LUCIANE TECCHIO SCHULZ CORRELAÇÕES ENTRE O HIPOTIREOIDISMO E ALTERAÇÕES VOCAIS. Monografia apresentada ao CEFAC - Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica para a obtenção do Certificado de Conclusão do Curso de Especialização em Voz. CURITIBA PR 1999 FICHA CATALOGRÁFICA SCHULZ, Luciane Tecchio. Correlações entre o hipotireoidismo e alterações vocais, Curitiba, 1999 25 pgs. - p. 30 cm ( Monografia - Curso de Especialização em Voz Centro de Especialização em Fonoaudiologia Clínica). Descritores: NLMC - Hipotireoidismo. LUCIANE TECCHIO SCHULZ CURSO DE PÓS - GRADUAÇÃO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO - VOZ ORIENTADORA DE CONTEÚDO: Profª Drª Sílvia Rebelo Pinho Mestre e Doutora pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina, Especialista em Voz e Coordenadora dos Cursos de Especialização em Voz do CEFAC. COORDENADORA: Profª Drª Sílvia Rebelo Pinho Mestre e Doutora pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina e Especialista em Voz. ORIENTADORA METODOLÓGICA: Profª Maria Helena V. Caetano Mestre pela UNIFESP - Escola Paulista de Medicina, Especialista em Audiologia e Doutoranda em Ciências na Área de Fisiopatologia Experimental da Faculdade de Medicina da USP. AGRADECIMENTOS A Deus pela saúde e pela oportunidade de realizar este curso; Aos meus colegas de Turma, pelos bons momentos que junto convivemos, dos quais já sinto saudades; Ás minhas orientadoras, metodológica e de conteúdo, pela orientação dada para a execução deste trabalho, amizade e compreensão, que sempre nos dedicaram; Aos funcionários, departamento, ajuda técnica; Ás pessoas que leram este trabalho. Ao meu marido Marcelo pelo incentivo e auxílio durante todo o curso de Pós graduação, pelo apoio e comprensão A meu pai pelo amor e presença constante em minha vida A minha irmã pela amizade, companheirismo e principalmente, pelo eterno apoio Dedico com carinho este trabalho! SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................. 2. REVISÃO DA LITERATURA...................................................................... 3. DISCUSSÃO.................................................................................................. 4. CONCLUSÃO................................................................................................ 5. RESUMO....................................................................................................... 6. SUMMARY................................................................................................... 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................ 8. FONTES CONSULTADAS........................................................................... INTRODUÇÃO Uma das primeiras observações no homem endocrinologicamente estabilizado, é o fato que a glândula tireóide libera secreção com influência no metabolismo do corpo. Pesquisas têm mostrado que o produto da tireóide, é a tiroxina (T4), que controla o metabolismo, coordenando a quantidade de energia liberada pela célula. De acordo com a situação em que o homem se encontra, tensão, estresse, aumento da atividade, é necessário que todo o tecido do corpo aumente sua produção de energia (RITTER,1964). Desta forma, o hipotálamo inicia um aumento do metabolismo, pela estimulação da hipófise, por meio do Hormônio Liberador da Tireóide (TRH). Este estimulante faz com que a hipófise, libere uma determinada quantidade do Hormônio Estimulante da Tireóide (TSH), que por sua vez, fará a tireóide sintetizar e liberar T4. Apenas uma determinada quantidade de T4 é liberada, de acordo com a quantidade requerida pelo tecido. O T4 entra no tecido para perder um átomo de iodo, transformando-se em triiodotironina (T3), para só então agir. O T3 realiza um “feedback” negativo com a hipófise, que por sua vez realiza o mesmo com o hipotálamo, cessando desta maneira a liberação do TRH. Desta forma, há uma relação entre estas 2 glândulas endócrinas e o hipotálamo, onde os dois são necessários para o equilíbrio um do outro. A respeito deste delicado balanço neuroendocronológico, permanente decréscimo da tirode T4 pode ainda ocorrer. O decréscimo é mais frequente quando há remoção da glândula tireóide por cirurgia ou doenças que envolvam a glândula frustando a síntese deste hormônio. Quando há uma produção insuficiênte de T4, o padrão do metabolismo corporal cai, e há um decréscimo na atividade de todo o sistema orgânico, caracterizando o hipotireoidismo. O hipotireoidismo congênito é chamado de cretinismo, onde entre outros sintomas, há suspensão do crescimento, diminuição do metabolismo basal; laringe mal desenvolvida, não ocorrendo a muda vocal; surdez; crânio volumoso e retardo mental. A deficiência ou extirpação da tireóide, caracterizando o hipotireoidismo, é chamado de mixedema nos adultos, devido ao edema nos tecidos do corpo, e inclusive das pregas vocais. Além dos sintomas clássicos do mixedema, sintomas laríngeos, faríngeos ou nasais, podem ocorrer isoladamente. Desta forma faz-se necessária a atenção do médico e do fonoaudiólogo para a etiologia da alteração vocal, ou de qualquer sintoma laríngeo, faríngeo ou nasal de maneira isolada. Os sintomas da voz mixematosa são típicos, caracterizando-se pela diminuição do “pitch”, voz rouca, grave, apagada, profunda, sem projeção vocal e com falta de modulação. Há referência de casos com lentidão mental, fala inexpressiva, articulação lenta, uniforme e monossilábica. O edema laríngeo causa gradual e progressiva rouquidão. Por meio do presente trabalho, pretendemos elucidar a correlação entre os distúrbios vocais e o hipotireoidismo. REVISÃO DA LITERATURA BARTON (1951) relatou que doenças da tireóide podem se manifestar por meio de sintomas laríngeos e faríngeos isoladamente. O otorrinolaringologista deveria estar atento constantemente a relação de cada sintoma desta condição. Sintomas como sensação de inchaço na garganta é muitas vezes devido ao hipotireoidismo, e é aliviado pela reposição hormonal da tireóide. O sintoma de rouquidão no caso de deficiência da função tireoídea deve-se pelo espessamento das pregas vocais. Pode também ocorrer paralisia de prega vocal devido ao aumento da glândula tireóide, que comprime o nervo laríngeo recurrente. As tireoidites podem se manifestar pela dor no pescoço, na tireóide, ouvido e maxila, podendo apresentar-se sem a dor, neste caso a sensação de inchaço pode ser a única queixa. HILGER (1956) afirmou que edema de prega vocal não associado a uma reação inflamatória é sugestivo de hipotireoidismo. O edema é firme, não avermelhado a menos que seja devido ao excessivo trauma vocal, é uniforme envolvendo toda a prega vocal. Devido ao grande aumento e espessura da prega vocal, a voz é rouca e de baixo “pitch”. Graus avançados de mixedema na prega vocal podem resultar em um “difuso polipóide” necessitando ser retirado cirurgicamente. A submucosa da prega vocal apresenta uma característica gelatinosa devido a mudança de mucoproteínas no tecido substancioso, sendo fácil separar a massa edematosa do tecido elástico com o uso de dois fórceps. GEMMIL (1958) realizou um estudo sobre o desenvolvimento normal e o desenvolvimento em tireoidectomizados com uma alimentação deficiente em iodo. Neste estudo, o autor utilizou ratos brancos pesando entre 50 e 60gr, sendo que em alguns destes ratos foi retirado cirurgicamente a glândula tireóide e paratireóide. Os ratos foram divididos em 4 grupos: A- ratos normais com dieta normal; B- ratos normais com dieta deficiente em iodo; C- ratos tireoidectomizados com dieta normal e D- ratos tireoidectomizados com dieta deficiente em iodo. Após um determinado período, o resulado foi que os ratos do grupo D tiveram um pequeno ou nenhum crescimento, o grupo C teve um retardo no crescimento, e os ratos do grupo B tiveram retardo no crescimento nos primeiros dias, e depois este foi reestabelecido. O autor considerou que a parada do crescimento nos ratos deveu-se a ausência de iodo metabolicamente ativo no organismo. O iodo inorgânico não restaura o crescimento. Com a retirada da glândula tireóide não há liberação da enzima que transforma diiodotironina em triiodotironina, transformando iodo inorgânico em iodo orgânico. FICARRA (1960) fez referência ao medo do cirurgião com relação à troca da voz do paciente após tireoidectomia. Seu primeiro pensamento seria que tivesse prejudicado o nervo laríngeo superior ou recurrente. Entretanto, ele observou que trocas de voz após cirurgia de tireóide poderiam ser resultado de redução fisiológica de T4 depois do trauma da cirurgia (devido a perda cirúrgica de tecido tireoídeo). Este tipo de troca de voz seria usualmente rouca sendo a peculiar maneira da voz mixematosa. A rouquidão mixematosa ocorreria cerca de 10 dias antes do caso clínico mixedema ser evidente. Outros sinais seriam os olhos, a pele áspera com flacidez nos músculos subjacentes. O autor referiu ainda que a rouquidão mixematosa era caracterizada pela diminuição de “picth” e pela diminuição da clareza da voz. Observou que a mudança da voz seria após 36-48 horas depois da cirurgia, tempo aproximado que levaria para o o abaixamento do nível de T4. Antes de 36 ou 48 horas o T4 estaria disponível para o equilíbrio do balanço fisiológico. Depois deste período, o T4 seria deficiente e resultaria em mixedema. RITTER (1964) descreveu a presença de mixedema causado pelo hipotireoidismo. O mixedema, faz com que as células do tecido conectivo, produzam um fluído viscoso, devido ao aumento de proteína e ácido mucopolissacarídeo, produzindo sintomas pela distorção dos tecidos. O autor induziu ratos ao hipotireoidismo com o objetivo de estudar o seu efeito na laringe. Vinte e cinco ratos foram divididos em 3 grupos, sendo que no primeiro grupo (10 ratos), foi injetado rádio-iodo com o intuito de destruir a glândula tireóide. No segundo grupo (9 ratos), foi colocado 1% de propiltiouracil na água de beber, interferindo desta forma na síntese do T4. Finalmente o terceiro grupo (6 ratos) era para controle de estudo. Após 130 dias foi avaliado o metabolismo basal dos ratos, a proteína de iodo no sangue e o peso do corpo. Os achados indicaram graus severos de hipotireoidismo nos dois primeiros grupos. No primeiro grupo a glândula tireóide não foi encontrada, havia focos de tecido fibroso denso no lugar da glândula tireóide e um grande aumento do tecido conectivo, sugerindo um aumento de depósito de ácido mucopolissacarídeo; no segundo grupo a glândula tireóide estava três ou quatro vezes maior e cor vermelha escuro, a hipófise continuou a secretar TSH para estimular a tireóide a produzir T4. Havia também aumento de tecido conectivo provavelmente devido ao aumento de ácido mucopolissacarídeo. O nervo laríngeo recurrente, prega vocal e musculatura intrínseca da laringe e Sistema Nervoso Central (SNC), foram estudados microscopicamente no rato. Houve um aumento de tecido vermelho na submucosa da prega vocal verdadeira. Estava presente desde a submucosa da comissura anterior até o processo vocal da cartilagem aritenóide. Microscopicamente isto foi confirmado por processos fibrilares de células de tecido conectivo. Em alguns locais havia separação deste processo fibrilar devido ao aumento de fluído entre eles, porém não houve diferenças com relação a estrutura. Isto não ocorreu nas fibras dos músculos ou no nervo laríngeo recurrente ou no cérebro. Não apareceu “polipóide” ou aumento da prega vocal porque foram examinados durante apenas 130 dias. BRODNITZ (1971) ressalta a importância do sistema hormonal estar balanceado para as inúmeras funções do corpo, sendo assim as desordens vocais poderiam oferecer a primeira chave para o diagnóstico da alteração ou deficiência endocrinológica. A alteração no balanço hormanal causaria mudanças no “pitch” e na qualidade vocal. O autor lembrou que há sintomas vocais em indivíduos que possuem deficiência tireoídea. Sintomas como cansaço, rouquidão, cretinismo e mixedema. Cantores referiram sensação de voz encoberta, queixas de limitação da extensão vocal. É importante realizar exames laboratoriais para investigação da função da glândula tireóide. Refere ainda que com pequenas doses do hormônio da tireóide, o autor observou aumento no ganho de notas agudas, na claridade vocal e projeção. A importância da disfonia como chave para o diagnóstico de hipotireoidismo seria não limitar os profissionais da voz. De acordo com BICKNELL (1973) o termo mixedema poderia ser reservado para casos avançados de hipotireoidismo onde existem inchaço da pele e do tecido subcutâneo. O mixedema é caracterizado por uma aparência facial típica, intolerância ao frio, pele e cabelos secos, voz rouca. O autor ressaltou que o hipotireoidismo leve ou acentuado é de difícel diagnóstico. A mudança nas características vocais podem ser o único fator de diagnóstico. BICKNELL realizou pesquisa em 27 pacientes com hipotireoidismo por 2 anos, 25 homens e 2 mulheres, com idade entre 35 e 84 anos. A principal queixa era a mudança na voz, geralmente mais fraca com tendência a piorar a noite. Outros sintomas incluiam esforço para falar, dificuldade para cantar, voz seca, cansaço e respiração sôfrega. Entre os pacientes alguns não tinham histórico familiar com distúrbio tireoídeo, outros tinham tireoidectomia sub-total anterior, bócio, carcinoma, doença de Hashimoto e 1 paciente havia realizado tratamento com rádio-iodo há 20 anos atrás. A medida do nível deT4 foram feitas em 26 pacientes. A maioria teve níveis entre 3 e 4ug ( resulatado de 4ug ou inferior já é considerado hipotireoidismo). Nestes pacientes não haviam outras evidências clínica de hipotireoidismo, além da mudança na voz e a sensação de cansaço. O nível de soro colesterol estava elevado em todos os pacientes. Na microlaringoscopia direta ou biopsia, algumas pregas vocais apareceram normais, outras mostraram edema de prega vocal bilateral deixando-as grossas (frouxas) e outros ainda com pólipos distintos. Para identificar mudança histoquímica no hipotireoidismo leve, foi realizado biópsia e descolorido o material com Alcian Blue, um corante com específico ácido mucopolissacarídeo. Realizou-se também controle do tecido da prega vocal normal. A mucosa da prega vocal normal onde foi usado o corante não mostrou mudanças, sendo que no tecido da prega vocal com hipotireoidismo leve mostrou claramente uma coloração azul no espaço subepitelial, sugestionando o presença de “mucin”. De acordo com PERELLÓ (1973) o mixedema é uma enfermidade devido a insuficiência da função da glândula tireóide, que ao contrário do cretinismo afeta geralmente os adultos. Ocorre depois da extirpação completa de toda a glândula ou devido a lesões degenerativas desta, caracterizando o mixedema espontâneo. O autor descreve alguns dos sintomas mais frequentes encontrados em pacientes com mixedema. É mais frequente em mulheres. Há diminuição de todas as funções vegetativas, retardo no metabolismo basal e na vida psíquica, transtornos tróficos. O sintoma mais chamativo é a tumefação da pele, com singular preferência na face, nuca e dorso das mãos e pés, sendo que a pressão digital não deixa marca como no edema cutâneo. As pernas se engrossam e lembram os paquidermes. A face se torna amarelada e as vezes cianótica, língua mais grossa, pele seca, dura e fria, diminuição de iodo no sangue. Há ainda referências à voz mixematosa como sendo rouca, apagada, profunda, com falta de modulação, incapaz de manter um som e o timbre é descolorido. Sua palavra é lenta, inexpresiva e uniforme, monossilábica pela lentidão mental do paciente. Pode haver uma acentuada propensão ao sono. A voz mixematosa pode ser considerada como sintoma frequente, aproximadamente 73 em cada 100 casos. Todos os enfermos recordam a mudança nas suas vozes. A aparição do mixedema laríngeo é variável e de distintas formas hipotireoídeas. No mixedema infantil, é de 3 a 9%; nas insuficiências tireoídeas ligeiras, é de 2 a 5%, nos mixedemas completos nos adultos é uns 46%, no mixedema pós-operatório não foi observado nenhum caso e no mixedema hipofisiário é de 18%. O autor também resalta a importância de se fazer um diagnóstico diferencial dos edemas laríngeos infecciosos inflamatórios, cujos sintomas gerais e locais são bastante característicos e não podem ser confundidos com edemas laríngeos não inflamatórios, entre os que devem ser considerados, o edema nefrótico, nefrítico, o edema tóxico alérgico e o edema angioneurótico de Quinke. O edema mixematoso não tem a presença dos sintomas bruscos. O déficit congênito da função da glândula tireóide se manifesta, nos indivíduos jovens pelo cretinismo. As características principais do cretinismo são a suspensão do crescimento, persistência da separação das epífises e abertura das fontanelas, diminuição do metabolismo basal, temperatura baixa, alterações da pele (as vezes inchada e outras atróficas), a pele é seca e rugosa, desenvolvimento deficiênte dos genitais e o que é mais importante para a foniatria, existência de um grave atraso mental. O sintoma que aparece primeiro e que põe de sobreaviso, é a macroglossia. O crânio é volumoso. A análise sanguínea mostra diminuição de iodo no sangue, hipercolesterinemia e anemia secundária. A falta da fala no cretinismo é devido, principalmente, ao seu idiotismo, junto com alterações nos centros cerebrais e nos órgãos sensoriais periféricos, como o ouvido, além da hipertrofia lingual. Sua laringe esta mal formada em consequência do transtorno geral morfogenético, não ocorre muda vocal, as cartilagens laríngeas são infantis. VON GELDERL (1974) fez referência a influência de fatores psíquicos, mascararem desordens vocais de origem endócrina, disfonias na menstruação, gravidez, disfonias iatrogênicas pela ingestão de hormônios andrógenos, sendo que há maior incidência em mulheres com tendência ao abuso vocal. Já neste ano o autor discutia a importância do balanço endógeno e fatores exógenos (fumo, tosse) nestas disfonias. Devido a conecção entre o sistema hipotálamohipófise com a psique e o hipotálmo-hipófise com o organismo, existe duas relações entre a psique e a voz: a relação orgânico-hormonal e a relação função psicogênica. Desordens endócrinas da voz ocorrem em algumas doenças da hipófise e da glândula tireóide. A função hormonal, bem como laríngea, estão ligadas ao processo de mixedema. MICHELSON & SIRVIO (1976) realizaram um estudo por meio da análise espectográfica do choro de 4 crianças com hipotireoidismo, com idades variando entre 3 dias a 4 meses. Quarenta tipos de choro foram analisados. Quando os choros foram comparados com a análise espectográfica de 75 crianças saudáveis, mudanças significativas foram encontradas: “pitch” do choro, frequência mínima e máxima estavam abaixo do que o do grupo de controle, há referências de frequência fundamental abaixo de 1.000hz. O choro era muito rouco, sendo que a rouquidão seria pelo edema laríngeo. Os autores mostraram ainda que há diferença do choro do hipotireoidismo em crianças com danos cerebrais, onde o choro era agúdo e o “pitch” elevado. É importante o diagnóstico precoce, sendo que os sintomas clássicos do hipotireoidismo não se manifestam quando a criança nasce e geralmente, não aparece antes dos 3 meses de idade, porque o retardo mental é muito frequente se a terapia adequada não é iniciada antes dos 3 meses. Os primeiros sintomas do hipotireoidismo são problemas de alimentação, língua larga e protuída, pouco ganho de peso, sonolência prolongada e inexplicada, movimentos espontâneos diminuídos, hérnia umbilical. A sensação auditiva do choro é áspera, rouca e de baixo “pitch”. Em crianças onde há suspeita de hipotireoidismo, a análise expectográfica do son, serviria como teste preliminar. MALINSKI, CHEVRIE - MULLER, CERCEAU (1977) realizaram estudo em 10 pacientes (5 homens e 5 mulheres com idade entre 25 e 86 anos), com tirotoxicose de etiologia diversa ( 8 casos de doença de Basedow, 1 caso de adenoma tóxica e 1 caso de hipotireoidismo induzida por iodo) e intensidade variável. Os meios de estudo foram os seguintes: estudo clínico dos diferentes parâmetros acústicos da voz e da articulação atravéz do registro magnético da voz do paciente; gravação oscilográfica permitindo análisar as variações de amplitude (intensidade) e de frequência (altura) das ondas sonoras, assim como da estrutura harmônica (timbre da voz), e a qualidade articulatória; eletroglotografia; exame laríngeo para apreciar a mobilidade das pregas vocais. Em todos os casos havia em um grau qualquer, mudanças na voz, algumas vezes com mais nitidez, outras vezes discretas. Encontrou-se o timbre alterado, encoberto, rouco e as vezes com escape de ar entre as pregas vocais, a voz as vezes era cochichada. A análise acústica encontrou alteração nos harmônicos com cochichos em sopro, ensurdecimento das consoantes. O glotograma mostrou irregularidades em graus variáveis. Na laringe foi observada paralisia de uma prega vocal em 2 casos, paresia unilateral em 1 caso e bilateral em 2 casos. No conjunto as anomalias observadas eram mais importantes que a tirotoxicose e sobretudo a miopatia dos membros. GUPTA, BHATIA, AGARWAL, MEHROTRA, MISHR (1977) descreveram o hipotireoidismo como sendo uma doença sistêmica que pode afetar o nariz, garganta e a laringe, e que produziriam um bloqueio nasal crônico, gotejamento pós-nasal, repetidos calafrios e uma sensação de secura/corpo estranho na garganta e voz fraca. O diagnóstico seria aparente quando esses sintomas fossem acompanhados por estágios clínicos avançados do hipotireoidismo. Entretanto, nos estágios iniciais e subclínicos, não mixematosos da doença estariam sendo diagnosticados como sendo anemia, faringite crônica, sinusite, neurastenia, deficiência de vitaminas e algumas vezes histeria. Os autores realizaram um estudo para a determinação de incidência das manisfestações nasais, faríngeas e laríngeas nos diferentes graus do hipotireoidismo idiopático. O estudo foi conduzido em 66 pacientes com hipotireoidismo idiopático, sendo que o diagnóstico foi realizado através de exames sanguíneos. Exame otorrinolaringológico foi realizado em todos os casos e uma biópsia incisional da parte inferior do canal nasal com exame histológico em 16 casos. O achado mais comum foi a mudança na voz: 77,3%, o menos comum foi inchaço na garganta: 32,8%. No exame clínico constatou-se maior incidência de mucosa nasal úmida, edemaciada e pálida, edema de prega vocal foi o menos frequente: 4,5%. Dos pacientes que tinham os sintomas, o exame clínico revelou ainda achados positivos em apenas 47 dos 58 pacientes com sintomas nasais, 21 dos 35 com sintomas faríngeos e 20 dos 51 com sintomas laríngeos. Estes sintomas estariam dentro dos limites normais, mesmo sendo característicos do hipotireoidismo. A suspeita do hipotireoidismo se dá em pacientes com resfriados comuns, nariz obstruído, desconforto ou inchaço na garganta, e mudança na voz, sendo desta forma necessário o questionamento sobre a presença dos sintomas do hipotireoidismo (propensão a resfriados, constipação, cansaço, dores musculares generalizadas, falta de apetite, ganho de peso, pele seca, esquecimento, desordem da função menstrual, “tingling”, cabelo úmido e áspero). Exame de colesterol e do nível de proteína de iodo no sangue, seriam necessários para descartar o hipotireoidismo. A incidência de sintoma laríngeos foi encontrada em proporção direta à diminuição de T4 no sangue, sendo que as manifestações nasais e faríngeas foram inversamente proporcionais a isto. Os autores referiram ainda que esta observação não havia sido tratada na literatura, e que não há concordância de como o mecanismo da disfonia é produzido. Manifestações nasais e faríngeas são produzidas principalmente por efeito do hipotireoidismo na mucosa destas regióes. Hipertrofia das glândulas submucosas e aumento destas ocorre como resultado da infiltração pelo tecido mixematoso. Os sintomas laríngeos são próprios da infiltração mixematosa, não só da submucosa, mas também dos músculos laríngeos. MARAGOS (1984) relatou que problemas sistêmicos, como mixedema, poderiam se manifestar na laringe. As mudanças laríngeas que ocorreriam com o mixedema seriam vistas em conjunto com outros sintomas do hipotireoidismo. Aumento da massa no tecido da prega vocal e nas imediações, produziriam diminuição do “pitch” durante a fonação. WOLF (1993) ressaltou o fato de que o diagnóstico pode ser fácil na presença de sintomas como intolerância ao frio, perda de energia, secura na pele e no cabelo, entretanto o hipotireoidismo pode se manifestar de formas diferentes. O autor relatou o caso de um paciente com queixa de mudança na voz, pronúncia e fala imprecisa, articulação lenta, movimentos lentos, hiponasalidade e “picth” de voz baixa. O exame neurológico mostrou um resultado de um homen bem desenvolvido. As porções laterais das sobrancelhas estavam estreitadas, a pele estava seca. Os reflexos do tendão demoravam na fase de relaxamento. Intelecto, sensação, coordenação muscular e exame do nervo cranial estavam normais. Ele tinha leve disartria e articulação lingual imprecisa em diadococinesia. Fala inteligível foi considerada boa e satisfatória. A qualidade do “picth” vocal com leve hiponasalidade também foi observada, além da redução da velocidade e rítmo da fala. Após 5 meses de tratamento para o hipotireoidismo os sintomas haviam desaparecido. A voz do hipotireoidismo é caracteristicamente rouca, algumas vezes descrita como grossa ou grave com “picth” diminuido, resultantes da infiltração causada pelo mixedema, causando um aumento de tecido “welling”. FREDERICO e col (1994) descreveram um caso de hipotireoidismo em uma paciente de 27 anos, sexo feminino. Os sintomas presentes eram edema palpebral e periorbitário, dificuldade para andar devido ao enrijecimento muscular nas articulações inferiores, astenia, irregularidades menstruais, tireóide com aumento de volume com ausência de formação nodular. O diagnóstico da alteração hormonal (hipotireoidismo) só foi possível após exames de cintilografia, da presença de anticorpos antitireoglobulina e antimicrobiali, e da regressão da sintomatologia obtida após o tratamento com hormônio tireoídeo. Os autores ressaltam a dificuladade de se fazer o diagnóstico de tal patologia, quando estão ausentes os sintomas como sonolência, edema nas articulações, pele seca, voz rouca, perda de cabelo, frio, cansaço e fadiga. DISCUSSÃO O padrão do metabolismo humano, varia de acordo com o seu meio ambiente, tanto que quando ocorre estresse ou aumento da atividade é preciso que todo o tecido corporal aumente sua produção de energia, necessitando de um aumento do metabolismo. O hipotálamo, controla o metabolismo basal no homem, estimulando a hipófise que secreta TSH. Este hormônio faz com que a tireóide sintetize e libere uma determinada quantidade de T4, de acordo com a quantidade requerida pelo tecido, para suprir a produção de TSH. Quando há produção insuficiente de T4, o padrão do metabolismo cai e há um decréscimo na atividade de todo o sistema orgânico (RITTER, 1964). O hipotireoidismo é consequência do déficit congênito da função da glândula tireóide, caracterizando o cretinismo na criança. A insuficiência ou extirpação completa de toda a glândula tireóide no adulto caracteriza o mixedema (PERELLÓ, 1973). Os sintomas do cretinismo não aparecem antes dos 3 meses de vida, por isto a identificação precoce dos distúrbios da glândula tireóide são imprescindíveis para amenizar a grave sintomatologia. O cretinismo pode ser detectado por meio da pesquisa para erros inatos do metabolismo, popularmente conhecido como “teste do pezinho”, obrigatório no Brasil, nos bebês recém-nascidos. Vale ressaltar a importância do rápido resultado deste teste, pois se for detectado qualquer anormalidade da função da glândula tireóide, o tratamento deve ser iniciado o mais breve possível. A análise sanguínea mostra deficiência de iodo, anemia secundária, hipercolesterinemia. A observação do choro da criança pode ser um sinal importante de comprometimento da tireóide. É extremamente importante esta observação, e se faz necessário realizar orientações em berçários, com o intuito do diagnóstico precoce. De acordo com MICHELSON & SIRVIO (1976) a rouquidão constatada no choro do bebê com hipotireoidismo é devida ao edema laríngeo. Em pesquisas, bebês com hipotireoidismo teriam choro rouco e “pitch” diminuído, sendo que em bebês com danos cerebrais, o choro seria agúdo e “pitch” elevado. Assim como no mixedema, o tratamento consiste na reposição hormonal, se for instruído, e desde que a criança tenha poucos meses de vida, pode mudar totalmente o quadro clínico, diminuindo a probabilidade de afetar o desenvolvimento psíquico BARTON (1951), BICHENEL (1973), FICARRA (1960), FREDERICO e col (1994), MARAGÓS (1984), PERELLÓ (1973), WOLF & HOPSON (1993). Entre os sintomas, citamos o retardo mental, problemas de alimentação, falta de aumento no peso, movimentos espontâneos diminuídos, hérnia umbilical, sonolência prolongada e inexplicada, macroglossia, o choro é áspero, rouco e de baixo “pitch” assim como a frequência fundamental (MICHELSON & SIRVIO, 1976). A laringe não se desenvolve adequadamente em consequência do transtorno morfogenético, há ausência da muda vocal e as cartilagens laríngeas apresentam-se infantis, mesmo na idade adulta. A falta da fala pode ocorrer devido ao déficit intelectual, por vezes intenso, podendo haver alterações nos centros cerebrais e nos órgãos periféricos, como no ouvido. A suspensão do crescimento, separação das epífeses, diminuição do metabolismo basal, alteração da pele, às vezes inchada e outras atrófica, pele seca e rugosa, insuficiente desenvolvimento dos genitais, crânio volumoso e a temperatura baixa são outras manifestações frequentes (PERELLÓ, 1973). GEMMIL (1958) comprovou a parada e o retardo no crescimento, por meio da retirada da glândula tireóide e pela ausência de iodo metabolicamente ativo no organismo de ratos (dieta deficiente em iodo). Publicações médicas que elucidam as relações entre endocrinologia e foniatria tem se tornado cada vez mais numerosas. As desordens endocrinológicas da voz ocorrem em algumas doenças, como a doença da hipófise e da glândula tireóide, sendo que a função hormonal bem como laríngea estão ligadas ao processo mixedema. O termo mixedema poderia ser reservado para os casos avançados de hipotireoidismo, onde existem inchaço da pele e do tecido subcutâneo, observado mais em adultos. O mixedema é caracterizado por uma aparência facial típica, intolerância ao frio, pele e cabelos secos, voz rouca (BICHENEL, 1973). Há diminuição de todas as funções vegetativas, retardo no metabolismo, transtornos tróficos e na vida psíquica, tumefação da pele com preferência na face, nuca e dorso das mãos e pés. As pálpebras se estreitam e a mímica se torna difícel, a face se torna amarelada e por vezes cianótica, a língua fica mais grossa, as pernas engrossam e lembram os paquidermes, a pele é seca, dura e fria, o cabelo é seco e cai facilmente, o pulso é lento, falta a secreção sudoral, diminuição de iodo no sangue, a temperatura do corpo tende a ser baixa (PERELLÓ, 1973) WOLF & HOPSON (1993) e FREDERICO e col (1994) acrescentam ainda sonolência, fadiga, edema palpebral e periorbitário, dificuldade para andar pelo enrigecimento muscular nas articulações inferiores, astenia, irregularidades menstruais. Os transtornos psíquicos costumam ser muito pronunciados com o avanço da doença, o enfermo se torna apático e indiferente. Pode haver debilidade mental e acentuada propensão ao sono. Sua palavra é lenta, inexpressiva e uniforme, monossilábica pela lentidão mental do paciente. Transtornos de ordem psicológica tão frequentes em casos de disfonia funcional devem ser minuciosamente pesquisadas, pois podem ser um sinal de comprometimento da glândula tireóide. Se o hipotireoidismo não for tratado por um longo período de tempo, os tecidos do corpo tornam-se edematosos (mixedema), causando um aumento no tecido conectivo. O mixedema faz com que as células do tecido conectivo produzam um fluído viscoso devido ao aumento de proteína e ácido mucopolissacarídeo. Este fluído produz sintomas pela distorção dos tecidos. É importante ressaltar que a laringe possui zonas de mucosa, que favorecem a infiltração hipotireoídea. A zona aritenóidea é a mais frequentemente infiltrada, e desde ali passa ao espaço interaritenóideo, bandas ventriculares e pregas vocais, exceto em sua borda livre. A epiglote e as pregas vocais estão também infiltrados, mas sem passar destes limites (PERELLO, 1973). Se faz necessária a atenção durante a realização da anamnese, em realizar possíveis associações entre obesidade, disfunção tireoídea e edema de pregas vocais. O edema de prega vocal não associado a uma reação inflamatória é sugestivo de hipotireoidismo. É de fundamental importância a distinção entre o mixedema de pregas vocais, com etiologia na disfunção tireoídea, e o edema de Reinke, de ordem funcional e frequentemente encontrado em fumantes. A anamnese detalhada e exame médico completo devem ser realizados diante de quadros edematosos de pregas vocais. Atenção também durante a anamnese é necessária nos casos de hiponasalidade, descrito por WOLF & HOPSON,1993. O edema é firme, não avermelhado, a menos que seja devido ao excessivo trauma vocal, é uniforme envolvendo toda a prega vocal (HILGER, 1956). Cantores referiram sensação de voz encoberta, queixas de limitação da extensão vocal e rouquidão (BRODNITZ 1971). O mixedema laríngeo se caracteriza pela voz rouca, apagada, profunda, com falta de modulação, incapaz de manter um som, e o timbre é descolorido (PERELLÓ, 1973). Segundo RITTER (1964) esta rouquidão é gradual e progressiva. Todos os autores concordam que a alteração vocal é o primeiro sintoma nos casos de deficiência da função tireoídea, daí a importância da investigação etiológica da alteração vocal. A rouquidão pode servir como a primeira chave para o diagnóstico precoce da alteração ou deficiência endócrina (BRODNITZ, 1971). BICHENEL(1973) concorda que a mudança nas características vocais do indivíduo com hipotireoidismo podem ser o único fator de diagnóstico. Ele encontrou sintomas como voz mais fraca com tendência a piorar a noite, esforço para falar, dificuladade para cantar, cansaço e respiração sôfrega, edema bilateral nas pregas vocais, deixando-as grossas e frouxas. Em seu estudo histoquímico encontrou fluído essencialmente constituído por ácido ialurônico, incluindo mucoproteínas, no tecido subcutâneo. Ele afirma que a laringe é uma das primeiras partes do corpo a ser afetado pelo hipotireoidismo. HILGER (1956) descreve a rouquidão como resultado do aumento do depósito de material mucoprotêico na submucosa das pregas vocais causando rouquidão e diminuição do “pitch”. GUPTA e col (1977) afirmam que os sintomas laríngeos, (rouquidão, fadiga, aspereza, diminuição do “pitch”) são próprios da infiltração mixematosa na submucosa das pregas vocais e nos músculos laríngeos. Para RITTER (1964), a infiltração mixematosa envolve o SNC, nervo laríngeo recurrente, prega vocal e musculatura intrínseca da laringe. Nas pregas vocais, a infiltração estaria presente desde a submucosa da comissura anterior, até o processo vocal da cartilagem aritnoídea, sendo que a submucosa da prega vocal é a primeira a sofrer infiltração. Ressaltamos que o envolvimento do SNC pode estar relacionado à apatia e lentidão da fala. Para BARTON (1951) a rouquidão ocorre pelo mixedema nas pregas vocais ou pela paralisia, devido ao estiramento do nervo laríngeo recurrente, causado pelo inchaço da glândula tireóide, sendo que a rouquidão pós-operatória poderia vir do edema bem como da ruptura do nervo laríngeo recurrente. Rouquidão associada à disfunção da glândula tireóide pode ser tanto devido ao mixedema nos quadros de hipotireoidismo, quanto pela compressão do nervo laríngeo inferior ou recurrente pela tireóide comprometida. RITTER (1964) e FREDERICO e col. (1994) observaram o aumento da glândula tireóide. O aumento do volume da glândula tireóide, descrito por alguns autores, estaria pressionando o nervo laríngeo recurrente, causando uma paralisia temporária nas pregas vocais. FICARRA (1960) fez referência ao medo do cirurgião com relação a troca de voz do paciente após tireoidectomia, em ter prejudicado o nervo laríngeo inferior. Observou mudança vocal após tireoidectomia, depois de 36-48 horas do término da cirurgia, tempo aproximado que levaria para o abaixamento do nível de T4, desregulando o equilíbrio do balanço fisiológico e resultando em mixedema. Esta mudança vocal seria a peculiar maneira da rouquidão mixematosa, caracterizada pela diminuição de “pitch” e da clareza da voz. Outros sinais seriam os olhos, a pele áspera com flacidez nos músculos subjacentes. De acordo com MARAGÓS (1984) os sintomas laríngeos seriam pelo aumento de massa no tecido da prega vocal e nas imediações resultando em diminuição do “pitch” durante a fonação, assim como a lentidão da fala. WOLF & HOPSON (1993) encontraram sintomas parecidos como: mudança na voz, pronúncia imprecisa, articulação lenta, movimentos lentos, hiponasalidade, “pitch” diminuído, redução da velocidade e rítmo da fala, voz rouca. A infiltração seria nas pregas vocais causando o aumento dos tecidos. FICARRA (1960) afirma que o sintoma é próprio do acúmulo de ácido mucopolissacarídeo em qualquer músculo da laringe ou centralizado no núcleo do nervo vago. Para este último autor a infiltração das pregas vocais diminui o “loudness”. O tratamento de reposição hormonal pode diminuir o mixedema e reverter o quadro vocal, trazendo a clareza da voz. De acordo com GUPTA e col. (1977), a incidência de manifestações laríngeas é encontrada em proporção direta á diminuição de T4 no sangue. Níveis de T4 de 4mg ou abaixo disto, é considerado hipotireoidismo BICHENEL (1973). O aumento de massa na prega vocal, causado pelo mixedema, torna a voz mais grave, impedindo o alcance de notas agudas, sendo que o efeito “damping”, causado pelo edema dos tecidos do trato vocal, também causam a diminuição do “pitch”. Manifestações em outros setores do trato vocal podem causar distúrbios ressonantais. PERELLÓ (1973) refere que o início da voz mixematosa contribui para a infiltração dos ressonadores moles (macroglossia, hipertrofia de amígdala lingual, infiltração laríngea) e dos ressonadores duros (fossas nasais, seios e cavun), que pelo espessamento de suas mucosas amortecem a voz e apagam seu timbre. Esta infiltração mixematosa causa o efeito “damping”. GUPTA e col. (1977) descrevem manifestações laríngeas, faríngeas e nasais, produzindo um bloqueio nasal crônico, gotejamento pós-nasal, repetidos calafrios e uma sensação de secura/corpo estranho na garganta e voz fraca. As manifestações nasais e faríngeas são produzidas principalmente pelo efeito do hipotireoidismo na mucosa destas regiões. Hipertrofia das glândulas submucosas e o aumento destas são devidas ao resultado da infiltração, pelo tecido mixematoso. FREDERICO e col. (1994) concordam que é muito frequente manifestações nasais no hipotireoidismo, e se já existe a presença de constipação, esta pode se agravar. BARTON ( 1951) refere a possibilidade de sintomas laríngeos e faríngeos, como sensação de inchaço na garganta. GUPTA e col. (1977) concordam, e afirmam que o hipotireoidismo torna-se suspeito em pacientes com resfriados frequentes comuns, nariz obstruído, desconforto ou inchaço na garganta e mudança na voz. A maioria das pessoas com hipotireoidismo lembram a mudança na sua voz, sendo que esta voz mixematosa pode ser um sintoma frequente. Setenta e três em cada 100 casos há sintoma vocal, segundo PERELLÓ (1973). MALINSKI e col. (1977) concordam com PERELLÓ (1973), em estudo clínico dos diferentes parâmetros acústicos da voz e da articulação perceberam mudanças na voz. Foi encontrado timbre alterado, encoberto, rouco e as vezes com escape de ar entre as pregas vocais, a voz às vezes era cochichada. Provavelmente devido ao grande mixedema. Mixedema de grandes dimensões ou extrema fadiga e apatia podem ser responsáveis pela voz sussurrada, apresentada por alguns pacientes. O quadro descrito pelos autores no mixedema, estaria causando uma hipotonia generalizada no paciente, sendo que esta hipotonia afetaria também a musculatura extrínseca da laringe. O edema mixematoso não tem a presença dos sintomas bruscos, a tumefação da mucosa pode produzir crises asfictícias( PERELLÓ 1973). Quadros gripais podem exacerbar o quadro mixematoso das pregas vocais. O mixedema é mais frequente nas mulheres (PERELLÓ, 1973). Também há esta característica, nas disfonias onde há influência de fatores psíquicos, que podem estar mascarando desordens vocais de origem endócrina, disfonias na menstruação, gravidez, disfonias iatrogênicas pela ingestão de hormônios andrógenos (esteróides anabolizantes e algumas pílulas anticoncepcionais). Estas desordens vocais são encontradas predominantemente em mulheres com tendência ao abuso vocal (VON GELDERL, 1974). Um caso de hipotireoidismo foi estudado por FREDERICO e col. (1994), sendo que a irregularidade menstrual era uma das queixas da paciente. Edema de pregas vocais pode ser encontrado também em outras situações, por isto é imprescindível a anamnese detalhada. É importante fazer um diagnóstico precoce, porque quanto mais tardio o tratamento, mais se acelera o deterioramento intelectual. Com o tratamento se observa a melhora da voz antes mesmo da normalização do metabolismo basal e da infiltração cutânea. Ao suspender a medicação, o mixedema laríngeo pode recidivar. Com o tratamento para a deficiência tireoídea, há aumento no ganho de notas agudas, na clareza e projeção vocal (BRODNITZ, 1971). PERELLÓ (1973) faz referência há necessidade da terapia fonoaudiológica devido aos efeitos que o mixedema tem sobre a linguagem, por meio de seu nível mental. Graus avançados de mixedema podem resultar em um tecido polipóide na prega vocal, necessitando realizar a remoção mecânica deste tecido mixematoso, além da reversão do hipotireoidismo (HILGER1956). MARAGOS (1984) concorda que se a voz não se tornar normal com o controle do hormônio da tireóide, considerações devem ser feitas para a remoção do excesso na prega vocal, para a melhora do esforço vocal. O laringologista deve estar atento para os sintomas laríngeos e faríngeos isolados, podendo ser estes indicativos de hipotireoidismo. Ao ser observado, durante exame otorrinolaringológico, edema nas pregas vocais e em outros setores do trato vocal servem como dado complementar. BRODNITZ (1971) concorda que os médicos deveriam estar alertas para a possível etiologia da desordem vocal. A extrema complexidade e independência do sistema glandular pode produzir uma grande variedade de alterações no balanço hormonal com efeito na voz. O diagnóstico do hipotireoidismo torna-se difícel nos estágios iniciais e sub-clínicos e não mixematosos da doença, devendo os pacientes ser questionados sobre a presença dos sintomas do hipotireoidismo. FREDERICO e col. (1994) concordam que o diagnóstico do hipotireoidismo pode passar desapercebido na ausência dos sintomas clássicos da doença. Em um caso estudado por estes autores, o hipotireoidismo só foi diagnosticado após exames de cintilografia e da presença de anticorpos antitireoglobulina e antimicrobiali. CONCLUSÃO Este trabalho procurou elucidar a correlação entre os distúrbios vocais e o hipotireoidismo. Diante do levantamento da literatura analisada, percebemos a concordância entre os autores, com relação ao distúrbio vocal como sintoma presente no hipotireoidismo, sendo que esta manifestação ocorre antes mesmo da infiltração cutânea e do retardo do metabolismo basal ser evidente. Podemos concluir que alterações vocais descritas pelos autores como: voz rouca, grave, com fraca intensidade, diminuição do “pitch” e da clareza da voz, fadiga, voz encoberta, redução da velocidade da fala, hiponasalidade, fala lenta, inexpressiva e com falta de modulação, são justificados pelo: espessamento da mucosa do trato vocal, causada pela infiltração mixematosa, amortecendo a voz e apagando seu timbre, ocorrendo o efeito “damping”; hipotonia generalizada, que afeta também a musculatura extrínseca da laringe, tornando-a hipotônica e débil; infiltração mixematosa na musculatura intrínseca da laringe, epiglote, zona aritnoídea , bandas ventriculares e na submucosa da prega vocal,; paralisia de prega vocal causada pelo estiramento do nervo laríngeo recurrente em função do aumento da glândula tireóide; espaço aéreo diminuído pelo intenso edema. É extremamente importante a realização detalhada da anamnese, e a atenção do fonoaudiólogo em realizar possíveis associações entre obesidade, disfunção da glândula tireóide e edema de pregas vocais, já que o hipotireoidismo inicial pode ser subjulgado nos exames clínicos gerais, além disso, edema vocal pode ser encontrado em outras situações como no edema de Reinke, desta forma a anamnese e o exame otorrinolaringológico são imprescindíveis no diagnóstico diferencial. É fundamental que o fonoaudiólogo conheça o mecanismo de ação envolvido no hipotireoidismo, ficando atento aos quadros edematosos de pregas vocais, que talvez não sejam causados pela hiperfunção vocal, e sim pelo hipotireoidismo, não sendo necessária a fonoterapia e sim o tratamento médico. RESUMO O hipotireoidismo congênito é chamado de cretinismo em crianças. O tratamento quando não iniciado antes dos 3 meses de idade, causa graves problemas como retardo mental, laringe mal desenvolvida, ausência de muda vocal, surdez, entre outros. O mixedema é devido a extirpação da glândula tireóide ou a sua deficiência, em indivíduos adultos, sendo que os sintomas clássicos causados no organismo, entre outros, são as desordens vocais. Entre as desordens vocais, podemos citar por exemplo, voz rouca, grave, diminuição da clareza da voz e da projeção, baixa intensidade, diminuição do “pitch” e fadiga. A reversão do quadro clínico, se faz pelo tratamento da deficiência tireoídea, ou em casos avançados, onde a melhora da voz não ocorre, se faz necessária a remoção mecânica do tecido mixematoso. SUMMARY Congenital hypothyroidism is called critinism when it affects children. When treatment is not begun before the child is three months old, this condition causes serious problems, such as: mental retardaction, abnormal development of the larynx, absence of vocal chance, deafness, etc. Myxedema is caused by the extirpation of the thyroid gland or by its deficiency in adults; the classical symptoms are vocal disorders among others. Besides vocal disorders there is rough hoarse voice, the clearness of the voice and vocal projection are diminished, low intensity of the voice, diminution of the pitch and fadigue. The reversion of the situation is accomplished by the treatment of the improvement of the voice mechanically remove the myxematous tissue. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BARTON,R.T. - Pharyngeal and laryngeal symptoms of thyroid origin. New England J. of Med. 244 , 398. 1951 BICKNELL,P. - J Mild hypothyroidism and its effect on the larynx. Laryngol Otol . 87 - 123 - 7. 1973 BRODNITZ,F. Hoarsiniss and the human voice. 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