Artigo publicado na edição 05 Assine a revista através do nosso site julho/agosto de 2008 www.revistamundologistica.com.br a : : Artigos O Efeito Chicote na Cadeia de Abastecimentos O que é o Efeito Chicote e como reduzir seus efeitos sobre sua cadeia de suprimentos Atender a todos os pedidos no prazo e correr o risco de ter muitos produtos em estoque? Ou manter um baixo nível de estoque e correr o risco de perder vendas? Essas decisões, se considerada a empresa isoladamente, pode influenciar o surgimento do Efeito Chicote. O que ele é e quais os impactos que ele gera nas empresas é o que buscam responder os pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina. Leandro Callegari Coelho ([email protected]): é formado em Engenharia de Produção Elétrica, possui especialização em Administração e cursa mestrado em Engenharia de Produção na área de Logística e Transportes, ambos pela UFSC. Atua na área de Estratégia Logística e estatística aplicada, especialmente modelos de previsão, controle estatístico e redução de estoques. Neimar Follmann ([email protected]): é formado em Administração e possui especialização em Métodos de Melhoria da Produtividade pela UTFPR. Possui experiência na gestão de frota em empresas de transporte de cargas e logística industrial, no ramo moveleiro. Cursa mestrado em Engenharia de Produção na UFSC, com concentração em Logística e Transporte, onde pesquisa a aplicação da Teoria das Restrições na gestão de empresas de transporte de cargas fracionadas. desempenho logístico tem, atualmente, forte influência sobre o desempenho financeiro de empresas industriais e comerciais. Com o seu desenvolvimento, em conjunto com o advento da Tecnologia da Informação – TI, dentre outros fatores, surge a possibilidade de uma cadeia de suprimentos gerenciada ou, como é chamada no contexto atual, Supply Chain Management – SCM. Uma das dificuldades enfrentadas pelas empresas é conseguir alinhar a oferta à demanda. Isso decorre de uma expectativa de demanda ou oferta que não se realiza, por diversos motivos, entre eles, a incapacidade de prever a demanda dos clientes. Esta incapacidade se propaga por todas as empresas da cadeia, influenciando os níveis de estoques, os tama- 20 www.revistamundologistica.com.br Carlos Manuel Taboada Rodríguez ([email protected]): ) é engenheiro Industrial pela Universidad de La Habana, Cuba, doutor Ökonomikae, pela Techsnische Universität Dresden, Alemanha, pósdoutorado em Logística, pela Universidad Politécnica de Madrid, Espanha. É professor na área de Logística e Transportes do Departamento de Engenharia de Produção e Sistemas da UFSC, lecionando nos cursos de mestrado e doutorado várias disciplinas de Logística. Acumula 36 anos de experiência no Ensino Superior. nhos dos pedidos e a produtividade. Este fenômeno é comum a todos os elementos de uma cadeia e é chamado de Efeito Chicote, e já vem, há algum tempo, sendo estudado por autores como Forrester (1958), Hau Lee (1997) e Svensson (2005). Para que seja possível alcançar alta eficiência na cadeia de suprimentos é necessário que sejam identificadas as forças e Artigo • O Efeito Chicote na Cadeia de Abastecimentos fatores que modelam o comportamento das empresas e suas interações com os Informações desencontradas participantes de sua cadeia. Uma vez que a falta de harmonia na cadeia é um dos sobre a real demanda impactam responsáveis pelo surgimento do efeito chicote, é necessário desenvolver ações negativamente nos níveis de estoques que reduzam ou eliminem seus reflexos. – e assim o fluxo de caixa e o nível Neste texto, pretende-se explicar o efeito chicote: suas causas, as formas de atendimento ao consumidor. como ele se apresenta e os meios para combatê-lo. Imagine uma indústria que Este efeito é ampliado para os recebe encomendas de um distribuidor, que por sua vez faz suas vendas a um vafornecedores, criando o indesejado rejista. O varejista acompanha a demanda do consumidor e faz seus pedidos ao efeito chicote distribuidor, incluindo uma margem de segurança. Já o distribuidor, com a mesma preocupação de se proteger contra possíveis faltas, faz um pedido à indústria para atender o varejista e mais certa quantidade para sua própria segurança. A indústria, O efeito chicote é resultado da discrepor sua vez, precisa atender a este volume de pedidos, que inclui além da demanda real, as pância entre a demanda real e a prevista duas quantidades de segurança de cada um dos elos subseqüentes. O que aconteceria se unida à intenção das empresas alinharem os consumidores comprassem menos do que o varejista previu? sua oferta a essa demanda, sem deixar de Como essa demanda prevista muitas vezes não se concretiza, tanto por estar acima ou atendê-la. Desta forma, as empresas, por abaixo do previsto, as empresas acabam com um volume inadequado de produtos em es- não possuírem a informação correta de toque, o que as leva, por exemplo, a reduzirem suas compras, como forma de proteger seu seus clientes, buscam se proteger e gafluxo de caixa. Essas situações criam aos fornecedores uma falsa impressão de demanda rantir o nível de atendimento por meio do real. Independentemente da situação, esse reflexo vai sendo passado de cliente para for- aumento do nível de estoques para uma necedor, até o final da cadeia, estabelecendo o efeito chicote. Este reflexo será tanto maior possível variação nesta demanda. quanto mais distante do consumidor final estiver o elo da cadeia de suprimentos Em recente pesquisa realizada por Para demonstrar esse contexto será, inicialmente, apresentado um cenário possível em Hau Lee, juntamente com executivos da que os componentes de uma cadeia procuram alinhar sua oferta à demanda. Identificada Procter & Gamble, mostrou-se que em a influência do efeito chicote, este poderá ser reduzido e as funções de produção, compras um produto com pequena variação de e estoques das empresas serão beneficiadas com mais estabilidade, previsibilidade e liberavendas no varejo ocorria uma grande vação de capital. riação nos pedidos feitos aos fornecedores. Essa variação podia ser causada por Conhecendo o Efeito Chicote vários fatores, mas logo constataram que Inicialmente considerado um mal necessário, ainda é difícil saber se o conceito de SCM não era devido à variação de consumo no tem como um de seus objetivos combater esse fenômeno ou se foi por meio do SCM que mercado. Outras pesquisas indicam que a ele foi identificado e que suas causas começaram a ser estudadas, há 50 anos por Forrester variabilidade no nível de estoques tende (daí o efeito chicote também ser chamado de Efeito Forrester). O que é importante é o fato a ser maior ao se afastar do ponto de conde que esse efeito causa prejuízos às empresas, uma vez que ocorre sobre a expectativa de sumo, tendo como causas o compartilhamento de informações deficientes, dados demanda, o que influencia toda a estrutura das empresas de uma cadeia. Mês Fornecedor Montadora Distribuidor Produção E.inicial E.Final Produção E.inicial E.Final Compra 1 100 100 2 20 100 3 4 5 6 7 8 196 60 0 128 62 62 236 62 149 0 149 46 134 46 101 115 18 108 207 63 9 10 Fonte: adaptado de Slack et al 1999. 100 100 100 60 60 100 128 128 80 100 Varejista E.inicial E.Final Compra Mercado E.inicial E.Final Demanda 100 100 100 100 100 100 100 80 80 100 90 90 100 95 95 104 104 90 97 97 95 96 96 97 90 90 96 93 93 104 83 83 149 83 116 116 90 103 103 93 98 98 46 116 81 81 103 92 92 98 95 95 115 115 81 98 98 92 95 95 95 95 95 108 108 98 103 103 95 99 99 95 97 97 63 63 103 83 83 99 91 91 97 94 94 135 135 83 109 109 91 100 100 94 97 97 Tabela 1. Ilustração do efeito chicote numa rede de suprimentos fictícia. Ano 1 • edição 5 21 Artigo publicado na edição 05 Assine a revista através do nosso site julho/agosto de 2008 www.revistamundologistica.com.br Artigo • O Efeito Chicote na Cadeia de Abastecimentos em relação ao efeito chide mercado escassos, o que gera previsões incorretas. Quanto mais cote. Como forma de representar o efeito chicote, foi desenvolvida a fatores influenciarem a O desequilíbrio entabela 1, que está dividida em dez períodos. Em cada período, dada demanda, mais difícil tre os níveis de estoques a demanda do mercado, o varejista, com sua política de equilibrar será prevê-la. das empresas da cadeia seu estoque com a demanda, compra o número de unidades que de suprimentos pode completam a demanda atual. E assim o distribuidor, a montadora e o fornecedor fazem o mesmo, ou seja, todos mantêm em estoque uma quantidade igual ser causado pelo método de agregação de à demanda atual, imaginando ser esta a segurança necessária para o próximo período. valor nos diferentes elos. Cabe aqui ressaltar que todos os processos de uma empresa Leva-se em consideração, ainda, que a compra feita é recebida no mesmo período. A proposta desta representação é mostrar que uma pequena variação de demanda do têm a função de agregar o maior valor ao mercado pode causar uma grande variação no fornecedor inicial. A idéia representada é produto, aos olhos do cliente; aqueles ponque o fornecedor tentará equilibrar o estoque final com a demanda do período, pois ele tos que não fazem parte do core business, está no meio da cadeia e não possui a informação do mercado final, funcionando, assim, que não consigam atender à necessidade como uma espécie de previsão. Logicamente, nas organizações, existem mais fatores que de agregar valor e ser reconhecido por isso atuam como restrições, que é o caso da capacidade de produção, que neste modelo foi con- estão, na maioria das vezes, numa marcha siderada ilimitada ou suficiente para atender à demanda imediatamente, sem lead times. muito forte de terceirização (vide exemplo Ainda, na grande maioria das empresas, existe a sazonalidade nas vendas, que este modelo das antigas fábricas de automóveis, que denão contemplou, tendo sido verificada uma variação máxima no consumo de 7% nos 10 tinham produção de quase todas as peças, períodos apresentados. Esta variação é fruto da simulação realizada, e pode ser considerada e hoje grande parte delas apenas monta pequena frente a todas as variáveis a que uma cadeia de suprimentos está sujeita. Destaca- peças que são produzidas externamente). De fato, uma forma de se agregar valor se ainda que quanto maior a variação no ponto de consumo, aqui representada por apenas ao produto é manter a sua disponibilidade. 7%, mais será sentido o efeito ao longo da cadeia, até chegar ao fornecedor. A figura 1 é resultado dessa variação na demanda. Por exemplo, se for observada a co- Por exemplo, a manutenção de produtos luna referente à demanda do mercado, na tabela 1, é possível perceber que ela varia muito em estoque ou nas prateleiras de um superpouco, o que pode ser visualizado no gráfico. Porém, conforme os pedidos foram sendo mercado, como forma de garantir ao cliente efetuados entre as empresas, distanciando-se do ponto de consumo, a variação foi aumen- que ele sempre encontre os produtos desejados, quando ele os quiser, é uma forma de tando, o que representa o efeito chicote. agregar valor por meio da disponibilidade. 250 Porém, isso tem um custo, que pode repre200 Fornecedor sentar até 40% do preço do produto. É um Montadora 150 montante extremamente alto e que pode Distribuidor 100 ser revertido em lucros para as empresas. Varejista Os custos de estocagem ocasionados 50 Mercado pelo efeito, em determinados períodos, e 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 a falta de estoques para atender à deman-50 da, em outros, são distribuídos por toda a Figura 1. Ilustração gráfica do efeito chicote numa cadeia de abastecimentos fictícia. cadeia, podendo até tornar um produto Fonte: adaptado de Slack (1999). O que foi observado em outras situações semelhantes a esta é o fato de que se acres- não-competitivo. A visão de conjunto, de centadas mais variáveis, como as citadas anteriormente, o efeito continua, porém os pontos compartilhamento de informações inerende pico e declive se deslocam de suas posições. Isso pode, por exemplo, gerar momentos te ao conceito da SCM é oportuna para a eliem que a demanda está em alta, mas a produção em baixa. Acrescentando-se essas outras minação do efeito chicote, o que será visto restrições, a variação e a incerteza aumentariam. Isso provavelmente causaria maiores im- no próximo item. pactos na cadeia. Como resultado, quanto mais fatores influenciarem a demanda, mais difícil será prevê-la. De maneira geral, as empresas mantêm estoques por diversos motivos. Por exemplo, existem estoques em trânsito para produtos sendo transportados; estoques em processo para aqueles lotes ainda não finalizados; estoques sazonais para cobrir períodos com maior demanda já conhecida historicamente; e estoque de segurança para incertezas quanto a entregas e variações na demanda. É em função deste último tipo de estoques, especialmente sobre as incertezas causadas por variações na demanda, que se propõe agir 22 www.revistamundologistica.com.br As causas e propostas de solução Visto o alto custo incorrido para as empresas devido aos estoques, e sendo o efeito chicote um dos propulsores da variação dos mesmos, busca-se identificar as causas Artigo • O Efeito Chicote na Cadeia de Abastecimentos deste efeito. Pesquisas realizadas por Hau Lee em 2004 encontraram quatro causas principais para o efeito chicote, como segue: • processamento da previsão de demanda; • jogo da escassez ou racionamento; • acúmulo de pedidos; • flutuações de preços. Cada um desses fatores tem o poder de causar o efeito chicote. Porém, podem atuar em efeito combinado, o que é muito provável, como será explicado a seguir. Processamento da previsão de demanda A previsão da demanda é um fator fundamental para definição da estratégia de estocagem e de produção, esta mais importante para empresas industriais e aquela para empresas de distribuição e comerciais. Assim, quanto mais precisos forem os dados menores serão as possibilidades de erro na previsão e maiores as possibilidades de um bom desempenho financeiro. É importante ressaltar que a precisão dos dados não elimina totalmente a possibilidade de erros na previsão, dependendo também do tratamento dos mesmos. Normalmente, a coleta de dados pode acontecer de várias maneiras. Uma delas é trabalhar com base na demanda passada. Outra pode ser por meio da tentativa de captar os sinais de demanda vindos do mercado. Porém, o risco de utilizar qualquer um dos dois meios é muito grande, e é uma das causas fundamentais do desenvolvimento do efeito chicote na cadeia. A única forma de conseguir precisão nesses dados é conseguindo-os do ponto de consumo, ou que a previsão do cliente seja com base nestes dados. No entanto, para que isso seja possível, é necessá- rio que exista um nível de informação e colaboração muito grande, além da confiança necessária entre os participantes da cadeia. Percebe-se que existem, aqui, aspectos ligados ao conceito de SCM. Porém, o simples fato de compartilhar a informação de demanda não é suficiente, pois cada componente da cadeia pode ter diferentes métodos de previsão. Essa diferença pode ser devido às estratégias da empresa e às técnicas de previsão, por exemplo. É necessário, então, que: ou todos pratiquem o mesmo modelo, ou que uma única empresa faça a previsão para todas as outras. Aqui há a necessidade de uso de potentes softwares de gestão e compartilhamento de dados. Lead time longos contribuem para que ocorra o efeito chicote. É necessário, então, que esses ciclos de pedidos sejam reduzidos, de forma que o cliente possa se sentir mais seguro em relação à programação efetuada, evitando a sensação de falta de proteção quanto aos estoques. Artigo • O Efeito Chicote na Cadeia de Abastecimentos O jogo da escassez ou racionamento Se um varejista considerar a possibilidade de que irá acontecer uma escassez nos produtos de determinada empresa, é muito provável que ele irá aumentar o tamanho de seus pedidos, como forma de garantir para si uma boa parcela da produção do fabricante. Isso fará com que o fabricante necessite tomar cuidado no momento de fazer a alocação de sua produção. Seja por necessidade ou por estratégia, o racionamento de produtos para o mercado influencia no hábito de como as empresas efetuam o pedido. Ou seja, se for percebida uma demanda superior a oferta é bem provável que as empresas irão se prevenir, fazendo pedidos maiores. Porém, esses pedidos serão atendidos e elevarão os estoques dos clientes, que por sua vez não farão novos pedidos. Dessa forma, a indústria, que desta vez estará prevenida, ficará com seus estoques acima do estabelecido. É importante, portanto, que o fabricante se previna desse jogo, sendo necessário alertar os clientes de uma ilusória falta de produtos. Para isso, sugere-se que a informação sobre os níveis de produção e estocagem sejam compartilhados. Da mesma forma que os clientes compartilhem a previsão sobre a demanda. Apesar de que isso não irá resolver o problema como um todo, pois em muitos casos os produtos são realmente escassos. Para este último caso, é possível utilizar contratos que garantam a entrega da produção. Considerando-se a possibilidade de mudança nos tamanhos dos pedidos, apenas em um determinado volume. O tamanho do pedido A política de preços utilizada por uma empresa influencia muito na forma como os clientes se comportam com relação aos pedidos. O tamanho do pedido é influenciado por dois fatores: o processo de revisão periódica e o custo de processamento de um pedido. O processo de revisão periódica pode ser melhorado com o acesso aos dados do ponto-de-venda. Uma vez que devido à falta de certeza do que ocorre no final da cadeia, o fabricante muitas vezes acaba por revisar o tamanho do lote a ser produzido ou os produtos nele contidos. Esse compartilhamento pode determinar uma agenda de produção coerente com as necessidades do mercado. Já o custo de processamento de um pedido influencia os clientes a tentarem reduzir ao máximo o número de compras, o que traz bastante variação ao nível de produção. Isso é resultado da tentativa de diminuir os esforços com tratamento da informação e levantamento de dados. Ao reduzir o número de pedidos e conseqüentemente o custo de processamento e de transporte, devido a um número menor de viagens, consegue-se a economia de escala. O que pode ser feito neste caso é o uso de transportadoras de cargas fracionadas ou operadores logísticos que, por serem especializados no serviço de distribuição, podem trabalhar com custos menores. Dessa forma, o cliente não seria obrigado a comprar grandes lotes para ratear os custos de transporte. Quanto ao desconto sobre vendas, ele pode ser oferecido com base no histórico de compras, facilmente apurado com os softwares atualmente utilizados. Assim, o cliente pode continuar tendo direito aos mesmos descontos, com um custo de transporte também idêntico, mas com um nível de serviço superior. Os reflexos serão lotes menores, com o lote de produção sofrendo menos variações e a empresa se tornando mais sensível às informações recebidas dos clientes. Isso porque os lotes serão mais constantes, ao contrário do que eram antes. Flutuações de preços A política de preços utilizada por uma empresa influencia muito na forma como os clientes se comportam com relação aos pedidos. Se, por exemplo, existirem épocas em que 24 www.revistamundologistica.com.br ocorrem promoções, é possível que muitos pedidos sejam realizados neste período. O que faz com que os estoques esvaziem e a produção fique com uma programação superior a sua capacidade, causando maiores custos de produção. Neste caso, tem-se, além da redução da margem devido aos descontos, um aumento de custos para atender a toda demanda. Uma solução seria o uso de uma política de preços com menos variações, na qual se beneficie o cliente que mantiver uma freqüência de compras, em vez do uso de promoções. Isso seria possível se a empresa fizesse um preço especial para o cliente, baseado no seu potencial de compra e não no seu volume. Isso se reflete na política de produção e exige sinergia entre as equipes de venda com a industrial ou de operações. Análise e soluções A tabela 2 apresenta um resumo das quatro forças que causam o efeito chicote e a forma de agir sobre elas. A solução para o efeito chicote pode estar baseada em duas ações: compartilhar a informação e alinhar as estratégias. Estão disponíveis no mercado diversos sistemas capazes de gerenciar os dados disponíveis e convertê-los em informações úteis para todos os componentes da cadeia de suprimentos, com segurança e agilidade. Com comunicação padronizada e sistemas de previsão eficiente compartilhado, garantese que todos na cadeia “falem a mesma língua”. Quanto à estratégia, é necessário que as empresas pensem na cadeia como um todo, e para isso é preciso que os objetivos sejam comuns para todos. Este objetivo comum é obter lucro, sendo que para isso é necessário que os elos da cadeia estejam cientes do seu papel e sua contribuição. De uma forma geral, muito já foi estudado sobre o assunto. A seguir, apresenta-se um resumo, conforme tabela 3, com a solução sugerida por três autores, entre eles, Forrester e Lee, citados ao longo deste trabalho. Artigo • O Efeito Chicote na Cadeia de Abastecimentos Dias (2003) propõe três ações para a eliminavalor do cliente, faz-se neA solução para o efeito chicote ção das causas do efeito chicote já identificadas. cessário, uma vez que ele passa pelo compartilhamento As três ações estão baseadas na melhoria do possibilitará o uso da próde informações e alinhamento processo logístico, compartilhamento de inforpria TI, anteriormente code estratégias: comunicação mações e redução do efeito de políticas comermentada. Esta atitude só se padronizada, objetivos comuns ciais. Pode-se considerar que essas ações são torna viável se a governança e cooperação na cadeia de também necessárias para o bom funcionamenda cadeia de abastecimento suprimentos podem trazer to de uma SCM. A cooperação e a coordenação se mostrar forte o suficiente resultados surpreendentes. entre as operações das empresas são necessápara alinhar as percepções rias para evitar ou minimizar a variabilidade do de todos os seus atores para nível de estoque nas cadeias de suprimentos. Essa afirmação é muito real quando analio mesmo objetivo. Por exemplo, se uma sadas empresas montadoras de carros, por exemplo. Elas e seus parceiros trabalham num empresa possuir uma visão voltada para a modelo Supply Chain Management, o que contribui efetivamente para a redução dos diferenciação e um de seus fornecedores níveis de estoques e a sua variabilidade, tornando o sistema mais ágil e flexível. tiver uma visão muito voltada para cusAgindo sobre os quatro fatores descritos neste texto, identificados como vilões cautos, provavelmente haverá conflitos, pois sadores do efeito chicote, é possível conseguir resultados promissores. A solução passa o desejo de reduzir custos de um não é por apenas duas ações: uso de TI e alinhamento estratégico. compatível com a necessidade de oferecer produtos diferenciados do outro. É, portanCausas Fatores que contribuem Medidas de contenção to, visível que o problema do efeito chicote - Falta de visibilidade da - Compartilhar acesso às Processamento não será sanado com uma única ação. O demanda final. informações sobre demanda. da previsão de - Múltiplas previsões. - Planejamento único. desenvolvimento de competências por todemanda - Ciclos de pedidos longos. - Redução do tempo de ciclo. dos os elos da cadeia é que irá desencadear - Dividir a produção com base no o sucesso sinérgico. É necessário que todos - Forma de racionamento histórico de vendas. proporcional. - Compartilhamento de estejam comprometidos em compartilhar - Ignorar as condições de informações sobre capacidade e informações, dispostos a gerenciar e seO jogo da escassez suprimento. suprimentos. - Pedidos irrestritos sem - Limitar a flexibilidade a partir de rem gerenciados, dentro do conceito de restrições de devolução. um determinado prazo, e reservar capacidade. SCM. Percebe-se que as ações ligadas com - Alto custo de pedido. - Uso adequado de TI. a gestão da cadeia de abastecimento têm O tamanho do - Economia de escala (cargas - Negociação de descontos para pedido servido como antídoto para muitos parafechadas). cargas fracionadas. - Alta e baixa de preços. digmas existentes na empresa. Neste caso Flutuações de - Preço baixo todo dia. - Distribuição e compras nãopreços - Contratos de fornecimento. específico, foi tratado sobre o efeito chicosincronizadas. te, identificadas suas causas e propostas Fonte: adaptado de Lee et al (2004). as possíveis soluções, pôde ser visto que a Tabela 2. As causas e as medidas de contenção para o efeito chicote. integração entre empresas fornecedoras e clientes até os extremos da cadeia pode ser Forrester (1958) Lee et al. (1997) Simchi-Levi et al. (2000) útil e necessário. - Formação de lotes - Agilização do Evolução do pensamento logístico Compartilhamento de informações Redução do efeito de políticas comerciais processamento de (para compra e compra e venda produção) - Melhoria na qualidade dos dados - Ajuste dos estoques (sem consideração) - Redução de lead times : : Referências - Formação de parcerias - Identificação dos padrões de demanda estratégicas • - Redução da incerteza - Variações de preço - Redução da - Racionamento variabilidade • Fonte: adaptado de Dias (2003). • Tabela 3. Indicações para redução do efeito chicote. • Considerações finais O uso da TI utilizada como ferramenta de troca de dados pode reduzir o impacto do efeito chicote. É necessário, porém, que esta ferramenta venha alinhada com as estratégias das empresas e de toda cadeia. O alinhamento das estratégias, com base na percepção de • • BALLOU, R. Business Logistics Management: planning, organizing, and controlling the supply chain. 4ª ed. Londes: Prentice Hall, 1998. DIAS, G. P. P. Gestão dos estoques numa cadeia de distribuição com sistema de reposição automática e ambiente colaborativo. Escola Politécnica da USP. Dissertação de Mestrado, 2003. FORRESTER, J. Industrial Dynamics. Harvard Business Review. Boston, nº. 36, Julho – Agosto 1958. LEE, H. L.; PADMANABHAN, V.; WHANG, S. Information Distortion in a Supply Chain: The Bullwhip Effect. Management Science, Vol. 50, nº. 12, Dezembro 2004. SLACK, N., CHAMBER, S.; HARDLAND, C.; HARRISON, A. JOHNSTON, R. Administração da Produção. São Paulo: Atlas, 1999. SVENSSON, G. The multiple facets of the bullwhip effect: refined and re-defined. International Journal of Physical Distribution & Logistics Management. Nº. 35, Setembro/Outubro 2005. Ano 1 • edição 5 25