Bruno Mendes Mesquita Universidade Federal Fluminense – [email protected] Leonardo Oliveira da Silva Universidade Federal Fluminense - [email protected] Praias próximas, lugares distantes uma: abordagem sobre a economia informal e a constituição do lugar INTRODUÇÃO Após a Segunda Guerra Mundial o mundo viu ganhar força um fenômeno que tenuemente se construiu desde o início das Grandes Navegações (Séculos XVI e XVII), quando sistema mundo europeu estendeu sua influência até englobar quase a totalidade da economia mundial, esse fenômeno é a Globalização. Nessa nova fase do capitalismo os países que antes brigavam militarmente por mercado agora travam uma luta muito sutil, o que não quer dizer menos desumana. Os agentes fomentadores desse processo denunciam a quem servem, são eles: o Banco MUNDIAL, o Fundo Monetário INTERNACIONAL, Organização MUNDIAL do Comércio, que agem a favor das empresas Transnacionais e Multinacionais. Dentro desse contexto é que se encontra nossa pesquisa, nos estamos em um segundo passo para entender melhor a lógica do mercado informal nas praias oceânicas de Niterói (Itacoatiara, Itaipu, Camboinhas e Piratininga). O primeiro passo foi tomado no ano de 2007, onde, preparando um trabalho para a disciplina Geografia Econômica, nos analisamos essas quatro praias e percebemos uma clara diferenciação do que é vendido e dos vendedores em lugares que são muito próximos, para se ter uma idéia fizemos boa parte do trajeto a pé. Agora nesse segundo passo buscaremos analisar os freqüentadores, traçando seu perfil sócio-econômico e comparando com a pesquisa anterior, queremos constatar se esse fator caracteriza as praias como lugares distintos. OBJETIVOS Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 1 - Traçar um perfil sócio-econômico dos freqüentadores das praias oceânicas de Niterói. - Entender a diferenciação do mercado informal nas praias oceânicas de Niterói. - Debater sobre o conceito de lugar e sobre a lugarização na economia informal. METODOLOGIAS - Traçamos uma discussão sobre globalização do capital e seus efeitos na economia regional. Nosso estudo de casos é o mercado informal das Praias oceânicas de Niterói, pesquisamos em um momento anterior os vendedores informais e nesse trabalho os freqüentadores. O método utilizado para colher os dados foi a passagem de um questionário com 10 perguntas, sendo 9 objetivas (perguntamos no questionário: 1)idade, 2)renda familiar, 3) se recebe renda própria, 4)o valor da renda própria, 5)sexo, 6)escolaridade, 7)tipo de moradia, 8)se freqüenta outras praias e 9)onde reside), e uma pergunta subjetiva: porque freqüenta apenas esta praia? Entrevistamos 100 pessoas em cada uma das praias. INDICAÇÃO DO ESTÁGIO DA PESQUISA -Pesquisa ainda em estágio inicial, colhemos os dados nos meses de junho e julho, onde o número de freqüentadores é menor devido ao inverno, pretendemos ainda voltar no final e início do ano. A DINÂMICA DO CAPITAL A globalização é um fenômeno do mundo contemporâneo, caracterizando-se pela livre circulação de capitais e o entrava da circulação de pessoas. Para entender melhor o fenômeno da economia globalizada utilizaremos os conceitos de economia mundial e economia-mundo, de Fernand Braudel: “Por economia mundial entende-se a economia do mundo considerada em seu todo... Por economia-mundo, palavra que forjei a partir do vocábulo alemão eltwirtschaft, entendo a economia de somente uma porção do nosso planeta, na medida em que essa porção forma um todo econômico”. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 2 A globalização seria então a expansão do sistema-mundo europeu, englobando e desarticulando os sitemas-mundo nas Américas, na África e Ásia, através da colonização, que tem início com as Grandes Navegações no século XV e XVI e alcança seu ápice nos dias de hoje na fase designada por Milton Santos de meio técnico-científico-informacional (Santos 2001). É importante ressaltar que Braudel aborda ainda outro aspecto sobre a economia-mundo que é o da disputa pela posição de centro, através dos processos de centragem, descentragem e recentragem, com a disputa, inicialmente das cidades-estados, e depois dos países, sempre entre dois ou mais centros. Entretanto esse processo de globalização, marcado pelas trans e multinacionais, pelo capital sem pátria se fortalece após a Segunda Guerra, antes desse período, no entanto, a busca por mercado se dava de outra, na busca militar por território. Neste período histórico (século XIX até o fim da 2ª Guerra Mundial) as relações comerciais eram relações territoriais, sendo o território “um espaço definido e delimitado por e a partir de relações de poder” (LOPES DE SOUZA 1995). Sob a égide do capitalismo imperialista o mundo embarcou nas duas Grandes Guerras, onde até os vencedores tiveram perdas consideráveis, principalmente perdas humanas. Consequentemente o mundo, traumatizado com o genocídio da guerra, não embasava mais essa forma de comercialização restrita, onde só a guerra abria novos mercados e é por isso que apesar de ocorrerem vários conflitos durante o período da Guerra Fria, surge nessa época o embrião da nova escala de poder; a escala transnacional, com a materialização de uma “geopolítica de empresas”. Carlos Walter situa também esse aspecto da economia globalizada, que é a de quem lucra com essa lógica? Depois das primeira e segunda Grandes Guerras mundiais, com o mundo não aceitando com tanta facilidade a busca por mercados por via da força, surge então outra lógica, a do capital sem pátria, fomentada pelo Banco Mundial, Fundo Monetário Internacional, pelo Bird, pela organização Mundial do Comércio, todas organizações que prezam pelo discurso da internacionalidade, revelando os atores desse processo que são as empresas multinacionais ou transnacionais. Essas organizações defendem o direito dessas empresas, proporcionando sua manutenção e expansão. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 3 A idéia de um globalizado, onde todos teriam acesso a cultura do mundo inteiro, arraigado no conceito de Aldeia Global, é uma utopia, a não ser para um cidadão de Nova Yorque ou de qualquer cidade dos países centrais, para o resto do mundo, os 80% da população mundial que tem a sua condição de existência relegada a uma categoria sub-humana, a globalização é cruel (Porto-Gonçalves 2006). Os tratados assinados, como o de Breton Woods, que são impostos a esses países como panacéia de desenvolvimento não passam de medidas sórdidas para perpetuar a colonização, o dito acordo anteriormente citado, por exemplo, rompendo com o sistema fixo de câmbio e com o padrão ouro, ou seja, a partir desse momento o dólar é o lastro que os países deverão buscar e somente os EUA emite essa moeda, ficando o cambio flutuando com sua alto ou baixa cotação mundial, isso fez com que a dívida externa da América Latina passasse de US$ 46,3 bilhões em 1971, para US$ 902 bilhões em 1999, um aumento de 21 vezes! (Porto-Gonçalves 2006) Assim os países pobres, presos numa escravidão internacional por dívida são forçados a manter um superávit primário, aumentando sua taxa de juros, exportando matéria-prima e produtos agrícolas, que acabam por ter seus preços cada vez mais desvalorizados na economia mundial enquanto os produtos manufaturados, feitos deles, só aumentam seu valor. Além de terem que se abrir para entrada das multinacionais poluidoras, o que fomenta o desemprego, poluição e a concentração de renda. O resultado disso tudo é que em nome da lógica da globalização, da erradicação da pobreza pelo desenvolvimento aos moldes europeus, as vocações locais são esquecidas e os investimentos nas áreas sócias cada vez menores, e os arrochos salariais cada vez maiores, em nome de um modelo único de civilização, onde a meta, os países desenvolvidos, onde 20% da população mundial consume 80% dos recursos naturais, existe rico, obeso e farto à custa da fome de milhares de homens e mulheres que, Gandhi já dizia: Foi necessário o mundo tido para desenvolver a Inglaterra, quanto será necessário para desenvolver a Índia?(Porto-Gonçalves 2006) EXPOSIÇÃO DAS FONTES Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 4 No presente estudo pretende – se realizar uma caracterização do perfil sócio – econômico dos freqüentadores das praias analisadas, Itaipu, Itacoatiara, Camboinhas e Piratininga, além de tecer considerações acerca da diferenciação do mercado informal nas praias citadas, não deixando de lado a relação local / global existente dentro da atividade do comércio informal. Para a realização das análises será usado o conceito de lugar como mecanismo de compreensão das relações entre os freqüentadores e o espaço/lugar praia, e a análise da atuação do comércio informal, segundo a concepção de lugar desenvolvida pela chamada Geografia Humanista, e pela acepção do lugar referente à Geografia Dialético Marxista, deste como fragmento da totalidade de relações econômicas e sociais e como totalidade destas em si. A concepção da Geografia Humanista concebe o lugar pela ótica da valorização das relações afetivas desenvolvidas pelos indivíduos em relação ao seu ambiente. Assim, para os que utilizam esse corrente de pensamento o lugar aparece essencialmente como produto da experiência humana. Destaca – se as relações de afetividade e pertencimento do indivíduo no desenvolvimento de sua vida social. Assim, o lugar é construído a partir das experiências singulares dos indivíduos e das experiências coletivas, de modo a constituir o lugar fruto da relação entre os indivíduos no espaço. Na construção do lugar integram - se as concepções coletivas e as individuais, de modo que a noção individual se realiza a partir da interação entre as diversas concepções individuais, sejam elas convergentes ou divergentes. Nesse sentido, o lugar se caracteriza na dialética do pertencimento / não pertencimento, na medida em que a construção das noções individuais e coletivas acerca do lugar, configuram – se na afirmação de seu lugar a partir da negação/ afirmação do lugar do outro. A negação constituindo o aspecto que afirma seu lugar a partir da diferenciação do lugar do outro, e a afirmação na medida em que, a negação do seu lugar como do outro, afirma a existência de um lugar diferenciado para o último. Os lugares se constituem da interação das diversas esferas da vida do homem. Assim, a identidade do lugar se constrói no plano da afetividade, do simbólico, do político, do cultural e do econômico. Destaca – se os diversos aspectos citados na intencionalidade das ações humanas que constituem os lugares. Nas palavras de Buttimer (1985, p. 228), “lugar é o somatório das dimensões simbólicas, emocionais, culturais, políticas e biológicas”. Assim, o lugar é criado pelos seres humanos para os propósitos humanos. Dessa forma, pode ser Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 5 percebido o conjunto de aspectos que se colocam na diferenciação dos lugares a partir das mesmas intencionalidades, nesse momento entra em cena o conjunto de aspectos simbólico, econômico, político, cultural e afetivo que conduzem a espacialização diferenciada dos grupos sociais em espaços geograficamente próximos ou distantes. Outro elemento que merece destaque na discussão do conceito de lugar diz respeito às escalas de experimentação deste. Assim, nas palavras de Buttimer (1985b, p. 178), “cada pessoa está rodeada por camadas concêntricas de espaço vivido, da sala para o lar, para a vizinhança, cidade, região e para a nação”. Nesse sentido, as escalas de experimentação dos lugares podem se apresentar transpostas umas pelas outras, assim os elementos que tornam a praia, o shopping e a cidade, lugares, podem trazer consigo formas de sua constituição simbólica forjadas em outras escalas, como a nacional ou a global. Na concepção da Geografia Dialético Marxista, o lugar aparece como espaço produzido sob de uma dinâmica única, isto é, constituído de processos históricos e características culturais que lhe são próprios, e também como expressão da globalidade. Assim, o lugar se apresentaria como “o ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local, enquanto especificidade concreta e enquanto momento” (Carlos, 1996, p. 16). Com a evolução da técnica, a capacidade de articulação dos elementos no espaço tomou uma dinâmica nunca vista antes na história da humanidade. Tal característica coloca em movimento o processo de homogeneização do espaço, porém ao mesmo tempo em que se coloca globalidade, através da atuação das redes técnicas da produção em menor tempo, do sistema de transportes e comunicação, coloca-se também a fragmentação do espaço pela especialização assumida pelos lugares no processo de acumulação. Assim, para Milton Santos (1988, p. 34) “quanto mais os lugares se mundializam, mais se tornam singulares e específicos, isto é, únicos”. Esta seria uma resultante direta da “especialização desenfreada dos elementos do espaço – homens, firmas, instituições, meio ambiente”, assim como da “dissociação sempre crescente dos processos e subprocessos necessários a uma maior acumulação de capital, da multiplicação das ações que fazem do espaço um campo de forças multidirecionais e multicomplexas (...)”. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 6 AS PRAIAS DE NITERÓI Traçaremos agora o perfil dos usuários das praias oceânicas de Niterói a partir de uma caracterização de seu mercado informal previamente pesquisado. Os dados sobre a economia informal realizada nas praias foram tirados do site http://trabinformalpraisniteroi.blogspot.com/, onde publicamos nosso trabalho de Geografia Econômica. Itacoatiara, assim como nas outras praias que serão abordadas a seguir os trabalhadores dividem-se em dois grupos: Ambulantes e barraqueiros. Porém, estes grupos realizam o mesmo tipo de comércio, vendendo bebidas e alimentos, de forma geral. No complexo econômico de Itacoatiara, existem tanto trabalhadores por conta-própria como empregados (sendo os principais empregadores os irmãos Marcelo e Sérgio na venda de sanduíches naturais e chá mate). Já os produtos para a revenda ou produção são adquiridos na própria região oceânica ou no Ceasa, excetuando-se os óculos e o queijo coalho. Na pesquisa do perfil sócio-econômico dos freqüentadores dessa praia temos que, referente à faixa etária, o grupo majoritário dos freqüentadores tem idades entre 20 – 30 anos, representando um número de 50%, caracterizando um público jovem, 15 % têm até 10 salários de renda familiar e 35% mais de 10 salários, caracterizando uma praia com freqüentadores de elevada renda, entretanto por se tratar de um público relativamente jovem 65% apenas recebem renda própria, desses a maioria ganha por mês 4 salários mínimos, 35%, e 15% ganham mais de 9 salários de renda mensal. 60% dos freqüentadores são homens, em sua maioria surfistas devido mar apresentar ondas de mais de um metro. Quanto à escolaridade 20% possuem ensino médio completo, 25% superior incompleto e 15% superior completo, 65% possuem moradia própria. Essa praia apresentou o maior índice de pessoas que não freqüentam outras praias, 55% e o segundo maior número de moradores de Niterói 84%. Com as respostas sobre por que frequenta apenas esta praia pudemos ter uma idéia da construção da praia de Itacoatiara como lugar, a maioria respondeu que vai com amigos e que essa é a praia mais limpa, sem aquela “farofada” que é como as pessoas com menos condição financeira se apropriam do espaço praia. A praia de Itacoatira se constitui como um Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 7 lugar dos jovens ricos, já que tem a dificuldade de acesso, pois não tem linhas de ônibus que chegam até a orla, e devido a agitação do mar é pouco freqüentado por famílias. Itaipu, apesar de ser uma praia relativamente próxima à de Itacoatiara, o comércio informal se dá uma maneira completamente diferente. A organização entre os vendedores é praticamente inexistente e a maioria dos trabalhadores atua por conta-própria. Porém, como não existe organização entre os vendedores nem mesmo para a combinação de preços, a concorrência é intensa, sendo a diminuição dos preços dos produtos a única estratégia dos vendedores. Itaipu apresentou uma heterogeneidade quanto à faixa etária. Após os 30 anos, 35%, entre 30 – 40 e 40 - 50, 30%, e 25% de 50 – 60. No quesito renda familiar também ocorreu bastante diversidade, 20% tem renda familiar de até 4 salários mínimos, 20% de mais de 5 salários, 20% com mais de 8 e até 15% recebendo mais de 10 salários. Do público que freqüenta 70% possuem renda pessoal, dentre esses as maiores porcentagens são 20% com 5 salários e 20% com 7. Quanto ao gênero, no casa desta praia a estatística se inverte tendo 60% de mulheres. Quanto à escolaridade os números mais expressivos são 20% nível médio completo e 30% superior completo. 90% possuem moradia própria. A estatística que mais surpreendeu foi que 100% freqüentam outras praias. 70% residem em Niterói. Como Itaipu é uma área de fácil acesso (diversas linhas de ônibus ou vans levam até Itaipu), esta é uma praia freqüentada por pessoas de diversas classes, o que já seria mais um motivo para os preços dos produtos não serem tão elevados. Camboinhas é uma área de mais difícil acesso (pois só é possível chegar de carro, não tendo linha de ônibus que atravesse a orla), os preços dos produtos são realmente mais caros, chegando a dobrar. A dificuldade ao acesso também é o fator que permite uma maior organização ao local. Esta praia normalmente é freqüentada por pessoas com um poder aquisitivo mais elevado, o que já requer um atendimento de melhor qualidade que somente os quiosques são capazes de oferecer. Nossa pesquisa comprovou o que constatamos sobre o mercado informal. Quanto à renda familiar, 25% - 9 salários, 35% - 10 salários e 25% mais de 10 salários. Quanto à faixa etária 50% dos freqüentadores têm entre 30 – 40 anos. Dos freqüentadores, 70% possuem renda própria, sendo os maiores índices o de 5 salários mínimos, 20% e o de 7 salários mínimos com também 20%. Apresenta o maior índice de freqüentadores homens, 70%. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 8 Quanto à escolaridade, 35% superior incompleto, 30% superior completo e 15 com pós-graduação. 65% freqüentam outras praias. Camboinhas apresentou o maior índice de moradores de Niterói, 90%. Quando perguntados por que não freqüentam outras praias a maioria respondeu que era devido à proximidade, logo devem morar no próprio bairro, devido a dificuldade de ônibus. A construção do lugar em Camboinhas dá-se como um espaço restrito, com uma geografia que segrega, apesar de estar próxima de Itaipu (apenas um canal as separa). Piratininga possui dois espaços econômicos distintos dentro de si. Estes dois espaços seriam o PRAIÃO a e PRAINHA. Sendo que no PRAIÃO, predominam os quiosques e os preços dos produtos são mais elevados, na PRAINHA os barraqueiros predominam, pois a prainha E, possui além disso, uma não existe concentração qualquer outro maior tipo de de comércio banhistas. próximo. Dentre os freqüentadores do PRAIÃO, 40% tem entre 30 – 40 anos. Apresentam uma das maiores rendas familiares com 40% até 10 salários e 35% até 9 salários. Dos freqüentadores, 70% recebem renda própria, desses 30% de até 10 salários, 65% são homens, 40% possuem ensino superior completo, 45% não freqüentam outras praias, 80% moram em Niterói. Dentre os freqüentadores da PRAINHA, 25 % possuem entre 10 – 20 anos, e 40% entre 20 – 30 anos. Quanto à renda familiar, 25% até 2 salários e 30% até 3; 80% possuem renda própria, desses, 60% com uma renda de 2 salários. Sabemos que 63% dos freqüentadores são mulheres. Dentre os freqüentadores, 40% possuem o ensino médio completo, 60% possuem moradia própria, 90% freqüentam outras praias, 70% residem em Niterói e 30% em São Gonçalo. A constituição do lugar em Piratininga é marcada pela divisão feita por uma geografia econômica. No PRAIÃO, Piratininga se assemelha à Camboinhas, mas tem diferenças quanto à segregação geográfica que não é tão intensa quanto em Camboinhas. Os ônibus não circulam em sua orla, porém param próximo, na orla da PRAINHA. O delimitador é a geografia econômica, pois os freqüentadores com menor renda têm dificuldade de consumir nesse espaço. RESULTADOS PRELIMINARES Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 9 A análise das formas de organização do comércio informal demonstra que sua realização encontra – se diretamente ligada às características de apropriação do espaço praia pelos freqüentadores. Nas praias de Itaipu e Piratininga (Prainha), a iniciativa individual aparece como a principal característica de trabalho dos vendedores. Na praia de Itacoatiara a organização do trabalho é mais complexa. Além de trabalhadores que atuam por conta própria, existem também os trabalhadores que atuam como empregados vendendo sanduíches para os patrões Sérgio e Marcelo. Além disso, nas praias que possuem um público com renda mais elevada, a atuação dos vendedores ambulantes se dá de forma menos intensa, pois o tipo de produto que oferecem não atinge esse público. Percebe – se que a apropriação dos freqüentadores do espaço praia como lugar se dá de forma bastante diferenciada nas praias analisadas. Configura – se como elemento de fundamental importância para a caracterização dos grupos que freqüentam as praias, a integração destas aos meios de transporte, como também as características sócio – econômicas dos bairros em que as praias estão localizadas. Assim, as praias de Piratininga (Praião) e principalmente Camboinhas, caracterizam exemplos onde a impossibilidade da apropriação desses espaços pela população está diretamente relacionada à deficiência e ausência, respectivamente, de uma rede de transporte coletivo. Mesmo nas praias que têm seu acesso através da mesma linha de ônibus, Itacoatiara (uma linha) e Itaipu (diversas linhas) os grupos freqüentadores são bastante distintos. Como pôde ser observado na resposta dos freqüentadores de Itacoatiara à pergunta se freqüentam outras praias ou não, e sua resposta, que a freqüentam devido não haver a “farofada”, termo utilizado para designar como as pessoas com menos condições financeiras se apropriam do espaço praia, constitui – se em um exemplo bem claro da clivagem existente entre os grupos sociais que freqüentam essas praias. Por fim, torna - se bem clara a singularidade das formas de organização econômica dos lugares praia e sua participação na dinâmica de acumulação do capital. Assim como a apropriação diferenciada das praias a partir das diferenças sócio – econômicas dos freqüentadores, além das características de integração ao tecido urbano das localidades detentoras de diferentes características sócio – econômicas de ocupação, onde estão inseridas as praias e suas respectivas constituições como lugares distintos. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 10 BIBLIOGRAFIA BRAUDEL, Fernand. “A dinâmica do capitalismo” editora: Rocco. 1987 BUTTIMER, A 1985. Aprendendo o dinamismo do mundo vivido. In: PERSPECTIVAS DA GEOGRAFIA. Antônio Carlos Christofoletti (org.). São Paulo, Difel. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. “A globalização da natureza e a natureza da globalização” editora: Civilização Brasileira. 2006. SANTOS, M. 1988. Metamorfose do Espaço Habitado. São Paulo. Hucitec. SOUZA, Marcelo José Lopes de. “O território: sobre espaço e poder, autonomia e desenvolvimento” in: Geografia Conceitos e Temas. 11ª edição. Editora: Bertrand Brasil. 1995. TUAN, Yi-Fu. 1983. Espaço e Lugar. São Paulo. Difel Sites http://trabinformalpraisniteroi.blogspot.com/ acessado em 29 de junho de 2010 às 10h. Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre - RS, 2010. ISBN 978-85-99907-02-3 11