UNISAL Érika Penha DEPRESSÃO E EDUCAÇÃO: O TRABALHO DO SERVIÇO DE PSICOLOGIA DO HOSPITAL SAMAM JUNTO ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE AMERICANA - SP Americana 2010 UNISAL Érika Penha DEPRESSÃO E EDUCAÇÃO: O TRABALHO DO SERVIÇO DE PSICOLOGIA DO HOSPITAL SAMAM JUNTO ÀS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DAS ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE AMERICANA - SP Dissertação apresentada como exigência parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação à Comissão Julgadora do Unisal Centro Universitário Salesiano de São Paulo -, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Francisco Martins. Americana 2010 P457d Penha, Érika Depressão e educação: o trabalho do serviço de psicologia do hospital SAMAM junto às crianças e adolescentes das escolas públicas do município de Americana – SP / Érika Penha. – Americana: Centro Universitário Salesiano de São Paulo, 2010. 87 f. Dissertação (Mestrado em Educação). UNISAL – SP. Orientador: Profº Drº. Marcos Francisco Martins. Inclui bibliografia. 1. Depressão. 2. Educação. 3. Orientação escolar. 4. Psicologia hospitalar. I. Título. CDD – 616.8528 Catalogação elaborada por Terezinha Aparecida Galassi Antonio Bibliotecária do Centro UNISAL – UE – Americana – CRB8/2606 BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Profº. Dr. Marcos Francisco Martins UFSCar _______________________________________________ Profª. Dra. Sueli Maria P. Caro Unisal ________________________________________________ Profª. Dra. Viviane Melo de Mendonça UFSCar Agradecimentos Primeiramente a Deus, que ilumina meus passos. A minha mãe, que plantou a semente da educação da paciência. Aos meus filhos Beatriz e Yonathan, por compreenderem os momentos de ausência no decorrer desta pesquisa. Aos diretores-clínicos e colaboradores do Hospital SAMAM. Aos professores do mestrado em Educação do UNISAL, que proporcionaram o conhecimento nesta jornada científica. Ao meu orientador Prof. Dr. Marcos Francisco Martins, que brilhantemente me conduziu na metodologia desta pesquisa. RESUMO Este trabalho tem como objetivo analisar as relações da depressão de crianças e adolescentes no ambiente escolar. Da pesquisa realizada participaram 70 crianças com a idade de 6 a 16 anos, alunos de escolas públicas do município de Americana, atendidas no Hospital SAMAM pelo Serviço de Psicologia. Este Serviço hospitalar procura orientar pais e professores no convívio com as crianças, com o intuito de minimizar o sofrimento delas. As crianças encaminhadas ao Hospital pelas escolas apresentavam queixas de fortes dores de cabeça, abdômen, náusea, dificuldade de concentração, recusa em ir à escola, choro, irritação, nervosismo. Por meio de abordagem quantitativa e qualitativa, a coleta de dados estruturou-se em dois momentos: no primeiro realizou-se a pesquisa bibliográfica sobre a depressão de crianças e adolescentes; no segundo, trabalhou-se com as informações obtidas nos atendimentos das 70 crianças atendidas, juntamente com os dados obtidos com os pais e professores sobre a depressão dessas crianças e adolescentes e sua repercussão no ambiente escolar. Entre os resultados alcançados, ressalta-se o que indica que a escola e os pais são peças-chave para o tratamento da depressão de crianças e adolescentes. Palavras-chave: Hospitalar. Depressão, Educação, Orientação Escolar, Psicologia ABSTRACT This work aims to analyze the relations of childish depression in scholar environment. A research was done with 70 children, who were from 6 to 16 years old, and were also students of public schools from Americana city, attended at Sammam Hospital, by the Psychology Service. This hospitalar service aims to orient parents and teachers on how to deal with children, trying to minimize the sufferings of these kids. The children who were sent to the hospital by their schools complained of strong headaches, bellyaches, nausea, concentration difficulties, irritation, crying, anxiety and they denyed to go to school. By qualitative and quantitative approaches, the research for data was structured in two phases: on the first one, a bibliographical research about childish depression was done; on the second phase, the information which were collected on the process of attending these 70 children were investigated, and this investigation was linked to the information which were obtained with the parents and teachers about the childish depression of these kids and its repercussions on scholar environment. Ammong the reached results, it is possible to highlight the one which indicates that the schools and parents are indispensable for the treatment of childish depression. Key-Words: Psychology. Depression, Education, Scholar Orientation, Hospitalar SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................... 7 CAPÍTULO I - SOBRE A METODOLOGIA DA COLETA DE DADOS DA PESQUISA ....................................................................................................... 11 1.1 A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA........................................................................ 11 1.2 OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ................................................... 12 CAPÍTULO II - DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E SUAS REPERCUSSÕES NA ESCOLA ...................................................................... 16 2.1 HISTÓRIA DA DEPRESSÃO ........................................................................... 16 2.2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE OS PROBLEMAS PSICOLÓGICOS NO AMBIENTE ESCOLAR.......................................................................................... 25 CAPÍTULO III - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE AMERICANA – SP ................................................ 35 3.1 O SERVIÇO DE PSICOLOGIA DO HOSPITAL SAMAN......................................... 35 3.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA ........................................................................ 37 3.3 HISTÓRICO DOS ATENDIMENTOS DOS SUJEITOS DA PESQUISA. ....................... 39 CAPÍTULO IV - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E SUAS REPERCUSSÕES NO AMBIENTE ESCOLAR................................................ 47 4.1 O TRATAMENTO DA DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES REALIZADO PELO S.P.H.S ................................................................................................. 47 4.2 A REPERCUSSÃO DOS ATENDIMENTOS REALIZADOS NO AMBIENTE ESCOLAR ... 58 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 68 APÊNDICE 1: ROTEIRO DA ANAMNESE INFANTIL ..................................... 70 APÊNDICE 2: QUESTIONÁRIO PROFESSOR ............................................... 78 APÊNDICE 3: H.T.P. DE N° 43 ........................................................................ 80 APÊNDICE 4: H.T.P. DE N° 53 ........................................................................ 84 7 INTRODUÇÃO A saúde mental é tão importante quanto à saúde física para o ser humano, para que se possa ter uma vida saudável e equilibrada. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), calcula-se que 300 milhões de pessoas no mundo sofrem de depressão, sendo um terço de crianças e adolescentes que adquirem este transtorno de humor, o que gera incapacidade na qualidade de vida. O adulto começa a enfrentar problemas relacionados ao convívio social, o trabalho fica prejudicado e, conseqüentemente, a vida familiar sofre modificações. Em crianças o sofrimento ocasiona transtorno na vida familiar, repercutindo em sua vida escolar. De acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID10), a depressão causa diminuição da atividade por causa do estado emocional, apatia, abatimento moral, falta de coragem para enfrentar a vida. E em crianças, além desses, a irritação e o nervosismo. Tentativas de estudar a depressão de crianças e adolescentes têm surgido desde início do século XIX, atualmente não existem dúvidas quanto à existência da depressão em crianças em idade escolar. O referencial teórico no qual esses atendimentos psicológicos são embasados é o fenomenológico e existencial, partindo da premissa de que o ser humano é sujeito e objeto do conhecimento e que vivencia intencionalmente sua existência, atribuindo-lhe sentido e significado. Heidegger (2005) afirma que a essência da existência humana é existir em pluralidade com suas percepções, sentimentos, pensamentos, e não em si mesma de 8 forma isolada, uma vez que pertence a um mundo em transformação constante, portanto o homem está em constante transformação também. O tema desta pesquisa refere-se às repercussões da depressão de crianças e adolescentes no ambiente escolar. Avaliou-se como a criança se comporta em sala de aula, segundo os dados coletados a partir de questionário respondido pelos professores. Posteriormente, orientou-se a como “lidar” com esta questão em sala de aula, concomitantemente com o tratamento de psicoterapia realizado no Serviço de Psicologia do Hospital Saman (SPHS), e com a orientação dos pais. O que motivou esta pesquisa foi a minha prática como psicóloga no Hospital Saman (SPMS), em Americana/SP, e uma considerável demanda que o serviço de Psicologia deste Hospital tem recebido de encaminhamentos escolares de crianças com sintomas de depressão de crianças e adolescentes, bem como outros problemas psicológicos que prejudicam a aprendizagem escolar. O primeiro capítulo enfoca a metodologia e os instrumentos utilizados na coleta de dados desta pesquisa. Apresentamos a bibliografia acerca dos problemas psicológicos, Ansiedade, Transtorno dentre de eles Pânico, a Hiperatividade, Transtorno Transtorno de Obsessivo-Compulsivo, Transtorno Desafiador-Oposicionista, Transtorno de Conduta, que interferem na aprendizagem escolar e a Depressão de crianças e adolescentes. Bem como os primeiros procedimentos empregados no atendimento dos casos que chegam ao SPHS. No segundo capítulo apresentaremos, de forma sucinta, a história da depressão e algumas interpretações históricas acerca desta questão, assim, 9 será possível ao leitor compreender o caminho percorrido por especialistas mediante esse problema tão comum nos dias atuais. Discutiremos também sobre as repercussões da depressão de crianças e adolescentes na escola neste momento. No terceiro capítulo apresentamos alguns dados sobre a estrutura física e humana do Hospital Saman, bem como do SPHS. Apresentamos e analisamos o perfil das crianças atendidas, sujeitos da pesquisa. Neste momento também apresentamos relato de todos os encaminhamentos realizados pelas escolas, e como eles repercutiram no ambiente escolar. Descrevemos como ocorre o tratamento desde o encaminhamento até o tratamento, contando com o auxílio dos pais e professores a partir da orientação dada a ambos no decorrer do tratamento da criança. Consideramos importante a descrição do teste casa-árvore-pessoa (HTP), do inglês: House-Tree-Person, para elucidar o processo de avaliação e diagnóstico dos casos que chegaram até nós no Serviço de Psicologia. Descrevemos casos exemplares, desde a chegada ao Hospital Samam até o retorno no que se refere ao comportamento da criança no ambiente escolar elucidado pela escola. O capítulo quatro traz a relação dos atendimentos realizados no ambiente escolar com o relato dos resultados que a escola observou nos alunos tratados. Foi possível inferir, na conclusão, os limites e possibilidades deste trabalho, que aponta pontos positivos e negativos observados nos processos de atendimento. Um dos aspectos positivos apontados é que as crianças tiveram significativas melhoras, a maioria já recebeu alta, e um dos pontos 10 negativos que observamos foi que, como o SPHS está sendo implantado, ele sofre de algumas debilidades, como espaço físico, por exemplo, mas a partir de março de 2010 este Serviço mudou de endereço e o espaço físico já está se adequando à demanda e aos atendimentos. Minha prática profissional tem demonstrado que o número de casos de depressão de crianças e adolescentes vem aumentando proporcionalmente ao crescimento demográfico, conseqüentemente, surgem problemas de natureza humana, pois há um déficit na quantidade de especialista na área, como também de recursos financeiros, para o atendimento adequado de todos os casos que surgem, isto tendo em vista as complexas interações sociais e familiares que repercutem no ambiente escolar. Não há distinção da complexidade dos problemas relacionados à depressão por classe social, gênero, religião, sexo, caráter geográfico, idade. Crianças e adolescentes sofrem de problemas que fazem parte do universo adulto e isso é cada vez mais preocupante. O reflexo no ambiente escolar é parte integrante destas repercussões e é clara a visualização de que somente com a interdisciplinaridade podemos vislumbrar seres humanos mais preparados para enfrentar, infelizmente, o inevitável: os problemas de ordem psicológica como é a depressão. 11 CAPÍTULO I - SOBRE A METODOLOGIA DA COLETA DE DADOS DA PESQUISA Para que se torne compreensível o caminho percorrido para a concretização desta pesquisa é necessária a apresentação da metodologia empregada na coleta de dados. Neste início esta apresentação será realizada de forma breve, pois na própria descrição dos resultados da pesquisa, este processo ficará bastante claro. 1.1 A pesquisa bibliográfica O livro de referência para a depressão de crianças e adolescentes foi o de Miller (2003). Ele guiou, forneceu informações e considerações acerca de conceitos técnicos ao esclarecimento do estado da arte do tema depressão de crianças e adolescentes. Sua abrangência e qualidade reconhecidas na área muito nos ajudou a esclarecer conceitos, aspectos técnicos e o desenvolvimento futuro de nossa pesquisa de campo. Phelan (2005) e Peres (2006) também figuram em bibliografias citadas ao longo da dissertação, embasando pontos de vista e enriquecendo nosso estudo. Obras de referências, guia de doenças e outros trabalhos ao longo do texto são citados, parametrizando dados e doenças dentro de padrões já 12 normalizados internacionalmente. Bases de dados nacionais e internacionais de publicações periódicas também foram consultadas. 1.2 Os instrumentos de coleta de dados Esta pesquisa é fruto da implantação do S.P.H.S. e os instrumentos utilizados na coleta de dados fazem parte do dia-a-dia da instituição hospitalar. O encaminhamento dos alunos ao SPHS é feito pela escola. Eles chegam acompanhados pelos pais. A escola envia um relatório, no qual é narrado como a criança se socializa em sala de aula, se existe alguma dificuldade em seu aprendizado, como se comporta na escola, se realiza ou não as tarefas escolares e, muitas vezes, relatam também sintomas físicos como dores de cabeça, abdominais, náusea e vômito. Após a leitura desse relatório de encaminhamento escolar, inicia-se a primeira entrevista com os pais da criança. A primeira entrevista é “semi-aberta” ou também chamada de “semidirigida”. Nela os pais têm a liberdade para expor os problemas da criança por onde quiser e como preferir. Assim, o psicólogo analisa e observa o contexto familiar em que a criança está inserida. Na primeira entrevista a criança não está presente, somente os pais. Esta condição é informada pela recepção do Hospital no momento em que se marca o horário da entrevista; a recepcionista informa que a criança não entrará na sessão. 13 Já que se refere a uma entrevista com os pais é importante a presença de ambos, mas nem sempre isso ocorre, porque muitos pais são atualmente separados e, assim, ocorre de os pais preferirem ser atendidos separadamente. E a ansiedade e/ou depressão são demonstradas na primeira entrevista. Em muitos momentos têm-se a impressão de que, tanto quanto as crianças e adolescentes, os pais também necessitam de psicoterapia. A este respeito, Campos (1986) comenta: Os primeiros sinais de ansiedade aparecem, normalmente, na primeira entrevista, quando os pais começam a relatar a história do filho [...]. Na primeira entrevista é importante registrar o que diz cada um dos pais, como e quando o dizem, o que lembram e como fazem, o que esquecem, de maneira a poder reconstruir posteriormente, com a maior fidelidade possível, o diálogo e os elementos não verbais do encontro. (p. 37) Estas questões acima comentadas acerca da primeira entrevista são de fundamental importância para a coleta de dados, pois observa-se como é a dinâmica de família. E no caso do filho de pais separados, como a criança e seus pais lidam com a distância, a separação, a perda. Depois da primeira entrevista, marca-se uma segunda com os pais. Esta é uma entrevista mais estruturada, que na psicologia é chamada de anamnese infantil. Caracteriza-se por uma série de perguntas que abordam desde o desenvolvimento gestacional, até como é o seu desenvolvimento físico, motor e da linguagem, formando enfim um histórico médico e psicológico. É um relato sobre a sequência de fatos importantes a respeito da situação atual, escolar e pregressa da criança. É um instrumento muito valioso porque faz com que o psicólogo conheça a história de vida e do desenvolvimento da criança. 14 Embora haja um roteiro orientador, as entrevistas são conduzidas com naturalidade e de forma espontânea, criando um processo dinâmico, pois estabelece a inter-relação entre o psicólogo e os pais da criança. Quando encerra a anamnese infantil com os pais, passa-se a eles o questionário a ser entregue ao professor da criança. Neste questionário o psicólogo saberá diretamente do professor a queixa escolar, como a criança se socializa com outros colegas, as dificuldades apresentadas na aprendizagem, se chora sem motivo em sala de aula, enfim o questionário respondido pelo próprio professor torna-se mais um instrumento utilizado como coleta de dados. Ocasionalmente, muitos professores marcam horários e vão até o S.P.H.S. entregar o questionário e falar com o psicólogo sobre determinada criança. Segundo Groppo e Martins (2007) “[...] o questionário visa coletar dados através de questões que facilitam o pesquisador na coleta de dados.” (p. 55) E neste caso, aproxima a distância física entre o psicólogo-pesquisador e o professor, pois há intermediários, e então os pais, muitas vezes, levam ao S.P.H.S. relatos como: “trouxe meu filho porque a escola encaminhou”. Tais relatos são muito comuns e eles demonstram o quanto as pessoas são distantes uma das outras. E esta “distância” gera recorrentemente angústia, depressões. Terminadas as entrevistas e os questionamentos com pais e professores, inicia o tratamento com a criança. E quando o psicólogo a recebe, procura-se colocar em “suspenso” tudo o que sabe a seu respeito: suas queixas escolares, sua história relatada pelos pais; conversa e, muitas vezes, até brinca para conhecê-la melhor, pois toda relação necessita de um vínculo. 15 A criança mostra-se como é, a partir de sua essência, ou melhor, do que guarda em si sem receios de admoestações de qualquer espécie. Muitas vezes, há uma distância muito grande entre o que os pais, o professor ou os familiares relatam da criança e o que é observado dela. Levando em conta a individualidade e a singularidade de cada um, esta primeira sessão com a criança é muito importante, pois cada um tem uma história de vida e cada um tem um repertório de convivência e de relações sociais. De acordo com Dolto (1999), Palavra, representação, desenho, mímica, modelagem, é isso que faz a cultura, a literatura, a escultura, a música, a pintura, o desenho, a dança - tudo isso são representações de desejos e não vivências no corpo-a-corpo com o outro. (p. 27). Assim a linguagem está expressa no brincar, no falar, no desenho, está em tudo, pois tudo é linguagem. “As crianças sabem. Elas lhe contam através dos desenhos, sem saber o que contam. Elas sabem inconscientemente. É muito melhor que a coisa expressa com palavras” (DOLTO, 1999, p. 83). Nunca cessa o conhecer o outro, de modo que a coleta de dados se dá até no tratamento. E isso porque nele a criança expressa suas fobias, medos, angústias e também suas alegrias, euforias no brincar, no falar, no dançar, enfim estão em constante transformação. Assim, o processo de coleta de dados nunca cessa, num processo psicoterápico, pois estamos em constantes transformações é preciso continuar conhecendo e coletando dados durante o tratamento e analisando as repercussões da depressão de crianças e adolescentes no ambiente escolar. 16 CAPÍTULO II - DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E SUAS REPERCUSSÕES NA ESCOLA Neste capítulo abordaremos, além da história da depressão, tratada brevemente a título de situação do problema na história, da repercussão que este problema pode ter na vida escolar. 2.1 História da depressão A depressão é atualmente uma doença ou transtorno que causa incapacitação do homem no trabalho, na escola e na vida social. Constitui-se em grande desafio para os profissionais da área da saúde. A estimativa atual da O.M.S. é de que aproximadamente 340 milhões de pessoas no mundo apresentam pelo menos um episódio depressivo ao longo da vida. Ela pode afetar pessoas em qualquer fase da vida, inclusive na infância e na adolescência, e evolui de forma crônica para, aproximadamente, 20% dos indivíduos. O humor deprimido é mencionado como uma sensação forte de tristeza ou desesperança, como falta de coragem ou ainda uma angústia indescritível. A diminuição ou falta de energia em 97% dos casos ou falta de motivação, cansaço, fadiga ou preguiça exagerada que impossibilitam as atividades domésticas, no trabalho e, no caso de crianças e adolescentes, na escola (KAPLAN e SADOCK, 1993). 17 Provavelmente, a depressão é tão antiga quanto a humanidade, ou seja, a tristeza acompanha o homem desde sua origem. Na Antiguidade, ainda no século IV a.C., Hipócrates teria uma teoria ao investigar esses sentimentos de angústia, solidão, denominada de Quatro Humores. Segundo esta teoria o homem, para ter saúde, precisa estar em equilíbrio, em harmonia com os Quatro Humores que são os seguintes: a bílis negra, a bílis amarela, o sangue e a pituíta ou fleugma (muco secretado pela membrana mucosa). A bílis negra é secretada pelo baço, já a bílis amarela é secretada pelo fígado. O sangue é o responsável pelo bombeamento do coração, e a pituíta ou fleugma é responsável pelo sistema respiratório. Aristóteles escreve sobre a melancolia pela primeira vez em “A Problemata 30”, texto no qual fala da relação entre a genialidade e a loucura. A melancolia é vista como inata ao homem e surge, assim, a condição da genialidade indispensável à criação, à filosofia, à arte, à literatura. A este respeito, Peres (2006) comenta: Uma ambigüidade se estabelece, pois, no uso da palavra melancolia: por um lado um humor natural e não necessariamente patogênico e, por outro lado, uma doença mental produzida por um excesso de desequilíbrio dos humores. (PERES, 2006, p. 15). Na Idade Média, a Igreja Católica identificava as pessoas melancólicas ou com comportamentos diferenciados dos esperados como possuídos de influências demoníacas, consideravam hereges e bruxos e muitos nessa época foram mortos pela Santa Inquisição. No final do século XVIII, Phillipe Pinel (1745-1826), médico responsável pelo estudo das perturbações mentais na medicina, baseou-se, sobretudo na observação clínica da melancolia, atual depressão, que era definida por uma tristeza, abatimento e desgosto de viver. 18 No início do século XIX, chega ao fim a teoria dos humores de Hipócrates e a designação de melancolia também cai por terra. Em 1883, o psiquiatra alemão Emil Kraepelin (1856-1926) escreve o primeiro Compêndio de Psiquiatria, no qual a melancolia ou depressão recebeu o nome de psicose maníaco-depressiva. No final do século XIX, a Europa passou por transformações no modo de vida, principalmente em conseqüência da Revolução Industrial. Palco de uma aceleração do desenvolvimento industrial, desta forma surgem novas condições de vida. Com a agitação dos grandes centros urbanos, a neurastenia ganha a dimensão da “doença da modernidade”. Segundo a Classificação de Transtornos Mentais da CID-10 (1993), a neurastenia é classificada como transtorno de humor, isto é, como depressão. Georg Beard (1839-1883) definiu a neurastenia como doença da vida moderna, pois fatores sociais de diferentes modalidades podem ser considerados fonte do adoecimento. Jean Martin Charcot (1825-1893), um dos grandes nomes da neurologia na Europa, questionou a maior incidência de neurastenia nas classes trabalhadoras e elevou a noção de traumas como elemento entre os fatores etiológicos. Após muito estudo e pesquisa, se junta a Charcot um dos seus discípulos mais famosos, Sigmund Freud (1856-1939), nascendo a Psicanálise. Freud comprova que os sintomas não tinham correspondentes orgânicos, e sim psíquicos, emocionais. Em O mal-estar na civilização (1930) Freud narra que a felicidade é episódica e que a depressão é gerada por mudanças, enfatizando aspectos sociais e econômicos responsáveis por elas. Surge, então, pela primeira vez a 19 palavra depressão para caracterizar a melancolia de algumas épocas e neurastenia em outras. Segundo Freud, a infelicidade é experimentada mais facilmente, pois padecemos de três ameaças de sofrimento: nosso próprio corpo, que nos envia sinais de alarme de dor e de angústia devido ao inevitável processo de envelhecimento; o mundo externo, e o desgosto fruto das relações com outros indivíduos. Freud (1930) comenta: Parece certo que nos sentimos confortáveis na civilização atual, mas é muito difícil formar uma opinião sobre se, e em que grau os homens de épocas anteriores se sentiram mais felizes, e sobre quais condições culturais desempenham nessa questão. (FREUD, 1930, p. 95). Freud nos chama a atenção para situação paradoxal de o próprio homem ser responsável por criar situações que se revertam mais à frente em mal-estar. O homem, por natureza, tem a tendência de criar situações que no futuro sejam complicadas. De outra maneira: ou mudamos o nosso pensar e agir ou adoecemos, ficando depressivos. Advoga a idéia já citada anteriormente, considerando a depressão uma patologia das mudanças. Do ponto de vista social e histórico, a depressão pode ser determinada por grandes modificações, como no pós-guerra, quando surgem as infelicidades, as melancolias e as depressões. Ainda nesta obra de 1930, Freud discute como a repressão coercitiva imposta pela sociedade priva o sujeito de seu próprio desenvolvimento, gerando uma angústia, a depressão. Pois, o instinto humano é, segundo ele, naturalmente agressivo. 20 Já a história da depressão de crianças e adolescentes está cheia de incompreensões. Os estudos sobre a depressão na infância e do adolescente iniciaram-se em 1852, quando alguns pesquisadores acreditavam que os sintomas são iguais aos dos adultos. Outros pesquisadores, por sua vez, advogavam a idéia da não existência dos mesmos sintomas em crianças e adultos. De acordo com Barbosa e Lucena (1995), há a correlação entre depressão de crianças e adolescentes e pais depressivos. Portanto, segundo esses autores, filhos de pais depressivos muito provavelmente terão depressão. “A família é um dos grandes fatores estressantes de Depressão de crianças e adolescentes [...]” (BARBOSA e LUCENA, 1995, s/p). Até a década de 1960, não se aceitava a idéia de que as crianças ficassem deprimidas. O diagnóstico em adultos surgiu no final do século XIX, com o surgimento da Psicologia. A primeira e mais precisa pesquisa realizada acerca da depressão de crianças e adolescentes ocorreu no final da década 1950, nos Estados Unidos, desenvolvida pelo Dr. Leon Aytryn, pediatra que observou que as crianças internadas em hospitais para a realização de cirurgia muitas vezes demonstram tristeza e reclusão. Ele realizou diversas pesquisas e, por meio delas, concluía que aproximadamente 50% das crianças vivenciavam sintomas de depressão, incluindo tristeza, desamparo, irritabilidade, isolamento social, distúrbio do sono, ansiedade de separação, evasão escolar ou recusa em ir à escola, dificuldade de aprendizagem e desenvolvimento de fobias. O trabalho do Dr. Aytryn foi de grande importância, pois provou que os sintomas da depressão na infância eram iguais aos dos adultos. 21 Em 1970, Warren Weinberg e seus colegas colaboradores desenvolveram os primeiros critérios para o diagnóstico da depressão em que as diferenças de desenvolvimento entre crianças e adultos eram consideradas. Antes de Weinberg, os pesquisadores dividiram-se em dois grupos divergentes: um advogava a idéia de que a depressão em crianças era muito parecida com aquela dos adultos, pois os sintomas eram considerados como auto-imagem negativa, experienciavam abatimento, apatia, alterações no apetite, o sono e reclusão social; o outro grupo acreditava que as crianças portavam sintomas “encobertos”, que normalmente não eram observados na depressão de adultos. Em crianças acreditava-se que a depressão era encoberta por sintomas como mau humor, fobias escolares e rebeldias. E nos adolescentes, era caracterizada por inquietação, tédio, delinqüência, agressão e ansiedade. Este segundo grupo, o que defendia a “depressão encoberta”, com o passar do tempo observou que a depressão na criança é igual ou parecida com a do adulto. “Atualmente não se questiona o fato de que as crianças podem ficar deprimidas e realmente ficam” (MILLER, 2003, p. 7). Tradicionalmente o diagnóstico é orientado por duas formas: 1) Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da O.M.S., CID-10 (1992); 2) Manual de Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais da Associação Americana de Psiquiatria, DSM-IV (1994). A Classificação Internacional de Doenças - C.I.D., formulada pela O.M.S., define e classifica a depressão como um transtorno de humor, que pode ser expresso segundo o quadro a seguir: 22 Quadro 1 – CLASSIFICAÇÃO DA DEPRESSÃO Transtornos do Humor Transtornos Bipolares (mania ou hipomania e depressão bipolar) Transtorno Depressivo (depressão unipolar) Distimia Bipolar I Bipolar II Ciclotimi a Transtorno Depressivo Maior (TDM) Fonte: SENE-COSTA (1996, p. 42) A depressão é diagnosticada a partir desses transtornos: o transtorno depressivo é chamado também de Depressão Unipolar, pode ser um Transtorno Depressivo Maior - T.D.M. ou Distimia; e o Transtorno Bipolar, que é chamado também de Depressão Bipolar ou Episódio Maníaco, pode ser Bipolar I ou Bipolar II ou ainda Ciclotimia. Portanto, há quatro tipos de depressão: T.D.M., Distimia, Bipolar e Ciclotimia. O T.D.M. afeta pessoas em qualquer fase da vida, inclusive na infância e na adolescência. Tem a seguinte característica: ocorre no período mínimo de duas semanas durante os quais há um humor deprimido ou perda no interesse social. Segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), o indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas para o diagnóstico da T.D.M.: 23 → 1- humor deprimido na maior parte do dia, com sintomas de choro, sentimento de tristeza e vazio. Em criança e adolescente, observa-se humor irritável; → 2- diminuição do interesse por atividades do dia a dia; → 3- perda ou ganho significativo de peso; → 4- insônia ou hipersonia (muito sono) quase todos os dias; → 5- agitação ou retardo psicomotor; → 6- fadiga ou perda de energia quase todos os dias; → 7- sentimento de inutilidade ou culpa (baixa auto-estima); → 8- capacidade diminuída de pensar ou concentrar-se ou ainda indecisão quase todos os dias; e, → 9- pensamento de morte. Crianças com T.D.M. têm maior propensão ao choro, irritabilidade, ansiedade, fobias, queixas de dores. As mais comuns são dores abdominais e de cabeça, pois um número significativo de crianças encaminhadas por escolas ao S.P.H.S, apresentavam queixas de dores no abdômen e na cabeça. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais DSM-VI, é maior o número de meninas adolescentes de que em meninos adolescentes. Já na menor idade a incidência é igual em meninas e meninos. De acordo com Miller (2003), a depressão inicia-se por volta dos seis anos de idade. Não descartamos nesta pesquisa a hereditariedade, mas nos fixaremos mais nas questões comportamentais, sociais, familiares, econômicas dessas crianças com depressão de crianças e adolescentes. 24 Por sua vez, o Transtorno Distímico caracteriza-se pela predominância do humor deprimido na maior parte do dia, por pelo menos dois anos. Em crianças, o humor pode ser irritável em vez de deprimido, este aparece em adultos e adolescentes. Para a comprovação do diagnóstico, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID), é necessário apresentar dois ou mais dos sintomas a seguir: → 1- irritação na maior parte do dia; → 2- diminuição no apetite; → 3- insônia ou hipertonia; → 4- baixa energia ou fadiga; → 5- fraca concentração; e, → 6- sentimento de desesperança. A distimia é considerada, por alguns especialistas, como um subtipo depressivo, pois é uma forma menos grave de T.D.M. A palavra distimia tem origem grega e significa, etimologicamente, mal-humorado. É caracterizado por um estado depressivo crônico (não tão intenso quanto o T.D.M.) por isso o seu diagnóstico se dá após dois anos. Os Transtornos Bipolares são caracterizados por mudanças, ora está bem, ora fica deprimido, pois a alternância de humor é muito significativa. Apresenta episódios de mania (euforia) que se alternam com episódios de depressão. Os sintomas podem se manifestar em qualquer fase da vida, embora seja muito comum no início da adolescência. Os Transtornos Bipolares são subdivididos em três tipos: Bipolar I, Bipolar II e Ciclotimia. 25 O Transtorno Bipolar I é caracterizado pela ocorrência de um ou mais episódios maníacos acompanhados de um ou mais episódios depressivos. É uma doença crônica e recorrente, na qual mais de 90% dos sujeitos que tiveram algum episódio maníaco apresentarão outros episódios durante suas vidas. Já o Transtorno Bipolar II, caracteriza-se por um ou mais episódios depressivos, não ocorrendo o episódio maníaco. E, por último, a Ciclotimia ou Transtorno Ciclotímico é caracterizado por uma instabilidade de humor leve, por isso o seu diagnóstico recorrentemente passa despercebido, e a pessoa é vista como “temperamental”, “de lua”. 2.2 Algumas considerações sobre os problemas psicológicos no ambiente escolar Os problemas psicológicos na infância e na adolescência refletem-se no ambiente escolar, dificultando a atenção e concentração do aluno em sala de aula, mas antes de entrar nas questões relacionadas à depressão, farei uma pequena definição de criança e adolescente. Conforme a faixa etária, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) (2009), a pessoa é considerada criança até 12 anos incompletos, e considera-se adolescente a que possui entre 12 e 18 anos de idade. De acordo com Cordeiro (2007), no que se refere às características gerais destas faixas etárias, há variações conforme o contexto, ou seja, há diversidade na compreensão e experiência de infância e adolescência de 26 acordo com a cultura, pois se tratam de construções culturais e sociais. A adolescência é um período da vida situada entre a infância a idade adulta, no entendimento de Cordeiro (2007) esta é uma fase crucial para a formação da identidade da pessoa. Quanto à infância, esta pode ser subdividida em primeira, segunda e terceira infância. É entendida como uma fase em que ocorre a socialização, quando se supera o egocentrismo. De acordo com a classificação de transtorno mentais e de comportamento da CID-10 Problemas psicológicos começam cedo no desenvolvimento (usualmente nos primeiros cinco anos de vida), persistindo através dos anos escolares (p. 256). Dentre os problemas psicológicos, o que ocorre com maior incidência é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (T.D.A.H), pois, aproximadamente 60% das crianças que foram encaminhadas ao serviço de psicologia do Hospital Samam (SPHS), no ano de 2009 apresentavam o T.D.A.H. Outros problemas psicológicos que Reno cita como presentes no ambiente escolar são: Transtorno Obsessivo-Compulsivo; Transtorno de Pânico; Distúrbio Oposicionista-Desafiador; Distúrbio de Conduta. Esses problemas psicológicos citados fazem parte da gama de conseqüências da depressão, são como características dela. Todos serão expostos a ela com certa brevidade, com exceção do T.D.A. No ambiente escolar o professor de escola pública depara-se com uma série de dificuldades. Entre elas a dificuldade de aprendizagem dos alunos, problemas comportamentais desses alunos, entre outros. O TDAH é uma doença que afeta de 3 a 5% da população escolar infantil, comprometendo o desempenho, dificultando as relações interpessoais 27 e provocando baixa auto-estima (SMITH e STRICK, 2001). As crianças que estão com este problema psicológico, são freqüentemente acusadas de “não prestar atenção”, mas na verdade elas prestam atenção a tudo. Não conseguem planejar, contudo, com antecedência, finalizar e organizar respostas rápidas. Na escola é que a criança hiperativa vai demonstrar as características que definem a doença, como: dificuldade em se concentrar; não ficar envolvida com uma atividade só; movimentar-se e conversar constantemente. Outro sintoma é a impulsividade, comportamento que se caracteriza por não pensar antes de agir, podendo provocar situações perigosas. A classificação de transtornos mentais e de comportamento da CID-10 apresenta sintomas que caracterizam o TDAH, são eles: atenção comprometida; parece não ouvir quando se fala com ela; dificuldade em organizar-se; inquietação; dificuldade em permanecer sentada; fala excessivamente; agressividade; dificuldade na aprendizagem; problema de sono; responde perguntas antes de serem formuladas; corre sem destino ou sobe nas coisas excessivamente; dificuldade no relacionamento com colegas; não tem noção do perigo. Para se dar o diagnóstico de TDAH é necessário a presença de pelo menos seis desses sintomas citados, com duração mínima de seis meses. A hiperatividade é caracterizada pela inquietude e dificuldade de concentração; geralmente quem primeiro observa esses sintomas é o professor em sala de aula. De acordo com Phelan (2005) Se você maldosamente tentasse produzir um ambiente que deixasse uma criança com TDAH louca todos os dias, provavelmente não 28 conseguiria investigar nada pior do que a escola. A escola exige que o jovem não fique só. (p. 35) Phelan (2005) argumenta que a escola não oferece alternativas que estimule, que desperte o interesse dos jovens, que os levem a envolver-se com as atividades, mas exige que os alunos não fiquem sem fazer nada, e se concentre em temas que considera desinteressante. O Serviço de Psicologia do Hospital Samam recebeu, no ano de 2009, uma demanda grande de crianças de 6 a 16 anos com problemas psicológicos. Os sintomas mais comuns eram o de falta de concentração em sala de aula, agressividade, hiperatividade, problemas de sono e fala excessiva em sala de aula. Segundo Phelan (2005), é no ambiente escolar que a criança com TDAH fica mais irritada, pois no local escolar há regras, normas e criança com hiperatividade não aceitam regras, é na escola que se convive socialmente, e elas possuem baixa tolerância ao convívio social. O tratamento dos problemas psicológicos na infância e na adolescência com repercussão no ambiente escolar envolve pais e professores. No caso do TDAH, as recomendações dadas aos pais pelo Serviço de Psicologia, é ter coerência nas ações e atividade diárias propostas às crianças, como por exemplo, colocar horário para todas as suas rotinas diárias; os pais necessitam estar em intermediação constante com a escola; é sugerido que os pais incentivem seus filhos quando estes agem de forma adequada, dando os parabéns, orientamos que aprendam a reagir ao limites de seu filho de maneira positiva; as regras devem ser claras e concisas. As recomendações feitas pelo Serviço de Psicologia aos professores das crianças atendidas com TDAH são para que o professor tenha um bom relacionamento com o aluno, pois, desta forma, incentiva um comportamento 29 mais adequado; sempre elogiar as atividades que são relacionadas com sucesso; propor atividades curtas ou intercaladas para que possam concluí-las antes de se dispersarem e estabelecer limites claros e objetivos na realização das atividades. O trabalho coletivo entre pais, professores, psicólogos permitirá à criança incluir uma rotina em seu cotidiano de forma organizada e planejada, criando possibilidades de desenvolvimento, superando assim seus sintomas. Outro problema psicológico, que repercute no ambiente escolar é o transtorno de ansiedade. É caracterizado por medo e insegurança, acompanhados de sintomas físicos: dor de cabeça, dor de barriga, mãos e pés gelados, falta de ar, boca seca. De acordo com a CID-10, os sintomas são: sofrimento excessivo, sem motivo aparente; medo de perder alguém ou algum objeto; cefaléia; dores abdominais; náusea; vomito; fobias; dificuldade em dormir; insegurança. Dentre os transtornos de ansiedade há a fobia; este quadro recebe o nome de Transtorno Fóbico Ansioso, que é caracterizado pela presença de medos anormais. Quando exposta ao estímulo fóbico, seja uma situação ou objeto, a criança sente-se mal com a presença desses sintomas físicos citados anteriormente. As fobias mais comuns que foram observadas pelo Serviço de Psicologia, foram as de pequenos animais, injeções, escuridão, monstros, ou figuras de lendas urbanas. O transtorno de ansiedade, muitas vezes é causado por medo. A pessoa que o sente tem muita insegurança, desconforto, o que implica em sintomas físicos, como: tonturas, falta de ar, falta de concentração, taquicardia, entre 30 outros sintomas conforme a Classificação Internacional de Doenças (CID), repercutindo na insegurança. Outro problema psicológico, que está enquadrado dentre os transtornos de ansiedade, é o Transtorno Obsessivo-Compulsivo (T.O.C.). Seu sintoma é o medo excessivo, que gera uma relação funcional, a chamada compulsão. Os sintomas mais comuns são: os de lavar as mãos repetidas vezes, por medo de ser contaminado por algum germe, são caracterizados por compulsões de verificação, repetição; essas compulsões podem ser chamadas por leigos de tiques. Mas este problema psicológico gera muito sofrimento para a pessoa, tornando-a uma pessoa muito vulnerável, insegura. É mais comum o aparecimento na adolescência ou na vida adulta. O Transtorno de Conduta e Comportamento Anti-social é outro problema psicológico muito comum em crianças e adolescentes. Com bases em critérios diagnóstico da CID-10, o Transtorno de Conduta é caracterizado pelo comportamento anti-social, que muitas vezes violam as normas sociais. Os sintomas são: freqüentemente persegue, ameaça ou intimida os outros; freqüentemente inicia lutas corporais; foi cruel com as pessoas e já tentou ferilas fisicamente; crueldade com animais; submete alguém a atividade sexual forçada; ateia fogo; mente e engana para obter ganhos naturais e foge de casa sem avisar ninguém. Este transtorno e comportamento anti-social são atribuídos, conforme e Organização Mundial de Saúde (OMS), pela CID-10, a fatores ambientais e sociais, pois sofreram privações afetivas. Do ponto de vista psicodinâmico, estes comportamentos demonstram a falta gerada na privação afetiva. 31 Outro problema psicológico que repercute no ambiente escolar é o Transtorno Desafiador Opositor (TDO), que consiste em comportamentos desafiadores, contrariando aquilo que se pede ou se espera dela. De acordo com Serra Pinheiro: O transtorno de posição (TDO) é um transtorno disruptivo, caracterizado por um padrão global de desobediência, desafio e comportamento hostil. Os pacientes discutem excessivamente com adultos, não aceitam responsabilidade por sua má conduta, incomodam deliberadamente os demais, possuem dificuldades de aceitar regras e perdem facilmente o controle se as coisas não seguem as forma que eles desejam (PINHEIRO, 2004, p. 273). Este transtorno é caracterizado pelo ato de desafiar, desobedecer e provocar. É considerado um subtipo de Transtorno de Conduta. Todos esses problemas psicológicos, assim como a depressão de crianças e adolescentes, que será abordada no próximo item dificultam a aprendizagem da criança no ambiente escolar. Cabe ao médico e ao psicólogo diagnosticar a depressão a partir de uma análise muito detalhada para não errar. Os sintomas da depressão são, na maioria das vezes, observados na escola. Os professores relatam desmotivação e preguiça, que muitas vezes são sintomas da depressão de crianças e adolescentes. A criança com depressão enfrenta dificuldades nas suas relações familiares e principalmente dificuldade em sua aprendizagem escolar. Miller (2003) fez uma lista dos sintomas da depressão em relação ao desenvolvimento da criança: Crianças com depressão apresentam os sintomas: tristeza, negatividade, reclamação de tédio, falta de iniciativa; desobediência; choram com freqüência, baixa auto-estima; incapacidade de prestar atenção, lembrar ou tomar decisões, distraem-se facilmente, esquecem o que estavam pensando, problemas de alimentação e sono; urinam na cama; preocupação ou medo crônico; fala ou 32 movimentos corporais lentos; sintomas físicos como tontura, dor de cabeça, dor abdominal, dor nos braços e pernas, ato de roer unhas, raramente existe pensamentos sobre o suicídio. (MILLER, 2003, p. 34) Já em um adolescente, os sintomas são tristeza persistente, irritabilidade, negatividade; raiva; excesso de auto-crítica, baixa autoestima; incapacidade de concentrar-se, pensar ordinariamente, tomar decisões, perda de interesse em atividade outrora prazerosa; pouca energia, fadiga crônica; alteração no apetite, perda ou ganho de peso flagrante; excesso de medo; interesse por temas relacionados à morte em livros, músicas, desenhos; conversa repetidamente sobre a morte, fascinação por armas, facas; planos ou tentativas suicidas; sintomas físicos como tontura, dores de cabeça, abdominais, dores nos braços e pernas por causa da tensão muscular, problemas digestivos, exemplo: gastrite nervosa. (MILLER, 2003, p. 35). As escolas podem se tornar os maiores aliados nos tratamentos da depressão de crianças e adolescentes se o psicólogo, ao longo do tratamento, orientar os pais e professores em como lidar com uma criança depressiva. Os encaminhamentos escolares são, na maioria das vezes, acompanhados de relatos dos professores sobre algum ou alguns desses sintomas. Os mais freqüentes relatados por professores ao S.P.H.S. foram: dores de cabeça, dores abdominais, choros sem motivos, falta de concentração, fadiga e irritabilidade. Na escola, as crianças adolescentes depressivos podem acabar sendo taxadas como quem tem níveis baixos de capacidade intelectual. Quase sempre apresentam dificuldade de concentração, que leva ao desinteresse e fracasso. Corroborando, Ballone (2003) acrescenta que a depressão de crianças e adolescentes é caracterizada pelos sintomas de irritabilidade, rebeldia, medo, tique, problemas na escola, tais como falta de concentração, recusa em ir á escola, problemas ou dificuldades de aprendizagem. 33 Portanto, a depressão de crianças e adolescentes acrescenta mais problemas escolares. Referimos aqui à depressão de crianças e adolescentes, mas os sintomas e diagnósticos são os mesmo que os adultos. O que ocorre com a criança com a dificuldade de concentração na escola ocorre com o adulto no trabalho. Aos pais das crianças e adolescentes atendidos pelo serviço de Psicologia do Hospital Saman (SPHS), são orientados sobre a importância de estimular, encorajar sempre que a criança apresentar uma melhora no aprendizado, pois a baixa auto-estima é um sintoma muito comum na depressão de crianças e adolescentes. Sem auto-estima, será difícil à criança e ao adolescente enfrentar seus problemas educacionais; já a criança com auto-estima mantém uma estreita relação com a motivação. A opinião que a criança tem de si mesma, diz Coll (1995), está intimamente relacionado com sua capacidade de aprendizagem e com seu rendimento escolar. De acordo com Cruvinel (2003), as crianças e adolescentes com depressão passam a ser vistas como agressivas agitadas, tímidas, preguiçosas ou distraídas. Outras vezes pais e professores não dão a importância necessária para o problema da criança alegando: “vai passar logo ou esta querendo chamar atenção” (discurso dos pais e professores). Contudo, é preciso levar a sério os sentimentos e sofrimentos da criança, pois elas não sabem expressar e dizer, estou deprimido, angustiado, mas suas emoções são tão intensas quanto às do adulto. Muitos fracassos escolares em crianças e relacionados a transtornos emocionais como a depressão. adolescentes estão 34 No século passado, as causas dos fracassos escolares eram atribuídas a fatores físicos; os testes de QI eram requisitos para classificação das crianças que apresentavam problemas de aprendizagem e recebiam a terminologia de “criança-problema”. Por volta da década 1930, há uma mudança na concepção de fracassos escolares e eles deixam de serem anomalias de ordem orgânicas, neurológicas (por isso que eram aplicados os testes de QI), e passam a ser inspirados pela psicanálise, que busca no ambiente sócio-familiar as causas dos problemas emocionais, assim como a depressão (cf. PATTO, 1999). Muitas crianças e adolescentes com problemas emocionais vivenciam problemas sócio-familiares. Assim como no adulto, problemas sociais na infância podem estar relacionados ao fracasso escolar. Portanto, uma criança ou um adolescente com problemas escolares ou fracassos escolares freqüentemente apresenta uma dificuldade de comportamento. Assim, como o seu inverso também é verdadeiro, uma criança com problemas emocionais, como a depressão também pode apresentar dificuldades escolares, pois é uma via de mão dupla: o fracasso escolar gera problemas emocionais, como a depressão, que, por sua vez, geram o fracasso escolar. Patto (1999) aponta para a necessidade de se quebrar o estigma de que o fracasso é culpa do aluno ou de sua família, e alerta para proporção muito maior dos determinantes institucionais e sociais na produção do fracasso escolar do que problemas emocionais, orgânicos e neurológicos, rompendo, portanto, com as visões psicologizantes, de carência cultural e das dificuldades de aprendizagem. 35 CAPÍTULO III - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE AMERICANA – SP Neste tópico, será abordado, especificamente, o Serviço de Psicologia do Hospital SAMAM, apresentando o histórico dos atendimentos e um breve perfil dos atendidos por depressão que são encaminhados pelas escolas públicas de Americana-SP. 3.1 O Serviço de Psicologia do Hospital Saman O Hospital SAMAM, fundado em 1975, é um hospital particular. Sua estrutura física é composta por um prédio de cinco andares; no térreo há a recepção, o pronto-socorro, a sala de observação, refeitório, cozinha hospitalar e consultórios, que são chamados ambulatórios; o Serviço de Psicologia tem seu consultório próprio; no primeiro andar está localizado o Raio X, a farmácia, laboratório, pediatria, sala de exames; no segundo andar fica o C.T.I. ou U.T.I., que possui quatro leitos, a administração e outras salas de exames; no terceiro andar está a enfermaria, com aproximadamente 25 leitos; no quarto andar é a lavanderia e outras salas administrativas. O trabalho destes profissionais é multidisciplinar. O Serviço de Psicologia do Hospital Samam (SPHS) existe há dois anos. 36 No S.P.H.S, as sessões com as crianças duram aproximadamente trinta minutos. A demanda é grande, aproximadamente 100 pessoas passam por atendimento psicológico, com sessões semanais. Neste último ano foram atendidos 802 pacientes, sendo 222 adultos e 80 crianças pelo Serviço. Dessas 80 crianças, 40 já pararam o tratamento e as outras 40 estão em tratamento semanais ou quinzenais. O S.P.H.S., desde julho de 2009, conta com as estagiárias do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL), curso de Psicologia, pois estão realizando no Hospital estágios obrigatórios; cinco estagiárias acompanharam semanalmente os atendimentos hospitalares, no total de 40 horas de estágio. Portanto, o UNISAL, tem a partir desta data, convênio de estágio com o Hospital Samam, e foi o S.P.H.S. que incentivou este convênio. O S.P.H.S. surgiu como ambulatório que funcionava desta maneira: o psiquiatra avaliava o paciente, medicava e encaminhava ao Serviço os pacientes com o diagnóstico de esquizofrenia, depressão, transtornos de ansiedade, entre outros; a partir dos encaminhamentos iniciavam-se os atendimentos psicológicos, com atendimentos semanais ou quinzenais. No início do ano de 2009, a psicologia hospitalar passou a existir no Hospital. Nesses atendimentos, o psicólogo atende no pronto-socorro, U.T.I. e enfermagem. É um trabalho de humanização da internação, com o objetivo de minimizar as dores, as perdas que o paciente está vivenciando com a internação. Enfim, o Serviço de Psicologia é caracterizado pela Psicologia Hospitalar e por atendimentos de psicoterapia. Este último é o atendimento que foi realizado nos sujeitos desta pesquisa. 37 3.2 Os sujeitos da pesquisa Os sujeitos desta pesquisa são 70 crianças e adolescentes de 6 a 16 anos, estudantes de escolas públicas no município de Americana, que foram encaminhadas ao Serviço de Psicologia durante o ano de 2009. Seguem abaixo as tabelas referentes ao perfil dos sujeitos desta pesquisa. A tabela 1 é a divisão pelo sexo das crianças e adolescentes que participaram desta pesquisa: Tabela 1: Gênero dos sujeitos atendidos pelo S.P.H.S. Sexo % Masculino 55 % Feminino 45 % Total 100% Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S. Segundo esta pesquisa, a depressão afeta mais os meninos do que as meninas. Diferente do que ocorre com adultos, a incidência é maior em mulheres, de acordo com o D.S.M. - IV. A tabela 2 divide o número de crianças que participaram desta pesquisa e a maior incidência ocorre com crianças de 6 a 8 anos: 38 Tabela 2: Incidência da depressão nas idades entre 6 e 16 anos Idade (anos) % 6 25,7 % 7 10 % 8 14,3 % 9 10 % 10 8,5 % 11 7,3 % 12 5,8 % 13 7,1 % 14 5,7 % 15 0 16 5,8% Total 100 % Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S. Observamos que a depressão se inicia com maior freqüência em crianças que estão ingressando no ensino fundamental; aqui existe uma mudança, a saída da pré-escola e o inicio das responsabilidades escolares. Há, portanto, um stress que foi gerado por esta mudança. Pois, mudança de nível escolar gera stress e irritação, podendo se tornar uma depressão de crianças e adolescentes. 39 A partir das entrevistas, dos questionários com os pais e com os professores, observamos o perfil das 70 crianças. 3.3 Histórico dos atendimentos dos sujeitos da pesquisa. As crianças que participaram desta pesquisa, totalizando 70, foram selecionadas a partir de um critério: todas elas são estudantes de escolas públicas de Americana. Além dessas crianças, 12 que estudam em escolas particulares que não participaram da pesquisa, totalizando 82 crianças atendidas no S.P.H.S., em 2009. A tabela 3 demonstra como surgiram os encaminhamentos destas crianças. Tabela 3: Origem do encaminhamento da criança ao S.P.H.S. Encaminhamento realizado Quantidade Escola 46 crianças Médico 16 crianças Família 8 crianças Total 70 Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S. O S.P.H.S. recebe os encaminhamentos através da assistente social do hospital. Como o convênio médico cobre o custo de duas sessões mensais por 40 conveniado, a demanda é muito grande, tanto que possui uma lista de espera. Mas no máximo um mês é o período em que o paciente adulto ou criança iniciará o tratamento. As crianças passam pela assistente social, que realiza a triagem junto com o histórico da família e com o encaminhamento da Secretaria da Educação. Por dia, são atendidas aproximadamente 20 pacientes (adultos ou crianças) pelo S.P.H.S. A escola realiza um trabalho junto à Secretaria da Educação, por meio de um relatório onde relata como esta criança está se desenvolvendo cognitivamente, socialmente, emocionalmente, enfim todo o histórico desta criança é encaminhado ao Serviço. O corpo médico do Hospital, quando observa que a criança fisicamente está bem, mas emocionalmente não, dirige-a ao S.P.H.S. E também a própria família se observa a irritação sem motivo, o choro sem explicação, a rebeldia, leva a criança à psicoterapia do S.P.H.S. Nesta pesquisa, observou-se que é na escola que as crianças e adolescentes apresentam os primeiros e mais significativos sintomas da depressão e entre eles estão: falta de concentração, irritabilidade, dificuldade de aprendizagem, assim como as dores de cabeça e abdominais. Os sujeitos desta pesquisa, na maioria dos casos, apresentavam dores de cabeça, náusea, até vômito e dores abdominais, portanto, este foi o sintoma mais comum entre estas crianças e adolescentes. Das 70 crianças atendidas pelo S.P.H.S., 30 ainda estão em atendimento semanalmente, nove interromperam o tratamento, e o maior motivo dado pelos pais à assistente social é que não tinham tempo para levar a 41 criança para o tratamento, e outro, por não terem muitas vezes dinheiro para pagar o passe do ônibus para ir até o Hospital. E as outras 31 crianças e adolescentes que foram acompanhados pelo S.P.H.S. no ano de 2009, observou-se que as queixas foram superadas. Após avaliarmos todas as 70 crianças que participam desta pesquisa, foi realizado uma tabela acerca dos dados das crianças que foram encaminhadas ao S.P.H.S no ano de 2009. Segue a tabela citada: Tabela 4: Dados das 70 crianças e adolescentes atendidos pelo S.P.H.S. No. Idade Atend (anos) Sexo Forma Encaminhamento Histórico familiar de depressão 1 2 6 14 M M Médico Escola Mãe depressiva Pai ansioso 3 10 M Escola Mãe depressiva 4 8 F Família 5 12 M Escola Nenhum transtorno foi observado Mãe esquizofrênica 6 16 F Médico (P.S.) Nenhum transtorno foi observado 7 16 F Escola 8 8 F Médico Pai esquizofrênico Mãe depressiva Mãe depressiva 9 6 M Escola Mãe esquizofrênica 10 14 M Escola Mãe depressiva 11 7 F Escola 12 6 M Escola 13 9 M Escola 14 7 M Família Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Mãe depressiva 15 8 M Médico 16 7 M Médico Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Sintomas e/ou queixas Hiperativa, ansiosa, chora Rebelde, obeso, dificuldade socialização Eplepsia, desatento, notas baixas Abuso sexual, problemas de aprendizagem Nervoso, desatento, medo, ansioso Abuso sexual padrasto, dificuldades de aprendizagem Nervosa, explosiva, dificuldade de aprendizagem Enurese noturna, ansiedade, insegura Chora, irritação Chora, notas baixas Chora, dor de cabeça, irritação Dor de cabeça, nervosa, não tem limites Hiperativo, não tem limites Não totalmente alfabetizada Desatento na escola Agitada, chora muito 42 17 10 F Família Nenhum transtorno foi observado Mãe neurastênica Insônia, agressiva 18 9 F Médico 19 6 M Família 20 6 F Médico Nenhum transtorno foi observado Mãe depressiva 21 6 M Médico Mãe depressiva Terror noturno 22 6 F Escola Mãe depressiva Chora, agitada, emotiva 23 6 M Escola + Médico Mãe depressiva Chora muito, não come 24 6 M Escola Mãe bipolar 25 6 M Escola Mãe depressiva 26 8 F Escola 27 6 M Escola 28 16 M Escola + Médico 29 13 F Médico 30 11 M Médico Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Mãe ansiosa 31 7 F Escola 32 6 M Escola 33 8 M Escola 34 12 F 35 11 36 Ansiosa, nervosa, baixa auto-estima Chora muito, agitada Dor de cabeça, chora Afogou a irmã na banheira duas vezes Chora, bate muito nas outras crianças Dificuldade na concentração, chora Dificuldade de socialização Dificuldade de aprendizagem, chora Dor de estomago Enurese noturna Ansiedade, choro, dor de cabeça Agressividade, violento Médico Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Mãe depressiva M Escola Mãe depressiva Baixo rendimento escolar 11 F Escola Mãe depressiva Tímida, chora 37 12 F Escola 38 13 F Escola 39 6 M Família Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Mãe ansiosa 40 11 F Escola Mãe ansiosa Recusa ir para escola 41 10 M Família Medo de tudo, choro 42 13 M Escola Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Pânico, fobia social Chora sem motivo Baixa auto-estima Baixa auto-estima Não tem limites, choro, birra Dificuldade de falar na escola, timidez 43 43 10 M Escola Nenhum transtorno foi observado Mãe depressiva Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Pai depressivo Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Pais viciados em crack Mãe ansiosa 44 45 10 13 F F Escola Escola 46 16 F Escola 47 48 6 8 M F Escola Escola 49 9 M Escola 50 10 M Escola + Médico 51 13 F Escola 52 8 F Escola 53 7 F Escola 54 9 M Escola 55 6 F Escola + Médico 56 9 M Escola 57 9 F Escola 58 6 M Escola 59 14 F Escola 60 6 M Médico 61 8 F Escola 62 12 M Escola Nenhum transtorno foi observado Mãe ansiosa 63 8 M Médico Abuso sexual do pai 64 9 M Família 65 8 M Escola Nenhum transtorno foi observado Mãe depressiva 66 8 F Família 67 19 F 68 69 7 11 M M Escola Família Escola Médico Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Nenhum transtorno foi observado Mãe ansiosa Nenhum transtorno foi observado + Nenhum transtorno foi observado Adotivo Nenhum transtorno foi observado Enxaqueca, fala demais na escola Auto-estima baixa, timidez Briga muito na escola Chora, rebeldia, desanimada na escola Recusa em ir a escola Recusa em ir a escola Chora muito, notas baixas Chora, angustiada, não tem vontade de viver Notas baixas, mente, furta Grita muito, fala muito na aula Dor de cabeça, chora na escola Distraído, desatento, chora Vitiligo, ansiosa Desatento, desinteresse na aprendizagem Furtos na escola, colegas a isolam Apanha muito dos colegas Baixo rendimento escolar, recusa em ir a escola Chora, diz que ninguém gosta dela Baixo rendimento escolar, recusa ir a escola Ansiosa, não presta atenção na aula Regressão, fala infantilizada, bate nos amigos Insegura, síndrome do pânico Distúrbio de conduta e opositor Pânico, terror noturno Não respeita ninguém Agressiva, nervosa, chora Nervosa, chora, obesidade 44 70 7 F Escola Nenhum transtorno foi observado Não respeita ninguém, bate Fonte: Coletada pela autora nos atendimentos do S.P.H.S. A numeração de 1 a 70 da tabela 4 ocorreu de forma aleatória e somente existiu a tabulação de coleta de dados na realização desta pesquisa, portanto esta numeração caracteriza-se por uma identificação que no próximo capítulo desta pesquisa, serão anunciados alguns casos de atendimento realizados S.P.H.S. Contudo, de forma geral, apresento os dados da tabela em gráficos para possibilitar uma leitura mais clara e objetiva quanto à idade, forma de encaminhamento, histórico familiar de depressão e principais queixas das crianças e adolescentes atendidos. 45 46 47 CAPÍTULO IV - A DEPRESSÃO DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES E SUAS REPERCUSSÕES NO AMBIENTE ESCOLAR O presente capítulo apresenta uma síntese sobre o tratamento à depressão de crianças e adolescentes realizado pelo Serviço de Psicologia do Hospital SAMAM, tomando como sujeitos de análise dois casos: os de nº 53 e 43 expostos na Tabela 4, e também uma análise sobre a repercussão que este trabalho psicológico está tendo no ambiente escolar, o critério de seleção desses dois sujeitos foi de modo aleatório. 4.1 O tratamento da depressão de crianças e adolescentes realizado pelo S.P.H.S O tratamento realizado pelo S.P.H.S. é caracterizado por sessões de psicoterapia semanais de duração aproximada de trinta minutos para cada paciente. Os dados analisados são sexo, idade, religião, se a criança faz uso de medicamento, por quem foi encaminhado até percorrer o caminho da escola até chegar ao S.P.H.S. Para melhor compreensão e entendimento de como são realizados os tratamentos destas crianças, foram selecionados dois casos de depressão de crianças e adolescentes desde sua chegada ao S.P.H.S. até a devolução de relatórios escolares após o tratamento. 48 O primeiro caso é o de nº. 53 da Tabela 4: cursando a 2ª série do ensino fundamental. É uma criança do sexo feminino, de sete anos de idade, cuja família é de formação católica. O encaminhamento foi realizado pela escola, os pais são casados, é filha única e seus sintomas, segundo relato da mãe, são: dor de cabeça (já havia passado por consulta com neuropediatra do Hospital Samam, cujo diagnóstico foi de enxaqueca); muitas vezes apresenta vômitos e segundo a mãe tem medo de ir sozinha ao banheiro e chora com facilidade. Para dormir é muito agitada e o pai relata que a noite coloca colchão ao lado da cama da menina porque ela cai com freqüência. A escola, por sua vez, relata que a criança tem ótima interação social, fazendo amizades com facilidade. Em relação à aprendizagem da criança, a professora relata: “[...] a aprendizagem da criança está em ritmo regular; o nível alfabético e não ortográfico” (este relato chega ao psicólogo em forma de relatório já na primeira sessão com os pais). Em outro momento, o relatório narra: “[...] a criança comenta em sala de aula que tem medo da loira do banheiro”, pois segundo a mãe no ano anterior foi trabalhado com as crianças em sala de aula o tema de Lendas Urbanas e as crianças tinham como tarefa pesquisar sobre estas lendas a qual foi identificada via Internet pelos pais e narradas pela professora em sala de aula. A partir de então, passou a ter medo de ir sozinha ao banheiro. Esta criança mora com ambos os pais. O pai trabalha fora o dia todo, a mãe é do lar. Na anamnese a mãe relata que na gestação da criança, teve muita enxaqueca. Foi amamentada até os três anos de idade, tinha uma ótima saúde, seu desenvolvimento psicomotor foi normal e, desde os dois anos de 49 idade, tornou-se muito agitada e chorava muito sem motivo e, quando contrariada, ficava muito nervosa, gritava muito. Entrou na escola com cinco anos de idade, na educação infantil, desde quando reclama de dor de cabeça e às vezes vomita. Chorou muito no primeiro mês de adaptação na escola. Antes disso ficava com a mãe o dia inteiro, em casa. Na primeira sessão da criança com a psicóloga foi aplicado o H.T.P (House, Tree, People), os desenhos do teste encontram-se no apêndice 4 desta pesquisa. A avaliação do H.T.P. é realizada a partir do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade (BUCK, 2003). Esse teste, o HTP – casaárvore-pessoa – força o indivíduo a utilizar seus recursos psíquicos de forma muito mais independente. O teste HTP (casa-árvore-pessoa – House-Tree-Person), é um teste projetivo que é administrado em clínicas e hospitais a crianças acima de seis anos de idade, adolescentes e adultos. Seu tempo de realização é livre, mas geralmente não ultrapassa a média de 30 a 90 minutos. O material utilizado é uma folha sulfite “A4” em branco e lápis preto nº 2. Os desenhos são feitos à mão livre, ou seja, sem réguas ou objetos que sirvam para auxiliar a realizá-lo. De acordo com Buck (2003), o HTP, tem como objetivo obter informações sobre como uma pessoa vivencia sua individualidade em relação a outras pessoas, projetando elementos da personalidade e de áreas de conflitos, identificados como avaliação ou diagnóstico. Ainda para o autor, os “[...] desenhos também estimulam o estabelecimento de interesse, conforto e confiança entre o psicólogo e o paciente” (p. 2). A avaliação clínica é pautada a 50 partir dos desenhos da casa e da árvore, pois é fundamentada na teoria psicanalítica projetiva de imagem de si mesmo. O desenho da figura humana, segundo Alves (apud WECHSLER, 2003), é um dos modelos mais usados por psicólogos brasileiros. Durante a aplicação do teste é solicitado o mínimo de três desenhos (casa-árvore-pessoa), às vezes, após esses, é solicitado o desenho da família. Então se inicia a fase do inquérito. Este consiste num roteiro padronizado de perguntas que são feitas após a conclusão de cada desenho. Nesta etapa do inquérito é extraído o maior número possível de informações e descrições subjetivas. Para Deleuze (1997) o devir não é imaginário, bem como uma viagem não é real, o indivíduo faz do mínimo de um imaginário um devir. O desenho é uma forma de linguagem por meio do qual o inconsciente também se manifesta. Para Campos (1999), o desenho reflete uma impressão do todo do indivíduo, como uma “gestalt” (do alemão: forma de ver o mundo). No primeiro desenho da casa, realizado pela criança citada anteriormente, apêndice 4 de nº 53, foi observado: inibição, introversão, pois tem dificuldade de expressar seus sentimentos, a partir da localização no papel de seu desenho, – no canto esquerdo – apresentando inibição, introversão (CAMPOS, 1986, p. 36). No que diz respeito à pressão do lápis ao desenhar, possui traços leves, o que é comum em pessoas deprimidas (idem). A caracterização do traço é trêmulo, o que significa insegurança e esgotamento nervoso (idem). O tamanho do desenho é normal, o que representa sua inteligência e possui equilíbrio emocional (idem, p. 40). O desenho da janela da casa apresenta grades, o que significa que ela se sente cercada de muita 51 proteção (CAMPOS, 1986, p. 44), cujo exagero gera insegurança e sufocamento. O desenho da árvore foi observado com o teste também. Notou-se novamente desenho no canto esquerdo da folha, denotando timidez e introversão (idem, p. 36). O tronco é mais longo e sobe até a copa, significando imaturidade (idem, p. 52). A copa da árvore é esférica, que significa medo, pânico, emotividade falta de concentração (idem, p. 57). O desenho da figura humana foi representado com duas crianças. Uma menina na posição horizontal, que segundo a criança era ela, e outra criança no canto esquerdo e na vertical, sendo uma coleguinha da classe (idem, p. 75). Após algumas sessões, a criança relata que uma coleguinha de classe a assustava com a lenda urbana da “loira do banheiro”. Este teste HTP é um teste projetivo, nele são projetadas suas emoções, medos de forma inconsciente. Quando isso foi descoberto, conversamos com os pais, que avisaram ao professor que determinada criança a estava assustando, e este problema foi solucionado. Voltando ao desenho da figura humana, observou-se desenhada de forma inclinada, representando para o seu psiquismo a enxaqueca (idem). Após o teste e com a entrevista de anamnese realizada com os pais, realizou-se o diagnóstico da depressão de crianças e adolescentes. Em seguida, iniciou-se o tratamento com a caixa lúdica, que tem como materiais: bonecas de pano, lápis de cor, massinha, bichinhos de fazenda, carrinhos de plástico. A caixa-lúdica, figura abaixo, é o instrumento que o psicólogo utiliza durante o atendimento com a criança, através da ludoterapia, que é um método 52 terapêutico usado nas sessões com crianças em que o psicólogo realiza o atendimento de forma lúdica. Pois é brincando, por exemplo, com os bonecos de pano que há na caixa lúdica, que as crianças projetam suas inseguranças, problemas familiares, medos, etc. desta forma o psicólogo intervém durante as sessões. Assim, orientam pais e professores de acordo com problemas diagnosticados nesses atendimentos. Figura 1: caixa lúdica Fonte: Arquivo pessoal da autora As sessões com a criança foram inter relacionadas com a orientação dos pais e professor. Este veio ao hospital algumas vezes para receber orientação do psicólogo sobre como lidar com a criança em sala de aula. Após 07 meses de tratamento a criança não apresentava mais medo de ir sozinha ao banheiro, não chorava com freqüência, estava menos ansiosa, pois apresentava melhoras significativas. Sua mãe foi diagnosticada com tumor 53 no intestino grosso e, daí em diante, a criança passou a apresentar choro, ansiedade, insegurança e começou a decair todo o avanço que havia adquirido em sala de aula. Ela piorou na escola drasticamente quando a mãe ficou internada no Hospital para a realização da cirurgia e depois quimioterapia. A criança passou a não querer ir à escola, ficou agitada, voltou a ter dor de cabeça. Enquanto a mãe estava internada, ficou na casa da avó paterna, não tendo mais limites. Não obedecia a ninguém e começou a fazer “birras”. Com esta piora significativa do comportamento da criança frente à doença da mãe, o reflexo apareceu na escola. O trabalho do psicólogo junto com a escola se intensificou. Foi necessária a ida do psicólogo à escola para conversar com o professor e coordenador da criança. Segundo a professora, a criança passou a não prestar atenção à aula, a partir daí houve a orientação da professora de que esta criança estava com medo de “perder” a mãe. Este assunto passou a ser falado tanto pela psicóloga como pela professora. Depois de um mês, ela começou a apresentar melhoras no comportamento em sala de aula e na casa da avó. Depois de dois meses, a mãe voltou para casa e foram trabalhadas todas as questões com a criança a partir da ludoterapia, discutindo-se em muitas sessões a questão da doença, da perda, da mudança, da dor, pois ela estava vivenciando todas estas questões em sua vida. Assim, o tratamento, como a história de vida da criança, sofre oscilações; ora esta melhora, ora tem piora. Mas depois de um ano e um mês de tratamento a criança não teve mais sintomas de depressão de crianças e adolescentes. Dessa maneira, o diagnóstico assim como a pessoa, sofre oscilações ou modificações, pois ora a criança está com depressão, ora não tem depressão. Esta é uma das questões que o S.P.H.S. enfrenta com os 54 médicos do Hospital, pois para eles o diagnóstico é fechado, é depressivo. Para o S.P.H.S. ele está depressivo, num dado momento, portanto, o diagnóstico é aberto, sujeito a modificações. A escola enviou, no final do ano de 2009, um relatório em que apresentou que a referida paciente não apresentava mais insegurança, nem medo, tampouco dor de cabeça. Faz amizades com mais segurança, está menos tímida. Sua aprendizagem está melhor, assim como sua concentração. O segundo caso a ser detalhado mais detidamente neste trabalho é o de número 43, que se refere a um menino, cujos desenhos encontram-se no apêndice três desta dissertação. De acordo com o relato da professora, ele não conseguia concentrar-se em sala de aula. Desatento e, quanto à organização do próprio material e das atividades, não colocava as lições na ordem correta, chegava até a perdê-las. Muito desinibido, gostava de falar coisas para a turma na sala rir e não acompanha a tarefa em sala de aula porque contava histórias, especialmente sobre tubarões, aos colegas de classe, dispersando a atenção de todos. Em momentos isolados, envolvia-se em pequenas confusões com meninos ou meninas fora da sala de aula. Na entrevista com a mãe, é relatado que ele não tem limites, sendo muito agitado, não a respeitando nem ao pai e, muito menos, ao professor. Muitas vezes, o via chorando e a criança não dizia o porquê. Em casa, segundo os pais, nunca quer entrar no banho e, quando entra, demora muito a sair; o pai comenta que a criança desiste facilmente das coisas, que joga tudo pelo chão, não tem organização, é teimoso e que tem 55 muito apego a objetos, não aceitando doações de seus brinquedos antigos desde bebê. Em outra entrevista somente com a mãe, esta relata que o pai da criança tem dificuldade em se desfazer das coisas antigas, que é muito impaciente com o filho, gritando muito com ele e que é perfeccionista. Desde os cinco anos de idade, a criança sofria crises de dores de cabeça e em alguns episódios foi necessário internação. Na aplicação do teste psicológico HTP, antes de iniciar os testes, a criança relata que a mãe é muito autoritária e que não permite que cometa erros e comenta: “[...] ela é Hitler na versão mulher, ela me sufoca”. Seus desenhos do teste encontram-se no apêndice quatro desta pesquisa. No desenho da casa, foi observado que ela é insegura, está passando por um esgotamento nervoso e conflito. No lado esquerdo da parede da casa, há um sombreamento, o que caracteriza traços de exibicionismo (CAMPOS, 1986, p. 38), gosta de chamar atenção, contar histórias, para na verdade camuflar sua insegurança, gerando um conflito e um nervosismo. É como se vivesse “atrás das cortinas” numa dissimulação, fazendo-se de “engraçadinha” para esconder que sua fragilidade a faz sofrer, pois sua mãe diz a ela que deve ser forte. Desenhar as janelas com grades significa sentir-se cercado (CAMPOS, 1986, p. 44) e, como ela mesma diz, sufocada. No desenho da árvore, observa-se que ela está levemente inclinada para a direita, representando que a criança está presa ao passado (CAMPOS, 1986, p. 51), o que se percebe claramente no relato da mãe quando esta diz que ele não se desprende de nenhum brinquedo antigo, remetendo-o ao 56 passado. Outra observação da inclinação à direita da árvore, diz respeito, segundo a avaliação do teste, à impulsividade (CAMPOS, 1986, p. 51), pois ela fala o que vem à cabeça, sem pensar. O desenho de um esquilo no galho significa o sentimento de condenação (CAMPOS, 1986, p. 54); a mãe exerce este papel com muita rigidez e exigência. Já no desenho da figura humana, expressa o desejo de triunfar: ser o “engraçadinho da classe” (CAMPOS, 1986, p. 75), o tronco da figura humana é maior e desproporcional ao desenho (idem), representando desejo de força, exibicionismo. O desenho dos olhos é oblíquo, o que significa depressão ou fraco controle diante do meio (casa) em que vive (idem). O desenho tem ênfase na orelha, o que representa que ela é muito resistente à autoridade. No boné, a parte inferior está em negrito, significando dificuldade de aprendizagem (idem). Após a análise deste teste, junto com a anamnese e entrevista com os pais, observou-se que quando atribuída a ele a responsabilidade como ir à escola, gera a dor de cabeça. A mãe exige que ele somente tenha conceitos “A” nas disciplinas, do contrário, é punido com castigo, cobrando muito desta criança e, por esse motivo, muitas vezes chora e não diz o porquê aos pais. Conforme o procedimento rotineiro iniciou-se o tratamento. Observamos que nesses dias ele reclamava de fortes dores de cabeça, logo pela manhã. Foi encaminhado ao professor o questionário e este, na observação, relata que nestes dias a mãe o pega na escola uma hora após sua saída, e a criança fica na sala dos professores a esperando. Frente a este relato, chamamos a mãe da criança no S.P.H.S. e pedimos a ela que arrumasse uma maneira de buscá-lo mais cedo nestes dias. O problema foi solucionado. 57 O professor relatou também que no intervalo de aula ela ficava com a mãe, que trabalha na escola, na sala dos professores e que esta trazia o lanche e o almoço para ela. A professora relata também que a mãe da criança não aceita críticas e nem opinião a respeito da criação de seu filho. Pedimos a ela que mudasse a atitude de levar o lanche e o almoço e deixá-lo com as crianças e não na sala de professores, no horário de intervalo. Observamos um pouco de resistência, mas, após três semanas, a criança já estava no intervalo com as outras crianças. A criança diz: “não tenho tempo de brincar, minha mãe quer que eu seja adulto”. Em uma das sessões de orientação com a mãe ela chorou e afirmou que é a culpada pelo que o filho vem passando; que no passado era noviça e estudou em colégios católicos muito rígidos em São Paulo. Falamos a ela que não devia se culpar, que somente deveria mudar seu modo de agir com o filho. E de fato ela mudou muito e parou de “pressionar” e de exigir demais do filho e as dores de cabeça e de barriga foram desaparecendo. Após um ano e meio de psicoterapia, de orientação com os pais, contando com a ajuda da escola, a criança não teve mais dores de cabeça, dor de barriga, não chora mais sem motivo, começou a prestar atenção na aula, não falava mais em sala de aula. Na última sessão, ela e a mãe trouxeram uma carta da coordenadora da escola ao S.P.H.S. que tratou do comportamento da criança, a qual melhorou significativamente. Não se apresentava mais exibicionista, não dispersava a classe com suas histórias e, por fim, não reclamava mais de dores de cabeça e dores abdominais. 58 Nos dois atendimentos citados, as crianças receberam o diagnóstico de depressão de crianças e adolescentes, mas a primeira criança apresentava sintomas de medo, insegurança, choro, enquanto a segunda criança apresentava o sintoma de nervosismo, agitação e exibicionismo, tendo apenas em comum fortes dores de cabeça. Por isso o diagnóstico parece, aos pais e professores, confusos. 4.2 A repercussão dos atendimentos realizados no ambiente escolar Das 70 crianças atendidas pelo S.P.H.S., há 16 atendimentos no final do tratamento (por meio de sessões de psicoterapia), os quais as escolas deram o retorno de como estavam as crianças com o término das sessões. Dois dos casos já foram citados no item anterior, que foram respectivamente os casos de nº. 53 e 43 da tabela 7. Para os demais 16 casos, serão apresentadas as repercussões no ambiente escolar após o tratamento. O caso de atendimento de nº 4 é de uma menina de oito anos, da 2ª série do ensino fundamental, que sofreu abuso sexual e, consequentemente, apareceram sintomas depressivos. A criança recusava-se a ir à escola, chorava muito, sentia dor de cabeça. Apresentava muita desconfiança e insegurança, mas o tratamento durou nove meses e no final estava mais segura, não chorava mais e gostava de ir à escola. De acordo com o professor, seu rendimento escolar havia melhorado, assim como a concentração em sala de aula e começou a participar de oficinas de jogos que foram incluídas nas 59 sessões de psicoterapia – que são caracterizadas por sessões individuais, com as crianças e na orientação dos respectivos pais de acordo com o diagnóstico e necessidades dos pequenos – e sugeridas pelo S.P.H.S. à escola para melhor adaptação social do aluno que está sendo atendido. O mesmo procedimento foi aplicado aos demais casos desta pesquisa. O outro atendimento que houve repercussão significativa no ambiente escolar é o de nº. 22. Uma menina de seis anos de idade que chorava e recusava-se em ir à escola; era agitada e muito nervosa. Após as sessões de psicoterapia, que durou cerca de seis meses, a escola encaminhou um relatório onde relatou significativa melhora; a criança não chorava mais para ir à escola, deixou de apresentar comportamentos agressivos (muitas vezes batia nos colegas e gritava muito). Com o tratamento, observou-se através das orientações com os pais, que o pai brigava muito com a mãe, pois o casal estava passando por uma crise conjugal. Este casal foi encaminhado à psicoterapia e, após algumas sessões, as brigas do casal diminuíram e, conseqüentemente, a criança não apresentou mais irritação, agitação e nervosismo. Na sala de aula, segundo o relatório enviado pela professora, não batia mais nos colegas e estava mais tranqüila. Já o atendimento de nº. 28 é de um menino de 16 anos de idade, o qual apresentava sintomas de ânsia de vômito. Foram realizados vários exames clínicos por meio dos quais os médicos diagnosticaram transtorno de ansiedade e o encaminharam a psicoterapia. De acordo com as sessões de psicoterapia a escola foi avisada e um dos relatórios da coordenação dizia que ele não se concentrava em sala de aula, muitas vezes chorava na escola no intervalo e apresentava dificuldade de aprendizagem. Após o tratamento, que 60 durou um ano e dois meses, ele apresentou uma melhora na aprendizagem, conseguia se concentrar e não se queixava de ânsia de vômito, sintoma de depressão. O atendimento de nº. 38 é de uma menina de 13 anos de idade que segundo a escola, era insegura; quando há atividades culturais e sociais como jogos, brincadeiras, ficava isolada; tem a auto-estima baixa, muitas vezes chorava na escola. Após as sessões de psicoterapia, observamos que o pai é muito autoritário e por ser de uma família evangélica, a qual não permitia que ela tivesse amigas, até na escola, que não fossem evangélicas. Chamamos os pais e, após algumas orientações de como proceder em , o pai diminuiu a exigência em relação à filha. E após três meses de tratamento ela começou a se envolver nas atividades escolares, parou de chorar, as notas melhoraram, recebendo alta do tratamento. A criança, cujo atendimento é equivalente ao nº 10, é uma menina de 11 aos de idade que se recusava em ir à escola e a mãe já havia trocado de escola várias vezes. Ela não tem limites, não obedece e não respeita ninguém. Durante o tratamento ela agrediu a mãe e a avó, até o Conselho Tutelar foi acionado pela escola. As sessões de psicoterapia duraram um ano e foi observado ao longo deste que a mãe e o pai eram agressivos e usuários de drogas. A mãe foi internada em clínica de recuperação e após o tratamento dos pais, juntamente com o da criança, esta apresentou grandes avanços. Passou a ir à escola e até gostava, estando menos agressiva. A escola encaminhou o relatório agradecendo toda a equipe do Hospital Samam, inclusive o S.P.H.S. que cuidou e tratou a criança e toda a família. 61 O atendimento de nº 49 é de um menino de nove anos de idade que segundo o relatório do professor não conseguia prestar atenção na explicação, que se distraia com facilidade, apresenta estar no “mundo da lua”, era esquecido com oscilações no seu humor: ora chegava na escola alegre e ora chora e que, em atuações em trabalho em grupo, ficava isolado e não participava. Após seis meses de atendimento em sessões de psicoterapia, o professor veio até o Hospital e disse pessoalmente à equipe que ele melhorou em sala de aula no quesito concentração e não se dispersa com tanta facilidade e mais, se tornou mais comunicativo. A criança correspondente ao atendimento de nº 10 é um menino de 10 anos de idade, estudava na 4ª série do ensino fundamental. A escola informou através de um relatório que ele em sala de aula não se concentra nas atividades e que suas maiores dificuldades estavam na leitura e na escrita, nos erros ortográficos. A mãe dele relatou que é um menino emotivo, que chora até quando vê um morador de rua, e que todos os dias chora e diz que sente “um aperto no peito” todo entardecer. Este é um caso específico de depressão denominada angústia. Este sintoma relatado pela mãe é comum em adultos. Após o atendimento em sessões de psicoterapia, que durou aproximadamente 11 meses, a escola envia outro relatório e disse que a aprendizagem melhorou muito e que está mais seguro, presta mais atenção em sala de aula. A mãe relata que não chora e não sente mais angústia ao entardecer. O atendimento de nº 53 é de um menino de sete anos de idade, que segundo relatório da escola, reclama quase todos os dias de dor de cabeça e que era muito inseguro e chorava com frequência quando não conseguia realizar ou finalizar as atividades realizadas em sala de aula. O atendimento 62 em sessões de psicoterapia iniciou e, por razões de doenças familiares, foi interrompido algumas vezes, mas, após um ano, a escola enviou outro relatório relatando a grande melhora no caso da insegurança e diminuição de dor de cabeça. Quanto à aprendizagem, havia melhorado significativamente. Já o atendimento de nº 56, de uma menina de seis anos de idade, apresentava um quadro clínico de uma doença de pele que aparece em forma de manchas brancas de fundo emocional, chamada de vitiligo. Na escola era muito dispersa, não ficava quieta no lugar, saia de sua sala de aula e entrava em outra sem autorização do professor. Após longo período de tratamento, de quase dois anos, a criança não tinha mais vitiligo e sua ansiedade em sala de aula, assim como sua hiperatividade havia melhorado. Mas até o presente momento continua em acompanhamento psicológico. A criança cujo atendimento é de nº 56, é de um menino de nove anos de idade que, segundo a escola, era desatento e não apresentava motivação em seu aprendizado. As sessões de psicoterapia duraram aproximadamente oito meses, os pais separadamente também colocaram limites no filho. Após o tratamento a escola pediu que ele continuasse a terapia, pois ainda apresentava dificuldade de concentração, por isso permaneceu ainda em tratamento psicológico, contudo já estava muito melhor. O atendimento de nº 57 é de uma menina de nove anos de idade. Ela viveu até os sete anos em uma aldeia indígena em Rondônia com os pais. O pai é teólogo e dessa forma possui hábitos diferentes das crianças da região sudeste e as crianças da escola estavam isolando-a. Alguns objetos como lápis, borracha de outras coleguinhas da classe desapareceram, e o pai, conversando com ela, encontrou este material que não pertenciam à sua filha, 63 em seu estojo. Ele se certificou na escola e perceberam que ela estava pegando estes objetos de outras crianças. A escola a encaminhou ao S.P.H.S., onde se seguiram as sessões de psicoterapia, com intervenções psicoterápicas; no momento ela está interagindo com outras crianças. Não pega mais objetos dos coleguinhas, mas ainda não foi liberada da psicoterapia. O menino do atendimento de nº 58 tem seis anos de idade. O encaminhamento da escola dizia que ele sempre era agredido por colegas da classe e não reagia, nem contava para o professor. Quando o via, já estava chorando e não dizia nada. Após o atendimento em sessões de psicoterapia, de durou quatro meses, descobriu-se que os meninos que batiam queriam sentar no lugar dele; os pais foram chamados na escola e este problema foi solucionado. Mas o tratamento tem agora a função de fazer com que este menino consiga se expressar; somente chorava, mas com o acompanhamento psicológico começou a se expressar e o problema foi solucionado segundo a coordenação da escola. O atendimento de nº 61 é de uma menina de oito anos de idade que apresentava dificuldade de aprendizagem e se recusava em ir à escola. Após as sessões de psicoterapia, esta criança começou a gostar de ir à escola segundo a coordenação que veio até o Hospital Samam para relatar pessoalmente de como a criança havia melhorado. Esta encaminhou outras sete crianças da escola ao S.P.H.S. O último atendimento que o S.P.H.S. recebeu o retorno ou devolutiva de como repercutiu o atendimento no ambiente escolar foi o de nº 67. Uma menina de 14 anos de idade que não respeita ninguém, nem professores e nem os pais. Com o término de tratamento, que durou nove meses, ela 64 aprendeu a respeitar o próximo, lidou com limites, pois o tratamento incluiu os pais que receberam orientações sobre como colocar limites no relacionamento. A escola enviou um relatório sobre a melhora substancial. Assim, dos 70 atendimentos no ano de 2009 (muitos iniciaram em 2008 e continuaram o tratamento até 2009 e entraram para a pesquisa), 16 atendimentos foram acompanhados até o pós-tratamento e como foi a repercussão no ambiente escolar. A partir destas amostras, observa-se que a depressão de crianças e adolescentes é heterogênea quanto à classificação de seus sintomas. Mas com o tratamento psicoterápico, juntamente com o acompanhamento dos pais e dos professores as crianças deixam de ter o diagnóstico de depressão de crianças e adolescentes. E, por último, a intenção desta pesquisa foi de esclarecer a importância dos pais e principalmente dos professores no tratamento de crianças com depressão de crianças e adolescentes. Com a conscientização do professor acerca da depressão de crianças e adolescentes, compreendendo-o, auxiliando e valorizando em suas infinitas possibilidades, pode-se contribuir para a melhoria do desenvolvimento escolar das crianças e dos adolescentes. Tendo em vista a complexidade desse fenômeno, é uma tarefa difícil para pais e professores identificá-lo. De acordo com Colbert e Cols (1992), a depressão em crianças não é reconhecida adequadamente pelos educadores. Elas são identificadas por eles como tendo um problema específico de aprendizagem. A partir do momento que pais e professores conhecem os sintomas da depressão de crianças e adolescentes, se bem orientados, sabem 65 como encaminhar essas crianças ao tratamento e, conseqüentemente, a melhora de sua aprendizagem. No contexto educacional, o professor deve observar e olhar o aluno em sua totalidade, considerando suas características de personalidade, seu estado emocional, suas potencialidades no que se refere a aprendizagem. Conhecer esta associação pode ser muito importante para aqueles que trabalham com crianças que apresentam dificuldade de aprendizagem. Portanto, o fato de o professor ou pais conhecerem melhor a depressão de crianças e adolescentes e suas características, possibilita encaminhamento precoce, atuando preventivamente com a criança. o 66 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados desta pesquisa corroboram com a hipótese de que a depressão de crianças e adolescentes interfere na aprendizagem. A partir da amostra de 70 crianças que foram diagnosticadas com depressão de crianças e adolescentes de 6 a 16 anos pelo S.P.H.S. foi observado que grande número, ou a grande maioria, apresentava repercussões no ambiente escolar. Conforme foi observado, a depressão de crianças e adolescentes, assim como outros problemas psicológicos, gera uma dificuldade de aprendizagem, pois, como constatou o Serviço de Psicologia, crianças convivem com seus familiares que muitas vezes apresentam a depressão, o transtorno de ansiedade, de pânico, enfim, fazendo com que as crianças também se tornem depressivas, ansiosas, com pânicos. A criança ou a família pode ter vivenciado uma ou várias perdas, essas podem ser reais como a morte de um ente querido, perdas financeiras ou até perda de liberdade de brincar. Muitas vezes a criança entra na escola às 7 horas da manhã e sai às 5h da tarde, gerando perdas, como a de brincar, de ficar ocioso em casa com os familiares, gerando uma angústia e, conseqüentemente, a depressão e outros problemas emocionais. A depressão também pode ser gerada pelo baixo rendimento escolar, uma criança que não consegue tirar boas notas, tem a auto-estima afetada e, conseqüentemente, ficará deprimido e apresentará sintomas da depressão de crianças e adolescentes. Daí a importância de orientar pais e professores acerca da depressão de crianças e adolescentes, ensinando-lhes os sintomas e como atuar no dia a dia 67 com esta criança, incentivando-a e não a criticando, fazendo com que ela fique mais segura e aumentando sua auto-estima. As orientações passadas aos pais e professores, aliado com a psicoterapia realizada no Serviço de Psicologia do Hospital Saman, melhoraram a aprendizagem das crianças e os sintomas de depressão deixaram de existir. O tratamento foi realizado a partir do tripé: psicoterapia, orientação aos pais, orientação aos professores. Com a orientação dos pais, observou-se maior progresso das crianças e adolescentes na superação da depressão. Dessa maneira é de grande importância que professores possuam maior conhecimento e conscientização da depressão de crianças e adolescentes. Na escola é necessário criar um ambiente que possibilite melhor aproveitamento e desenvolvimento desta criança. Os sintomas da depressão manifestam-se de diferentes formas no contexto escolar. O professor deve estar atento a alguns sinais indicativos de desanimo, isolamento social, dificuldade na aprendizagem, agressividade, irritabilidade, além de sintomas físicos como fortes dores de cabeça, náusea, vomito e dores abdominais. O compartilhamento desses sintomas com seus familiares para que juntos busquem um tratamento junto a especialistas, como é o caso do Serviço de Psicologia do Hospital Saman, é o procedimento mais adequado. 68 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANGERAMI - CANON, V. A. Psicologia e religião. São Paulo: Cengage Learning, 2008. BAHLS, Saint-Clair. A depressão em crianças e adolescentes e seu tratamento. São Paulo: Lemos, 2004. BALLONE, G. J. Médico psiquiatra, Professor da faculdade de medicina da Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Disponível em: WWW.psiqueweb.med.br, 2003. Acesso em: 30 de setembro de 2010. BARBOSA, G. A.; LUCENA, A. Depressão de crianças e adolescentes. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. Tradução de Maria Adriano Veríssimo Veronese. 7ª ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. BOWLBY, John. Apego e perda. Tradução de Valtensir Dutra. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. v. 3. BUCK, J. N. H-T-P: casa-árvore-pessoa, técnica projetiva de desenho: manual e guia de interpretação. 1. ed. Trad. R. C. Tardivo. São Paulo: Vetor.(Uso exclusivo de psicólogos), 2003. CAMPOS, D. M. S. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade. 18 edição. Petrópolis: Editora Vozes, 1986. CAMPOS, D. M. O teste do desenho como instrumento de diagnóstico da personalidade: validade, técnica de aplicação e normas de interpretação. 31 ed. 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APÊNDICE 1: Roteiro da Anamnese infantil I - Identificação Nome:_________________________________________________________ Idade:____________________Data de nascimento:_____________________ Sexo: _________________________________________________________ Nome do colégio:________________________________________________ Ano:______________ Pai: ___________________________________________________________ Nome: (iniciais) _________________________________________________ Profissão: ______________________________________________________ Idade:_________________________________________________________ Mãe: __________________________________________________________ Nome: (iniciais) _________________________________________________ Profissão:______________________________________________________ Idade: _________________________________________________________ II - Queixa ou motivo da consulta: 71 ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ III - Antecedentes pessoais: 1 - Concepção: Nasceu quanto tempo após o casamento?____________________________ A criança foi planejada?___________________________________________ Quantos filhos tiveram o casal?_____________________________________ Moram todos juntos? _____________________________________________ 2 - Gestação: Foi uma gestação planejada? ______________________________________________________________ Passou nervoso na gestação? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Quais as sensações psicológicas sentidas durante a gravidez? _______________________________________________________________ _____________________________________________________________ Nasceu de cesária ou parto normal? _______________________________________________________________ _____________________________________________________________ 3 - Condição de nascimento: A criança chorou após-nascer? 72 _______________________________________________________________ _____________________________________________________________ Ficou roxo ao nascer? ______________________________________________________________ Precisou de oxigênio? ______________________________________________________________ Teve icterícia? ______________________________________________________________ Chorou muito nas primeiras horas de vida? _________________________________________________________OBS.: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 4 - Desenvolvimento da criança: Amamentou o peito? _____________________________________________ Tirou a fralda com quanto tempo?___________________________________ Andou com quanto tempo? ________________________________________ Falou com quanto tempo?_________________________________________ 5 - Desenvolvimento da conduta: A) Sono A criança dorme bem?____________________________________________ Pula quando dorme?_____________________________________________ Desde quando? _________________________________________________ 73 Baba a noite? _______________Desde quando? ______________________ Sua durante o sono? ____________________Desde quando?____________ Fala dormindo? ________________________Desde quando?____________ Grita durante o sono? ___________________ Desde quando?____________ Range os dentes? _______________________Desde quando?___________ É sonâmbulo? _________________________ Desde quando?____________ Acorda várias vezes à noite e torna a dormir facilmente? _________________ Dorme do lado da cabeceira e acorda nos pés da cama? ________________ Dorme em quarto separado dos pais? _______________________________ Até quando dormiu o quarto dos pais? _______________________________ Qual a atitude tomada para separá-lo? _______________________________ Acorda e vai para cama dos pais? __________________________________ Atitude dos pais? ________________________________________________ ______________________________________________________________ Observações: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ B) Alimentação: Come bem?____________________________________________________ Rejeitou alimentação alguma vez?__________________________________ ______________________________________________________________ Atitude tomada__________________________________________________ ______________________________________________________________ 74 É ou foi forçada a comer?__________________________________________ Observações: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 6 - Desenvolvimento psicomotor: Quando sorriu pela primeira vez?________________________________ ______________________________________________________________ Engatinhou? __________________ Sentou? _________________________ Ficou de pé? _________________Andou?____________________________ Qual foi a primeira palavra falada?__________________________ ______________________________________________________________ Trocou letras?__________________________________________________ ______________________________________________________________ Falou muito errado? ___________________Gaguejou?__________________ Controle dos esfíncteres: Anal diurno:__________________Anal noturno: _______________________ Vesical diurno:_________________Vesical noturno:____________________ 7 - Manipulações e hábitos: Usou chupeta?______________________Até quando? _________________ Chupou dedo?______________________ Até quando? _________________ Roeu ou roe as unhas? ___________________________________________ Puxa as orelhas? ________________________________________________ 75 Arranca os cabelos? _____________________________________________ Morde os lábios? ________________________________________________ Teve tiques nervosos? ________________Quais? _____________________ Observações: ______________________________________________________________ 8 - Socialização: Tem amigos? ___________________________________________________ Prefere brincar sozinho ou com amigos? _____________________________ Faz amigos facilmente? ___________________________________________ Da-se bem com eles? ____________________________________________ Desinteressa-se logo pelos brinquedos? ______________________________ Que tipo de brinquedos prefere? ____________________________________ Lidera nas brincadeiras? __________________________________________ Observações: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 9 - Escolaridade: Vai bem na escola?__________________________________________ ______________________________________________________________ Gosta de estudar?_______________________________________________ Os pais estudam com as crianças?_______________________________ ______________________________________________________________ Gosta da professora? _________________ E da escola? ________________ 76 É castigada quando não tira boas notas?_____________________________ ______________________________________________________________ Dificuldade em que matéria?_______________________________________ ______________________________________________________________ Qual matéria gosta mais?__________________________________________ Tem dificuldade na escrita?_________________E na leitura? _____________ Alguma outra dificuldade?_________________________________________ ______________________________________________________________ Mudou muito de escola?___________________________________________ 10 - Saúde: Já desmaiou? __________________________________________________ Teve convulsões? _______________________________________________ Foi operada? ______________________Qual cirurgia? _________________ É nervosa? ____________________________________________________ É ansiosa? ____________________________________________________ Chora sem motivo? ______________________________________________ 11 - Antecedentes familiares: Alguém nervoso na família?_________________Quem? ________________ Atraso intelectual?______________________ Quem? __________________ Doença mental? ________________________Quem?__________________ Alcoolismo?_____________________Drogas?_________________________ Vícios?_________________________Suicídio?________________________ 77 Observações: ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 12 - Descrição do dia a dia da criança: Qual a rotina da criança?______________________________________ _______________________________________________________________ _____________________________________________________________ _______________________________________________________________ _____________________________________________________________ ______________________________________________________________ Desde o momento que acorda até a hora de dormir? ____________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Com é o lazer desta criança?______________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ Gostariam de falar mais alguma coisa?________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ 78 APÊNDICE 2: Questionário professor I – O (a) aluno(a) nome da criança_____________________________ ______________________________________________________________ Realiza as tarefas exigidas em sala de aula? 1. sim, todas ( ) 2. as vezes sim outras não ( ) 3. nunca realiza as tarefas ( ) II - A criança tem colegas na sala de aula? 1. sim ( ) 2. não ( ) III - A criança se irrita facilmente? 1. sim ( ) 2. não ( ) IV - Ela briga com freqüência com colegas em sala de aula? 1. sim ( ) 2. não ( ) V - A criança presta atenção nas explicações em sala de aula? 1. sim ( ) 2. não ( ) VI - Descreva como a criança se comporta em sala de aula: 79 _______________________________________________________________ _____________________________________________________________ ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ VII - A criança queixa-se em sala de aula? Sente alguma dor? 1. sim ( ) 2. não ( ) Qual? ______________________________________________________________ ______________________________________________________________ VIII - Quais são as queixas sobre esta criança? _______________________________________________________________ _____________________________________________________________ 80 APÊNDICE 3: H.T.P. de n° 43 81 82 83 84 APÊNDICE 4: H.T.P. de n° 53 85 86 87