Pronunciamento do Deputado Federal Pedro Wilson PT/GO, na Sessão Ordinária do dia 24 de novembro, em homenagem ao Dia Mundial da Filosofia. Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Parlamentares, O dia mundial da filosofia é celebrado em todo o mundo na terceira quinta-feira de novembro. Foi instituído pela UNESCO em 2002. Mas, para que um dia mundial da filosofia? Pode-se responder dizendo que a filosofia historicamente, e também hoje, tem uma contribuição para que a humanidade reflita. O refletir pode ser traduzido na capacidade humana de se manter alerta, de se espantar com o mundo, de se indignar com as injustiças, de compreender o sentido dos vários conhecimentos e tecnologias produzidas pela própria humanidade e, acima de tudo, de preservar a impertinência como característica de ser, pensar e agir. Isto se traduz numa postura de abertura ao diálogo, acima de tudo. Mesmo que ao longo da história a filosofia tenha requisitado para si a posição de ciência das ciências, a sabedoria que vai além de todo saber regional, a pluralidade das formas de conhecimento e de saber construídas pela humanidade a põe hoje, como, aliás, deveriam ser postos todos os tipos de saber, na condição de partícipe de um diálogo complexo e aberto entre os diversos saberes e conhecimentos, mesmo que cada um deles tenha seus próprios conteúdos e abordagens. A postura dialógica não diminui e nem dilui a especificidade da contribuição a ser dada por diferentes saberes. Todavia, para que o diálogo entre os saberes tenha lugar, há heranças conceituais e práticas a serem enfrentadas. O relativismo e o cinismo, posturas tão disseminadas contemporaneamente, talvez sejam as principais demandas para quem se propõe ao diálogo efetivo. Eles facilmente se traduzem em crenças nem sempre justificadas de que há formas mais e melhor eficazes do que outras para resolver as Câmara dos Deputados – Anexo IV – Gab. 940 – Brasília DF – CEP. 70160.900 Fone: (61) 3215 5940 / Fax: (61) 3215 2940 Email: [email protected] problemáticas humanas. Enfrentar este desafio não é tarefa exclusiva da filosofia. Sem ela, porém, estará ausente um importante parceiro da conversa. Quiçá o dia mundial da filosofia sirva para aguçar a percepção destes desafios e, de modo especial, para alertar a todos os que estamos preocupados com a humanidade, que, mais do que notar, é preciso empreender uma agenda concreta de abertura de espaços de interlocução nos quais os diversos parceiros tenham a possibilidade de dizer de forma substantiva e consistente a sua palavra, sempre abertos à crítica e a construção conjunta de alternativas para desafios que também são comuns. O dia mundial da filosofia 2008, celebrado na terceira quinta-feira de novembro, tem como temática central “poder e direitos” em razão da celebração dos sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948). O tema proposta é espinhoso. Há várias possibilidades para abordá-lo, ilustraremos algumas, ainda que esquematicamente. Uma abordagem tende a compor poder e direitos dizendo que direitos somente existem se constituídos por e se exercitados como poder. Em outras palavras, somente uma pessoa empoderada pode ser um sujeito titular de direitos. Ou ainda, é somente o poder instituído e legítimo é que reconhece e faz valer direitos. Pelos dois lados, poder e direitos estão imbricados substantivamente. Outra abordagem tende a separar poder e direitos dizendo que direitos radicam na dignidade humana e, por isso são anteriores e até avessos a todo poder e que o poder, de regra, é refratário a direitos. Ambos tendem a concordar na separação em razão de que um dos pólos restringe e até anula o outro reciprocamente. Isto porque, entendem um e outro como absolutos. Uma terceira alternativa tende a estabelecer a entender que poder e direitos mantém entre si uma tensa relação. Ou seja, poder e direitos não podem ser confundidos e nem completamente separados. Ambos constituem parte de complexos contextos e Câmara dos Deputados – Anexo IV – Gab. 940 – Brasília DF – CEP. 70160.900 Fone: (61) 3215 5940 / Fax: (61) 3215 2940 Email: [email protected] processos de interação humana. O núcleo chave desta alternativa é entender que tanto poder quanto direitos são construções históricas. O mapeamento das alternativas poderia prosseguir, visto que se pode abrir cada uma das três possibilidades acima desenhadas em várias outras alternativas , além de apontar outras. Dessa forma, a filosofia, em diálogo com outros saberes, poderia aportar uma contribuição significativa para uma temática urgente e de alta pertinência. Talvez o maior desafio à filosofia social e política contemporânea seja, entre outros, dar conta de compreender a relação entre poder e direitos de tal forma a subsidiar a cidadania para que possa construir caminhos fecundos para que os direitos humanos deixem de ser anseios ou ausências interditadas pelo poder e passem a ser, ao menos, questões sobre as quais haja tempo e espaço para a reflexão e ação. Por fim, queremos saudar e comemorar neste dia mundial da Filosofia a inclusão desta disciplina entre as de ensino obrigatório na educação básica. Uma longa luta que iniciamos em 1995 e que, no ano passado, o Presidente Lula sancionou fazendo justiça a esta área do conhecimento que é fundamental para desenvolver o senso crítico, a visão de cidadania e exercício de pensamento. Parabéns aos filósofos do Brasil inteiro, amigos do saber, do sabor, da poesia e da construção de uma sociedade mais justa e fraterna. Muito Obrigado! Câmara dos Deputados – Anexo IV – Gab. 940 – Brasília DF – CEP. 70160.900 Fone: (61) 3215 5940 / Fax: (61) 3215 2940 Email: [email protected]