47 Biogeociclos: Uma visão molecular das enzimas e dos mecanismos envolvidos nos ciclos dos elementos - Parte II CARLA CA RNEIRO Parte 2: Biogeociclo do Enxofre Título corrente: Biogeociclos dos ele- resultam, muitas delas, da análise estru- vel e não reactivo, pelo que tem que ser activado antes de ser novamente utiliza- O artigo é dividido em 3 partes: Palavras chave: Ciclos dos elementos, 1 - Biogeociclo do AZOTO Nota prévia E JOSÉ J. G. MOUR A tural. mentos Azoto, Enxofre, Carbono, Hidrogénio 1 do, via adenilação, num processo que requer ATP. O passo de activação envolve a transferência da porção adenosina 5-fosforilo da molécula de ATP para o 2- Biogeociclo do ENXOFRE sulfato, formando um intermediário acti- 3- Biogeociclo do CARBONO e HIDRO- vado, a adenosina 5'-fosfosulfato (APS), GÉNIO de acordo com a equação: A circulação dos elementos químicos no planeta é um processo complexo com muitas e variadas vertentes. Os vários ciclos elementares são muito mais do que simples reacções químicas. São em pa rt e biológicos e em parte geoquími- MgATP + SO 4 2 MgPP, + APS 2. 0 Ciclo do enxofre 2.1. Introdução Na natureza, os compostos de azoto e Na maioria dos organismos o intermediário APS é conve rt ido no intermediário adenosina 3'-fosfato 5'-fosfosulfato de enxofre são continuamente sintetiza- (PAPS), de acordo com a seguinte equa- cos, pois envolvem a participação de dos, degradados e conve rt idos noutras ção: microrganismos e estão associados a formas. O metabolismo destes compos- grupos de elementos metálicos. Uma tos tem muito em comum, pois ambos variedade de enzimas e múltiplos trans- os elementos podem ser utilizados pelos portadores electrónicos (que com estas microrganismos em vários estados de 1), são compostos com elevado poten- interactuam) asseguram a catálise, valência, desde estados mais reduzidos cial de transferência do grupo sulfato, MgATP + APS -sMgADP + PAPS Ambas as formas, APS e PAPS (figura passo a passo, por formação de inter- (amónia/sulfureto de hidrogénio) a esta- devido à ligação anidrido mista ácido mediários chave. dos mais oxidados (nitrato/sulfato). As fosfórico-ácido sulfúrico, e disponibili- formas reduzidas (NH 3 e NO 2 ] H 2 S e S) zam assim o sulfato para posteriores podem ser utilizadas como doadores reacções de transferência e redução. electrónicos na formação aeróbica de importância da PAPS, como doador de energia e na fixação de dióxido de car- grupos sulfidrilo na biossíntese de éste- Conforme se indicou na Pa rt e I desta série de artigos, é objectivo rever aspectos estruturais dos enzimas envolvidos nos ciclos dos elementos. Os ci- A bono no escuro. As formas oxidadas res sulfurados, é análoga ao da ATP (NO 3 , NO 2 - /SO 4 2- , S0 3 2 ) servem como (doador de grupos fosfato) na biossínte- aceitadores electrónicos na respiração se de ésteres fosfatados (Moura et al., anaeróbia (Schlegel, 1981). 2002). da estrutura tridimensional do biocatali- O sulfato, resultante da oxidação de S 2- , O ciclo do enxofre (figura 2) evidencia a sador envolvido. Mais ainda, são apre- S ou S 2 0 32 , é facilmente assimilável pela interconversão do enxofre inorgânico sentadas hipóteses mecanísticas que maioria dos organismos, contudo é está- nos vários estados de oxidação. A redu- clos não são apresentados de modo exaustivo, mas procura-se pôr em evidência as partes dos ciclos para os quais há um conhecimento detalhado REQUIMTE, Depa rtamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, 2829-516 Monte de Caparica, Portugal Morada: Professor José J. G. Moura, Departamento de Química, Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa, Quinta da Torre, 2829 - 516 Monte de Caparica, Po rt ugal. Tel: +351-21-2948382, Fax: +351-21-2948550, e-mail: jose.moura©dq.fct.unl.pt , www.dq.fct.unl.pt/bioin/ 1 Morada presente: Depa rt amento de Sistemas e Informática, Escola Superior de Tecnologia, Instututo Politécnico de Setúbal, Rua Vale de Cha- ves, Estefanilha, 2910-761 Setúbal 48 I QUÍMICA sultantes da decomposição anaeróbica NH 2 o O N N da matéria orgânica, são libertados O CHfo-P- O-S-OH OH O como sulfito. O sulfito formado pode então ser oxidado a sulfato; dos vários HO OH organismos que efectuam esta oxidação, apenas as bactérias quimiossintéti- Nkip O O cas acoplam a energia libe rt ada à redu- C -11-04- OH O N ' figura 1 Estrutura dos intermediários formados na activação do sulfato, via adenilação, adenosina 5'-fosfosulfato (APS) e adenosina 3'-fosfato 5'-fosfosulfato (PAPS). OH O ção do dióxido de carbono (Schiff e HO O Frankhauser, 1981; Schlegel, 1981; HO -P=0 OH Lampreia etal., 1994). 2.2. Caracterização molecular de ção assimilativa do sulfato a sulfureto é seis electrões, ou, alternativamente, a essencial na síntese de aminoácidos, redução decorre em três passos, com enzimas envolvidas no ciclo do enxofre proteínas e outros compostos sulfurados formação de tritionato (S 3 0 62- ) e tiosulfa- 2.2.1. Sulfurilase da adenosina (ácido lipoíco, tiamina, biotina, coenzi- to (S 2 0 3 2- ), num processo denominado trifosfato (ATPS) (passo 1) ma A) e envolve a formação dos inter- desulfuricação (respiração anaeróbia do mediários APS (passo 1) ou PAPS (passo sulfato) (Schlegel, 1981; Lampreia et 2). A via APS é comum aos organismos al., 1994; Stroupe e Getzoff, 2001; que realizam uma fotossíntese oxigénica Moura et al., 2002). Contrariamente às (cianobactérias, algas e plantas), en- bactérias desnitrificantes, os organis- quanto a via PAPS é utilizada por orga- mos desulfuricantes, ana eróbios estri- nismos que realizam uma fotossíntese tos com um metabolismo fermentativo, anoxigénica (bactérias como Escheri- são incapazes de oxidar substratos or- A sulfurilase da adenosina trifosfato (ATPS) catalisa o primeiro passo para assimilação do sulfato, de acordo com a seguinte equação: MgATP + SO 4 2- —>MgPP ; + APS Esta família de enzimas, isolada de uma variedade de organismos e com uma chia (E.) coli e fermentos). A redução gânicos (lactato) a CO 2 e H 2 0, devido à dissimilativa é semelhante mas envolve falta dum ciclo cio ácido cítrico (CAC) apenas a formação do intermediário completo, pelo que excretam acetato APS, que é reduzido a sulfito (MacRae (Schlegel, 1981; Lampreia et al., 1994; et al., 2001, Moura et al., 2002). Stroupe e Getzoff, 2001). O sulfito pode ser directamente reduzi- Desulfuração é o processo de minerali- outras ATPS, das quais não existe refe- do a sulfureto, um processo envolvendo zação no qual os grupos mercapto, re- rência relativa à presença de metais, as distribuição ubíqua, é consideravelmente heterogénea no que diz respeito à sequência de aminoácidos, massa molecular e organização das subunidades (Gavel et al., 1998). Contrariamente a SO 4 2Redução assimilativa/ dissimilativa 1 5 Sorg < > S^^ < 4 ^ 3 > S0 3 2 < > APS 2 PAPS Desulfuração S,03 2S2062 figura 2 Ciclo biogeoquímico do enxofre. A redução assimilativa do sulfato (50 42 ) a sulfito (50 3 2 ) envolve a acção conjunta da ATPS (passo 1) e da cinase da APS (passo 2). 0 sulfito formado por catálise da APSR (passo 3) é então reduzido a sulfureto (S 2 ) por intermédio da aSIR (passo 4). A redução dissimilativa é semelhante, mas não envolve o passo 2. 0 sulfureto proveniente da hidrólise do enxofre orgânico é oxidado a sulfito e este a sulfato por intermédio da SO (passo 5). QUÍMICA N S(Cis) 2,07 (2,06)A (Cts)S ^ n / 2 31 (2 29) A , , figura 3 Estrutura proposta para o local de coordenação do cobalto e zinco para as ATPS de D. desulfuricas ATCC 27774 e de D. gigas. M representa o Co ou Zn, os comprimentos de ligação são valores médios, entre parêntesis são apresentados os valores para o Co (Adaptado de Gavel et al., 1998). S(Cis) 2,31 (2,29)A de Desulfovibrio (D.) desulfuricans ATCC considerando o modo particular como ções de cada subunidade com outras 27774 e D. gigas, isoladas e caracteriza- ligam a ATP, estas definem uma nova quatro, pa rt icularmente por interacções das recentemente, foram consideradas classe de enzimas (MacRae et al., entre o "dímero do domínio alostérico", como metaloproteínas. São homotríme- 2001; Ullrich et al., 2001). A estrutura que permitem uma transição alostérica ros contendo um centro metálico mono- recentemente publicada para o sim- concertada. Os resíduos Arg199, nuclear, de cobalto ou zinco, por subu- bionte do verme hidrotermal Riftia His203 e His206 são essenciais para a nidade, que surge alternativamente. Em pachyptila revela um dímero e não um actividade da sulfurilase (MacRae etal., 2001). ambos os centros, com uma geometria hexamero podendo reflectir a forma an- tetraédrica, o metal possui como ligan- cestral das ATPS homo-oligoméricas dos três enxofres (cisteína) e um azoto (Beynon etal., 2001). (histidina) (figura 3). A presença do metal foi sugerida como factor essencial na manutenção da conformação cataliticamente activa (Gavel et al., 1998; Gavel et al., 2000). Cada subunidade é composta por três domínios (figura 4B): o N-terminal, cuja A ATPS de P chrysogenum é um oligó- função é desconhecida, o central catalí- mero composto por seis subunidades tico e o C-terminal alostérico (local de li- idênticas de 63 kDa e pode ser conside- gação da PAPS, inibidor alostérico). O rada como um dímero de tríades (figura N-terminal é constituído por um barril 4A). Dentro de cada tríade, o domínio parcial de folha 13 rodeada de hélices a. As estruturas de Raios-X conhecidas alostérico de uma subunidade interac- O domínio central, empacotado com o para as ATPS de Penicillium (R) chryso- tua com o domínio catalítico de outra anterior, apresenta um enrolamento de genum e Saccharomyces cerevisíae são subunidade, de modo que cada subuni- "Rossmann", tipicamente observado nas idênticas e apresentam muitas seme- dade interactua com outras duas, para hidrogenases. O C-terminal está separa- lhanças com transferases de nucleotí- além de outras interacções adicionais do dos anteriores por um pequeno tre- deo (em termos de enrolamento e ar- na inte rf ace da tríade. A estabilidade do cho e apresenta uma topologia mista em quitectura do sítio activo), no entanto, hexãmero é determinada pelas interac- hélice a/folha 13, semelhante à cinase da domínio alostérico B A C-terminal , ^^ 1 n ^^ ^ ^1 ^ ; domínio N -tennina. . ^ t ^ , ^ ^I ,^^^ , N-terminal figura 4 (A) Representação esquemática do hexãmero e (B) representação esquemática do nomónero da ATPS de P. chrysogenum (Adaptado de MacRae et al., 2001). 49 50 QUÍMICA do hexâmero, favorecendo a transmissão das alterações introduzidas por ligação do substrato, essencial no funcionamento de enzimas alostéricas (MacRae etal., 2001). Recentemente, a obtenção de uma estrutura de Raios-X para a ATPS de levedura revelou que, apesar desta não figura 5 Representação esquemática dos apresentar propriedades alostéricas, as resíduos que interactuam com o substrato na ATPS de P. chrysogenum (Adaptado de MacRae et al., 2001). características multidomínio são muito semelhantes, mesmo relativamente à topologia do sítio activo e dos resíduos APS; no entanto, não apresenta activida- A existência de um fosso que liga o do- de de cinase, provavelmente pelas alte- mínio catalítico de uma tríade ao domí- rações na região do "loop P" e substitui- nio alostérico da outra tríade pode ser ção de uma leucina por um aspartato reminiscência de uma actividade bifun- (Asp61), que interactua com o complexo MgATP (MacRae etal., 2001). 2.2.2. Redutase da adenosina 5 fosfosulfato (APSR) (passo 3) dois tipos de dímeros (figura 6): o díme- lécula de APS no topo da região em ro do domínio alostérico e o dímero do folha (3 (figura 5). 0 sítio catalítico está domínio catalítico, com uma rotação de acessível apenas a partir do meio exte- cerca de 35o entre si. A interface do dí- central. O substrato é estabilizado por ligações por pontes de hidrogénio com vários resíduos da cadeia polipeptídica, et al.. 2001). sição de cada monómero de tríades na formação do hexâmero permite definir ao solvente exterior e não da cavidade pede comparações adicionais (MacRae cional como sintetase da PAPS. A dispo- 0 domínio catalítico liga uma única mo- rior, localiza-se numa cavidade contígua "activos". Porém, o desconhecimento, até ao momento, das coordenadas im- mero do domínio alostérico é estabilizada por uma ligação salina (Arg457 e "- A redutase da adenosina 5"-fosfosulfato (APSR) catalisa a reacção reversível de redução de APS a sulfito, de acordo com a seguinte equação: APS + 2e-i AMP + S032- + 2H+ G1u443) e vários resíduos hidrofóbicos. Esta enzima encontra-se largamente A transição alostérica pode ser transmi- distribuída em bactérias redutoras de tida por uma arginina (Arg515) de um sulfato e outros organismos relaciona- dos domínios alostéricos que interactua dos. Um estudo detalhado das proprie- com um aspartato (Asp111) do N-termi- dades bioquímicas e espectroscópicas ligação da porção fosfosulfato e um pa- nal adjacente. O dímero do domínio ca- de várias APSRs foi apresentado e revis- drão 203HXXH206, na ligação do nu- talítico, menos extenso, é estabilizado to por Lampreia et al., 1994). Estes es- cleosideo (porção adenilil). Uma valina por empacotamento das hélices a. tudos conduzidos por RPE em pa rt icular definindo um padrão 197QXRN200, na (Va1333) funciona como doador protóni- Deste modo, cada subunidade está em permitiram antecipar uitas das proprie- co (MacRae etal., 2001) contacto com quatro das subunidades dades estruturais posteriormente revela- figura 6 (A) Representação do dímero do domínio alostérico e (B) representação esquemática do dímero do domínio catalítico da ATPS de P. chrysogenum (Adaptado de MacRae et al., 2001). QUÍMICA I figura 7 Representação esquemática da APSR de Arch. fulgidus (Adaptado de Fritz et a1., 2002). A da super- da molécula (a cerca de 30 fície), expõe apenas o átomo de azoto nos distorcidos, estão coordenados por na interacção com o substrato) e dois N5 do anel de isoaloxazina ao solvente. quatro cisteínas e exibem potenciais centros ferro-enxofre. O anel de isoaloxazina é estabilizado por redox significativamente distintos, em vários resíduos (Asn74, Trp234, Leu7O), consequência do diferente ambiente numa conformação em borboleta, que proteico que os rodeia; o aumento con- favorece os estados reduzido e com o siderável do número de interacções po- A APSR de Archaeoglobus (Arch.) fulgi- dus (figura 7) é um heterodímero a13 com uma massa molecular de 95 kDa; a subunidade a (75 kDa) possui uma mo- 9,7 A. Estes agregados (figura 8), cuba- das. Estas enzimas contêm em geral um grupo FAD (que participa directamente lares no agregado I e a matriz proteíca, sulfito ligado (Fritz etal., 2002). comparativamente com o agregado II, lécula de FAD não covalentemente liga- O canal que dá acesso ao sítio activo é da e a subunidade 13 (20 kDa) contém definido pela interface entre os domí- dois centros de [4Fe-4S], semelhantes nios de ligação do FAD e "em chapéu" e aos das ferredoxinas (Roth et al., 2000; alberga resíduos carregados (Arga83, Fritz et al., 2002). É semelhante à enzi- composto por três folhas 13 antiparalelas Lisa281, Lisa283, Arga317), envolvi- ma de D. desulfuricans ATCC 27774, e o terceiro domínio, o C-terminal, forma dos na selecção de iões que funcionam uma cauda que envolve a subunidade como substrato. Adicionalmente, o a, aumentando desde modo a área de substrato é estabilizado por ligações por contacto entre as duas subunidades pontes de hidrogénio com um resíduo (Fritz etal., 2002). ambas citoplasmáticas; enquanto a de - D. termophilus está associada à membrana (Lampreia etal., 1994; Fritz etal., 2002). pode ser o factor de modelação destes potenciais. O segundo domínio, que constitui a interface das subunidades, é de asparagina (Asna74) e interacções As estruturas de Raios-X obtidas para a salinas com outros resíduos carregados APSR de Arch. fulgidus, para o estado (Trpa234, Arga265, Hisa398). reduzido e com o sulfito ligado, permitiram estabelecer, por formação do aducto FAD-sulfito, que a molécula de FAD é o sítio activo. Os centros de ferro-enxofre pa rt icipam na transferência electrónica (de dois electrões), a pa rt ir dum O ciclo catalítico (figura 9) tem início com a redução da molécula de FAD (a FADH 2 ), a partir do doador fisiológico [3 pode ser também divi- desconhecido, via agregado II (adjacen- dida em três domínios: a topologia do te à superfície) e agregado I. A subse- primeiro é semelhante à das ferredoxi- quente ligação da molécula de APS, por nas bacterianas e alberga os dois cen- ataque nucleofílico do átomo de azoto tros de [4Fe-4S1 que distam cerca de N5 da molécula de FADH 2 ao enxofre da A subunidade doador ainda desconhecido; um triptofano (Trp1348) facilita a transferência electrónica entre o agregado I e a molé- Agregado I yNP 828 ASS Be cula de FAD. O heterodímero, com uma forma elipsoidal compacta, revela que a parte globular da subunidade 13 está in- a. A sua longa cauda envolve a subunidade a, contribuindo para a es- 01_0 149.044"/ pr oyssuNH }I HNCIN B" N^.. CYS 850 ALA B81 ASP B1 molécula de FAD, localizada no interior „HoSER B52 HH^,i B GLy ROO domínios helicoidal e "em chapéu", num arranjo semelhante ao encontrado na KiRP B IS CYS 350 TYW B51 ^ família das redutases do fumarato. A HNcys 653 • CYS 847 ^ A subunidade a, a subunidade catalítio de ligação da molécula de FAD e os -"ifil PBar °•HN C CYS 853 tabilidade do dímero (Fritz etal., 2002). ca, pode ser dividida em três domínios: . SER B 0 H..~ N µ^ serida numa cavidade superficial da subunidade 5 827 N^ r+ VA. 654N ^ B1a =AROBta HNCYS B21 cys e odir f ^NN BUS 12122 1/4.1r3 ary61BNH621 Agregado II figura 8 Representação esquemática dos centros de [4Fe-4S] da APSR de Arch. Fulgidus (Adaptado de Fritz et al., 2002). 51 52 I QUÍMICA A B R ,R ^ N^O _ 1^ HN., / lü^j ^-0.^n 74 H NvNIt • Hi 398 l Hlq 398 265 kV 265 NH ^O NH , \P oo-- Ck R C R r His 398 IG O - p „.HN O Mecanismo de catálise da APSR de Arch. fulgidus (Adaptado de Fritz et al., 2002). figura 9 N 265 ` HN- 74 ^ NHj -- v NHZ-Q , 'C'R D ^^ >-.. . .(5 NH,e _ G, • O HN .N H n74 \ O 4R APS (A) forma o aducto FAD-APS (B), es- 2.2.3. Redutase do Sulfito (SiR) o último passo da respiração anaeróbia, tabilizado por interacções electrostáticas (passo 4) conve rt endo o sulfito em sulfureto ou al- com a cadeia polipeptídica. Uma molé- A redutase do sulfito (SiR) catalisa a cula de água da vizinhança, que actua reacção de redução do sulfito a sulfure- como aceitador de protões do N5, favo- to, de acordo com a seguinte equação: rece a formação deste intermediário covalente, que se decompõe espontaneamente em adenosina monofosfato (AMP) e o sulfito é libertado. Dois resí- S032- + 6H+ + 6e - S2- + 3 H20 Reduz igualmente o nitrito a amónia, utilizando electrões provenientes do duos carregados positivamente desem- NADPH dissociável ou de flavinas coor- penham um papel fundamental neste denadas (Stroupe e Getzoff, 2001). ciclo: a Arga265 na ligação de ambos ternativamente via tritionato. A redutase do sulfito assimilativa (aSiR) incorpora o enxofre em aminoácidos (Stroupe e Getzoff, 2001). A aSiR de E. coif é um complexo a8134 de 784 kDa e cada subunidade da holoenzima possui uma função única. Cada subunidade maior (SiRFP), de 66 kDa, liga uma molécula de FAD, uma molécula de FMN e uma molécula dis- Existem duas classes de redutases do sociável de NADPH e funciona como sulfito que diferem na sua função e doador electrónico. A SiRFP é seme- composição, mas ambas possuem um lhante à redutase do da estabilização do substrato, por liga- sirohemo acoplado a um centro de de menor (SiRHP), de 64 kDa, o sítio ção por ponte de hidrogénio, pode fun- [4Fe-4S], por uma cisteína endógena. A catalítico, localizado no lado distal do si- cionar como doador de protões durante redutase do sulfito dissimilativa (dSiR) é rohemo, está acoplado por uma cisteí- a clivagem (Fritz et al., 2002). um heterotetrâmero (a2132) que catalisa na, a um centro de [4Fe-4S]. Alguns re- os grupos, fosfato e sulfato, da molécula de APS e a Hisa398 que, para além P450 Na subunida- Cis 483'. -íï- =::rii [4Fe-4S] Representação esquemática da SiRHP da aSiR de E. coli. Os co-factores estão representados por modelos "stick and ball" (Adaptado de Stroupe e Getzoff, 2001). figura 10 Representação esquemática dos co factores da SiRHP de E. coli (Stroupe e Getzoff, 2001). figura 11 QUÍMICA HO N I /O- O N-I— N 2e HPOg Fe + 3 / 2 N— N Fe +2/ N—, N ; S S , +2 ,S Fe\SFé\ Fe S• Fe S' - OHO I /O S N-I — N H+ +\ S03-2 \ Fe + 3/ , Fe N N S Fe S'• /,S •S Fe\ S Fé\ Fe Fé\ Fe S _ +2 Fe HS / H+ HS - H. + 2é H 2O H ++HPOg z 0 S -2 • - N-I— N / Fe +3/ N Fe\SFé\ - Í ^O 7 - 1 —/N Fe + 3/ F S'• e + 2 ,S O 2 S N-1 — N N - N^ N N^ N H20 I 2H + + 2e - Fe + 2 S'/, S ,S 1i20 2H+ +2e S' Fe ,S Fe Fe Fe +2 /j S Fe\Fé\ • Fe Fe S figura 12 Mecanismo de catálise proposto para a SiR de E. coli (Stroupe e Getzoff, 2001). síduos carregados (Arg83, Arg153, coordenam o centro de [4Fe-4S], prote- enxofre, enquanto que a Arg153 é des- Lis215, Lis217) conferem uma densida- gendo-o simultaneamente do contacto locada da sua posição original. Ligações de positiva ao sítio activo, favorecendo a com o solvente. O segundo "loop" forne- por pontes de hidrogénio, com uma mo- ligação do substrato (Stroupe e Getzoff, ce a cisteína (Cis483) que liga em ponte lécula de água existentes na cavidade, 2001). o centro de ferro-enxofre (Fe,) e o siro- estabilizam o substrato ligado. Um se- hemo, pelo que os co-factores se en- gundo protão é doado por uma cadeia contram relativamente próximos (cerca lateral da proteína (ou por moléculas de de 5 A) (figura 11). 0 sirohemo está li- água), sai uma molécula de água, mas o A SiRHP (figura 10) é uma proteína tri- geiramente dobrado, sugerindo que intermediário sulfurado reduzido perma- lobular com os co-factores ligados na in- existe mais do que um percurso electró- nece ligado á SiRHP. Por repetição do te rface dos três domínios. O domínio 1, nico ou esta distorção favorece a aproxi- ciclo anterior, a Arg153 retorna à sua em forma de paraquedas, é composto mação dos dois co-factores. Adicional- posição original e o intermediário sulfu- por duas folhas (3 antiparalelas, que mente, estes "loops" têm duas funções: rado reduzido continua ligado; o seu oxi- A subunidade catalítica da SiRHP ligam uma capota de hélices a, expos- permitem o acoplamento da flavoproteí- génio estabelece uma ligação, por ponte tas ao solvente, a um "loop" em forma na e ajustam o potencial redox do cen- de hidrogénio, com uma molécula de de gancho de cabelo. Os domínios 2 e 3 tro de ferro-enxofre (Stroupe e Getzoff, água. Um novo ciclo (de dois electrões e são compostos por cinco folhas 13, ro- 2001). dois protões) sem alterações na argini- deadas por três hélices a, em contacto com o solvente. A inte rface dos domínios é formada essencialmente por ligações salinas (Stroupe e Getzoff, 2001). A redução do sulfito (figura 12), que en- na, origina a saída da terceira molécula volve seis electrões, decorre sem liberta- de água e o intermediário reduzido ção de intermediários, apesar das gran- mantém-se ligado; finalmente, a entra- des alterações na geometria do da de um protão origina a libertação do Os resíduos do domínio 2, carregados substrato. Dois electrões, provenientes produto final (SH ) ou um fosfato liga-se, positivamente, criam uma cavidade que da flavoproteína, reduzem ambos os co- deslocando-o. A flexibilidade do sítio ac- permite a ligação do substrato, no lado factores, com consequente libertação tivo, por participação activa da Arg153, distal do sirohemo, e que na sua ausên- do fosfato (que ocupa o sítio activo na e as alterações conformacionais no cia, coordena uma molécula de fosfato ausência do substrato). O sulfito, com "loop", induzidas pela ligação do subs- por um dos oxigénios. Dois "loops" do um dos seus oxigénios protonados, liga- trato, sugerem que a catálise, rápida e domínio 3 fornecem as cisteínas que se ao lado distal do sirohemo através do eficiente, está relacionada com a ordem - 53 54 QUÍMICA figura 13 Representação esquemática da SO de fígado de galinha. Os co-factores estão apresentados por modelos "stick and ball" (Adaptado de Kisker, 2001). que se gera no sítio activo por ligação do tilo sulfóxido (DMSO), a desidrogenase 53 kDa, contém um co-factor de molib- substrato (Stroupe e Getzoff, 2001). do formato e a oxidase do sulfito. No en- dénio, uma pterina de molibdénio 2.2.4. Oxidase do sulfito (SO) (passo 5) tanto, com base em dados cristalográfi- (MPD, ligado a um domínio C-terminal cos, e tendo em conta a estrutura do extenso e um pequeno domínio N-ter- A oxidase do sulfito (SO) catalisa a oxi- centro de molibdénio, podem conside- minal que alberga um hemo b5 , ligado dação do sulfito a sulfato, a reacção ter- rar-se três famílias: (1) a família da oxi- de um modo não covalente com uma minal na degradação dos aminoácidos dase da xantina, (2) a família da reduta- coordenação bis-histidina. O co-factor sulfurados (cisteína e metionina), de se do DMSO e (3) a família da oxidase de molibdénio é o sítio catalítico que acordo com a seguinte equação: do sulfito. Actualmente, são conhecidas transfere os electrões para o hemo b 5 e estruturas de Raios-X para cada uma daí para um citocromo c. Uma cisteína S0 32- + H 2 O —) SO 4 2 + 2H' + 2e das famílias: a oxidoredutase do aldeído (Cis185) coordenada ao molibdénio é de D. gigas pertence à família da oxida- essencial para a catálise e uma arginina Desempenha igualmente um papel im- se da xantina; as redutases do DMSO de (Arg138) está envolvida na transferên- portante na detoxificação do sulfito e do Rhodobacter (R.) capsulatus e de R. cia electrónica entre os dois co-factores dióxido de enxofre fornecido exogena- sphaeroides e a desidrogenase do for- (Kisker, 2001). mente (Kisker, 2001). mato de E. coli pe rt encem à segunda fa- As enzimas de molibdénio podem ser genericamente agrupadas em duas classes: a primeira das nitrogenases, Cada monómero, com uma topologia mília e a oxidase do sulfito de fígado de mista em hélice afolha galinha à família da oxidase do sulfito G3, está dividido em três domínios. O domínio I (N-termi- (Romão etal., 1997). nal) é estruturalmente semelhante ao nas quais o molibdénio incorpora um A oxidase do sulfito (SO) de fígado de hemo b5 de cavalo; compreende três fo- centro multinuclear, e a das enzimas de galinha, é um homodímero localizado lhas (3 antiparalelas, rodeadas por duas molibdénio mononucleares, tais como a no espaço intermembranar mitocon- folhas (3 pequenas, e seis hélices a defi- oxidase da xantina, a redutase do dime- drial. Cada subunidade, com cerca de nindo uma cavidade. O hemo b 5 , que MPT • • s ^ .111, Mo His 65 { • s? T .. à, Cis 185 hemo b5 figura 14 Representação esquemática dos co-factores da SO de fígado de galinha (Adaptado de Kisker, 2001). QUÍMICA apresenta, como ligandos axiais, duas sulfato estabelecem ligações por pontes histidinas (His40 e His65), está localiza- de hidrogénio com estes resíduos (Kis- do no fundo desta cavidade, protegido ker, 2001). (2002) "Structure of adenylylsulfate reductase from the hyperthermophilic Archaeoglobus fulgidus at 1,6 A resolution", PNAS. 99, 1836-1841 do solvente. O domínio II contém 13 cordões (3, organizados em três folhas Í 3 e nove hélices a, cuja disposição não apresenta semelhanças com outras estruturas. Este pode ser subdividido em três regiões e alberga, na pa rt e central, o co-factor de molibdénio. 0 C-terminal, domínio Ill, contém sete cordões postos em duas folhas R dis- (3 antiparalelas, formando um motivo em "Greek-key"; esta topologia é homóloga à encontrada no subtipo C2 da superfamília das imunoglobulinas (Kisker, 2001). 0 meio ciclo redutivo compreende a re- • Gavel, 0.Y., Bursakov, S.A., Calvete, J.J., dução do molibdénio, Mo(VI) a Mo(IV), George, G.N., Moura, J.J.G., Moura, I. enquanto o sulfito é oxidado a sulfato. A (1998) 'ATP sulfurylases from sulfate redu- catálise é iniciada pelo ataque do par cing bacteria of the genus Desulfovibrio. A electrónico isolado, do sulfito ao ligando oxo equatorial; o sulfato é libe rt ado do novel metalloprotein containing cobalt and zinc", Biochem., 37, 16225-16232 sítio activo e um hidroxilo do solvente • Kisker, C. (2001) "Sulfite oxidase" in Hand- preenche a posição de coordenação do book of Metalloproteins, (A. Messerschmidt, molibdénio. O meio ciclo oxidativo, necessário para regenerar o centro dioxo, compreende uma transferência electrónica intramolecular, do molibdénio para o hemo b5 , e deste para um citocromo A forma alongada da SO (figura 13), re- c. Uma segunda transferência electróni- sultado de uma disposição de topo entre ca, com concomitante desprotonação os domínios Ill de cada monómero, é do hidroxilo ligado ao molibdénio, rege- responsável pela grande distância entre nera a forma completamente oxidada, os dois co-factores (32 A). Apesar do Mo(VI) (Kisker, 2001). plano de simetria existente na molécula, R. Huber, T. Poulos, K. Wieghardt, Eds). Vol 2, pp 1121-1135, John Wiley & Sons, LTD • Lampreia, J., Pereira, A.S., Moura, J.J.G. (1994) "Adenylylsulfate reductases from sulfate-reducing bacteria" in Methods in enzymology (H.D. Peck, Jr., J. LeGall, Eds), Vol 243. pp 241-260, Academic Press • MacRae, I.J., Segel, I.H., Fisher, A.J. (2001) "Crystal structure of ATP sulfurylase from Penicillium chrysogenum: insights into the allosteric regulation of sulfate assimilation", os dois hemos b5 adoptam orientações A grande distância existente entre os co- Biochem., 40. 6795-6804 diferentes, relativamente ao centro da factores pode ser obviada, consideran- • Moura, J.J.G., Bursakov, S.A., Gaavel, O., molécula (estão rodados cerca de 50 ). A do a adopção de uma conformação di- Moura, I. (2002) Encyclopidea of Catalysis, interface do dímero é estabilizada por li- ferente, por parte do domínio do hemo John Wiley and Sons, Inc. gações por pontes de hidrogénio e pon- b5, facilitada pela região fléxivel que liga • Romão, M.J., Knãblein, J., Huber, R., tes salinas, enquanto que as interac- os domínios dos dois co-factores, e num Moura, J.J.G. (1997) "Structure and function ções entre os domínios I e II são percurso electrónico que envolve a of molybdopterin containing enzymes", Prog. predominantemente de natureza hidro- Arg138 (Kisker, 2001) . Biophys. Molec. Biol., 68, 121-144 fóbica (Kisker, 2001). • Schiff, J.A., Fankhauser, H. (1981) "Assi- A molibdopterina (MPT), localizada no ganic nitrogen and sulfur (H. Bothe, A. milatory sulfate redution" in Biology of inor- interior do domínio II, é estabilizada por inúmeras ligações por pontes de hidrogénio com os resíduos deste domínio. O molibdénio, com uma geometria em pirâmide quadrangular, é pentacoordenado (figura 14); um grupo oxo terminal ocupa a posição axial, enquanto que as posições equatoriais são ocupadas por três enxofres e um segundo grupo oxo; Trebst Eds), Vol 1, pp 153-168, Springer- Agradecimentos Verlag Autores agradecem ao PRAXIS e COST • Schlegel, H.G. (1981) "Microorganisms in- apoio financeiro. Um agradecimento volved in the nitrogen and sulfur cycles" in aos grupos de Bioinorgânica, Biofísica Biology of inorganic nitrogen and sulfur (H. de Proteínas e Cristalografia de Proteinas do CQFB/DQ/FCT/UNL por muitas contribuições. Ao Jorge Pereira pela ajuda na obtenção de inúmera figuras. Bothe, A. Trebst Eds), pp 3-12, Springer-Verlag • Schmid, B., Chiu, H.-J., Ramakrishnan, V., Howard, J.B., Rees, D.C. (2001) "Nitrogena- dois dos enxofres são os ditiolenos da se" in Handbook of metalloproteins (A. Mes- pterina e o terceiro provém de uma cis- serschmidt, R. Huber, T. Poulos, K. Wieg- teína (Cis185). Dos dois ligandos oxo, hardt, Eds). Vol 1, pp 1025-1036, John apenas o equatorial pa rt icipa na catáli- Wiley & Sons, LTD se, funcionando como ponte entre o sul- Bibliografia fito e o molibdénio; o ligando axial é es- • Beynon, J.D., MacRae, I.J., Huston, S.L., reductase hemoprotein" in Handbook of Me- pectador (Kisker, 2001). Nelson, D.C., Segel, I.H., Fisher, A.J. (2001) talloproteins, (A. Messerschmidt. R. Huber, No sítio activo, três argininas (Arg138, Arg190 e Arg450), Trp204, Tir322 e a Lis202 formam uma cavidade carregada positivamente, ideal para ligação de aniões, o substrato, sulfito, e o produto, sulfato. Todos os átomos de oxigénio do • Stroupe, M.E., Getzoff, E.D. (2001) "Sulfite "Crystal structure of ATP sulfurylase from the T. Poulos, K. Wieghardt, Eds), Vol 1, pp bacterial symbiont of the hydrotermal vent 471-485, John Wiley & Sons, LTD tubeworm Riftia pachyptila", Biochem., 40, • Ullrich, T.C., Blaesse, M., Huber, R. 14509-14517 (2001) "Crystal structure of ATP sulfurylase • Fritz, G., Roth, A., Schiffer, A., Büchert, T., from Saccharomyces cerevisiae, a key enzy- Bourenkov, G., Bartunik, H.D., Huber, H., me in sulphate activation", EMBO Journal, 3, Stetter, K.O., Kroneck, P.M.H., Ermler, U. 316-329 55 Trabalhamos pela sua segaYnça... I , Especialistas em plan açao, integraçao e instalaçao de laboratorios Estamos onde burdinoIa você quer, que estejamos ... www.burdinola.com [email protected]