproximadamente oito
meses, os pais separadamente também colocaram limites no filho. Após o
tratamento a escola pediu que ele continuasse a terapia, pois ainda
apresentava dificuldade de concentração, por isso permaneceu ainda em
tratamento psicológico, contudo já estava muito melhor.
O atendimento de nº 57 é de uma menina de nove anos de idade. Ela
viveu até os sete anos em uma aldeia indígena em Rondônia com os pais. O
pai é teólogo e dessa forma possui hábitos diferentes das crianças da região
sudeste e as crianças da escola estavam isolando-a. Alguns objetos como
lápis, borracha de outras coleguinhas da classe desapareceram, e o pai,
conversando com ela, encontrou este material que não pertenciam à sua filha,
63
em seu estojo. Ele se certificou na escola e perceberam que ela estava
pegando estes objetos de outras crianças. A escola a encaminhou ao S.P.H.S.,
onde
se
seguiram
as
sessões
de
psicoterapia,
com
intervenções
psicoterápicas; no momento ela está interagindo com outras crianças. Não
pega mais objetos dos coleguinhas, mas ainda não foi liberada da psicoterapia.
O menino do atendimento de nº 58 tem seis anos de idade. O
encaminhamento da escola dizia que ele sempre era agredido por colegas da
classe e não reagia, nem contava para o professor. Quando o via, já estava
chorando e não dizia nada. Após o atendimento em sessões de psicoterapia,
de durou quatro meses, descobriu-se que os meninos que batiam queriam
sentar no lugar dele; os pais foram chamados na escola e este problema foi
solucionado. Mas o tratamento tem agora a função de fazer com que este
menino consiga se expressar; somente chorava, mas com o acompanhamento
psicológico começou a se expressar e o problema foi solucionado segundo a
coordenação da escola.
O atendimento de nº 61 é de uma menina de oito anos de idade que
apresentava dificuldade de aprendizagem e se recusava em ir à escola. Após
as sessões de psicoterapia, esta criança começou a gostar de ir à escola
segundo a coordenação que veio até o Hospital Samam para relatar
pessoalmente de como a criança havia melhorado. Esta encaminhou outras
sete crianças da escola ao S.P.H.S.
O último atendimento que o S.P.H.S. recebeu o retorno ou devolutiva de
como repercutiu o atendimento no ambiente escolar foi o de nº 67. Uma
menina de 14 anos de idade que não respeita ninguém, nem professores e
nem os pais. Com o término de tratamento, que durou nove meses, ela
64
aprendeu a respeitar o próximo, lidou com limites, pois o tratamento incluiu os
pais que receberam orientações sobre como colocar limites no relacionamento.
A escola enviou um relatório sobre a melhora substancial.
Assim, dos 70 atendimentos no ano de 2009 (muitos iniciaram em 2008
e continuaram o tratamento até 2009 e entraram para a pesquisa), 16
atendimentos foram acompanhados até o pós-tratamento e como foi a
repercussão no ambiente escolar.
A partir destas amostras, observa-se que a depressão de crianças e
adolescentes é heterogênea quanto à classificação de seus sintomas. Mas com
o tratamento psicoterápico, juntamente com o acompanhamento dos pais e dos
professores as crianças deixam de ter o diagnóstico de depressão de crianças
e adolescentes. E, por último, a intenção desta pesquisa foi de esclarecer a
importância dos pais e principalmente dos professores no tratamento de
crianças com depressão de crianças e adolescentes.
Com a conscientização do professor acerca da depressão de crianças e
adolescentes, compreendendo-o, auxiliando e valorizando em suas infinitas
possibilidades, pode-se contribuir para a melhoria do desenvolvimento escolar
das crianças e dos adolescentes.
Tendo em vista a complexidade desse fenômeno, é uma tarefa difícil
para pais e professores identificá-lo. De acordo com Colbert e Cols (1992), a
depressão em crianças não é reconhecida adequadamente pelos educadores.
Elas são identificadas por eles como tendo um problema específico de
aprendizagem. A partir do momento que pais e professores conhecem os
sintomas da depressão de crianças e adolescentes, se bem orientados, sabem
65
como encaminhar essas crianças ao tratamento e, conseqüentemente, a
melhora de sua aprendizagem.
No contexto educacional, o professor deve observar e olhar o aluno em
sua totalidade, considerando suas características de personalidade, seu estado
emocional, suas potencialidades no que se refere a aprendizagem. Conhecer
esta associação pode ser muito importante para aqueles que trabalham com
crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem.
Portanto, o fato de o professor ou pais conhecerem melhor a depressão
de
crianças
e
adolescentes
e
suas
características,
possibilita
encaminhamento precoce, atuando preventivamente com a criança.
o
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados desta pesquisa corroboram com a hipótese de que a
depressão de crianças e adolescentes interfere na aprendizagem. A partir da
amostra de 70 crianças que foram diagnosticadas com depressão de crianças
e adolescentes de 6 a 16 anos pelo S.P.H.S. foi observado que grande
número, ou a grande maioria, apresentava repercussões no ambiente escolar.
Conforme foi observado, a depressão de crianças e adolescentes, assim
como outros problemas psicológicos, gera uma dificuldade de aprendizagem,
pois, como constatou o Serviço de Psicologia, crianças convivem com seus
familiares que muitas vezes apresentam a depressão, o transtorno de
ansiedade, de pânico, enfim, fazendo com que as crianças também se tornem
depressivas, ansiosas, com pânicos. A criança ou a família pode ter vivenciado
uma ou várias perdas, essas podem ser reais como a morte de um ente
querido, perdas financeiras ou até perda de liberdade de brincar. Muitas vezes
a criança entra na escola às 7 horas da manhã e sai às 5h da tarde, gerando
perdas, como a de brincar, de ficar ocioso em casa com os familiares, gerando
uma angústia e, conseqüentemente, a depressão e outros problemas
emocionais.
A depressão também pode ser gerada pelo baixo rendimento escolar,
uma criança que não consegue tirar boas notas, tem a auto-estima afetada e,
conseqüentemente, ficará deprimido e apresentará sintomas da depressão de
crianças e adolescentes.
Daí a importância de orientar pais e professores acerca da depressão de
crianças e adolescentes, ensinando-lhes os sintomas e como atuar no dia a dia
67
com esta criança, incentivando-a e não a criticando, fazendo com que ela fique
mais segura e aumentando sua auto-estima. As orientações passadas aos pais
e professores, aliado com a psicoterapia realizada no Serviço de Psicologia do
Hospital Saman, melhoraram a aprendizagem das crianças e os sintomas de
depressão deixaram de existir.
O tratamento foi realizado a partir do tripé: psicoterapia, orientação aos
pais, orientação aos professores. Com a orientação dos pais, observou-se
maior progresso das crianças e adolescentes na superação da depressão.
Dessa maneira é de grande importância que professores possuam maior
conhecimento e conscientização da depressão de crianças e adolescentes. Na
escola é necessário criar um ambiente que possibilite melhor aproveitamento e
desenvolvimento desta criança.
Os sintomas da depressão manifestam-se de diferentes formas no
contexto escolar. O professor deve estar atento a alguns sinais indicativos de
desanimo, isolamento social, dificuldade na aprendizagem, agressividade,
irritabilidade, além de sintomas físicos como fortes dores de cabeça, náusea,
vomito e dores abdominais. O compartilhamento desses sintomas com seus
familiares para que juntos busquem um tratamento junto a especialistas, como
é o caso do Serviço de Psicologia do Hospital Saman, é o procedimento mais
adequado.
68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANGERAMI - CANON, V. A. Psicologia e religião. São Paulo: Cengage
Learning, 2008.
BAHLS, Saint-Clair. A depressão em crianças e adolescentes e seu
tratamento. São Paulo: Lemos, 2004.
BALLONE, G. J. Médico psiquiatra, Professor da faculdade de medicina da
Pontifícia
Universidade
Católica
de
Campinas.
Disponível
em:
WWW.psiqueweb.med.br, 2003. Acesso em: 30 de setembro de 2010.
BARBOSA, G. A.; LUCENA, A. Depressão de crianças e adolescentes. Porto
Alegre: Artes Médicas, 1995.
BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. Tradução de Maria Adriano
Veríssimo Veronese. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.
BOWLBY, John. Apego e perda. Tradução de Valtensir Dutra. 2ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998. v. 3.
BUCK, J. N. H-T-P: casa-árvore-pessoa, técnica projetiva de desenho: manual
e guia de interpretação. 1. ed. Trad. R. C. Tardivo. São Paulo: Vetor.(Uso
exclusivo de psicólogos), 2003.
CAMPOS, D. M. S. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico
da personalidade. 18 edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1986.
CAMPOS, D. M. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da
personalidade: validade, técnica de aplicação e normas de interpretação. 31
ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1999.
CID-10. Classificação Internacional de Doenças. Artes Médicas: Porto
Alegre, 1992.
COEL, C.; PALÁCIOS, J. MARCHESI, A. Desenvolvimento Psicológico e
Educação: psicologia evolutiva. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995.
COUTINHO, Maria da Penha de Lima, CAROLINO, Zulmira Carla Gonçalves e
MEDEIROS, Emerson Diógenes de. Inventário de Depressão de crianças e
adolescentes (CDI): evidências de validade de constructo e consistência
interna. Aval. psicol. [online]. dez. 2008, vol. 7, nº 3, p. 291-300. Disponível na
World Wide Web: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php>. Acesso em: 02
Março 2010.
CRUVINEL, M. Depressão de crianças e adolescentes. Disponível em:
http//www.plenitudeonline.com.br, 2003. Acesso em: 12 de fevereiro de 2010.
69
CRUVINEL, M. e BORUCHOVITCH, E. Sintomas depressivos em crianças:
estudos com duas versões do CDI. Psicol. cienc. prof. [online]. set. 2008,
vol.28, no.3, p.574-585. Disponível na World Wide Web: <http://pepsic.bvspsi.org.br/scielo.php>. Acesso em: 02 de Março de 2010.
DELEUZE, G. Crítica e clínica. Trad. P. P. Pelbart. São Paulo: Ed. 34,
(1997[1925-1995]).
DOLTO, Françoise. Tudo é linguagem. Tradução de Luciano Machado. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
DSM-IV. Manual Diagnóstico de Transtornos Mentais. Artes Médicas: Porto
Alegre.
GROPPO, L. A.; MARTINS, M. F. Introdução à pesquisa em educação. 2ª
ed. Piracicaba: Biscalchin, 2007.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Petrópolis: Vozes/universidade de San
Francisco, 2005.
KAPLAN, H. I.; SADOCK, B. J. Compêndio de psiquiatria: ciências
comportamentais - psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
Miller, J.A.. O livro de referência para a depressão de crianças e
adolescentes. São Paulo: M. Books do Brasil Editora, 2003.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Estatuto da criança e do adolescente. Brasília:
Editora do Ministério da Saúde, 2008.
CORDEIRO, Yara Camargo. A participação da prática da capoeira no
processo de constituição da identidade adolescente. Dissertação de
mestrado. Universidade Católica de Brasília. Brasília, 2007.
PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e
rebeldia. São Paulo. Casa do Psicólogo, 1999.
PHELAN, Thomas W. TDA/TDAH: transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade - sintomas, diagnósticos e tratamentos. São Paulo: M. Books,
2006.
SENE-COSTA, Elisabeth. Universo da depressão: histórias e tratamentos
pela psiquiatria e pelo psicodrama. São Paulo: Ágora, 2006.
SILVA, J. L. Transtorno bipolar do humor. Porto Alegre: Artmed, 2006.
SILVA, Valdeci Gonçalves da. Teste do Desenho: Um Espelho da Alma
http://www.algosobre.com.br/psicologia/teste-do-desenho-um-espelho-daalma.html Acesso em: 1º de novembro de 2010.
70
SMITH, C.; STRICK, L. Dificuldades de aprendizagem de A a Z: um guia
completo para pais e educadores. Porto Alegre: Artmed, 2001.
WECHSLER, S. M. Avaliação do desenvolvimento cognitivo infantil pelo
desenho da figura humana. Revista Boletim de Psicologia. Vol. LIII, n. 119,
jul/dez. São Paulo: Sociedade de Psicologia de São Paulo, 2003.
APÊNDICE 1: Roteiro da Anamnese infantil
I - Identificação
Nome:_________________________________________________________
Idade:____________________Data de nascimento:_____________________
Sexo: _________________________________________________________
Nome do colégio:________________________________________________
Ano:______________
Pai: ___________________________________________________________
Nome: (iniciais) _________________________________________________
Profissão: ______________________________________________________
Idade:_________________________________________________________
Mãe: __________________________________________________________
Nome: (iniciais) _________________________________________________
Profissão:______________________________________________________
Idade: _________________________________________________________
II - Queixa ou motivo da consulta:
71
______________________________________________________________
______________________________________________________________
III - Antecedentes pessoais:
1 - Concepção:
Nasceu quanto tempo após o casamento?____________________________
A criança foi planejada?___________________________________________
Quantos filhos tiveram o casal?_____________________________________
Moram todos juntos? _____________________________________________
2 - Gestação:
Foi uma gestação planejada?
______________________________________________________________
Passou nervoso na gestação?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Quais as sensações psicológicas sentidas durante a gravidez?
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
Nasceu de cesária ou parto normal?
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
3 - Condição de nascimento:
A criança chorou após-nascer?
72
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
Ficou roxo ao nascer?
______________________________________________________________
Precisou de oxigênio?
______________________________________________________________
Teve icterícia?
______________________________________________________________
Chorou muito nas primeiras horas de vida?
_________________________________________________________OBS.:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
4 - Desenvolvimento da criança:
Amamentou o peito? _____________________________________________
Tirou a fralda com quanto tempo?___________________________________
Andou com quanto tempo? ________________________________________
Falou com quanto tempo?_________________________________________
5 - Desenvolvimento da conduta:
A) Sono
A criança dorme bem?____________________________________________
Pula quando dorme?_____________________________________________
Desde quando? _________________________________________________
73
Baba a noite? _______________Desde quando? ______________________
Sua durante o sono? ____________________Desde quando?____________
Fala dormindo? ________________________Desde quando?____________
Grita durante o sono? ___________________ Desde quando?____________
Range os dentes? _______________________Desde quando?___________
É sonâmbulo? _________________________ Desde quando?____________
Acorda várias vezes à noite e torna a dormir facilmente? _________________
Dorme do lado da cabeceira e acorda nos pés da cama? ________________
Dorme em quarto separado dos pais? _______________________________
Até quando dormiu o quarto dos pais? _______________________________
Qual a atitude tomada para separá-lo? _______________________________
Acorda e vai para cama dos pais? __________________________________
Atitude dos pais? ________________________________________________
______________________________________________________________
Observações:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
B) Alimentação:
Come bem?____________________________________________________
Rejeitou alimentação alguma vez?__________________________________
______________________________________________________________
Atitude tomada__________________________________________________
______________________________________________________________
74
É ou foi forçada a comer?__________________________________________
Observações:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
6 - Desenvolvimento psicomotor:
Quando sorriu
pela
primeira vez?________________________________
______________________________________________________________
Engatinhou? __________________ Sentou? _________________________
Ficou de pé? _________________Andou?____________________________
Qual
foi
a
primeira
palavra
falada?__________________________
______________________________________________________________
Trocou
letras?__________________________________________________
______________________________________________________________
Falou muito errado? ___________________Gaguejou?__________________
Controle dos esfíncteres:
Anal diurno:__________________Anal noturno: _______________________
Vesical diurno:_________________Vesical noturno:____________________
7 - Manipulações e hábitos:
Usou chupeta?______________________Até quando? _________________
Chupou dedo?______________________ Até quando? _________________
Roeu ou roe as unhas? ___________________________________________
Puxa as orelhas? ________________________________________________
75
Arranca os cabelos? _____________________________________________
Morde os lábios? ________________________________________________
Teve tiques nervosos? ________________Quais? _____________________
Observações:
______________________________________________________________
8 - Socialização:
Tem amigos? ___________________________________________________
Prefere brincar sozinho ou com amigos? _____________________________
Faz amigos facilmente? ___________________________________________
Da-se bem com eles? ____________________________________________
Desinteressa-se logo pelos brinquedos? ______________________________
Que tipo de brinquedos prefere? ____________________________________
Lidera nas brincadeiras? __________________________________________
Observações:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
9 - Escolaridade:
Vai
bem
na
escola?__________________________________________
______________________________________________________________
Gosta de estudar?_______________________________________________
Os pais estudam com as crianças?_______________________________
______________________________________________________________
Gosta da professora? _________________ E da escola? ________________
76
É castigada quando não tira boas notas?_____________________________
______________________________________________________________
Dificuldade em que matéria?_______________________________________
______________________________________________________________
Qual matéria gosta mais?__________________________________________
Tem dificuldade na escrita?_________________E na leitura? _____________
Alguma outra dificuldade?_________________________________________
______________________________________________________________
Mudou muito de escola?___________________________________________
10 - Saúde:
Já desmaiou? __________________________________________________
Teve convulsões? _______________________________________________
Foi operada? ______________________Qual cirurgia? _________________
É nervosa? ____________________________________________________
É ansiosa? ____________________________________________________
Chora sem motivo? ______________________________________________
11 - Antecedentes familiares:
Alguém nervoso na família?_________________Quem? ________________
Atraso intelectual?______________________ Quem? __________________
Doença mental? ________________________Quem?__________________
Alcoolismo?_____________________Drogas?_________________________
Vícios?_________________________Suicídio?________________________
77
Observações:
______________________________________________________________
______________________________________________________________
12 - Descrição do dia a dia da criança:
Qual
a
rotina
da
criança?______________________________________
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
______________________________________________________________
Desde o momento que acorda até a hora de dormir? ____________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Com é o lazer desta criança?______________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Gostariam
de
falar
mais
alguma
coisa?________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
78
APÊNDICE 2: Questionário professor
I – O (a) aluno(a)
nome da criança_____________________________
______________________________________________________________
Realiza as tarefas exigidas em sala de aula?
1. sim, todas (
)
2. as vezes sim outras não (
)
3. nunca realiza as tarefas (
)
II - A criança tem colegas na sala de aula?
1. sim (
)
2. não (
)
III - A criança se irrita facilmente?
1. sim (
)
2. não (
)
IV - Ela briga com freqüência com colegas em sala de aula?
1. sim (
)
2. não (
)
V - A criança presta atenção nas explicações em sala de aula?
1. sim (
)
2. não (
)
VI - Descreva como a criança se comporta em sala de aula:
79
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
VII - A criança queixa-se em sala de aula? Sente alguma dor?
1. sim (
)
2. não (
)
Qual?
______________________________________________________________
______________________________________________________________
VIII - Quais são as queixas sobre esta criança?
_______________________________________________________________
_____________________________________________________________
80
APÊNDICE 3: H.T.P. de n° 43
81
82
83
84
APÊNDICE 4: H.T.P. de n° 53
85
86
87
Download